ACÇÃO DA CIDADE: PRIVAÇÃO DA PRIVACIDADE A enorme diferença formal entre as três curtas-metragens que formam as HISTÓRIAS DE NOVA IORQUE poderá, por contágio, estilhaçar o conceito que as irmana e ocultar a profunda similitude temática que entre elas existe. Os três filmes abordam a questão da reunião de um casal — embora a menina pareça a personagem principal no filme de Coppola, o título (LIFE WITHOUT ZOE) indica claramente que o drama se constrói do ponto de vista dos pais — que as condições de vida urbana — profissionais, culturais (Nova Iorque é postulada corno a «cidade única», o único sítio onde se pode viver, mas a maioria dos protagonistas é originária de outro lugar) — separam. O íntimo tem de enfrontar a prova do público. As tentativas de solução do drama precisam da presença e da caução do público: o bar em LIFE LESSONS, a festa em LIFE WITHOUT ZOE, a rua e os media em CEDIPUS WRECKS. Que a reconciliação se cumpra — optimismo de Coppola — ou não — inquietação de Scorsese —, a relação dual tem de se expor e só é permitida na medida em que a comunidade consegue lucrar com ela — o papel da arte nos dois primeiros filmes. As três «histórias» apresentam-se como parábolas cuja moral afirma a submissão do privado ao público, submissão essa que talvez represente um novo estatuto da consciência no meio urbano. S.