Criticar se

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CRITICAR-SE Escrever sobre um filme implica formular, mais ou menos subliminarmente, um juízo. É-me sempre muito difícil apreciar a filmografia completa dum autor, facto que julgo significativo quando tento relacioná-lo com o meu mal-estar face a questões como o (meu) tempo, a (minha) vida, a (minha) obra ou pelo contrário o oponho ao meu relativo à vontade perante os problemas do espaço, do diaa-dia e do trabalho. Pensar, falar, fixar ideias — não sei por que ordem — sobre um filme passou a fazer parte da tarefa de balanço provisório e rotineiro do meu entendimento do mundo, do meu mundo, de mim. Todavia, durante o período de quase um ano em que «produzi» artigos para O Primeiro de Janeiro, dei-me conta de que o excesso (e a pobreza) do material fílmico a «criticar» me obrigava a uma aplicação repetitiva dos mesmos esquemas interpretativos. Descobri os próprios limites do meu sistema ou talvez da crítica enquanto sistema de descoberta. Profundamente, gostaria de abrir na Grande Ilusão aquela brecha que seria o lugar da poesia, o único onde sei debater-me. R. G.


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