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PROGRAMAÇÃO ASSOCIAÇÃO “OS FILHOS DE LUMIÈRE” AUDITÓRIO Organização e Produção Cristina Grande Pedro Rocha Ana Conde

PRÓXIMA SESSÃO

17 FEV 2013

A Vida e a Morte - Romance de Vila do Conde, 6’ e O Poeta Doido, o Vitral e a Santa Morta, 7’, Manoel de Oliveira, 1965/2008, Portugal Sayat Nova, Sergei Paradjanov, 79’, 1968, Urss/Arménia

Coordenação Técnica e Som Nuno Aragão Luz Rui Barbosa Cinema/Vídeo Carla Pinto

Momento XXIII

CICLO O SABOR DO CINEMA 27 JAN – 21 ABR 2013 Auditório

27 JAN 2013 (Dom), 16h00

SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN, João César Monteiro, 17’, 1969, Portugal LA BELLE JOURNÉE, Ginette Lavigne, 67’, 2010, França Apoio Institucional

Apoio

A sessão contará com a presença da realizadora.

Os filmes em língua estrangeira são legendados em português. Fundação de Serralves / Rua D. João de Castro, 210 / 4150-417 Porto / www.serralves.pt / www.facebook.com/fundacaoserralves Informações: 808 200 543 / Reserva Bilhetes: 226 156 584 / Geral: 226 156 584


SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN Realização e Montagem: João César Monteiro (assinado com o nome João César Santos) Assistente de realização: Jorge Silva Melo Textos: «A Menina do Mar», «Esta Gente» e «Inscrição» de Sophia de Mello Breyner Andresen Música: “Prélude” da Suite para Violoncelo Solo n°3, em dó maior, BWV 1009; “Prélude” da Suite para Violoncelo Solo n°4, em mi bemol maior, BWV 1010; “Courante” da Suite para Violoncelo Solo n°6, em ré maior, BWV 1012; “Prélude” da Suite para Violoncelo Solo n°1, em sol maior, BWV 1007; “Allemande” da Suite pare Violoncelo Solo n°3, em dó maior, BWV 1009; “Ouverture” da Suite para Orquestra, n°3, em ré maior, BWV 1068, de Johann Sebastian Bach. Fotografia: Abel Escoto Som: Alexandre Gonçalves Produção: Ricardo Malheiro Com: Sophia de Mello Breyner Andresen PORTUGAL 1969 “No que ao meu filme diz respeito, suponho que, antes do mais, ele é a prova, para quem a quiser entender, que a poesia não é filmável e não adianta persegui-la” João César Monteiro Primeiro filme do mui saudoso e carismático João César Monteiro, a curta metragem SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN – como o título indica, obra dedicada à essa poetisa portuguesa não menos nimbada de intensa aura – surpreende pela subtil audácia. Filme de luz e sombra, esta pequeno balão de ensaio do principiante não se ocupa de biografar Sophia. Ela existe no terreno

da sacralidade da sua poesia e da celebridade da sua pessoa, embora ambas as qualidades só colham o reconhecimento de um público culto. Existe na sua capacidade de se auto-celebrar. O trabalho de João César Monteiro não consiste em fazer descer a divindade do pedestal: à Sophia mítica, emanando serenidade inquieta, vulcânica contenção e helénica apetência de justeza/justiça, o filme faz jus, com generosos planos retrato – entre o jogo de luz sobre rosto e corpo e as insistências sobre a personagem em representação –, e também com planos dançantes de mar, rocha, céu ou gruta de permeio. Trata-se mais propriamente de um exercício de profanação: Sophia é a apolínea escritora/leitora, porém é simultaneamente a senhora burguesa que se revela, a contra gosto, asfixiada pela sua personagem – perante o tom pomposo da sua leitura de «A Menina do Mar», uma criança do círculo familiar espanta-se por ela adotar uma voz estranhamente pouco «natural». A dada altura, as imagens de Sophia lendo – com a sua bizarra «luz de ler», como diria Llansol – são interrompidas por vultos escuros e espetrais de gente anónima nas ruas de Portugal sob o jugo salazarista, figuras desprovidas da «esplendorosa presença das coisas» a que alude a poetisa, pobres peixes mortos dados à costa. Insuportavelmente acossadas, essas gentes – por oposição às aves que, dali a nada, vemos levantar voo e escrever no céu. Quando na sequência dos banhos de mar (em família e em férias algarvias) vemos, de súbito, coincidir as duas Sophias – a poetisa do mar homérico e a mãe de família nadando –, o anterior «creio na nudez da minha vida» articulado com bulício irreverente de crianças que infringem os limites do fora de campo ganha perturbante sentido. E fica provado o génio malicioso do cineasta, de quem seria impossível e indecoroso decidir se foi perseguido ou perseguidor de poesia.

LA BELLE JOURNÉE Realização e Montagem: Ginette Lavigne Textos: excertos de quatro livros de cariz autobiográfico - «Commencement», «Une phrase pour ma mère», «Grand–mère quéquette» e «Demain je meurs» Fotografia: João Ribeiro Som: Pierre Gasnier, Jean-François Priester Assistentes de montagem: Emma Augier e Rémi Berge Produção: Les Films du Tambour de Soie, Télénantes Com: Christian Prigent, Vanda Benes FRANÇA 2010 “Se o ponto de partida do filme é uma montagem de textos de Prigent, no presente da sessão e no fogo da projecção, é o contrário: as palavras parecem vir do coração das imagens, da sua forma, da sua temporalidade.” Jean-Louis Comolli Quando nos confrontamos com escritas que parecem resultar da invenção de novas línguas familiarmente estranhas, é frequente formularmos perguntas singelas e necessárias: qual é esta carne que se fez verbo? como se fez verbo dessa carne? É a partir de propostas de respostas a estas perguntas que LA BELLE JOURNÉE – filme de Ginette Lavigne sobre a figura de Christian Prigent e sobre figuras tutelares na sua obra – se constrói. Este «donde veio o para onde foi» vai buscar bocados de boca às incursões nos passados que as obras de Prigent tornam presentes: na relação com a gramática fantasista de uma avó devoradoramente terna, na evocação sensual da música de mãe, na descoberta atónita do palco do pai e do amor paternal, nas vivências de desregramento dos sentidos que o sexo proporciona enquanto possibilidade, nas encruzilhadas da história de que até o linguajar das pedras nos dá conta, nas dilacerações sociais e nas

lutas de classes que o menor fait-divers revela a quem cultiva a escuta. No entanto, como reza a sinopse «oficial» do filme de Ginette Lavigne, tirar o retrato a este «retratado» não é pera doce, desde logo porque ele desconfia jovialmente da hipótese de lhe fazerem «dizer o que não disse». E é porventura (também) por isso que Ginette Lavigne se desvia do formato «leitura de texto pelo autor e depoimento sobre o seu trabalho de criação» para se entregar, com discreta desenvoltura, a um jogo de correspondências: um jogo de regresso ao lugar do crime mental, imagem contra imagem, imagem apesar da imagem, que coloca escritor e cineasta num plano de fraternidade. Dizer que que a realizadora nos oferece – e oferece à personagem a quem consagra o seu filme – uma visão eivada de humor, amor e poesia não basta para descrever a démarche. Trata-se de transformar esta incursão na escrita de Prigent – que é também um convite a deixar-se surpreender pela sua densidade – numa aventura de reflexão criativa acerca da escrita fílmica. O protocolo de fraternidade que Ginette Lavigne assim instala transforma este ensaio visual num objeto de rara delicadeza em que ambos os autores – cineasta e escritor – se desnudam e vestem de imagens na razão direta da afinação do diálogo que entre eles se estabelece.


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