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O papel das Operações Especiais no Teatro de Operações do Kosovo

O PAPEL DAS OPERAÇÕES ESPECIAIS NO TEATRO DE OPERAÇÕES DO

KOSOVO

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FOE

Ricardo Vieira SAj Inf

As Operações Especiais Portuguesas no Kosovo

As Operações Especiais, nomeadamente na figura dos seus destacamentos que foram projetados para o TO do Kosovo, assumiram, desde o primeiro momento até ao último, diversas estruturas e quadros orgânicos, de acordo com o contexto vivido no TO, mas também de acordo com a missão que lhe ia sendo atribuída.

Em 1999, após aprovação da resolução 1244 do Conselho de Segurança da ONU, dá-se a projeção para este TO, através do primeiro Destacamento de Operações Especiais (DOE).

Assim, quando Portugal decidiu participar neste TO, usou uma força de Operações Especiais em apoio à sua entry force – um Agrupamento (Agr BRAVO) com base num Esquadrão de Cavalaria e numa Companhia de Paraquedista, que se encontrava em aprontamento em Território Nacional (TN). O DOE entrou em teatro, fazendo parte da Força de Entrada Inicial da NATO – a KFOR, ocupando a sua base de operações em Banjë, num antigo hotel (hotel ONIX) destruído pelo conflito, em 7 de julho.

A par dessa missão muito específica e temporária, uma vez que o Agr BRAVO chegou ao TO um mês depois, o Destacamento tinha como principal tarefa efetuar um reconhecimento de área em todo o território dentro do setor que lhe estava atribuído, fazer um levantamento da situação demográfica e de segurança, uma vez que o Kosovo, no pós-confrontos, encontrava-se com um elevado nível de destruição estrutural e desorganizado socialmente, sem uma rede de infraestruturas institucionais que tivessem um real conhecimento do que se passava no terreno. Para além desse trabalho, foi ainda desenvolvida uma rede de contactos, com o objetivo de aumentar o situational awareness do sector, o que obrigou a uma gestão delicada por parte dos militares do Destacamento, uma vez que, no seio de uma população martirizada por vários anos de conflito interétnico, esta prática não era por vezes bem interpretada no terreno.

Para fazer face às suas missões, o DOE estava estabelecido numa base operacional, integrada fisicamente num Batalhão Logístico italiano, que apoiava o sector e servia de “casa” às unidades de Operações Especiais da Brigada Multinacional, nomeadamente uma espanhola e uma italiana, respondendo diretamente ao Comando da Brigada, que tinha à sua responsabilidade o Sector Oeste. Contando com um efetivo de 2 Oficiais e 10 Sargentos (numa orgânica que não se viria a repetir no DOE seguinte) este destacamento já possuía um leque de equipamento mais diferenciado do que a generalidade do Exército usava, principalmente no que diz respeito ao armamento, equipamentos e optrónicos de proteção individual e, pela utilização de viaturas para mobilidade terrestre. Este DOE constituiu um marco para as Forças de Operações Especiais do CTOE, pois foi a primeira força organizada que foi projetada para operações, com uma missão primária no âmbito da doutrina das operações especiais, fora do território nacional.

Meios aéreos para projeção das FOEsp da KFOR

Missão HUMINT do DOE 1

Depois de cumprida a sua missão, entre julho de 1999 e janeiro de 2000, o 1º DOE KFOR foi rendido pelo 2º DOE KFOR, cuja orgânica tinha sido ajustada para 2 Oficiais, 4 Sargentos e 6 Praças, num ciclo que era repetido a cada 6 meses, até que em meados de 2001 todas as forças nacionais foram retraídas do TO do Kosovo.

Em fevereiro de 2005, as Forças de Operações Especiais voltam ao Kosovo, desta feita integradas nos Batalhões que constituíam as Forças Nacionais Destacadas (FND). Com uma orgânica ajustada de 1 Oficial, 2 Sargentos e 3 Praças, o DOE assumiu uma missão de apoio à FND portuguesa, enquanto força especializada no âmbito das informações e apoio às operações, tendo como abrangência territorial a totalidade do Kosovo, uma vez que a FND deixou de atuar num sector, para passar a constituir-se como reserva tática do Comandante da Kosovo Force (KFOR), com a designação de Kosovo Tactical Reserve Manouvre (KTM). Nesta nova dinâmica o DOE passou a reportar ao Comandante da KTM, integrado na força como national asset.

Assim, tal como a KTM desempenhava um papel importante sob o comando direto do Comandante da KFOR (COMKFOR), dando-lhe uma flexibilidade imprescindível na condução de operações, os DOE procuravam permitir o mesmo tipo de flexibilidade ao Comandante da KTM, quer fosse pela sua grande capacidade de mobilidade, diversidade de equipamento e elevada capacidade de condução de operações em todo o espectro militar, quer fosse de forma isolada ou em apoio de, quer fosse de forma aberta ou discreta. Desta forma, para cumprir com as suas tarefas, os DOE procuravam ter um pleno conhecimento de todo o território do Kosovo, conseguido através de vastos reconhecimentos ao território e de constantes contactos com as estruturas da NATO que faziam a ligação da KFOR à população local, como era o caso das Liason Military Teams (LMT). Ambos, a uma escala nacional, mantinham treinos consecutivos com o grosso da KTM otimizando a interoperabilidade entre si, por forma a garantir as proficiência na condução de operações, como eram exemplos situações de Crowd Riot Control (CRC), roadblocks ou proteção a altas entidades.

Para além destas missões, o DOE desempenhava ainda uma outra de cariz nacional, mas com o mesmo grau de importância, e que passava pela georreferenciação de todos os cidadãos nacionais que residiam e/ou trabalhavam no Kosovo, funcionando como o primeiro ativo facilitador da evacuação de cidadãos nacionais, caso escalasse a violência no TO.

Missão de vigilância na zona norte do Kosovo

Esta tarefa, para além de permitir que a força nacional apoiasse na proteção dos seus cidadãos, demonstrava ser altamente diferenciadora, na medida em que permitia um outro nível de contacto com residentes no TO, aumentando significativamente o situational awareness, em proveito das tarefas primárias da força.

Dever cumprido

Quando em 2017 as Forças Nacionais retraíram do Kosovo, este encontrava-se de certa maneira pacificado, tendo a NATO apostado numa postura de low profile e as operações militares reduzido drasticamente, conservando a Aliança do Atlântico Norte apenas uma força dissuasora de cerca de 3 mil militares.

Independentemente dessa análise, a missão portuguesa revestia-se de uma aura positiva, que era facilmente evidenciada pela forma fácil e calorosa como eramos recebidos na quase totalidade do país, independentemente de transportarmos os símbolos da KFOR, o que era um claro sinal do bem que conseguíamos produzir em prol dos mais sacrificados que, como em qualquer conflito, é sempre a população.

A missão na KFOR, embora com enquadramento diferente, nos seus dois períodos de projeção, teve um impacto muito positivo no desenvolvimento da capacidade da Força de Operações Especiais. O contacto multinacional com forças congéneres, o contacto com forças nacionais de outra natureza, a experiência das dificuldades do teatro de operações, especialmente em situações de estabilização, foram elementos que permitiram levantar lacunas e encontrar soluções nos diferentes vetores de desenvolvimento da capacidade e, acima de tudo, incrementar uma maturidade operacional muito relevante para a transformação da formação, do treino e do aprontamento de outras forças de operações especiais, entretanto projetadas para outros teatros de operações.

a missão portuguesa revestia-se de uma aura positiva, que era facilmente evidenciada pela forma fácil e calorosa como eramos recebidos na quase totalidade do país

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