01 – Pierre Letourneur – 1737-1788 –, Chants d’Ossian (James Macpherson), 1777 (nova tradução em 1872, parcial e em verso, por Pierre Baour-Lormian – 1770-1854 –, e depois, em 1842, tradução completa e em prosa, por Auguste Lacaussade – 1815-1897, natural da ilha da Reunião) Os tempos «pré-românticos» caracterizam-se pelas contradições, tanto no plano dos valores cultivados como dos movimentos sociais, e desembocam na Revolução Francesa. Ao nível da super-estrutura, verifica-se uma crescente paixão pela História e pelo passado – que permite relativizar a perenidade do regime – e simultaneamente pelas ciências, viradas para o futuro e anunciadoras da Revolução Industrial. O êxodo rural e a expansão das cidades provocam, por reacção, o culto da «natureza» e do individualismo, numa era em que se desenvolvem as comunicações de massas e os movimentos de multidão. Há que situar neste quadro o sucesso dos Cantos de Ossian, vistos como uma Ilíada gaélica, e a voga do «ossianismo» que destronará o neo-classicismo. Pierre Letourneur é tradutor, não poeta. Deu a conhecer em França Edward Young e Shakespeare. Cinquenta anos depois, as suas traduções serão consideradas demasiado polidas, e submetidas ao gosto francês, mas o sucesso do texto mantém-se, pelo que novas traduções surgirão em 1827 e 1842. FIFFFFF 02 – Évariste de Parny – 1753-1814, natural da ilha da Reunião –, Chansons madécasses, 1787 O sucesso de Parny como poeta deve-se sobretudo às suas Poesias eróticas (1778), antes das Elegias (1784) de sua autoria que Chateaubriand declarava ter aprendido de cor. Oriundo duma família nobre e esclavagista, manifestou-se todavia contra a escravatura no tempo da revolução, porventura à custa da perda dos bens que lhe caberiam herança. Viajou muito, tendo ocupado postos militares durante a monarquia – dragão da rainha – e exercido cargos administrativos sob Napoleão – no ministério do Interior e depois no Teatro das Artes. Integrou por fim a Academia Francesa. O seu livro A guerra dos deuses, poemas em dez acantos, feroz crítica do cristianismo, foi proibido – mas amiúde reeditado clandestinamente. As Canções malgaxes foram recebidas como uma curiosidade exótica e só retrospectivamente seriam vistas como o primeiro poema em prosa, forma justificada, após os Cantos de Ossian, pelo alibi da tradução – que não passa, na verdade, de uma pseudo-tradução, já que Parny as escreveu na Índia... Algumas delas foram musicadas por Maurice Ravel. FF 03 – Alphonse Rabbe – 1784-1829 –, Le centaure, 1822 (em revista) – 1836 (Œuvres posthumes) Rabbe é conhecido pelo seu livro Álbum dum pessimista, publicado postumamente mas celebrado pelos seus amigos românticos, Victor Hugo e Sainte-Beuve, recolha de refexões tingidas de desengano acerca da morte e do suicídio que começa a redigir em 1923 e prossegue até pôr fim à vida. Tendo contraído a sífilis durante uma missão em Espanha, no ano de 1808, viu a doença devastar-lhe o corpo e o rosto, e foi obrigado a retirar-se, tendo ficado acamado durante os cinco últimos anos da sua vida. Antes disso, polemista activo, fundara na cidade de Marselha, em 1820, o jornal «Le phocéen» no qual atacava as posições monárquicas – e esclavagistas –, coisa que lhe valeu perseguições e condenação. Os aforismos do Álbum motivaram que Breton o citasse no Manifesto do surrealismo. O seu poema em prosa, O centauro, passou despercebido mas não é de excluir que Maurice de Guérin o tenha lido e apreciado a ponto de retomar o título e a inspiração – durante muito tempo, Guérin foi tido como iniciador da forma poema em prosa sem a justificação duma tradução. Não se conhece nenhum retrato de Rabbe. FFF 04 – Prosper Mérimée – 1803-1870 –, La Guzla, 1827 Um homem de 24 anos publica, sob o nome Joseph Lestrange, uma série de espanholadas intituladas O teatro de Clara Gazul e conhece um sucesso imediato até que a revista «Le Globe» acabe por revelar o nome do autor. Dois anos mais tarde, ainda a pretexto de traduções – desta vez da Ilíria –, assiste-se à publicação, sob o nome Hyacinthe Maglanovitch, de La Guzla, anagrama transparente de Gazul; Goethe denuncia imediatamente a fraude, pelo que a glória do autor fica assegurada. Mérimée ficará para posteridade como o inspector-geral dos Monumentos históricos que confiou a Viollet-le-Duc a reconstituição da arquitectura medieval, do monte SaintMichel à catedral de Notre-Dame, passando pela cidade de Carcassonne, e sobretudo como autor de novelas pitorescas – Colomba (Córsega), A vénus d’Ille (Pirinéus) e Carmen (Espanha) imortalizada por Bizet – antes de ter assento na Academia Francesa. Os poemas de La Guzla derramam complacentemente chavões do género «terror»: mau olhado, aparições diabólicas, vampiros... FFINFFF