PROGRAMAÇÃO ASSOCIAÇÃO “OS FILHOS DE LUMIÈRE” AUDITÓRIO
próxima sessão
Organização e Produção Cristina Grande Pedro Rocha Ana Conde Coordenação Técnica e Som Nuno Aragão Luz Rui Barbosa
26 fev 2012 Classe de Lutte, Grupo Medvekine, Besançon e Chris Marker, 37’, 1969, França Entre Nos Mains, Mariana Otero, 88’, 2010, França
Cinema/Vídeo Carla Pinto
Momento XXI
Ciclo O Sabor do Cinema fev - abr 2012 Auditório
12 fev 2012 (Dom), 16h00
FASINPAT (Fábrica Sin Patrón)
Danielle Incalcaterra Apoio Institucional
Apoio
Fundação de Serralves / Rua D. João de Castro, 210 / 4150-417 Porto / www.serralves.pt / www.facebook.com/fundacaoserralves Informações: 808 200 543 / Reserva Bilhetes: 226 156 584 / Geral: 226 156 584
Título: FASINPAT (Fábrica Sin Patrón) Argumento, Produção, Realização: Danielle Incalcaterra Fotografia: Emiliano López Montagem: Fausta Quattrini Som: Gaspar Scheuer Produção: Javier Leoz ARGENTINA 2004 Este é um filme caloroso. E essa não é uma qualidade secundária. Este é um filme rigoroso. E esse é um factor importante em termos de eficácia narrativa. Ao pretender partilhar connosco a experiência, rara e exaltante, de uma ocupação fabril bem sucedida – tanto em termos de viabilização económica da prossecução do trabalho como ao nível da tomada de consciência dos protagonistas do processo – Danielle Incalcaterra deseja também moldar o seu filme de forma a que a importância da aventura dos operários da Zanon transcenda os limites da longínqua Patagónia, da Argentina, da América Latina. A fim de que a sua profunda e fundamentada inteligência da mudança possa contaminar as mentes de quem, um pouco por toda a parte, se confronta com idênticas situações de desconcerto do mundo e de necessidade de inventar novas formas de produzir/gerir riqueza. Porém, Danielle Incalcaterra não cede à eventual tentação de descolar do seu objecto: aquela fábrica e aqueles homens, naquela província daquele país. Calor e rigor resultam pois da maneira peculiarmente feliz que Incalterra tem de se manter próximo do ímpeto dos operários (lançados num percurso iniciático de autonomização e aprendizagens várias), do peso da fábrica (a bela e o monstro daqueles heróis anti-heróicos cujo pão dela depende), seguindo a par e passo o evoluir das suas razões (que dependem do contexto concreto, histórico, político e social), a génese das suas tomadas de posição (que implicam rupturas
violentas com o estado, o regime e a sua doutrina económica, mas também com a burocracia sindical paralisante e divorciada das reivindicações urgentes dos trabalhadores), a abertura de um leque de solidariedades (simpatia da comunidade em geral, reconhecimento por parte dos desempregados de interesses parentes, onda de interesse expectante suscitada noutros pólos fabris, bem como nos meios estudantis, académicos, etc.). Digamos que Danielle Incalcaterra tem o discernimento de não servir a mais do que um amo, passo a expressão. Ou seja: é por o seu filme se debruçar sobre esta luta particular – após um soberbo e curto prólogo em que, a partir de imagens de rua e de uma deambulação por fotografias, o realizador nos situa numa Argentina de retorno à democracia, onde impera o opressivo catecismo neoliberal e quase todas as contas com a ditadura estão por ajustar –, sobre o ponto de vista dos seus actores, sobre o seu jornal de bordo que não agenda política pré-formatada, sobre o seu mapa de afectos e projecções, sobre o binómio dúvida-decisão, sobre o exercício directo do livre arbítrio, etc. que estamos perante uma obra capaz de estimular reflexões e conversas acesas em muitos outros lugares do planeta. Danielle Incalcaterra não se contenta com devolver aos protagonistas deste processo autogestionário uma imagem gratificante, nem incorre em extrapolações precipitadas. O que mais conta nesta narrativa é o número de possíveis que ela abre e o modo como encoraja o gesto de acariciar sonhos de mudança. Coisas que, nestes tempos derrotistas, merece, para além de aplauso, redobrada atenção.