Pandora

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PANDORA Falso final IG – Obrigado. Obrigado por terem vindo. Espero que tenham gostado do espectáculo... Se tiverem alguma questão... CV – Alguma dúvida... IG – Alguma pergunta debaixo da língua... CV – Ali! Sim, diga diga, não se acanhe. “Que idade tinha a Pandora?” IG – Qual delas? A marioneta? Uns meses de vida. CV – A Pandora do mito? Uns três mil anos, mais coisa menos coisa.... Mas há muitas Pandoras por aí à solta! IG – Só neste espectáculo são quase uma dúzia... CV – Foi a nossa maneira de dizer que não há idade para se ser Pandora IG – Que a Pandora já não tem idade. CV – Que ela pode crescer ou minguar como a Alice dentro do poço. IG – Há ali outra pergunta a pintar! CV – “O que estava dentro da caixa? “ IG – Qual delas...? CV – Pois, há imensas caixas... IG – Por exemplo, neste momento, estamos dentro de uma caixa – uma caixa de teatro, uma caixa negra a que os americanos dão o nome de negra black box. CV – As casas são caixas. As salas são caixas. As escolas são caixas. Os carros são caixas com rodas. IG – Há a caixa multibanco... CV – A caixa forte... IG – A caixa de previdência... CV – A caixa registadora... IG – A caixa das esmolas... CV – A caixa da costura... IG – A menina da caixa do supermercado... CV – O caixa de óculos... IG – Os médicos da caixa. IG – A Caixa Geral de Aposentações e a Caixa Geral de Depósitos... CV – A caixinha de música... IG – A caixa de ritmos... CV – A caixa negra... IG – Há o caixote, o caixeiro, o caixotim, o caixilho, o caixão CV – Há a caixa torácica, a caixa craniana... IG – O caixote do lixo, o caixeiro viajante, o caixão de pinho... CV – Há quem faça caixinha... IG – Há quem ande a toque de caixa... CV – Mas estou a ver que há outra pergunta! IG – “porque é que fizemos este espectáculo?” CV – Pois, porquê este e não outro? IG – Porquê outro antes deste? CV – E antes desse porque não este? IG – Etc. CV – Andamos sempre atrasados ou adiantados relativamente a este ou aquele espectáculo. IG - Porque fazer espectáculos, apesar das aparências, não cabe dentro de caixas... CV – Mais uma pergunta? IG – estou a ver que a Pandora vos soltou a língua... CV – Mas ainda bem. Não gostamos de ficar a falar sozinhos. IG – “o que é que esta história tem a ver com vida das pessoas?”


CV – Boa pergunta. Uma verdadeira pergunta. IG – A verdadeiras perguntas demoram muito a responder. CV – Vamos tentar. Tentar. Não prometemos nada. Mas tentamos dar tudo por tudo. CANTIGA DA CAIXA debaixo do chuveiro? Era uma vez uma caixa Onde a esperança palpitava Estava fechada a esperança Mas toda a gente esperava Sobe a lua o sol já baixa Soa a hora Em que Pandora Sai da caixa Pandora era uma vez Crescia e também mingava Conta errada que deus fez Pois também deus se enganava Sobe a lua o sol já baixa Soa a hora Em que Pandora Sai da caixa Era uma vez já sem vez Caixa a toque de Pandora Não esperes por outra vez A tua vez é agora Esta noite ou vai ou racha Soa a hora Em que Pandora Abre a caixa Ave Eva à vez invés E da frente para trás Procura dentro da caixa A história que aqui te traz Esta noite ou vai ou racha Soa a hora Em que Pandora Abre a caixa Ave Maria Pandora Dor a dor enches a pança Bruxa na pele da senhora Homem na pele da criança


Sobe a lua o sol já baixa Esta noite ou vai ou racha Sobe a lua o sol já baixa Esta noite ou vai ou racha Sobe a lua o sol já baixa Esta noite ou vai ou racha Sobe a lua o sol já baixa Esta noite ou vai ou racha...

ANABELA E OS MONSTROS Houve um tempo em que pensávamos que o que íamos fazer era uma versão da história da Pandora em que, depois dela abrir a caixa e os males saírem, a vida dela continuava na mesma. Na mesma mas mais. Mais na mesma. Mais do mesmo. Na mesma como a lesma. Era essa a sua maldição. De tempos a tempos esses males (que nós, por uma razão de conveniência teatral, convertemos em monstros) apareciam em casa da Pandora. Nesta versão, a Pandora chamava-se Anabela. Anabela e os Monstros. Estes monstros-males tinham saído da caixa quando Anabela-Pandora a tinha aberto e, de tempos a tempos, Sentiam uma vontade irreprimível de regressar ao interior da caixa… Mas já não cabiam, eram, estavam demasiado grandes. - Lembro-me de uma cena, que não chegámos a pôr em cena, em que Anabela - Pandora estava sentada no sofá da sua sala a ver televisão. Deitada no seu colo estava um dos tais Monstros-males, era uma espécie de diabo, mas mais gordito e sem glamour. Estava a dar uma série sobre médicos cirurgiões num hospital privado.

LENGALENGA Pandora pano de vela Pantomina na panela Promessa de pandemónio Deste lado da pantalha Já o pânico se espalha Pandora parte em combate Contra ideias de pantufa E contra os deveres da pança Pandora enfrenta Pandora Espantosa será a luta Pandora orca pandorca Pantera a tinta da China Panóplia de Primavera Pandora contra pantufa Pandora contra pantalha Pandora contra pantera Pandora contra Pandora...


CANTIGA DAS COISAS QUE SE SOLTAM Solta os cabelos aos sonhos Solta as pernas aos desejos Solta os braços à ternura Pandora agora Pura e dura Solta os dedos aos segredos Solta os ouvidos às aves Solta os olhos à bravura Pandora agora Pura e dura Solta as mãos ao pensamento Solta os pés à terra em fuga Solta as unhas à candura Pandora agora Pura e dura Solta a língua a quem te cala Solta o dente a quem te ferra Solta as rédeas à loucura Pandora agora Pura e dura


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