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PROGRAMAÇÃO ASSOCIAÇÃO “OS FILHOS DE LUMIÈRE” AUDITÓRIO Organização e Produção Cristina Grande Pedro Rocha Ana Conde Coordenação Técnica e Som Nuno Aragão Luz Rui Barbosa Cinema/Vídeo Carla Pinto

Momento XXI

CICLO O SABOR DO CINEMA FEV - ABR 2012 Auditório

15 ABR 2012 (DOM), 16H00

CURTAS-METRAGENS DE VITTORIO DE SETA Apoio Institucional

Apoio

Fundação de Serralves / Rua D. João de Castro, 210 / 4150-417 Porto / www.serralves.pt / www.facebook.com/fundacaoserralves Informações: 808 200 543 / Reserva Bilhetes: 226 156 584 / Geral: 226 156 584

O tempo do peixe-espada, 11’, 1954, Itália Ilhas de Fogo, 11’, 1955, Itália Pastores de Orgosolo, 14’, 1958, Itália

Um dia na Barbagia, 14’, 1958, Itália Os Esquecidos, 20’, 1959, Itália


Título do filme: Lu tempu de li pisci spata («O tempo do peixe-espada») Realização, Imagem e Montagem: Vittorio de Seta Som e Assistência de Realização: Vera Gherarducci Assistente de Montagem: Luciana Rota Produção: Vittorio de Seta, Alfredo Marganiello ITÁLIA 1954 Título do filme: Isole di fuoco («Ilhas de Fogo») Realização, Imagem e Montagem: Vittorio de Seta Som e Assistência de Realização: Vera Gherarducci Assistente de Montagem: Titta Perozzi Produção: Vittorio de Seta, Omero Borgoni, Alfredo Marganiello ITÁLIA 1955 Título do filme: Pastori di Orgosolo («Pastores de Orgosolo») Realização, Fotografia e Montagem: Vittorio de Seta ITÁLIA 1958

Título do filme: Un giorno in Barbagia («Um dia na Barbagia») Realização, Fotografia e Montagem: Vittorio de Seta Som e Assistência de Realização: Vera Gherarducci Operador de Câmara e Electricista: Alfredo Marganiello Assistente de Montagem: Fernanda Papa Produção: Vittorio de Seta, Agostino Zanelli ITÁLIA 1958 Título do filme: I dimenticati («Os Esquecidos») Realização, Fotografia e Montagem: Vittorio de Seta Som e Assistência de Realização: Vera Gherarducci Operador de Câmara e Electricista: Alfredo Marganiello Cenografia: Agostino Zanelli Assistente de Montagem: Fernanda Papa Produção: Vittorio de Seta ITÁLIA 1959

O discreto mestre Vittorio De Seta faleceu no mês de Novembro de 2011, com 88 anos, na província italiana da Calábria onde decidira retirar-se do buliço da vida citadina. A sua obra é altamente apreciada e reconhecida nos círculos de documentaristas e muito desconhecida do grande público. Esta sessão pretende pois ser uma pequena homenagem a um artista que colheu com inteligência e especial subtileza as lições do neo-realismo. Nascido em 1923 na cidade siciliana de Palermo, de família aristocrata, Vittorio De Seta estudou arquitectura em Roma mas rapidamente se virou para o cinema, tendo assumido funções de assistente de realização em Itália e em França antes de se lançar na feitura dos seus próprios filmes. As curtas-metragens que vai realizar nos anos cinquenta – trata-se, mais concretamente, de 10 obras, com durações que oscilam entre 10 e 20 minutos, rodadas entre 1954 e 1959 – foram filmadas em territórios particularmente pobres e isolados da «civilização»: as insulares Sardenha e Sicília e, por último, a Calábria. Pelo que, o gesto de Vittorio de Seta começa por ser um gesto de resgate de mundos humanos em extinção e o realizador, total ou só parcialmente consciente da envergadura da sua tarefa, assume plenamente a responsabilidade, no plano moral e no plano estético, que daí decorre. De Seta filmava sozinho ou com uma reduzidíssima equipa, apoiado por colaboradores fiéis e pela sua própria esposa. Os lugares sobre os quais se debruçou, dado o seu

isolamento e as características geográficas, implicavam grande esforços, dedicação e investimento de energia. As pessoas de quem se quis aproximar para registar os seus modos de viver e sobreviver amiúde não compreendiam o que havia de interessante nas suas vidas e nos cenários onde viviam: «Não há nada para filmar aqui.» Ora é esse «nada» elevado a diálogo épico entre o homem e os elementos, em locais onde o quotidiano não é ameno e a luta pela sobrevivência uma missão de todos os dias que estas curtas mas densas obras de Vittorio De Seta nos dão a descobrir. Sem retóricas enfáticas, mas guiado pela constante preocupação de descobrir e dar a descobrir pontos de vista que só o cinema permite, através da escolha criteriosa e rigorosa da colocação da câmara e dos ângulos de filmagem, o cineasta cria um clima de tensão que nunca se desmorona (e que a montagem sustenta com um brio nervoso), tendo contudo o cuidado de se furtar a qualquer excepcionalidade que não decorra da grandeza dos pequenos olhares, gestos, falas e cantos dos homens e da imponência, não raro aterradora, dos cenários naturais. Estamos numa hipótese de cinema em que a consciência de registar, porventura pela derradeira vez, hábitos e habitats em vias de extinção, gera a postura de os filmar como se fosse pela vez primeira e o próprio médium tivesse sido inventado para esse propósito. Não admira pois que os quadros de Vittorio De Seta sejam pictóricos, escultóricos e dramáticos, tudo de uma assentada. Que o seu cinema seja obra de um colorista apostado em tons saturados e procure a luz que molda o nervo das coisas e dos seres. Não admira que o seu cinema produza paisagens sonoras, em que a musicalidade e a dissonância se conjugam tão imbricadamente que quase imaginamos poder ver fechando os olhos. O sereno empenhamento de Vittorio De Seta, um pouco como a espontânea fé e bravura das suas personagens, é admirável precisamente por nada ter de demonstrativo. Se ao apreciarmos este precioso punhado de curtas de Vittorio de Seta recordarmos dois filmes farol do cinema italiano - também eles empenhados em revelar o dramatismo inerente à dureza das vidas dos isolados e insulares que dependem de uma natureza hostil e o fazem graças a uma energia quase desumana -, a saber, LA TERRA TREMA de Luchino Visconti e STROMBOLI de Roberto Rossellini, facilmente nos damos conta de que nem os cordelinhos da ficção, nem os artifícios do teatro são necessários quando se pretende fazer emergir do caos visual a trama do drama e os fios da narrativa que nela se cruzam. Basta – mas isso é deveras a quintessência do cinema enquanto arte e mestria – considerar o inexplicável / inexplicado com a gravidade da criança antes de ela fazer suas as explicações que corrigem e domesticam o olhar. Sim, os pescadores são bailarinos, as mãos que amassam fabricam improváveis modos de sustento, todas as cores estão impregnadas de combate entre a luz e a sombra. Mostrar, pela prática do cinema, que é possível desvendar essa face escondida pela evidência – eis o que devemos a alguns cineastas, entre os quais Vittorio De Seta.


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