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PROGRAMAÇÃO ASSOCIAÇÃO “OS FILHOS DE LUMIÈRE” AUDITÓRIO Organização e Produção Cristina Grande Pedro Rocha Ana Conde Coordenação Técnica e Som Nuno Aragão Luz Rui Barbosa Cinema/Vídeo Carla Pinto

PRÓXIMA SESSÃO

15 MAI 2011 ICEBERG, Yannick Coutheron 2010, França 10’, m/12 O MUNDO, Jia Zhang-ke 2004, China 140’, m/12

Momento XIX

CICLO O SABOR DO CINEMA MAR - JUN 2011

Auditório

17 ABR 2011 (Dom), 16h00

Apoio Institucional

Fundação de Serralves / Rua D. João de Castro, 210 / 4150-417 Porto / www.serralves.pt / www.facebook.com/fundacaoserralves Informações: 808 200 543 / Reserva Bilhetes: 226 156 584 / Geral: 226 156 584

O GUARDADOR DE REBANHOS José Edgar Feldman HÁ TOURADA NA ALDEIA Pedro Sena Nunes


Há Tourada na Aldeia/ Pedro Sena Nunes Há Tourada na Aldeia/ Pedro Sena Nunes Há Tourada na Aldeia/ Pedro Sena Nunes Há Tourada na Aldeia/ Há Tourada Pedro Sena na Nunes Aldeia/Pedro Sena Nunes

O Guardador de Rebanhos/José Edgar Feldman

O Guardador de Rebanhos/José Edgar Feldman

O Guardador de Rebanhos/José Edgar Feldman

O GUARDADOR DE REBANHOS

Realização e Montagem: José Edgar Feldman Fotografia: Paulo Abreu Voz: Diogo Dória Produção: João Pedro Bénard, Paulo Rocha PORTUGAL 1999 Assentando numa relação forte com os poemas de Caeiro, ditos com grande acerto e justeza por Diogo Dória, como fina luva de seda em mão rugosa e rude, esta curta-metragem de José Edgar Feldman faz preceder a «visitação» ao ritual dos touros em Barrancos de uma espécie de longo prólogo lírico acerca de um viver especial e seus saberes que, até certo ponto, respondem aos preceitos anti-místicos do heterónimo pessoano – o Mestre, absolutamente avesso ao racionalismo. Só depois somos pois levados à tourada, não apenas pela mão e o olhar da dupla realizador/cameraman como pela própria dinâmica da restituição de vivências contígua ao ritual barranquenho. E essa restituição é fulcral para o entendermos. Ou seja: para percebermos em que pautas se escrevem as harmonias e as dissonâncias do relacionamento daquelas populações rurais e raianas com os animais à sua guarda. Para José Edgar Feldman não se trata de louvar ou censurar, salvar ou condenar os touros de Barrancos ou o comércio de afectos com as cabras ou os pata negra. Trata-se sim de estar NO MEIO DE... SEM MEXER EM... E, nessa perspectiva, o recurso a Caeiro faz duplamente sentido. Estamos perante uma hipótese de cinema que privilegia o gesto de RELACIONAR representações da realidade vivida, porventura em busca de uma definição menos unívoca de vida e da vida.

HÁ TOURADA NA ALDEIA

Realização: Pedro Sena Nunes Fotografia: Fábio Martins, David La Rua, Pedro Pinho, Pedro Sena Nunes Som: Ricardo Sequeira: Música: Fernando Mota Montagem e Grafismo: David La Rua Misturas: Tiago Matos Produção: Ana Rita Barata PORTUGAL 2009 Nos idos de 90 do já volvido século XX, um então muito jovem realizador fazia pasmar o público cinéfilo (num país onde a prática do documentário se encontrava relegada

para um secundaríssimo plano desde os tempos do PREC) perante o talento e a segurança de estilo patentes no seu belíssimo filme MARGENS. Depois dessa feliz incursão em terras transmontanas, Pedro Sena Nunes foi construindo uma obra frequentemente virada para ritualidades no país rural, real e imaginário, tendo-nos presenteado com filmes como ENTRASTE NO JOGO, A MORTE DO CINEMA, ELOGIO AO 1/2, cuja ambição foi sendo, também, mostrar facetas concretas dessa coisa fantasiosa (mas enraizada) que são as províncias portuguesas: o Minho da romaria de S. João da Agra, a Beira Litoral das avessas de Aveiro, o Algarve da Meia Praia, além do Trás-os-Montes da aldeia obrigada a comprar a sua própria ponte... Em HÁ TOURADA NA ALDEIA, Pedro Sena Nunes vira-se para a Beira Alta, mais especificamente para treze aldeias da raia onde se pratica a capeia arraiana, uma corrida de touros com características únicas no mundo. Não resisto a sublinhar que mais uma vez o cineasta se vira, de várias maneiras, para territórios de margem e de fronteira, como acontece, subliminar ou explicitamente, nos seus melhores trabalhos. Trata-se de um retrato transversal – já que o realizador não se circunscreve a uma só povoação, embora o filme sublinhe bastante mais os elementos iniciáticos do ritual do que as rivalidades entre aldeias que a festa de arromba envolve – de uma tradição ancestral, classificada como património etnográfico, cujo desenrolar obedece a andamentos assaz precisos. Claro que, não obstante o interesse etnográfico do filme, não é objectivo de Pedro Sena Nunes produzir ciência convencional ao empreender este seu projecto. Elementos como a alusão à circunstância dos touros serem outrora roubados em terras de Espanha; como a construção do forcão e o modo de o habitar, manobrar e transformar em instrumento de prazer orgástico; como a insistência no alegre e orgulhoso êxodo de cavaleiros, automobilistas, camionistas, ciclistas e motociclistas que ocupam estradas e campos reclamando a sua fatia de existência na região mais desertificada de Portugal; ou ainda como a presença e o entrosamento na festa da comunidade emigrante regressada durante o mês de Agosto fazem o verdadeiro sal de HÁ TOURADA NA ALDEIA. Aliás, no caso dos filhos pródigos de retorno ao torrão natal revela-se notório que, para além da força do ritual emancipatório (manifestamente masculino), há na participação dos emigrantes uma tonalidade de legitimação da sua condição de portugueses. Essa tonalidade, à escala de todos os raianos envolvidos na capeia, significa afirmação de portugalidade silenciada, num Portugal que virou costas ao seu interior, correndo todos os riscos a isso inerentes, inclusive o de se tornar... oco.


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