PROGRAMAÇÃO ASSOCIAÇÃO “OS FILHOS DE LUMIÈRE” AUDITÓRIO Organização e Produção Cristina Grande Pedro Rocha Ana Conde Colaboração Gisela Diaz
PRÓXIMA SESSÃO
Coordenação Técnica e Som Nuno Aragão
LA SUBSTANTIFIQUE, Barbara Spielmann, 1997, França 9'43’’ m/12
Luz Rui Barbosa Cinema/Vídeo Carla Pinto
07 NOV 2010 (Dom) / 16h00
SERÁ QUE NO NATAL VAI NEVAR? Sandrine Veysset, 1996, França, 90', m/12
Momento XVIII
CICLO O SABOR DO CINEMA 10 OUT - 07 NOV 2010 Auditório
31 OUT 2010 (DOM), 16H00 AMANHÃ APOIO INSTITUCIONAL
COM APOIO
Solveig Nordlund APARELHO VOADOR A BAIXA ALTITUDE
Solveig Nordlund Informações: 808 200 543 / Reserva Bilhetes: 226 156 584 / Geral: 226 156 584 Rua D. João de Castro, 210 / 4150-417 Porto / Portugal / www.serralves.pt / serralves@serralves.pt
A sessão conta com a presença da cineasta Solveig Nordlund.
Produção: Filmes do Tejo, Maria João Mayer, François d'Artemare Co-Produção: Torromfilm, RTP Interpretação: Margarida Marinho, Miguel Guilherme, Rui Morrison, Rita Sá, Canto e Castro, Isabel de Castro. PORTUGAL / SUÉCIA 2000 AMANHÃ Realização e argumento: Solveig Nordlund Fotografia: Lisa Hägstrand Montagem: Pedro Marques Música: Johan Zachrisson Som: Pedro Melo Interpretação: Luís Simões, Carla Bolito PORTUGAL 2004
APARELHO VOADOR A BAIXA ALTITUDE Realização: Solveig Nordlund Argumento: Solveig Nordlund, Colin Tucker, Jeanne Waltz, a partir do conto homónimo de J.G. Ballard Fotografia: Acácio de Almeida Música: Johan Zachrisson Montagem: Snezana Lalic Som: Vasco Pimentel Misturas: Branko Neskov
Vem esta nova incursão na obra cinematográfica de Solveig Nordlund (de quem já exibimos ATÉ AMANHÃ MÁRIO e COMÉDIA INFANTIL, no âmbito do ciclo O Sabor do Cinema) a propósito do TRIBUTO A J. G. BALLARD (29 de Outubro - 6 de Novembro) que integra a programação do Auditório de Serralves. Diga-se, antes de mais, que Solveig Nordlund é autora de um documentário sobre o recém-falecido escritor de ficção científica, cujo imaginário teve notório impacto – mais no sentido de ele se ter tornado um autor de culto do que propriamente ao nível do sucesso comercial – não só no domínio do cinema (relembremos duas adaptações célebres: O IMPÉRIO DO SOL de Steven Spielberg e CRASH de David Cronenberg) como no da criação musical. O que nos interessa realçar no olhar que Solveig Nordlund lança sobre as inquietações de J. G. Ballard situa-se no prolongamento de uma das constantes temáticas da cineasta de origem sueca, a saber, a interrogação acerca do amanhã, encarnada por aqueles que são futuro em semente, frequentemente crianças ou adolescentes. Daí termos optado por projectar curta-metragem AMANHÃ – a história de um miúdo fugido de casa que se acoita nas instalações da PIDE e se depara, ao acordar, com a alvorada do 25 de Abril – antes do «prato de resistência» ballardiano. Em APARELHO VOADOR A BAIXA ALTITUDE, as crianças estão por assim dizer ausentes, num mundo tragicamente envelhecido e estéril, onde as mulheres dão à luz monstros vítimas de cegueira (os ZOTE), pelo que são obrigadas legalmente a abortar. Porém, essa ausência gritante, para além de ser subjacente a uma metáfora terrífica do cinema – já que os ZOTE assombram o mundo dos «normais» e precisam da presença de luz fluorescente para recuperar a visão... –, assume contornos de pesadelo, pois o bebé ilegal no ventre da protagonista a faz padecer de um sofrimento atroz. Ora, entre o pequeno madeirense enquadrado pelo mundo mítico da pesca
à baleia e pelo mundo real da ilha onde as crianças vendem a carne aos turistas pedófilos (de ATÉ AMANHÃ MÁRIO), o pequeno moçambicano esvaído em sangue no telhado de uma padaria-teatro, qual cordeiro do sacrifício no altar do devir (de COMÉDIA INFANTIL), o pequeno fugitivo que interpreta a explosão revolucionária como uma estratégia gizada pela mãe a fim de o encontrar (de AMANHÃ) – pegando apenas nos filmes já citados – e os ZOTE, o ponto comum é todos serem na verdade mutantes, laboratórios em carne e osso de um mundo desconhecido, repleto de incertezas. Não é pois de estranhar que a personagem interpretada por Margarida Marinho tudo faça para salvar o estranho gerado dentro de si, dado que essa é a maneira possível de ajudar à construção de um futuro
no qual, a despeito do discurso negacionista oficial, ninguém crê. Solveig Nordlund não dá ponto sem nó. É bastante óbvio que o temor quanto ao envelhecimento das sociedades mais abastadas e quanto à progressiva esterilidade da espécie humana é um assunto que, não chegando a ser tabu, vai permanecendo em sombras e avessos do discurso. E talvez os momentos em que APARELHO VOADOR A BAIXA ALTITUDE toca mais violentamente nessa ferida sejam precisamente aqueles em que o filme, crepuscular, navega entre banalidades quase risíveis e ruínas quase familiares, apontando para a elevada probabilidade de estarmos a criar os alicerces de um mundo muito parecido com o que ali se ficciona...