ENTREVISTA COM PEDRO COSTA E INÊS DE MEDEIROS Regina Guimarães — Como é que te surgiu a ideia de fazer um filme em Cabo Verde? Pedro Costa — Havia uma história escrita com um vulcão. E eu tinha duas hipóteses: uma era fazê-la nos Açores; outra, fazê-la em Cabo Verde. Já não sei como se fixou a ideia de Cabo Verde. Sei que entretanto escrevi uma outra história com um operário cabo-verdiano que se passava toda em Lisboa, numas obras... depois acontecia o episódio do acidente e do coma num hospital. Quando me ocorreu a ideia de o operário voltar para Cabo Verde, houve a necessidade de avaliar as dificuldades da produção. Se era possível transportar o material, quanto dinheiro isso custava... Fiz uma viagem até Cabo Verde para fazer repérages e decidir se realmente o local me interessava. Posteriormente procurei actores in loco... que não existiam. De qualquer forma, não havia muitos papéis para cabo-verdianos. As pessoas da ilha começaram a participar na construção do projecto e tudo se foi concretizando. No fundo, acho que cheguei a Cabo Verde naturalmente. R. G. — Parece-me que o filme se constrói, e muito bem, com base num paradoxo que é o seguinte: aquela terra rejeita as pessoas como um vulcão e cria uma desolação de cinza, mas, ao mesmo tempo, é uma terra de abandono, à qual as pessoas se entregam. Há muitos indícios disso: todos aqueles planos em que as pessoas aparecem deitadas sobre o solo coberto de matéria vulcânica. De certo modo, esse paradoxo modela também o percurso da enfermeira que vai sentir na pele a dupla acção daquela ilha: de atracção e de repulsa. E a sua indecisão de sentimentos face ao que sente torna a relação dela com a terra difícil. Uma relação difícil que é ilustrada pela cena final. P. C. — Esse é um assunto de que falámos muito, como discutimos longamente outras coisas. O filme, enquanto produto final, é resultado da montagem mas a cena final foi muito debatida. Inclusive chegou-se a pensar que poderia haver palavras, insultos por parte da enfermeira. É interessante frisar que essa cena estava no guião desde o princípio: a casa que vemos é o território dum casal composto pelo operário e pela Edite. Aquilo que a enfermeira faz – atirar pedras – é a resposta a algo que não se vê no filme e que é o encontro do operário com a Edite. Eu, aliás, costumo dizer que há muita coisa que não é mostrada no filme. Essa cena corresponde à «Apresentação do casal». Não é por acaso que o filme se chama CASA DE LAVA — vê-se uma casa que é feita de lava, uma casa dum casal que a habita. A história desse casal é muito sórdida. Filmá-la teria sido sórdido, próximo do racismo. Podemos enveredar por esta discussão, porém, acho que é um bocado lateral, demasiado analítica. Tem a ver com o que terá sido o percurso da Edite desde que chegou a Cabo Verde e com tudo o que se pode imaginar do comportamento da personagem. A princípio acompanhou um homem que foi encarcerado no Tarrafal e acabou por ficar lá. É, em minha opinião, uma mulher que