Histórias de pé para a mão

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HISTÓRIAS DE PÉ PARA A MÃO Um dia a mão Não e a mão Sim fora dar um passeio dentro de Mim. Entraram, sem receio, pela boca muito devagar para eu não enjoar... Deixaram-se escorregar pela garganta dentro até ao centro do peito. O caminho era estreito mas as mãos mais viajadas gostam de ser apertadas. A mão Não queria visitar o coração mas a mão Sim antes queria pernoitar na margem do rim... "O coração, não!" dizia a mão Sim. "Há sangue por todo o lado, e a batida permanente faz um barulho danado." "O rim não!" dizia a outra mão. "É um fedor a chichi nenhum dedinho decente tomaria banho ali." "A ida ao coração, respondia a mão Sim, é um passeio feio." "Sim, redarguia a mão Não, mas as águas do rim são quentes de mais para mim." Discutiram, discutiram. Muito falaram e pouco ouviram.


Cada uma guardou suas razões e foram passar o fim de semana ao grande hotel dos pulmões. Por sorte, arranjaram cama... Saíram pela traqueia, a ideia foi da mão Não. "Que bom respirar ar puro!" disseram logo à chegada. "Por dentro o corpo é tão escuro!" exclamou a mão Sim que é das duas a mais dada. "Não volto lá nem por nada!" prometeu a mão Não. Ah, mãozinha malcriada! Se eu fosse outra pessoa ficava toda ofendida. Mas, no fundo, a mão Sim é muito boa. E a mão Não é a minha preferida... Os cinco dedos eram filhos da mão. Os filhos da mão eram muito agarrados à mãe e nunca se separavam dela. Cada um tinha seu nome e feitio. Alguns eram mais filhos da mãe do que outros. O polegar, gordo e anafado, estava sempre pronto a ajudar: ficava muito sossegadinho no seu lugar se não fosse solicitado. O indicador, pelo contrário, queria ser delgado. Por isso fazia dieta e exercício o tempo todo. A fome e o excesso de cansaço davam-lhe maus fígados e o indicador, Indy para os mais íntimos, tinha um feitio desgraçado: mandava nas falanges, apontava defeitos a tudo, dava ordens a torto e a direito, falava alto para se ouvir. Mas, no fundo, o pior era ele ter a mania de ser escritor, quando tinha uma alma de polícia sinaleiro. O dedo do meio ficava meio desvairado porque, apesar do nome que usava, era o mais velho e devia supostamente ter unhas para controlar os gestos e sinais dos demais. Porém, como era um tanto cobardola, nunca levantava a voz ao parvalhão do indicador e refugiava-se junto do anelar, o betinho da família, que só gostava de brincar aos príncipes e às princesas. O mindinho parecia pequeno e bastante diferente dos outros. O anelar estava sempre a obrigá-lo a fazer de princezinha adormecida, mas o mindinho detestava aquela conversa do berço de oiro e companhia, tanto mais que estava convencido de que a mãe mão o havia trocado à nascença. Uma noite, o mindinho conseguiu convencer o polegarzinho a fugir com ele. Partiram pela escuridão dentro e perderam-se na floresta dos dedos de fada, em busca de uma varinha de condão capaz de mudar os seus destinos... Na manhã seguinte, a mão acordou amputada e ficou inconsolável. Os três irmãos, muito cheios de si, choraram lágrimas de crocodilo pelos fugitivos, que nunca mais voltaram à casa mãe. Nem mortos, nem vivos. Debaixo dos pés estende-se um reino imenso que todos visitam


mas ninguém conhece. Merece que se fale nele quanto mais não seja para o pé estar mais atento àquilo que pisa para o pé ter mais cuidado com aquilo que calca. Será que amamos ou podemos amar aquilo que espezinhamos ou queremos espezinhar? Quando começámos a caminhar, passámos a ver o mundo de cima. Ora, na era em que nascemos, já não existiam os dinossauros, nem os outros monstros de tamanho descomunal. Os maiores gigantes eram marinhos e os mais pequeninos, os elefantes, viviam nas savanas africanas e nas selvas indianas. Portanto não sabemos exactamente o que significa ser olhado de muito alto como nós observamos por vezes os bichos rastejantes. A impressão de poder, a sensação de poder esborrachá-los com uma simples passada, faz com que, no fundo de nós e mesmo à flor dos nossos actos, nós, os pequenos grandes humanos, sejamos assassinos natos. Pé 1 - Ó pá, desde quando é que andas a coxear? Pé 2 - Desde que a a pata daquele maldito par me pisou, pé. Quer dizer, pá... Pé 1 - O quê? Aquele dançarino pequenino? Aquela amostra de pernalta, que dança de boca aberta como se andasse a caçar moscas, pá? Pé 2 - Esse mesmo. Mas a mão direita espetou-lhe com uma chapada na cara. Acho que a esta hora deve andar mas é a caçar estrelas. Pé 1 - Devias pedir à mão que te desse uma massagem... Pé 2 - Estás louco, pé. Quer dizer pá. Não, era mesmo pé que eu queria dizer. À mão direita não se pode pedir nada. É muito bruta. E a mão esquerda, coitada, é demasiado desajeitada. Pé 1 - Olha pá, vira-te, mexe-te, faz qualquer coisa por ti abaixo. Não julgues que vou andar contigo, nesse estado, pela rua abaixo. Eu sou um pé de boas famílias... Pé 2 - E eu se calhar não sou... Pé - Se és, não pareces. Não me apetece ser apontado a dedo pela má língua das mãos, que são mais que as mães. E muito dadas umas com as outras. Se uma delas repara em ti, amanhã, a tua fraca figura — e a minha, que caminha sempre ao pé da tua — andam nas bocas do mundo. Pé 2 - Pézinho, não sei que te faça... A não ser que corte o mal pela raiz. Pé 1 - E porque não? Mais vale um pézinho cortado do que um pé mal comportado.


Pé 2 - Meu safado! Vou dizer à esquerdinha que te faça cócegas até tu ficares todo torcido, a pedir perdão. Ela é uma artolas mas tem bichos carpinteiros porque a direita não abre mão de nada. Pausa. Pé 2 - Aí vem ela, pela perna abaixo. Parece que tem um sexto sentido. Hás-de morrer à gargalhada. (Para a mão esquerda.) Ó esquerdinha, só páras para respirar. Tira a tosse a esse calcanhar de Aquiles. (A mão esquerda executa a tortura das cócegas.) Ai, que até fico com pele de galinha, só de pensar que, daqui a meia hora, ele há-de precisar duma muleta para vir atrás de mim! Pé - Ó mãozinha, és tão mázinha... Mão - Xô... Arreda da minha beira que cheiras mal! Pé - Mas eu quero estar sempre ao pé de ti. És tão branquinha, tão sapudinha, minha princesa mão, dona do meu coração... Mão - Já te disse para te pores no teu lugar. Cheiras mal que tresandas... Pé - Sabes, princezinha, a água estava fria e a cama estava quente. O sono, não sei se sabes, é a forma de higiene da gente inteligente... Mão - Se não te pões a milhas, vou já dizer ao indicador que vá fazer queixa que vá fazer queixa de ti ao espírito santo de orelha. Pé - Eu vou-me embora, eu vou. Mas fica ciente de que nunca mais te levo para lado nenhum. Se quiseres passear, vais mesmo ter de sujar essa palma tão branquinha na lama do chão e queimar essa pele de princesa no calor do macadame. Mão - E eu ralada. Meto-me num bolso e vou para onde me apetecer. Uma mão esperta aprende a viajar camuflada... Mão morta Pé de meia Pé de dança Pé de flor Mão de semear Pé para a cova Pé de igualdade Mãos à obra De pé para a mão De pé atrás


Os pés pelas mãos Tanto faz Boxe - Toma! - Toma! - Mais uma! - Mais outra! - Esta é para não voltares o pôr o pé em ramo verde! - Já que estou com a mão na massa, levas esta para não te atreveres a pôr o pé em minha casa! - E agora, aí vai uma mão cheia! - Chi! Foi por uma unha negra! - Tu és mesmo unha com carne com esse pé descalço. - Pudera! Ele é um mãos largas... - Quando ele vem com pézinhos de lã, tu perdes o pé. - Pois. Mas ele nunca vem de mãos a abanar. - Dás-lhe a mão e ele pega logo no braço todo. Se eu fosse a ti, fugia a sete pés! - Tu tens é dor de cotovelo. - Dobra a língua! - És mesmo uma santa com pés de barro... - E tu precisas de ter muito estômago para me tratares assim. - E tu, minha sonsa?! Tens mais olhos que barriga. - Mas sou uma mão de fada. Enquanto que tu, meia-leca, só calçando luvas. - Mãos frias, coração quente. Pelo menos é o que dizem. - O teu é de aço, chiça!!! Duro como a cabeça... - O meu coração é de ouro. Pelo menos é o que dizem. - Por isso tens a mão pesada. - Isso é dor de corno. - Olha, queres que te faça um manguito??? Minha mão ó minha mana nana comigo que eu estou cansada de tudo e de nada e não consigo ficar parada Ó meu pé de laranjeira pé de laranja ligeira pé de pinto e pé de cabra abracadabra


bis 1 Ó meu pé a pé coxinho pé de arrepiar caminho pé de vento e de jasmim perlimpimpim bis 1 Ó meu pé pata na poça pé de moço pé de moça rodapé pé ante pé olé olé bis 1 Ó meu pé gato sapato pé de porco pé lavado pérola pé de feijão ana ina não bis 1


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