A ver vamos

A VER VAMOS Há uma puta escondida no título algo apelativo deste filme. (Aproveito para abrir um parêntese indecoroso e declarar que não o fomos ver abaixo de Braga porque as salas tripeiras ameaçam mandar à merda o cinema português. Contas do Porto. Pronto.) Há uma mãe a mais porque é consabido que todas as filhas a têm. E há só uma. Posto isto, decidimos analisar o objecto pelo prisma «tal mãe tal filha». Ora o filme diz que não. A mãe mata o pai para a filha deixar de ter mãe e se deixar daquela fita chata de andar à procura do pai. Percebe-se a referência à telenovela? Ainda bem, porque neste ledo engano de alma que é a relação de João Canijo com uma senhora actriz (Rita Blanco) veio enxertar-se uma triste ressaca de folhetim brasileiro. E nem a referência a um certo cinema francês de argumento e intimidade (bon chic bon genre) salva este filme da confusão pós-godardiana — falo do intolerável desaproveitamento da mistura de registos, da indigente utilização da tensão cromática, da incerta encenação à porta fechada. Para se perceber um triângulo amoroso são precisos três ângulos. Porém ali só topamos um ou então (para sermos sinceros) adivinhamos outro, rectângulo, com 90° de Rita e o resto para ser dividido em agudos pelo realizador e pelo público.

João Canijo, com grande modéstia, situa-se no cinema inexperimental afirmando que já sabe o que quer e que anda apenas a aprender a fazer. De uma abordagem, talvez epidérmica, da problemática pictórica deveria colher dividendos mais interessantes do que a retórica das cores que é treta de almanaque. De uma confrontação, decerto apaixonada, com o modelo, poderia aproveitar a coerência do acessório. O pintor não se retira, come as mãos.

Depois do promissor TRÊS MENOS EU, é caso para dizer a João Canijo: dos três só falta você. Mas ficamos à espera.

R. G.