HORNSUP Nº11

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nº11 - Fevereiro/Março 10

www.hornsup.net

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46 resenhas de CDs

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8 entrevistas

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9 resenhas de shows

metal canarinho

entrevistas:

shadowside the fall of troy American Me Hills have eyes kandia circle of contempt my fair lady

best of 2009 Saiba quais os melhores do ano de 2009. Escolhidos pela redação e pelos nossos leitores

hornsup #11

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ao vivo: fear Factoryc entombed c madball/agnostic front c deicide c venom...



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índice Editorial Ganhe! ´ Noticias ~ PT saudacoes ´ Old school agenda sangue novo REC Artwork top 5 metalsplash

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best of 2009 claustrofobia shadowside The fall of Troy american Me hills have eyes kandia circle of contempt my fair lady

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Resenhas Ao vivo

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hornsup #11

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Editorial Edit torial refuse/resist / Nº11 • Fevereiro/Março 2010

Editor-chefe Matheus Moura

Colaboradores nesta edição André Henrique Franco, André Pires, Guilherme P. Santos, Igor Lemos, Italo Lemos, João Nascimento, Júlio César Bocáter, Luciano Piantonni, Luigi “Lula” Paolo, Luiz Arthur, Paulo Vitor, PT, Rodrigo Ribeiro, Thiago Fuganti

Fotos Dean Zulich, Ethi Arcanjo, Flávio Santiago, Gabriel Garcia, Jake De Golish, Marcelo Shina, Maurício Santana, Michele Mamede, Renato Santander, Thiago Fuganti, Will Marques

Design, Paginação, Webdesign

E finalmente temos a nossa primeira capa com uma banda brasileira! Poderia dizer aqui que ter o Claustrofobia como matéria de capa reflete o nosso apoio ao underground e blá blá blá. Mas acredito que é muito mais que isso. Acredito que representa o reconhecimento por 13 anos de dedicação à música extrema dentro e fora das fronteiras. A persistência e “teimosia” em fazer música para uma minoria com pouco ou mesmo nenhum apoio. Penso que a banda também simboliza uma geração que presenciou o melhor momento do Metal brasileiro, a ascensão do Sepultura, e que mantém esse mesmo espírito e entusiasmo até hoje. O recente contrato com a Candlelight Records abre novas portas aos nossos “meninos” que agora ganham maior amplitude e levam a música pesada brasileira mais longe. É o Claustrofobia... do Brasil!

Matheus Moura Matheus Moura

Revisão Igor Lemos

Publicidade/Contato huinfo@hornsup.net

Website www.hornsup.net

Para concorrer às promoções visite www.hornsup.net e saiba com se inscrever. Sorteio: 30 de Março de 2010

Gan Ganhe! nhe!

Myspace www.myspace.com/hornsupmag

Envio de material Portugal/Europa HORNSUP Att: Matheus Moura Rua Dr. Coutinho Paes, 167 8ºC 2725 Algueirão-Mem Martins Portugal

A HORNSUP nº 11 oferece aos seus leitores os seguintes prêmios:

Uma (1) shirt girlie do Before the Rain www.majorlabelindustries.com

Brasil Paulo Vitor Macêdo Rua Joaquim Gois, nº 88, Edifício Mansão Drummond, Apartamento 102 - 13 de Julho Aracaju/SE - Brasil CEP: 49020-130 Igor Lins Lemos Rua José de Holanda nº 580 Aptº 603 Torre - Recife/PE - Brasil CEP: 50710-140

HORNSUP Rua Dr. Coutinho Paes, 167 8ºC 2725 Algueirão-Mem Martins Portugal

Um (1) bilhete duplo (2 pessoas) para o concerto do Despised Icon no dia 14 de Abril no Musicbox em Lisboa (Portugal) www.myspace.com/ohdamnproductions

Dois (2) Digipaks da compilação Attack! Vol.1 http://attack.hornsup.net

Procura-se Estamos sempre em busca de novos colaboradores. Se acha que pode se tornar parte de nossa equipe, envie um e-mail para huinfo@hornsup.net e mostre do que é capaz!

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hornsup #11

VENCEDOR DO BEST OF 2009: Mike Pereira Vencedores das promoções HORNSUP #10 - Vic Records: Alex Silva (São Paulo/SP) / U-Ganga: Guilherme Santos (Campo Grande/MS), Vitor Scarpato (Tubarão/SC), Joice Gonçalves (Batatais/SP) / Device: Suzane dos Santos (Embú das Artes/SP), Leon Sampaio (Salvador/BA), Diogo Leal (Rio de Janeiro/RJ)


not notícias tíc cias

por André Henrique Franco

LAMB OF GOD

Rumo ao Brasil

O ano que não existiu Primeiro, achei que o problema fosse eu. Em parte, impossível não admitir, sou eu o problema mesmo. Mas não o único. Nem o principal. Não consigo destacar nada relevante que tenha acontecido em 2009 na cena Hardcore ou de música pesada em geral simplesmente porque não houve nada relevante em 2009 na cena Hardcore. Ou de música pesada em geral.

A Liberation Music Company divulgou em seu site (www.liberationmc.com) a primeira tour latino-americana do Lamb Of God. A banda vem divulgar seu mais recente álbum, “Wrath”, que saiu pela Epic em Fevereiro de 2009. A tour terá início em 26 de Setembro em São Paulo, e passará também por Argentina, Chile, Equador, Colômbia, Venezuela e México.

diagnosticado com uma radiculopatia cervical,, que é a dor que se irradia do pescoço para os braços. O baixista e vocalista já tentou diversos tratamentos para a dor nas costas, sem resultados, o que o levou a aceitar fazer a cirurgia.

AGNOSTIC FRONT

No Hellxis Fest 2010

TEXTURES

Uma textura a menos O vocalista Eric Kalsbeek deixou a banda holandesa Textures. Eric declarou o seguinte: “Minha vida mudou, as prioridades mudaram. Eu não posso mais lidar com as frequentes tours e com o tempo investido na banda. Preciso me concentrar no meu trabalho e na minha família. Eu preciso dar alguns passos para trás”. Os membros restantes do Textures já estão cogitando a possibilidade de uma substituição e esperam revelar a identidade de um novo vocalista nos próximos meses. O último álbum dos caras, “Silhouettes”, foi lançado em 30 de Setembro de 2008.

NILE

O ódio dos deuses no Brasil A banda americana Nile se apresentará pela primeira vez no Brasil no dia 18 de Março no Santana Hall, em São Paulo. Esse será o único show da banda no país e ingressos podem ser adquiridos on-line no site www.ticketbrasil.com.br. O Nile conta com Karl Sanders (guitarra, voz), Dallas Toler-Wade (baixo, voz) e George Kollias (bateria). Seu último registro saiu em 3 de Novembro de 2009 e se chama “Those Whom The Gods Detest”.

Os veteranos do Agnostic Front serão a principal atração do Hellxis Fest 2010 que será realizado no Musicbox, em Lisboa, no dia 13 de Abril. Além das lendas do hardcore, também estarão presentes as bandas This Is Hell, Call To Preserve e Crushing Caspars. Mais informações podem ser conferidas no Myspace do evento: www.myspace.com/hellxis.

SYSTEM OF A DOWN Eles estão de volta?

O baixista do System Of A Down, Shavo Odadjian, postou a seguinte mensagem em seu twitter no dia 11 de Janeiro: “Are u guys ready for System???” (“Vocês estão prontos para o System???”). A partir dessa mensagem várias especulações começaram a acontecer. Porém, Shavo declarou logo na seqüência: “Sobre o meu ‘Are u guys ready for System?’, eu não estou dizendo que estamos de volta, mas e se estivéssemos, vocês estão preparados? Minhas desculpas por deixarem vocês empolgados. Eu só estou vendo”. O System Of A Down está em hiato desde 2006, enquanto seus membros possuem vários projetos paralelos.

Despised Icon

Portugal na rota

SLAYER

Tensão cervical O Slayer foi forçado a cancelar sua turnê americana e canadense que faria com Megadeth e Testament nos meses de Janeiro e Fevereiro, assim como as datas na Europa que tinham agendadas para Março e Abril. O motivo é a cirurgia de coluna à qual será submetido o guitarrista Tom Araya, que foi

A banda canadense Despised Icon passa por Lisboa (Portugal) com sua turnê européia no dia 14 de Abril (quarta-feira). O concerto acontece no Musicbox (Cais do Sodré). Além dos canadenses, também se apresentam os franceses As They Burn e os portugueses Utopium e For Godly Sorrow. Os bilhetes custam 12 euros antecipados e 15 euros na porta. Mais informações em www.myspace.com/ohdamnproductions

No começo do ano, tive meus primeiros filhos. Passei grande parte de 2009 entretido - e fascinado com a novidade. Mantive-me conectado ao fabuloso mundo do Hardcore por um fiozinho bem fino. Quase não fui a shows e comprei/baixei/escutei pouquíssimos CDs novos. Em contrapartida, li bastante (piada interna: mas não os livros que iluminam a Vila Madalena com a história do Hardcore europeu) e conversei muito com meus consiglieri. Gente que entende do assunto, sabe o que se passa, difere com maestria o joio do trigo. Veio deles o veredito que me tirou a culpa: não foi minha distância que tornou 2009 apático; 2009 foi apático. Já falei nesta coluna do momento estranho que a cena vive e até citei uma frase do Freddy, do Madball, sobre o estado de letargia geral. Na entrevista com Howard Jones, vocalista do Killswicth Engage, na edição passada da HORNSUP, ele também abordou a sazonalidade, as idas e vindas, ondas e sumiços na cena pesada. Rezo para que seja algo passageiro. Temo, no entanto, que represente uma mudança radical. Sem querer ser muito filosófico, acho que cabe a pergunta: para onde vamos? Enquanto escrevo aqui, acabo de dar uma sapeada no Blabbermouth e leio a declaração do Mark Hunter, vocalista do Chimaira: “Não há nada de novo. Onde estão o novo Slipknot, o novo Metallica ou a banda que vai dominar tudo e (...) fazer todo mundo se interessar de novo?” Sério mesmo. Não é assustador que o melhor disco de HC de 2009 seja o álbum de covers do Hatebreed? Que o de Metal seja um Slayer morno? Que outro dos melhores lançamentos do ano seja o Hip Hop do Freddy com o DJ Stress? “Ah, mas você tá muito chato! Teve muito CD bacana e blablabla”. Aham. Berremótis, Gorgorós e Glugluglus de maquiagem preta debaixo do olho não dá, né? Vocês e seus fãs estão dispensados de passar olhos nesta coluna. Podem ir em frente. Fiz uma viagem no tempo e me dei conta que até as fases mais obscuras da criatividade pesada, em que o New Metal reinava tão absoluto quanto a Stephany do Crossfox, tinham coisas interessantes. Em São Paulo mesmo, surgiu o Seven I Lie, uma das bandas mais inovadoras dos anos 2000. E New Metal. Desde o Fim do Silêncio não pinta nada de novo por aqui. Desde a retomada de NYHC não pinta nada legal lá fora. Há quanto tempo não sai um CD como “Our Darkest Days”? Cadê o frescor todo dos Calibans, Lamb Of God e mesmo Killswitch Engages da vida? Perdão pelo pessimismo, mas convenhamos: este Saara de homens e ideias não é culpa dos meus filhos. pt saudações hornsup #11

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Tesouros do

not notícias tíc cias AVENGED SEVENFOLD De luto

Porquinha gatinha www.youtube.com/watch?v=2StEWupdWlQ

Metallicalypso www.youtube.com/watch?v=54aOr7JP5_A

O baterista do Avenged Sevenfold, James Owen Sullivan (a.k.a. The Rev) foi encontrado morto em sua casa no dia 28 de Dezembro de 2009. Ele tinha 28 anos de idade. A autópsia feita ao corpo de Jimmy revelou-se inconclusiva, dado que não foi possível ainda determinar a causa de sua morte. Acredita-se que ele tenha morrido de causas naturais, porém, exames toxicológicos e laboratoriais ainda serão feitos para se descobrir quais as verdadeiras causas. Os resultados desses testes não irão ser divulgados tão cedo. A banda havia acabado de escrever um registro com Jimmy. Segundo declarações do frontman do Avenged Sevenfold, M. Shadows, “não posso prometer o que o futuro nos aguarda, porque agora é muito doloroso para se pensar, mas sabemos que precisamos gravar e lançar esse disco em homenagem a Jimmy, e pelo Jimmy”.

MESHUGGAH

Ao vivo em DVD

Faith No More no Conan O’Brian (1995) www.youtube.com/watch?v=L0fP5GRP9uQ

“Alive”, o novo DVD do Meshuggah, que foi produzido e dirigido por Ian McFarland, da Killswitch Productions, verá a luz do dia em 9 de Fevereiro de 2010. O conteúdo terá vídeos ao vivo da banda tocando seu mais recente álbum, “Obzen”, e também músicas de toda a sua carreira em shows durante a turnê norte-americana de 2009 e o festival Loud Park, em Tóquio, no Japão, em 2008.

THE DEVIL WEARS PRADA

América do sul endiabrada

Shred Durst www.youtube.com/watch?v=D0PbOk6GgmY

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hornsup #11

Está confimada para o dia 9 de Maio a única apresentação do The Devil Wears Prada no Brasil em sua primeira tour sulamericana. Através da Liberation Music Company a banda ainda fará shows na Argentina, Chile, Peru, Colômbia e Venezuela. O show em São Paulo será realizado no dia 9 de Maio no Carioca Club e terá como bandas de abertura Fim do Silêncio e Mehra. Para maiores informações acesse o site www.liberationmc.com. O último disco da banda, “With Roots Above And Branches Below” saiu em 5 de Maio pela Ferret.

THE DILLINGER ESCAPE PLAN Sem escapatória

O The Dillinger Escape Plan irá lançar seu novo disco, “Option Paralysis”, em 23 de Março. O álbum foi gravado em Orange Country, California, com o produtor Steve Evetts (The Used, Every Time I Die) e será o debut da banda pelo selo Party Smasher Inc./Season Of Mist. De acordo com a revista inglesa Metal Hammer, o novo registro terá participação especial do pianista Mike Garson, de 70 anos de idade, que já trabalhou com David Bowie, Nine Inch Nails e The Smashing Pumpkins.

SOUNDGARDEN

Especulações sobre o retorno Rumores sobre a volta do Soundgarden estão circulando, porém, ainda não há nada de concreto sobre a volta do grupo. De acordo com o site “The Pulse Of Radio”, o mundo da música foi atingido pela notícia publicada no website oficial e no twitter de Chris Cornell, no dia 1º de Janeiro, além de um novo site chamado “Soundgarden World”, o que levantou hipóteses que a banda se reuniria novamente após 12 anos de ausência. A mensagem dizia: “A pausa de 12 anos está acabada e a escola está aberta de novo. Cadastre-se agora. Knights of the Soundtable estão de volta!”. Porém, Knights of the Soundtable era o nome do fã clube do Soundgarden e a mensagem não diz expressamente que o próprio Soundgarden está retornando.

Incubus

Ameaças de morte Chris Kilmore, atual DJ do Incubus, foi ameaçado de morte por Gavin Koppel, antigo DJ da banda. Kilmore já tinha ganho em tribunal uma ordem de restrição contra Koppel, após o mesmo ter supostamente cuspido em sua cara. No passado dia 28 de Dezembro, Koppel encontrou com Kilmore em uma loja e, segundo Kilmore, o ameaçou de morte caso não retirasse a ordem de restrição, que proibe Koppel de chegar a menos de 100 metros de Kilmore e sua namorada.


not notícias tíc cias

Abre aspas...

THE BIG FOUR TOUR

RAGE AGAINST THE MACHINE

Os rumores estão confirmados! Pela primeira vez na história as quatro maiores bandas do Thrash Metal estarão juntas em um festival: Metallica, Slayer, Megadeth e Anthrax. Os shows farão parte do Sonisphere Festival 2010 e até o momento apenas datas na Polônia, Suiça e República Tcheca estão confirmadas. Mais datas são esperadas para os meses de Junho, Julho e Agosto na Europa. Segundo declaração do baterista do Metallica, Lars Ulrich, “quem teria pensado que mais de 25 anos após sua criação, os quatro grandes nomes do Thrash Metal não só continuariam a existir e mais populares do que nunca, como iriam tocar pela primeira vez juntos?”.

A MVD Visual e Sexy Intellectual definiram o dia 23 de Fevereiro como a data de lançamento do DVD “Revolution In The Head - Rage Against The Machine and the Art Of Protest”. Este será um documentário sobre a trajetória do Rage Against The Machine e seu envolvimento social e político. Terá entrevistas com o produtor Garth Richardson, Colin Devenish (responsável pela biografia da banda), Dave “Rat” Levine (técnico de som do RATM) e Michael Goldstone (executivo da indústria fonográfica que assinou a banda quando trabalhava na Epic Records), entre outras personalidades ligadas ao grupo.

A maior turnê de todos os tempos

MARDUK

Cinco datas no Brasil A banda sueca de Black Metal, Marduk, estará fazendo sua turnê pelo Brasil em Abril. Até o momento as datas confirmadas são: 15/Abr 16/Abr 17/Abr 18/Abr 19/Abr

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Campinas/SP @ Hammer Rock Bar São Paulo/SP @ Hangar 110 Belo Horizonte/MG @ Bar Brasil Brasília/DF @ Boate Capital Clube Porto Alegre/RS @ Bar Opinião

Viva la revolución

DREAM THEATER Março teatral

O Dream Theater irá embarcar em uma tour sulamericana no mês de Março. Veja as datas a seguir: 11/Mar – Santiago, Chile – Movistar Arena 13/Mar – Buenos Aires, Argentina – Luna Park 16/Mar – Porto Alegre, Brasil – Pepsi On Stage 18/Mar – Curitiba, Brasil – Master Hall 19/Mar – São Paulo, Brasil – Credicard Hall 20/Mar – Rio de Janeiro, Brasil – Citibank Hall 22/Mar – Lima, Peru – Jockey Club 24/Mar – Caracas, Venezuela – Poliedro

“Há dois tipos de música: Heavy Metal e toda aquela merda que toca na rádio e passa na MTV.” Rob Halford

Old School Não é difícil imaginar a confusão que o Black Sabbath arrumou com o seu álbum de estreia. Imagine com eram vistos 4 cabeludos ingleses fazendo música extrema sobre ocultismo em 1970. Junte a essa temática forte um conjunto de canções inesquecíveis e terá em mãos um dos mais emblemáticos álbuns da história de Heavy Metal, “Black Sabbath”. Toda a mística criada em torno do Black Sabbath nessa fase inicial é completamente justificável quando se analisa o conteúdo desse registro. A faixa de abertura, que dá nome ao álbum, transmite uma agonia intensa, onde, o então menino, Ozzy Osbourne mostra uma interpreção dramática, acompanhada pelo baixo de Geezer Butler, que despeja lentamente o infame “tritone” diabólico. “The Wizard” tem um toque de “canto de sereia”, sendo que a gaita (tocada por Ozzy) comanda a melodia e rouba a cena. As letras dessa música foram baseadas em Gandalf, personagem do livro “O Senhor dos Anéis”. A seguir, “Behind The Wall of Sleep” mostra um lado mais experimental e viajante, que representa exatamente a fase que o Rock atravessava naquele momento. “N.I.B.” é a composição mais controversa, pois a narrativa é feita a partir do ponto de vista de Lúcifer (Diabo, Satanás). É comum dizerem

que N.I.B. é a sigla de “Nativity In Black”, porém o guitarrista Tommy Iommi já negou diversas vezes essa afirmação, dizendo que o nome da música surgiu de uma conversa sobre o cavanhaque do baterista Bill Ward, que na altura se assemelhava a ponta de uma caneta tinteiro (pen-nib). Bem, não vou fazer aqui uma descrição faixa-a-faixa pois cada uma tem a sua história. Aliás, histórias não faltam sobre esse álbum, já que o mesmo teve uma excelente recepção comercial, sendo considerado um dos primeiros álbuns de Heavy Metal, mas, por outro lado, a mídia especialzada americana foi bastante dura com o quarteto inglês. “Black Sabbath” é um disco que ainda hoje me fascina e arrepia, pois são canções eternas e que continuam a surtir o mesmo efeito e despertar sentimentos em quem as ouve. Ainda por cima, possui um dos artworks mais assustadores que se tem notícia. Logo com o primeiro álbum, o Black Sabbath já estorou, chegando no número 8 da parada inglesa e na posição 23 da Billboard vendendo mais de um milhão de discos no ano do seu lançamento. Foi assim que a 40 anos, o Black Sabbath deu o seu grande contributo para moldar o Heavy Metal como conhecemos hoje em dia. O resto é história... Matheus Moura

Black Sabbath “Black Sabbath” (1970)

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age agenda enda

not notícias tíc cias UNDEROATH

Van destruída www.lineupbrasil.com.br

Brasil: Fevereiro: 04 - Iced Earth - Lapa Mult Show, Belo Horizonte/MG 04 - Master - Picos/PI 05 - Master - Bueiro do Rock, Teresina/PI 06 - Iced Earth - Via Funchal, São Paulo/SP 06 - Master - Freitas Park, Imperatriz/MA 07 - Iced Earth - Curitiba Master Hall, Curitiba/PR 07 - Master - Lux Club, Belém/PA 12 - Master - Tendencies Rock Bar, Palmas/TO 13 - Master - DCE UFG, Goiânia/GO 14 - Master - Circulo Operario Cruzeiro Velho, Brasília/DF 15 - Master - Belo Horizonte/MG 16 - Master - Catanduva/SP 17 - Master - Ribeirão Preto/SP 18 - Master - Jaboticabal/SP 19 - Master - Hammer Rock Bar, Campinas/SP 20 - Master - Clube Guaraci. São Paulo/SP 21 - Cannibal Corpse - Santana Hall, São Paulo/SP 21 - Master - Clube Cambará, Otacílio Costa/SC Março: 06 - Sirenia - Carioca Club, São Paulo/SP 13 - Municipal Waste - Clash Club, São Paulo/SP 14 - Municipal Waste - Teatro Odisséia, Rio de Janeiro/RJ 16 - Dream Theater - Pepsi On Stage, Porto Alegre/RS 18 - Benediction - São Paulo/SP 18 - Nile - Santana Hall, São Paulo/SP 18 - Dream Theater - Curitiba Master Hall, Curitiba/PR 19 - Dream Theater - Credicard Hall, São Paulo/SP 19 - Benediction - Salvador/BA 20 - Dream Theater - Citibank Hall, Rio de Janeiro/RJ 20 - Benediction - Belo Horizonte/MG 20 - P.O.D. - Faculdade Sul-Americana, Goiás/GO 21 - Benediction - Campinas/SP 21 - P.O.D. - Universidade de Brasília, Brasília/DF 24 - P.O.D. - Music Hall, Belo Horizonte/MG 25 - P.O.D. - Via Funchal, São Paulo/SP 26 - P.O.D. - Clube Mauá, Rio de Janeiro/RJ 27 - P.O.D. - Clube Português, Recife/PE 28 - P.O.D. - Ilha Acústico, Vitória/ES

Portugal: Fevereiro: 05 - Fu Manchu - Santiago Alquimista, Lisboa 06 - Evile/Warbringer - Cine Teatro, Corroios 06 - Sinister - A.C.D. Torneiros, Vila Real 19 - Novembers Doom - Side B, Benavente Março: 06 - Tankard - Side B, Benavente 20 - Theater of Tragedy - Cine-Teatro, Corroios 28 - Epica - Incrível Almadense, Almada 28 - negura Bunget - Side B, Benavente

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No dia 8 de Dezembro de 2009, a van que carregava o material do Underoath sofreu um acidente nos Estados Unidos e foi destruída. A banda estava em um ônibus no momento. O motorista da van sofreu ferimentos e foi hospitalizado. Como resultado do acidente a banda cancelou o show que iria fazer em Omaha e declarou que “foi um verdadeiro milagre o motorista ter sobrevivido ao se ver o estado em que ficou a van”. Nos próximos meses a banda pretende se concentrar na composição de um novo álbum e deve entrar em estúdio em breve.

MUNICIPAL WASTE

Presença em massa O Municipal Waste divulgou oficialmente datas de sua turnê latino-americana (veja a agenda a seguir). De acordo com o baixista Ryan Waste, “Eu sempre pensei que a América do Sul era a casa dos mais apaixonados fãs de heavy metal no mundo. Ao assistir vídeos e ler sobre os shows lá, eu só posso imaginar quão impressionantes serão nossas apresentações”. O último álbum dos caras, “Massive Agressive”, saiu em 25 de Agosto, pela Earache Records. 05/Mar – Guadalajara, México @ Calle 2 06/Mar – Cidade do México, México @ Circo Volador 07/Mar – Bogotá, Colômbia @ Teatro Metro 10/Mar – Lima, Peru @ Barranco Bar 11/Mar – Santiago, Chile @ Teatro Novedades 12/Mar – Buenos Aires, Argentina @ Teatro Roxy 13/Mar – São Paulo, Brasil @ Via Marques 14/Mar – Rio de Janeiro, Brasil @ Teatro Odisséia

DEMON HUNTER

Coroa de espinhos A banda cristã de Seattle, Demon Hunter, está prestes a lançar seu novo registro. O CD se chamará “The World Is A Thorn” e deve chegar as lojas em 9 de Março. Este será o quinto full-length do grupo e foi produzido por Aaron Sprinkle (The Almost, Anberlin) e mixado por Jason Suecof (All That Remains, Trivium). Este álbum introduz a nova dupla de guitarristas: Patrick Judge (que chegou à banda em 2008 como guitarrista somente de tours e agora é um membro full-time) e Ryan Helm (The Ascendicate). “The World Is A Thorn” será lançado via Solid State Records e seu primeiro single será a faixa “Collapsing”.

P.O.D.

Sete capitais Foram divulgadas no Myspace do P.O.D. as datas dos shows em Março no Brasil. A turnê passa por Goiânia, Brasília, Belo Horizonte, São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Vitória. Veja a seguir a agenda completa:

20/Mar – Faculdade Sul-Americana – Goiânia, Goiás 21/Mar – UNB – Brasília, Distrito Federal 24/Mar – Music Hall – Belo Horizonte, Minas Gerais 25/Mar – Via Funchal – São Paulo, São Paulo 26/Mar – Clube Mauá – Rio de Janeiro, Rio de Janeiro 27/Mar – Clube Português – Recife, Pernambuco 28/Mar – Ilha Acústica (T.B.A.) – Vitória, Espírito Santo

SERJ TANKIAN

O regente eleito Quase um ano após seu show no majestoso Auckland Town Hall, na Nova Zelândia, ao lado da Orquestra Filarmônica de Auckland, quando fez uma apresentação orquestral de seu primeiro álbum solo, “Elect The Dead”, chega às lojas o CD e DVD que registra todo o brilhantismo dessa performance de Serj Tankian. “Elect The Dead Symphony” será lançado pela Serjical Strike/Reprise Records, em 9 de Março e trará o concerto completo em HD, além de entrevistas com Serj e com membros da orquestra.

NOFX

Gosto pelo Brasil Confira abaixo as datas dos shows do NOFX no Brasil. A banda passa entre os dias 3 e 7 de Março por quatro cidades brasileiras. O NOFX recentemente realizou uma tour por terras brasileiras, de 29 de Setembro a 2 de Outubro de 2009. 3/Mar 4/Mar 6/Mar 7/Mar

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Porto Alegre/RS – Teatro Bourbon São Paulo/SP – Santana Hall Fortaleza/CE – Awake Festival Curitiba/PR – Master Hall

THE ACACIA STRAIN DVD desconhecido

O DVD ao vivo “The Most Known Unknown”, do The Acacia Strain, será finalmente lançado no dia 16 de Fevereiro pela Prosthetic Records. O primeiro disco documenta um show completo da banda no Worcester Palladium, filmado em Dezembro de 2008, enquanto o disco 2 contém cenas de um show no Waterfront, em Massachusetts (terra natal da banda), além de clipes e documentários. A arte do registro foi feita por Paul Romano, que também foi o responsável pela capa do último álbum da banda, “Continent”.

ARSIS

Fome dos tiranos “Starve From The Devil” é o nome do novo álbum do Arsis, que tem data de lançamento marcada para 9 de Fevereiro, pela Nuclear Blast. A faixa “Forced To Rock” foi a escolhida para receber o primeiro vídeo em suporte ao registro, que foi gravado no Planet Z Studios, em Massachusetts, ao lado do produtor Chris “Zeuss” Harris (Hatebreed, Agnostic Front, Municipal Waste). O Arsis também é parte da “Tyrants Of Evil Tour”, ao lado de Arch Enemy, Exodus e Munity Within.


hornsup #2

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Sangue Novo por Igor Lemos

Walking With Strangers Criada em 2008 na cidade de Trollhättan, Suécia, o Walking With Strangers dispensa começar de baixo. Vemos isso claramente ao nos depararmos com o EP debut dos caras, que apresenta uma qualidade de gravação incrível, além de já terem emendado com um clipe para uma das músicas deste material. E isso tudo não é de graça. Rapidamente a gravadora Snapping Fingers Snapping Necks se mostrou interessada no Metalcore que fazem. Com breakdowns

Another Rise Representando o cenário nacional, o grupo de Uberlândia, Minas Gerais, Another Rise, nos presenteia com um som não linear bem interessante. Enquanto você ouvir o EP do grupo, pode pensar que se trata de mais uma banda de Metal, contudo, as passagens sombrias ou eletrônicas dão uma diferenciada tão boa, que os colocam em um novo patamar. “Influenza A” e “This is a Serious Song” são exemplos do que falo. Já em “Error 404, Server Not Found”, os vocais graves chamarão a atenção, ao mesmo

www.myspace.com/anotherrise

Não é todo dia que encontramos uma banda de Metalcore da Sérvia, certo? Com diversas influências do Metal europeu, o grupo Nothing Left, formado em 2004, não teve muita facilidade em montar o primeiro EP, que saiu apenas no ano passado. Com breakdowns que passam desde os feitos pela alemã Caliban aos que os norte-americanos vivem criando, não há

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www.myspace.com/walkingwithmusic

tempo em que as guitarras realizam quebras de tempo bastante lentas. Ainda conseguem criar novas atmosferas em “There’s No Space for a Coke” e finalizam com batidas eletrônicas e gritos em “Vulnera Non Dantur Ad Mensuram”. Logicamente ainda há algo a ser melhorado, como a qualidade de gravação, que em alguns momentos fica devendo, mas não é algo que afaste, ao contrário, mostra que souberam montar um excelente material com todas as limitações que uma banda “iniciante” possui.

Nothing Left

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prontos para levar qualquer um ao moshpit, vocais variando do grave ao agudo rapidamente e um som frenético embalado por dissonâncias, Walking With Strangers tem potencial para mostrar toda a sua cara em um próximo trabalho, visto que o EP está de muito bom grado. Indicado aos fãs de August Burns Red, As I Lay Dying e afins. Contudo, não pense que são uma cópia de outros grupos - apenas estão buscando sua identidade.

um banho de criatividade aqui, porém, considero um material esperançoso ao que possam realizar em um futuro próximo. Talvez estrada e dividir palco com nomes de maior expressão, possa propiciar um novo salto ao conjunto, que já possui uma forte presença em shows, e composições consistentes. Agora é o momento de direcionar ao que todos almejam: ser único. www.myspace.com/nothingleftonline


Lançamentos

Onward To Olympas Algumas bandas já começam a carreira com o pé direito, em quase todos os pontos. Fato é que Onward to Olympas já tem um grande berço protetor, pois vieram da terra das bandas He Is Legend e Between The Buried and Me: Carolina do Norte. Com menos de dois anos de vida, já conseguiram montar um álbum e ter um contrato com o selo Facedown. O Metalcore violento que o grupo realiza, unido à temática cristã, torna-se uma das grandes esperanças no gênero, seja através das melodias vocais (que são fabulosas) ou dos gritos enfurecidos de Kramer Lowe. É muito legal apreciar breakdowns, como na música “Unstoppable”, unido à mensagem

Fevereiro/março

de que “este mundo não é nossa casa, mas sim um lugar extraterreno”, visão esta que colocam no full-lenght. Com certeza fará a festa da comunidade que aprecia um som bem “core” e os simpatizantes com a temática cristã. www.myspace.com/onwardtoolympas Fear Factory “Mechanize”

Ashes of Serenity Fico bastante impressionado como o grupo americano Ashes of Serenity ainda não possui um contrato. Com cinco anos de existência, já dividiram palco com Carnifex, God Forbid, Trivium e muitos outros nomes do Metal. Em sua história musical, já lançaram quatro EPs, que vende como água quando é lançado (logicamente em tiragens de 3 a 4 mil cópias), mas não chama a atenção de nenhum selo (ao menos é o que parece). Gravadora é algo que a banda vem tentando frequentemente e, como dizem, podem morrer tentando, mas jamais desistirão de levar o seu som às massas. Músicas como “Beneath the Crushing Tide” e “We’ll Holler At Ya” são duas ótimas porradas, que merecem estar com uma gravação de primeiro

High On Fire “Snakes For The Divine”

nível, ao invés da não tão cristalina sonoridade atual. É um grupo que merece estar na sua lista e ter toda a torcida possível para que possam estar figurando, em breve, em turnês importantes. www.myspace.com/ashesofserenity

Sumatra A banda russa Sumatra, apesar de ser independente, faz um trabalho que deixa diversas bandas veteranas de queixo caído. O debut do grupo, lançado em Novembro de 2009, é uma verdadeira aula de como juntar o Death Metal e o Metal Progressivo. Misturando tudo que os dois gêneros tem de melhor, sabem mesclar velocidade, melodias instrumentais e vocais, além de breakdowns em uma forma muito satisfatória. E o melhor de tudo é que você não ficará associando o som deles com outros grupos. Não aponto que são a salvação da pátria, mas estão longe de serem clichês. Infelizmente, ainda não há uma gravadora que os possa dar um empurrão maior. Realizar shows em um país que até tenta dar

Arsis “Starve For The Devil”

Finntroll - “Nifelvind” Eluveitie - “Everything Remains As It Never Was” Destinity - “XI Reasons To See” Dark Tranquillity - “We Are The Void” os seus golpes no Metalcore/Deathcore é, ainda, muito difícil. E nisso eles tem azar. Se estivessem em território americano - e serem contratados por algum selo de lá - as coisas seriam bem distintas. O jeito é esperar para que o reconhecimento - merecido - surja. www.myspace.com/sumatrametal

Demon Hunter - “The World Is A Thorn” The Dillinger Escape Plan - “Option Paralysis” Meshuggah - “Alive” (DVD) The Acacia Strain - “The Most Known Unknown” (DVD) Carnifex - “Hell Chose Me” Dark Tranquillity - “We Are The Void” Immolation - “Majesty and Decay”

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My Fair Lady O que cada um faz, qual som praticam e, por fim, de que forma a banda surgiu? O grupo foi formado por mim, Samuel, pelo meu irmão, Artur, e nosso ex-baixista, Lucas. Isso tudo foi interessante porque eu sempre tive vontade de montar algum projeto com meu irmão, mas nunca tive oportunidade, e então no My Fair Lady conseguimos encaixar as nossas ideias e nossos gostos musicais. O grupo sofre influências diversas por conta da formação musical de seus integrantes, o que resulta em um Metal carregado de influências do Progressivo, do Death Metal, e de outros estilos musicais, como a própria música brasileira. Atualmente o My Fair Lady é formado por Felipe Facó e Artur Alcântara nas guitarras, Victor Sampaio no baixo, Rodrigo Gomes na batera e vocais, Victor Catrib nos teclados e synths, e eu nos vocais.

Artwork A fotógrafa Mel Nader fala tanto quanto trabalha. Se colocássemos toda a conversa aqui, teríamos 3 páginas de entrevista. Portanto, selecionamos o melhor que conseguimos extrair. O restante terá que perguntar você mesmo! Como iniciou sua carreira como fotógrafa? Eu trabalhava em rádio por alguns anos, com música, mas sentia falta de “mobilidade” no trabalho. Tinha vontade de dar um tempo, comprar uma câmera e viajar fotografando. E foi assim mesmo, pedi as contas na rádio, e com uma câmera simples criei o projeto “Beira de Estrada”, e fotografava cotidiano, pessoas, natureza, participei de um projeto no colegiado de Biologia na Universidade Federal do Espírito Santo, onde eu pude tirar fotos para uso didático, foi um período de alguns meses bem interessante, no ano de 2004 e 2005. Mas paralelamente continuava trabalhando com produção musical, me mudei pra São Paulo, então em 2006 um produtor amigo chamou para fazer fotografar um show de uma banda que estava começando a despontar, e provei minha primeira sessão de fotos de show, usando câmera de filme ainda. A dificuldade foi maior, a vontade de aprender a fazer melhor foi maior, e estar nos

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Esse é o segundo EP do My Fair Lady. Quais os objetivos com ele, quais as diferenças em relação ao anterior e o que os ouvintes podem esperar? A ideia deste nosso segundo EP começou a ser concebida antes do término das gravações do “My Fair Lady” [EP], pois são músicas que mostram certa evolução e maturidade musical da banda. Em relação ao nosso primeiro EP, ele apresenta algumas diferenças, a começar pela afinação das músicas, que mudou de Dó (Drop C) para Ré (D). Outro aspecto importante é a qualidade da gravação, que estamos trabalhando em melhoras significativas. Para aqueles que já nos curtem, e para aqueles que vão conhecer a banda, a promessa é... Aguardem, vocês não vão se arrepender.

Quem está produzindo o EP e de que forma este profissional está auxiliando no processo de composição? O material está sendo gravado no Estúdio Gramophone com exceção da bateria, que foi previamente gravada no MV Studios. O EP está sendo produzido pelo My Fair Lady, com co-produção de Dário Hollanda, proprietário do Estúdio Gramophone. Em relação ao processo de composição, procuramos chegar no estúdio com as músicas concluídas e bem estudadas, para facilitar a gravação, e no caso, o Dário nos dá alguns toques em uma coisa ou outra. Igor Lemos www.myspace.com/myfairladymetal

bastidores da música me fez sentir em casa. Nunca mais saí dali. Tem algum show em especial que sonha em fotografar? Paul MacCartney está vindo fazer show no Brasil, e um amigo já havia dito que garantia uma credencial, para fotografar do palco... eu já me imaginei no palco, me realizando. Fotografar um Beatle seria um sonho. É uma pena que será em Maio, não estarei no Brasil, mas estarei na terra dele, ao menos! Mas tenho outro extremo, bandas de Hardcore, Punk Rock, Metal... eu tenho muita vontade de fotografar o Parkway Drive, no meio daquele turbilhão de gente se amontoando (risos), eu acharia lindo. É na verdade o trabalho que estou mais acostumada a fazer, sem crise, mas com cautela, claro. Qual a característica que considera mais importante para fazer boas fotografias de um show? É ter muita disposição, criatividade, e de preferência, conhecer o som da banda. Você saber como será o som, o peso, ter idéia do público... sim, do público em que você vai se enfiar no meio pra fotografar. Porque disposição é pra ter pra não ficar só ali no cercadinho reservado para fotógrafos, e sim para andar pela casa toda, e fazer fotos de todos os ângulos possíveis. Conhecer a casa também é importante, saber como é a iluminação de lá, e estar preparado. Muitas vezes, você vai pra uma casa que não conhece, numa outra cidade, com pouca iluminação, público mais agressivo no “Hardcore dance”, não tem área para fotógrafos, é tudo ali em cima do

Fotos Will Marques

Fotos: Ethi Arcanjo

Direto do estúdio Gramophone, no Ceará, o vocalista Samuel Alcântara nos passa informações sobre o processo de composição do segundo EP do My Fair Lady, que já tem nome e começa a ganhar corpo para, em breve, nos presentear com mais um grande trabalho de Metal Progressivo aliado ao Death Metal.

Como o EP está dividido? Há uma temática em relação ao mesmo? Já existe um nome? Que detalhes podem ser adiantados? O novo trabalho do My Fair Lady está dividido em cinco faixas, sendo quatro inéditas e a regravação de “The Brightside of Darkness”, do nosso EP anterior. O segundo EP é a continuação do anterior. Em nossas músicas procuramos trabalhar temas como o dualismo humano, os conflitos da mente humana diante dos outros e de si mesmo, digo que é como se deparar em queda livre, constantemente. O que pode ser adiantado é que se chamará “Collapse of a Lifetime” e que toda a arte gráfica já está pronta, assim como o myspace da banda que já está no ar. Recentemente houve a gravação do nosso primeiro vídeo clipe, da música “The Brightside of Darkness”, e ele estará incluso no EP, como faixa multimídia.

palco, e não tem espaço para ficar em cima do palco, e sua lente fica suada o tempo inteiro por causa do calor extremo. Então, seu trabalho é total disposição e criatividade! Recomendo pra quem é contratado pra cobrir um show de alguma banda em uma casa que não conhece, buscar vídeos na internet, ver como rolam os shows, como é a banda, para não ser surpreendido. Mas uma coisa é certa, para ter boas fotografias de um show, antes de tudo isso, você precisa ter uma boa “técnica”, conhecer bem seu equipamento e seus limites, o que seria óbvio de dizer. Matheus Moura

www.myspace.com/melnaderphoto


MEU TOP 5 “Metropolis Pt. 2: Scenes From A Memory” Dream Theater Sou fã dos caras desde que era pivete, portanto a mais que merecida primeira posição. Esse CD não só é um bom exemplo do que é musicalicalidade, mas também de como produzir um clássico. Por todos os problemas que a banda passou no momento e as escolhas difíceis, o “Scenes from a Memory” é mais que um CD, é uma lição de como fazer música.

“II” Maylene And The Sons Of Disaster O bom e velho rock’n roll com uma pitada do sul norte-americano. Na época desse CD, eles estavam em sua melhor formação, e tinham experiência o suficiente para trabalhar no que eu considero uma obra prima do Southern Rock.

“The Awakening EP” Underneath The Gun O melhor exemplo de como uma banda pode ser cristã e brutal ao mesmo tempo. Vale ressaltar que aqui não está contando só o gosto pessoal, como também a questão da influência musical. Se tem uma banda que é um bom exemplo de como fazer breakdowns, essa banda é a Underneath The Gun, na época desse EP claro.

“I Am Hollywood” He Is Legend Acho que esses caras nunca levaram muito em conta a opinião dos outros, sempre fizeram o que queriam fazer, independente das pessoas gostarem ou não. Com o “I am Hollywood” eles acertaram em cheio um público emergente. Mas não foi só o CD

Wagner Creorusk a Junior Unlife

certo lançado na hora certa, eles registraram as melhores musicas da carreira ali, uma faixa melhor que a outra, e um conjunto da obra que ficou excelente. Devo ter ouvido milhares de vezes esse CD e ouço direto até hoje.

“The Greatest Of All Lost Arts” Lower Definition Menção honrosa a uma banda que soube misturar diferentes elementos musicais para criar uma identidade única. Um CD criativo, dinâmico e muito bem produzido. Uma pena que a banda tenha acabado logo depois de tê-lo lançado.

http://attack.hornsup.net hornsup #10

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Best of 2009 ESCOLHAS DA REDAÇÃO Este é a primeira vez que a HORNSUP resolve fazer uma votação dos melhores do ano. Com relação à opinião dos leitores, as coisas correram bem. Obrigado a todos que votaram! Entretanto, devido a alguns problemas e desencontros de final de ano, a redação não chegou a um acordo com relação aos melhores de 2009. Prometemos que no próximo ano conseguiremos expressar uma opinião global da redação. Mas, mesmo assim, oferecemos as escolhas pessoais de alguns membros da nossa redação, como pode ser visto abaixo:

ANDRÉ HENRIQUE FRANCO

GUILHERME P. SANTOS

LUIGI “LULA” PAOLO

MELHOR ÁLBUM

MELHOR ÁLBUM

MELHOR ÁLBUM

Mastodon - “Crack The Sky”

Mastodon - “Crack The Sky”

Mastodon - “Crack The Sky”

The Black Dahlia Murder - “Deflorate” Between The Buried And Me - “The Great Misdirect”

Baroness - “Blue Record” Between the Buried and Me - “The Great Misdirect”

Katatonia - “Night is the New Day” Megadeth - “Endgame”

ANDRÉ PIRES

IGOR LEMOS

MATHEUS MOURA

MELHOR ÁLBUM

MELHOR ÁLBUM

MELHOR ÁLBUM

Skeletonwitch - “Breathing The Fire”

Between The Buried and Me – “The Great Misdirect”

Revocation - “Existence Is Futile” Evergreen Terrace - “Almost Home”

FLÁVIO SANTIAGO

ÍTALO LEMOS

PT

MELHOR ÁLBUM

MELHOR ÁLBUM

MELHOR ÁLBUM

Slayer - “World Painted Blood”

Between The Buried and Me – “The Great Misdirect”

Hatebreed - “For The Lions”

The Black Dahlia Murder - “Deflorate” Vader - “Necropolis”

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Dredg - “The Pariah, The Parrot, The Delusion” Within The Ruins - “Creature”

Thrice - “Beggars” Converge - “Axe to Fall” American Me - “Siberian Nightmare Machine”

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Umphrey’s Mcgee - “Mantis” As Cities Burn - “Hell or High Water”

Slayer - “World Painted Blood” Freddy Madball & DJ Stress - “Catholic Guilt”


Best of 2009 ESCOLHAS DOS LEITORES INTERNACIONAL MELHOR ÁLBUM

MELHOR BANDA

MELHOR SHOW

Mastodon - “Crack The Sky”

Killswitch Engage

Faith No More

Slayer - “World Painted Blood” August Burns Red - “Constelations”

Alice in Chains Metallica

Killswitch Engage Fear Factory

MELHOR ÁLBUM

MELHOR BANDA

MELHOR SHOW

Shadowside - “Dare to Dream”

Ponto Nulo no Céu

Sepultura

Ponto Nulo no Céu - “Cliclo interminável” (EP) Sepultura - “A-Lex”

Mindflow Shadowside

Shadowside Envydust

MELHOR ÁLBUM

MELHOR BANDA

MELHOR SHOW

Switchtense - “Confrontation of Souls”

Moonspell

Ramp

Men Eater - “Vendaval” Ramp - “Visions”

Switchtense Men Eater

Switchtense W.A.K.O.

BRASIL

PORTUGAL

GERAL MELHOR VOCALISTA

MELHOR BAIXISTA

Howard Jones (Killswitch Engage)

Robert Trujillo (Metallica)

MELHOR GUITARRISTA

MELHOR ARTWORK

Dave Mustaine (Megadeth)

Baroness - “Blue Record”

MELHOR BATERISTA

DECEPÇÃO DO ANO

Jimmy “The Rev” Sullivan (Avenged Sevenfold)

Hangar

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Foto: Maurício Santana

entrevista

Carnaval, futebol e Metal

Já em 2010, depois de uma extensa e intensa turnê pela Europa, o vocalista Marcus D´Angelo e o baixista Daniel Bonfogo do Claustrofobia, conversaram com a HORNSUP num bate-papo que além das curiosidades da turnê, o novo disco (o recém-lançado “I See Red”) e parcerias, também sobre Sepultura, futebol e planos para o futuro.

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A

pesar de já terem um bom tempo de carreira, para quem não conhece a banda, façam uma breve apresentação: como surgiu, quanto tempo têm de estrada, como começaram e decidiram tocar e por que escolheu o Metal como estilo. Marcus D’Angelo: Bom, tudo começou em 1991 quando conheci o Daniel (Bass) na terceira série da escola e um ano mais tarde através do irmão de um amigo conhecemos Iron Maiden e aquelas capas mais insanas e maravilhosas do Metal. Aquilo nos fascinou e simplesmente a vida já fez sentido logo cedo pra nós. O Caio (Batera) é meu irmão e sempre esteve por perto e começou a gostar também fazendo as coisas do jeito dele. Daí começar a tocar foi apenas um passo. Tinha um violão na minha casa e peguei gosto mesmo pela coisa, fizemos o Daniel comprar um baixo tosco e assim começou a brincadeira. Em 1994 eu e outro baixista montamos o Claustrofobia, já que o Daniel começou a tocar com outros malucos. Nosso primeiro show foi em Pirassununga/SP no começo de 1994 num bar no meio do mato onde parecia deserto e então mais tarde estava totalmente lotado de loucos e eu tinha apenas 13 anos, me recordo que cortei minha mão numa Fender emprestada da outra banda e fiz o show com a guitarra cheia de sangue! Mesmo o Daniel tocando em outra banda, estávamos sempre juntos, mas no mesmo ano Daniel retornou pra banda. Tínhamos outro batera e mais um guitarrista. Quando o batera saiu, o Caio era mais novo mas sempre foi apetitoso e aprendeu a tocar na raça e tá aí hoje sendo parte importantíssima e crucial na parte criativa da banda. Fizemos shows importantíssimos nesses dois primeiros anos de banda, como abertura para o Viper (1995) num evento na Praia Grande/ SP ganhamos alguns festivais como FECA de Americana (1994) que era muito conceituado na época onde estavam presentes jornalistas da cena do Metal e que foi importante para o nome da banda. Teve também a abertura para o Inocentes no Aeroanta (1994). Em 1995, mudamos para São Paulo com a família e foi o que precisava para banda ter uma carreira sólida, pois aqui as coisas acontecem, basta você estar disposto a se dedicar totalmente. Foi então que finalmente o Alexandre (guitarra) em 1996 entrou na banda, o que foi crucial para começarmos a definir nosso estilo, pois eu sou focado mas em riffs e na composição principal, em como a música vai significar, como vai ser a cara da música pois além de ser vocalista eu adoro ser guitarrista especialista em bases, segurar a onda legal com punch e malandragem, eu dedico minha vida no instrumento pra isso e junto com o Caio fazemos algo único que a gente se entende, e pelo fato de sermos irmãos, temos que ter o momento eu e ele tocando juntos sozinhos também, já o Alexandre (guitarrista) foca em várias outras coisas, estuda muito, tem o prazer de estudar música, e sabe um pouco de tudo e é especialista em solos de guitarras, então foi a junção perfeita que faltava nas cordas, o Daniel sempre foi o headbanger mais clássico e escreve muito bem as letras além de tocar com pegada e ouvir muita musica. E assim o Claustro é isso que vocês ouvem hoje em dia, nada demais, nem de menos, apenas o amor pelo som porrada e assim estamos felizes com os resultados alcançados, pois a banda esta sempre andando pra frente não importa o quanto é o tamanho da dificuldade. Estamos com o mesmo line up desde 1996 e temos conquistado fãs um a um desde a primeira vez que subimos num palco!

“I See Red” é o 4º album de estúdio e lançado quase 5 anos após o álbum anterior. Por que levou este tempo todo para lançar músicas novas? Marcus: Não gostamos de lançar um álbum apenas por lançar. Queremos dar nosso melhor em cada disco. Muitas coisas aconteceram nesses anos com o “Fulminant”, esse disco nos deu muitas oportunidades. Fomos fazendo o “I See Red” sem pressão, redefinindo o estilo, sentindo o que era bom ou não. Na hora certa ele veio à tona com força total e saiu muito mais naturalmente que poderíamos imaginar. Alguns podem falar que demoramos muito, mas o que importa é que cada um é cada um, pra cada banda acontece de um jeito e com o Claustrofobia é assim e isso não quer dizer que demoraremos mais 5 anos pra lançar o próximo pois “I See Red” nos deu uma ampla visão e muitas possibilidades artísticas que estão bombando na nossa cabeça. Atualmente temos produzido muito mais que o normal e agora as coisas vão fluir muito mais rápido com certeza. Qual a mensagem da música título? Marcus: Bom, a letra é minha então tenho que me explicar pois cada um responde pelo que escreve (risos)! Devido a tantas coisas que aconteceram entre o lançamento do “Fulminant” até agora não tinha nada mais óbvio do que colocar o nome do disco de “I See Red”

“...a gente simplesmente ama o que faz, a música nos move, nos dá energia pra viver...” além de fazer a música título. Isso esteve na minha cabeça por anos. Somos praticamente uma banda independente, conquistamos tudo sempre sozinhos. Com a necessidade de sobrevivência da própria banda começamos a sentir forte na pele muita hipocrisia, muita falta de apoio real a quem realmente merece, política e concorrência desonesta no Metal nacional. Nunca fizemos parte disso, a gente simplesmente ama o que faz, a música nos move, nos dá energia pra viver, entregamos a vida, desde quando éramos crianças, pro Rock e hoje temos que fazer a banda existir. É muito fácil bater no peito quando você é mais novo e dizer: “aqui é underground, aqui é isso ou aquilo” mas quando chega a hora do “vamo vê”, vacilão morre pela boca e não te dá a mão que nem homem. Então foi uma sucessão de coisas que aconteceram que nos deixavam revoltados e isso foi transformado em música, em letras, o que fez de tudo isso algo saudável. Sabe, verme é o que não falta, traidor também, e isso foi nos dando força pra agir e fazer acontecer do jeito que tem que ser, com atitude, respeito, dignidade e sangue nos olhos, entende? Ninguém pode tirar o que conquistamos, pois é nosso e de mais ninguém. Então seria mais ou menos essa mensagem que o play passa, não só a música título, mas ele por inteiro. Além de o som ser a trilha sonora desejada pra dar a intenção de tudo isso. O disco tem sido bastante elogiado pela ótima produção. Como rolou a idéia e concepção de capa?

Marcus: Gravamos dois discos seguidos no Da Tribo Studio com o produtor Ciero que além de produtor é nosso parceiro e aliado. Resolvemos dar uma mudada, respirar outros ares pra renovar. Quem produziu o disco foi o Cristiano “Alemão” Schneider que é nosso técnico de som ao vivo há anos e tira um grande som. Ele é sócio do MR Som Studio e resolvemos fazer a experiência. A vibe foi perfeita, gravamos tudo em 13 dias totalmente focado no som e tenho certeza que esse é o motivo do disco soar intenso. Todo dia de manhazinha estávamos lá com a cabeça limpa, o que nos dava muita inspiração. Sabíamos o que queríamos e a fúria de gravar tava explodindo. Estamos 100% satisfeitos com a produção do álbum pois expressou fielmente o que a música precisava. Representou! A capa ficou a cargo mais uma vez do Carlos Henrique Engenheer que trabalha com a parte gráfica do Claustrofobia há muito tempo. Deixamos dessa vez a idéia pra ele apenas checando o andamento. Acho a capa bem expressiva: o ser humano zuado, doença nuclear, sendo consumido pela desgraça geral do mundo, revoltado e triste chorando sangue por tudo isso. A versão européia mudou, a gravadora preferiu mudar, tiveram outra visão quando ouviram o play e confesso que no começo foi difícil de aceitar, mas abrimos a mente e pensamos no lado bom da coisa, além de respeitar a visão deles, que quando ouvem nossa musica é diferente da nossa. Eles gostam do disco e isso é o que importa. Nós temos uma visão mais Punk das coisas pelo fato de vivermos no Terceiro Mundo e eles tem uma visão mais apocalíptica e abstrata quando ouvem nosso som. Legal! Apesar de vocês fazerem um Metal bem tradicional, fiel ao estilo, um arranjo mais elaborado, uma introdução ou mistura mesmo que sutil de sons entrega que vocês tem algo diferente e para nós é muito fácil identificar o jeito brasileiro. Os gringos conseguem fazer essa identificação fácil também? Marcus: Creio que sim! A gente gosta de tocar do jeito brasileiro. Isso não quer dizer que você vai flertar diretamente com uma música brasileira. É o jeito de tocar natural que temos que faz a diferença e somos orgulhosos de ter isso. Seguimos com orgulho a tradição do Metal, mas não deixamos que isso se torne chato pra nós mesmos, pois estamos em 2010. O Metal é mundial, é um estilo que tem uma legião no mundo todo e somos as pessoas mais felizes do mundo por fazer parte dessa legião e representar de alguma forma esse instinto de Metal. Mas o que acreditamos fazer a diferença, é cada banda de diferentes partes do mundo usarem o que tem de natural musicalmente dentro delas e aliar isso ao Metal Mundial. É isso que gostamos de valorizar. Por isso tocamos com nosso estilo brasileiro que temos dentro de nós e tentamos fazer algo significativo pro Metal e pra nós mesmos. Pra ser Metal você tem que ter o instinto do Metal. É foda, num é pra qualquer um! Som porrada de verdade, totalmente musical, é uma arte. “Nóia”, que é a única música instrumental deste novo trabalho, é bom exemplo desse brasileirismo, digo numa forma positiva de reforçar a identidade e origem da banda, concordam? Como surgiu a idéia de gravá-la neste formato? Marcus: Na verdade isso é uma coisa que o Alexandre pira em fazer, essas doideiras meio Jazzísticas com um tempero brasileiro! Ele conon-

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entrevista segue atormentar as pessoas com isso (risos). Acho muito louco e interessante pra dar um clima tenso e quebrar um pouco a porradaria. Na verdade esse lance que ele faz ele chama de “Guitar Phase” que são duas guitarras que começam juntas e depois elas vão se contradizendo até que uma hora naturalmente elas se encontram novamente. Coisa de louco! Coisas de Alexandre! Coisas de Claustrofobia (risos). O show de lançamento aconteceu no Brasil, no Hangar 110. Como foi a reação da galera? E como está sendo agora na turnê? Marcus: Olha, ficamos realmente muito felizes com o público que compareceu nesse show. Foram mais ou menos 450 pessoas onde só tinha verdadeiros fãs do Claustrofobia e apreciadores da nossa carreira e eu tenho que agradecer a eles de coração por essa fidelidade. São eles os mais importantes na nossa vida, nos dão coragem e inspiração pra fazer o melhor de nós pra no fim fazer a cabeça deles. O show foi sem palavras, violento, positivo, explosivo, sem stress ou brigas, apenas dedicação ao som porrada. Energia muito forte e positiva! A turnê foi muita boa também com altos e baixo, conquistando dia a dia, um a um. A reação das pessoas foi das melhores e esse ano tem mais. É isso ai Rock loko na estrada vivendo cada dia mais sujo e agressivo! (risos) Numa resenha curta no site da HORNSUP, o nosso editor disse que esse novo disco seria capaz de resolver dois maus hábitos que assolam a cena Metal no Brasil: “Sepulturofobia” - medo de qualquer disco do Sepultura depois do “Roots” e o saudosismo daquela época do auge da banda e da “Nacionalfobia” - medo de tudo que é nacional. Vocês sofrem com esse comparativo? Longe de desmerecer os méritos, principalmente para os estrangeiros, o Sepultura ainda é sinônimo de Metal brasileiro? Marcus: Sepultura pra nós é algo especial. Temos muito respeito pelo Max, Igor, Andreas e Paulo. Eles são o Sepultura pra nós e esses 4 guerreiros foram nossos heróis. Tudo que somos devemos muito a eles e ainda olhamos pra eles como ídolos. A formação clássica do Sepultura é totalmente inspiradora! Hoje cada um deles segue seu próprio caminho de forma diferente e respeito todos eles por isso. Não estamos do lado de ninguém, temos respeito por todos pelo que fizeram e é assim que funciona pra nós. Ser comparado com eles é elogio e posso garantir que não os copiamos, mas também confesso que temos o mesmo tipo de energia deles naquele tempo. Aprendemos com eles a seguir nosso próprio caminho. É isso! Fazer mais sucesso só lá fora do que dentro do próprio país não é mérito só de brasileiros, mas é muito comum em vários segmentos artísticos do nosso país. No caso de vocês, além do estilo que favorece mais possibilidades no exterior, porque acham que isso acontece? Daniel Bonfogo: Várias coisas influenciam, como por exemplo, o fato das letras serem a maioria em inglês e o estilo não fazer parte da nossa cultura musical. Apesar de o Brasil ter milhares de fãs de Metal, lá fora eles dão um pouco mais de valor e são mais profissionais na maioria das vezes. Todos sabem que no Brasil, viver de arte (seja música ou outra

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coisa qualquer) não é fácil. Mas não podemos reclamar, conquistamos muitos fãs aqui e ainda temos muito pra fazer. No exterior (Europa principalmente), tudo está caminhando passo a passo e a cada show que fazemos é 100% válido, como contatos, fãs e muita gente legal. O mundo atual deixa cada vez mais as pessoas apavoradas. Qualquer noticiário ou alguns acontecimentos atuais não nos deixam muito otimistas em relação ao futuro. Voltando ao novo disco, “Evil University” e “Natural Terrorism” retratam bem esse pessimismo mundial. Vocês que já tem uma experiência de tocar fora, conhecer outras culturas, como se sentem como brasileiros sobre esses acontecimentos e o que isso causa impacto e reflete no trabalho de vocês? Marcus: Como brasileiros sentimos que a coisa pode ficar mais feia ainda. Vivemos num país onde não existe esse tipo de catástrofes como terremotos, furacões etc. A desgraça nossa é a corrupção, a cultura de ganhar em cima do outro a qualquer custo, etc. Agora as chuvas estão matando muitas pessoas em nosso país e isso prova que tudo esta mudando, o fato da humanidade destruir tudo ao seu redor por ganância ou simplesmente por desleixo tem alterado demais a natureza e os anos vão passando e a natureza vai se revoltando, se vingando, voltando contra a humanidade, é

“Todos sabem que no Brasil, viver de arte não é fácil” uma lei natural, um fato! Sinceramente creio que num futuro próximo podem acontecer alguns desses fenômenos como terremoto, furacões aqui no Brasil pois a atmosfera e a natureza estão se tornando quase que totalmente desequilibrada e podem acontecer coisas que ninguém espera e não estaremos preparados pra isso e infelizmente penso que talvez só com uma desgraça tão grande que o Brasil possa a começar a se conscientizar das coisas. Essas coisas com certeza causam impacto no nosso trabalho e talvez seja uma das principais inspirações pras nossas letras, idéias, músicas e também na vida pessoal de cada um de nós. “Tiro de Meta”, que é a única em português no disco faz, como nome diz, uma alusão ao futebol. Vocês torcem pra algum time? Marcus: É uma metáfora! Adoramos futebol, mas não esse futebol que temos aqui, campeonatos mentirosos, propinas, isso ai é ridículo. Gostamos daquele futebol que você vê num pivete na rua apavorando com talento, isso é futebol, aquele que você joga pelo esporte, pelo espírito do Brasil. Adoramos bater uma bola também de vez em quando e fizemos uma metáfora no título da música. Sabe quando você quase toma um gol, passa um sufoco, você coloca a bola na área e bate um Tiro de Meta, saca? Tipo, “vamos levantar e mandar a bola pra frente que passamos o sufoco mas não podemos parar”, sacou? Vamos pra cima, pra frente! A idéia é essa. E

sim eu sou palmeirense, o Caio corinthiano, Daniel são-paulino e o Alexandre não torce pra ninguém (risos). Vocês já fizeram alguns covers como a música do Ultraje à Rigor, têm vontade de gravar mais músicas de outras bandas e fazer algo inusitado? Daniel: Na verdade tudo acontece naturalmente. Não vou falar que temos vontade ou não, mas se um dia surgir uma oportunidade e a vontade, com certeza faremos. É um modo de homenagear as bandas que nos influenciaram, e ao vivo sempre é um atrativo a mais para os fãs. Além de tocarmos, somos fãs também como qualquer um! Têm vontade de lançar um EP ou álbum inteiro em português? Daniel: Sim, há planos. Marcus: Com certeza faremos algo especial pro Brasil! Temos produzidos algumas coisas e na hora certa vai vir a tona. Acham que é possível ou gostariam de ver o som de vocês na grande mídia, tocar no rádio ou na TV? Esse tipo de exposição faz falta? Daniel: Sim, é possível. Já tocamos inúmeras vezes em programas de TV como no antigo “Musikaos” (TV Cultura em 2001, com o Sepultura), Programas da MTV como “Fúria MTV”, “UltraSom MTV”, “Gordo Freak Show”, “Código MTV”, programas de TV na internet como “Stay Heavy”, “Show Livre” e “PopLoad IG” (todos tocando ao vivo), além de entrevistas e participações. Com certeza isso é legal, pois a música acaba alcançando um público diferente e a banda fica mais conhecida. Não é sempre que acontece, é raro, por isso não podemos perder as chances. Não temos nada contra, se for uma coisa legal, o que nós queremos é cada vez mais alastrar a nossa música. Por que é tão difícil fazer um grande festival ou ter uma continuidade em eventos de Metal e fazer algo assim no Brasil? Daniel: Os grandes festivais de Metal não existem mais no Brasil. As pessoas que investiam nisso antigamente, hoje em dia vêem como algo falido e investem no que vai trazer lucro. Isso é uma coisa óbvia, é o “business”. Existem alguns festivais mais “underground” que ainda sobrevivem. Com essa onda de mega shows de bandas clássicas também deram uma ofuscada em tudo isso. As pessoas preferem pagar uma fortuna pra ver essas bandas e não pagam o mínimo para apoiar o Metal aqui do Brasil. Eu, como fã, sempre que posso vou assistir as bandas clássicas, isso é inevitável, quem não quer? Mas isso tem que vir da consciência de cada um. Quem aprecia de verdade a música pesada faz questão de colar nos shows sendo de bandas nacionais ou internacionais, independente de qualquer coisa. A parceria com a Candelight Records foi só para este lançamento e turnê ou terão mais outros projetos? Marcus: Existe a possibilidade de lançar mais um álbum com eles além de eles terem o direito de lançar o “Fulminant” na Europa se quiserem.


Vocês já tocaram com bandas como In Flames e Brujeria. Como foi a experiência? Qual a banda que mais gostaram de tocar no mesmo evento? Vale qualquer uma, estando ou não ativa, ou uma banda imaginária. Daniel: Vamos começar pelo In Flames. Na verdade é uma banda legal, mas não somos fãs. Tivemos essa oportunidade e como vimos que pegaríamos um público mais “atual” resolvemos encarar. Tivemos muitos problemas técnicos e quase acabou não rolando o show. Mas quando deu tudo certo, nós entramos dando o máximo e tentando mostrar que não estávamos ali para brincadeira. Muitas pessoas fizeram cara feia, mas posso dizer que saímos de lá com mais fãs conquistados, aprovação, e muitos que não curtiram, mas respeitaram, o que é importante. Com o Brujeria tocamos em Buenos Aires e aqui em São Paulo. Foram animais! E os caras são muito humildes e amigáveis. Já tivemos a chance de tocar com inúmeras bandas que somos fãs, como Sepultura, Krisiun, RDP, Vader, Soulfly, etc. Isso não tem preço. Na minha opinião se fosse possível, tocarmos juntos com Slayer, Iron Maiden e Pantera (RIP) seria mais que um sonho! De quem foi a sugestão de tocar em lugares como Romênia e Latvia? Qual foi o melhor até agora? Marcus: Seria coerente tocarmos nesses países devido à logística da turnê e o que vimos lá foi fãs apaixonado por Metal e curiosos com bandas brasileiras. Falar qual foi o melhor é muito difícil, mas foi inesquecível chegar na Lituânia numa terça-feira e ver muitos fãs de Claustrofobia esperando pelo show, comprando todo merchandise etc. O mesmo posso dizer de uma cidade da Romênia chamada Timissoara, lotado de fãs do Claustrofobia. Também numa outra terça-feira na Bulgária cheio de fãs, isso nos deixa confiantes e felizes. Todos foram especiais, mas esses três foram absurdos. Numa entrevista recente o Marcus (vocalista) disse que a tecnologia tira um pouco daquela expectativa de esperar o disco chegar na loja, ficou mais cômodo ter o CD no Myspace. Como vocês lidam com tecnologia? Além de divulgação, como isso ajuda no trabalho de vocês? Daniel: Antigamente, os fãs de Metal esperavam sair o disco (vinil) e ninguém sabia o que estaria por vir. Criava-se aquela expectativa que podia ser o melhor disco ou algo decepciona-

nte. A curiosidade, imaginar como seria a capa do novo disco das suas bandas preferidas era o máximo. Eu ainda tive a sorte e a chance de pegar o fim dessa época. Emprestava discos e ia gravando minhas fitas K7 (tenho algumas até hoje!). Atualmente, antes mesmo de o disco sair, já existem músicas na internet e acaba perdendo a graça. Além disso tudo, a pessoa baixando as músicas, ela perde totalmente o interesse de comprar o CD, ver como é a capa, as letras, o encarte. Todo esse fascínio diminuiu muito depois da internet. Claro, ela tem o lado bom, que é a divulgação, isso é essencial hoje em dia e claro que também estamos nessa. Essa comodidade tirou um pouco desse “brilho” e isso aumenta a cada dia. Ainda existem muitas pessoas que dão valor a tudo isso, e posso falar por experiência própria, pois trabalhei anos em lojas de CD´s. Quando retornaram ao Brasil? Já tem shows marcados? A revista também circula em Portugal. Já tocaram lá? Daniel: Retornamos em Dezembro. Nunca tocamos em Portugal, esperamos algum dia ter essa oportunidade! Não posso confirmar nada, mas com certeza tentaremos algo para a próxima turnê na Europa. Qual vocês consideram o grande momento do Claustrofobia até hoje? Marcus: Todo momento é importante pro amadurecimento da banda. Todos mesmo, sem exceção. Mas claro que existem alguns que são cruciais, sei lá, são tantos. O primeiro álbum, turnê pelo Nordeste de 40 dias, Rato Loko em 2004, Sepulfest que deu um grande upgrade numa época que precisávamos disso, primeira turnê européia onde muita coisa aconteceu, a fome e frio que passamos juntos na Europa; na primeira vez serviram pra fazer a banda amadurecer muito e agora ainda o “I See Red” sendo lançado em toda Europa por uma gravadora importante. São inúmeras coisas boas e ruins, altos e baixos que fazem da banda algo especial e verdadeiro, que passa por tudo e sobrevive a tudo, com raízes cravadas profundamente, com algumas sequelas, mas com o corpo e alma totalmente calejados. Andréa Ariane

[9] Claustrofobia I See Red Candlelight

Aquela máxima de, como o vinho, as coisas ficam melhores a medida que o tempo passa, funciona bem para falar deste lançamento. O tempo que possa demorar para fazer um trabalho que valha a pena e cuidados nos mínimos detalhes, inclusive, é algo que não preocupa os paulistas do Claustrofobia que, após quase 5 anos de seu último álbum (“Fulminant”), lançaram no final de 2009, “I See Red” - o quarto CD de estúdio. A produção é um dos grandes destaques: muito bem realizada desde a concepção de capa feita por Carlos Henrique Engenheer, que já trabalhou com a banda nos trampos anteriores, preocupação com arranjos e temas atuais nas letras. Nos sons, destaques para as duas pedradas que abrem o disco (“Discharge” e “War Stomp”) e mostram de cara qual o recado e a quê a banda veio, além de mostrar o Metal brutal que faz chacoalhar nossas mentes. “Evil University”, “Don´t Kill the Future” além da faixa-título são outras que seguem na mesma linha. “Tiro de Meta” é a única com a letra em português. E sem precisar muito esforço se percebe que é um retrato do Brasil: caos social, o famoso dá-se um jeito pra tudo no país do que mesmo? Do futebol. Outra belíssima surpresa é “Nóia” - única instrumental e que quebra o clima porrada e apresenta solos incríveis numa melodia de fazer tirar você do ar por alguns minutos. A versão gringa ainda ganha de bônus cover de “Beneath the Remains” do Sepultura e a famosa versão de “Filha da puta”, do Ultraje a Rigor. A Metal Maloka continua. Cada vez melhor e mais forte que nunca. Andréa Ariane

www.myspace.com/claustrofobia

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entrevista

Sonho ousado Definitivamente, 2009 foi o ano do Shadowside Seu segundo álbum, “Dare To Dream” foi eleito um dos melhores discos do ano pela mídia especializada, deixando a banda em posição de grande destaque. Nem mesmo o cancelamento do show, na abertura para o Iron Maiden (Março/2009), fez com que a banda perdesse o brilho, já que eles fizeram turnês muito elogiadas pela Espanha e Estados Unidos. No auge de tanta badalação, conversamos com a bela vocalista Dani Nolden, que nos conta tudo sobre essa, que é a grande promessa para 2010.

M

esmo sendo uma banda relativamente nova, o Shadowside obteve excelentes comentários acerca de seus dois álbuns. Como você se sente ao ver seu trabalho sendo tão elogiado em uma época escassa de criatividade dentro do Heavy Metal? Eu não sei se realmente temos pouca criatividade dentro do Heavy Metal, mas é verdade que poucas bandas novas tem se destacado, o que pode ser por culpa do mercado que mudou tanto. Mas eu sinto que alcançamos algo muito especial. Seria mentira dizer que não me sinto extremamente feliz pelas pessoas gostarem tanto do que nós fazemos. Agora temos que trabalhar ainda mais para manter tudo isso, mas isso é excelente. Eu não funciono sem pressão (risos). Tivemos um excelente começo de carreira, apostamos na nossa identidade e acredito que estamos no caminho certo. Ficaremos cada vez mais atrevidos musicalmente, com os pés no chão como pessoas. Ainda temos 20 anos pela frente antes de podermos dizer de verdade “nós conseguimos”. O álbum “Dare to Dream” foi escolhido em diversos veículos especializados como um dos melhores lançamentos do Heavy Metal em 2009. Era algo esperado? Não, era algo que nos “atrevíamos a sonhar”, mas não era esperado. Não é algo que pode ser previsto. Nós nunca sabemos como as pessoas vão reagir e sempre concorremos com bandas e lançamentos incríveis no mesmo ano. Felizmente, nossos dois álbuns foram selecionados como

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um dos melhores de seus respectivos anos lançamentos (2005 e 2009). Porém, dessa vez, aparecemos em mais listas de melhores do ano e não apenas entre os melhores do Brasil. Nós nunca entramos no mundo da música para competir ou para sermos os melhores, basta observar nossa música para isso. A prioridade não é um membro em especial ou mostrar para todos como somos bons, rápidos, virtuosos ou coisas parecidas. Nossa música é para diversão, para colocar para fora todos os problemas, ansiedades e gritar como loucos em um show de Heavy Metal. É uma honra receber esses prêmios, mas eles não nos deixam com a sensação de que somos melhores que os outros. Apenas que estamos no caminho certo ao ter como foco fazer o que sabemos fazer: ser uma banda de Metal direta, sem tentar experimentar com coisas que não fazem parte da nossa identidade. “Dare To Dream” pode ser considerado como um trabalho autobiográfico? Parte dele, sim. Tem várias músicas no álbum que são sobre mim mesma ou sobre minha vida. Outras são sobre meus amigos, familiares e situações que eu vejo acontecendo na vida das outras pessoas. “In the Night” é uma música sobre um relacionamento que deveria ser secreto mas uma das partes não aguenta mais ficar escondida. Então ela decide mudar a situação e deixar de aceitar o que a faz mal. “Baby in the Dark” é sobre um amigo meu, que tentou de tudo para se encaixar no que a sociedade espera de uma pessoa “normal”. Como se isso não

bastasse, ele queria ser aceito e amado por todos os grupos, então ele era uma personalidade moldável... diferente com cada pessoa. Ele acabou completamente perdido, sem saber quem ele era de verdade. Felizmente, ele conseguiu deixar isso de lado, mas por algum tempo ele esteve tão perdido quanto um criança pequena em um labirinto escuro e foi minha inspiração para essa música. Músicas como “Hideaway” e “Dare to Dream” falam de coisas que eu senti em minha própria pele. Crescendo em um país como o Brasil, onde Rock e Metal são vistos como coisa de gente esquisita pela grande maioria da população, eu sempre fui a “roqueira maluca” da escola (risos). Os professores me diziam que eu era louca por ter um “sonho idiota” de ser uma cantora profissional. “Dare to Dream” é a música que conta essa história e meu lema até hoje. Quando as coisas pareciam mais difíceis e distantes, eu me agarrei ainda mais ao que eu buscava e segui em frente. Diferente de outras bandas, a Shadowside traz mensagens positivas em suas músicas. Qual é a mensagem real do álbum “Dare to Dream”? Simples e direta, exatamente o que o título diz... se atreva a sonhar. Isso não vale apenas para aspirantes a músicos, mas também para aqueles que sonham em fazer uma viagem, mudar de vida, trocar de emprego. É uma mensagem para todos aqueles que estão com medo de correr um risco, de mergulharem nas coisas que desejam. A realidade nem sempre é favorável e pode ser que você não chegue tão longe quanto


sonhou, mas se você levantar e tentar, com certeza alguma coisa vai mudar. Apenas seja você mesmo e vá atrás do que você quer. Nada acontece para aqueles que ficam esperando que alguém faça alguma coisa por eles. Para uma banda ainda em início de carreira, o Shadowside já deu grandes passos em um curto prazo de tempo. Tem dois trabalhos muito elogiados, cinco digressões pelos EUA, duas pela Espanha e shows importantes pelo Brasil ao lado de Nightwish, Primal Fear, Helloween, Sepultura. Qual é o limite para o Shadowside? Eu não sei, mas vou continuar subindo a escada até ver onde ela vai dar (risos). Mas se perceber que estou chegando perto das nuvens, eu paro de subir para poder continuar na terra (risos). Sinceramente, não sei até onde podemos ir. Queremos ir o mais longe possível. O objetivo é ter uma carreira sólida, durante muitos anos e fazer o que nós gostamos. Se alcançarmos as estrelas, tanto melhor. Vamos manter nossa personalidade forte, nossa música cheia de energia e o público vai decidir até onde podemos chegar. O novo álbum mostra uma nova proposta em sua música, soando até mais autêntica. Esta mudança foi planejada ou os novos arranjos, mais melódicos e modernos, simplesmente fluíram neste sentido? Isso simplesmente fluiu, não foi algo que nós pensamos ou formulamos em cima de uma mesa. Nós apenas decidimos que não queríamos mais soar como outras bandas, então sempre que algo nos lembrava algo, nós tirávamos imediatamente. A evolução natural também nos fez mudar naturalmente. Nós ficamos mais maduros, mais confiantes para apostar em nossa identidade. Algumas passagens ficaram mais pesadas, outras mais musicais, o que deixou o álbum com um balanço interessante entre peso e melodias marcantes. Não tem excesso de qualquer uma das características, elas se completam, então ninguém sente que é um álbum extremo, nem mesmo melódico demais. A única coisa que nós fizemos questão de fazer foi algo direto e cru, sem exageros. Tem muitas bandas excelentes que fazem isso, mas nós sentimos que isso não era Shadowside. Shadowside é energia, intensidade, é música para você tocar alto e curtir, sem pensar em nada. Nós queríamos que o público saísse de nossos shows não pensando “como eles são bons músicos!”, mas sim “como eu me diverti hoje!” Vocês gravaram o disco em menos de um mês. Como foi o processo de composição e gravação? Foi divertido, como foi tudo muito rápido, tudo foi meio instintivo. O que soou bem na primeira impressão, nós mantivemos. Todos os membros da banda mexeram nos instrumentos dos outros, então foi um trabalho em grupo, apesar de eu ser creditada na maioria das músicas. O resultado final é trabalho de todos os membros. Nem deu tempo de sentirmos cansaço pela gravação. Foi tudo muito rápido e intenso, quando percebemos, o disco já estava feito. Só então paramos para assimilar o que havíamos gravado. O quanto a produção de Dave Schiffman (System Of A Down, Audioslave) e masterização de Howie Weinberg (Metallica, Iron Maiden, Pantera) influenciou na sonoridade das novas composições? Como foi trabalhar com estes profissionais? Dave nos deu coragem para explorar tudo que está em nossa personalidade musical. Ele não foi o tipo de produtor que faz as coisas pelos músicos, ele era como um conselheiro. Dave

conhece muito de Metal, mas não é um produtor típico de Metal, ele trabalha com tantos estilos que tem a mente muita aberta. Então o lema durante as gravações era experimentar sempre e nunca dizer não a uma ideia antes de realmente tocá-la. Várias sugestões que nós mesmos damos uns aos outros sempre foram rejeitadas dessa forma, mas no “Dare to Dream”, decidimos experimentar tudo, por mais absurdo que parecesse. Algumas coisas ficaram muito interessantes e estão no disco, outras realmente eram absurdas (risos). Mas foi interessante trabalhar com Dave porque ele deixava que nós criássemos tudo, ele apenas nos dava caminhos como “essa música precisa de mais movimento” e então deixava que nós descobríssemos o que significava “movimento” e fizéssemos algo para isso. Assim mantivemos tudo 100% vindo de nós, com um profissional experiente nos dizendo quando alguma coisa não estava boa. Não tivemos muito contato com Howie, mas ele fez um trabalho muito bom na masterização. Ele não influenciou na composição ou gravação, mas a parte dele foi muito bem executada como era de se esperar de um profissional desse nível. Há alguns meses, o Shadowside promoveu a mais longa turnê pelos Estados Unidos das cinco que a banda realizou. Como foi essa passagem por lá? O público americano é realmente muito exigente? Sim, exigente e diferente do brasileiro. Antes de tocar pelos Estados Unidos, nós estávamos acostumados com o público de casa... quente, apaixonado, gritando o tempo todo. Quando chegamos nos Estados Unidos, percebemos que eles prestam mais atenção ao que estamos dizendo nas letras, observam mais do que “enlouquecem”. Em músicas mais intensas como “Memories”, eles se entregam e não resistem (risos). Em alguns shows, vi um público extremamente “violento”, em um bom sentido. Mas lá, você realmente mede se uma banda foi bem aceita ou não com as vendas. Se eles odeiam, vão embora e não querem saber de você. Se eles adoram, fazem questão de trocar algumas palavras com você e comprar tudo que está na mesa para vender. Felizmente, nossa mesa não ficou cheia até hoje (risos). Hoje já estamos acostumados e sabemos como o público americano funciona. A cada turnê que fazemos naquele território, fazemos shows melhores e para mais público, é isso que nós buscamos. Além disso, vocês também tocaram na Espanha pela segunda vez. Como foi esse retorno para a divulgação do álbum “Dare to Dream”? Foi ainda melhor que na primeira vez. Nós sabíamos o que deveríamos esperar, mas foi muito melhor que nós pensávamos que seria. Tocamos em casas melhores e fomos atração principal de dois festivais ao lado do Metalium. Nós tínhamos certeza que o público estaria lá por causa deles, especialmente porque o “Dare to Dream” mal havia sido lançado. Mas encontramos lá várias camisetas do Shadowside e um público cantando todas as músicas, a internet ajudou muito nesse ponto. Não vemos a hora de voltar, o público espanhol lembra muito o brasileiro. Por que a turnê não se esticou até Portugal? Nós tentamos muito, mas infelizmente os shows na Espanha foram confirmados com muito pouco tempo de antecedência, o que dificultou em conseguir shows adicionais. Nós estamos muito ansiosos por uma oportunidade de tocar em Portugal, temos planos para fazer

ao menos um ou dois shows ainda este ano. Eu tenho um carinho muito especial por Portugal. Por que o Shadowside resolveu investir diretamente no mercado americano e não se lançaram pela Europa e Japão, que é o rumo mais procurado pelas bandas brasileiras? Nós também pensávamos nesse rumo, mas o que aconteceu foi o contrário. Talvez devido ao MySpace, os americanos abriram as portas para nós antes dos europeus, então nós simplesmente aproveitamos a oportunidade. Com alguma estrutura estabelecida nos Estados Unidos, decidimos voltar ao plano original de trabalhar a Europa, mas agora podemos trabalhar os dois lados ao mesmo tempo. O novo álbum foi lançado no MySpace oficial do Shadowside. Por que resolveram lançá-lo primeiro na Internet? Toda banda precisa se adaptar ao mercado. Quem não se adaptar vai acabar morrendo. Nós nascemos no meio da era digital, então para nós já era um fato que ninguém compra um disco sem escutá-lo primeiro. Também existem aqueles que não compram os discos, seja pelo motivo que for, mas se gostam da banda compram camisetas e outras peças de merchandising. Outros vão ao show e acabam decidindo comprar o CD lá. Então nós sentimos que a internet é mais uma aliada que uma inimiga, se você souber como usar isso. Eu não posso reclamar das vendas do Shadowside, sendo uma das bandas mais vendidas no Brasil, em um mercado tão complicado quanto o brasileiro e sempre vendemos muito bem em shows. Cada um sabe que estratégia funciona melhor, mas para nós, lançar o álbum no MySpace funcionou muito bem. Dani, sendo você uma bela garota a frente de uma banda, como você lida com o assédio dos fãs e dos músicos em geral? Eu tento lidar com as pessoas da forma mais natural possível, com respeito, dando atenção a todos. De vez em quando eu escuto uma gracinha (risos). Mas não é algo que atrapalhe minha vida. Até hoje nunca passaram dos limites. Eu acho divertido, mas não me permito acreditar nessas coisas. Seria o primeiro passo para me tornar uma chata convencida (risos). Apesar de o novo álbum ter sido lançado há pouco, vocês já tem material para seu sucessor. O que você pode nos adiantar sobre a linha das novas composições? Posso dizer que está tudo muito atrevido, ainda mais pesado e bem musical. Assim como o “Dare to Dream” foi a evolução do “Theatre of Shadows”, nós estamos buscando a evolução do “Dare to Dream”. Começamos cedo para ter bastante tempo, queremos escrever muitas músicas e então escolher as melhores. Estará cheio de melodias marcantes, como sempre. E direto ao ponto. Quais os planos da Shadowside para 2010? Faremos uma passagem pela Europa, espero que incluindo Portugal. Vamos tocar aqui pelo Brasil e possivelmente pelos Estados Unidos mais uma vez antes de voltar ao estúdio para trabalhar no novo material. 2010 será um ano cheio para nós, como nós gostamos! Luciano Piantonni Leia essa entrevista completa em: www.hornsup.net www.myspace.com/shadowsideband

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entrevista Progressividade homérica Jovens, talentosos e humildes. É assim como podemos definir o trio norte-americado The Fall of Troy composto por Thomas Erak (vocais e guitarra), Andrew Forsman (bateria) e Frank Black (baixo), que conseguiu de maneira espetacular se tornar uma das grandes referências no cenário do Rock progressivo contemporâneo. Após o lançamento do quarto álbum da carreira - “The Unlikely Event” - o vocalista Thomas Erak concedeu uma entrevista à HORNSUP relatando o processo de amadurecimento da banda e comentou sobre a essência do novo trabalho de estúdio.

B

iograficamente falando, qual é a mensagem principal que vocês querem passar pelo nome “The Fall of Troy”? Nós devemos relacionar a mensagem aprioristicamente à destruição ou a intenção é a de ser um “presente de grego”? Eu penso que a idéia realmente relevante é levar em conta o caráter “indestrutível e avassalador” do exército troiano. Entretanto, mesmo grandioso, seu modo narcisista projetou interiormente o próprio fracasso. Eu acredito, então, que a raça humana como nós conhecemos hoje está caminhando para um fim da mesma forma... nós ultimamente temos nos destruído com uma força impressionante.

A banda está lançando seu quarto álbum de estúdio (“In the Unlikely Event”) e é perceptível que vocês se tornaram maduros, talvez fruto da enorme bagagem musical. Qual foi o melhor show ou turnê que a banda já fez e por quê? A turnê mais inspiradora em que estivemos definitivamente foi quando nós tocamos com The Deftones, que por sinal eu espero repetir novamente em um futuro próximo. Eles me mostraram que pessoas que eu admiro são realmente muito bacanas, e que não se deve deixar o sucesso subir à cabeça. Parece tudo estar sendo muito real, o que acabou sendo a temática principal do álbum.

Vocês entraram para o mundo da música com em média 17 anos de idade. Quais foram as consequências na mente de cada integrante da banda e por quais obstáculos o The Fall of Troy passou para encontrar o caminho do sucesso? Bem, nós realmente começamos na adolescência. Eu de certa forma não me importei em frequentar a escola, faculdade ou coisas do gênero. Andrew abandonou a universidade para seguir o caminho conosco, então, de certa forma, foi um sacrifício imenso. Sem mencionar que você acaba sentindo falta de poder ser “uma criança normal”. É difícil conseguir namoradas da nossa idade quando você está na estrada em turnês, coisas dessa natureza.

Agora vamos de fato conversar sobre o novo álbum. É bastante clara a diferença entre “In the Unlikely Event” e os três álbuns anteriores. É como se fosse uma passagem de algo mais progressivo para algo que soa como um PostHardcore experimental. Qual foi a razão dessa mudança? Eu acho que todos os nossos álbuns soam totalmente diferentes, então eu não posso ir muito além com essa pergunta. Nós não “TENTAMOS” fazer algo, a música apenas surge dessa maneira (risos).

Foto: Dean Zulich

Recentemente, o The Fall of Troy engatou uma música na trilha sonora do jogo “Guitar Hero”. Então, eu concluo que a suas músicas têm se espalhado ao redor do mundo inteiro. Quais são as maneiras as quais vocês expõem seus trabalhos para os fãs? E, aproveitando o tema, alguém da banda tem o hábito de jogar video games? O Andrew joga video games bastante e eu gosto de jogar também... E de quantas maneiras nós podemos proliferar o nosso trabalho? De todas as maneiras possíveis. Nós queremos que as pessoas estejam aptas a ouvir nossa música por todas as vias que existirem, já que essa é a parte mais complicada do serviço.

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O mundo globalizado tende a expor músicas e atividades culturais em geral da maneira mais prática e rápida possível. Qual é a sua opinião acerca dos downloads ilegais na internet? Levando em conta também os países onde os seus CDs são disponíveis apenas quando importados da Europa ou América do Norte? Eu tenho respondido essa pergunta várias e várias vezes. Bem, isso está presente, está fixando raizes, é melhor se acostumar... nós não temos escolha, e isso consegue proliferar a música mundo afora, então, é, tudo bem.

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Nós sabemos que não é um álbum conceitual, mas mesmo assim, qual é a principal temática? A transição de idades, amadurecimento, a convivência com outras pessoas e suas vidas... tentar descobrir quem você é e como isso tudo funciona. Retroagindo, para aqueles que ainda não conhecem a banda, qual é a faixa que você indicaria para um iniciante? Isso depende do clima em que você está, mas eu acredito que tem algo para todos os gostos nesse álbum.

Os canadenses do Protest the Hero estão em plena ascensão no cenário do Rock progressivo/experimental. Como foi a presença do vocalista Rody Walker durante a gravação da faixa “Dirty Pillow Talk”? Foi muito distinto e maravilhoso, Rody e eu somos bons amigos e rimos bastante juntos. Eu acho que a participação dele levantou bastante o meu temperamento, já que quando eu estou cantando eu fico muito introvertido no que estou fazendo emocionalmente. Quando ele chegou, conseguimos produzir a todo vapor e nos divertimos muito. A linha vocálica na faixa “Webs” me lembrou bastante os vocais de Cláudio Sanchez do Coheed and Cambria. Há, de fato, alguma influência ou é uma mera coincidência? Não, há absolutamente nada do gênero. O mercado musical moderno está saturado de bandas iguais, e vocês são, sem sombra de dúvidas, um ponto amarelo em uma floresta extremamente verde. Quais são outras bandas comtemporâneas que vocês admiram ou costumam ouvir? Basicamente bandas antigas como The Beatles, Jimi Hendrix, Led Zeppelin, Nirvana, Sunny Day Real Estate... a princípio essas. Eu gosto de músicas que conseguem mudar o mundo, e é uma vontade interior que eu tenho que isso possa acontecer novamente. E seria um sonho ser parte de outra revolução musical como as dos anos 60 ou Nirvana. Ítalo Lemos www.myspace.com/thefalloftroy


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Fábrica de pesadelos Provenientes, a princípio, de um projeto paralelo que foi ganhando corpo ao longo do tempo, e inspirados pela brutalidade do filme que leva o nome da banda, o American Me põe nas ruas seu segundo álbum de estúdio, intitulado “Siberian Nightmare Machine”. O baixista Michael Nordeen é quem conta à HORNSUP um pouco da história do grupo e o que o ano de 2010 pode esperar desse quinteto.

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American Me se formou em Portland, Oregon, e possui em sua formação ex-membros de bandas como It Prevails e Hatchet Diaries. Nos conte um pouco sobre o início da banda e o trajeto percorrido até os dias de hoje. O American Me foi formado originalmente como um projeto paralelo à banda It Prevails. Ela foi parcialmente inspirada como uma alternativa à música que o It Prevails tocava, sendo essa uma banda de Hardcore mais melódico e ambiente, e o American Me uma banda de Hardcore mais direto e “in your face”. Dois dos membros do It Prevails, Tony Tataje e Brian Wilson, queriam começar uma banda mais direta e pesada, que foi o que nos levou à algumas turnês, onde as bandas tinham papéis duplos com dois sets por noite, um para cada banda. Eventualmente, ambas as bandas começaram a construir sua própria base de fãs e foi decidido que seria melhor para a carreira de cada banda dividi-las em entidades individuais, isso em meados de 2007. O American Me fez muitas turnês auto-agendadas por quase dois anos, sendo auto-financiados, sem rendimentos e construiu o seu nome a partir do zero. O momento foi construído e o interesse aumentou com o crescimento da banda. 2009 foi o ano em que a banda foi selecionada sob a gestão de Mike Milford, da Artery Foundation, assim como teve Dan, do Love As Arson, como um agente de turnês em tempo integral. Ambos esses elementos cruciais para uma banda que está integralmente em turnês, vieram pouco antes do lançamento do nosso segundo álbum pela Rise Records, intitulado “Siberian Nightmare Machine”. 2010 verá a banda fazendo turnês quase sem parar em suporte a este lançamento! O nome da banda tem relação com o filme “American Me”, de 1992, dirigido por Edward James Olmos? Porque escolheram esse nome? Sim, de fato, o nome da banda foi totalmente inspirado no filme de 1992, “American Me”. Tony Tataje e Brian Wilson estavam assistindo a este filme e ficaram tão inspirados pela completa brutalidade dele, que queriam começar uma banda que fosse “tão brutal quanto o filme”. Isto é o que inspirou o som original da banda, destrutivo, direto, Hardcore “in your face”. Os dois membros que surgiram com este conceito sentiram que esta sonoridade seria a que melhor representaria o nome do filme que inspirou o som único da banda. “Siberian Nightmare Machine” é o nome do novo álbum, lançado em Novembro de 2009 e o segundo na carreira do grupo. Como encaram este registro se comparado a “Heat”, de 2008? Houveram muitas mudanças durante esse período, tanto na sonoridade quanto no pensamento da banda? O novo registro, se comparado com “Heat”, era para supostamente ter uma temática fria e dark. Em contrapartida, quando o álbum “Heat” saiu com uma temática quente e raivosa, nosso novo registro pegou um pólo oposto em termos de conceito. Nós queríamos um som maior, mais dark, mais

assustador. O novo álbum tem um processo de escrita mais focado e músicas que foram todas escritas dentro de um mesmo período, e todas tem uma sensação semelhante. Houveram mudanças no line up antes, durante e depois do álbum “Heat”, antes desse último lançamento, o que atribui à diferença no estilo de escrita. Isso também é algo que foi notado durante esse processo, onde a banda queria diversificar um pouco do registro anterior. “Siberian Nightmare Machine” também foi gravado com um produtor diferente de “Heat”. Assim, grande parte do processo de gravação foi abordado de maneira diferente. O álbum saiu grandioso e todos estão muito felizes com isso. Quem foram os responsáveis pela produção, masterização e mixagem do novo álbum? E como ocorreu todo esse processo? Nosso produtor foi Stephen Hawkes e tudo foi supervisionado pelo nosso produtor anterior Kris Crummet. Nós gravamos no mesmo estúdio, o Interlace, em Portland, Oregon. Todo o processo foi ótimo, e nós fomos capazes de experimentar tons e equipamentos. Este foi um processo muito suave e todos no Interlace são sempre divertidos de se trabalhar. Como chegaram a um acordo com a Rise Records? O acordo com eles veio do fato de que o nascimento desse grupo resulta de uma banda da Rise Records. Craig Ericson, o proprietário da Rise Records, viu que esse pequeno projeto paralelo estava cheio de caras trabalhadores com um som novo e pesado, prontos para fazerem turnês e se dedicarem para fazerem seu nome. Tony Tataje sendo o frontman original do It Prevails coordenou um acordo com Craig e ele divulgou um sampler de 3 sons da banda. Esse sampler realmente nos ajudou a divulgar o nome da banda e isso eventualmente levou a banda a lançar o álbum “Heat” pela Rise Records. Como estão sendo as turnês para o American Me? Algo de especial a ser comentado? As turnês estão indo muito bem! Estamos vendo reações maiores e melhores do público de acordo com que percorremos os Estados Unidos. Temos orgulho de ter um show ao vivo que é tão “in your face” quanto nossa música! Outra coisa que gostaríamos de salientar é que nós gostamos de sair com os nossos fãs tanto quanto nossas agendas de turnês permitem. Nós sentimos que é importante se conectar com pessoas em um nível individual tanto quanto é importante se conectar com a multidão durante uma performance. Nós temos alguns dos melhores fãs e somos muito gratos por eles e pela oportunidade contínua de tocar para eles e esperançosamente fazer novos fãs nesse processo. Sendo uma banda que combina tanto elementos do Metal como do Hardcore, quais são as suas principais influências? Todos na banda ouvem quase todos os tipos de banda, música e estilo que existem. Somos todos indivíduos com

gostos pessoais e até ouvimos um pouco de música mais leve, como Dance Gavin Dance, Oceana e Minus The Bear, etc. Mas como influências diretas, estas podem ser atribuídas a bandas como Slipknot, Hatebreed, Remembering Never, etc. Quase todo Metal novo é uma influência direta no som pesado da banda. A banda gravou o vídeo da faixa “Black Malicious Lie”, do álbum anterior “Heat”. Existem planos de fazerem um clipe de alguma faixa do novo CD? Sim, estamos procurando fazer um novo vídeo para uma música do novo álbum. Nós daremos mais informações caso a situação evolua. Uma das fotos de divulgação da banda traz todos os membros do American Me usando apenas cuecas. A imagem certamente não agradará o público masculino, mas acham que dessa maneira conseguirão fazer sucesso entre as mulheres? Na verdade, muitos de nossos amigos pensam que é uma foto muito engraçada! Você estará provavelmente correto em assumir que os fãs homens não irão gostar disso tanto quanto as mulheres. Mas a intenção da foto era fazer uma piada. Nós podemos tocar um dos sons mais pesados e parecer extremamente sérios, mas na realidade, nem nós mesmo nos levamos a sério. Nós apenas gostamos de tocar música pesada! Vocês têm alguma atualização sobre o roubo que sofreram? Conseguiram recuperar alguma coisa? Na medida em que está indo, nós não tivemos nenhuma informação sobre isso. A polícia não achou nada, e não pegamos nenhum de nossos equipamentos ou merch de volta. Estamos ainda afastados um pouco dessa situação, mas a Artery Foundation, Rise Records e Schecter Guitars vieram todos em nossa ajuda para ter certeza que seríamos capazes de irmos para casa à salvos e sermos compreensivos e termos apoio após essa situação. Estamos todos absolutamente chocados com isso porque aconteceu há uma questão de metros de nós, mas isso será uma experiência de aprendizagem, esperamos que isso ajude outras bandas, de todos os níveis, de estarem cientes de seu ambiente e o que eles precisam para se protegerem, assim como seus equipamentos e merchandise. O que o futuro pode esperar do American Me? O futuro do American Me nos verá em turnê maiores e melhores, fazendo turnês mais frequentemente, e o novo material será com certeza mais pesado, mais nervoso e mais divertido! Esperamos ter a oportunidade de fazer e encontrar novos fãs de acordo com que continuamos nossas turnês. Para maiores informações sobre a banda, datas de turnês, fotos e vídeos, por favor, acesse nosso myspace: www.myspace.com/americanme503 (pode nos encontrar também no Facebook!). André Henrique Franco

www.myspace.com/americanme503

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Livro aberto Folhamos algumas páginas do “livro negro” com histórias contadas pelo Hill Have Eyes. Obviamente que a HORNSUP não vai relevar todos os pormenores, mas o vocalista Eddie fez-nos um prefácil do que podemos esperar do seu novo best-seller, “Black Book”.

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omo se sentem agora que já tem o primeiro álbum na rua? Obviamente orgulhosos, foi um trabalho duro e longo, e é sempre brutal cada vez que vês um trabalho teu a ser lançado. Estamos também ansiosos por partilhá-lo com o pessoal que gosta de Hills Have Eyes. Normalmente pergunto as bandas sobre as dificuldades que encontram no circuito underground. Porém quero saber de vocês o contrário. Há alguma coisa que foi mais fácil do que imaginaram? A pergunta que costumas fazer faz sentido, porque todas as bandas neste circuito sentem muitas dificuldades, pois não é fácil fazer uma gravação, não é facil arranjar concertos, promoção, etc. A pergunta que nos fazes, se algo foi mais fácil do que imaginaram, felizmente foi tudo acabando por tornar-se fácil devido ao empenho e dedicação, não só nosso, mas também do pessoal que nos ajudou neste projecto como o Vasco Ramos que produziu o disco e sempre se empenhou muito nele, o Tiago Canadas, o nosso técnico de som que nos ajudou em inúmeras coisas, no Filipe (Survival) que têm estado desde sempre ligado á nossa imagem (artworks, t-shirts, etc). Isso aliado á nossa vontade de fazer as coisas acontecerem fez com que este processo de lançar, apesar de moroso, fosse até fácil. Agora vem a parte mais díficil. Sei que ainda não tem o um feedback do público em geral. Mais quais as impressões que acreditam que irão ter com esse álbum? Das músicas que lançamos no nosso myspace o feedback tem sido bastante positivo. Mas penso que este disco e os concertos de lançamento são uma prova de fogo para nós. Nós acreditamos bastante nele, além de estarmos supersatisfeitos com o resultado final e achamos que o público em geral vai curtir muito o álbum. Senti uma veia mais roqueira e Southern nesse álbum, estou errado? O que mudou desde o vosso último lançamento? Sem dúvida que houve uma modificação na sonoridade, normal, porque alguns elementos têm mudado desde por exemplo, o lançamento do EP. Concordo contigo, é algum bem mais rockeiro, algures entre o Rock e o Metal e com muita atitude e boa disposição, que é a mensagem que pretendemos passar para fora. O nome “Black Book” tem algum siginificado especial? O conceito do disco gira á volta dum livro de histórias, ou seja, cada música conta uma história, a qual vivemos enquanto banda ou pessoas. Sou eu que escrevo as letras e acredito que devemos acreditar no que escrevemos, e o que é melhor que isso do que episódios que já passamos enquanto pessoas ou mesmo enquanto banda? Por isso podemos dizer que o “Black Book” é o livro dos segredos, ou de histórias como preferires dos Hills Have Eyes. Como foi ter Vasco Ramos (vocalista do More Than a Thousand) como produtor? Pelo que que soube, através do próprio, ele puxou ao máximo por vocês. Foi brutal! O Vasco é um grande músico e um grande amigo também, que gosta bastante da nossa banda e quis desde o primeiro dia que começamos a pensar gravar o álbum,

produzí-lo. Ele trabalhou imenso na préprodução connosco, bem como o Tiago Canadas, e teve o mês inteiro em Braga a dar no duro, sempre a procurar tirar o melhor de nós para que o álbum ficasse da melhor maneira. Posso mesmo dizer, de certeza, que não tinha ficado tão bom sem a produção dele. O Vasco iniciou-se agora no mundo da produção e vai estar a trabalhar no Poison Apple Studios em Lisboa, pelo que recomendo a qualquer banda que considere gravar em breve, trabalhar com ele. Optaram por gravar no Ultrasound Studios em Braga com o Daniel Cardoso, que é um dos grandes talentos na gravação de música pesada em Portugal. Em que Daniel contribuiu para “Black Book”? Quando compusemos as músicas, vimos como tu disseste, que estavam mais rockeiras, um pouco mais pesadas. Como sempre fomos uma banda com uma vertente mais Metal (não nos consideramos uma banda Metal, é apenas uma das nossas influências de estilos musicais), achamos que o Ultrasound Studios era um estúdio interessante para gravar uma vez que grava muitas bandas desse género e poderia sacar um som diferente do que estamos habituados e que ia encaixar nas nossas músicas. Entramos então em contacto com o Daniel, que já tinha gravado outras bandas do Nuno Silva (baterista), que gostou da ideia de gravar o nosso disco, uma vez que era um estilo que ele não costumava ter muito lá. Ficamos contentes com o trabalho do Daniel e também do Pedro do Ultrasound. O álbum ficou com um som muito bom, por isso podemos dizer que foi uma aposta ganha. A vossa cidade, Setúbal, é conhecida por revelar alguns nomes relevantes no cenário. Sei que existe uma forte camaradagem e suporte entre as bandas locais. Como esse ambiente se reflete na história do Hills Have Eyes? Reflecte-se da melhor maneira. Sempre que alguém precisa de algo, sejamos nós, os One Hundred Steps, os More Than a Thousand, os Ella Palmer, há logo alguém disponível para resolver o problema. Seja este faltar material, precisar dum elemento para desenrascar um concerto, precisar duma garagem para dar uns toques, ou de outra cena qualquer. Obviamente isto faz qualquer banda crescer e sentir-se mais confiante onde está inserida. Nós agradecemos do fundo do coração a todos estes nossos amigos, pelos momentos que temos partilhado juntos e pelo apoio de sempre. O disco foi lançado em Portugal pela Recital. Há algum plano para o lançamento em outros paises? De momento só no Japão é que está programada a venda do “Black Book”, da mesma forma que vendemos o EP “All Doves Have Been Killed”, por intermédio de uma loja online. O Japão é um mercado muito apetecível e felizmente, temos muitos fãs lá, o que nos fez vender centenas de cópias do EP nessa loja que te falei. Por isso vamos continuar a apostar nesse meio, tendo em vista uma potencial visita a esse país em breve. Temos também contactos já feitos para o álbum sair em formato digital (Itunes, Amazon, etc) daqui a um mês e meio mais ou menos. Não pomos de parte entrar em suporte físico noutros mercados, mas tem que ser uma proposta que nos agrade e que valha a pena,

[8] Hills Have Eyes Black Book Recital

Depois de já ter dado provas do seu poderio com o EP “All Doves Have Been Killed”, os setubalenses do Hills Have Eyes, finalmente, põe na rua seu longa duração de estreia, “Black Book”. Apesar do título sugerir algo negro e obscuro, esse livro não é macabro, pelo contrário, é energértico, expressivo e cheio de nuances. Esse registro vem vincar de forma mais eficiente a sonoridade do quinteto português. A construção melódica, sobre tudo dos refrões, é simpática, sendo que conseguem tornar as canções automaticamente memoráveis (e “cantaroláveis”). Ganham uma veia roqueira mais saliente (com alguns toques de Southern pelo meio), o que adiciona um groove e uma vibe instigante. Oferecem uma boa variedade, com grande punch nos momentos mais agressivos e envolvência nas passagens melódicas. Um ponto positivo reside no fato de não haver “fillers”. As 10 faixas tem personalidade, o que torna a audição extensiva e prazeirosa. É perceptível o esforço de todos os músicos envolvidos, sobre tudo do vocalista Eddie, que parece se desdobrar em 2 ou 3 para dar conta do recado. “Black Book” é o passo mais ousado do Hills Have Eyes, e também o maior e mais seguro. Um tiro certeiro. Destaco a divertida “Hey Hater”, a inesquecível “The Believer” e a paulada “21.12.2012”. Um dos melhores álbuns de 2010...dessa semana! Matheus Moura

porque não vamos vender o nosso trabalho e esforço ao desbarato. Quais os planos da banda para 2010? Bem, em primeiro lugar - promover o “Black Book” o mais possível,. Tocar tocar e tocar. Temos mais uma mini-tour já agendada com uma banda estrangeira cá em Portugal, a que não posso anunciar ainda e estamos a marcar uma turnê europeia para Abril, sendo que uma das datas é com os americanos Holding Onto Hope em Hamburgo. Mas em breve vamos ter mais informações, estamos também a construir um Myspace novo pelo que vamos apostar em força na divulgação de toda a informação por esse meio. Qual foi o melhor álbum de 2009? Ui, isso é uma pergunta díficil , porque é muito pessoal. Posso falar por mim e não pelo resto da banda. Relativamente a discos internacionais houve alguns que gostei muito, não valendo a pena mencionar todos, mas em Portugal gostei muito do “Human Clouds” de One Hundred Steps e houve uma banda que me surpreendeu pela positiva também cá de Setúbal que são os The Doups, que lançaram o EP “6 O’clock shadow”, apesar de serem de um estilo diferente, mais na onda do indie-rock, têm uma atitude muito positiva e acho que vão ainda dar que falar. Matheus Moura www.myspace.com/hillshaveeyesmusic

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Beleza luminosa André e Nya, respectivamente guitarrista e vocalista do Kandia, falaram com a HORNSUP a respeito do seu álbum de estreia, “Inward Beauty | Outward Reflection”. A realidade como banda independente, a produção do álbum e a particpação de JP Leppäluoto, do Charon, no álbum foram alguns dos assuntos abordados na conversa que se encontra abaixo.

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sse primeiro álbum demorou um pouco mais do que esperavam, certo? Conte-nos pelo o que a banda passou nesse intervalo entre o EP e esse debut. André: Certo. Depois das gravações terminarem tivemos um compasso de espera pelos ficheiros de voz do JP e, quando eles chegaram, foi a nossa vez de ficar ocupadíssimos. Infelizmente ainda não é possível viver da música e, por vezes, a vida profissional acaba por atirar a nossa paixão para segundo plano. Acredito que tenham andado atrás de alguma editora para lançar o álbum. Como foi essa busca? André: Para falar a verdade não andámos (risos). Desde que decidimos entrar em estúdio que estavamos cientes que este ia ser um trabalho feito por nós e com o nosso investimento. Quando lançámos o EP sim, chegamos a enviá-lo para uma ou duas editoras. Com o álbum, depois de ter o trabalho final na mão o que mais nos preocupa é a distribuição, conseguir fazê-lo chegar a toda a gente. Para já começamos com a distribuição digital, agora procuramos distribuição do físico. Qual a importância que acredita que uma editora tenha nos dias de hoje? Nya: Havendo respeito pelos artistas a editora é sempre importante. Para uma banda como a nossa, que começa a dar os primeiros passos, a maior lacuna é a falta de contactos. Parte-se do princípio que a editora detém todos aqueles contactos importantes que podem ajudar na promoção de um trabalho. No nosso caso específico, o investimento foi nosso, nós temos de batalhar para conseguir ter algum retorno. Qual foi a coisa mais importante que aprenderam com a gravação do álbum? Nya: Acima de tudo que na próxima gravação temos de tirar umas férias. A pressão de largar um dia de trabalho e estar quatro horas no estúdio e levantar cedo para trabalhar no dia seguinte, não é algo que queiramos repetir. Nós não nos consideramos apaixonados pelo estúdio, o que gostamos mesmo de fazer é tocar ao vivo, mas é um mal necessário. Contudo, penso que o futuro passa por termos o nosso próprio estúdio, nós queremos experimentar outras coisas e conseguir sempre mais do som de Kandia. Temos a certeza que o próximo álbum irá manter o que nos caracteriza mas irá explorar outras sonoridades. O Kandia é Nya na voz e letras e André na composição e guitarra. Sei que tem outros elementos ao vivo. Nunca tencionam ter uma formação “completa” a full-time?

Nya: Nós consideramos que temos uma formação completa, a questão é que eu e o André temos uma enorme cumplicidade. O facto de vivermos juntos faz com que a música nasça em qualquer altura. A vida não nos permite passar horas infinitas a compor com toda a gente na sala de ensaio, no entanto não quer dizer que os músicos não possam dar opiniões ou colocar a sua marca nos temas. Eles são parte de Kandia, sem sombra de dúvida. Antes de serem músicos são nossos amigos mas, para já, no que toca à composição, não conseguimos imaginar as coisas doutra forma. Como aconteceu o convite de JP Leppäluoto do Charon para cantar na música “Reflections”? André: O tema foi composto para ser um dueto, a questão que se colocava era quem poderia cantar nele. O JP além de ser uma das melhores vozes masculinas que conhecemos, é uma pessoa extremamente acessível. Achamos que ele poderia encaixar bem com a voz da Nya e o facto de ele ser vocalista de uma das nossas bandas favoritas foi um bônus. Fizemos o convite, ele gostou do tema e aceitou participar. Ficamos muito felizes. O álbum traz um “remake” da música “Rise” que foi escolhida pelos fãs. Como tem reagido os vossos fãs em relação ao novo material até agora? André: Os fãs ainda não conseguiram ouvir muito do que vem por aí, mas regra geral os comentários que temos tido são de que o álbum parece ser mais pesado que o EP. Eu não sei se é mais pesado, acho que está mais maduro. No álbum tivemos mais tempo para trabalhar com nuances electrónicas e a “Rise” acabou por ser a cobaia! Já há algumas pessoas que afirmam gostar mais desta versão, incluindo os nossos músicos. Ter o Daniel Cardoso como baterista (ao vivo) com certeza é uma mais-valia. Como o fato de um dos membros da banda ser produtor afecta o desenvolvimento dos trabalhos? André: Como disse anteriormente, conosco as coisas não acontecem como numa banda “normal”. A pré-produção dos temas é feita em casa, nós gravamos todos os intrumentos e depois enviamos com as respectivas pautas, por isso quando entramos na sala de ensaio as músicas já estão prontas a ser tocadas. Tudo o que possa ser ligeiramente alterado acontece em estúdio. Quando ele grava a bateria dá o seu toque pessoal, assim como no piano. Temos bons músicos conosco dedicam-se ao projecto tanto quanto nós, isso é sem dúvida uma maisvalia!

Após o lançamento do álbum, a banda já tem planos? Concertos, vídeo clip... André: Nós fazemos planos todos os dias, agora é preciso colocá-los em prática. Tocar ao vivo é o nosso maior objetivo. Com o EP não conseguimos saír de Portugal mas, com o álbum essa é a nossa maior ambição. Quanto ao vídeo, gostávamos imenso mas, mais uma vez o investimento é nosso. Temos de ver como corre a promoção do álbum para saber se vale a pena. O JP já se mostrou disponível, por isso é um desejo que está bem presente e que gostavamos de realizar. Matheus Moura

[8] Kandia

Inward Beauty | Outward Reflection Independente

Os pouco mais de 2 anos de existência do Kandia foram extremamente bem aproveitados, sendo que ao ouvir o álbum de estreia, “Inward Beauty | Outward Reflection”, fica difícil acreditar que tem tão pouco tempo de estrada. O EP “Light”, de 2008, já dava sinais do prodígio do duo André e Nya, e esse registro só vem confirmar as expectativas. As 11 faixas apresentam uma evolução natural dentro do que já tinham apresentado, dado que seguem pelo mesmo caminho. Um caminho onde o Rock melódico é permeado por sombras góticas, e onde os riffs metálicos andam de mãos dadas com a fascinantre voz de Nya. Desse “casamento” nasce a beleza interior de “Inward Beauty | Outward Reflection”. Beleza essa que se encontra também na produção de Daniel Cardoso (que assume as baquetas na banda) e no artwork de alta qualidade. A faixa “Reflection” destaca-se das demais pela presença de JP Leppäluoto, vocalista da banda finlandesa Charon, que protaginiza um belo dueto com Nya. Nas demais músicas, o Kandia mostra o seu apurado sentido melódico e maturidade. Além do material inédito, revisitam “Rise”, do EP “Light”, que ganha aqui uma nova roupagem. Em suma, esse álbum expõe todo o potencial do Kandia como uma banda capaz de alçar vôos mais altos e arrebanhar um maior número de seguidores. Matheus Moura

www.myspace.com/kandiamusic

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Foto: Jake De Golish

entrevista

Fúria finlandesa Com integrantes na casa dos 20 anos de idade, um contrato com uma gravadora, uma turnê programada e um sonho na bagagem, os jovens nórdicos da Circle of Contempt embarcam no mundo da música. Em entrevista à HORNSUP, o guitarrista Risto nos traz detalhes de todo o processo, desde a composição do debut, até os shows no calor californiano.

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primeira coisa que me dei conta é que vocês são finlandeses. Agora que assinaram contrato com um selo americano, estão realizando turnês nos Estados Unidos. Como foi esse processo desde que a gravadora Sumerian assinou com vocês e o que mudou em suas vidas desde então? Depois que a Sumerian assinou com a gente nós começamos a trabalhar em nosso álbum de estreia. Levou-nos mais ou menos oito meses para completar todo o processo de composição e gravação. Gravar um álbum foi muito mais trabalhoso e difícil do que nós pensávamos, e rapidamente começaram

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a surgir coisas inesperadas. Felizmente está tudo certo agora e estamos muito felizes com o resultado final. Após o lançamento de nosso álbum, o “Artifacts In Motion”, nós realizamos uma turnê nos EUA com Winds Of Plague, Stick To Your Guns, Sleeping Giant e Oceano. Nós estamos realizando mais turnês em solo americano agora, e esperamos que nós possamos tocar na Europa, Austrália e outras partes do mundo ainda esse ano. Assinar com a Sumerian mudou radicalmente as nossas vidas. Nós cancelamos, de uma certa forma, outros planos que tínhamos na vida, para agora nos dedicar 110% à Circle of Contempt.

Um ponto interessante é a idade dos integrantes. É uma grande responsabilidade em tão pouco tempo de vida, não é? Como vocês lidam com a questão da idade: como um problema ou uma vantagem? Até o momento não tem havido problemas como a nossa baixa idade. Um monte de bandas que estão fazendo turnê com a gente também são novos, então dá tudo certo. A única coisa que é meio chata é a idade legal para consumir álcool nos Estados Unidos, que é 21. Nós precisamos tomar bastante cuidado com isso. Nós todos estamos fazendo 21 esse ano, então finalmente isso irá mudar.


determinada temática. Depois que todas as músicas estavam prontas nós começamos a procurar por uma capa que realmente simbolizasse o álbum como ele realmente é. Eu acredito que encontramos a figura perfeita para ele. De certa forma a capa dele leva as músicas para um outro nível quando você as ouve e observa a figura, ao mesmo tempo em que sabe todas as letras.

gente. Iremos tentar fazer turnês cada vez maiores. Nós lançamos o nosso álbum tem pouco tempo, então o que temos que fazer é realizar o maior número possível de turnês e promover o álbum o máximo que pudermos. Eu acho que existe um grande público para o tipo de som que fazemos, então, esperamos que as pessoas comecem a descobrir o nosso trabalho.

Você mencionou ter realizado uma turnê com Winds of Plague, Sleeping Giant, Stick to Your Guns e Oceano. Ficou feliz com o amor californiano (California Love Tour)? (risos) Nós amamos com toda a certeza. Foi a nossa primeira turnê e considerando que foi nos Estados Unidos nós tivemos um pouco de problemas durante o caminho, mas como um todo foi uma excelente experiência. Todas as bandas foram bem legais com a gente, ainda que nós tenhamos lutado contra o nosso inglês, etc. Nós fomos mais ou menos os bebês daquela turnê, todos queriam cuidar da gente. Nós vimos uma parte grande dos Estados Unidos e um pequeno trecho do Canadá. A Califórnia é, de longe, o melhor lugar do mundo, e por esse motivo eu tatuei “California Love” no meu punho quando a turnê acabou.

Você sabe, nós somos uma revista brasileira/ portuguesa. Então, quais os seus conhecimentos em relação aos dois países? Há planos de tocar em algum deles? Tenho que admitir que seja pouco o que sei. Nós nunca estivemos em nenhum dos dois países, mas gostaríamos muito de ir algum dia. Até agora não ouvi nada que pudéssemos fazer turnês no Brasil ou em Portugal. Não vejo isso como uma impossibilidade, mas tenho certeza que levará um tempo para que possamos chegar em um dos dois locais. Igor Lemos

Se me permites dizer, o som da banda é mais ou menos um Death Metal com alguns elementos do Metal Progressivo, correto? Então, por quais bandas vocês possuem influência: a turma old school ou da cena atual? Hum... eu não penso que a banda possui algo do Death Metal. Nenhum de nós sequer ouvimos Death Metal. Progressivo com groove e Metal Melódico é o que podemos considerar, se é que necessita colocarmos um rótulo. Nós ouvimos a todos os tipos de coisa quando estávamos escrevendo o álbum. Algumas coisas épicas como Hammock e outras realmente agressivas como Meshuggah. Eu sou um grande fã de Animals As Leaders e Periphery, então essas seriam as “agora tocando” enquanto estávamos compondo. Nós nunca fomos grandes fãs do Metal Old School. Não digo com isso que seja ruim, mas nós crescemos ouvindo bandas do Metal moderno e sempre procurando coisas novas para ouvir.

Eu ouvi o novo álbum da banda, o “Artifacts In Motion”, e gostei bastante. Como se deu todo o processo de composição que você citou anteriormente? Riku (vocalista) e eu escrevemos todas as músicas para o novo álbum. O processo de composição foi até rápido, visto que em três meses estava tudo pronto. A divisão de trabalho ficou clara desde a primeira até a última nota. Eu escrevi grande parte dos riffs e Riku fez as partes melódicas, arranjos, etc. Nós trabalho próximos com cada música, então nós ficamos bastante satisfeitos com o resultado final. Qual o significado por trás da bela capa do álbum, e quais são os temas e conceitos por trás do mesmo? As letras do álbum, de forma geral, são sobre o mundo chegando ao fim e as pessoas pagando os seus débitos com a mãe natureza. Nós não o consideramos um álbum com

Como está a cena do Metal na Finlândia no momento? As coisas vão bem? Deve estar crescendo, mas ainda está muito pequena comparando com os Estados Unidos e Europa. Parte disso é que é muito difícil fazer turnês visto que ninguém vai aos shows em dia de semana e a Finlândia é, de certa forma, isolada do resto da Europa, o que aumenta bastante os custos para fazer turnês. Ainda há um problema com a mídia musical finlandesa, pois eles preferem ficar seguindo as mesmas bandas e não procurando trazer à tona as bandas mais novas. Absolutamente ninguém na Finlândia sabia que nós estávamos indo realizar uma turnê completa nos Estados Unidos. Não quero ser chato falando isso tudo, mas é simplesmente como as coisas são. Bom, agora que vocês possuem um álbum e estão fazendo turnês, qual o próximo passo na carreira da banda? Tentar fazer com que todos saibam quem nós somos, expandir nosso nome. Nós ainda somos uma banda nova para muita

[8] Circle of Contempt Artifacts in Motion Sumerian

Da terra do Black Metal e do Folk, os finlandeses do Circle of Contempt acabaram de conseguir o primeiro contrato com uma gravadora: a Sumerian. O momento foi esperado com certa ansiedade pelos integrantes, visto que apenas em 2009 finalizaram o colégio. Pois é, são realmente novos, com idade média de 19 anos. Porém, quem disse que isso é uma variável negativa? Praticando um misto de Death Metal Melódico “sueco” , Metalcore, Metal Progressivo e qualquer outra coisa “core” contemporânea, “Artifacts in Motion” é uma grata surpresa. Com apenas quatro membros, .De fato, estes caras conseguiram elaborar um som pesado, recheado de passagens rápidas, complexas, bem feitas e sem espaço para frescuras. O vocalista grita o esperado para uma gravadora de médio porte. Não é o melhor do mundo, mas desempenha muito bem sua função. Bom, vamos falar do álbum. Com uma arte de capa muito bonita, qualquer um começa a notar que há um certo ar de virtuosismo no ar. Bom, não sei se você consegue ligar uma coisa com a outra, mas comecei a pegar prática nisso. Já as faixas são perfeitas. Seguem cada detalhe de forma obsessiva, ou seja, um som que parece formar um universal quebra-cabeça. A gravação está de altíssimo nível também, ou você acha que alguém iria sair da Finlândia para viver nos Estados Unidos de graça? Há certos mestres que estão incentivando o grupo a crescer cada vez mais, isso é claro. Não posso destacar uma faixa, pois iria desmerecer outras. Como dito, elas formam uma gestalt. Se você estava esperando um nome que salvasse seu início de ano, pode anotar: Circle of Contempt. Igor lemos

www.myspace.com/circleofcontempt

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Foto: Ethi Arcanjo

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Evolução sem medidas Em entrevista à HORNSUP, o vocalista da banda My Fair Lady, Samuel Alcântara, nos fala sobre a origem do nome do grupo, trabalhos lançados e os que virão, as dificuldades de ser uma banda de Metal do Ceará, frustrações e o crescimento do conjunto.

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nome da banda tem referência direta ao musical da Broadway dos anos 60, chamado My Fair Lady. Gostaria que você falasse sobre a representação que esse nome possui para simbolizar a banda. My Fair Lady é um dos mais famosos musicais da Broadway, a ideia do filme que foi extraída e usada como referencial foi a história de mudança e transformação que é uma temática subjetiva do musical, já que se trata de uma história romântica clássica. Essa “mudança” pode ser encontrada nas nossas letras e na temática da banda que fala de dualismo e de conflitos, mas com um ar de mudança pessoal. Quando tivemos a ideia de montar a banda estávamos procurando um nome que soasse bem aos nossos ouvidos e, por coincidência, eu tinha visto, recentemente, o musical My Fair Lady, e esse nome teve uma significância imediata com o projeto musical em que minhas ideias se encontravam.

pretendem lançar um novo EP. Como você analisa o processo de ascensão sonora do grupo entre os dois trabalhos? A evolução do grupo é natural dentro da proposta da banda de buscar a sua identidade musical. Procuramos evoluir para nos tornarmos mais que o produto das nossas influências e não apenas com algo que seja parecido com elas.

O primeiro EP lançado, o “My Fair Lady”, foi uma grata surpresa. Agora, em 2010, vocês

Vocês já divulgaram a arte gráfica do próximo EP, que inclusive possui uma belíssima capa,

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Quais são as temáticas abordadas nas músicas do My Fair Lady e qual a razão de terem escolhido o idioma inglês para disseminar suas palavras? Como já havia dito, falamos em nossas músicas sobre a subjetividade, o dualismo e os conflitos do homem, e a palavra chave é mudança. O inglês foi escolhido pela facilidade que o idioma nos proporciona para compor, e o acesso, já que é o idioma mais falado no mundo.

me lembrando até o trabalho mais recente do The Human Abstract. Bom, quem fez esse desenho? Além disso, questiono se há uma relação indireta entre a arte gráfica de vocês e do The Human Abstract. Toda nossa arte gráfica é desenvolvida pelo Carlos Barbosa da Artside Digital Artwork. A cada trabalho que desenvolvemos, ele consegue passar exatamente o que gostaríamos de expressar. Ele é, sem dúvidas, um dos melhores que trabalham com bandas no mundo inteiro. Quanto ao The Human Abstract, não há nenhuma ligação entre nossa arte e a deles, que inclusive também é um trabalho belíssimo. Como uma banda do Nordeste, sempre há dificuldades em divulgar o som pelo Brasil. Apenas recentemente essa barreira regional vem sendo quebrada. Ainda assim, como você avalia a cena do Metal no Ceará e os métodos para propagar o seu som pelo resto do país? É, ser uma banda de Metal no Nordeste não é fácil, as coisas vem melhorando bastante,


[8] My Fair Lady My Fair Lady Empire

mas ainda estão longe do ideal. Já há algum tempo a cena Metal cearense vem evoluindo, com a criação de eventos e casas de shows especializadas no estilo. A Associação Cearense de Rock (ACR) é uma das responsáveis por essa melhoria, procurando sempre unir e trabalhar para a melhoria das bandas, subindo o nível do metal produzido no nosso estado. Com a internet, a divulgação não tem mais fronteiras, é muito fácil expor seu som ao redor do mundo através de ferramentas como o Myspace, por exemplo. Nós do My Fair Lady usamos essa estratégia para promover nossa música disponibilizando-a na internet. Em 2009 vocês seriam a banda de abertura no show do Ill Niño no Ceará. Como foi que aconteceu todo esse processo, desde o convite para abrir até o cancelamento um dia antes do show? Essa eu posso dizer que foi a nossa grande frustração. Estávamos muito empolgados com essa apresentação, e o cancelamento com menos de 24h do show foi “tenso”. A empresa responsável pelo show em Fortaleza, a Empire Records, está trabalhando como nosso selo de distribuição, e mandou o nosso som para avaliação da produção do Ill Niño, eles gostaram e então entramos como banda de abertura. Até hoje não entendemos o porquê do cancelamento, a venda de ingressos estava fraca, porém, superou a maioria das cidades que eles se apresentaram. O Ill Niño divulgou no myspace apenas que cancelou o show por motivos de força maior, sem maiores esclarecimentos.

Qual a opinião que a banda possui em relação ao download ilegal de músicas? Se vocês fossem contratados, por exemplo, por uma gravadora americana, mudariam o posicionamento diante desta prática? Esse é um assunto delicado e controverso, somos contra o download ilegal por ser ilegal, porém, somos totalmente a favor da disponibilização das músicas da internet. Quem é fã realmente da banda irá comprar o disco, independente de ter baixado ou não. Acho que deveríamos dar a opção de escolha aos ouvintes, já que a proposta de mercado hoje em dia é outra. As bandas ganham dinheiro com venda de “merchan” e com shows. Não mudaria meu posicionamento diante disso mesmo tendo que seguir as regras de uma gravadora grande, que é o que eu espero que aconteça. Quais são os planos do grupo para 2010? Nós acabamos de lançar nosso clipe na internet, que fará parte do nosso próximo EP. Em 2010 vamos focar no lançamento do nosso próximo trabalho, e procurar atingir o maior público possível. Uma turnê pelos estados das regiões Sul e Sudeste também estão nos nossos planos. O My Fair Lady gostaria de agradecer a todos que estão nos apoiando nessa caminhada, e para quem ainda não nos conhece, fica o convite para visitar o nosso myspace, conferir o nosso primeiro EP e acompanhar as novidades e as novas músicas que serão disponibilizadas ainda esse ano. Igor Lemos

O debut self-titled da My Fair Lady trouxe um aspecto bem curioso. Cada vez que dou play nele há algo novo, e percebo qualidades instrumentais e vocais que não havia me tocado anteriormente. De fato, este grupo cearense abusa no virtuosismo em vários momentos, trazendo ao amante do Death Metal Melódico/Metalcore uma experiência de primeira. Vou começar pelos aspectos negativos, para depois me prender aos positivos. O primeiro tópico que pecaram se refere ao tempo do EP, que dura apenas pouco mais de 14 minutos, sem contar que a primeira faixa, “Cradle of a Lifetime” é uma puta - introdução. O segundo e último ponto é a gravação que, vez por outra, mostra-se crua, distorcendo um pouco o excelente trabalho que fizeram. Mas não se assuste, pois isso não será nenhum problema. Críticas feitas, passemos ao que tem de bom, que é muita coisa. Cada integrante mostrou-se competente em seu trabalho, desde o belo uso dos teclados e sintetizadores por Victor Catrib, que deu um outro ar à sonoridade, passando pelas linhas de cordas, até chegar à precisão de Rodrigo Gomes na bateria e, talvez o grande destaque da banda, que são os gritos de Samuel Alcântara, me lembrando em muito In Flames. “Collapse of Closed Minds”, segunda faixa do EP, traz tudo isso que foi falado, além de um refrão melódico muito bom. “Untold Bloodshed” mostra sua cara com riffs e um solo cativante. Méritos para os guitarristas Artur Alcântara e Felipe Faco. “The Brightside of Darkness” já começa com breaks e gritos muito bem postos, além de uma senhora gordura no baixo do Victor Sampaio (Cubano) que, além do peso extra, realiza interessantes linhas em seu instrumento. Ao finalizar a audição, você poderá ficar puto com duas coisas: eles não estão tocando em sua cidade e, segundo, acaba rápido o EP. Esse foi apenas o primeiro passo dos caras, ainda há mais por vir. Aguardaremos pacientemente. Igor Lemos

www.myspace.com/myfairladymetal

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resenhas

des destaque staque

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Converge Axe to Fall Epitaph

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São poucas bandas que desfrutam de um status tão imaculado quanto o Converge. Sua credibilidade reside no fanatismo e no culto que geraram ao seu redor e no admirável primor de seus discos. Desde sua primeira descarga caótica, que atende pelo nome de “Jane Doe”, o Converge já demonstrou que não era “mais uma banda”. O registro criou uma empatia fantástica com seus ouvintes, que passaram a aguardar cada novo lançamento com ansiedade. “Axe to Fall”, o novo álbum, não faz por menos e preserva a originalidade e qualidade habitual. A exemplo dos álbuns anteriores, não há repetições. Não usam da mesma fórmula. Seguem em frente e se revelam mais cristalinos e progressivos do que nunca. A podridão densa é expressa de uma forma mais acessível, menos caótica, entretanto, rica em complexidade e ambientação. Uma beleza macabra que explode na fúria de “Axe to Fall” e repousa na letargia introspectiva de “Wretched World”. Kurt Ballou faz hipnose com sua guitarra como constatado no riff excelente da arrastada marretada Sludge “Worms Will Feed”. O álbum passeia por vários ambientes com uma grande variação de intensidade sem nunca se perder pelo caminho. É espantosa a capacidade de adaptação, pois conseguem fazer com que uma faixa brutal, como “Dark Horse”, possa conjugar espaço no mesmo disco com a quase “tomwaitiana” “Cruel Bloom”, sem causar nenhuma estranheza ao ouvinte, pelo contrário, tudo faz o mais perfeito sentido. Mais uma vez, o Converge mostra excelência na arte de criar música perturbadora e sensitiva. Matheus Moura


[6] Nervecell Preaching Venom Lifeforce

Mesmo vindos de um país onde o Metal não é tradicionalmente difundido, o Nevercell é uma banda que mostra intimidade com a “bagaça”. Vindos diretamente da cena (?) Metal de Dubai, nos Emirados Arabes Unidos, podemos dizer que “Preaching Venom” é um debut full-length que mostra que tem muito mais que petróleo do país dos “sheiks”. Formado em 2000, a história fonográfica do Nevercell é composta pela Demo “Vastlands of Abomination”, pelo EP “Human Chaos”, sem falar no trampo atual que é o que está em pauta. O registro tem volume e conteúdo seja nos riffs consistentes, seja na cozinha que não deixa a locomotiva descarrilhar ou seja na composições que mesmo sem ter o brilho dos grandes sucessos conseguem ser sóbrias. A banda segue um estilo na linha do Death Metal Europeu e lembra grandes nomes do estilo. Destaque para as faixas “Flesh & Memories”, “Beyond Our Sins” e “Vastlands Of Abomination”. Mesmo se você seja um entusiasta de novos talentos, ouça esse registro sem muita expectativa, isso vai tornando a audição um pouco mais atraente com o passar das faixas. Odilon Herculano

[8] Clamus Frontière Independente

Formada em 1999 no Ceará, a banda brasileira de Thrash/Death Metal Clamus apresenta seu segundo álbum, “Frontière”, lançado de maneira independente – e aí está o primeiro grande atrativo do álbum: a qualidade geral para um álbum independente está bem acima da média. Desde a apresentação do álbum, passando pela parte gráfica desenhada por Wellington de Oliveira, a produção musical de Fabrício Carvalho, a inclusão do vídeo da música “Pétrea” (sabiamente escolhida como música de trabalho, pois é um dos pontos altos do álbum) e as composições mostram um resultado muito coeso e surpreendente. Outro diferencial interessante é a “globalização” da banda. As letras mudam do português para o inglês e o francês (!?) sem causar nenhuma estranheza ao ouvinte. E eu praticamente não sei nenhuma palavra em francês, por exemplo. Os vocais são alternados entre os guitarristas Lucas Gurgel e Joaquim Cardoso e o baixista Felipe Ferreira, cada qual em seu estilo particular, mas todos com a mesma proposta agressiva – não importando o idioma usado. Vale destacar também o excelente trabalho do baterista Clerton Holanda, que dá a dose de peso certa ao trabalho. Com toda essa diversidade, me surpreendeu também o fato de nada ficar exagerado ou “caricato”, pelo contrário: as músicas vão te envolvendo no clima do álbum. Músicas como “Pétrea”, “Abstratas Demandas”, “Entr’acte”, “Irruption”, “La Frontière” e a porrada “Mid-Term” já deixam com vontade

de conhecer mais da banda, e ansioso por vê-los ao vivo. Imagino a dificuldade de uma banda oriunda do Ceará de conseguir fazer um trabalho com tamanha qualidade em um país onde até mesmo nos grandes polos, como São Paulo e Rio de Janeiro, isso é muito difícil. Uma pena não termos gravadoras no país que possam investir em recursos para bandas excelentes como o Clamus, que mostra que tem muito a oferecer para a cena nacional. Luigi “Lula” Paolo

[7] The Mercury Arc Paint The Sun Black Hellfest

Mais uma banda que se diz “única” no meio de tantos grupos no gênero do Metal. Bom, quem é original não precisa de uma afirmação clichê dessas. De qualquer forma, Mercury Arc também não é obstinado pela mesmice, apesar de beber (e muito) de fontes como Soilwork, In Flames, Caliban e outros nomes do Metal europeu. “Paint The Sun Black” é uma pancadaria que envolve riffs pesados, sinfonias e muitas, mas muitas melodias nos vocais. Dennis Diehl, o responsável por esse posto, sabe o que está fazendo a cada instante, por mais que esteja enquadrado em melodias padrão do tipo radiofriendly. Algo bem esperado pela gravadora Universal. Porém, não pense que o instrumental, que tem como time Benny Richter, Thomas Helten, Dominic Paraskevopoulos, Andy Posdziech e Andy Latzko, deixará você entediado com composições previsíveis. Como exemplo, “Kings Of Kingdom Gone” é uma das músicas que mais venho ouvindo ultimamente. Grudou e não quer sair de forma alguma. Os breakdowns, as linhas de guitarra e, principalmente, o refrão melódico, ficaram formidáveis. A faixatítulo, “Paint The Sun Black”, também traz uma porrada de primeira, com merecido destaque. Há muitos momentos altos no álbum, não há duvidas, incluindo a balada “My Silent Call”. Mas ainda falta algo. Aquele sabor especial que faz alguém ficar vidrado em uma determinada banda. Acredito que aqui está um grupo que me deixou uma sensação de que podem lapidar sua sonoridade para algo mais autêntico. Algumas coisas já estão mudando, como o nome da banda (antes se chamava Butterfly Coma), a entrada de um guitarrista, um álbum de expressão em um grande selo, suporte em turnês de médio e grande porte, etc. Vamos esperar para ver se serão apenas uma sombra de outros nomes, ou serão influenciadores. Façam suas apostas. Igor Lemos

[8] Sangue Inocente Convicção: Dignidade, Respeito e Honra Independente

Como é bom ver (e ouvir) sobreviventes da música pesada em nosso pais. Com tão poucos representantes e com algumas bandas de qualidade duvidosa, é quase como um alívio quando ouvimos algo relevante. A violência no som do Sangue Inocente deixa claro do que

[8] The Arusha Accord The Echo Verse

A Wolf At Your Door

Com apenas EPs lançados até o momento, The Arusha Accord é um nome certamente desconhecido para muitos leitores da HORNSUP. Infelizmente, nem tudo o que é bom é divulgado com a devida necessidade. Há tantos lixos sonoros ambulantes que fica difícil saber em qual banda arriscar seu palpite. Mas, se você é do seleto time que já conhece o trabalho destes ingleses, sinta-se como um grande sortudo. Aos que ainda não assimilaram o nome do grupo, eis o momento certo para se debruçar diante do mundo de sons que o debut “The Echo Verse” possibilita a qualquer mortal. Alguns podem rotulá-los de Post-Hardcore, outros de Mathcore. Não importa. O que realmente vale a pena é ficar assustado com as composições criadas pelo sexteto: imprevisíveis. Bom, algo esperado no Mathcore, eu concordo. Mas me diga quantos nomes você conhece que desempenham com maestria o gênero? Se ainda assim você conhecer muitos conjuntos, aposto que ficará surpreso e feliz com o trabalho da The Arusha Accord. Digo isso com grande certeza, pois desde as faixas “Dead To Me” e “The Resurgent”, com suas belas passagens melódicas nos vocais, aos complexos arranjos de “The Tightrope”, às hipnóticas passagens na faixa-título e a violência em “You Cried Wolf ”, você ficará preso e curioso ao que estar por vir a cada segundo. A forma dinâmica de tocar é um dos pontos que mais me chamou a atenção. Não há dúvidas que pode ser uma grande opção para aqueles que procuram por um som respeitável e que merece toda a admiração. Indicado aos fãs de Protest The Hero, das finadas The Number Twelve Looks Like You e Sikth ou qualquer outra banda que tenha traços caóticos e progressivos. Aconselho ouvir no volume máximo a cada detalhe brutal e calmo nesse banho de criatividade. Igor Lemos

estamos falando aqui. Hardcore, sim, simples e objetivamente Hardcore. Para o disco a banda ainda contou com o reforço do baterista Fernandão Schaefer que já tocou com Korzus e Rodox. “Convicção” é uma pancada atrás da outra. Facilmente comparável com Terror e Hatebreed mas com o objetivo de trazer o Hardcore para os problemas e a realidade da sociedade brasileira. E o Sangue Inocente cumpre bem o seu papel, faixas como a “abre-alas” “Traição” e a faixa seguinte, “Sangue nos olhos” mostram bem esse lado. A faixa “Convicção” mostra toda a reputação que Fernandão conseguiu enquanto baterista: trabalha com a sua velocidade, com bumbo duplo cadenciado e com mudanças intermináveis no tempo da música. A linha de guitarras não fica para trás, pois trazem a brutalidade do Hardcore em faixas como “Ossos Secos” e guitarras dobradas e uma rítmica avassaladora em “Guerra”. Apesar de curto o álbum mostra uma maturidade muito boa ao Sangue Inocente. Por se tratar de uma produção independente, é de uma produção invejável e te faz querer ouvir por diversas vezes seguidas. Guilherme P. Santos hornsup #11

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resenhas [8] Device Behold Darkness Death Toll

Das planícies em que a corja política reina, surge o Device com “Behold Darkness”, EP de bom gosto. Encontraram uma solução que mescla design e praticidade, a mídia traz um diferencial, tornando-a um objeto de colecionador. Mas não é só no quesito design que a banda se destaca. O som é bem produzido. Uma mescla perfeita de Death, Thrash e Grind. Pegada rasteira. Sonoridade tradicional em todas as faixas mas repleta das informações sonoras atuais. “Primatemaia disseminata” dá a abertura numa introdução minimal e suave. “Possessed” desemboca numa caótica melodia com vocal gutural e backing vocals screamers. “Soul of Maggots” inicia com a frase clássica de Karl Marx: A religião é o ópio do povo. Atestando mais uma vez que o Metal não é um reduto de acéfalos radicais. Temos nessa um belo momento de peso, pratos bem aplicados dando um brilho todo especial. “Kill You” vem com uma pegada Thrash, logo após transmuta-se em Death Metal. Louve o psicopata que há em você no talo. “Verme” é um verdadeiro libelo herege. O refrão gruda no miolo e fica o dia inteiro. Belas passagens de domínio técnico. Lembrando que vocais em português são raros no Metal nacional. Essa faixa ficou excelente. Mais um fato interessante. O EP faz parte da trilha sonora de um filme “A capital dos Mortos”, primeiro longa metragem nacional no gênero zumbi/mortos vivos. Trilha sonora perfeita para uma “sessão da tarde” headbanger. “Behold Darkness” é um ótimo ensaio para um álbum poderoso e consistente. João Nascimento

[6] Kilø Front Kick Maximum Douglas

Em uma mistura de Hardcore, Sludge Metal e até um pouco do ambiente New Metal, os franceses do Kilø anunciaram um novo chute nos ouvidos. Chute esse, entretanto, não tão preciso quanto parece, já que apesar de coeso, “Front Kick” transmite uma idéia de ter sido feito às pressas. Esse sensação de simplicidade é transmitida logo no início pela faixa “Frantic”, que junto às duas conseguintes “Golgoth 666” e “Groy”, fecham a introdução pesada do álbum. As três primeiras músicas conseguem fazer uma boa mistura de guitarras com distorções pesadas, vocais gulturais e uma bateria que aparentemente não se encaixa ao contexto, mas que simplesmente dá certo. Um som muito semelhante ao Baroness, entretanto, longe de possuir técnica musical semelhante. Da quarta canção em diante, o cenário muda completamente. “Slow”, obviamente, demonstra que o ritmo está prestes a ficar mais lento, lembrando muito o já falecido Soundgarden. O cenário agora se transforma em psicodelia, embora tudo ainda seja bastante amador. Mas amador não em um mau sentido, já que “Place” e

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“Helmless” apesar de serem extremamente simples, são até divertidas. Nas duas faixas em questão a linha do baixo é o que chama a atenção. Não apenas por ser explícita, mas pelo fato de ser bastante fora do contexto, já que o baixista usa uma distorção que deixa o seu instrumento com um som bastante metálico e fora da moldura. Apesar de não ser exatamente um clássico ou uma referência para o estilo, “Front Kick” consegue ser um álbum simpático, principalmente pelas boas últimas três músicas. Kilø, entretanto, precisa urgentemente definir o perfil musical, e o meu conselho é apostar em um gênero mais lento como visto na segunda parte dos ínfimos vinte e sete minutos de duração do álbum. Não se esquecendo também de aprimorar a técnica dos integrantes. Uma banda que fica apenas com expectativas para o futuro. Ítalo Lemos

[5] Angmar Zurueck in di Unterwelt Ketzer

Numa pesquisa rápida mostra-se que há várias bandas com o nome Angmar. Todo mundo querendo homenagear Tolkien, mas neste caso estamos falando de um trio de Normandia, França. Com um título em alemão (por quê em alemão?), que em português significa algo como “Volta ao Submundo”, podendo ser uma relação ao fato deste ser o segundo álbum da banda (que debutou em 2006 com “Metamorphosis”) e também à sensação que o ouvinte terá ou se submeter à sua música. Os primeiros acordes da faixa-título me encheram de esperança por algo muito trampado. Já ciente da duração do álbum (68 minutos em apenas sete músicas), a idéia do Black Metal misturado com dedilhados, cativantes partes lentas e muito bom gosto me animou. Depois de quase três minutos o vocal rasgadíssimo entra, tornando-se algo belo e assustador. Então a devastação se inicia, permeando pelos 12 minutos da faixa. Ótimo começo, mas anseio por mais. “Stabat Mater” mantém a velocidade, mas começa a mostrar defeitos. Talvez pela produção sem tantos recursos, e/ou por vontade própria da banda, a bateria fica muito ao fundo, a batida na caixa é seca, os pedais duplos quase embolam. E são defeitos que continuarão por todo o álbum. Algo é fato: isso deixa o som ainda mais caótico, o que deve fazer parte das pretensões do grupo. “Perdition” se inicia. A faixa por mim mais aguardada. Afinal, por seus 20 minutos, espera-se enorme inspiração. Será épica ou tediosa? Mais uma vez elementos de Ambient Black consomem os minutos iniciais. O Metal desesperado demora pra dar as caras, mas é inevitável. Então o sofrimento cadenciado ditado pelos sufocantes vocais volta a aparecer. “Perdition” vai oscilando até seu final, sem trazer novos elementos. As variações terminam por aqui. Mesmo “Unborn of the Ancient Times” (de “apenas” dez minutos) tendo uma interessante primeira parte e “Asthénie” ter passagens que merecem atenção, o Black Metal ríspido, mas pouco efetivo, toma conta de todo o restante do álbum. Há momentos em que os instrumentos parecem ir a direções opostas (mais uma aposta em fazer um som caótico?). O baixo é um caso a parte. Praticamente inaudível como na maioria das bandas que não abrem mão do extremismo, em várias faixas ele cria linhas muito bem

executadas, distante da velocidade do restante dos outros instrumentos, mas que infelizmente é muito difícil de ser notado, e passará batido pelo ouvinte menos atento. Uma cozinha mais “na cara” teria sido muito benéfica ao Angmar, mas a produção foi toda voltada mesmo às guitarras “zumbido de abelha”. Esperava um som diferenciado do Angmar, mas eles mantém um Black Metal na linha de “Wolves In The Throne Room”, porém sem o poder dos americanos. É tido como boa aposta no underground. A aguardar. Por enquanto, só para fanáticos. André Pires

[1] Breakdown Time to Kill Unsilent

“De boa intenção o inferno está cheio”. Ditados populares à parte Breakdown decepciona no quesito estética e masterização. Fica difícil de entender como uma banda que se propõe executar um estilo que é destacado pelo primor técnico, não se preocupe em disponibilizar um material à altura de sua música. A gravação é tosca, repleta de agudos, sobras, como se tivesse feito nas pressas. Mais um ditado. “A pressa é inimiga da perfeição”. Por mais que o ouvinte se esforce, é um exercício penoso dedicar-se às faixas deste “Time to Kill”, que, ironia do destino, ainda traz o aviso de “não vende-se”, como se fosse possível a comercialização de um material tão indigno de nota. Breakdown é uma banda Thrash com pitadas de Speed Metal com ótimas influências. É bem executado mas a imperícia ou o desleixo não permite uma percepção mais aguçada. Nego-me a entrar em mais detalhes. Espero que a banda tenha aprendido que com esse tipo de material não se vai a lugar nenhum. Que paciência, esmero, e dedicação são trunfos que devem ser levados a sério e sempre lembrados. Mais um ditado. “Quem não come mel, quando come se lambuza”. No mais, para o alto e avante! João Nascimento

[8] Command6 Evolution? Independente

Há muito tempo não me surpreendo assim com uma banda. E foi indescritivel a sensação de quando ouvi Command 6 pela primeira vez. A banda não se prende a rótulos e passeia com facilidade por diversas variantes do Metal e do Hardcore, com uma autoridade e uma segurança que assusta. O disco “Evolution?” empolga do começo ao fim. Seja pelas excelentes e variadas linhas de vocal de Wash ou pelos riffs bem encaixados recheados de groove. “Before the Storm” faz as honras e abre o disco com um power chords violentos. “So hot” tem mais um groove e é uma das mais cadenciadas do disco, mostrando outra face da banda. “Broken Glass” é totalmente agressiva e Hardcore. Tudo isso aliado a uma excelente arte, muito bem feita, desenvolvido que nos admira por seu profissionalismo e dedicação. Com certeza Command 6 é uma banda para nos lembrarmos daqui alguns anos e conferir toda a sua evolução. Guilherme P. Santos


[6] We Came As Romans To Plant a Seed

Os destaques ficam por conta da faixa inicial, a homônima “Infected Nation” e a última faixa “Hundred Wrathful Deities” a viagem de 11:15m mas louca que você vai fazer. Esse é um trabalho para quem gosta do que é bom e não para crianças que brincam de ouvir Metal. Odilon Herculano

Equal Vision

[8] Oblique Rain October Dawn Major Label Industries

“To Plant a Seed” é um interessante debut de Post-Hardcore/Metalcore. Porém, isso é o máximo que posso dizer de positivo em relação ao material. O grupo de Michigan, Estados Unidos, We Came As Romans, abusa dos elementos mais batidos do gênero, que são os breakdowns, dissonâncias, melodias sem fim nos vocais, gritos enfurecidos e sintetizadores. Em suma, limitados sonoramente. Quando eu digo que é “interessante”, é por fazerem tudo isso muito bem feito. Logicamente as limitações dos conjuntos nestes gêneros há muito tempo já torraram minha paciência, por isso há uma necessidade de começar a dar um desconto. Então, passemos a uma breve análise do álbum. Com uma temática que tem como objetivo divulgar pontos positivos do ser humano, “To Plant a Seed” representa, como diz o nome, uma semente plantada no coração de uma criança inocente e que, posteriormente, se espalha pelo seu corpo, até ir para suas palmas e formar galhos. Poético, não? Há alguns momentos que me fizeram viajar no som dos caras, como o uso de sintetizadores (mas não confundam com o que é feito de forma estúpida pelo Attack! Attack!). Para ouvintes atentos, irão lembrar até a fase mais antiga da The Devil Wears Prada. Não é um full-lenght hipnótico, mas pode prender a atenção dos fãs das citadas bandas. Se a sua praia é essa, vá sem medo. Apenas para não esquecer, o produtor do álbum esteve envolvido com as bandas que comentei, também. Daí as semelhanças terem ficado ainda mais manifestadas. Uma pena, pois possuem potencial para ir mais longe. Destaques: “Roads That Don’t End and Views That Never Cease” e “Beliefs”. Por favor, encerrem a preguiça de tentar algo novo! Igor Lemos

[7] Evile

Infected Nations Earache

Antes de ouvir “Infected Nations”, o novo trabalho do Evile, eu apenas via os caras como uma banda nova fazendo algo já batido de forma bem feita! Na verdade depois do novo álbum ainda continuo com a mesma opinião, só que com uma resalva de que eles tem um feeling próprio para dar vida às músicas e mesmo não sendo veteranos conseguem impor regularidade e equilíbrio nos seus trabalhos. É claro, como um dia de sol, a influência do Thrash/Death Metal oitentista no som dos caras. Para os mais nostálgicos soa parecido com Metallica das antigas, é claro (o fato da banda ter começado fazendo cover do Metallica não é mera coincidência). O som não é vertiginoso, mas é muito bem trabalhado. Em “Infected Nations”, os caras estampam em “letras garrafais”, porque não passam despecebidos na cena Metal mundial. De cabo a rabo, o registro não vai se arrastando e sim “macio e redondo”.

[6] Horncrowned

Casus Belli Antichristianus Ketzer

Terceiro full-lenght desta banda que, pasmem, vem de Bogotá, Colômbia. Ser de um país sem tradição em lançar bons nomes no cenário conta como um ponto positivo para o Horncrowned. Ponto este que é perdido com a artwork do disco. Ô capinha horrorosa! Não que seja mal desenhada (mais um trabalho do brasileiro Marcelo Vasco), mas é totalmente batida, clichê, infantil até. Um capetão usando cinto de bala é muito engraçado! Bem, tem quem leve a sério e combina com uma banda que define sua música como “Hyper Fast Church-Burning Black Metal”. Não espere neste “Casus Belli Antichristianus” muita variação, firulas, alternância de passagens, nada disso. É Black Metal extremo, reto e blasfêmico do começo ao fim. Até por isso mesmo, pouca faixas acabam se diferenciando. O álbum começa com uma introduçãozinha chata (e repetida no final do álbum), e, a partir daí, a máquina blasfêmica é ligada. A temática do álbum, bem, já dá pra imaginar. Ouve-se um Lúcifer aqui, um Satan ali, nada muito inspirado. A proposta é promover a exterminação cristã e ponto final. “Lucifer’s Flamethrower Horde (Thy Demonical Squad)” emana raiva e possui riffs de puro ódio. “Diabolical Indoctrination (Extermination Agility)” (por quê todas as músicas tem que ter um segundo nome entre parênteses?), tem uma interessantíssima passagem mas que logo é engolida pelo rolo compressor de repugnância à tudo o que é santificado. Mas, opa! “Point Zero (Concentrated Fire)” é devastadora, e seu riff permeia atiçando tua alma. Finalmente conseguiram me pegar! A segunda parte do disco mostra-se mais promissora, o que acaba não sendo verdade, pois “Anticlericalism (Absolute Evil Supremacy)” é totalmente sem inspiração, e o vocal correto, mas pouco variado de Demongoat começa a cansar. “Defeated Christ (Hellish Forces Deployment)” mantém um fraseado gélido por toda a faixa e também merece destaque. “Goat’s Troops Conquers (Ad infinitum)” finaliza o álbum sem deixar saudades. No geral “Casus Belli Antichristianus” tem músicas bem executadas pra quem gosta do estilo, então só é indicado para adoradores de Dark Funeral, Marduk antigo e curiosos em geral com um som extremo vindo dum país de pouca tradição em Metal. André Pires

[7] Collapse NR

The Messenger independente

Pedrada! Porrada direta e sem folga. Duas faixas impiedosas para os apreciadores de

“October Dawn” é o segundo álbum de estúdio da banda portuguesa Oblique Rain, que faz uma verdadeira mistura de gêneros, o que em alguns momentos chega a dar o ar de “já ouvi isso antes” – o que não atrapalha em absolutamente nada na apreciação desse ótimo álbum. Apesar das diversas passagens progressivas, senti uma forte influência de bandas como Katatonia e Opeth, como nas músicas “Spiral Dreams” e “Darker Woods”, mas você também encontra riffs e melodias pesadas como “Soul Circles” e a excelente “Reminiscence”. Ainda vale um destaque para a belíssima balada “Dawn”, que estranhamente não destoa do ambiente que o álbum cria. A banda se mostra durante todo o álbum incrivelmente versátil, e se você quiser mesmo encontrar paralelos, você vai encontrar diversas passagens que poderiam muito bem figurar em qualquer disco do Dream Theater ou do Porcupine Tree. Por isso talvez a sensação do “já ouvi isso antes” apareça diversas vezes, mas ao mesmo tempo, você sabe que não escutou nada disso antes, fazendo com que o Oblique Rain crie um estilo próprio e único. A produção do álbum está impecável, criando o clima melancólico e pesado, levando o ouvinte a uma viagem densa nesse universo musical criado pelo Oblique Rain. Uma banda que surpreende pelo seu pouco tempo de vida – a banda foi formada em 2004 – e mostra que o caminho será sempre surpreender. Luigi “Lula” Paolo

música extrema. Collapse NR na autoridade da experiência de quem tem mais de uma década de estrada presenteia-nos com o Promo-CD “The Messenger”. Uma faixa inédita que inicia-se como um convite ao caos sonoro técnico musical. “The Messenger”, repleta de velocidade e variações, nos assalta os ouvidos com uma entrada no mínimo destruidora. A letra anuncia o fim óbvio do gênero humano. Vítima da própria burrice. Massacra a religião, a política e a manipulação de informação implementada pelos governantes. Implora por vingança, enaltecendo a última chama de dignidade ainda sobrevivente na essência humana. “Dirties corruptions rites” repete a dose de acidez. Porém essa é uma faixa mais cadenciada, com variantes mais tradicionais. Belas harmônicas. A música que já era um belíssimo trabalho tornou-se melhor pois o que temos é uma significativa releitura. Velocidade, harmonia, peso, guturais bem aplicados, backing vocals no mesmo nível, baixo expressivo sem exageros, cozinha matadora. É incrível como o Brasil tem tantos exemplares de altíssimo nível no Metal em geral e ainda o “mercado” é algo tosco. Só à base de heroísmo pra manter-se na ativa. E o Collapse NR e tantas outras bandas são a prova cabal dessa força. Depois da audição exaustiva dessas faixas fica a ânsia de um full length no mesmo nível. João Nascimento

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resenhas [8] Dethklok The Dethalbum II Williams Street

Para todos aqueles que ouviram as músicas do Dethklok no desenho Metalocalypse da faixa “Adult Swin” do canal Cartoon Network, perceberam que metal e humor conseguem de alguma forma caminhar lado a lado. Quem ouviu o disco anterior “Dethalbum” teve agradáveis surpresas em perceber que por trás de todo o humor do desenho, havia toda a qualidade de uma banda. Em 2009, o Dethklok e seu criador Brendon Small provam que não estão para brincadeiras. Este novo lançamento significa uma maior aproximação da banda com a indústria da música. Musicalmente, o disco varia com uma boa dose de humor e um Death Metal incansável. Faixas como “Dethsupport” promovem bem isso. Entre as principais mudanças para o novo disco, podemos destacar os vocais de Nathan, que obteve uma certa dose de gritos aliados aos seus growls – marca registrada do vocal . Agora Nathan não consiste apenas em growls descontrolados, mas os alia a gritos fervorosos. Nos pontos altos do disco, consegue demonstrar uma variação vocal consistente e forte. Em alguns pontos parece cansado, mas nada que prejudique sua perfomance. Mas Brendon teve boas jogadas para seu vocal em Nathan. Diferentemente de alguns vocalistas de Death Metal, os vocais de Nathan soam coerentes, especialmente nos refrões. Os “riffs europeus” de Toki e Skwisgaar também retornam no novo disco, mas dessa vez com uma cara mais épica. Sweeps e todas as técnicas clássicas da guitarra dão as caras, como se Brendon tivesse uma aplicação própria de toda a técnica de Malmsteen. A forte presença dos teclados trás um elemento novo, já que não era tão evidente no primeiro disco da banda. A bateria de Gene também não desaponta e, em alguns pontos, conduz as músicas com maior vitalidade e diversidade do que um baterista de Death Metal padrão. O disco é claramente mais acessível ao público de Metal do que aos fãs do desenho e comédia. “Dethalbum II” é um autêntico disco do Dethklok. Não é o mais técnico dos álbuns, nem tem o mesmo grau de humor do primeiro disco, mas é com certeza um dos lançamentos mais legais de 2009. Guilherme P. Santos

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Pretty Mary Dies

Put Your Names on the Walls of your City Williams Street

Estilo surgido nos Estados Unidos sob o comando de bandas como The Dillinger Escape Plan, The Chariot e o extinto The Number Twelve Looks Like You, o Mathcore parece ter marcado época e influenciado diversos jovens ao redor do mundo. Prova disso é o Pretty Mary Dies, que nos faz perceber a travessia do gênero pelo mar, chegando ao solo francês. Mais precisamente na cidade de Bordeaux. Embora filiados de Rousseau e Foucault, os franceses demonstram sua agressividade com um Hardcore dissonante cantado em inglês e com cheiro de norte-amerca icanos. Faço essa analogia porque apesar de

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interessante, o álbum “Put Your Names on the Walls of your City” não apresenta algo novo para o cenário da música. Com riffs parecidos com os do antigo Norma Jean, interlúdios com uso de violões semelhantes aos do The Number Twelve Looks Like You e batidas frenéticas na bateria como as do The Dillinger Escape Plan, é praticamente desnecessário ir mais longe nas definições. Entretanto, faixas como “November the Thirtyeth” e principalmente a excelente “April the Nineteenth” fazem valer a pena ao menos a chance do som ser apreciado. “April the Nineteenth”, por sinal, me faz concluir que a banda deveria apostar mais no Hardcore e menos na psicodelia, já que a pancadaria desta canção me fez ter vontade de estar presente a um show da banda apenas para ver o número de mosh pits que seriam formados. Em poucas palavras, o Pretty Mary Dies produziu um bom álbum que contém nada novo e precisa de um pouco mais de coesão para ser taxado como algo de maior relevância. Ítalo Lemos

[4] Furbowl Those Shredded Dreams Vic

Demorei pra entender qual a ideia do disco, e pra ser bem sincero, não sei ainda se realmente entendi. Em 1992, o Furbowl (aliás, um nome talvez não muito feliz para uma banda sueca de Death Metal) lançou “Those Shredded Dreams” com oito faixas compatíveis com o que era possível gravar na época, com todas as limitações não só tecnológicas, mas também musicais. Basicamente era uma “demo” que virou álbum. A curiosidade histórica vem do fato que o álbum original foi produzido por ninguém menos que Michael Amott (Arch Enemy), que inclusive participa do álbum, nos solos das músicas “Damage Done” e “Nothing Forever”. Dezessete anos depois, a Vic Records resolve relançar o álbum, desta vez, remasterizado por Mike Wead (Mercyful Fate/King Diamond). O resultado? A mesma coisa que se ouviu naquela época, só um pouco deslocado no tempo, dando a impressão de “estou na festa errada”. Mesmo nesta nova versão terem sido incluídos vídeos ao vivo das músicas “Desertion” e “Razorblades” e ainda um segundo disco bônus, com diversas demos lançadas entre 1991 e 1993, não é possível fazer milagre. É um som datado, gravado com as limitações da época, usando recursos questionáveis da época – como efeitos de “delay” de gosto bem duvidoso, por exemplo - e só vai agradar realmente quem gostou do lançamento original. Em favor do álbum original está a vontade de se fazer um álbum, tocado com “verdade”. Talvez chamar o Furbowl de “banda” seja um exagero, uma vez que o álbum foi gravado por praticamente duas pessoas: Johan Axelsson – que gravou as vozes, guitarras e baixo – e o baterista Max Thornel. Parece ter sido mais um “projeto” de amigos, gravado no estúdio particular de Lach’n Jonsson, que tocou um improvável violino na música título do álbum. Talvez se o álbum e a banda fossem produzidos de uma forma diferente, o álbum pudesse mostrar todo um potencial incapaz de ser ouvido nesse álbum, especialmente nos dias de hoje. Enfim, um álbum para quem gostou da primeira proposta. Luigi “Lula” Paolo

[7] Vader Necropolis Regain

Sempre achei que as mudanças de formação no meio do processo de criação e/ou gravação de um trabalho influenciavam negativamente no resultado final. Bem, isso se aplica a maioria dos casos, mas no caso dos poloneses do Vader essa variável não alterou o resultado da equação. Sua fórmula, definida desde os primórdios, segue espancando ouvidos incautos de forma violentíssima com pés bem firmes na vibe “old school” do Death Metal para alegria de muitos. “Necropolis”, novo trampo dos caras, segue esse linha consistente e novamente tem um tom atualizado e nos brinda com uma pegada selvagem e riffs grudentos como chiclete no cabelo grande. Vide a faixa “Dark Heart” que tem um riff destruidor que deixa muito guitarrista iniciante emocionado. Outro ponto fora da curva é o desempenho vocal encontrado em todo o registro. Mesmo contendo um repertório que não tráz nada de novo, nem mesmo uma faixa que podemos dizer que é o destaque do álbum, isso não chega a ser um problema quando o mais do mesmo é de primeira linha. Mas há uma curiosa faixa, “When The Sun Drowns In Dark”, que nos remete ao Heavy Metal mais tradicional e com um resultado muito legal. O registro ainda conta com os covers “Black Metal” (Venom) e “Fight Fire With Fire” (Metallica). O que posso dizer que esse trabalho do Vader é aquilo que eles se comprometem a tocar o bom e velho Death Metal porrada. Odilon Herculano

[8] Hammurabi Shelter of Blames Independente

O Hammurabi traz nesse EP: “Shelter of Blames”, uma produção profissional tanto no que concerne à estética e ao sonoro. Criatividade, boa escolha no repertório, fotografia excelente. Banda com destaque no cenário underground, diretamente de um dos celeiros do Metal nacional e posso afirmar com propriedade, também internacional. Trazem na bagagem uma longa colaboração em eventos variados e a dádiva de abrir para um dos ícones vivos do Metal: a grande banda Sodom. “Avatar” inicia a viagem pelo universo permeado de crítica social referencias filosóficas. Instrumental bem executado, vocais variados, ótima equalização. “Fools” inicia-se com uma passagem de baixo e bateria, para logo após o Thrash explodir, pequenas porém belas passagens de velocidade e coesão sonora. “Shelter of Blames” arremete com riffs pesados. Refrão hipnótico. “The End is Near” traz uma pegada completamente oitentista mesclada com levadas sutis de extremo Death Metal. De quebra ainda temos dois bônus track: “Submersos” atenta pro vocal gutural presente em toda a extensão da música que por sinal ficou bem mais coerente com o som da banda. “USA Terrorista” vem na mesma pegada, passagens Hardcore, solos de baixo e guitarra, crítica social e mais gutural. Agora é só esperar os mineiros emergirem das minas com a pepita nas mãos. João Nascimento


[9] Hellbreath Capitivity of Babylon Independente

O Hellbreath já figurou nas resenhas aqui na segunda edição da revista, com o EP “Demomatch”, primeiro da banda. Agora, o segundo trabalho em questão, também EP, é intitulado “Captivity Of Babylon”. Se você ouviu o debut, sentirá alterações significativas na sonoridade do grupo, principalmente no que se refere à maturidade e presença nas composições. Um ponto muito interessante e que é necessário ser mencionado é que não senti tantas influências no som deles, como havia marcado no “Demomatch”, o que é sinal que estão se desvinculando de outras bandas para, então, seguirem um caminho próprio. Com sete faixas, sendo uma intro e outra para o encerramento do EP, podemos sentir a evolução já falada anteriormente em cada segundo do trabalho. A primeira coisa que chamará a atenção é a qualidade do material, que está bem superior ao que foi feito anteriormente. As faixas se destacam através dos impactantes riffs, solos e breaks, comandados por Dudu Garcia e Samyr Novelli, dois virtuosos guitarristas, assim como a técnica do baixista Fernando Igne. O baterista João Paulo é preciso a cada segundo, esbanjando garra em cada tempo do pedal duplo. Por fim, o vocalista Flávio Azevedo dispensa comentários, podendo ser considerado um dos melhores do Metalcore nacional. Prova de tudo que foi dito está em composições como “Fight To Die” e a faixa título, “Captivity Of Babylon”. Vez por outra, você também será presenteado com melodias vocais também, mostrando que não ficam apenas em uma linha de voz. Esse, de fato, não é o trabalho definitivo da banda, pois ainda podem crescer bastante, faltando, agora, lançar um full-lenght. Gravadoras, de olho nos caras. É uma vergonha não existir um selo que os contrate. É um dos motivos para o Metalcore brasileiro ainda ser tão underground. Igor Lemos

[8] Impious Death Domination Metal Blade

Tem banda ruim na Suécia? Ô lugarzinho pra sair banda decente, hein. Quem também veio de lá, e já faz tempo, é o Impious, que desde a década de 90 vem fazendo um Death/Thrash que merece mais atenção. Diferentemente do álbum anterior, “Holy Murder Masquerade”, este “Death Domination”, sexto full-lenght da banda, cortou qualquer vestígio melódico e traz 10 pancadas Death Metal na cara. O nome do álbum seria somente uma feliz coincidência? Talvez, mas resume bem o que o ouvinte encontrará por aqui. “Abomination Glorified”, “The Demand” e “I Am The King” abrem o disco não deixando pedra sobre pedra, lembrando bons (e ríspidos) momentos do God Dethroned. E não só no instrumental. O vocal de Martin Åkesson está mais parecido do que nunca com o de Henri Sattler. Chego a pensar que, se Åkesson substituísse Sattler na banda

holandesa, dificilmente alguém perceberia. “And the Empire Shall Fall” e “Dead Awakening” são mais cadenciadas, e é hora do ótimo baterista Mikael Norén se destacar. Que velocidade e precisão! Nóren mantém uma mistura perfeita de blast beats e levadas no chimbal que realmente agrada quem ouvir. “Hate Killing Project” e “As Death Lives in Me” trazem os riffs e levadas mais marcantes do álbum. “Rostov Ripper” traz uma passagem final matadora. É fácil ficar citando músicas deste álbum, afinal trata-se de ótimas composições, mas esbarram em um porém: nada do que você ouvir aqui já não foi feito e repetido à exaustão, mesmo pelo próprio Impious. Longe de ser um álbum genérico, mas não espere por algo novo ou especial. Mas merece ser conferido! Está cheio de tempos quebrados, alguns bons duetos de guitarra, bateria alucinante e doses cavalares de energia e fúria Death Metal. Vale lembrar que a capa é assinada pelo brasileiro Marcelo Vasco, que vem fazendo o artwork para inúmeras bandas de metal extremo. André Pires

[2] Stress Live ‘n’ Memory Metal Soldiers

O “overdub” é uma técnica utilizada frequentemente por diversas bandas em seus registros ao vivo, pois as circunstâncias e a adrenalina de um show por muitas vezes tem influência no resultado final. Tem gente que abusa, e não só apenas de retoques, é verdade. Mas e quando esse recurso não é usado e ainda por cima a banda tem uma séria limitação técnica de seus integrantes? Se você quer saber a resposta, “Live ‘n’ Memory”, da banda brasileira Stress, oriunda de Belém do Pará. Autointitulada “A primeira banda de Heavy Metal do Brasil”, fez seu primeiro show em 1977, e agora, em 2009, marca seu primeiro registro ao vivo, com um show gravado em 2005 que reúne músicas de seus três álbuns até então. Particularmente, eu não conhecia a obra do Stress, e meu primeiro contato foi este registro ao vivo, que não me animou em nada para conhecer a obra da banda. Em alguns momentos chega a parecer uma piada de mau gosto, como as letras das músicas “HeavyMetal” e “A chacina” (originalmente chamada de “A curra”, com pérolas como “pra deixar de ser burra, tu vais levar uma curra”) – sim, tudo é cantado em português – e algumas músicas se colocadas em qualquer álbum do “Massacration” passariam sem problemas, principalmente no exagero do vocalista e baixista Roosevelt Bala. Fazendo o papel do advogado do Diabo agora, eu imagino a dificuldade de que uma banda de Heavy Metal do Belém do Pará teve para fazer este registro ao vivo. Se no eixo comercial Rio de Janeiro-São Paulo já é difícil, imagina em outro lugar. O trabalho musical é esforçado, o guitarrista Paulo Gui é bom, e foi prejudicado apenas por não ter utilizado dos overdubs em seus solos, enquanto o baterista André Chamon destoa da produção toda, pois se destaca com bumbos coesos e boas ideias na bateria. O próprio Roosevelt, apesar dos exageros, canta com alma, e faz muito bem seu trabalho de cozinha no

[9] The Ordher Kill the Betrayers Freemind

Devastador! É essa palavra que define o The Ordher em seu álbum “Kill the Betrayers”. Vem pra mostrar a potência do Metal nacional. Um álbum que resplandece beleza estética e ferocidade sonora da primeira à última faixa. Veloz, melódico, ácido, cru. Fabiano Penna revela-se um mestre da técnica sonora tanto em execução de seu instrumento quanto na escolha dos timbres empregados na produção final. Mais uma vez o power trio revela-se uma formação prática unindo talento, harmonia e execução precisa ao um resultado final de extremo bom gosto. O projeto visual traduz perfeitamente a atmosfera enérgica do álbum. Podem me chamar de doente mas é o tipo de música pra se ouvir logo nas primeiras horas da manhã. “Progeny” dá início ao massacre com riffs secos, baixo e bateria precisos não cessam a tonitruante sonoridade, refrão hipnótico. “Conspiracy” adentra os miolos como se fosse uma britadeira trazendo a paranóia, uma visão perturbadora da humanidade, velocidade e melodia em perfeita união. Um detalhe que é bom salientar, The Ordher mesmo com toda a voracidade técnica não deixa de lado as influências clássicas do velho Metal. “Hit the Weak” é um exemplo disto, rapidez, grooves, sonoridade grave e belíssima. “We Take Revenge” é simplesmente uma pedrada na moleira. Um brado de revolta e ódio. Solos sem exageros demonstrando maturidade. Sem firulas o álbum segue amestrando os neurônios. “Kill the Betrayers” é um álbum que pode fazer jus a qualquer lista de melhores álbuns do ano tanto no Brasil quanto em terras estrangeiras. Material extremamente aconselhável aos apreciadores do Extremo Death Metal. Merece a nota máxima mas aguardo o próximo lançamento. A evolução não pára. O Metal persiste mesmo num cenáro difícil como em terras brasileiras. “Kill the Betrayers” é exemplo positivo e espero que gere inspiração fomentando assim mais bandas no mesmo nível. João Nascimento

baixo. Outro ponto que deve ser levado em consideração é que as letras em português - que alguns podem achar até risíveis – são comparáveis a muitas letras de bandas grandes, como Judas Priest, Manowar e afins, e se isso for levado em consideração podem-se aceitar melhor as curiosas letras do Stress. O problema todo para mim é o cuidado que foi tomado para com o primeiro registro ao vivo (oficial) de uma banda que se diz pioneira no Heavy Metal brasileiro. A produção é bem pobre, desde a capa do álbum até a falta de cuidado com a edição (inclusive entre as faixas) é algo que não deveria servir de “celebração” para alguém que quer ser um marco da história do Heavy Metal nacional. Não sei se são realmente os pioneiros do Metal no Brasil, mas não acredito que vale a pena serem os primeiros e manterem um trabalho fraco. Com toda essa bagagem, era pra ter um registro ao vivo muito, mas muito melhor. Luigi “Lula” Paolo

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resenhas [6] The Destro

alguma atenção. Contudo, se você não é um simpatizante desse tipo de música, atropele. Mas, se você curte refrões pegajosos, irá adorar “Skeleton”, “My Heart Radio” e “Hello Mexico”. Uma interessante opção. Igor Lemos

Harmony of Discord

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Ironclad

Logo após uma chance de uma turnê com o Unearth, a banda The Destro lança seu segundo full-lenght, com o nome de “Harmony of Discord”. Assim como a turnê, o disco tem como intenção abrir portas no caminho da banda. Entender o som da banda é algo complicado, mas não tem nada que você já não tenha ouvido antes. Aplicam muitos tempos diferentes, uma boa combinação de riffs com um vocal de Death Metal estilizado e um toque de Southern e groove. Se já não fosse o suficiente ainda conseguem acrescentar traços de Thrash Metal e breakdowns em meio às faixas do disco. Por falar no disco, em meio a toda essa diversidade de influências, ele se mantem com uma conduta linear, caminha da primeira à última nota sem variação alguma. A primeira faixa “Justifier of Malice” começa com um groove que se transforma em um lento riff de Sludge. Os breakdowns também dão as caras no final da faixa. “Face down in regret” fecha o disco com um riff meio tempo com um bom groove que é interrompido por um incessante breakdown. “Harmony of Discord” em sua essência soa basicamente o mesmo a maior parte do tempo. Em partes específicas aparecem bons riffs e breakdowns interessantes. As únicas faixa que podemos apontar como um diferencial é a já citada “Justifier of Malice” e “Mouth of the Heretic”. Guilherme P. Santos

[7] Sparks The Rescue Eyes to the Sun Hassle

Sparks The Rescue foi formada em 2001 através da junção de três bandas: Pozer, Short of April e Two Girls Later. É o grande sonho adolescente/colegial de ter um time de sucesso e o nome gritado por fãs em chamas. Mas vamos falar do presente. Lançado originalmente em Outubro de 2008, o álbum “Eyes to the Sun” é relançado, agora pela gravadora Hassle. E o que podemos esperar disso? Canções Pop Punk, sem gritarias, com riffs simples e cativantes. Mas por qual razão digo isso, se parece ser óbvio? Pela mudança que realizaram em sua sonoridade. Antes faziam algo na linha da Chiodos, com gritos e riffs mais pesados. Então qual o motivo de trocarem a água pelo vinho? Poucos sabem realmente, pois a única pista pode ser a saída do tecladista no 3º EP da banda, o “The Secrets We Can’t Keep” (2007). Agora, com este debut, prometem alcançar um bom público, ansiosos por canções radiofriendly. De fato, quase todas as composições possuem uma grande chance de figurarem em qualquer rádio. Atualmente são os queridinhos da MTV americana, tendo uma música retirada para um seriado e, posteriormente, aparecendo como os vencedores do “I Want My Music On MTV! Competition!”. Bom, dá para sentir que o clima aqui é bem relaxado, certo? Aos fãs de Sum 41, Blink 182 e outras bandas pop-punkchiclete que sabem o que fazer para ganharem

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Clearview Love it or Leave it Liberation

Somente agora, em 2009, finalmente, e felizmente, sai o disco de estreia da banda paulistana Clearview, composta por integrantes com passagens pela cena local. Passados sete anos de seu surgimento, esse quinteto consegue presentear o público sedento por Hardcore legítimo, enérgico e até, digamos, saudosista, através de “Love it or leave it”. Certa vez apresentei, sem qualquer descrição, o álbum a uma amiga, que tão logo comentou: “bom, pelo título, só pode ser de uma banda brasileira”. Correto. O título do disco faz alusão a um famoso slogan utilizado como propaganda política do governo brasileiro que visava legitimar o regime militar que perdurou por mais de 20 anos no país. Contudo, do início ao fim da audição, o significado não parece ser esse. Tem-se a sensação de que se refere ao universo (e isso abrange desde a música em si, ao estilo de vida que se segue) do Hardcore, do verdadeiro Hardcore! Não por acaso, o clima do disco transmite uma áurea acolhedora, divertida. O álbum tem um espírito ao vivo tão forte, que basta fechar os olhos para sentir-se em uma apresentação da banda. O impecável trabalho da produção foi decisivo para que se conseguisse unir a precisão inerente às gravações com a vibração dos palcos. Gravado no estúdio Hardbase, mixado por Nick Jett em Los Angeles, e masterizado por Paul Miner também na Califórnia, “Love it or leave it” é tecnicamente... perfeito. Desde a sonoridade única das guitarras, passando pelo peso complementar do baixo, orquestrados pela bateria presente, e chegando aos vocais bem trabalhados de Rick, tem-se um conjunto que funciona harmoniosa e coerentemente. Não seria nenhuma surpresa, então, mencionar a alta qualidade de músicas como “In Honor’s Name” e “Bitch Slap”. Sem dúvida, trata-se de mais um grande lançamento do selo Liberation. Paulo Vitor

[8] Before There Was Rosalyn The Führer: An Allegory Of A History... Victory

Devo admitir: esse foi o álbum que mais ouvi nos últimos dois meses. Viciou rápido. Com menos de dois anos de existência, Before There Was Rosalyn cativa fácil o ouvinte. É impressionante como fazem isso, sendo autênticos e apaixonados pelo que fazem. E o debut, pela Victory Records, é muito bom. Sensacional. Mais uma vez, não estamos diante de um quadro de criatividade absoluta, e perdem pontos com isso, mas há outras coisas que merecem atenção. O primeiro ponto é o tempo de carreira do conjunto - curto, porém, impactante. Segundo, falar de poder e nazismo,

por uma ótica cristã, ficou memorável. Terceiro, sabem ser brutais e melódicos no momento certo - e isso apenas 10% das bandas sabem fazer. Quarto, os caras criaram breakdowns tão fodas que dá vontade de fazer moshpit dentro do meu quarto. Uma grata surpresa do Texas, hein? Como eles mesmos falam, é música feita do coração. Fica bem difícil dizer qual é a minha faixa favorita, visto que todas me fizeram ganhar um novo ânimo com o Metalcore atual. Dividido em blocos, “The Führer: An Allegory Of A History Of Deception”, é um álbum conceitual. É quase impossível aos fãs do Metalcore não curtirem o que foi feito por estes rapazes. Misturam tudo de forma competente e, ainda bem, sabem deixar traços deles mesmos nas composições. As melodias vocais são lentas, cadenciadas, sem aquelas dores de ouvido que outros grupos acabam te dando. Sabem conquistar ouvintes por este ponto. “The Prophet”, a faixa de 7 minutos (a maior de todas) é a que me faz dar play mais vezes. Com uma levada de cordas alternadas logo no início da música, dão suas caras no bom Metalcore que fazem. Em seguida, breakdowns. Contudo, diversos momentos mais lentos aparecerão, tornando-a uma obra de arte no Metalcore. Há porradas mais diretas, como “The Warrior” (primeira a ter clipe) e “The Adversary”. Melodias vocais marcam em “The Belladonnamyth”, “Der Weibliche Führer” e “Der Männliche Führer”. E, se depois do que foi dito você não se interessar a escutar, a perda é só sua. Vai dizer que esta arte de capa não dá água na boca? Igor Lemos

[7] Artchoke Melodramatic Quests Blackened Jaws Independente

Esse EP de estreia dos portugueses do Artchoke supreende pela autenticidade e qualidade, principalmente por ser uma primeira prova do que podem fazer. Abrangem diversos estilos de música pesada, sem receios, sendo que fica difícil enquadrá-los em um estilo específico ou compará-los diretamente a outro grupo. Essa diversidade é uma faca de dois gumes, pois ao mesmo tempo que dão alguma originalidade as composições, criam músicas que não chegam a definí-los, talvez pelo fato de não haver mais material para comparação além das 5 faixas do EP. As músicas não são de fácil assimilação sendo que é preciso diversas audições para absorver tudo. As variações de intensidade dão uma dinâmica potente as faixas, como pode ser constatado na faixa de abertura “The Wrath”. Mesmo se tratando de um registro de Metal, há momentos que as guitarras se acalmam, ao contrário da voz de Ricardo “Chaka”, que praticamente não dá descanço e carrega na agressividade. “Melodramatic Quests Blackened Jaws” é uma bom cartão de apresentação, já que demostra técnica e inovação. Precisam apenas trabalhar melhor sua personalidade, já que lidam com tantos elementos, devem buscar algo que os defina, que crie uma marca única do Artchoke. Tem know-how pra isso e talvez num registro com maior duração consigam exprimir melhor quem são e amarrar todas peças de forma mais firme e personalizada. Matheus Moura


[7] Repúdio Pra que entender? Independente

“Pra que entender?” é crossover puro e seco. O Repúdio não mede conseqüências quando o assunto é descer a madeira na sociedade. “Imundo genital” é um libelo anti-sexista com introdução no melhor estilo porn gore. A veia Hardcore pulsa em cada acorde. Simples, rápido e eficiente. “Futilidade S/A” é um brado contra a futilidade do high society e seu colunismo fútil. O refrão gruda e não sai mais. “Medo da verdade” é Hardcore old school no melhor termo do gênero. Explora a crise de consciência perante o cenário caótico da humanidade. Riffs ligeiros, pegada segura, groove, pratos bem aplicados. Faz dessa uma das melhores faixas. “Pra que entender?” anuncia o niilismo total. Esbraveja contra o império político com gana destrutiva. Álbum conciso que traz a força do Hardcore nacional, valorizando o português em letras repletas de ódio, indignação e ânsia de transformação. Repúdio já pertuba a mente dos orientais, o selo Karasu Killer do Japão lançou por lá essa peça de fino incômodo. “Sergipano do olho amarelo” é uma bela surpresa numa pegada Crust Grind, relata a vida de um pistoleiro de aluguel em terras sergipanas; os meninos tem influência literária, pois se trata de um dos personagens do livro/filme “O Pagador de Promessas”, e emenda com “Sacripanta” que revela-se um grito anti-americano contra o rebanho de alienadas e alienados que nos rodeiam. O álbum termina com “Repúdio Remix” uma vinheta eletrônica do Dagotta fechando de maneira exótica o disco, revelando quem sabe horizontes mais experimentais e barulhentos no futuro da banda. João Nascimento

[7] Finitude Never See My Fall Independente

“Never See My Fall” é o mais atual registro dos sergipanos do Finitude. Precedido pelo single “Inside a Human’s Head” (2007) e também pelo CD demo “Way Of Wisdom” (2006), trata-se do mais novo single da banda. O presente trabalho demonstra maior maturidade na composição das canções, e ainda um maior apuro técnico no que concerne à gravação, feita em 3 estúdios diferentes: o Capitania do Som (onde se gravou tanto a bateria quanto algumas vozes); VemdoSom (somente vozes); e o estúdio caseiro do guitarrista Luiz Gustavo (o restante dos instrumentos). Considerando um trabalho feito em Aracaju, uma cidade (bem como o estado a que pertence) com pouca visibilidade nacional, tampouco internacional, no meio da música pesada, poderiase esperar que a qualidade final do material ficasse aquém do esperado. Contudo, essa falsa esperança não se confirmou. Outra ressalva no quesito técnico é a inclusão de um vídeo (com cerca de 20’ de duração) retratando não apenas todo o processo da gravação mas também a história da banda, além de conteúdo extra com diversas informações envolvendo o universo da Finitude. A arte gráfica mostra-se bastante

eficiente na tradução para o âmbito visual do que é passado através do meio auditivo. Sendo assim, a faixa-título do single, e também a sua versão orquestral, além da acústica “Ruins To The Ground”, transportam o ouvinte a uma espécie de viagem astral, devido às constantes nuances e melodias suaves, contrapostas por períodos marcados pelo peso típico de uma boa levada de Heavy Metal. E foi com o merecido reconhecimento da imprensa especializada que o single aqui analisado contribuiu para promover o bom trabalho que o grupo realiza desde 2005. No que depender do empenho e dedicação destes sergipanos, You’ll never see their fall. Paulo Vitor

[6] The Project Hate MCMXCIX

Deadmarch: Initiation of Blasphemy Vic

The Project Hate MCMXCIX, também conhecida apenas por The Project Hate, é uma banda sueca formada em 1998 por Lord K. Philipson e Jörgen Sandström (na época no Entombed e Grave). Nesse mesmo ano, a banda trabalhou em um projeto de Philipson, chamado “Deadmarch: Initiation of Blasphemy”, mas que nunca viu a luz do dia. Onze anos depois, o álbum, masterizado pelo famoso produtor Dan Swanö, é finalmente lançado. Ouso dizer que “Deadmarch: Initiation of Blasphemy” poderia ter causado um grande estardalhaço na cena se tivesse sido lançado quando foi gravado. Estaria inserido no contexto da época, pois bandas como Trail Of Tears faziam grande sucesso na Europa, mas seu principal mérito é que Mia Stahl e Mikael Öberg (postos assumidos hoje por Ruby Roque e Sandström, que só fez um backing vocal aqui) fogem do convencional estilo “A Bela e a Fera”, padrão de vocais comum a 99% das bandas que possuíam vocalistas masculinos e femininos naquele período. Porém, ouvindo o lance todo hoje em dia, não tem como fugir: soa muito anos 90! Não que seja um demérito, afinal vem de lá, mas, a mim, não empolga. Há ótimos momentos, alguns riffs pesados, permeado por uma atmosférica melancólica, quase Doom Metal, um lado industrial não muito acentuado nas guitarras, teclados sinfônicos, ou seja, é feito pra agradar em cheio quem curte o estilo. As intervenções vocais de Mia Stahl, que no princípio achei bem chatinhas, após algumas ouvidas mostraram-se bem encaixadas. Talvez o início do álbum não seja animador pra quem espera porradaria de uma banda que se diz Death Metal (mesmo que melódico, sinfônico e sei lá quantas mais subdivisões cabem aqui). “Angels Misled” abre o disco mostrando bem o que esperar dali pra frente. E inova trazendo um batuque tribal em seu final. “Bloodstained” entra dando sono, como uma versão com menos bpm de “Angels Misled”, e demora pra engrenar. “Divinity Erased” me encheu de esperanças. Riffão muito bom e atual logo de cara, realmente empolgante, mas em pouco tempo cai pro habitual, só retornando ao fim da música. Desperdício de uma ótima passagem combinando guitarras e teclado. “Everloving” é outra que começa muito bem, sem abrir mão do peso, mas torna-se cansativa em seus

[8] Those Who Lie Beneath An Awakening Rise

Com uma proposta de serem os salvadores da pátria no gênero Death Metal, os americanos da Those Who Lie Beneath gostam de falar - e muito. Com uma conversinha de “serem” um novo gênero no Metal, diferenciados e mais criativos do que os últimos álbuns das bandas contemporâneas, se classificam como uma mistura de Between The Buried and Me (?), Cannibal Corpse e The Black Dahlia Murder. Bom, com todo esse papo de “somos brutais, somos do mal, somos da escuridão” (como o próprio vocalista rotula o grupo), cria-se uma grande expectativa para conferirmos o álbum “An Awakening”, lançado pela Rise. A primeira coisa que chama a atenção é a gravadora dos caras. Com grupos pesados e ao mesmo tempo melódicos como Attack Attack, The Devil Wears Prada e Miss May I, o selo traz algo bem diferente com esse conjunto. A primeira coisa a ser feita, então, é apertar o play. E que som! Uma atmosfera envolvente e um soco na cara é a primeira coisa que eles distribuem a quem ouve “Awaken”. Uma pancadaria com vocais destruidores, variando do agudo ao grave facilmente. “8 to 5” apresenta alguns breakdowns Deathcore, contudo, vão para solos e performances técnicas rapidamente. Tudo aqui é pesado, rápido, direto e bem feito. Parece que boa parte do que falam está certo, são bons mesmo. “Through His Eyes” se apresenta de forma sombria, com belos pedais duplos e uma gritaria de deixar qualquer headbanger feliz. Agora, os pontos negativos do álbum: alguns momentos de “Out Of Sight, Out Of Mind” me lembraram a música “A Vulgar Picture” do álbum “Miasma” dos reis The Black Dahlia Murder. Segundo, em um certo período, o peso começa a perder sua força. Fato é que tudo em excesso é prejudicial. Aqui vemos isso também, pois o que antes é impactante depois passa a dar sono pela continuidade da brutalidade. Mas não se engane, estamos diante de um dos melhores álbum do gênero de 2009. Garanta já a sua cópia. Não são “um novo gênero no Metal”, como o vocalista coloca, mas, são muito bons no que fazem. Igor Lemos

quase sete minutos, duração média de todas as oito composições do álbum. Somente no penúltimo som, “Soulrain”, encontrei algo realmente bom. Há um refrão onde baixo e bateria fazem uma marcação perfeita, a guitarra cria belo arranjo e sobra espaço para o vocal anasalado de Stahl aparecer. Quando Öberg assume, cozinha e guitarra fazem uma parede sonora, e o teclado não é mala! O mesmo não posso dizer de “Sear The Son”, onde um tecladinho inoportuno estraga uma passagem bancana. Ao menos Mia Stahl novamente se sobressai. Amigo, se você passou os anos 90 ouvindo Tiamat, After Forever, o já citado Trail Of Tears e afins, vá sem erro. As chances de você gostar deste “Deadmarch: Initiation of Blasphemy” são grandes. André Pires

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resenhas [9] Enfold Darkness Our Cursed Rapture Sumerian

Impressionante. Eis a primeira palavra que me veio quando ouvi repetidamente o fulllenght “Our Cursed Rapture” do grupo Enfold Darkness. Muitos sabem que sou um babão da Sumerian Records, e há motivos para isso como vocês podem ver. Mais um excelente material lançado por uma gravadora que vem se tornando uma das mais conceituadas no ramo do Metal underground. Mas o foco aqui é a banda, não o selo que os divulgam. Competência e maturidade são algumas palavras que podem definir este novo álbum. Com um instrumental perfeito, os solos saem como se fossem fáceis de serem realizados, tudo isso aos gritos enfurecidos de Justin Corser, um puta vocal que sabe como incorporar o gênero Black Metal junto aos instrumentais Death Metal. Junção infernal, correto? Ouça a porrada “In The Galleries Of The Utmost Evil” e “Exaltations, Pt. 1” para sacar o profissionalismo ao qual me refiro. E tem mais um ponto positivo que merece ser mencionado: além de todos serem excelentes músicos, como já dito, também sabem inserir elementos mais lentos nas composições, dando um ar sombrio e, ao mesmo tempo, erudito. São 37 minutos de sua vida que ficarão marcados. O tédio passa longe por aqui. Então, ainda vai ficar pensando em uma razão para não ouvir essa podreira artística? Um dos melhores de 2009. Igor Lemos

[7] Lux Ferre Atrae Materie Monumentum Ketzer

Segundo álbum desta banda portuguesa de Black Metal extremo, que vem sendo considerada uma das mais promissoras do underground no país. Depois do primeiro full-lenght “Antichristian War Propaganda”, de 2004, acaba de ser lançado este “Atrae Materie Monumentum”, novamente pela Ketzer Records. Antes um duo, hoje a banda conta com três integrantes permanentes. São eles: Devasth (vocal), Pestilens (guitarra) e Vilkacis (baixo). O brasileiro Lord Mantus (Mysteriis , Darkest Hate Warfront) gravou a bateria em “Antichristian War Propaganda”, mas não encontrei qualquer referência que mencione sua participação também neste álbum. “Atrae Materie Monumentum” tem letras em inglês alternando sem estranheza trechos em português, e soam assustadores, como em “Breu”. Devasth impõe emoção em seu canto odioso e profano. “Pira” transborda ódio e agressão, impossível não ser tomado por seu sufocante rancor. “O Caminho” é quase Doom Metal. Mesmo quando entram os blast beats, a melancolia prevalence, e o pedal duplo recua para enfatizar o peso. “Correntes” tem típico riffão gélido, batera incansável e uma linha melódica muito bem definida. Em meio a toda a desgraça, um estalão seco do baixo mudando o rumo em “Thirst For Despair” só mostra que estamos diante de grande material! O som do

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Lux Ferre tem muito do Black Metal nórdico. Pode não ser muito original, mas funciona bem. “The Bell Of Fate”, a segunda faixa, é mortal! A constante troca de andamento imprime um ritmo infernal à música. “Dormente” mantém ritmo cadenciado mas velocidade constante, um típico Dark Funeral. Passagens fúnebres, vocal denso e pastoso e clima totalmente subterrâneo encerram o álbum de maneira exemplar. Em ”Atrae Materie Monumentum”, os portugueses do Lux Ferre trazem oito músicas do mais ríspido, perverso, vingativo e extremo Black Metal europeu. Mais originalidade e apuro técnico e estaremos diante de uma grande banda do cenário! André Pires

[8] Nile Those Whom The Gods Detest Nuclear Blast

fará a festa dos headbangers. Um ponto que eles possuem e, com certeza, é muito positivo, é o fato de não ficarem no lugar comum. São criativos, inteligentes nas composições e sabem marcar presença em cada faixa. Desde a “May Silence Keep You” até a faixa-título, passarão por todos os bons momentos do Metal, com solos memoráveis, melodias vocais grudentas (mas sem parecer uma forçada de barra) e uma esperança de que veio uma banda que possa mudar um pouco o cenário contemporâneo, que a cada dia aparece mais um grupo para entrar na biblioteca da falta de criatividade. E é uma lista que parece não ter fim. Nota-se que é um convite que faço a você: ouça Across The Sun! Igor Lemos

[7] Coldfear Decadence In The Heart Of Man Independente

Posso dizer que “Those Whom The Gods Detest”, novo trabalho da banda norte americana, Nile detém um instrumental de altíssima qualidade e uma produção na medida, considero-o um dos melhores álbuns de Metal Extremo do finado ano de 2009. Logo ao apertar play seus ouvidos já vão levar uma avaria profunda da música mais marcante do registro, a excelente “Kafir!”, falo isso porque durante a audição comecei a imaginar “como esse baterista consegue tocar assim?!”. O nome do cidadão é George Kollias, e ele é bom no que faz, pode acreditar. O vocal Karl Sanders com seus urros e um gutural bem sujo, dá um toque de sutileza no desenrolar da trama. Letras abordando mitologia egípcia, é outro ponto que dá toda uma ambientação ao trabalho dos caras. Mas o mérito do album em estar entre os melhores se deve à regularidade das faixas. Ao longo do CD podemos perceber que cada música tem sua identidade própria, quase um selo de garantia, mas tem sempre os destaques como “Those Whom The Gods Detest”, “4th Arra Of Dagon” e “Kem Khefa Kheshef ”. Só posso dizer que para quem curte metal extremo de qualidade esse álbum é imperdível. Depois dele os triviais vão ficar sem graça. Odilon Herculano

[8] Across the Sun

O Death Metal escandinavo, ou Death melódico, com0 alguns chamam, é um dos estilos que mais tem influenciado bandas nos passados anos por todo o mundo. Com o Coldfear não foi muito diferente. Esses portugueses foram totalmente contaminados pelo “vírus sueco”. Os riffs Melo-Death, o andamento acelerado e a voz urrada não deixam dúvidas. Apesar de andarem por terrenos já batidos por outros grupos, conseguem expressar poder e técnica com esse EP, “Decadence In The Heart of Man”. Tudo o que o estilo requer, eles podem oferecer. O punch, a harmonia das guitarras e toda a violência necessária estão lá. Os guitarristas Hugo Serra e Pedro Guerreiro esbanjam velocidade e precisão, enquanto Bruno Araujo (bateria) e Francisco Carvalho (baixo) aceleram na cozinha. O vocalista José Martins é competente e engrossa o caldo. Como dito anteriormente, andam em um estilo onde a concorrência é grande e sobretudo forte, principalmente se levarmos em conta os próprios suecos, entretanto, o Coldfear demostra obstinação e talento e deixam sua marca à nível nacional. Ainda podem oferecer mais. Matheus Moura

[7] Prellude Máquina do Tempo Armadillo

Pestilence & Rapture Authentik

Tendo figurado na coluna Sangue Novo da última edição da HORNSUP, eis um bom momento para trazer uma resenha do mais recente EP de um grupo que vem chamando a atenção da mídia americana, ainda que de forma lenta. Com quase seis anos de carreira e três EPs no mercado, Across The Sun sabe o que quer. Mistura muito bem vocais graves com belíssimas melodias, bateria acelerada, virtuosismo nos instrumentos de corda e uma pitada de elementos sinfônicos. Metalcore? Bom, eu não iria muito para esse gênero. Na verdade, não sei o que eles fazem precisamente, mas é uma mistura de estilos no Metal. “Pestilence & Rapture”, o melhor trabalho feito até agora e lançado em 2009,

O Prellude é uma banda de Mogi das Cruzes/ SP, formada em 1995 e além do longo tempo de estrada tem méritos respeitáveis em seu currículo. Apesar de não ser muito conhecida do grande público, já fizeram parte de várias coletâneas, já tiveram discos distribuidos em Portugal e lançam agora o terceiro álbum da carreira. “Máquina do tempo” resgata o melhor do hard rock dos anos 80, com o diferencial de ser cantado em português. Nas 10 faixas do disco, o power trio formado por Marcelo Brito (baixo), Vinicius Kavrucov (bateria) e Christian Lima (guitarra e vocal) mostram uma sincronia impressionante. Os destaques vão para além da faixa-título, “Sentença Motriz” e “Batalha underground”. Procure ouvir, vale a pena. Andréa Ariane


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ao vivo

Agnostic Front

Agnostic front/Madball/ clearview Inferno Clube 21/11/09 São Paulo/SP (Bra)

Após passagens de sucesso pelo Brasil nos anos anteriores, duas das maiores bandas do New York Hardcore juntaram forças na “For My Family Tour 2009”, para uma dose dupla de brutalidade. Unidas pelo parentesco entre os frontmans Roger Miret e Freddy Cricien (que são irmãos por parte de mãe), Agnostic Front e Madball também trouxeram essa ligação aos palcos da América do Sul, durante o mês de Novembro de 2009. A turnê se extendeu por Colômbia, Peru, Argentina e Chile, antes que tivesse seu desfecho no Brasil, no dia 21, em São Paulo e no dia 22, em Curitiba, através da Liberation Music Company. O Inferno Clube seria o local da batalha na capital paulista. Porém, quem achou que entrando no Inferno iria escapar de ficar molhado pela chuva que insistia em cair do lado de fora, se enganou completamente. O local fez jus ao nome e o calor do lado de dentro era quase insuportável. Algumas pessoas chegaram até a passar mal devido à aglomeração. Até as paredes suavam e o Inferno virou uma verdadeira sauna. O ar condicionado do local era imperceptível. Resultado: corpos ensopados ao fim do espetáculo, piores do que se tivessem ficado na chuva durante toda a tarde. Para dar início à cerimônia, os paulistanos do

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Clearview, que também abriram os shows da turnê em Buenos Aires (Argentina) e Santiago (Chile), vieram logo mandando seu Hardcore old-school cheio de energia. A banda, apesar das constantes trocas de membros, está em boa forma e tocaram principalmente sons de seu disco de estréia, “Love It Or Leave It”. Músicas como “March Or Die”, “Crush The Fake” e “Monte Cristo” agitaram muito a galera, que já começava a se esquentar para os pratos principais da noite. Uma boa apresentação do Clearview, como de costume. Pouco tempo depois o Madball vem ao palco, porém sem o baixista Hoya, que não pode fazer parte da tour devido ao estado de saúde de sua mulher. Por outro lado, mostraram na bateria seu novo integrante, Ben Dussault (ex-Throwdown e já conhecido do público brasuca pelas passagens de sua antiga banda por aqui). Se comunicando com o público principalmente em espanhol, para deixar o clima mais íntimo, Freddy Cricien se sentia em casa e declarou isso em alto e bom som para todos no Inferno escutarem. O local estava abarrotado e o empurra-empurra era generalizado. Uma roda sufocante se abriu em frente ao palco. A Bola Louca começou com “Infiltrate The System”, música que dá nome ao mais recente CD da banda. Entre outras, tocaram “Lockdown”, “Get Out”, “Set It Off ”, “Smell The Bacon”, “Heavenhell”, “Look My Way”, “What’s With You” e o hino latino-americano “100%”, que levou a galera a loucura. Faltaram músicas e o tempo de show também foi curto, porém marcante. A banda se mostrava bem entrosada e carismática com o público, que gritou o nome de Hoya e arrebentou durante todos

os sons, sem se importar com o calor ou o espaço apertado. Já no fim da apresentação do Madball, a grade de proteção que estava a frente do palco foi removida pelo próprio público, já que o espaço parecia não comportar um show desse tamanho e a galera, logicamente, queria ficar ainda mais próxima de seus ídolos. As grades foram erguidas em meio ao show e devidamente removidas pela organização do evento. Para encerrar a noite, o Agnostic Front sobe ao palco para mostrar porque são verdadeiras lendas do Hardcore. O calor era insuportável e talvez isso tenha atrapalhado um pouco a performance da banda e a duração do show, que também foi curto. Porém, não faltaram hinos: “Addiction”, “Crucified”, “All Is Not Forgotten”, “Peace”, “Dead To Me” e, especialmente cantadas em coro pelos presentes, as faixas “Gotta Go” e “For My Family”, que contou com a participação de Freddy Cricien nos vocais. Roger Miret, frontman do Agnostic Front, chamava a galera para participar do espetáculo e era correspondido. A pista estava fervendo e o clima era tenso! Para encerrar, tocaram “Power” com o veterano guitarrista Stigma como frontman. Ele que vestia uma camisa da Seleção Brasileira de futebol com as inscrições do Sepultura, a mesma que usou na última apresentação dos caras em solo verde e amarelo, em 2008. Apesar do pouco tempo de show de ambas as bandas, quem foi ao Inferno não se decepcionou e pode ver, em uma tacada só, dois monstros do Hardcore dividindo o palco. E que continuem sendo muito bem-vindos em suas futuras vindas ao Brasil! André Henrique Franco foto: michele mamede


Fear Factory

Fear Factory

Espaço Lux 04/12/09 São Bernardo do Campo/SP (Bra) Após brigas judiciais entre os membros atuais e antigos que envolvem o nome da banda e a volta após um hiato de 8 anos, tivemos a oportunidade de conferir a um dos melhores shows do ano de 2009. Estou falando, ou melhor, escrevendo sobre a apresentação avassaladora da banda Fear

Factory, que retornou em sua melhor forma e com um álbum prestes a ser lançado, com o titulo de “Mechanize”. A banda atual conta com Burton C. Bell, Dino Cazares, Byron Stroud, membro desde 2004, e o monstro Gene Hoglan (ex-Death). O show foi um apanhado da carreira da banda e não decepcionou a nenhum fã presente, a começar pela abertura do show com a poderosa “Shock” seguida de “Edge Crusher” e “Smasher Devourer”, para os que ainda tinham dúvidas sobre o revival da banda, essa sequência foi suficiente para silenciar até o mais ávido crítico. A banda executou as músicas com um peso e

rapidez acima do comum, recompensando anos de espera dos fãs brasileiros. Era sucinta em relação à comunicação com os fãs, limitavam-se a frases curtas e o clássico “Thank You”, mas isso não representava antipatia e sim o que foi o show, uma sequência de músicas poderosas que mal deixavam o público respirar, destaque para “Linchpin”, “Demanufacture”, “Self-Bias Resistor” e a clássica “Replica” que deu encerramento ao massacre sonoro. Sem dúvidas um show primoroso e inesquecível, aguardamos o próximo em um curto espaço de tempo. Texto e foto: Flávio Santiago

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Entombed

Entombed/Desalmado Hangar 110 29/11/09 São Paulo/SP (Bra)

Noite de enorme expectativa em São Paulo. Afinal, pela primeira vez o Entombed tocaria no Brasil. Infelizmente, o público não foi o esperado para uma banda do porte e história destes veteranos suecos. Isto é em parte explicado pelo grande número de shows que tivemos este ano (Obituary, Fear Factory e Venon também tocaram por aqui em Dezembro) e a coincidência de ter sido a semana de abertura da venda dos ingressos para o Metallica, o que dizimou as economias de muita gente. Mas quem compareceu não via a hora do som começar logo! E dá-lhe atraso de duas horas até finalmente o Desalmado subir ao palco para iniciar a trituração sonora que seria aquela noite. Ainda com o Hangar 110 quase vazio (parecia que o pessoal estava mais preocupado com a penúltima rodada do Brasileirão), o Grindcore do grupo paulistano pegou desprevenido quem esperava apenas barulho desconexo. Com um set de pouco mais de meia hora, a banda destrinchou músicas violentíssimas como “Manto de Sangue” e “Hereditas”, de seu último EP, “Hereditas”, “Matador”, do primeiro álbum, “Desalmado”, quando o grupo ainda se chamava El Fuego,

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um cover de “Wasting Away” do Nailbomb (que ficou com a cara do som do Desalmado) e algumas novas composições, que estarão num próximo lançamento. Chama a atenção a presença de uma integrante feminina, a baixista Maria Piti. Segura, seu baixo reforça a cozinha com o preciso batera Ricardo Nutzmann. Os guitarristas Bruno Leandro e Estevam Romera formam uma parede sonora consistente e entrosada, dando totais condições para Caio Augusttus urrar toda sua fúria. Aos poucos o público foi entrando no Hangar e a apresentação pareceu agradar a todos os presentes. Quando a banda estiver ainda mais à vontade no palco (algo que só a bagagem de muitos shows trará), o Desalmado tem tudo para ser o grande nome do Grind nacional. Mais uma hora de espera interminável até o grande Entombed finalmente dar as caras. Depois de uma intro, abre-se as cortinas do Hangar e lá estão Alex Hellid (guitarra), Nico Elgstrand (baixo) e Olle Dahlstedt (bateria). A partir desse momento, sai de baixo! O vocalista Lars Göran Petrov surge na seqüência e é ovacionado. “Eyemaster”, do classicásso “Wolverine Blues”, foi o cartão de entrada da banda, pra simplesmente demolir o lugar. Por falar em clássico, foi o que não faltou essa noite. “Out Of Hand”, “Crawl”, “Strangers Aeon”, “I For An Eye” e “Left Hand Path” foram algumas das músicas executadas com enorme entusiasmo e deixaram o fã de Entombed com sorriso na boca e sangue nos olhos! Grande

parte do público foi pra frente, o mosh pit comeu solto, e pra quem estava ali, mais próximo ao palco, parecia que a casa estava bombando. Em certos solos é perceptível a falta de uma segunda guitarra, mas nada que incomodasse. E a banda compensa com muito entusiasmo e talento. Dahlstedt, na banda somente desde o último álbum (o ótimo “Serpent Saints: The Ten Amendments”), simplesmente destrói nas baquetas e parece ter feito parte do grupo desde sempre. Agora, show à parte é mesmo LG Petrov. Já acabadão por ser fim da turnê sulamericana, e enfrentando um calor infernal pra quem vive no gelo, mesmo assim o cara mostrava nítida satisfação por estar tocando por aqui. A todo o momento ele agradecia, mostrava os pelos do braço arrepiados, sorria para o público. Chegou a pedir aplausos para o roadie que tirava o pessoal de cima do palco, liberou o stage diving e fez uma pausa pra fumar um cigarro. Figuraça! Depois de um break, a banda voltou para um bis que se estendeu por seis músicas. Ao final de cada som, parecia que o show havia encerrado, mas Petrov falava: “One more song”. Felicidade geral entre os presentes! E dá-lhe ”Demons”, “Chief Rebel Angel“, a aguardada “Wolverine Blues”, “Like This With The Devil”... Foi incrível! Quem compareceu sabe que não perdeu a oportunidade talvez única na vida de ter visto os reis do death‘n’roll ao vivo. André Pires. Foto: Gabriel Garcia


Obituary/Belphegor Hangar 110 04/12/09 São Paulo/SP (Bra)

Após turnês bem sucedidas em anos anteriores, os americanos do Obituary e os austríacos do Belphegor retornam ao país, dessa vez para uma turnê em conjunto, o lugar escohido em São Paulo foi o tradicional Hangar 110 que levou um bom público ao local. O Belphegor entrou em cena com a casa ganha, com todos berrando o nome da banda. Após uma curta introdução as cortinas se abrem e os austríacos iniciam com “Bleeding Salvation”, faixa do CD “Goatreich - Fleshcult”, de 2005. O show prosseguiu com “Seyn Todt in Schwartz” e “Hell’s Ambassador”, ambas do disco “Pestapokalypse VI”. Nesta primeira parte o som esteve um pouco embolado, e as guitarras muito baixas, problemas que persistiram durante toda a apresentação, mas nem público nem banda deixaram que isso fosse um empecilho, pelo contrário, a banda foi muito precisa ao vivo, levando seu Death/ Black Metal de forma magistral a todos os presentes. “Lucifer Incestus” foi outra que teve grande destaque, com todos entoando o refrão junto com o vocalista e guitarrista Helmuth. Completavam o line-up o baixista Serpenth, e o novo guitarrista Morluch, além do baterista de apoio, Lille Gruber. A rápida e melódica “Stigma Diabolicum” veio a seguir. “Walpurgis Rites” (essa do último disco, “Walpurgis Rites - Hexenwahn”), a excelente “Justine: Soaked In Blood” e “Reichswehr In Blood” foram as próximas. Coube a “Bondage Goat Zombie”, faixa do penúltimo e homônimo disco, fechar a apresentação. Durante a execução desta música Helmuth usou uma máscara de couro com rebites, dando um ar teatral ao show. Após esta música a banda se despediu do palco, deixando uma sensação de show curto, mas vieram na condição de banda de abertura. Hora de ir pro bar pegar mais cerveja e esperar pelos donos da festa. Após uma intro estilo rockabilly, os peso pesados do Death Metal Estadunidenses, mais conhecidos como Obituary, iniciam o show, com “List of Dead” e “Blood to Give”, ambas do

último CD do grupo, o aclamado “Darkest Day”. O público imediatamente respondeu com uma roda de mosh que praticamente durou o show todo. E John Tardy e sua trupe estavam inspiradíssimos, fazendo um dos melhores shows de Death Metal que eu já tive o prazer de assistir. Nada como ter 20 anos de estrada nas costas. Durante o início do show, novamente problemas técnicos, desta vez com o microfone de John Tardy. Mas felizmente não demorou muito para ser resolvido. “Internal Bleeding” e “Dying” continuaram com o massacre sonoro. A banda toda agitou muito, e os destaques foram pro singular vocalista, e pelo experiente guitarrista Ralph Santola (ex-Death, Iced Earth e Deicide), que está na banda a pouco tempo, substituindo Allen West, que atualmente cumpre pena nos EUA. “Face Your God”, “Threatening Skies” e “Forces Realign”, esta última também do último CD continuaram o massacre a que o Hangar 110 foi submetido durante as quase 2 horas de show. A surpresa da noite foi o cover do Celtic Frost, a clássica “Dethroned Emperor”, que foi a deixa para até quem estava parado até então passar a agitar. Do grande disco “The End Complete” tivemos a pesadíssima faixa de mesmo nome. Mais clássicos fizeram a festa dos presentes, do disco “World Demise” tivemos “Final Thoughts”, seguida por “Contrast The Dead”, do penúltimo disco, “Xecutioner’s Return”. Depois veio a dobradinha “Chopped in Half/Turned Inside Out”, do disco “Cause of Death”, de 1990. Hora do solo de bateria de Donald Tardy, que deu início ao bis. Não sou muito chegado em solos desta natureza, mas nesse caso foi uma bela apresentação. Ralph Santolla deu continuidade com um empolgante e técnico solo de guitarra, fazendo jus ao nome que construiu após ter passado por alguns gigantes do metal estadunidense (só por ter tocado no Death, do saudoso Chuck Schuldiner, Santolla já merece respeito). A banda volta ao palco com “Slow Death” e “Evil Ways”, ambas representando a fase de retorno do Obituary, e terminam de forma perfeita com “Slowly We Rot”, do disco de estréia, de 1989. O saldo final foi um show perfeito, levado a cabo por quem sabe mesmo como fazer Death Metal. Thiago Fuganti /Flávio Santiago Fotos: Thiago Fuganti

Obituary

Belphegor

deicide/chaos synopsis/maittungh Carioca Clube 17/01/10 São Paulo/SP (Bra)

Deicide

Em sua segunda passagem pelo Brasil, os americanos do Deicide lotaram o Carioca Clube em São Paulo. O show contou com as bandas de abertura Maittungh e Chaos Synopsis que fizeram boas apresentações e serviram como bom aperitivo para o que viria logo em seguida. Após uma certa demora para a troca de palco e passagem de som eis que chega a hora da atração principal: Glen Benton, Steve Asheim, Jack Owen e Kevin Querion, sobem ao palco e saudam ao público e logo abrem ao show com “Deicide”, “Dead by Dawn”, “Once Upon The Cross” e “Scars of The Crucifix”, foi o suficiente para o Carioca Clube vir abaixo, o show com uma qualidade de som invejável e com músicos pra lá de entrosados despejam sobre a casa de shows um apanhado de músicas de todos os álbuns da banda, conforme prometido por Glen Benton, os fãs agradecem e o massacre segue com “When Satan Rules His World”, “Blame It on God”, “Serpents of the Light” e “Bastard of Christ”. A banda sempre muito carismática acenava aos fãs e os guitarristas Jack Owen e Kevin Querion se revezavam ao jogar palhetas para os fãs, em contrapartida era aniverário do baterista Steve Asheim, o público cantou o famoso “Happy Birthday to you...” e o show prosseguiu com a mesma fúria e intensidade com “Death to Jesus” e “Trifixion”. Após quase uma hora de show, a banda sai de cena e retorna para o manjado bis com tudo com a poderosa “Kill the Christian” cantada em uníssono por todos. Show insano com boa qualidade técnica e músicas aguardadas pelos fãs, sem dúvidas um bom pontapé inicial para o ano de 2010 que começa a todo vapor. Texto e foto: Flávio Santiago

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ao vivo

Festival Treze

Hocus Pocus 13/12/09 São José dos Campos/SP (Bra)

Chipset Zero

evergrey/tempestt Carioca Clube 13/12/09 São Paulo/SP (Bra)

O Carioca já se tornou a Meca de shows de médio porte em São Paulo, pela falta de espaços descentes na maior cidade da América Latina. Num domingo chuvoso, pra reviver os anos anteriores que se tinham 3 ou 4 shows num ano e em todos choviam, chegamos no final do show do Bittencourt Project, projeto do guitarrista do Angra. Para estranhamento, quando ele anunciou que era a última música, o pessoal começou a comemorar! Como Rafael não deixa barato, virou para o baixista Felipe Andreoli (também Angra) e disse “eles querem mais duas”. Muito estranha essa hostilização. Lembro quando o Angra com a formação clássica abriu para o AC/DC em 1996, e muitas pessoas hostilizaram eles (era comum na época, vivíamos na era da pedra lascada do Rock), ao final do show, Rafael desceu do palco e foi tirar satisfação com uns caras e quebrou a cara de 3 ou 4! Sua banda é completada pelo violinista Amon Lima, o baixista Felipe Andreoli (Angra) e o baterista Marcell Cardoso (Karma). Depois veio uma hora de show do Tempestt. Não hostilizaram. Mas cara, deu, viu? Quase metade do set era de covers! Para que tocar uma hora, pra quase metade serem covers? Era melhor

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tocarem meia hora só divulgando suas músicas próprias. As covers: “The Evil That Men Do” do Iron Maiden, “Synchronicity II” do The Police e “Don’t Stop Believing do” Journey, além de “In My Dreams With You” da banda Vai, projeto de Steve Vai quando lançou um disco como banda, com vocalista e tudo, no caso, Devin Townsend. Mancadas ainda para o vocalista BJ. Eles tiveram muito problemas de som, principalmente com o guitarrista Leo Mancini (Shaman). E nas horas que tinham as “microfonias”, BJ deu altas carcadas em Léo, ao vivo, que nem o Datena faz no programa dele. Não fica legal. Se um dia eles tocarem no Wacken, por exemplo e isso acontecer, ele vai fazer isso? Ficou chato. Muito tempo depois sobe ao palco a atração principal, os suecos do Evergrey. Uma perfeição, pena que num lugar menor (como quase todas as bandas estão tocando) que da última vez, quando tocaram no Via Funchal, com o Pain Of Salvation. O som beirava a perfeição e a iluminação idem, ainda que o palco seja razoavelmente pequeno. Destaques para “Watching The Skies”, “She Speaks To The Dead” e “As I Lie Here Bleeding”. Um show perfeito, com fãs enlouquecidos, mas que faltou um pouco de punch, algo mais. No bis a banda ainda tocou “Recreation Day”, “Broken Wings” e “A Touch Of Blessing”. O Carioca é até aconchegante, mas se todo show for lá, e a maioria vai ser, vai perder um pouco a graça. Rodrigo Ribeiro Foto: Flávio Santiago

A primeira edição do Festival Treze foi organizada pelo MCI (Movimento Cultural Independente) de São José dos Campos – SP e contou com as bandas Vindictam (Taubaté), C.D.B. (São Paulo), Piuke (São José dos Campos) e Chipset Zero (Guarulhos). O clima chuvoso dava a pinta de que o evento pudesse contar com poucas pessoas, porém nem a chuva impediu que as quase 200 pessoas comparecessem ao evento! A banda Vindictam “abriu” o evento mostrando que dispensa o rótulo “banda de abertura”, pois mostrou aos presentes que faz um som maduro e bem próprio. Destaque para músicas que usam guitarra de oito cordas (detalhe um tanto quanto “novo” em bandas nacionais). Usam e abusam de polirritmia e fizeram um show bem energético! Na seqüência veio a banda C.D.B. É impressionante o quão pesado e grave soa o show desta banda! O uso de sampler torna ainda mais caótico e pesado o clima criado pelos caras. É possível notar que o C.D.B evolui a cada show! Com uma presença de palco insana, comandaram um show muito intenso, contando ainda com a participação de Luizinho (ex-Inima e atual This Grace Found) na música “Caminhos”. Infelizmente, por motivo de força maior a banda Piuke não pode se apresentar. Já a banda Chipset Zero fechou o evento e mostrou que é um exemplo de profissionalismo em se tratando de bandas brasileiras. A banda já tem certa bagagem e mesmo antes de começarem a tocar os presentes já preenchiam os espaços e lacunas próximas ao palco. Já bem conhecidas pelo público, as músicas eram acompanhadas nota por nota, parecia ensaiado. Ninguém esperava menos, a banda faz uma ótima apresentação do começo ao fim deixando no ar um sorriso satisfeito estampado na cara de todos. Por fim, aguardamos ansiosos mais uma edição do evento. E até lá! Luiz Arthur Foto: Renato Santander

Evergrey


Venom

Venom

Victoria Hall 12/12/09 São Caetano do Sul/SP (Bra) Uma noite histórica! Sim, depois de quase 25 anos, o Venom estava de volta. Eles que foram uma das primeiras bandas internacionais a acreditar no Brasil e ganharam uma legião de fãs por aqui. Hoje, da formação original restou apenas seu líder, baixista e vocalista Cronos. Mas era o Venom! Depois de repousarem os anos 90 quase que inteiros, lançaram seu melhor disco, na minha opinião, “Resurrection” de 2000. Depois de mais mudanças e a saída de Mantas, lançaram o clichê (até no seu título) “Metal Black” de 2006, mas se redimiram lançando simplesmente “Hell” em 2008, uma retomada às sonoridades do arrebatador “Resurrection”. O show foi no inesperado Victoria Hall, em São Caetano do Sul. A casa é grande e pode ser uma alternativa para shows desse porte. O público presente foi fantástico. Pelo figurino do pessoal, parecíamos voltar no tempo e ter estado no show de 1986! Tênis branco tipo Pony ou cuturnos, muitos braceletes, cinturões de bala, jaquetas jeans sem mangas, cheias de patches

e camisetas de bandas oitentistas. O show foi um mini festival, do qual ainda tocaram outras três bandas nacionais (Doomsday Ceremony, Genocidio e Nervochaos). O som também estava horrível e todos já se preocupavam como estaria o som no show da banda principal. É chegada a hora dos reis do Black Metal subirem ao palco e não decepcionaram aos fãs que esperaram mais de duas décadas para esse show, o som ficou bem mais alto, melhorou um pouco, mas ainda estava ruim, com a voz do Cronos muito baixa em algumas músicas, a banda não tem movimentação de palco mas o show foi histórico. O Venom está para o Black Metal, assim como Ramones para o Punk, Bauhaus para o Gótico e Black Sabbath para o Heavy Metal. Completam o trio o guitarrista La Rage, que apesar de total coadjuvante, tem boa pegada, e o baterista Danny Needham. Dany já tocou no Brasil outras vezes, entre elas, duas vezes com Tony Martin, em 2008 e em 2009 e em todas as vezes, se destacou muito. Dessa vez, ele quase rouba a cena, tamanha pegada e agilizada. Ele “reconstruiu” estas músicas ao vivo, deixando-as mais empolgantes. O Venom abriu com “Black Metal”, logo de cara, sem piedade de quem estava ali na frente, seguida de “Welcome To Hell”. Aí sim, a casa já estava abarrotada. Engraçado, que vendo o papel do set list na mesa, vimos que

metade das músicas tem a palavra “Hell”. Hoje, pode até soar clichê, mas na época, isso chocou muito. “Bloodlust”, uma das mais antigas, não era esperada pela maioria e surpreendeu. “Antichrist” é uma das melhores de “Metal Black”, e não chegou a ser cantada em uníssono como as demais. “Straight To Hell” é do disco novo “Hell”, logo de cara a banda já solta talvez seu maior clássico e a música mais coverizada de sua carreira, “Countess Bathory”. Cronos não fala muito entre as músicas, e quando o faz, agradece e anuncia a próxima música, sem muitas delongas. “The Seven Gates Of Hell” foi tocada. Ainda, sobre o show como um todo, o que vimos neste espetáculo é algo que não dá para descrever em palavras: a aura, o clima e a atmosfera que sentimos no momento. Isso o Venom ainda consegue fazer, mais que 90% das bandas de Death Black Brutal. Isso se perdeu hoje em dia e tivemos um bocado disso naquela noite. A banda sai do palco para o bis e retorna para encerrar triunfalmente com “In League With Satan”, está executada como se fosse um mantra, entoado pelos milhares de discípulos de Cronos lá presentes. Seu refrão foi um mantra sim, que arrepiou! Terminando de fato, com “Witching Hour”. Histórico, inesquecível. Júlio César Bocáter /Flávio Santiago Foto: Flávio Santiago

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ao vivo

The Casualties

the CASUALTIES/ SANITARIUM/ DICKSTAR Hangar 110 05/12/09 São Paulo /SP (Bra)

Nada como esperar o tempo passar para tentar redimir as más experiências. Em termos de espetáculo a máxima funciona, mas em termos de comportamento, nem tanto. Em 2007, o Casualties passou pelo mesmo Hangar 110 e fatos extra-evento foram ligados ao show mesmo sem ter realmente uma ligação direta com o ele em si e, imediatamente, e por mais algum tempo, trouxe como algumas consequências desastrosas, principalmente para a casa. Explico: na primeira das duas noites em que a banda se apresentou, cerca de 20 jovens que se diziam Punks espancaram outro na avenida próxima à casa, não dentro, nem fora, mas a uma estação de metrô distante dali. Nove pessoas foram presas, o jovem teve que passar por uma cirurgia de reconstrução facial, mas o querido Fantástico, show da vida, exibiu imagens e um close enorme do Hangar e no seu profundo conhecimento do estilo, locais e afins, precipitadamente “culpou” a casa e o evento como os grandes vilões do ocorrido. Passado isso, com a imagem restabelecida já que os frequentadores sabem muito bem do que rola dentro e ao redor, eis que estamos em

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2009. Depois de um ano farto de bons shows, recheado de bandas lendárias, o Casualties felizmente veio para fechar a boa safra. Para a abertura foram escolhidas as bandas Dickstar e Sanitarium. O Dickstar foi a primeira. A pouca galera agitou, mas os covers chamaram mais atenção do que os sons próprios - entre eles “Vomitaram no trem” do Garotos Podres, “Rise Above” do Black Flag e “Roots Radical” do Rancid. O Sanitarium já pegou uma galera mais empolgada e com sua vontade de tocar e suas letras politizadas, agitaram com os sons do EP “Isto é SP” de 2007 e também covers manjados de Ramones e Sex Pistols. O set parecia interminável para quem aguardava impaciente pela entrada do Casualties. 20 anos de estrada ou deixam a banda com cara de uma sombra do que já foi, com formação muito diferente da original ou com jeitão de velhinhos cumprindo tabela em busca de um troquinho a mais, correto? Tratando-se de Casualties, totalmente errado. O lançamento neste ano de “We are all we have” colocou isso por terra já que, mesmo com produção mais moderna, flertando com o Reggae e Dub, a brutalidade persiste e a banda certamente produziu um dos melhores trabalhos na carreira. O show faz parte desta turnê e foi justamente a música título que abriu, seguida de “Carry on the flag”, também do mesmo álbum. Enquanto a banda agitava demais no palco, o público, bem o público. Se o stage é inevitavel, a invasão do palco passou do descontrole total. Quatro

roadies, mais o André (vocal do Nitrominds) no apoio mesmo tentando manter a ordem com uma certa sutileza, não conseguiram segurar. Parte das meninas do gargarejo eram as que davam o maior mau exemplo. Parafraseando aquele ritmo regional e de gosto e qualidade duvidosos, elas estavam completamente descontroladas: subindo e pisando nas caixas e fios, tomando o microfone dos caras, puxando os cabelos, estragando os moicanos perfeitos (marca registrada deles, aliás) do hermano equatoriano Jorge Herrara e tentando beijá-lo à força - sem sucesso. Ainda assim o show seguiu e por mais insistência da falta de respeito, até que a banda foi bem paciente e gentil. Muito som e pouco diálogo. Deram o seu recado em quase 40 minutos num set impecável que incluiu, além das já citadas, a cover de “Blitzkrieg Bop” do Ramones, “Ugly Bastards”, “Riot Tomorrow”, “Policy Brutality”, além de “For the punx”, o grande hit do primeiro álbum, que quase pôs a casa abaixo e era uma das mais esperadas do set, com certeza. Deixaram o palco meio injuriados (com razão), e com um simples “Gracias muchachos” do vocal. É triste dizer mas enquanto não for possível passar uma boa impressão, além da terra de imbecis deslumbrados, fica dificil receber respeito de bandas tão importantes. Má atitude repele, não atrai. Pensem nisso. Andréa Ariani Foto: Marcelo Shina


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