Mテグ SEGUNDA
a obra de vazio a obra de vazio é tão vasta quanto são grandes os seus limites no centro do vazio supõem-se outros espaços onde quem busca gira à volta de quem encontra. ao contrário da voz corrente, do que é voz, a força do vazio é encher é a tua vez de cerrar as pernas da cama que não entra dentro de casa e as pernas do morto que não cabe no caixão desta vez tens uma bicha de pessoas à porta e um monte de coisas à espera de devolução
o corpo estรก contente o corpo estรก contente quando se sente inseguro e grita para que fique mais escuro
o método de trabalho das casas o bom contraditor diz: uma ideia um desejo não resistem a uma noite de sono responde-lhe o assobio inaudível dum rapaz perdido em várias florestas o bom contraditor diz: eu não sei se a verdade queima ou cega responde-lhe uma légua de restolho uma agitação de tocas abandonadas o bom contraditor diz: o tempo ama os seus filhos confunde-os no seu colo por isso não os entende de manhã às vezes não será outro dia respondem-lhe os corpos que escutam e não se ouvem porque o sangue corre mais depressa o bom contraditor diz: salvou-se a aparência do sentido e o sentido pareceu obrigatório respondem-lhe estes conceitos atacados pelo vírus da solidão ao repouso absoluto condenados séculos a fio dormiram: é o mal que os conserva e no mal veremos a beleza senhora e a beleza serva
átrio podem os pés não assentar no chão dás a bolsa e pagas também com a vida
corredor a água rende-se à evidência à evidência dos gestos a que não é obrigada
a máquina da culpa a criança quer abrir as velhas feridas com a boca chupa o sangue e com os olhos segue um longo carreiro de formigas na casa erra o cheiro a cavalo de batalha e reina a disciplina da tralha miúda e da puta da rotina um tropel de roupa lavada varre o jogo dos sinais que escutam sem intenção e ralham, distraídos, em surdina o recém-chegado não chega a saber se está dentro de casa quantos andares acima do chão quantas voltas ao quintal os seus passos em frente darão
às vezes não quero às vezes não quero que esta ideia morra com o instante que a mata prefiro morrer com ela e morro mal acompanhada com a arma na mão para não ter tempo de pensar
por cima da lareira no coração da floresta diz alguém que faz amor e na orla da floresta um duelo ou apenas passos ou o tempo que é um segredo mal guardado
a máquina de guerra dos sonhos ó miséria intolerante! a montante um desgosto de amor uma fonte, presa à água por um fio ai, pensar duas vezes quando a nuvem se rasga diz nudez pensar outra vez a segunda só pelo prazer de não dizer sem querer ó miséria deslumbrante nesta hora a lama salpica aqueles que não estão parados muita estrada e pouca dança as armas e os heróis partidos aos bocados
na noite ardente dos tempos na noite ardente dos tempos via-se o mundo pelo buraco da fechadura nunca hรก-de ser tarde quando o fogo capitula
missa metade como na fรกbula do artista diligente e do artista preguiรงoso o sรกbio nรฃo consegue cortar o mal pela raiz e a obra pelo meio
meia palavra a mãe prefere que metade não signifique nada embala uma palavra e com ela se embala lá fora está frio e faltam os exemplos tudo parece crescer por conta própria como o cabelo à solta ou o crime à procura do criminoso a mãe diz podes acreditar tentei fazer assim e não inventei os instrumentos se comeste o pó não hás-de querer morrer deitado a meu lado o peregrino regressa do sítio onde o corpo é derrotado traz um filho ao colo ou metade também tu voltarás a nado
ir daqui para ali manhã: da boca aberta jorra uma língua de areia e o passado feliz dum náufrago o seu breve relato o inchaço das marés o azul das mãos o branco dos pés madrugada: espalharam serrim e não sei se nos meus ombros trago uma cabeça ou o cesto para onde ela rolou noite cerrada: não peço a palavra nem passo a palavra o escuro é duas vezes maior do que eu
dali para aqui ela faz-se sentir por onde passa ela sabe por onde se faz sentir ela faz-se saber por onde mente e caminha descalรงa sobre a รกgua dormente ela sabe fugir por onde sente como a รกgua sobre a รกgua ausente
não há mas no anfiteatro da garganta no circo das palavras amestradas na cama onde já ninguém se deita o medo, sei eu, será desejo mas as vítimas não são as que tinham sido apontadas de trás para frente se desfazem os homens o barro é escasso e a chuva foi clemente quem interrompe o trabalho do pássaro e os sonos do imperador? para a última palavra é sempre fácil abrir caminho e fazê-lo sozinho
o pacto do sangue voar tão baixo como os pés e os pensamentos deitar-me depois perto de ti e à minha beira filha de mim tua filha verdadeira os pés são ruins e os pensamentos chatos ó partes indispensáveis ó todo para que fins cordões e sapatos
outros bonecos amor, vamos olhar para o boneco, amor enquanto o caminhante leva, enquanto um saco de poeira, um amigo no lugar do coração a alma é uma suspeita do corpo apenas ela cresce surda e submissa qual cabeleira tão bela que parece postiça no lugar do coração, a alma na torre do corpo debruçada qual luva vai envelhecer à espera de ser raptada um saco de poeira enquanto o boneco que caminha não quer parecer-se com nada leva-me, amor no lugar do teu amigo
já o sol morre mais longe já o sol morre mais longe e me manda finar para outro lado e uma chuva de olhos suspeitos de não me verem lavam as poucas palavras que não pertencem ao passado
cave as palavras têm soluções ocultas mais cedo são verdade e sempre melhores do que as dizemos dos que as dizem a palavra nunca, a palavra ninguém tão úteis e únicas. ou elas nos perseguem ou nós as perseguimos polícias de pais ladrões de meninos
sobras será que as certezas têm rédeas? para onde pende a cauda para que lado invisível voa a crina das velhas dúvidas? essas que a cada coisa correspondem se delas não tirarmos partido essas que ordenam que não fiquemos presos ao chão nasce um dia sem notícias e logo ninguém se espanta a corda solta o bicho, solta o barco que não passam no nó cego da garganta
a falta de respeito nunca é absoluta a falta de respeito nunca é absoluta o filho das árvores faz uma cena no meio da rua várias vezes fala de dois animais que não sabem se estão vivos várias vezes fala da segunda natureza das estátuas biliosa e estudada que nos amaremos invisíveis na curva do tempo no desmazelo novo dos horizontes e nesse olhar que começa por baixo
MÃO SEGUNDA a obra de vazio o corpo está contente o método de trabalho das casas átrio corredor a máquina da culpa às vezes não quero por cima da lareira a máquina de guerra dos sonhos na noite ardente dos tempos missa metade meia palavra ir daqui para ali dali para aqui não há mas o pacto do sangue outros bonecos já o sol morre mais longe cave sobras a falta de respeito nunca é absoluta