iDeia Templuz - Edição 03

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Edição 03 | Fevereiro 2013

Entrevista com

Ross Lovegrove “Design é a evolução do antigo para o Novo Mundo”



Editorial

Nossa terceira edição vai tratar sobre a criatividade! Essa que no século XXI deixa de ser apenas um elemento de contemplação, admiração, novidade, originalidade e passa a ser um elemento também voltado à economia. Refiro-me a tão falada Economia Criativa! Expediente: Editor Camilo Belchior Jornalista Responsável: Cilene Imperizieri 5236/MG

Entendemos hoje a criatividade como a capacidade que temos de produzir novas combinações, dar respostas inesperadas, originais, de forma útil e satisfatória, que são evidentemente dirigidas a uma determinada comunidade. Mas, começamos a perceber que a criatividade vai além disso. Ela é também um elemento impulsionador da economia, gerando divisas para cidades, estados e nações. Nossa capacidade perceptiva e criadora está se tornando cada vez mais foco de estudos e pesquisas, o que constitui uma força estratégica para vários profissionais e segmentos de mercado.

Jornalistas: Ana Cláudia Ulhôa Clarissa Damas Danilo Borges Júlia Andrade Thaís Casagrande Projeto gráfico e coordenação gráfica Cláudio Valentin Capa: Simona Cupoli

A Revista iDeia, sempre atenta a essas evoluções, traz nessa edição entrevistas, matérias e perfis com personalidades que vivenciam de perto a criatividade impulsionadora de economia, entre eles, na matéria de capa, o designer Ross Lovegrove, mundialmente conhecido pelo seu trabalho que liga a organicidade dos elementos à inteligência humana. Nesse número, teremos também uma entrevista exclusiva com Richard Florida, escritor e conferencista, autor de vários livros de sucesso que focam a economia criativa, como: “A Ascensão da Classe Criativa”. Temos o prazer de contar com a participação de excelentes colaboradores que nos brindam com artigos relevantes e inteligentes. Buscamos a participação de profissionais e empresas que nos apresentam cases de sucesso, demonstrando como é possível fazer da criatividade um diferencial no mercado.

Impressão: Hiper Graphic Digital Revista iDeia é uma publicação da Templuz, com distribuição gratuita. Contato: ideia@templuz.com

A partir dessa edição, introduzimos novas seções. “Profissionais” tem por objetivo homenagear os profissionais das áreas de arquitetura e design, que atuam em Minas Gerais, através da divulgação de seus trabalhos. Em “Ícones” mostraremos pessoas que se transformaram em verdadeiros ícones, em seus setores de atuação. Já em “Criador & Criação” vamos enfatizar profissionais e projetos que são especiais em seus segmentos. Por último, temos “Design ou Arte?”, que visa dar asas a uma velha discussão da sociedade e mostrar vários pontos de vista. Sem deixar de mencionar nosso Giro Cultural, através de uma viagem a uma cidade dos “contos de fada”! Refiro-me a Tallinn na Estônia, vista pelo olhar de Renira Rampazzo. Embarque nesta viagem! Boa leitura, Camilo Belchior


Colaboradores

Heloisa Aline Oliveira - Brasil É jornalista profissional com especialização em Design de Moda pela Universidade Fumec. Trabalhou 29 anos no jornal Estado de Minas, a maior parte desse tempo no Caderno Feminino & Masculino, onde foi subeditora. Atualmente, escreve para revistas especializadas em moda, é professora universitária e está escrevendo um livro sobre a história da moda mineira, além de dirigir a Salamandra Comunicação e Marketing.

Patrícia Naves - Finlândia Formada em arquitetura pela UFMG, Patrícia Naves fundou, em 2004, a OITI - estúdio de criação e desenvolvimento de arquitetura e produtos. Patrícia acredita que design e arquitetura devem resolver questões cotidianas, tendo como maior objetivo servir as pessoas de forma inventiva e esteticamente rica. Atualmente, finaliza um Mestrado em Desenho Industrial e Estratégico pela Aalto University School of Art, Design and Architecture, em Helsinki, Finlândia.

Renira Rampazo Gambarato - Estónia Designer de produto, mestre e doutora em Comunicação e Semiótica. Professora na Tallinn University Baltic Film and Media School, Estônia. Tem experiência na área de Desenho Industrial, com ênfase em Desenho de Produto, atuando principalmente nos seguintes temas: design, semiótica, diagrama, pós-industrial e estética. Atualmente atua em New Media, especialmente em transmedia storytelling e crossmedia environments.


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Artigos

Não é de hoje que Rogério Lima é conhecido no mundo da moda. Entrou nesse mercado produzindo peças encomendadas para várias grifes bacanas, como Cavaleira, Carmim, Ronaldo Fraga, Alphorria, DTA. Mas só passou do backstage para o palco principal a partir de 2007, quando teve coragem de lançar sua própria marca. O que seria apenas mais um nome no universo de tantos outros, já se destacou pela ousadia criativa, pelo design original e pelo flerte com a sustentabilidade.

Economia criativa na moda por Heloisa Aline

A história é conhecida por todos que militam no meio fashion: o passaporte para o sucesso do mineiro veio com a criação das bolsas utilizando sacos de cimentos encontrados durante a reforma do seu showroom. Rogério notou que, apesar das embalagens ficarem expostas ao sol e a chuva, não se estragavam, e resolveu testá-las como matéria-prima. Lançadas no Minas Trend Preview, provocaram uma verdadeira convulsão emocional na mídia especializada e no mercado. Ultrapassaram as fronteiras brasileiras, ganharam o mundo chegando a feiras e lojas importantes na Europa e na Ásia. Um verdadeiro case de sucesso, um valor inestimável com relação ao quesito marca. O melhor foi que o estilista/proprietário soube dar sequência ao trabalho inicial, encontrando seu próprio caminho, investindo sempre no design, em formas inusitadas, no desenvolvimento de novos materiais, com uma produção limitada que escoa diretamente para as classes abastadas. A marca Rogério Lima é um exemplo que pode se encaixar na chamada economia criativa, termo que anda muito em voga, mas cujo conceito ainda não é muito conhecido pelos profissionais do segmento da moda. O desconhecimento não causa estranheza, já que trata-se de algo relativamente novo por aqui. Essa abordagem faz parte da nova agenda do Ministério da Cultura – que criou, em junho do ano passado, a Secretaria de Economia Criativa -, na qual a moda e o design, junto com outras especializações, transformam a criatividade em um movimento de economia do país, usando-a como fator de competição. Esse novo olhar sobre o empreendedorismo tem, sim, muito a ver com o mercado da moda, com sua essência e maneira como ela se organiza.


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Bolsa Lolita Mother Papel Verde Foto: Agência Fotosite

Mary Arantes, designer da Mary Design, especializada em acessórios, confessa que ainda não conseguiu entender completamente a economia criativa no segmento da moda. “Afinal, o que diferencia nosso setor dos outros não é, basicamente, a criação? É como se esse poder de criação das pessoas virasse um insumo, segundo a legislação”, reflete, acrescentando: “É comum as pessoas dizerem que, no meu trabalho, comercializo arte, mas não faço arte, faço produtos comerciais, com um veia artesanal. Apesar disso, consigo levar um suspiro de criação para as pessoas, algo mais que não está explícito, que as motiva, inspira, emociona”, considera.

Convidada para nomear empresas mineiras que já se encaixam nesse nicho, a empresária e consultora de estilo Tereza Santos, do TS Studio, cita a Bárbara Bela, empresa que integrou o lendário Grupo Mineiro de Moda, fundada na década de 1980 por Helen Carvalho, cujo grande diferencial sempre foi o trabalho manual com rendas e bordados. “O que era feito artesanalmente em casa, o bordado peça a peça, se transformou em um negócio que cresceu, evoluiu e se industrializou sem perder suas características iniciais”, destaca. Hoje, a Bárbara Bela vende coleções para o todo o Brasil e exporta para países da Europa e da Ásia.


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Segundo ela, a economia criativa abrange vários setores de uma empresa, não se prendendo somente à área de criação: passa também pela gestão, produção e distribuição, com ações que irão contribuir para a economia como um todo. A consultora de moda Natalie Ollifson observa que o segmento de moda ainda está tateando esse terreno. Seu temor, levando-se em conta que o conceito trabalha com um valor em que a criatividade gera resultados, é que o setor criativo seja pressionado em função da competitividade e das vendas, gerando a massificação do produto. Segundo Natalie, Minas Gerais é um caso típico: o estado é reconhecido pelo trabalho hand made, o savoir faire dos mineiros é valor cultural que não pode ser abandonado em função da equação volume/ preço, característica do fast fashion. “O que está acontecendo é que, para competir, nossas marcas estão abrindo mão dos seus valores, tentando se adaptar a um modelo. A meu ver, ele não pode ser aplicado para todas as empresas do mercado”. 2. Caso da Clair, comandada por Clair de Jesus, que ainda não completou dois anos de vida e vem apostando no crochê como carro-chefe. Não o crochê com a cara tradicional como é conhecido, mas misturado a outras matérias-primas nobres como seda, chamois, bordados, pedrarias, em um trabalho com efeito surpreendente, que tem encantado os lojistas. Apesar de contar com uma equipe de crocheteiras espalhadas por vários lugares de Minas Gerais e de treinar mão-de-obra carente, contribuindo socialmente com a comunidade, é difícil atender a demanda do atacado. A ideia é ótima, a criação fantástica, mas os resultados não são competitivos pela própria essência do trabalho.


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1. Peça criada por Mary Design para o desfile verão 2013 no Minas Trend Preview. Foto: Agência Fotosite 2. Bordados são o foco da marca mineira Bárbara Bela Foto: Márcio Rodrigues 3. Para driblar a dificuldade de mostrar acessórios na passarela, a proposta é: vestido com a mesma estampa da bolsa. Foto: Agência Fotosite 4. O crochê da marca mineira Clair: Artesanato puro Foto: divulgação Clair 5. Bolsa Samanta Papel Cru Foto: Agência Fotosite

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Finlândia: uma reflexão na situação financeira dos designers independentes por Patrícia Naves

Vários profissionais têm optado pelo caminho do design independente, com um papel importante na formação da cultura de design - uma vez que, não raro, conseguem divulgar a disciplina além dos círculos especializados. Designers autônomos expõem produtos em lojas, mostras, jornais e revistas e, assim, tornam-se conhecidos do grande público. Entretanto, uma questão da qual pouco se fala é que notoriedade não vem, necessariamente, acompanhada de sucesso financeiro. Frequentemente, esses profissionais se destacam, mas fracassam comercialmente. Como a cultura de design no Brasil está ainda em processo de afirmação, insucessos comerciais são, muitas vezes, creditados à falta de compreensão do nosso mercado, supostamente, ignorante. Como a grama do vizinho é sempre mais verde, designers brasileiros, muitas vezes, idealizam mercados externos, nos quais essa cultura é mais madura e o trabalho independente, valorizado.


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Participantes da pesquisa: 1- Anna Salonen = Motto Wasabi - Yuki Abe 2- Anu Penttinen 3- Arni Aromaa = Pentagon Design - Sauli Suomela 4- Harri Koskinen 5- Ilkka Suppanen 6- Mikko Laakkonen 7- Timo Ripatti 8- Samu-Jussi Koski

A Block Lamp de Harri Koskinen Foto: divulgação

Finlândia Um dos países mais consistentes quanto à solidez da cultura e o consumo de design pelo público geral, a Finlândia teve a realidade financeira de seus designers independentes analisada por meio de pesquisa com oito dos mais aclamados profissionais da atualidade, com intuito de compreender as condições desses microempreendimentos, em um contexto de design, supostamente, próximo ao ideal. Mas, mesmo inseridos em um mercado “esclarecido”, eles apresentaram grande dificuldade em obter sucesso comercial. Na Finlândia, a raiz do problema

se concentra, significativamente, na conduta de gestão do designer independente, e não na instrução do mercado consumidor local. No cerne do problema, está a ideia de que a mente com inclinações artísticas é incompatível com lógicas pragmáticas. Essa visão perpetua o estereótipo do designer, que associa habilidade administrativa ao tolhimento criativo. Essa noção colabora para o distanciamento entre o profissional e as questões gerenciais da microempresa - formal ou de fato - constituída pelo designer independente.


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Subsídios Subsídios a artistas são concedidos pelo governo finlandês, e designers independentes também têm direito ao benefício, caso provem relevância cultural. E, ao contrário de financiamentos destinados ao fomento de empresas de médio porte, o subsídio não impõe condições ao beneficiado quanto à saúde financeira ou crescimento da microempresa. Esse incentivo acaba por, curiosamente, desmotivar o profissional na busca por sustento financeiro, fruto do comércio do seu próprio serviço, uma vez que o auxílio, em muitos casos, assegura uma fonte de renda estável ao designer. Partindo do princípio de que todos os designers independentes que participaram da pesquisa ostentam excelência em seus trabalhos e grande reconhecimento profissional, a familiaridade com noções de gerenciamento se mostrou fundamental na qualidade da performance das microempresas desses profissionais. Aparentemente, o grau de habilidade gerencial do designer não altera a fase inicial das suas atividades comerciais. Entretanto, a aplicação de ações tradicionais de administração afeta positivamente o desempenho comercial da empresa nas fases de

Everydayholy para Muuto de Ilkka Suppanen Foto: divulgação

crescimento e manutenção. Designers com graus similares de competência, reconhecimento profissional e condições de mercado, apresentaram níveis diferentes de sucesso financeiro, proporcionais ao preparo gerencial dos mesmos. Os resultados da pesquisa levam à reflexão de que designers independentes deveriam se concentrar menos nas limitações de seus mercados locais e mais em se capacitar gerencialmente, para que possam gerar mercado, e não culpar o existente. Eles devem se conscientizar que, a partir do momento em que optam pelo caminho do trabalho autônomo, tornam-se administradores, voluntários ou não. Fugir ou postergar o aprimoramento dessa tarefa pode significar uma vida profissional sacrificada, com retorno financeiro inferior à dedicação ao trabalho.


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Entrevistas

A nova cidade por Clarissa Damas

O arquiteto e urbanista Caio Vassão, graduado e doutor pela Universidade de São Paulo (USP), é um pesquisador nato. Além de trabalhar como professor na Faculdade de Artes Plásticas da FAAP, atua em projetos que tratam das novas tecnologias e seus impactos no ambiente urbano contemporâneo, juntamente com conceitos do Metadesign. Defensor de ideias inovadoras, acredita que os designers, principalmente os de interação, sejam mais responsáveis pela organização dos espaços urbanos, atualmente, do que os arquitetos, e que a cidade passou a ser vista como um processo de interação social, e não simplesmente como um espaço geográfico. Em entrevista à Revista iDeia, Caio contou um pouco sobre seus projetos e linhas de pesquisa. Revista iDeia: O que é o Metadesign e como ele é aplicado? Caio Vassão - Metadesign é uma abordagem de projeto para lidar com a complexidade de sistemas do mundo contemporâneo, como os interativos (internet, celulares, redes sociais, e-commerce etc.), os urbanos (edifícios, regiões urbanas, comunidades) e os de ecossistemas e sustentabilidade (ciclos de produção e consumo, reciclagem, ciclos de vida de produtos, relações das ações humanas e o meio-ambiente, o ecossistema de informações na internet, nas instituições e empresas...).


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Ri: Como pensar o espaço urbano em uma sociedade cada vez mais preocupada com a questão ambiental e, ao mesmo tempo, com conforto, mobilidade, acessibilidade? CV - O espaço urbano é um desses “sistemas complexos” aos quais me referi acima. Em especial, quando se fala de Sustentabilidade Ambiental, é muito difícil reconhecer caminhos de ação que sejam efetivamente sustentáveis. Um caminho é reconhecer que o ambiente urbano é parte de um ecossistema muito maior e mais complexo, que, em última instância, tem a dimensão do planeta, e além. O Metadesign ajuda a propor recortes, a reduzir essa escala de complexidade, indicando quais trechos, quais pedaços desse extenso ecossistema estão ao nosso alcance.

Para isso, as múltiplas e variadas questões que estão envolvidas na sustentabilidade deverão ser trabalhadas de forma integrada pelos designers, urbanistas, arquitetos, engenheiros, etc. O Metadesign oferece um modo de operar essa integração: mapeando os diversos fatores, suas interrelações e as oportunidades de ação. Ri: Em uma palestra disponível no Youtube, você diz que as soluções para o espaço urbano no futuro serão dadas através do design. Por quê? CV - O modo como arquitetos e urbanistas pensam tem cada vez menos consequência para o modo como a população, concretamente, constrói seu dia a dia. Enquanto os designers constroem os meios de interação social (redes sociais), que acabam tendo muitíssimo mais impacto na construção do cotidiano.


Entrevistas

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Essa constatação tem me feito questionar: afinal de contas, o que é, exatamente, uma cidade? A maior parte dos urbanistas acredita que a “cidade” é um conjunto de edifícios articulados por uma infraestrutura de transportes, água e esgoto, eletricidade e telecomunicação, dotada de qualidade paisagística e que seja capaz de sustentar a interação social e comunitária, ou seja, uma “cultura urbana saudável e dinâmica”. Indo adiante na noção de que a “cidade” é o conjunto de meios que sustentam a interação social, os meios de telecomunicação estão prestes a superar os outros aspectos que conformam a “cidade”: as pessoas interagem cada vez mais, por meio de sistemas digitais e pela telecomunicação pessoal do celular, de internet e das redes sociais. Ri: Como você vê a utilização do espaço urbano nas grandes cidades brasileiras? CV - A ideia de comunidade e de urbanidade, no Brasil, é um problema histórico, fartamente documentado pelo urbanismo e pela geografia urbana. Um dos aspectos mais problemáticos é o chamado “Esvaziamento do Espaço Público”, ou seja, o abandono do espaço público e a proliferação dos espaços privados. Em outras palavras, abandona-se

o espaço público, e adotam-se os espaços privados como meio de suporte para a interação social. Um exemplo notável é o esvaziamento dos centros tradicionais dos bairros e a proliferação de shoppings, que são “simulacros” das ruas comerciais dos centros regionais. Ri: Levando em consideração o exemplo da tecnologia, como um objeto pode construir um ambiente? CV - Há alguns anos coordeno, juntamente com o arquiteto Marcus Del Mastro, o projeto “Pocket Car”, sobre um veículo urbano para a mobilidade sustentável. Nossa meta é a construção de um ambiente urbano mais saudável, pautado pela escala do pedestre, e não do automóvel. A estratégia fundamental para isso é a ação de Metadesign, a proposta de um novo tipo de veículo: o “Pocket Car”. É um carro extra-compacto, do tamanho e peso aproximado de uma bicicleta, baixa potência e baixa velocidade, e que seria alugado pelos usuários, para que eles cheguem até os meios de transporte coletivo. Imaginamos um futuro em que uma criança possa correr sem preocupações pelas ruas, porque os “Pocket Cars” seriam dotados de sensores e direção automática, tornando um atropelamento um fato quase impossível.

O ecossistema de transportes das cidades deve ser enriquecido com o aumento do uso de Veículos Leves e de Tração Humana (VTHs). As tecnologias das bicicletas e VTHs podem ser utilizadas para os novos veículos leves.▼


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▲ Corte transversal de uma avenida de médio porte, convertida para o uso de veículos leves e de transporte coletivo. Toda a via seria reconfigurada para a escala humana.

Ri: Em seu site, você diz que “Creio que, cada vez mais, a cidade é um processo não-local”. Dessa forma, como trabalhar as questões locais e globais no ambiente urbano? CV - As questões locais e globais se cruzam de um modo cada vez mais complexo. Há comunidades de escala global, mas elas transcendem as fronteiras nacionais, e se estendem de uma “cidade” a outra. Isso ocorre porque as relações sociais que as conformam são “não-locais”, ou seja, ocorrem por meio da telecomunicação pessoal banalizada. Há um fluxo de ideias, informações, hábitos, influências, produtos etc., entre essas comunidades não-

-locais. E elas se conformam a partir desse fluxo, que é cada vez mais virtual e efêmero (pouca matéria e energia), e menos pela proximidade geográfica. Em outras palavras, sobre a proximidade geográfica, ou seja, a “vizinhança”, se sobrepõe outra forma de integração social e cultural. Ela não torna a vizinhança obsoleta, mas certamente a relativiza, e cria uma nova camada de interações sociais e culturais.


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Entrevistas

Por uma economia ‘criativizada’ por Danilo Borges

Para Richard Flórida, a criatividade será o principal motor do progresso no século XXI Como a criatividade pode contribuir para o desenvolvimento econômico de uma região? Qual é a real influência da atuação de pessoas criativas no mundo? Há grandes chances de que qualquer discussão a respeito dessas questões passem, em algum momento, pelo nome de “Richard Florida”. Autor do livro “A Ascensão da classe criativa”, o professor das Universidades de Toronto e Nova York, é considerado um dos principais especialistas na relação entre economia e criatividade humana. Segundo Florida, a chamada ‘classe criativa’ – formada por pessoas que têm o cérebro como ferramenta de trabalho – já ultrapassa 150 milhões de pessoas ao redor do mundo. Engenheiros, artistas, acadêmicos, médicos, administradores e designers são só alguns exemplos de profissionais que, de acordo com o professor, serão os principais responsáveis pela prosperidade econômica do século XXI. E Flórida vai além, lembrando que a criatividade precisa estar presente em todos os setores da sociedade: “Precisamos encontrar uma forma de “criativizar” todos os trabalhos, incluindo aqueles ligados à produção e aos serviços. Não podemos simplesmente ignorar as pessoas que trabalham nesses empregos”, diz. Confira a seguir o que disse Richard Florida à revista iDeia.

Foto: divulgação


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Revista iDeia - Como você percebe o design do século XXI dentro da abordagem da Economia Criativa? Richard Florida - A criatividade, entendida como “habilidade para criar novas formas de sentido”, é atualmente a força motriz da economia e do progresso, além de uma vantagem competitiva significante para um futuro orientado pelo conhecimento e pela inovação. Em outras palavras, criatividade é a nova economia. A classe criativa, que é composta por pessoas que ganham a vida trabalhando com seus cérebros – seja no design, ciência, tecnologia, direito, medicina, academia, imprensa, administração ou finanças – são os motores de nossa economia criativa. No mundo todo, estimamos que existam mais de 150 milhões de trabalhadores criativos; eles serão os agentes de mudança que nos levarão a uma prosperidade econômica maior.


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Entrevistas

Imagem: Alexander Karpenko


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Ri - No seu livro a ascensão da classe criativa, você fala que, nos dias atuais, não basta ter boas ideias, é preciso transformá-las em produtos ou serviços bem sucedidos. Nesse sentido, qual o papel do designer? RF - O designer tem um papel muito importante. É o design – ou, mais especificamente, o designer – que nos ajuda a pegar ideias e torná-las tangíveis para nossa cultura, comunidade e empresas. Designers transformam ideias numa realidade utilizável. Ao compreenderem o público, eles nos ajudam a fazer uso de ideias em nossa vida cotidiana. Ri - Você acredita que o designer de países emergentes, como é o caso do Brasil, sendo um profissional que trabalha constantemente com a criatividade, está preparado para lidar com essa nova abordagem econômica? Por quê? RF - Pela primeira vez na história humana, a lógica básica de nossa economia afirma que, para que haja maior desenvolvimento econômico, será necessário desenvolver e utilizar a capacidade criativa humana. Eu acredito muito que cada ser humano é criativo. Obviamente, designers estão na vanguarda da criatividade. Países como o Brasil precisam encontrar formas de aproveitar a criatividade de sua força de trabalho, incluindo os designers, se quiser obter prosperidade econômica no futuro. Ri - Como o mercado pode utilizar a criatividade como ferramenta para obter vantagem competitiva? RF - Temos uma grande oportunidade pela frente: pela primeira vez, quem sabe, o futuro da prosperidade econômica está vinculado ao desenvolvimento e ao uso das capacidades criativas de cada um. Mas, para fazermos isso, precisamos de negócios que nos auxiliem a desenvolver e manter nossa criatividade inerente. No livro “In the Rise of the Creative Class Revisited”, faço um chamado para a ação, um compilado criativo sobre como fazer isso e sobre como enfrentar os desafios enquanto mudamos para uma economia baseada no conhecimento e na criatividade. Também discuto como nós precisamos encontrar formas de ativar e maximizar a criatividade de todos os profissionais. Precisamos encontrar uma forma de “criativizar” todos os trabalhos, incluindo aqueles ligados à produção e aos serviços. Não podemos simplesmente ignorar as pessoas que trabalham nesses empregos.

Ri - O Brasil do século XXI tem vários desafios e sabemos que um deles é saber “transformar criatividade em inovação tecnológica, competitividade econômica, criação de valor e bemestar social”. Qual seria o seu conselho para que isso possa se tornar uma realidade? RF - Talento, tecnologia e tolerância representam o que eu chamo os “três Ts” do desenvolvimento econômico. A abordagem dos “três Ts” representa uma estratégia compreensiva para países como o Brasil, a fim de competirem e prosperarem na era criativa. Talento: A força motriz por trás de qualquer estratégia econômica eficiente são pessoas talentosas. Vivemos numa era mais móvel do que nunca. A habilidade

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questão chave na era criativa. O Brasil está na 66ª posição no ranking mundial de talentos criativos. Aproximadamente 18,5% da força de trabalho brasileira pertence à classe criativa. Tecnologia: Tecnologia e inovação são componentes críticos na habilidade de uma organização, ou comunidade, em impulsionar o crescimento econômico. Para serem bem-sucedidas, comunidades e organizações precisam ter espaço para transformarem pesquisas, ideias e inovação em produtos mercadológicos e sustentáveis. Universidades são supremas e são instituições-chave na era criativa. Em nosso índice mundial de tecnologia, o Brasil está em 41º lugar, atrás de países como Portugal e Grécia, mas à frente da Índia, Costa Rica e Chile. Tolerância: Prosperidade econômica depende de criatividade cultural, empreendedora, cívica, científica e artística. Trabalhadores criativos com esses talentos precisam de comunidades, organizações e colegas que estão abertos a novas ideias e a pessoas diferentes. Lugares receptivos à imigração, a estilos de vida alternativos e a novas percepções das estruturas de poder e do status social se beneficiarão significativamente na era criativa. O Brasil está no 22º lugar no ranking mundial de tolerância.


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Seduzido pelo Brasil por Clarissa Damas

Inserido no contexto da economia criativa, o arquiteto Marko Brajovic encontrou soluções o acesso à cultura da população da Amazônia


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Com base em conceitos da biomimética, ciência que estuda estruturas biológicas da natureza e suas funções, e as transporta para outros meios, é possível encontrar soluções para problemas que acometem as pessoas. Exemplo disso é o projeto desenvolvido pelo arquiteto croata, radicado no Brasil, Marko Brajovic. Tocado pela questão das cheias, que afetam grande parte das pessoas que moram nos arredores dos rios da Amazônia, Brajovic criou o “Bubuia Centro Cultural Flutuante”, projeto apresentado durante a Conferência TEDx Amazônia, em julho de 2012. Ao redor do mundo, a organização TEDx realiza encontros destinados à disseminação de ideias.

O Bubuia, que consiste em um teatro e um cinema sob as águas, foi projetado para ser um centro itinerante, adaptável às cheias que acometem a região e fazem os níveis dos rios subirem cerca de dez metros. A intenção era levar cultura a pessoas que, por dificuldades de locomoção, não conseguem ter acesso a muitas opções. “Após duas semanas de navegação na região do lago Mamori, com um cinema improvisado no teto de um barco, entendi a importância do transporte fluvial para o intercâmbio cultural. A partir daí, uma equipe do meu escritório ficou responsável por estudar arquitetura flutuante, tipologias locais e globais, e, finalmente, propor modelos possíveis. O resultado foi o projeto Bubuia”, explica Marko.


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Ele ressalta a importância de ter ouvido e aprendido com os moradores na hora de criar uma solução que pode, facilmente, ser levada a outras partes do mundo. “Criar uma arquitetura que se adapte às cheias na Amazônia, por exemplo, pode ajudar a encontrar soluções para cheias catastróficas que destroem milhares de casas, todos os anos, na Ásia. E, conseguimos chegar a um resultado positivo ouvindo as pessoas que habitam a floresta e conhecem bem esse ‘organismo’ e sua dinâmica. Nós aprendemos com eles e implementamos o conhecimento que temos na área da arquitetura e design às necessidades resultantes do estilo de vida contemporâneo ”, completa. Marko diz ainda ser impossível pensar num problema local sem enxergar a questão global. Em seu escritório, as criações começam sempre com uma pesquisa sobre o entorno, e terminam se refletindo num contexto global. “Esse processo nos permite compreender o comportamento cultural, o imaginário coletivo e, finalmente, os processos intrínsecos da natureza. As questões hoje em dia são simultaneamente locais e globais”. Obs.: Markos nos explica que o projeto Bubuia está em fase de captação de recursos, por isto ele não pôde ser apresentado visualmente nesta matéria. E por que um croata decidiu deixar seu país e abrir um escritório em São Paulo? “Esse país inspira profundamente minha criatividade. Estou seduzido pelo entorno natural”. Atualmente, o Brasil ocupa o quinto lugar entre os países mais criativos do mundo, em um momento em que economia criativa está a todo vapor. “Gosto de ver que vocês estão buscando gramática própria, uma atitude de processo criativo e output final que contempla as questões importantes desse novo século. A arquitetura e o design têm uma responsabilidade fundamental na construção orgânica do nosso entorno cultural, intelectual e social. E, principalmente, não importa o quanto de economia criativa o Brasil possui, mas como essa energia vai ser focada e direcionada na busca por soluções globais”.

Exposição roteiro musical de São Paulo Fotos: Os Following


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Design da Periferia Paralelamente ao projeto Bubuia, Marko atuou em outro trabalho, inserido no contexto da economia criativa. Trata-se da mostra “Design da Periferia”, em exibição em São Paulo, no Pavilhão das Culturas Brasileiras - Parque Ibirapuera, até 29 de julho. Responsável pela cenografia da exibição, que tem curadoria de Adélia Borges, o croata ambientou móveis, brinquedos, carrinhos de vendedores ambulantes, churrasqueiras de calotas de pneus, invenções domésticas e anúncios gráficos, em quatro módulos temáticos. Todas as obras foram feita por pessoas comuns, que tornaram-se artistas usando materiais disponíveis e técnicas que conheciam. Mais um exemplo de como uma solução local pode ser ampliada para um âmbito global. Marko é arquiteto, designer e cenógrafo. É responsável por vários projetos representativos no Brasil e no exterior, entre eles o projeto para exposição Roteiro Musical de São Paulo, um projeto de cenografia e direção de arte em conjunto com o arquiteto Guto Requena, toda a cenografia para a IV Bienal Brasileira de Design realizada no final de 2012 em Belo Horizonte/ Palácio das Artes, incluindo o palco para entrega do Terceiro Prêmio Sebrae Minas Design

Mostra Design da Periferia Curadora: Adelia Borghes Fotografo: Fabio Cintra Produtora: ARX


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Inspirado pelo desafio por Thaís Casagrande

O arquiteto venezuelano, Pedro Useche, se descobriu designer por acaso, “imagino que todo arquiteto tem vontade de complementar seu trabalho com suas próprias peças, comigo foi assim”, conta. No Brasil, Pedro iniciou sua carreira de designer de mobiliário em 1984. Seis anos depois construiu seu atelier, em São Paulo. O design se tornou verdadeiramente sua profissão quando Pedro recebeu uma menção honrosa com sua primeira cadeira, “Mulher”, em 1988, prêmio concedido pelo Museu da Casa Brasileira de 1990. “Por falta de informação como desenhista industrial, meu foco nessa época era fundamentalmente estético, sem dar atenção ao processo de produção, algo extremamente importante na concepção de qualquer projeto”, conta Useche. Em sua variada produção, Pedro Useche procura alcançar o equilíbrio entre estética e funcionalidade, sem se preocupar com modismos. “Este conceito, juntamente com a adaptação tecnológica disponível, trouxe economia para o processo de fabricação, obtendo melhor custo, elemento importante para um produto competitivo. Assim, pode-se alcançar um público maior e, desta maneira, contribuindo para democratização e difusão do design”, diz. De acordo com o designer, o processo de criação se mantém igual desde o início de sua carreira. “Desenho alguns sketchs, a partir da ideia escolhida desenho em escala 1:5, que permite a visão de conjunto: vista frontal, lateral e superior, se for necessário, desenho em outras escalas, tudo em lápis e papel”, descreve. A partir do projeto executivo definido, começa a construção do protótipo, que considera um dos momentos mais importante do processo, pois permite o teste físico e ajustes formais.


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Já há algum tempo, Useche desenvolve sistemas construtivos que permitem a execução de famílias de móveis, facilitando variações de formas e de dimensões. Como são os casos das linhas, Flexus, R, Cinta, Tensor, Vira-vira, Tak, entre outras. Versátil com relação aos materiais, o designer gosta de estudá-los e explorá-los nos seus limites. “Não tive ainda a oportunidade de trabalhar com matérias e processos mais tecnológicos, uso madeira e aço que são os mais tradicionais na indústria de móveis, consequentemente, os mais difíceis para propor inovação em seu uso”, relata. E quando o assunto é sustentabilidade, Pedro Useche logo afirma, “a sustentabilidade esta intrínseca no meu trabalho”. Em seus projetos, o designer busca sempre levar em conta a eficiência no processo produtivo, gerando assim, economia de energia. Também opta por utilizar a menor quantidade de material

Banco Arepita Foto: divulgação


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Banco Siri

necessário para estruturar uma peça, tendo com base madeira certificada, e materiais recicláveis. Pedro também conta que busca soluções que permitam a desmontagem ou empilhagem, para otimizar o transporte e a estocagem de suas peças. Para ele, a preocupação com a qualidade física, funcional e estética é o que torna um produto duradouro. Em 2012 Pedro teve o desafio de projetar uma peça com garrafas PET, que resultou na poltrona BO. Com o sucesso da peça, foi convidado pela escola Pan-americana para ministrar um workshop, no qual montou uma linha de produção na própria escola, durante a primeira edição do SP Design Weekend. “Por se tratar de um sistema construtivo baseado no módulo da garrafa pode tornar-se uma família”, conta.

Linha Tak

Para Pedro Useche, a inspiração é o desafio de encontrar uma nova maneira de trabalhar a matéria, dando forma aos suportes das necessidades básicas do ser humano, “sem esquecer a emoção, alegria e bem estar que estes objetos podem transmitir”, finaliza.

Fotos: divulgação

Poltrona BO

Mesa Lateral Tensor


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Perfil

Ângela Hirata

A mulher que transformou as Havaianas, produto 100% brasileiro, em sucesso no mundo inteiro por Thaís Casagrande

Ângela Tamiko Hirata tem como rotina acumular vitórias. Formada em Administração de empresas, com especialização em Marketing internacional, a executiva ficou conhecida como a pessoa que transformou as sandálias Havaianas num sonho de consumo em todo o mundo. Hoje, aos 68 anos, Ângela continua trabalhando e sequer cogita a aposentadoria. “Parar, com certeza, não. Mas, hoje, conto com uma equipe que desenvolve um trabalho sem minha total participação. Assim, ganhei liberdade para desfrutar e aproveitar minha vida pessoal com mais qualidade”, afirma.


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Tudo começou em 1999, quando Ângela iniciou um processo de consultoria para a Alpargatas e, no ano seguinte, foi convidada a abrir o departamento de comércio exterior na empresa. Foi então que as sandálias Havaianas começaram a “andar” pelo globo. Uma das principais estratégias foi chegar primeiro em países formadores de opinião em seus continentes, como Estados Unidos, Austrália e França. De acordo com a executiva, a participação em eventos que agregassem valor à marca também foi importante. Os resultados vieram rapidamente: em quatro anos, as sandálias já estavam presentes em mais de 60 países e se tornaram as “queridinhas” de celebridades internacionais.

Foto: divulgação

Nesse período, o faturamento das Havaianas no exterior saltou de 1,5% para 10%. Assim que a empresa começou a obter resultados positivos fora do país, a imagem da marca Havaianas foi reforçada no mercado brasileiro e as sandálias se transformaram num desejo de consumo. Gradualmente, o produto tornou-se o mais democrático, passando a atender a todas as camadas sociais. Em 2001, Ângela tornou-se diretora-executiva de Comércio Internacional da Alpargatas São Paulo. “Encaro esse sucesso como resultado do trabalho de equipe do departamento e também do bom alinhamento e entendimento com a direção da empresa, que confiou e delegou esse processo”.


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Foto: divulgação


Perfil

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Para ela, o mercado mundial está mais receptivo aos produtos nacionais, porque, cada vez mais, o Brasil está se tornando um lugar que encanta e gera curiosidade por sua criatividade quase única, sabendo traduzir até as cores da tendência de moda internacional em tons alegres e vivos. “Só nós, brasileiros, originários da miscigenação de outros povos, com a rica cultura que herdamos, é que sabemos fazer essa diferença. Sempre que soubermos aproveitar e comunicar essa riqueza, seremos bem recebidos em qualquer parte do mundo”, afirma. Atualmente, a empresária continua na Alpargatas, onde atua como consultora da presidência na área de mercado internacional, e é sócia-proprietária da Suriana Trading, consultora de marketing internacional. Na empresa de consultoria, atende a diferentes clientes, que buscam levar marca e produtos ao exterior,

tais como a vinícola Miolo; a soja não transgênica, para alimentos de alto valor agregado da Naturalle; sandálias Dupé; calçados Cervera, entre outros. Ângela também auxilia empresas estrangeiras a desenvolver mercado no Brasil e aqui se estabelecerem, caso da inglesa Liberty, com tradição em tecidos estampados; da norte-americana Holly Hunt, de móveis de alto padrão, e dos produtos desenvolvidos pelo estilista japonês Kenzo Takada. Com tantos cases bem-sucedidos no currículo, Ângela dá a receita para o sucesso: “Não é algo para se ter, e sim, para se conquistar. Cada momento de conquista e superação de problemas é um passo em busca do sucesso. Se a pessoa acredita que está com tudo garantido, entra em zona de conforto e acomodação, o que pode pôr tudo a perder”.

Imagem: divulgação

Vida Pessoal De alma incansável, Ângela Hirata não se deixou abater nem mesmo quando enfrentou quatro cânceres, um seguido do outro, ao longo de cerca de cinco anos. Apesar de todos esses golpes, não suspendeu sua extensa agenda de trabalho e conciliava as sessões de quimioterapia com viagens e reuniões. “Enfrentei o câncer como um problema que surgiu em minha vida e que tinha que superar sem muita lamentação e drama. Essa foi a formula que adotei e que me permitiu a superação, depois de mais de dez cirurgias”. E, mesmo com uma rotina agitada, a empresária ainda tem tempo para as netas. “Tenho dois filhos e três netas, que mantêm viva a chama da família, em onda crescente. Trabalho sempre para ter uma vida pessoal saudável. Não é uma tarefa fácil, mas tenho procurado ajustar o meu tempo para me dedicar à vida pessoal e torná-la cada vez mais prazerosa”.


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Persona

E do silêncio fez-se a arte por Clarissa Damas

Arquiteto mineiro Marcos Anthony superou os obstáculos da surdez e se firmou no cenário artístico Nascido em Timóteo/MG, Marcos Anthony deixou sua cidade e ganhou o mundo. Pintando histórias e obras - cenas de um passado descoberto em livros e museus, o arquiteto e artista ficou conhecido, por seu talento, no Brasil e no exterior. Filho de uma das mais queridas famílias de Timóteo, no Vale do Aço, Marcos veio estudar em Belo Horizonte aos 18 anos. Surdo, nunca deixou que a limitação o abatesse ou o fizesse desistir de seus sonhos. Por ter desenvolvido rapidamente a oralização, sentiu-se liberto do quadro de exclusão social, derrubando todos os obstáculos que a vida impunha. Assim, imerso em seu próprio “som”, sentiu-se livre para criar com cores, texturas e formas. Aos sete anos, teve o primeiro contato com a pintura a óleo. Desde então, não parou mais. Um ano mais tarde, foi a única criança a participar da exposição coletiva “Arte Intervales” no Palácio das Artes, em Belo Horizonte. Já na fase adulta, expôs em São Paulo, Rio de Janeiro, BH e no exterior.

“Da capacidade criadora nasce a arte, da emoção nasce o artista”. Marcos Anthony


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Revista iDeia - Como teve início seu “relacionamento” com a arte? Marcos Anthony - Sempre fui fascinado pelas cores, por objetos coloridos, alegres. Ficava encantado na escola, ou em casa, quando tinha contato com os desenhos, me deixando envolver facilmente por aquele universo de formas e cores. Meu primeiro contato com óleo sobre tela foi aos sete anos, quando meus pais pressentiram que eu tinha o dom da pintura. Eles ficavam admirados ao ver minha concentração e alegria, enquanto me deliciava com os desenhos. Matricularam-me em uma aula de pintura e, no primeiro dia, já provocava o encantamento de todos. O professor colocou um caqui em uma mesa, com todos os alunos mais velhos do que eu em volta. Minha euforia era tanta que comecei a pintar sem esperar o professor me explicar como seria técnica

Resultado: terminei primeiro e todos ficaram admirados com meu trabalho! Assim começou minha paixão eterna pela arte! Ri - Como é sua rotina de trabalho e processo criativo? MA - Atualmente, trabalho com artes plásticas e arquitetura. Têm épocas que a rotina com arquitetura é maior e vice-versa. O processo criativo é bem natural e espontâneo: basta colocar uma tela em um “cavalete”, e o milagre acontece! É como se as cores e formas dançassem à minha frente, como se elas usassem minhas mãos, ou seja, como se a arte já existisse, e eu estivesse ali, emprestando meu corpo para que elas surgissem plenas e belas na minha frente! Portanto, a inspiração não tem hora marcada, quando ela vem, é importante aproveitar o momento de criação e pintar! Nessa hora é que surgem os melhores filhos, digo..., as melhores obras!

Telas do Artista Fotos: Fábio Cançado e Marcos Anthony


Persona

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Ri - O que a arte representa para você? MA - A expressão da emoção e do amor que vem da luz da alma! Porém, quanto mais forte e expressiva for a obra, mais valorizada ela será! A arte, de modo geral, precisa convidar e tocar o coração do público, e fazê-lo olhar profundamente, para que sinta o que o artista transmitiu no momento da criação! Além disso, toda e qualquer obra define a característica do criador-artista, por isso é interessante aprofundar e descobrir os sentimentos que foram ali transmitidos. A arte não é uma criação e sim uma recriação. Estamos sempre recriando arte em cima de outras artes. Uma arte inspira outra arte, e assim sucessivamente... Picasso “recriou” duas fases em uma e eu “recriei” três fases em uma, por ai vai...

Assunção de Nossa Senhora - Óleo sobre tela - 1,50 x 1,60m

Mulher Geométrica - Óleo sobre tela - 1,30 x 1,0m

Ri - O que te inspira na hora de criar? MA - São vários fatores, veículos autênticos de pulsão: o sonho, a viagem, passeios, livros de arte, etc... Eu, por exemplo, não consigo ficar preso a um mesmo tema ou estilo; gosto de ecletismo, diversificação e história da arte. Aprecio diversificar no mundo da imaginação-criatividade. Se deixar crio a todo instante. Fui ao Museu Imperial do Rio de Janeiro, por exemplo, e fiquei tão encantado com uma obra da Georgina Albuquerque, que fiz uma releitura dela. Todas as obras que eu admiro e gostaria de ter, acabo recriando-as, sob outro prisma, é claro. Ri - Sua limitação auditiva te influencia de alguma forma? MA - Creio que sim, porque quando se “tampa” os As Meninas de Avinhão - Segundo Pablo Picasso 1,30 x 1,0m - Óleo sobre tela


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ouvidos a visão torna-se mais apurada. Acabei aprimorando mais as observações ao meu redor, principalmente sobre o que é belo nesse mundo. Consequentemente, aumentei meu gosto estético, tanto pela arte quanto pela arquitetura. Tudo é silêncio, concentração, oração... Tudo é emoção e fruição! É como entrar em oração de amor a Deus. Como uma síntese, um agradecimento por tudo de bom que Dele recebo diariamente, principalmente pelo dom de “produzir arte”... Uma emoção inexorável. É um sentimento puro que vem de dentro da alma. Ri - Como é “viver de arte”? O Brasil tem espaço e valoriza os artistas locais? MA - Para “viver de arte” é preciso ter muita perseverança, coragem, autoestima elevada e fé de que somos capazes de conquistar nosso espaço e transmitir emoções através dela. Infelizmente, o Brasil não tem o hábito de valorizar a arte, a leitura. É raro as pessoas gostarem de ir a exposições, a bibliotecas. Temos uma cultura FAST-FOOD, no estilo dos BBBs da Rede Globo, entre outros, que em nada acrescenta a nossa vida. Entretanto, nos últimos anos, nosso país tem mostrado alguns “sinais” de melhoria. O Estado tem dado alguns incentivos para as empresas que investem em cultura, através da Lei Rouanet, que a médio e longo prazo, irão contribuir, em grande medida, para a mudança do atual cenário cultural brasileiro. Todavia, todos nós precisamos mobilizar a sociedade a favor da valorização da cultura. Ri - Qual o ponto alto da sua carreira? MA - Provavelmente, ainda não chegou e nem chegará, hão de vir muitos pontos altos em minha carreira! Acredito que, enquanto estiver vivo, sempre terei o próximo ponto alto, porque estamos na caminhada divina, com objetivo de crescer espiritualmente e profissionalmente cada dia mais. Ri - O que você ainda quer fazer que ainda não fez, no âmbito profissional? MA - Produzir cada dia mais, melhores e mais belas obras! Ser reconhecido profissionalmente, em âmbito nacional e internacional, tanto como arquiteto quanto como artista plástico. E transformar os frutos colhidos dessa semeadura, em ações concretas para o bem estar de todos.

Os Guerreiros - Óleo sobre tela - 1,30 x 1,0m


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Business

Iluminação de destaque

Associando design e tecnologia, projetos valorizam detalhes, revelando beleza e harmonia Ao passar pela Plaza de La Encarnación, na cidade espanhola de Sevilha, é impossível não se maravilhar com a visão do Metropol Parasol, construção de madeira, que lembra guarda-sóis gigantes em formato de cogumelos. Inspirada nas abóbadas da catedral de Sevilha, a obra, criada pelo arquiteto alemão Jürgen Mayer-Hermann, chama a atenção de todos que passam por ali. À noite, o monumento ganha ainda mais destaque, em função da iluminação especial, desenvolvida com exclusividade pela espanhola LEDs C4, na qual foram usados projetores Ray, que garantem harmonia e ainda mais beleza à estrutura. Responsável por uma série de projetos luminotécnicos para monumentos e prédios públicos em toda a Europa, a LEDs C4 reúne tecnologia de ponta e técnica científica no desenvolvimento de soluções inovadoras, aplicáveis a qualquer edificação. Fundada há mais de 40 anos e presente em mais de 60 países, a LEDs C4 é uma referência em iluminação em todo o mundo. Sua sede, localizada em Torá, na Catalunã, é também o principal centro produtivo da marca. “A empresa espanhola adota um estilo contemporâneo, que assume um desenho limpo e moderno, além disso, detalhes como o LED incorporado à algumas peças e a tecnologia de ponta aplicada aos produtos garantem o diferencial da marca.”, afirma Júlia Pimentel, Lighting Designer do Grupo Loja Elétrica, que representa a LEDs C4 no Brasil. Segundo ela, a empresa também desenvolve peças em parceria com grandes nomes do design internacional, como Daniel Vila e Esther Pujol, do Nahtrang Disseny ou Estudi Ribaudí e Francesc Vilaró.

Prêmio No dia 31 de janeiro, o mercado Metropol Parasol foi escolhido para ser um dos cinco finalistas da edição 2013 do European Union Prize for Contemporary Architecture, famoso prêmio da Fundação Mies van der Rohe. O vencedor será conhecido em maio e a premiação acontece no dia 6 de junho no Pavilhão de Barcelona, na Espanha.


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Mercado em Encarnacion - Sevilha Foto: divulgação


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Foto: Dexigner


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O Design Essencial por Danilo Borges

Formas orgânicas, inspiradas na beleza e na inteligência da natureza. Antes mesmo de o termo sustentabilidade tornar-se palavra de ordem, o designer galês Ross Lovegrove já defendia que a criação deveria seguir o que chamou de ‘essencialidade orgânica’, isto é, uma utilização mais racional dos recursos, buscando alcançar o máximo de efeito, com o mínimo necessário. A partir dessa concepção, Lovegrove desenvolveu obras que remetem à harmonia e às curvas encontradas na natureza, como a famosa cadeira Supernatural (veja foto na página 44). Em entrevista à iDeia, Lovegrove falou sobre o design do século XXI e o papel da criatividade no desenvolvimento econômico.

Revista iDeia - Alguns críticos de design referem-se ao seu trabalho como possuidor de um conceito essencialmente orgânico – e que possivelmente essa seria a linguagem estética do século XXI. Como você percebe essa colocação? Ross Lovegrove - Não posso falar pelos outros, pois as pessoas dizem que a minha abordagem ao design orgânico é muito original e sofisticada. Vejo, talvez, como resultado do olhar de um escultor, associado à compreensão de tecnologias modernas e de processo. É óbvio que, para ser totalmente natural, temos que entender que a linguagem do design e da arquitetura no século XXI será derivada da convergência da modelagem computacional avançada, das


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Foto: Simona Cupoli


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O painel de cristal líquido ondulado, criado para a fábrica de vidros tcheca Lasvit, é um dos mais recentes e ousados projetos de Ross Lovegrove. Esse trabalho, que utiliza altíssima tecnologia, nos abre os olhos para novos conceitos e maneiras de interagir com o mundo e ajuda a trazer o fundo do mar para nosso cotidiano. A ideia é que os painéis sejam usados em projetos de arquitetura, substituindo os tão conhecidos vidros planos, e trazendo certa efemeridade aos edifícios.


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novas tecnologias de materiais que se formam e de uma liberdade de criação escultural com inteligência coisas cultivadas como na natureza, formas biológicas que são altamente sensuais e inteligentes.

Cadeira Supernatural - Moroso

Ri - Para conseguir um trabalho essencialmente orgânico é preciso de muita tecnologia ou é possível fazê-lo apenas com o básico disponível? RL - Não podemos mais dar ao básico essa nova precisão fantástica - como automóveis ou aviões que usam incríveis novas tecnologias, uma vez que já não esculpimos mais um pedaço de madeira com uma faca. Se você quer fazer um novo projeto ou arte, sem dúvida, você precisa de um novo processo. Ri - Na sua opinião, qual a importância do design para sociedade do século XXI? RL - Acredito que o design deve abraçar todos os fatores, incluindo questões ecológicas, uso de recursos naturais, inteligência industrial, a longevidade das pessoas, a relevância global e, principalmente, a consideração de que a humanidade está no centro de tudo e, é claro, de certa espiritualidade.

Pendente Mercúrio Soffitto - Artemide

Auto-falantes KEF

Ri - Você acredita que o design praticado atualmente atende às necessidades reais da sociedade global? RL - Não! Não em tudo. Como ocorre em todas as culturas que se tornam ricas de repente, muitas vezes, desperdiçamos recursos na beleza falsa e suas referências óbvias. Acredito que falta muita intervenção na área da saúde, com uma mente fértil e livre. Coisas com mais raridade – não popularidade – e mais singularidade, que realmente possam contribuir com algo valioso para as culturas e para o conhecimento do mundo.


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Botânica Rain - Coleção Artemide 2012 Foto: Simona Cupoli


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Luminária UFO Estação Ferroviária de Lille - França Foto: Simona Cupoli


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Ri - Como os designers podem contribuir para que a criatividade se torne um elemento efetivo da economia de países em desenvolvimento? RL - O design é, absolutamente, o motor do crescimento econômico e da prosperidade de um país. Ele melhora a vida e eleva as civilizações, podendo ser um ícone de aptidões de uma nação em sua cultura e consciência. Ele promove uma sensação maravilhosa de se estar elevando os sentidos como uma celebração da vida. O design é a evolução do antigo para o Novo Mundo. Ri - Você acredita que o designer é, por natureza, um profissional intuitivo? Qual sua definição para intuição? RL - Sim, acredito. Minha definição de intuição está deixando aquelas origens mais profundas. Penso em algo primordial, um reflexo natural em todos nós, que não é manipulado pela publicidade, pela TV ou por nossa própria mente. A intuição permite-nos ver a vida de forma mais realista e nos chama para as coisas e pessoas que naturalmente amamos muito, nada forçado ou premeditado, simplesmente torna nossos sentidos mais aguçados. Ri - Sabemos que você costuma ter muitos projetos em desenvolvimento ao mesmo tempo. Como você consegue administrá-los e ter tempo para trabalhar em cada um deles? RL - Sim, tenho muitos projetos. Mas ao longo dos anos eu aprendi a ser multi-tarefa. Precisamos lembrar que, quando se tem uma filosofia sobre o

design e a vida, todas as peças se encaixam, e tudo o que faço passa a se relacionar de forma criativa, como se minha parte e a de outros formassem uma única história. Uma coisa influencia a outra e acaba por reforçar seus próprios princípios. E, além do mais, estou sempre apaixonado por fazer algo de positivo com minha vida, ter uma forte ética de trabalho que influencie as pessoas ao meu redor. Eu tenho escritórios de acompanhamento global em Bogotá, Tóquio, Mumbai e Los Angeles. Penso sempre na necessidade de criar formas, como se fossem sementes que desejam crescer e ser compartilhadas. Ri - Em quais projetos você está trabalhando atualmente? RL - Em vários projetos, como um novo carro elétrico, que será lançado no próximo Milan Salone; uma nova proposta de arquitetura para a cidade maravilhosa do Rio de Janeiro, desenvolvida pela minha amiga Joy Garrido; projetos de Iluminação para a Artemide; mobiliário para a Kartell, Magis, Moroso e Vondom (em Valência); uma nova cadeira de madeira para a Bernhardt (EUA), para comemorar o aniversário de 125 anos da marca; produtos eletrônicos para Samsung, na Coréia; escrever um novo livro; criar um novo apartamento orgânico em Barcelona, perto de La Pedrera; um novo apartamento magnífico para um colecionador de arte em Londres; uma Vila privada na Polônia; uma exposição da minha nova arte trabalhada em Istambul; e, por fim esculturas e peças de mobiliário, com “edição limitada”, que são minhas paixões.


Projetos

Quando a iluminação é o ponto forte Projeto em Belo Horizonte/MG é exemplo de como iluminação diferenciada é essencial por Ana Cláudia Ulhôa Quando decidiram instalar o salão de beleza Maison Belvedere em uma casa, inicialmente construída para ser uma residência, Daniela Malta e suas sócias sabiam que teriam muito trabalho pela frente. Além dos ajustes de espaço e aquisição de mobiliário, teriam que lidar com uma questão muito importante: a iluminação. Determinada a preservar a arquitetura original da residência, a ligthing designer Luciana Diniz realizou poucas intervenções e priorizou a valorização de elementos arquitetônicos existentes. Além de desenvolver uma nova proposta luminotécnica para a residência, desenhou bancadas, espelhos e balcão de recepção em diálogo com as proporções do espaço. Segundo Luciana, as proprietárias do salão fizeram três pedidos antes da elaboração do projeto: desejavam um ambiente onde os clientes quisessem permanecer por mais tempo; com espaços bem definidos; e que não deixassem transparecer as adaptações realizadas, já que aquela construção não tinha sido projetada para receber um empreendimento comercial. Fotos: Petrônio Amaral

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As laterais dos espelhos do Maison Belvedere receberam lâmpadas incandescentes para facilitar o trabalho dos profissionais que utilizam esse espaço.


Projetos

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Para Diniz, os maiores desafios foram trabalhar com o pé direito e com as diversas demandas de iluminação que um ambiente como esse exige. “O pé direito era irregular, começava com 3,90 m² e terminava com 6,90 m². Além disso, tive que pensar uma iluminação específica para cada espaço”, conta.

Levando em conta o público diferenciado do empreendimento, Luciana Diniz criou uma iluminação cênica e impactante. Por meio de lâmpadas com facho de quatro graus instaladas na parte superior de cada pilar - onde se encontram as cortinas de seda - a ligthing designer criou feixes de luz vivos e dramáticos.

Na área dedicada às manicures foram escolhidas lâmpadas fluorescentes T5, que produzem o dobro de brilho e possuem menor depreciação do fluxo luminoso. No caso dos maquiadores e tinturistas, foi preparada uma iluminação com Índice de Reprodução de Cores (IRC) mais apurado. Lâmpadas incandescentes foram instaladas nas laterais de cada espelho; uma fonte de luz difusa e vertical foi usada para que a iluminação ficasse homogênea e não se formassem sombras. Foi utilizada também uma iluminação conjunta, vinda do teto, em diagonal, à base de lâmpadas HO, adequadas para pé direito duplo. Tudo isso, para proporcionar ao profissional a percepção tridimensional do rosto e, aos clientes, uma ideia fiel das cores nas tinturas e maquiagens.

A arandela de cristal colocada na recepção também foi empregada para dar um ar de elegância e sofisticação ao ambiente. “Quando um ambiente tem luz em excesso, deixamos de ver, porque ficamos com a visão ofuscada. Entretanto, quando a luz é insuficiente, ocorre a mesma coisa. A luz embeleza. Que seja usada com sabedoria!”, finaliza Luciana. Todo equipamento luminotécnico usado neste projeto é da Templuz.

Preocupada com a sustentabilidade do projeto, a designer manteve as portas laterais em vidro, para reforçar a iluminação natural, facilitar o trabalho de todos os profissionais e diminuir o consumo.

Luciana Diniz

Área de trabalho das manicures.


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Iluminação dos pilares onde foram instaladas as cortinas.


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Foto: Thiago Fernandes


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SemFronteiras

Glamour dos anos 30 de volta a Belo Horizonte

por Ana Cláudia Ulhôa

Andar pelos corredores e salões em fase final de reforma deixa uma grande expectativa para a reinauguração daquele que foi um dos prédios mais glamourosos e imponentes da capital mineira durante a década de 1930. Depois de seis anos de obras, os operários ainda ajustam alguns detalhes, como a restauração de pisos e o acabamento do palco que fica no teatro principal da casa. Tudo isso para que, em setembro deste ano, os belorizontinos possam desfrutar novamente das festas, exibições de filmes e peças de teatro que ocorriam no antigo Cine Theatro Brasil antes do seu fechamento, em 1999. Adquirido pela V & M do Brasil, através da Fundação Sidertube – entidade sem fins lucrativos, responsável por vários projetos da empresa -, o edifício do antigo Cine Brasil, rebatizado de V & M BRASIL Centro de Cultura (VMBCC), contou com um orçamento de R$40 milhões para reformas, provenientes da Lei Rouanet. De acordo com Alberto Camisassa, superintendente executivo da Fundação Sidertube, o objetivo da empresa ao adquirir o edifício – que fica no cruzamento das Avenidas Amazonas com Afonso Pena – era promover a democratização da cultura. “Procurávamos um lugar que tivesse a frequência e o trânsito popular de todas as classes, de fácil acesso. Nada melhor que a Praça Sete, onde se encontrava o antigo Cine Theatro Brasil”, conta. A beleza e o projeto visionário do prédio, em estilo Art déco, desenhado por Ângelo Alberto Murgel, em 1927, fizeram com que a empresa optasse por manter os traços originais do edifício. “Quando começamos a mexer no prédio, ficamos admirados com a estrutura do edifício. O Cine Brasil apresentava soluções de engenharia de vanguarda. Afinal, durante muitos anos foi o edifício mais alto da cidade. Outro ponto no qual a engenharia da época ainda impressiona é o vão livre, de mais de 25 metros, da laje de forro do Grande Teatro. Ainda hoje, 80 anos depois de sua construção, um vão livre desse tamanho continua sendo algo desafiador para os engenheiros”, diz Camisassa.


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Segundo o superintendente, foram tomados todos os cuidados para que luminárias, afrescos, contornos, vitrais, rampas e escadas prédio fossem mantidos. Ele lembra que: “essa não é uma reforma, mas uma obra de restauro. O edifício esconde grande quantidade de detalhes. Isso nos obriga a ser muito zelosos”, comenta. Os tacos e ladrilhos que decoravam o chão do prédio foram restaurados e fixados novamente. Luminárias “Bolo de Noiva” e portas pantográficas para elevadores foram fabricadas, para ficarem idênticas aos modelos originais. Além disso, duas descobertas chamaram a atenção da equipe de obras: embaixo de cinco camadas de tinta, foi encontrado um painel de 300 m² feito pelo artista plástico italiano, radicado no Brasil, Ângelo Piggi. As pinturas, também no estilo art déco, ocupam as paredes laterais e de fundo do Grande Teatro. As rampas de acesso a essa sala, conhecidas do público que frequentou o Cine Brasil na década de 1990, também escondiam uma surpresa: uma escada construída no projeto original.

Nova iluminação para o Foyer do balcão Foto: Ludmila Loureiro

1927

Início das obras do Cine Theatro Brasil, projetado por Ângelo Alberto Murgel.

1932

Dia 14 de junho é inaugurado o maior cinema do país. O primeiro filme a ser exibido foi “Deliciosa”, estrelado por Janet Gaynor e Raul Roulien.

1999

A concorrência com os cinemas de shoppings levou o Cine Brasil a fechar as portas. O último filme rodado foi “O especialista”, com Sylvester Stallone.


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2006 & 2007

O prédio que liga as Avenidas Amazonas e Afonso Pena à Rua Carijós foi comprado pela V & M do Brasil, empresa que apoia e patrocina projetos culturais desde 1999. Início das obras e descoberta das pinturas de Ângelo Piggi e das escadas de acesso ao Grande Teatro.

2009

Revitalização da fachada do prédio. A área externa foi restaurada com as mesmas cores e vitrais da época de sua construção.

2010

Finalização das obras de superestrutura.


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Tecnologia Alberto Camisassa lembra que outro objetivo da V & M, ao reformar o edifício é devolvê-lo com o máximo de conforto e tecnologia. Para isso, foram utilizados equipamentos digitais nas salas de cinema e os ambientes ganharam um moderno tratamento acústico, para que os ruídos das ruas movimentadas do centro de Belo Horizonte não atrapalhassem os eventos realizados no local. A iluminação também recebeu atenção especial. A lighting designer da Templuz, Lorena Mattos, foi contratada como consultora para garantir que a luz dos espaços valorizasse os traços do VMBCC e que atendesse a todas as necessidades das diversas possibilidades de uso dos espaços. A fachada do prédio foi revitalizada com a instalação de faixas de LED em torno das janelas e vitrais. “Esse recurso foi usado para destacar a arquitetura, sem atrapalhar a iluminação interna. Quando olhamos de dentro do edifício, não conseguimos ver as fitas e ainda temos a sensação de que a luz vem do lado fora”, explica Mattos. No Salão de Eventos, o forro escolhido se assemelha a uma rede com pequenas placas brancas penduradas, que rebatem a luz emitida pelas lâmpadas colocadas por baixo. O efeito é uma luz que se espalha uniformemente pelo ambiente, quando todas as lâmpadas estão dimerizadas na mesma intensidade.

2011

O sistema de ar condicionado foi instalado, atendendo os 8.200 m² da edificação.

A tecnologia do LED também foi aplicada no Grande Teatro. Diversas barras de LED Osram Cove, com temperatura de cor de 3000k, foram dispostas na lateral do forro para ressaltar o painel que decora o local. Na plateia, foram usadas luminárias Osram LED LEDvance Downlight XL de 32w - 100 graus. Já no Foyer, uma sanca feita de gesso e vidros foi construída ao redor do teto, dando a impressão de se tratar de uma grande janela. A sensação é que a claridade é proporcionada pela luz solar, quando, na verdade, trata-se de uma luminária. Após a reforma, o prédio de 11 andares e 8,3 mil m² terá um salão multiuso com capacidade para 800 pessoas; um mini-teatro com 200 lugares; um grande teatro para 1.100 pessoas; dois cafés; um foyer; dois andares para exposições; salas para formação cultural e artística; e estúdios de gravação e edição de vídeo. A inauguração está marcada para setembro, mas ainda não foram divulgados dia e horário da cerimônia. Segundo o superintende executivo da Fundação Sindeturbe, a população de Belo Horizonte terá uma grande surpresa quando entrar pela porta principal do edifício. “Preparamos uma exposição de um painel de 15 metros de altura assinado por Cândido Portininari e mais algumas surpresas para a abertura do novo Cine Brasil. Queremos que a população se surpreenda com o resultado dos trabalhos que foram feitos aqui”, afirma.

2012

A obra entra em processo de finalização.

2013

Cerimônia de inauguração do V & M BRASIL Centro de Cultura, programada para setembro.


Fotos: Acervo Estado de Minas

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Maior acervo brasileiro em pinturas parietais estilo Art DĂŠco Foto: Ludmila Loureiro


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“Mostrar sem revelar”

Para não estragar as surpresas que foram preparadas para a inauguração do VMBCC, vamos dar apenas uma pitada do que você irá encontrar em setembro deste ano.

1 - Tacos, em grande parte, originais e recuperados. 2 - Janelas originais, utilizando iluminação periférica para valorizar a fachada. 3 - Ladrilhos recuperados e repostos dentro do mesmo padrão. 4 - Pintura do teto se mantém com o mesmo padrão de cor. A iluminação de barras de LED favorece os volumes. 5 - As gamelas também foram recuperadas e mantêm seu padrão de cor original. 6 - Painéis ripados em pontos estratégicos, pórticos em madeira original e pinturas das paredes recuperadas. 7 - A iluminação do novo espaço de eventos no último andar conta com estrutu ra anti-ofuscante e dimerização das lâmpadas. 8 - Foram produzidas luminárias “bolo de noiva”, que utilizam lâmpadas de LED. 9 - Toda a iluminação da plateia se baseia na tecnologia LED de alta potência. O teto foi produzido em perfis madeirados.


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Fotos: Ludmila Loureiro


DesignouArte?

Entre a arte e o Design por Ana Cláudia Ulhôa Uma máquina que transforma madeira, isopor, acrílico e vários outros materiais em qualquer objeto, com um simples apertar de botões. Comum na indústria pesada, a impressora 3D ganhou nova utilização nas mãos do artista plástico mineiro, Geraldo Cézanne. Após seis meses de muita pesquisa e trabalho, Cézanne criou um protótipo, usando materiais que tinha à disposição. “Uma máquina dessas custa entre R$80 mil a R$140 mil. Eu consegui diminuir para cerca de R$2.500,00. Para isso, procurei matérias-primas alternativas, comprei um CD que explicava como construir o aparelho e estudei mecatrônica e eletrônica”, conta. O objetivo do artista era tornar o método de produção de suas esculturas mais eficiente. “Antes, as peças produzidas não correspondiam aos meus desenhos. Mas, com a impressora 3D, a precisão do meu trabalho melhora e os desperdícios são reduzidos”.

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DesignouArte?

Atualmente, as esculturas de Cézanne são esboçadas em papel e depois transferidas para o computador. No Corel Draw, o projeto sofre ajustes e tem suas dimensões calculadas. Em seguida, o projeto é enviado para o programa responsável pelo funcionamento da impressora, que faz todo o restante. Diante de um processo no qual o trabalho manual do artista é reduzido ao mínimo, muitos se perguntam: Até que ponto os objetos fabricados por uma máquina como essa podem ser chamados de obras de arte? Para ele, o uso da tecnologia não exclui o trabalho criativo do artista plástico. “A tecnologia ajuda a conferir maior plasticidade às obras. Acho que ser aberto a novidades é meu maior e melhor alimento. Eu sempre digo que, se muito você conhece, mais criativo você vai ser”. Inquieto e curioso, Geraldo Cézanne já se debruçou sobre diversos temas e realizou inúmeros cursos. Além da graduação em artes plásticas, na Escola Guignard, em Belo Horizonte/MG, estudou design, moda e aprendeu técnicas de ourivesaria.

Processo de trabalho: 1. Desenho manual 2. Conversão em Corel Draw 3. Programa de prototipagem 4. Peça pronta


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Vitrine temática da Templuz Dama do Barroco Mineiro Foto: Geraldo Cézanne


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Exposição: As Damas do Ouro Castanho Palácio das Artes

Damas de Ouro Entre seus trabalhos mais importantes estão os que unem design estratégico e arte. Empresas como Port, Templuz e Patachou já o convidaram para produzir esculturas ou montar vitrines que despertem a atenção do público pela marca. Um exemplo é o projeto “As Damas do Ouro Castanho”, desenvolvido para a marca de café Fino Grão. Com o intuito de atrelar a arte ao prazer da degustação da bebida, Geraldo Cézanne criou 20 esculturas humanas em jornal, representando as mulheres dos “barões do café”, entre o século XVIII e a década de 1920. Por ser um profissional que se encontra entre design e a arte, Geraldo acabou tendo que lidar

DesignouArte?


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com duas questões polêmicas: a condenação da arte comercial e a recusa dos designers em serem chamados de artistas. Quando perguntado sobre esses assuntos, Cézanne responde: “Se uma pessoa quer deixar um registro artístico, ela tem que ter mecenas. Quando eu vejo um Fino Grão ou uma Templuz me convidando, eu não vejo como um pagamento pelo trabalho, mas sim como uma oportunidade de fazer o meu trabalho”. E ainda completa, sem medo: “Arte e design é a mesma coisa. A diferença do designer para o artista é que o designer faz uma peça que vai para uma linha industrial, o artista não. Os dois passam pelo mesmo processo de criação e estudo”.


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Foto: divulgação


Criador&Criação

Villa Vittini Concept Store por Thaís Casagrande

Com aproximadamente mil metros quadrados, a concept store Villa Vittini –, desenvolvida pelo arquiteto mineiro Carlos Alexandre Dumont, o Carico – foi concebida para ser uma loja conceito, abrangendo a Villa Vittini Casa, Mulher e Homem. Pela primeira vez, os núcleos estarão completamente integrados em um mesmo espaço, que se torna o novo spot de luxo dos mineiros. À primeira vista, uma impactante e majestosa loja em plena Alameda da Serra, zona nobre de Belo Horizonte. Com vitrines imensas e uma iluminação que valoriza a fachada, o espaço torna-se um ponto de referência quando o assunto é bom gosto. Projetada para ser não apenas uma simples loja aonde pessoas vão somente para comprar, a concept store Villa Vittini tem como proposta oferecer uma experiência de consumo.

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Criador&Criação

De acordo com Carico, a loja é completamente diferente das outras, pois vai atender, em um único espaço, à mulher, casa e homem, tudo em um só ambiente, e brevemente terá também joias. “A intenção foi criar uma loja impactante, e ao mesmo tempo, acolhedora. Em constantes conversas com Valéria Nogueira (proprietária da loja) pensamos em fazer algo que deixasse as pessoas à vontade, um lugar aconchegante para se ter uma experiência de compra como um todo, com bebidas e lanches sendo servidos e um bate papo agradável. Um lugar para aliviar o stress e a correria do dia-a-dia, no qual tudo pode ser levado para a casa”.

Espaço dedicado a Villa Vittini Home. Todas as peças estão à venda, desde os lustres, até mesmo a mesa usada para exposição das peças. Fotos: Ludmila Loureiro


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O primeiro impacto: Lustre de dois metros situado no centro da loja, sob teto de espelhos.


Criador&Criação

Charme Um lustre de dois metros ao centro e um mosaico de espelhos no teto, que amplia a store, mostra toda a esplêndida Villa Vittini. Para Carico, na arquitetura é preciso exagerar em uma coisa e atenuar em outra, para assim, gerar uma média confortável. “Se você extrapolar em tudo, acaba assustando os clientes. Por isso, combinei o teto de espelhos com uma escada simples e discreta, para descansar. O cliente não pode se deslumbrar demais com uma loja. Ele tem que achar o ambiente agradável para comprar,” afirma. A ideia, segundo o arquiteto, foi a de fazer um espaço exclusivo, sem a preocupação com a rua, que fica um pouco afastada, uma vez que as clientes não vão chegar até ela por acaso. “Então, a escala é o que chama a atenção”, relata. Mesmo tendo como foco o público A, a loja não tem excesso de luxo. Para o famoso arquiteto, com um projeto arquitetônico isento de exageros, é possível valorizar as peças a serem vendidas

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.Na seção home, por exemplo, adornos e móveis importados, com marcas de renome internacional. “Meu trabalho é mais limpo, não precisava me preocupar com o mobiliário, que seria todo da própria loja. Foi um respeito mútuo, uma troca de ideias. Todas as peças estão à venda, desde os copos até os sofás e lustres,” diz Carico. Quanto à tecnologia, em toda a loja foram usadas apenas equipamentos com lâmpadas de LED, (fornecidas pela Templuz), uma forma de economizar energia e fazer um projeto sustentável. “A iniciativa partiu dos proprietários, de que tudo fosse feito de LED. “Ficamos satisfeitos pela economia que esse tipo de luz traz, o que beneficia a todos”. Outro ganho importante com esse tipo de lâmpada é o fato de não emitir calor, não esquentando, assim, produtos expostos em estantes com luz embutida. Com isso, há uma economia ainda maior de energia, pois o uso do ar condicionado pode ser dispensado.

Villa Vittini Homem, espaço dedicado à sapatos e acessórios masculinos.


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Criador&Criação Villa Vittini Mulher, acessórios femininos como bolsas e sapatos são o carro-chefe da loja.

Villa Vittini Fundada em Belo Horizonte em 1998, por Valéria Calonge Soares de Sá Nogueira, a Villa Vittini é uma referência no mercado de luxo. O foco são sapatos e acessórios de consagradas grifes internacionais como Missoni, Chloé, Emilio Pucci, Ermenegildo Zegna, Marc by Marc Jacobs, e nacionais, privilegiando as coleções próprias. Completa o mix de produtos uma seleção impecável de moda, perfumaria e mimos de casa. Das criações clássicas ao estilo moderno, a Villa Vittini atende aos gostos mais exigentes. São seis lojas físicas em Belo Horizonte, além de loja virtual, que entrega em todo território nacional.


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Sapatos expostos em estantes com iluminação de LED, não esquentam e não danificam as peças.


AçãoSocial

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(Re)Criando Sonhos

por Júlia Andrade

Utilizando retalhos de cintos e tecidos automotivos, cooperativa em Betim cria peças de beleza inusitada a partir do descarte da produção de carros

Entre metros de tecidos automotivos, retalhos de cintos de carro, algodão e máquinas, 22 cooperadas trabalham hoje na Cooperárvore, em Betim. A cooperativa é um dos programas que integra o Programa Árvore da Vida - Jardim Teresópolis, que beneficia a população que vive no entorno da fábrica da FIAT. Em um grande galpão, são confeccionados diversos produtos, feitos a partir de matérias primas inovadoras, e ecologicamente corretas. Dividido em três setores: corte e costura; artesanato e silkagem, no amplo espaço também estão expostas peças produzidas por mulheres que tiveram suas vidas transformadas através do trabalho. A linha de produtos, que conta com bolsas, malas, chaveiros, jogos, ecobags, produtos para casa e diversos brindes, é comercializada em feiras, lojas e pela internet. Além disso, a cooperativa tem boa parte de sua produção destinada a encomendas. Segundo Luciana de Freitas, coordenadora da cooperativa, 85% das vendas são para empresas, que compram brindes para clientes e funcionários e até mesmo uniformes.


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Carteira Escarpas do Lago, confeccionada com retalhos de cintos de segurança Fotos: divulgação Fiat

A Cooperárvore possui uma coleção anual, e mini coleções em datas comemorativas Dia das Mães, dos Pais, Namorados e Natal. A criação e desenvolvimento das peças são feitos pela designer Rafaella Thomé desde 2011. Segundo ela, o material não é apenas a matéria prima, mas tem papel fundamental na criação. É necessária uma grande pesquisa mercadológica feita pela designer, para depois ser avaliado como os produtos podem utilizar o que vem de doações de parceiros da Rede FIAT de Cidadania. A utilização dos materiais - como retalhos de cintos e tecido automotivo, lona de banners, tecido de pet reciclado e algodão - é o diferencial do trabalho. “Os produtos de tecido automotivo e cinto de segurança são os que

mais chamam atenção, já que a valorização do material aplicado faz com que a matéria prima se torne delicada e luxuosa”, garante Rafaella. Dentro das coleções são criadas linhas específicas. “Separo os cintos, e desenvolvo alguns produtos focados neles. Depois o tecido automotivo, e produtos de algodão e tecido de pet. A maior parte das criações é feita de acordo com o material, mas geralmente fazemos adaptações ao longo do processo”. A designer conta ainda que a participação das cooperadas tem se tornado cada vez maior. “Elas trazem produtos, ideias e modelos. Além disso, durante a fabricação, mudanças são sugeridas e aplicadas para facilitar o processo de produção”.


AçãoSocial

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Itália Em função do sucesso do projeto, em 2011 a Cooperárvore participou do “Encontro Para Amizade entre os Povos”, o Meeting, em Rimini, na Itália. Promovido pelo movimento eclesial Comunhão e Libertação, o encontro reúne pessoas de todo o mundo que buscam mudar a realidade da pobreza mundial com pequenas ou grandes ações. Convidados pela ONG italiana Avisi, parceira da FIAT na realização do Árvore da Vida, a cooperativa apresentou diversos produtos, que alcançaram grande sucesso e acabaram leiloados entre participantes do evento. Já em 2012, a cooperativa foi premiada no primeiro “Prêmio Economia Criativa”, do Ministério da Cultura. A Cooperativa social do Programa Árvore da vida foi reconhecida como uma das 20 melhores iniciativas brasileiras no ramo. Entre os critérios avaliados estavam a contribuição da iniciativa para o cuidado do meio ambiente; a valorização da diversidade e cultura brasileira; a geração de trabalho e renda para a comunidade onde está inserida; o uso de tecnologias sociais e inovadoras e a capacidade da iniciativa de se sustentar.

Cooperadas trabalham no setor de silkagem da Cooperárvore

Iracema Pereira em seu trabalho no setor de corte da cooperativa

Histórias Desde 2006 a Cooperárvore tem feito parte da vida de diversas mulheres que viram suas vidas mudarem. Hoje as profissionais que ali trabalham carregam com orgulho o posto de cooperadas e donas de seu próprio local de trabalho. Este é o caso de Iracema Pereira, de 52 anos, que faz parte da cooperativa desde o início. Ela começou a participar do projeto em 2004. Ela acompanhava seus filhos, quando foi criado o curso de corte e costura para moradores. “Surgiu a oportunidade para os pais participarem e eu sugeri o de costura. Após seis meses já começamos a produzir aventais para atender um pedido da FIAT”. Claudinéia Alvarenga, de 42 anos, é outro exemplo de conquista através do trabalho. A ex-faxineira parou de estudar cedo, e segundo ela, pensava que iria envelhecer ainda na faxina. Atualmente, Claudinéia é presidente da Cooperativa, e já viajou para diversas cidades para mostrar o trabalho da Cooperárvore. Ela, inclusive, foi uma das cooperadas que participou do Meeting, na Itália. “Depois que passei a participar da cooperativa, tive várias oportunidades e isso mudou completamente minha vida, minha rotina. De dona de casa, de mãe, e hoje de profissional”, conta.

Claudia Cristina, à esquerda, com Claudinéia Alvarenga, trabalham no setor de artesanatos.


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Árvore da Vida O Programa Árvore da Vida é o nome dado à Política de Relacionamento com a Comunidade feita pela FIAT. Focada em desenvolver a comunidade vizinha à sua fabrica, em Betim, na Grande Belo Horizonte/MG, a montadora dividiu seu programa em quatro grandes ações: Árvore da Vida - capacitação profissional; Árvore da Vida – Voluntariado; Árvore da Vida - Parcerias e Árvore da Vida - Jardim Teresópolis. O programa tem como objetivo a inclusão de crianças e jovens, por meio de ações socioeducativas, de fortalecimento da comunidade e de geração de trabalho e renda na região do entorno da fábrica. Isto sem deixar de lado a autonomia das pessoas beneficiadas. Em uma pesquisa de avaliação de impacto, realizada pela FIAT em 2011, foi constatado que, no período de sete anos, desde que foi criado, o programa beneficiou mais de 17 mil moradores. Em 2004, a população desempregada na região era de 12,6%. Em 2001, o número foi para 7,3%. E, em média, ¼ das famílias da região já teve pelo menos um membro que participa ou já participou das ações do programa.

Bolsa Marina. Produzida com tecido automotivo e retalhos de cinto de segurança. Foto: divulgação FIAT


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Ícones

Alvar Aalto: Referência do Design à Arquitetura por Thaís Casagrande

Alvar Aalto (1898-1976) não via fronteiras entre as artes. Do design à arquitetura, ele considerava cada dimensão da criação como um sistema interligado para o bem-estar coletivo. Como arquiteto, o finlandês contribuiu de forma decisiva à reedificação de seu país após os efeitos destrutivos da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). A vida profissional de Aalto foi intensamente produtiva. O arquiteto teve mais de 300 obras construídas. Entre as mais conhecidas e importantes para a análise da evolução de sua produção arquitetônica estão: a Vila Mairea, o hospital Paimio, a biblioteca de Viipuri e o campus da Universidade de Tecnologia – TKK, hoje parte da universidade que leva seu nome: Aalto University. De acordo com a designer e pesquisadora, Patricia Naves, o trabalho de Alvar Aalto passou por um processo de amadurecimento e atingiu seu pico de relevância quando se encontrou no movimento moderno. “A principal característica de suas obras é a linguagem modernista combinada à linguagem local. Aalto se voltou para os recursos naturais e tradições de construções finlandesas para produzir sua arquitetura”, afirma.


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Ícones

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Entre as características mais marcantes, está o uso intensivo da madeira, principalmente no interior dos edifícios. Outra particularidade são os espaços pensados para acolher as pessoas, mas que proporcionam a maior integração possível com o ambiente externo. “Há um diálogo muito claro entre os elementos arquitetônicos e os elementos da natureza ao redor do edifício” conta Patrícia, que atualmente reside na Finlândia. O design é outro campo no qual Aalto se destaca com importantes obras de reconhecimento internacional. Possui vários projetos de mobiliário (cadeiras, mesas, camas, bancos), no qual o emprego da madeira se faz de forma orgânica e racional.

No exercício do design, Aalto fez com que a sinuosidade de móveis e objetos de vidro e as técnicas inovadoras de curvar a madeira tornassem umas de suas principais marcas. “Ele se dedicou intensamente ao desenho de mobiliário, inicialmente, para suprir a demanda dos seus próprios projetos de arquitetura. Mais tarde fundou a Artek, a marca que comercializa, até hoje, os móveis desenvolvidos por ele. Uma das peças mais famosas do Aalto, entretanto, é de vidro, o vaso Savoy, que se tornou um dos símbolos da Finlândia. O banquinho 60 também é intensamente reproduzido pela Artek, detentora dos direitos”, diz Patrícia.

Cadeira Hallway 403 Fotos: divulgação


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Villa Mairea De 1938, foi um dos trabalhos que mais marcou em sua carreira. Consistia numa casa de verão construída para Mairea Gullichsen em Noormarkku. A residência está situada no topo de uma colina, numa floresta de pinheiros.

As prioridades das obras de design de Aalto eram a durabilidade e concisão da forma. “Na Finlândia os móveis de Aalto estão por todo lugar - de restaurantes a jardins de infância - e pode-se comprovar a longevidade das peças. O detalhamento dos móveis da Artek são racionais, mas não são óbvios. Aalto aplicou na madeira, as curvas estruturais que Marcel Breuer conseguia com tubos metálicos. Na época, um grande feito e, até hoje, difícil de serem reproduzidas com a qualidade original”, relata Patrícia. Sua facilidade em manejar as formas geométricas básicas lhe permitiu alcançar variações que davam um caráter orgânico a seus móveis e edifícios, nos quais sempre optou por privilegiar o conforto e a funcionalidade, preocupação que o diferenciava dos demais criadores do modernismo europeu. “Cada um pode levar consigo, para sua casa, a própria personalidade, como se a transformasse em um objeto portátil”, disse Alvar certa vez em entrevista.

Nos anos 1950, o finlandês venceu numerosos concursos de arquitetura, como o do Instituto Politécnico de Helsinque, produzindo para seus novos edifícios um conjunto de móveis simples de madeira sustentados por pernas em formato de leque, como as banquetas da série X600. Em sua homenagem, foi criada em 1967 a Medalha Alvar Aalto, premiação concedida a cada quatro anos, como forma de reconhecimento a uma contribuição para a arquitetura mundial. O finlandês tornou-se um dos primeiros e mais influentes arquitetos do movimento modernista. Participou ativamente dos Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna, encontros que, a partir de 1928, reuniram grandes nomes para discutir os rumos do ofício. De sua imaginação surgiram novas perspectivas para os domínios arquitetônicos e do design de utensílios.


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GiroCultural

Tallinn, a capital da Estônia, parece saída dos contos de fadas: torres medievais, cidadela murada, flores no verão e neve no inverno. Localizada à beira do Golfo da Finlândia, no norte da Europa, é o coração desse pequeno país. Tallinn é a cidade medieval mais bem preservada do mundo. Mesmo as históricas invasões e disputas com a Dinamarca, Alemanha, Suécia, Rússia e Polônia e bombardeamentos diversos, não destruíram as principais construções, e a cidade ainda mantém charme e atmosfera medievais. Com cerca de 400 mil habitantes – praticamente um terço da população estoniana – a capital é o centro do desenvolvimento econômico e herança cultural da Estônia.

por Renira Rampazzo Gambarato


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Botas de Jaanus Orgusaar - 2002 (Estônia). Coleção Permanente do Museu de Artes Aplicadas e Design.

Fotos: Remira Rampazzo Gambarato


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Vista panorâmica de Tallinn.


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GiroCultural

Trienal: Porcelana de Christina Roos (Suécia).

Os países bálticos (Estônia, Letônia e Lituânia)

do presente. A funcionalidade nórdica e a

destacam-se pelo rápido crescimento

ascética simplicidade o definem.

econômico na última década, em detrimento da estagnação sofrida enquanto

Em meio às estreitas ruelas de paralelepípedo

faziam parte da ex-União Soviética. Tallinn,

da Cidade Velha, no centro de Tallinn,

nesse contexto, é tanto o retrato do passado

encontramos o relevante Museu de Artes

medieval de lutas e conquistas, da estética

Aplicadas e Design da Estônia. Embora

e mentalidade soviética, quanto do avanço

pequeno, assim como a maioria dos vários

econômico e, sobretudo, tecnológico.

museus da cidade, ele se revela uma relíquia a ser apreciada.

O design não poderia ficar de fora da ascensão do país. Ele é pautado pela

O museu está localizado num antigo celeiro,

tradição dos artesãos – principalmente em

construído em 1683. Na década de 1970,

relação ao uso de madeira, metal, couro

o prédio foi reformado, sob orientação do

e tecidos – e pelas inovações tecnológicas

arquiteto Aala Buldas, para sediar o museu.


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GiroCultural

Carrossel no Mercado de Natal na Cidade Velha.

Inaugurado em 1980 como Museu de Artes Aplicadas,

Além das exposições permanentes do seu

tornou-se Museu de Artes Aplicadas e Design a partir

acervo, o museu apresenta exibições temporárias

de 2004.

contemplando artistas e designers estonianos e estrangeiros. A divulgação e promoção do design

Em geral, o design estoniano não é voltado para a

estoniano internacionalmente é também uma

produção em massa, estando centrado no trabalho

função do museu. Tallinn atrai interesse externo no

individual de seus designers. Esse é o efeito de um

contexto das Artes e do Design e, desde 1997, o

mercado consumidor restrito e de um sistema

museu organiza a Trienal de Artes Aplicadas. A atual

produtivo constituído, em sua maioria, por micro e

6ª Trienal de Artes Aplicadas: A Arte de Colecionar

pequenas empresas e designers independentes. Os

(2012/2013), objetiva oferecer novos e inesperados

produtos de maior visibilidade são móveis, artefatos

focos para contribuir com uma percepção da arte

têxteis e joias, por exemplo.

aplicada contemporânea e práticas de design de uma maneira mais ampla. Esse evento anima a cena

A coleção do museu é a maior e mais abrangente

artística local e renova o seu frescor. O curador da

do gênero na Estônia. Atualmente, conta com 15 mil

trienal é o sueco Love Jönsson.

protótipos e produtos que refletem a história do design no país em cerâmica, porcelana, couro, vidro, metal,

O Museu de Artes Aplicadas e Design intenta

madeira e tecido. Há também uma rara coleção de

preservar, restaurar e divulgar o design estoniano na

fotografias, negativos e slides.

sua mais diversa acepção – design, desígnio, desejo.


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Teatro Francisco Nunes Mariluce Duque

O projeto de restauro e modernização do Teatro Francisco Nunes (1950), fruto da parceria público-privada entre a Prefeitura de Belo Horizonte e a Unimed-BH, está em fase de finalização. A proposta de modernização engloba os projetos de arquitetura cênica, acústica, cenotécnica e iluminação, além do restauro das fachadas e jardins do teatro, sob responsabilidade da Lazúli Arquitetura. A proposta luminotécnica interna à plateia do teatro aponta para os equipamentos em LED e fibra ótica, ambos em circuitos dimerizáveis, recurso imprescindível aos espetáculos. O foyer, ampliado na sua cubagem através de demolição do mezanino, terá trilhos eletrificados para luminárias LED e halógenas possibilitando a flexibilidade das montagens de exposições. Para as fachadas serão especificados circuitos em LED e vapor metálico, adequados a essa função.

Ícones

Profissionais


pág. 93 Profissionais

Escritório

Evaldo Rios Considero iluminação em arquitetura a arte de trabalhar com a luz, seja ela natural ou artificial. Neste projeto, utilizamos a luz natural para criar elementos com diferentes graus de opacidade para obter a luminosidade, ou mesmo, criar sombras desejadas. Com a luz artificial, a ideia foi transformar, proporcionar efeitos, criar aconchego em um ambiente de trabalho com luz ideal.


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Adega Olídio Gomes Christine Boerger

A adega foi projetada para uma importante coleção de vinhos. O ambiente demandava uma iluminação suave e intimista. A opção foi utilizar lâmpadas de LED que não interferem na climatização e, ao mesmo tempo, valorizam as garrafas expostas.

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Av. Nossa Senhora do Carmo, 1150 Sion - Belo Horizonte - MG CEP: 30330-000 Tel.: +55 31 3218.8888 www.templuz.com templuz@templuz.com


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