O que aqui hoje nos junta, para além da «vã glória» de expor abundantes vestígios da presença de um homem e de uma obra nas páginas da imprensa, é o centésimo quinto aniversário no nosso mestre Manoel de Oliveira. O género humano está, excepcionalmente, de parabéns. Recordo com emoção ter visto e ouvido (no meu caso pela última vez) o saudoso cineasta Jean Rouch afirmar, no nonagésimo aniversário do mesmo artista, comemorado do Rivoli (então Teatro Municipal) que Manoel de Oliveira representa «a nossa esperança de vida». Há que ler esta feliz formulação no sentido mais lato que a nossa imaginação conseguir atribuir-lhe, até porque um dos traços distintivos do nosso amado conterrâneo é a sua capacidade sui generis de alargar o horizonte do desejo dilatando até ao extremo as esferas do indizível. Todavia, o tom de festa a que esta data naturalmente convida, não deve apagar das nossas memórias os heróicos esforços que Manoel de Oliveira teve de desenvolver durante a sua fértil existência para que a sua obra - bela porque necessária e necessária porque bela , sempre urgente por ambas as razões se cumprisse. Se é verdade que a justeza do cinema de Oliveira não escapou a gente perspicaz como José Régio (que bem cedo elogiou os seus talentos), nem sempre fomos muitos a saudar as inúmeras qualidades dos seus filmes avassaladores e o imenso contributo da sua reflexão, acutilante e inquieta, para a cultura portuguesa e para o saber universal. Recordemos, com nietzschiano alvoroço, que foram precisos infinitos prémios, distinções, louvores e recensões críticas entusiásticas, vindos do estrangeiro,