iDeia Templuz edição 04

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Foto: Ludmila Loureiro


Editorial “Ângulos atraem o intelecto. Curvas falam ao coração”. Expediente: Editor Camilo Belchior Jornalista Responsável:

Baseada na ideia de Eva Zeisel - uma das ceramistas e designers mais famosas do mundo, que faleceu em 2012, aos 105 anos -, a quarta edição da Revista iDeia aborda, em sua temática central, “o universo feminino visto pelo olhar do design”. Procuramos montar uma estrutura editorial que mostrasse, de maneira ampla, esse universo, que é tão especial e significativo.

Cilene Imperizieri 5236/MG Jornalistas: Ana Cláudia Ulhôa Clarissa Damas Danilo Borges Júlia Andrade Pedro Vaz Perez Thaís Casagrande Projeto gráfico e coordenação gráfica Cláudio Valentin Capa: Ilustração Minjae Lee – Coréia do Sul Impressão: Hiper Graphic Digital Revista iDeia é uma publicação da Templuz, com distribuição gratuita. Contato:

A delicadeza, a complexidade e a beleza da mulher foram representadas pelas ilustrações do jovem artista sul-coreano, Minjae Lee, personagem de nossa matéria de capa. Com apenas 23 anos, o desenhista utiliza ferramentas à moda antiga, como marcadores de texto, canetas, lápis e acrílico, para retratar, exclusivamente, o semblante feminino. Seu trabalho nos revela imagens e justaposições inteligentes, belas, que nos deixam perplexos com o equilíbrio das formas e cores que utiliza. Ao abordarmos o feminino, homenageamos o trabalho de mulheres que se destacaram no mundo do design, como Adélia Borges. Jornalista especializada em design, a ex-diretora do Museu da Casa Brasileira (MCB) deu contribuições significativas para a área, ao desempenhar os papeis de docente, curadora de mostras, escritora, palestrante e jurada de concursos. A história da mulher nos universos do design e da arquitetura também está em destaque, na matéria sobre os desafios enfrentados pela renomada arquiteta iraquiana, Zaha Hadid, e na estreia da seção No Mercado, onde teremos alguns produtos de sucesso, criados por mulheres que enfrentaram um mercado dominado por homens, ainda no início do século XX, até as que comemoram, hoje, a vitória de ser maioria nas grandes escolas de design do mundo.

ideia@templuz.com

Eclética, iDeia ainda buscou referências do show business para mostrar como uma imagem bem trabalhada pode transformar pessoas em mitos. Grace Jones marcou o mundo da música com seus figurinos exóticos e sua personalidade forte. Já Rita Hayworth esbanjou sensualidade nas telas de cinema, sendo imortalizada como a eterna Gilda. E em nosso Giro Cultural faremos uma visita à capital da Malásia – Kuala Lumpur, uma cidade que passa do milenar ao futurista no mesmo espaço geográfico. Boa leitura, Camilo Belchior


Colaboradores

Aline Lara de Oliveira - Malásia Publicitária mineira, pós graduada em Marketing e Design. Atua no mercado há mais de 10 anos tendo experiência nas áreas de vídeo, design, web e marketing. Atualmente é Estrategista de Marcas na agência de Criatividade e Estratégia Online “Hopena” em Kuala Lumpur - Malásia. Quando não está criando novas estratégias online para marcas, seus hobbies são fotografia, trekking e escalada, mas sua verdadeira paixão é mesmo viajar o mundo e descobrir novas culturas.

Andréa Naccache - Brasil Psicanalista clínica formada também em Direito pela USP, com especializações em Filosofia e Psicopatologia pela mesma instituição. Conduz consultoria e treinamento em empresas com base nos estudos do Núcleo de Criação, grupo de pesquisas de processo criativo. Foi co-curadora da Semana de Design de São Paulo de 2008. É idealizadora do Núcleo de Estudos do Erro para a Inovação; organizadora do livro Criatividade Brasileira e responsável pelo texto do livro A Invenção do Futuro, organizado por Jorge Forbes (Manole, 2005).

Christian Ullmann - Brasil Designer de produto e especialista em desenvolvimento de produtos com a utilização de recursos naturais renováveis, resíduos pré e pós consumo e produção artesanal e semi-industrial. Sócio diretor da iT Projetos - escritório de desenvolvimento de projetos e produtos socioambientalmente responsáveis. Consultor para empresas, instituições e governo com ampla atuação no Brasil e Latino America. Recebeu prêmios na Espanha, Itália, Brasil e Argentina com móveis residenciais, de escritórios e objetos.


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Artigos

A LÍNGUA DAS COISAS por Andréa Naccache

Capital paulistana, semana corrente, sete horas da manhã. Mães fazem curvas sobre as calçadas para chegar a tempo à escola dos filhos. Motoristas aproveitam o comecinho do vermelho para ainda atravessar. Pedestres caminham entre os carros. Dorme quem tolera a buzina. A prefeitura trata o trânsito premido com soluções brutas. Não bastam as placas de proibido estacionar, virar, contramão. Ela distribui “segregadores” pelo asfalto, os “bate-rodas”: peças maciças de cimento, à altura de meio pneu, largas, que impedem os desvios dos carros. Nenhuma esperança mais de que as pessoas, ao ler uma sinalização, reconheçam sua importância e respeitem. “Os bloqueios têm que ser mecânicos, iguais aos que dirigem bichos. Sinais do declínio da ética” – diz, pessimista, um professor de Filosofia Política.

Produtos desenvolvidos pelo artista Boris Bally de Pittsburgh (Pensilvânia), utilizando a iconologia como linguagem visual em seus produtos. Para conhecer mais sobre o artista: www.borisbally.com


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Não me convenço. Sei que existe uma linguagem explícita que, à maneira das normas, nos pede para escolher entre a obediência ou a penalidade, como sujeitos ativos e conscientes, contando com nossa “hombridade”. Assim ensinou o professor. No entanto, professor, não existe também toda a engenharia, a arquitetura, o design, que antecipam nossas obrigações desde o projeto, ao desenhar barreiras e caminhos, tanto para o corpo como para os olhos, e condicionam o uso dos espaços e dos objetos?

A Filosofia Política clássica talvez pense o ser humano como senhor de seus objetos. Será então uma atitude inferior, menos inteligente, menos consciente, ter que seguir o que o projetista desenhou no uso das coisas? Somos prisioneiros dos traços dos arquitetos que desenham nossas cidades. Ficamos abandonados aos vícios e materiais do design de produtos, que mal podemos exigir que sejam ecológicos. Se o professor


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quer se entristecer, basta lembrá-lo de tudo o que não traz escolha imediata, apenas imposição ao corpo. Os objetos guardam textos implícitos, prescritos. A maneira de abrir, fechar, plugar, pegar, montar, são imperativas. Nosso acordo com os prédios acontece na porta de entrada, saibamos ou não por onde a vontade do desenhista irá nos levar. Concordamos com a surpresa. Vivemos nas mãos dos projetistas. Somos seus reféns. Mas não é interessante a entrega às condições do corpo – do corpo do outro que desenhou e experimentou antes, aprovou protótipos, até o ajuste das roupas e o sabor da comida? Não existe no design uma conversa implícita, tão humana quanto o diálogo das normas sociais? Valorizemos então essa língua, que não é a clássica da política, que encanta meu professor, mas outra: da sensorialidade, do tempo diferido em que um diz, pelo design, e outro ouve e responde, só depois. A língua política clássica


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é sempre contemporânea. Essa outra, das coisas, quase supera o senso de História. Atravessa séculos e geografias. Podemos conhecer Hardouin Mansart e Steve Jobs. Talvez a linguagem implícita do corpo seja a primeira que aprendemos, na maternagem. Entendimento anterior à fala. Resposta em gestos. Pode ser uma forma de sujeição, se não houver amor. É a língua de toda a criação, seja educação das crianças ou construção de coisas.

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Um caminho próprio ao feminino, e a nosso universo mais sensual – do qual as palavras são apenas uma precária tradução. Na arquitetura, no design, não existe escolha prévia à experiência. Só depois. São necessários o toque, a acolhida, o trato das circunstâncias, o detalhe, o estranhamento e até a dor. O design se realiza onde o masculino acata o feminino, e vice-versa. É fruto do encontro de corpos que se surpreendem com o gesto um do outro. É tal e qual a dança. Ou o amor.

Produtos desenvolvidos pelo artista Boris Bally de Pittsburgh (Pensilvânia), utilizando a iconologia como linguagem visual em seus produtos. Para conhecer mais sobre o artista: www.borisbally.com


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Sociobiodiversidade feminina brasileira por Christian Ullmann

Dona Antônia e seu neto. Ela é mãe, avó e artesã amazônica - integrante do grupo de Louceiras de Maruanum - no estado do Amapá. Foto: Christian Ullmann


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O convite da revista iDeia me surpreendeu. Ao conversar com Camilo Belchior, editor da publicação, para entender melhor a proposta do artigo, gostei do desafio. Afinal, nada mais desafiador para um porteño (pessoa nascida na cidade de Buenos Aires, Argentina) do que falar do universo feminino, justo nós que somos considerados, historicamente, machistas. Então, vamos lá. Na história do século XX, a mulher ocidental conquistou seu espaço na sociedade civil, posicionando-se em diferentes áreas, como política, economia e cultura. Seguramente, a maior transformação social do século. E não foi diferente no Brasil. Aqui, as pessoas mais significativas do design eram mulheres. Fato que não era natural para mim, pois, em Buenos Aires, o universo do design - tanto o acadêmico como o institucional e o empresarial - era dominado por homens. Quando cheguei ao Brasil, em 1996, o Programa Brasileiro de Design estava iniciando-se, claro, coordenado por uma mulher: Liliana Rank. Já em 97, conheci a que considero a melhor revista de design da América Latina, a ARC DESIGN, criada e coordenada por Maria Helena Estrada. Já em 1998, conheci um dos melhores projetos internacionais de promoção do design brasileiro, o BRASIL FAZ DESIGN, criado e coordenado pela Marili Brandão. Na FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), o design estava no DETEC (Departamento de Tecnologia), chefiado pela Joice Joppert Leal. A coordenadora do Programa de Divulgação de Madeira Alternativa da Amazônia do LPF/IBAMA era Maria Helena de Souza – foi esse projeto que me possibilitou conhecer a Amazônia. Na época, o Museu da Casa Brasileira tinha uma diretora, a Julieta Campos. A responsável pelo Prêmio do Museu da Casa Brasileira até hoje é a Julieta Campos. E por último, não posso esquecer do legado da Lina Bo Bardi, que muito antes já estava construindo o futuro que todos nos vivemos como presente.

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Foto: Christian Ullmann

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Avós, mães e filhas, todas artesãs, Louceiras de Maruanum, grupo de mulheres negras, descendentes quilombolas, que mantêm na técnica de cerâmica primitiva suas tradições e costumes.

Se hoje o Brasil é referência internacional no universo de design, é por características próprias, como sua hibridização; seu compromisso com as questões sociais e ambientais; sua conectividade global de construção coletiva e micro revoluções epidêmicas. É porque vem se preparando nas últimas décadas do século passado e entrou neste novo século alguns passos a frente de outros países. E é bom lembrar que não é coincidência, o fato de muitas mulheres terem feito parte dessa mudança. Essa característica brasileira modelou meu perfil profissional. Depois de uma educação profissional urbana, contemporânea e globalizada, encontrei a sociobiodiversidade natural, emotiva e feminina desse país. Foram as comunidades tradicionais brasileiras de quilombolas, extrativistas, pescadores, agricultores familiares, caboclos, caiçaras, entre outras, que me apresentaram e ensinaram as características necessárias para desenvolver projetos reais para as necessidades e desejos dos usuários.

No interior da Amazônia, pesquisando materiais, técnicas artesanais e costumes fui descobrindo as Donas Dica, Alexandra e Conceição, todas avós e mães brasileiras líderes de família ávidas por melhorar e construir um grande futuro para sua família , principalmente, para os filhos e netos. Delas aprendi que fogo, barro e alimento sempre estiveram juntos, desde os primórdios da humanidade, para dar vida, criar, proteger, se doar verbos que lembram as qualidades femininas. Delas aprendi que toda coisa tem seu tempo e esse tempo tem que ser respeitado. Foi com elas que aprendi a dar o verdadeiro valor às cosias e o carinho necessário para fazê-las. O design do século XXI vem para construir uma nova sociedade, e uma nova geração de produtos e serviços devem ser projetados, produzidos e usados dentro dos princípios de uma sociedade mais democrática e inclusiva. Para isso acontecer, vamos necessitar de todo nosso “sexto sentido”, a tão conhecida e tradicional “intuição feminina”.


Arquiteto: Rogério da Fonseca. Foto: Jomar Bragança.

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NoMercado

No Mercado

Estreando na Revista iDeia, a seção NoMercado traz o que há de melhor no mundo do design, sempre de acordo com o tema de cada edição. Neste número, apresentamos alguns produtos de sucesso, criados por mulheres que marcaram a história do design. Apesar de certo ofuscamento masculino, muitos nomes femininos se destacaram, e alguns deles, você poderá conferir aqui. por Júlia Andrade

As Morgan Chairs foram desenvolvidas em 1981, pela design Adrée Putman e se tornaram um clássico. Reconhecida por seu estilo minimalista, a francesa faleceu em janeiro deste ano, deixando um legado de grandes peças e projetos. Responsável pela decoração de hotéis renomados, joalherias e casas de grandes nomes, como Karl Lagerfeld, Andrée é considerada, por muitos, a Coco Chanel do design.

A Eames Molded Plastic Chair foi apresentada pela primeira vez no Museu de Arte Moderna, em 1948. Criada pelo casal Charles e Ray Eames, faz sucesso até hoje pelo visual descolado e confortável. Graças a suas características e forma simples e limpa, se tornou a primeira cadeira plástica produzida em série. Pioneiros na utilização de diversas técnicas, os Eames marcaram o design pela utilização de materiais como: fibra de vidro, resina plástica e malhas de metal.


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A coleção Antibodi, criada em 2006, foi desenvolvida por Patrícia Urquiola para a marca Moroso. Inspirada em pétalas de flores, as peças são feitas em tecido de lã e couro, fixadas a um quadro metálico. Elas ainda são reversíveis, podendo ter as pétalas do lado interno ou externo. A linha possui poltrona e long-chaise (foto), e se tornou queridinha dos amantes do design.

O Vaso Mama foi criado pela premiada designer Ilse Rawford, para a luxuosa Georg Jensen e faz parte da icônica Masterpiece collection, vendida em todo o mundo pelo site da marca. Feito de aço inoxidável espelhado, ele tem uma forma elegante, que é, ao mesmo tempo suave e feminina. Ilse é fundadora do grupo de design Studioilse e, atualmente, leciona na Design Academy Eindhoven, na Holanda.

A Cadeira Barcelona foi desenvolvida por Lilly Reich, em parceria com Mies van der Rohe, e teve sua primeira aparição no Pavilhão Barcelona, na Exposição Mundial de Barcelona, em 1929. Lilly foi a primeira mulher a se tornar diretora artística do Deutsche Werkbund, organização patrocinada pelo governo alemão dedicada à promoção de produtos de fabricação alemã e desenhos, em 1930. Ela é a principal designer por trás da maioria dos móveis atribuídos a Mies. Por isso, raramente tem o devido crédito de suas obras. Em seu currículo, ela também tem a parceira com o célebre modernista Josep Hoffman.

Fotos: divulgação


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NoMercado

O sofá Maharam foi inspirado nos grandes diques de contenção de água holandês, terra natal de sua criadora, a designer Hella Jongerius. Cada seção do sofá é composta por um tecido único, que contrasta com outras estampas e botões decorativos, feitos de material natural. Mesmo sendo a primeira a ser produzida em grande escala por Jongerius, ela mantém sua individualidade artesanal. Em 2012, foi criada uma peça especial (foto) para o Salão internacional do móvel de Milão. A edição limitada, de cem peças, foi feita com tecidos bordados e xadrez exuberante

Os brincos da Coleção Positivo-negativo, feitos de ouro 18k e diamantes, são uma das obras de Clementina Duarte, designer de joias brasileira. Famosa por suas criações inovadoras, inspiradas na arquitetura brasileira barroca e moderna, e em temas geométricos e da natureza, Clementina é constantemente lembrada por ter suas peças utilizadas como presentes para grandes personalidades que visitam o Brasil. Nas palavras de Niemeyer, suas joias caracterizam-se pela originalidade, sendo modernas e criativas em desenhos finos e delicados.

Fotos: divulgação

A Estante Nuage combina funcionalidade e estética. Modulada, ela possui diferentes efeitos, inspirados na arquitetura japonesa. Desenvolvida por Charlotte Perriand, a estante foi criada para atender a diversas necessidades. No início de sua carreira, Charlotte foi considerada apenas uma coadjuvante nos trabalhos de Le Corbusier e Edouard Jeanneret, mas recebeu reconhecimento como uma das grandes influências do design moderno. Junto com outros projetos, a Nuance começou a ser produzida em larga escala em 2012, pela marca Cassina.


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Entrevistas

Toda poesia feminina, em móveis Delicadeza e complexidade da mulher

são inspiração para designer de móveis por Ana Cláudia Ulhôa

Foto: Celso Mellani


Cinco irmãs, seis filhas, mãe, esposa e sogra. Com tantas mulheres em sua vida, Aristeu Pires não poderia buscar inspiração em outro lugar. Conhecido por batizar suas cadeiras e poltronas com nomes femininos, o designer baiano, radicado no Rio Grande do Sul, conta para a equipe da revista iDeia como deixou a informática, para desenvolver móveis que, para ele, lembram tanto as formas femininas. Inspirado pela ideia de que a mulher é a obra-prima do design, Aristeu explica como é seu processo de criação; como ocorre a escolha dos nomes e como mulheres comuns e famosas influenciaram sua carreira.

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Revista iDeia: Sua formação é em Tecnólogo em Informática, com mestrado em Ciência da Computação. Como você começou a trabalhar com design de móveis? Aristeu Pires: Eu nunca pensei em trabalhar com esse tipo de coisa. Foi a necessidade e a vontade de ter uma vida mais tranquila, que me fez trocar de área. Eu gostava do que fazia, mas era muito desgastante. Viajava demais e não tinha vida própria. Quando fiz meu mestrado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul morei um ano em Gramado. Foi aí que peguei gosto e experimentei a qualidade de vida daqui. Nessa época, tinha vindo para tentar me estabelecer na cidade, dentro da área de computação. Mas um amigo meu, que tinha uma empresa na cidade, tirou essa ideia da minha cabeça. Ele falou: “Olha, aqui não tem nem mercado, o pessoal não tem mentalidade para investir em desenvolvimento customizado”. Desisti de me mudar, mas resolvi comprar móveis para minha casa no Rio de Janeiro. Foi aí que surgiu a ideia. Eu não achei nada do meu gosto e fui a um fabricante daqui, que me falou: “Você não quer desenhar o que tem em mente, para eu executar?”. Aí, peguei uma prancheta e desenhei os móveis. Ri: Hoje, a Aristeu Pires Design abastece mais de 40 pontos de vendas por todo Brasil. Como foi o desenvolvimento de sua empresa? AP: Durante um ano tive uma loja em Gramado. Como na época, a principal feira de móveis era lá, os lojistas do Brasil inteiro iam para a cidade ver as novidades. Quando terminava a feira, o pessoal ia passear pelas ruas. Minha loja tinha apenas 40m² e não dava pra expor muita coisa. Mas, como há um relacionamento bem interessante entre esses lojistas - pois quando descobre um produto novo, logo contam para o outro fomos crescendo. Depois de um ano, não conseguia tocar a fábrica e a loja ao mesmo tempo, então optei por ficar só com a fábrica. Com o tempo, os produtos começaram a aparecer na mídia, na Casa Cor e os profissionais da área foram conhecendo meu trabalho, assim como os lojistas. Hoje, vendemos para todas as capitais do sul, sudeste

Detalhe cadeira Gisele, ganhadora do prêmio Design do Museu da Casa Brasileira, em 2007 Foto: divulgação


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Entrevistas

e nordeste. Eu só não tenho lojistas no Mato Grosso, Acre, Manaus e em alguns lugares mais distantes, porque dificulta muito o frete. Ri: Uma de suas poltronas mais famosas é a Gisele, que ganhou o Prêmio Design do Museu da Casa Brasileira, em 2007. Como foi a história dessa poltrona? AP: Existem algumas lendas a respeito dessa história. Alguns dizem que me inspirei na Gisele Bündchen. Na verdade, não me inspiro na pessoa para desenhar a cadeira. Depois que a peça está pronta, eu vejo a cara que ela tem. Cara de mulher, claro, né?! Porque não dá pra sentar em um Sebastião (risos). Eu costumo dizer que primeiro Deus fez o homem, depois passou a limpo. O homem é o protótipo do design. A mulher é o design mais perfeito da natureza. E a cadeira, dentro do mobiliário, é a peça mais difícil de fazer, porque ela tem vários elementos. A mesa, por exemplo, tem uma altura padrão, com quatro, três ou um pé, sei lá. Não tem muito o que variar. Agora, a cadeira tem uma gama de fatores que muda. Um pequeno detalhe transforma a peça. O caso da Gisele, por exemplo, é uma cadeira que tem um estilo dinamarquês. Os braços dela são dinamarqueses, mas a corda de algodão vazada que utilizo dá uma leveza tropical. Aí, fui imaginar que mulher teria essas características, com um biotipo europeu e, ao mesmo tempo, inconfundivelmente brasileira. Era a Gisele Bündchen. Ri: Como começou esse negócio de dar nomes femininos para as peças? AP: Eu não tinha uma razão. Acho que foi por causa da primeira cadeira, que chamei de Ana. Ela tinha pernas compridas e lembrava a Ana Hickmann. Essa cadeira já até saiu de linha, e acabou virando Juliana. A Ana tinha um encosto que eu não gostava muito. Então, coloquei outro e aproveitei a estrutura de pés, que já existia. Então, como ela nasceu da Ana, resolvi dar um nome parecido: Juliana. Logo depois, fiz outra, que seguia as mesmas linhas, mas como era menorzinha, chamei de Anita. Com essas três peças com nomes femininos, resolvi dar sequência aos nomes. Mas, não foi uma coisa planejada. Ri: Você tem várias mulheres em sua vida, não é mesmo? Elas influenciam seu trabalho? AP: Tenho muitas: cinco irmãs, seis filhas, fora mãe e sogra. Na criação em si não, mas na hora de dar nomes sim. Aliás, uma que influenciou na hora de criar foi minha filha mais nova, a Alice. Fiz uma poltrona que, no ano passado, ganhou o segundo

lugar no Museu da Casa Brasileira. A poltrona surgiu a partir de uma cadeirinha que minha filha tem. Sabe aquelas que você engata na mesa e fica pendurada? Dessa cadeira surgiu a ideia de fazer uma poltrona de madeira, com estrutura de lona pendurada. Ri: Como é seu processo de criação? Quais são suas preocupações na hora de criar uma mesa, uma cadeira? AP: A primeira peça que criei, por incrível que pareça, foi uma cama. Eu vivia batendo a canela no canto da cama, assim como minha mulher, que uma vez quebrou o dedinho do pé, ao também bater lá. Então, fiz um móvel que tinha o pé para dentro e o canto arredondado. Dessa forma, o colchão ficava um centímetro maior do que o estrado da cama, ou seja, você não batia na madeira, mas no colchão. O que me levou a criar esse móvel foi uma necessidade. Meu ponto de partida é meu gosto, ligado a uma demanda que existe. Também me preocupo com o processo de fabricação. Tenho que saber o que encaixa ou não; o que a madeira aceita ... por que o papel aceita tudo, não é? E, ainda, penso em conforto, durabilidade, beleza e simplicidade - coisas que não podem ser dissociadas. Mas não existe um processo de criação. As ideias vêm à minha cabeça. Eu crio muito dentro do avião, por exemplo. 90% das coisas que já desenhei foram nesse momento, porque é a hora que o telefone não toca, não chega e-mail. Comecei até a anotar o número dos voos. Ri: Por que essa escolha pela madeira? AP: Primeiro porque a madeira é um material rico. Ela tem um calor diferente, um toque diferente do plástico e do metal. Ela é quente. E outra coisa, a madeira tem uma personalidade meio complicada, como as mulheres. Se você não tratá-la do jeito que ela quer, a madeira não corresponde ao que você pensou. Tem que saber o jeito de cortar, tratar, dar acabamento. Você sabia que cada espécie tem uma peculiaridade? E, embora a mídia nem sempre enfatize isso, a madeira é a matéria-prima mais ecologicamente correta, quando extraída da maneira certa. Quando você extrai com manejo florestal, e não por desmatamento, ela se torna uma matéria-prima completamente renovável e biodegradável. Também retém carbono, é muito flexível, pode ser usada em várias coisas e é totalmente aproveitável. Na pior das hipóteses, é jogada de volta na natureza e vira adubo. Outra coisa peculiar é o desenho, que nunca se repete. Cada peça tem uma identidade própria.


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Cadeira Tarsila

Cadeira Gisele

Cadeira Anita

Cadeira Marta

Cadeira Camila

Cadeira Alice

Fotos: divulgação

Banco Cancan


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Entrevistas

Um arquiteto de teorias

por Danilo Borges

Formado em arquitetura, o britânico Deyan Sudjic percebeu, ainda na graduação, que não teria vocação para exercer a profissão, embora a área sempre o tenha fascinado. Tornou-se, então, um estudioso e crítico de arquitetura e design, e passou a escrever para publicações especializadas e jornais renomados, como o The Observer e o The Independent. Também construiu carreira na academia, tornando-se reitor da Faculdade de Arte, Arquitetura e Design da Universidade de Kingston e professor convidado do Royal College of Art. Há seis anos, Sudjic dirige o Museu do Design, em Londres.

Foto: Netun


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De forma compenetrada e sempre solene, o arquiteto, ou melhor, o crítico de arquitetura concedeu entrevista exclusiva para a revista Ideia, e falou sobre o papel do design e sua relação com a arte, a sustentabilidade e o consumismo na era digital. Revista iDeia: Qual a fronteira entre design e arte? Deyan Sudjic: O design começou com as fábricas e a produção industrial e sempre esteve relacionado à proposta de tornar as coisas úteis, de servir às pessoas. A arte tem um papel diferente, que fica entre a mágica e a religião, por assim dizer. A Arte não tem um propósito e, mesmo assim, é muito valiosa. O Design, por outro lado, é útil. E isso, por algum motivo, tem sido visto como menos importante do ponto de vista cultural. Mas o design tem, é claro, respondido a isso, mesmo que de forma complicada. Muitos têm tentado fazer coisas que podem se assemelhar à arte. Então, há sempre uma tensão muito grande entre arte e design. Poderíamos dizer que artistas são mais espertos que os designers, pois conseguem se posicionar de forma mais poderosa. Já o design é praticamente todo voltado para a produção nas indústrias. Alguns veem isso como uma desvantagem, mas considero um privilégio poder desenvolver um objeto, modelar um produto que será reproduzido milhares, talvez milhões de vezes. Dar forma a um objeto, de certo modo, é dar forma ao mundo.

Já a arte modela o mundo de uma forma distinta. Em alguns casos, ela pode se aproximar do design. Se pensarmos, por exemplo, nos primórdios do modernismo, Duchamp utilizava objetos da indústria para nos fazer pensar sobre os produtos. Andy Warhol utilizava a reprodução mecânica como forma a atribuir relevância cultural a imagens do mundo pop. Algumas vezes, inclusive, o próprio design foi tema do artista. A arte, portanto, tem o papel de fazer perguntas, enquanto o design tem se ocupado em respondê-las. Atualmente, o design está ficando mais maduro e tem tentado se posicionar fora do sistema industrial. Então também começou a fazer perguntas, como ‘estamos consumindo muito? O design tem a ver apenas com a produção e não com a reposição dos recursos nas comunidades?’ Ri: Quais as mudanças que a era digital trouxe para o design? DS: O design analógico se baseava num tipo particular de design, no qual o designer era capaz de visualizar as partes móveis. Assim, se produzia objetos que funcionavam porque atendiam aos seus objetivos. Uma máquina de escrever, por exemplo, é muito diferente de um laptop porque conseguimos ver suas partes mecânicas. Uma câmera analógica também era baseada em peças que se moviam. Com a era digital, as partes móveis deixaram de existir, o que tornou mais difícil o trabalho do designer. Outra marca da era digital é que muitos objetos desaparecem: ‘não precisamos disso, não precisamos daquilo’. Isso altera nossa relação com os produtos. Eu tenho uma máquina de escrever que meu pai me deu. Mas não darei à minha filha meu laptop. Os seres humanos têm essa necessidade de recordarem das gerações anteriores por meio de objetos, que tentamos preservar. Costumamos medir nossa vida através dos objetos, que são utilizados, danificados e, assim, adquirem marcas que denotam a passagem do tempo. Hoje em dia, um produto dura apenas um ano antes de ser descartado. A relação é muito diferente e isso certamente é uma grande questão, pois o design do período analógico criava certo senso de reminiscência. Por outro lado, também poderíamos dizer que a memória das pessoas que possuem perfis no twitter ou no facebook irá permanecer para sempre. Nós nunca conseguiremos nos livrar dela. Ri: Então como podemos combinar ambos, de forma que um produto seja bom o bastante para durar e, ao mesmo tempo, tenha essa característica de proporcionar uma experiência completa, típica da era digital? DS: Acredito que a resposta algumas vezes deve ser ‘não, nós não precisamos de outro objeto’. Para mim, os designers mais interessantes são aqueles capazes de trabalhar tanto no interior da produção industrial quanto fora dela. Talvez o design tenha se tornado muito estreito. As pessoas estão ficando muito especializadas, fazendo apenas uma coisa.


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Ri: O design do século XXI é marcado pelo paradigma global. Você acredita que as culturas locais estão ficando maiores ou é a cultura, como um todo, que está se tornando homogênea? DS: Acho que estão acontecendo duas coisas: primeiramente, a produção já não é linear, como na indústria automotiva, em que o aço era colocado de um lado e um veículo aparecia na outra ponta da linha de montagem. Um Iphone é desenvolvido na Califórnia, montado em Taiwan, com componentes que vêm de 15 países diferentes. Poderíamos dizer que o Iphone tem design norte-americano? Ou que ele seja britânico, já que o diretor do escritório que desenvolve o aparelho é de lá? Não acho que seja possível dizer que essas coisas sejam nacionais. Como não acredito que poderíamos dizer que tal produto seja desenvolvido na grã-bretanha, ou no Brasil. É difícil definir o que seria o deisgn brasileiro e o que seria o desgin britânico. Então não há mais como definir uma nacionalidade na produção. Outro aspecto é que qualquer país que queira se destacar na economia mundial precisa se mover da produção genérica para uma produção diferenciada, de maior valor agregado – algo que Brasil, China e Índia estão fazendo recentemente. Essas eram economias genéricas que agora estão desenvolvendo suas próprias vozes porque querem competir com produtos que possuem um valor agregado maior. E isso não pode mais ser considerado local. A Embraer, por exemplo, é uma empresa brasileira, mas vende aeronaves para o mundo todo porque tem padrões globais. E esse é um aspecto mais importante para mim no design brasileiro do que, por exemplo, os irmãos Campana, que são dois caras simpáticos e maravilhosos, mas não é a mesma coisa do que produzir aviões que o mundo todo irá comprar.

Ri: Mas você não acha que o design brasileiro carrega um pouco da identidade nacional? DS: Na verdade, o design e a arquitetura têm sido usados para forjar uma identidade para o Brasil. Estamos aqui em Belo Horizonte, onde tudo começou, quando Kubitscheck e Niemeyer começaram a modernizar o país, com arquitetura e simbolismo, através de uma nova capital. Em alguns casos, a política funciona como uma “diretora de arte”. E isso já aconteceu em outros países. Não quero ser desrespeitoso com as conquistas e com a qualidade desses trabalhos, mas não acho que o design é orgânico, que cresce no solo. Alguém utilizou a inteligência para produzir algo. Ri: E como podemos utilizar essa cultura para criar uma cidade moderna? DS: Considero Belo Horizonte uma cidade moderna. Mas um dos problemas é quando se tem uma grande sombra pairando sobre nossa cabeça. Niemeyer era uma sombra gigantesca, mas nunca se trata de um só fator. Houve, por exemplo, um momento terrível na Europa, quando Bilbao construiu o [museu] Guggenheim e, de repente, todo mundo pensou ‘tudo o que precisamos é de uma obra arquitetônica espetacular para atrair o mundo todo’. Esta é uma ideia muito ingênua e inapropriada. As cidades precisam ter várias camadas de coisas: de uma boa base industrial, de universidades etc. para que se tenha algo realmente interessante. Kubitschek foi um grande exemplo disso. Ri: Como você vê a geração contemporânea de designers brasileiros? DS: Esta é uma questão que realmente não saberia responder, pois realmente não conheço a fundo para fazer algum comentário mais sério a respeito. Eu poderia fazer


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algumas modestas observações, mas claramente o Brasil é um lugar repleto de oportunidades para o futuro. Ri: Como você acha que o design irá lidar com a demanda por sustentabilidade, sem fazer com que o ritmo de produção diminua? DS: Acho que isso talvez não seja possível. Acredito que ainda precisamos estudar mais o que, de fato, está acontecendo. Trocamos nossos telefones a cada nove meses. Isso poderia ser visto como algo terrível para a sustentabilidade. Mas, por outro lado, se seu telefone também for sua câmera, gravador, GPS, livraria, relógio, mp3 player etc. – talvez isso acabe ‘zerando a equação’. Se pensarmos, por exemplo, na quantidade de coisas que um telefone pode eliminar, não apenas a câmera ou o filme, mas a forma de distribuí-lo; não só a música num cd, mas todo o sistema de distribuição das gravações. Sob essa perspectiva, talvez seja possível afirmar que as tecnologias de ponta estejam, na verdade, transformando o mundo num lugar mais sustentável. É claro que existem outros aspectos. As baterias, por exemplo, são feitas de lítio, que é extraído no Chile e tem conseqüências gravíssimas para a população. É uma relação de equilíbrio, sobre a qual precisamos saber mais antes de tomarmos uma decisão. E temos abordagens muito mais interessantes para a sustentabilidade do que apenas dizer: ‘as coisas deveriam ser recicladas, nós não deveríamos voar etc’. Em alguns casos, podemos economizar mais tendo coisas descartáveis do que consertando produtos. Enviar um

satélite de comunicação ao espaço é mais sustentável do que fazer ligações com cabos de cobre cruzando o oceano atlântico. Estamos acostumados a pensar que a sustentabilidade está relacionada com baixa tecnologia, que produtos artesanais utilizam recursos naturais, reciclados etc. Isso poderia ser verdade, mas ainda não devemos afirmar, com certeza. O trabalho do designer é justamente fazer essas perguntas e não aceitar respostas prontas. O Design não deveria ser uma ‘religião’, do tipo ‘isso é bom’, ‘isso é ruim’. Para mim, o design é importante porque é uma forma de se compreender o mundo e, para isso, é preciso ser curioso. Ri: Você é diretor do Museu do Design, em Londres. Como é olhar para o design sob essa perspectiva? DS: Eu sempre fui um crítico e um escritor cujo trabalho foi tentar fazer com que os temas da arquitetura e do design se tornassem interessantes para as pessoas que não são da área, pois acho que este é um tema tão importante que meu objetivo é fazer com que esses assuntos tenham um significado para aqueles que não são especialistas. Num museu, é a mesma coisa. Tentamos fazer apresentações e exibições que transmitem ideias de uma forma bastante direta. E acredito que, ao contrário dos veículos impressos, por exemplo, exposições são experiências compartilhadas, em que as pessoas vão acompanhadas e nas quais podemos observar de imediato se estão gostando ou não. E, como diretor e curador, é um prazer observar essa resposta imediata.


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Entrevistas

Costanza Pascolato:

“Tenho um nome maior do que sou”

Considerada a papisa da moda brasileira, Costanza Pascolato é reverenciada por clássicos e modernos por Thaís Casagrande Chique, elegante e impecável é pouco para descrevê-la. Membro da Academia Brasileira de Moda, italiana de berço, veio ao Brasil no primeiro navio após a Segunda Guerra Mundial, em 1945, acompanhada dos pais e irmão. O interesse por moda já era de família, as avós e a mãe, Gabriella Pascolato, trabalhavam no ramo e, em 1948, fundaram a Tecelagem Santaconstancia. Convidada para as primeiras fileiras dos principais desfiles nacionais e internacionais, Costanza é daquelas mulheres que surpreendem, com licença para falar, criticar, comentar sobre o que quiser, principalmente sobre si mesma. Engana-se quem acha que a empresária


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nasceu focada no trabalho, “eu nunca quis trabalhar. Falei para o meu primeiro marido que o meu problema era esse, eu não queria trabalhar na vida”, confessa.

Costanza também ajuda a conduzir a Tecelagem Santaconstancia, e a transformou numa das maiores empresas brasileiras do ramo têxtil, até hoje fornecendo tecidos para os maiores estilistas do país. Além disso, Costanza faz consultoria para várias marcas, entre elas a joalheira H.Stern, para a qual já fez as vias de designer, assinando uma coleção inteira de joias da marca. Dessa parceria nasceu uma das linhas de maior sucesso, a coleção Pedras Roladas, com joias em ouro polido, ouro fosco, com brilhante, com pedras e tamanhos diferentes. No começo do projeto, foram criadas 12 peças. Mas, devido ao tamanho sucesso alcançado, hoje são mais de 90.

Para criar, ela afirma se inspirar nas mais diversas situações, “a paixão foi usada no design de todas as minhas joias”. Costanza conta que, durante um passeio por uma praia de Miami, ela colheu uma pedra redondinha e pediu para que fosse furada, transformando-a em um colar. Daí surgiu a ideia do colar que faz parte de sua coleção. Da mesma forma, sempre foi fascinada pelo formato redondo e transparente, devido a um filme cheio de magia que a marcou muito, no qual havia uma cigana com sua bola de cristal. Recentemente, uma peça criada pela papisa, apareceu no tapete vermelho em Hollywood, sendo usada pela atriz Helen Hunt na première de seu novo filme,

Fotos: divulgação

Porém, aos 35 anos, depois de se separar do marido e romper com a família, Costanza Pascolato começou a escrever seu nome na história da moda brasileira. Iniciou sua carreira como produtora das revistas Claudia e da hoje extinta Claudia Moda, ambas publicadas pela Editora Abril, onde trabalhou por quase 18 anos. Escreveu para a Folha de S. Paulo e, atualmente, tem uma coluna na Vogue.


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Soul Surfer, em Los Angeles. Trata-se do colar Fluid Gold que tem três metros de comprimento e pode ser usada com diferentes números de voltas no pescoço ou também como pulseira. Por se tratar de uma peça atemporal, mesmo após 15 anos de sua criação, a joia continua sendo produzida pela joalheria. E não para por aí. Ela já escreveu os livros: O Essencial: o que você precisa para saber viver com mais estilo, e Confidencial – segredos de moda, estilo e bem-viver. É ainda coautora de Como ser uma modelo de sucesso. De fala educada e amável senso de humor, a ícone da moda aposta na humildade como a grandeza do ser humano, fala quatro línguas e consegue encantar a todos “tenho um nome maior do que sou”. Quando o assunto é estilo, ela afirma não ter uma regra própria, gosta de se sentir bem vestida e sempre de acordo com sua personalidade, não é capaz de usar uma roupa apenas porque é o “hit” do momento. “Quando percebi que o braço venceu, passei a usar manga comprida, minhas pernas sempre foram boas e continuam, mas se vencerem... A gente vai fazendo um drible, achando outras coisas que se adaptam à estrutura do corpo,

pois é preciso preservar a identidade. Nos últimos tempos, por exemplo, incorporei as leggings”. Costanza critica a falta de vontade da população brasileira em assumir sua identidade - tanto empresas quanto pessoas não precisam ficar imitando os outros. “Historicamente, brasileiro tem vergonha de ser brasileiro. O que falta no Brasil é essa vontade de ser único. Por que você vai se vestir como uma americana ou francesa se você vive, transa e leva a vida de outra maneira?”, indaga. A papisa manifestou ainda ser chateada com a falta de recursos e tecnologia para a construção da moda brasileira, e afirmou que a indústria têxtil precisa identificar o DNA de cada região, “você tem que identificar qual a sua fatia do bolo, sem

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1. Colar Fluid Gold de ouro amarelo com 3 metros de comprimento da

2. Costanza com Christian Hallot embaixador mundial da H. Stern

Fotos: divulgação

H.Stern


Entrevistas 2.

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precisar imitar os outros. O mineiro, assim como o italiano, por exemplo, é muito ligado à arte e ao artesanato”. Com muita história pra contar, entre lições de vida e de moda, ou até mesmo sobre seu dia a dia, “ando apaixonada por meu encanador. Ele é uma criatura maravilhosa, que consertou o meu banheiro. [...] É claro que estou brincando sobre estar apaixonada”, confessa a bem-humorada Costanza, quase sempre “escondida” atrás de looks impecáveis e óculos escuros, que são ótimos pra disfarçar o sono durante um desfile chato.

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Criada em veículos impressos, sobretudo em revistas de moda que vivem da publicidade e limitam a liberdade de expressão, comentou sobre sua mais nova empreitada: escrever para o seu próprio site (www.costanzapascolato.com.br), com uma abordagem ainda mais pessoal sobre moda e lifestyle. “Queria um lugar para falar o que eu quiser, até que me decapitem, mas nessas alturas da vida, eu não estou mais ligando”, revela a empresária de 74 anos, declarados sem a menor cerimônia, “tecnicamente, eu sou uma velhinha”, diz, se divertindo. “A diferença é a liberdade total na escolha dos assuntos, assim como o tamanho dos textos. Não creio que as pessoas queiram ler muito. Nos blogs é diferente, a velocidade das informações é maior, e a possibilidade das imagens é muito mais sedutora!” confessa.

3. Após palestra, Costanza autografa seu livro Confidencia para presentes 4.Anéis Pedras Roladas de ouro amarelo texturizado, ouro nobre com cristal de rocha ou ouro branco polido com diamantes


Foto: Mariana Chama pรกg. 32

Perfil


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Uma narradora do design Jornalista, curadora e palestrante, Adélia Borges tornou-se uma das principais comunicadoras do setor por Danilo Borges Adélia Borges nunca desenvolveu um projeto próprio no campo do design. Questionada sobre a possibilidade de se aventurar na criação, ela é categórica: “Realmente não me sinto qualificada para isso”. No entanto, é considerada uma das pessoas mais influentes no design brasileiro. Jornalista por formação, Adélia tornou-se uma “narradora do design”. Começou a falar dele há mais de quarenta anos, numa época em que muitos sequer consideravam que o design existisse no Brasil. “Desde que me entendo por gente, gosto de ver objetos que unam a utilidade e a beleza. Sou de uma família de sete irmãos, e o irmão imediatamente acima de mim se tornou designer”, conta. A primeira oportunidade de lidar profissionalmente com o design veio no início dos anos 1970, quando Adélia era repórter do jornal O Estado de São Paulo, e foi designada para fazer reportagens sobre equipamentos urbanos implantados pelo então prefeito de Curitiba, Jaime Lerner. “Gostei muito do que vi, porque percebi que era um design que melhorava a vida dos curitibanos. Acho que a vertente que me interessa do design continua sendo a mesma, até hoje: até que ponto um projeto pode melhorar a vida das pessoas”, explica. Essa verdadeira paixão pela combinação entre estética e funcionalidade tornou-se uma das te-

máticas principais de seus livros, exposições, aulas e palestras das quais participa – muitas delas disponíveis na internet. De forma objetiva e direta, Adélia costuma descrever com propriedade projetos e cases que envolvem desde um novo sistema de transporte coletivo, desenvolvido pelo renomado designer Índio da Costa, a um carrinho para transportar cafezinhos, criado por um vendedor ambulante de Salvador (BA). Uma das principais preocupações de Adélia é a associação frequente, quase automática, entre o design e o mercado de consumo, perspectiva que, para ela, empobrece a abrangência e o papel do campo. Tomando emprestada uma expressão criada pela curadora do Design Museu de Nova York, Cintia Smith Cooper-Hewitt, Adélia Borges costuma falar da importância do “design para os outros 90%”, isto é, de um design que sirva não só às classes mais abastadas, mas que também contribua para resolver problemas de toda a sociedade. Por isso, ela vai além e defende o design com os 90% - como a união entre design e artesanato, tema de seu mais recente livro – e o design pelos 90%, que


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inclui objetos e produtos desenvolvidos por pessoas comuns, com o objetivo de melhorar aspectos de suas vidas – caso do vendedor de cafezinho citado anteriormente. Aliás, é dessa temática que trata a exposição Design da Periferia, da qual Adélia é curadora, em cartaz até o dia 29 de julho, no Pavilhão das Culturas Brasileiras, em São Paulo.

ce que não pertencer à classe já lhe rendeu julgamentos preconceituosos de designers “corporativistas”, e já dificultou, em alguns momentos, a compreensão do processo de um produto. “Mas, desde que eu deixe claro que esse é um código que eu não domino, não vejo grandes problemas”, pondera. A julgar por sua agenda, tampouco o público tem visto qualquer impedimento em ouvir as histórias que Adélia tem para contar sobre o design. Em seu site, a agenda de 2013 está repleta de palestras, conferências, cursos e curadorias, no Brasil, México, Inglaterra, Coréia do Sul, entre outros. “Fico muito feliz, porque a acolhida do público tem sido excelente. Como nas exposições os objetos, ou os signos gráficos, estão descontextualizados de seu uso cotidiano, instiga-se o público a um novo olhar, a uma ‘descoberta’”, afirma.

E como é ser uma jornalista que organiza exposições, escreve livros e dá palestras sobre...design? Para Adélia, o fato de não ter formação em design contribui para que seu olhar sobre a área esteja sempre focado na dimensão utilitária dos produtos. “O design - seja de produtos, gráfico, de embalagens, web etc. – sempre é feito com foco num usuário. Essa perspectiva exterior me põe na condição de usuária. Às vezes, nem sou o público-alvo de um projeto, mas consigo me colocar nessa posição e avaliar o trabalho desse ponto de vista”, diz. À frente do Museu da Casa Brasileira, que dirigiu entre 2003 e 2007, a outsider Adélia Borges implementou diversas ações para ampliar a visibilidade do espaço, entre elas programas educativos com estudantes de periferia e projetos de exposições temporárias. Ao fim de sua gestão, o número de visitantes do museu havia crescido 444%. Se o olhar exterior ajuda a contar histórias sobre o design, por outro lado, Adélia reconhe-

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Perfil

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1. Design mais Artesanato - O caminho brasileiro, Editora Terceiro Nome 2011 2. Exposição Design 4.

da Periferia Foto: Isabel Gouvea 3. Exposição Ícones do design França Brasil Museu da Casa Brasileira São Paulo 2009 Foto: Mariana Chama 4. Exposição da designer Claudia Moreira Salles no Museu da Casa Brasileira São Paulo 2005 Foto: Romulo Fialdini 5. Exposição Meninas Geraes Museu da Casa Brasileira São Paulo 2003

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Foto: Andrés Otero


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Perfil

Quando soluções corporativas passam pela moda

À frente do TS Studio, Tereza

Santos desenvolve uniformes para empresas nacionais

Foto: divulgação

por Clarissa Damas


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O que faz com que grandes empresas como Arezzo, Rede Globo e Trip Linhas Aéreas venham a Belo Horizonte comprar uniformes corporativos? Em um mercado cheio de opções, buscar um fornecedor fora do eixo Rio/São Paulo pode ser um sinalizador importante de qualidade e adaptação fiel às necessidades dessas companhias. Com a palavra, a estilista Tereza Santos: “O projeto TS Studio Uniformes é simplesmente a consequência de querer contribuir com outro foco, usando a concepção de arte, de design e minha expertise. A moda determina quem pertence a um grupo ou outro e o uniforme também faz esse papel. É importante levar em conta valores, objetivos, colaboradores e o público de cada empresa, para então partir para um projeto de gestão de imagem”. 2.

Ela explica que, para elaborar uniformes e projetos corporativos, é necessário equilibrar dois elementos fundamentais: criatividade e eficiência. “É preciso que os projetos sejam inovadores e acrescentem à imagem da empresa, com foco em funcionalidade, conforto e bem-estar”, conta.

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1. Catálogo de uniformização Santanense Workwear Imagem: TS Studio e Greco Design 2. Kit Ayrton Senna - Racing Day Imagem: TS Studio e Greco Design 3. Coleção exclusiva Ayrton Senna por Tereza Santos Imagem: TS Studio e Greco Design


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4. Marta Machado(Fiemg), Terez Cristina (221 Consultorias), Patrícia Bonaldi e Tereza Santos no 3º. Workshop Moda e Indústria Têxtil - 2013 5. Tereza Santos e Costanza Pascolato no 3º. Workshop Moda e Indústria Têxtil - 2013 Fotos: Caroline Barrionuevo

Fundadora da Patachou, marca que integrou o Grupo Mineiro de Moda nos anos 1980 e chegou a 300 pontos de revenda no país e peças expostas em Paris, Tereza tem uma trajetória profissional focada na moda. Já em 2007, um ano após deixar a marca que fundou e que ganhou fama principalmente pelos trabalhos com tricô, a empresária fundou outra, que leva seu nome. Com a etiqueta TEREZA SANTOS, desfilou no São Paulo Fashion Week por três temporadas. Hoje, a estilista afirma que é preciso conhecer muito bem o mundo fashion e suas possibilidades, para entender de que forma a moda

pode somar à imagem da empresa, qual diferença ela pode fazer. “Não existe criação sem conhecimento antecipado e não existe um bom produto sem design”. Ela ressalta que a autoconfiança criativa e conhecimento compartilhado a deixam segura na hora de apresentar propostas e realizar projetos. “Não aceitamos nada menos do que a excelência em tudo o que fazemos. Por isso, esse negócio é exatamente como subir o Everest e descer vivo de lá. É esse o trabalho de nossa equipe: tentar chegar ao topo, com um trabalho impecável, todos os dias”.


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Persona

Disco Diva por Júlia Andrade Entre pilares e correntes, ela entra no palco, negra, alta e musculosa. Seu corpo deixa em evidência as estrias brancas pintadas, formando um padrão quase tribal. Entre gritos e aplausos do público do Paradise Garage, em Nova York, ela toca um tambor, que faz com que picos de néon vermelho e amarelo criem efeitos pirotécnicos no início do show. Durante a apresentação, diversos acessórios são usados, como pulseiras, tornozeleiras, máscaras e bobinas de metal nos seios. Que os fãs de Madonna e Lady Gaga não me escutem, enquanto continuam na discussão do “quem-fez-primeiro”. Mas, nos quesitos inovação e performance, Grace Jones fica com o posto de primeira diva do Pop.

Show no Paradise Garage, em Nova York Foto: divulgação


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Telas do Artista Fotos: Fรกbio Canรงado e Marcos Anthony


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Persona

Considerada uma das fundadoras desse movimento cultural, Grace já foi chamada de “Rainha sexy das discotecas”, mas foi Andy Warhol que a definiu diva, e foi assim que ela ficou conhecida mundialmente. O sucesso como cantora começou no final da década de 1970. Até então, a

jamaicana, na época com 29 anos, seguia apenas com sua carreira de modelo. Em 1977, quando assinou um contrato com a gravadora Island Records, escolheu o estilo Disco, que colocava todos para dançar em discotecas ao redor do mundo. Foi no começo dos anos 1980, que a cantora marcou a história, quando decidiu criar seu próprio estilo musical. Adaptando-se ao New Wave, que estava surgindo, lançou os discos Warm Leatherette e Nightclubbing. Quando o Pop não tinha nome e ainda nem era um estilo musical, as criações de Grace Jones já chamavam

Cantora Grace Jones no Wimbledon Lawn Tennis Championships no All England Lawn Tennis e Croquet Clube – Londres, Inglaterra – 2012 Fotos: divulgação


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Foto para divulgação Foto: Lawrence Watson


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Persona

atenção e se destacavam entre outros ícones do Disco, como Donna Summer, Gloria Gaynor e Roberta Kelly. O Pop começava a surgir entre as performances inesquecíveis da cantora, como no clipe I’m not Perfect, que faz parte do álbum Inside Story, lançado em 1986. No vídeo, entre as performances e roupas exuberantes, Grace aparece com o corpo pintado por Keith Haring, com seu estilo único, inspirado no graffiti. O artista, inclusive, participa do vídeo - assim como Andy Warhol - o que chama a atenção pela influência da arte na música da cantora.

Foto para álbum pessoal de Grace Jones

Foto: Gavin James - 2010

Foto especial para divulgação

Trilhando seu próprio caminho, Jones revolucionou. O que ela mesma caracteriza como rebeldia, fez surgir, no cenário musical e artístico, novas referências para a Pop Art e para a música. Com claras influências

da arte moderna, a cantora chocava a sociedade, enquanto demonstrava sua personalidade forte e seu estilo eclético, através de roupas e acessórios bem à frente de seu tempo. E, foi em parceria com o diretor de arte, Jean-Paul Goude, com quem acabaria se casando, que Grace encontrou um olhar único para o próprio estilo. Em vídeos e shows, a cantora se apresentava com diversos figurinos exóticos, que fizeram dela referência em inovação. A presença visual da diva tornou-se sua marca registrada. Com sua imagem marcante e cheia de


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personalidade, ela tornou-se ícone para outros artistas e cantores. Até hoje, Grace é lembrada quando se trata do visual de grandes nomes, como Lady Gaga, que é sua fã assumida. Mesmo sendo inspiração para muitos, a diva pop mantém-se quase intocável e ainda polêmica. Depois de dispensar um convite de Gaga para uma participação na faixa “Telephone”, em 2010, Grace declarou que gostaria de trabalhar com alguém mais original, que não a copiasse por inteira. Lady então a substituiu por Beyoncé. E se engana quem acha que uma das fundadoras da cultura Pop já encerrou sua carreira, pois algumas surpresas podem vir por aí. Existem fortes rumores de que a artista anda ocupada na gravação de seu novo álbum, que seria inspirado nas raízes 80’s da cantora. Há ainda, quem diga que uma turnê mundial acontecerá no final de 2014. E nesse caso, o Pop que se cuide.

Grace Jones com Andy Warhol e Keith Haring.

Fotos para divulgação Cinema Não bastasse a carreira de modelo e cantora, Grace Jones também se aventurou no cinema, e seu visual extravagante trouxe o diferencial para sua carreira de atriz. Ela fez participações em Conan the Destroyer. com Arnold Schwarzenegger, no qual interpretou Zula, uma exótica guerreira selvagem. Também atuou com Eddie Murphy em Boomerang, mas teve seu papel de maior destaque como Bond Girl, em “007- A View to a Kill”, em 1985. Seu físico exuberante se encaixou perfeitamente no papel de May Day, uma personagem de força sobre-humana.


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Business

LED conquista mercado mundial

Empresa brasileira se une a estrangeira para aumentar a oferta de produtos com tecnologia LED

Fotos: divulgação

por Ana Cláudia Ulhôa

Manoel Caetano, diretor da Lighting Design Fotos divulgação


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De acordo com estudo realizado pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) de São Paulo, o mercado mundial de tecnologia LED (Diodo Emissor de Luz) deve conquistar, este ano, 16% do mercado de iluminação, faturando US$ 20 bilhões. De olho nesse crescimento, a Light Design, empresa brasileira de iluminação, buscou parceiros no exterior, para auxiliá-la na fabricação de produtos de ponta, que devem ser comercializados tanto aqui quanto na Europa. “Iniciamos as conversas com a Exporlux em 2008, quando buscávamos uma empresa para fabricar nossos produtos na Europa. A marca é muito famosa e possui um dos mais avançados laboratórios de desenvolvimento da tecnologia LED na Península Ibérica”, afirma Manoel Caetano, diretor comercial da Light Design. Assim, quando inauguraram o showroom da marca em Lisboa, em 2009, a parceria foi iniciada. No Brasil, a fusão foi concretizada em 2012,

quando as duas empresas tornaram-se Light Design+Exporlux. “Como já eram sócias, percebemos que a fusão seria o melhor caminho a seguir”, afirma o diretor. Hoje, a Light Design+Exporlux atua em obras residenciais, comerciais, corporativas e de iluminação pública, agregando sempre o LED em seus projetos. Para este ano, a empresa está fechando novas parcerias com as marcas italianas Foscarini, Diesel e Fontana Arte, que poderão ser encontradas em 12 showrooms da empresa espalhados pelo Brasil. Em Belo Horizonte/MG, a representante da Light Design+Exporlux é a Templuz. “A loja já conta com ampla gama de produtos de nossa linha técnica. E ainda neste primeiro semestre teremos as linhas dos importados e uma grande novidade - os produtos decorativos de fabricação própria, com design assinado pela renomada Cristiana Bertolucci”, finaliza Manoel Caetano.


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Business

Em paz com a natureza e em voo solo

Cristiana Bertolucci fala à iDeia sobre seu novo momento

por Ana Cláudia Ulhôa e Danilo Borges Formada em desenho industrial pela Universidade Mackenzie, com especialização em Firenze, Cristiana Bertolucci não só realizou o sonho de grande parte dos designers - estudar na Itália - como também teve um mestre em casa. Filha de Walter Bertolucci, fundador da empresa de iluminação Bertolucci, Cristiana atuou durante 25 anos como diretora de arte da companhia, onde aprendeu a administrar, negociar e desenhar luminárias e pendentes. Experiência que a auxiliou na concretização do seu mais recente projeto, a criação do Cristiana Bertolucci Estúdio. Após o falecimento do pai, em maio de 2000, a designer, que já havia feito uma viagem à Índia com o objetivo de realizar uma imersão espiritual, decidiu buscar novos rumos. “Tinha uma proximidade muito grande com meu pai. Quando ele foi se afastando da empresa, por motivos de saúde, quis também seguir meu caminho. Tinha vontade de trabalhar num estúdio menor e fazer peças mais autorais”, afirma. Para criar esse novo estilo, Cristiana investiu em materiais como bronze, ferro forjado, gesso e madeira. A partir dessas matérias-primas, desenvolveu abajures que lembram árvores e

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mesinhas de canto com armações que parecem gravetos repletos de espinhos. Todos os modelos podem ser encontrados em sua nova loja, localizada no bairro Pinheiros, em São Paulo, ou em estabelecimentos parceiros espalhados pelo Brasil. Em Belo Horizonte, as peças com foco em iluminação, da designer, serão comercializadas pela Templuz. Os produtos fazem parte da linha desenvolvida para a Light Design, empresa parceira do Grupo Loja Elétrica. “A Light Design me procurou para que eu desenvolvesse uma linha de peças decorativas. Para mim foi uma nova forma de trabalho, pois sempre fui responsável pela fabricação e comercialização dos produtos. É bom trabalhar assim, pois fico com a melhor parte - só com a criação”, comemora. Em relação ao futuro, a designer ainda completa: “pretendo manter as duas formas de trabalho, quero fabricar e vender. Meu estúdio funciona como uma boutique, onde produzo peças mais autorais. Por isso, fico bem à vontade na criação dos modelos, muitas vezes, peças únicas. É um trabalho bem gostoso”.

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1. Abajur A49 verde turquesa 2. Pendente criado por Cristiana Bertolucci para o Showroom da Lightdesign 3. Showroom Lightdesign Fotos: divulgação


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O universo feminino de Minjae Lee por Danilo Borges À primeira vista, a profusão de cores confunde, mexe com o olhar. Aos poucos, cada centímetro da obra vai se revelando único e digno de uma atenção mais delongada. Autodidata e dono de um estilo autoral, o sul-coreano Minjae Lee tem ganhado destaque mundial por suas ilustrações multicoloridas, compostas por uma infinidade de camadas sobrepostas. O jovem artista, de 23 anos, conta que, desde a infância, foi apaixonado por cores. Um dia, descobriu as cores vívidas dos marcadores e canetinhas coloridas e, então, encontrou a inspiração que precisava. Mas a falta de incentivo para explorar ao máximo o potencial das mais diversas tonalidades – inclusive por parte dos seus professores – o levou a desenhar sozinho e a guardar para si boa parte de seus trabalhos.

Imagem “Janus”


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Como ocorre com a maioria dos jovens artistas, a arte apareceu em sua vida como uma diversão. Aos 17 anos, Lee começou a ter maior contato com a internet e o que era hobby começou a tomar forma de uma carreira profissional. “Descobri sites muito interessantes, onde pessoas que como eu, que gostavam de arte, podiam expressar seu trabalho. A partir desse momento, as pessoas começaram a conhecer meu trabalho e isso se espalhou muito rápido pela internet. Em 2007, as pessoas começaram a me procurar, oferecendo-se para comprar minhas criações e foi aí que a parte comercial começou”, explica o artista. Dois anos mais tarde, com suas despesas aumentando, Lee decidiu se lançar de vez no mercado, publicando um apelo na internet, oferecendo seu trabalho para galerias e compradores. Na época, o artista escreveu: “até agora, a maioria das minhas obras estão comigo, pois me im

porto muito com todas elas. Mas não estou em boa condição financeira, e não posso continuar trabalhando assim. Não tenho dinheiro para comprar materiais e pagar o aluguel”, esclareceu. De acordo com ele, o processo criativo é fluido e espontâneo. Lee jamais utiliza esboços, e o aspecto final de suas obras vai sendo moldado à medida que o trabalho ganha cores e camadas. “Uso principalmente canetas, e o processo é muito simples. Quando quero buscar alguma história ou pensamento, então eu reflito sobre o modelo e, principalmente, sobre as cores que quero utilizar e depois busco possíveis objetos que vou querer associados às imagens e pronto. Então, é só começar a desenhar o modelo e a colocar as cores que idealizei. Os objetos surgem naturalmente”, afirma ele. Ao falar sobre artistas que o inspiram, Lee cita, entre outros, o pioneiro do

Minjae Lee em frente a uma de suas obras


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Imagem “Indiana”


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abstracionismo, Wassily Kandinsky; o polêmico estilista John Galliano e o fotógrafo japonês Hiroshi Nonami. Com o último, Lee compartilha também a preferência por imagens femininas. Assim como o fotógrafo japonês, a maioria dos trabalhos do sul-coreano retratam rostos de mulheres. A escolha, segundo ele, é uma forma de dar liberdade ao seu estilo criativo.

“Como a cor é o elemento mais importante em meu trabalho, acredito que os modelos masculinos geralmente não se encaixam em determinadas cores. Então, para não limitar minha obra, opto sempre pelos modelos femininos, pois não quero me sentir limitado enquanto estou em processo de criação”, diz o artista. Em um vídeo disponível na internet (http://vimeo.com/33066471), Lee documenta o trabalho de criação de mais uma de suas personagens femininas, ilustração que ele chamou de “Circulation”. Segundo ele, a ilustração da obra levou entre 80 e

Imagem “Flower”


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100 horas, compiladas em um vídeo de seis minutos. O que se vê é um artista que trabalha minuciosamente em cada elemento da composição, acrescentando um ou outro traço comum, para dar equilíbrio e harmonia no aspecto final da obra. “Quando começo a desenhar já é o trabalho que irá se tornar a peça final. Nunca precisei esboçar nenhum desenho. Tenho muita facilidade de pegar um lápis e desenhar o que vem à minha mente. Acredito que isso flua de maneira tranqüila, por que, em meu trabalho, o foco principal é a

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Luminária UFO Estação Ferroviária de Lille - França Imagem “TheCupoli World” Foto: Simona


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Minaje Lee acertando os detalhes finais de uma obra transmissão da emoção e o uso das cores que permite essa linguagem”, afirma. Exemplo de artista jovem que já consegue tirar seu sustento do design e da arte, Lee é esperançoso de que o segmento continue a oferecer oportunidades para novos talentos como ele. “Sinceramente espero que esse mercado possa crescer mais e, principalmente, que possa dar a chance para que outros jovens artistas tenham seu talento reconhecido e recompensado financeiramente, ou seja, que a sua forma de expressão possa ser também

uma profissão e não só um passatempo, como ainda pensam muitas pessoas”, afirma. Perguntado sobre o que mudou em sua vida depois que se tornou um artista mundialmente conhecido – com obras espalhadas nos quatro cantos do mundo –, Minjae Lee é modesto: “minha vida é a mesma que há alguns anos. Continuo pensando em progredir um pouco a cada dia. Quero fazer bem o que faço, ser reconhecido e poder viver financeiramente com meu trabalho”.

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Projetos


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Arte em casa

Em uma residência onde os destaques são obras de arte, a iluminação garante o diferencial entre a casa e uma galeria. por Ana Cláudia Ulhôa e Júlia Andrade Diversos pontos devem ser levados em conta ao desenvolver um projeto de iluminação para uma casa: a localização dos móveis, divisão dos cômodos, utilização dos espaços, entre outros detalhes, são essenciais para criar um ambiente aconchegante. Porém, neste projeto, localizado em Nova Lima/RMBH, a estrela principal é uma extensa coleção de obras de artes, que toma paredes, móveis, jardins e todos os cantos, inclusive os banheiros.

Escritório Foto: Ludmila Loureiro

A maioria do acervo de quadros e esculturas é de arte brasileira, passando por escolas como o impressionismo, modernismo e arte abstrata. Foi buscando harmonizar o ambiente, sem deixar a impressão de se estar em uma galeria, que o arquiteto Claudius de Melo César decidiu mudar todo o projeto luminotécnico de sua residência, no condomínio Ville de Montagene. O foco da iluminação foi a valorização das peças e, nesse caso, o mobiliário era um mero coadjuvante.


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Fotos: Ludmila Loureiro

Projetos


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Em parceria com Claudius e Gabriela Freire, da Duo Projetos, Natália Rena Pann, lighting designer da Templuz foi responsável pela assessoria projeto. Ela conta que a intenção foi valorizar o contraste entre luz e sombra. Segundo ela, não foi necessário iluminar todas as peças, criando liberdade para modificação, já que os quadros não têm lugar fixo. “Utilizamos lâmpadas par 20 de LED, que têm como vantagens não esquentar e não emitir raio UV, para não danificar as obras.

Frente da casa

Além disso, elas possuem um consumo baixo de energia e fazem uma boa iluminação geral”. As peças mais importantes foram colocadas nos ambientes mais nobres e sociais da casa, únicos locais onde a iluminação foi mais fixa. “Na sala de estar, utilizamos trilhos de LED, para aproveitar os pontos da laje, com iluminação direcionada e geral. Já na sala de jantar, graças ao rebaixamento de gesso, foram utilizados spots embutidos”, explica Natália.

Hall de entrada


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Projetos

Para deixar o ambiente ainda mais aconchegante, a dimerização foi uma estratégia. Segundo Claudius, as lâmpadas permitem flutuações de intensidades luminosas, o que possibilita quebrar a monotonia. “Como temos uma coleção, não precisamos iluminar tudo, como em uma galeria. Assim, regulando a intensidade da luz, posso criar movimento, focando em uma escultura ou fazendo com que as sombras deixem o olhar descobrir lentamente os espaços”.

Entrada principal

Um dos maiores destaques é a escultura de São Miguel Arcanjo, de estilo barroco, que teve um nicho criado especialmente para recebê-lo. Uma iluminação pontual, com R70, foi instalada para o realce. “O São Miguel exigiu mais atenção, pois o barroco é uma fase marcada pelo contraste. Não poderíamos colocar uma luz uniforme, pois a própria escultura precisa da sombra e dramaticidade”, esclarece Claudius. No segundo andar, os ambientes mais íntimos ganharam um ar mais misterioso, além de peças de maior valor sentimental. Assim, a iluminação explorou ainda mais as sombras. “Não há nada óbvio no segundo andar. Deixar um pouco de mistério é a parte interessante de observar, aonde você vai descobrindo as nuances”.

Fotos: Ludmila Loureiro

Sala de jantar

Hall interno


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Mais destaque para o verde Do lado de fora da casa, a iluminação também foi completamente modificada. De acordo com o arquiteto, a mudança foi fundamental. “A iluminação era precária, mais funcional. Porém, senti necessidade de mudar. Queria criar uma atmosfera bem cênica, bem dramática, mas com cuidado para não haver poluição luminosa”, afirma. “Quando o assunto é iluminação externa, a primeira coisa que vem à cabeça é a segurança. A luz, normalmente é instalada para permitir que as pessoas enxerguem o caminho até a casa ou quem está do lado de fora. Porém, nada impede que a iluminação seja utilizada também para destacar a arquitetura do local e as belezas de um jardim”, ensina Natália. “Mas, não é preciso iluminá-lo para que fique como se estivesse de dia. O interessante é fazer esse jogo. Em alguns lugares misturamos lâmpadas amarelas com brancas. Usamos também as halógenas, que dão um conforto visual e podem ficar no tempo”. A lighting designer lembra que, para realizar projetos como esse, é preciso atenção na escolha dos equipamentos. “O tipo de peça é muito importante. Como elas ficam expostas ao sol e à chuva, precisam ser resistentes. Trabalhamos muito com as lâmpadas par 20 e par 30, que são blindadas. Em uma vegetação mais rasteirinha, usamos uns espetinhos de LED, próprios para área externa, que dá um efeito super interessante, porque são fincados no chão. Então, você vê a luz, mas não vê a lâmpada”, comenta.

Sala de tv

Sala de estar

Quarto


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Jardim interno

Ă rea interna

Fotos: Ludmila Loureiro

Jardim interno


O maior desafio, segundo ela, foi não deixar que a iluminação ofuscasse quem estivesse por perto. “Como a casa é em um condomínio, não existem muros, só uma cerca viva. Por isso, tivemos que instalar os equipamentos de uma forma que a luz não fosse para fora dos limites do terreno, a fim de não incomodar os vizinhos”.

Projetos

Dentre os efeitos criados para esse espaço, a especialista destaca o da árvore, que recebeu um equipamento em seu centro, para gerar a ilusão de que a luz está saindo do interior da mesma. As esculturas, que decoram o jardim, também tiveram suas formas realçadas por uma iluminação posicionada de baixo para cima. Por fim, para dar um toque especial na área externa, Gabriela conta que o segredo foi observar os seguintes passos: “criar perspectiva e visão de profundidade; proporcionar uma iluminação que criasse movimento, realçando formas e texturas; e evitar ofuscamento no ponto de observação”.

Claudius de Melo Cézar e Gabriela Freire Duo Projetos

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Lighting

Pele que modela e traduz por Thaís Casagrande

Revista iDeia: Por que você decidiu investir no design de iluminação? Maria João: Não foi, propriamente, uma decisão. Até porque, naquela época, o lighting design não era uma atividade muito conhecida no meio profissional. Foi a curiosidade que me fez fazer as malas e ir para Londres, em 1989. Nessa altura, só podíamos obter formação acadêmica, nessa área, na Bartlett School of Architecture/UCL/UK ou na Parsons School/New York/USA. Talvez, por uma questão cultural, escolhi o MScLL da University College of London, que estava em seu terceiro ano de atividades. Depois do curso, estagiei na então LDP/Lighting Design Parternership (cujos sócios eram Jonathan Speirs, Barry Hannaford, Andre Thames, Graham Phoenix). Quando cheguei a Portugal, o desconhecimento pela disciplina era total. Os próprios distribuidores de produtos de iluminação só entregavam catálogos aos arquitetos e aos engenheiros, porque não havia mais ninguém que eles considerassem que valeria a pena... (risos).

Fotos: divulgação

Membro profissional da Península Ibérica da IALD (International Association of Lighting Designers), Maria João Pinto Coelho criou a primeira empresa, em Portugal, que desenvolve projetos na área do lighting design – a Lightmotif. Especialista em iluminação urbana, ganhou destaque com projetos como os mosteiros dos Jerónimos e de Alcobaça; Templo de Évora, entre outros. Determinada, persistente e de ideias fixas, vem conquistando o universo do design nacional e internacional. Para ela, luz é pele que modela, traduz, revela o esqueleto e essência de cada objeto.

Lago do Chafariz dos canos, Centro Histórico de Torres Vedras


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Ri: Você acha que o design de iluminação é pouco difundido em Portugal? Como tem sido o desenvolvimento dessa área em seu país? MJ: É definitivamente pouco difundido, mas, o mais importante, é como esse pouco está sendo feito, por quem, e com qual objetivo. Tenho visto de tudo um pouco, desde fabricantes que se denominam ‘designers de iluminação’ a outros, que formam uma associação com o pretexto de divulgar o lighting design, mas que apenas serve para criar um lobby comercial de venda de seus produtos. Penso que, mesmo hoje em dia, a agressividade dos fabricantes é muito maior que há 20 anos, dada à concorrência que se registra. Mas, não são apenas os fabricantes que interferem nas boas práticas da atividade; instaladores estão sempre procurando formas de alterar produtos

especificados em projetos e, até mesmo, muitos lighting designers são permissivos em suas escolhas, porque, debaixo do chapéu da crise, tudo parece estar justificado. Isso não se passa só em Portugal. Ano passado, morei em Madrid durante dez meses e viajei por toda a Europa e America Latina, e vi a mesma situação. Ri: Você já realizou trabalhos em diversos monumentos. Esses projetos são pensados de maneira diferente dos outros ou existe uma linha mestra em seu processo de criação da luz? Quais aspectos você busca destacar em locais como o Templo de Évora ou o Mosteiro dos Jerónimos? MJ: O Templo de Évora - que acabou se tornando o projeto ícone da Lightmotif (percorreu quase todos os eventos internacionais, desde Cusco/Peru a Kazan/Rússia)


Lighting

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Ri: Uma de suas especialidades é a iluminação urbana, tema de sua tese: “A importância da iluminação na imagem da cidade: opções axiais e configuração urbana”. Em sua opinião, o que propõem os novos conceitos da Iluminação Urbana e Ambiental para este milênio? MJ: Não há novos conceitos, mas sim novas exigências! O conceito encontra-se explicitado em minha tese de doutorado (1985). Era uma necessidade criar esse conceito, porque, como arquiteta, não poderia ver as coisas de forma diferente. A cidade tem uma coerência, uma unidade própria e a iluminação têm de traduzir isso. Quando trabalhei no município de Lisboa (1994-1999) a iluminação dos monumentos era uma divisão distinta da iluminação pública. E, infelizmente, é assim ainda hoje. Contudo, em todos os projetos de monumentos que realizei para a cidade, considerava o espaço urbano envolvente. Hoje em dia, é mais fácil entender essa necessidade e exigência, porque o ambiente urbano voltou a ser abordado como um espaço de excelência das cidades. Todos os municípios querem promover isso também, porque esse tipo de intervenção os beneficia nas eleições. É um trabalho muito visível.

Foto: divulgação

- e o Mosteiro dos Jerônimos, em Lisboa, classificados como patrimônio mundial pela UNESCO, foram projetos realizados nos fins dos anos 1990. Contudo, o processo mental e intelectual é o mesmo desde o primeiro projeto (Ponte Romana de Tavira - Monumento Nacional). Resulta de um conjunto de preocupações que começam a tomar forma depois de se observar muito o objeto e o espaço em que se insere. A luz é pele que modela, traduz, revela o esqueleto e essência de cada ‘objeto’ e atribui-lhe um valor, quando esse elemento passa a integrar nosso campo visual.

Terreiro do Paço, em Lisboa

Esboço do Terreiro do Paço de Lisboa


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Contudo, caímos noutro extremo. Tudo tem de caber no espaço urbano e o efêmero vai tomando conta das cidades, descaracterizando, muitas vezes, seu valor. O efêmero é um importante complemento da atividade urbana, mas não deve sobrepor-se à sua própria identidade. Ri: Como o design de iluminação pode ajudar uma pessoa a modificar seu olhar sobre a cidade? MJ: Permite deslocarmo-nos, encontrarmos nosso caminho, mas também sentir prazer em usufruir da cidade num outro tempo, o noturno, onde tudo se passa em outro ritmo, com outro propósito, num ‘outro’ espaço. Essa percepção pode ser muito estimulante e nos dá a oportunidade de viver num quadro mais criativo, saudável e estimulante, promovendo uma interação social, eventualmente, mais equilibrada. Ri: Atualmente, são buscadas soluções sustentáveis para um projeto de iluminação urbana. Que preocupações você tem nesse sentido? MJ: Sustentabilidade é, antes de tudo, efetuar uma instalação que não dê problemas ao fim de algum tempo; é criar uma solução que reduza os gastos com a manutenção; que se instale o número mínimo de equipamentos à adequada iluminação, poupando, nos custos iniciais e no tempo. Essa tem sido nossa preocupação desde o primeiro projeto que, por acaso, ainda resiste ao tempo. E termos instalações com dez anos de funcionamento ou, até 20, e que não tenha tido problemas. Ao longo do tempo, novas fontes de luz permitiram reduzir custos energéticos e aumentar o tempo de vida da instalação, mas, isso não justifica seu uso indiscriminado. Não há melhor solução tecnológica que substitua um mero interruptor que apague a luz, quando esta não é necessária.

Maria João Lighting designer portuguesa


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Fotos: Andrés Otero


Criador&Criação

Jacqueline Terpins em letras quentes por Thaís Casagrande CRIADOR Nascida na Paraíba, filha de pais europeus, com menos de um ano de vida Jacqueline Terpins mudou-se para o Rio de Janeiro. Mais tarde, ao se casar, foi para São Paulo, e se identificou logo com o ritmo de vida paulistano. Uma mistura de origens que contribuiu para a formação da personalidade e criatividade única da designer. Desde cedo, o pai - que trabalhava em uma empresa ligada a minérios e metais - a levava para ver o material bruto, a beleza e a alquimia de todo esse processo, o que acabou a influenciando. Sua trajetória no design começou nas artes plásticas, mas acabou instigada pelo uso e funcionalidade de móveis e objetos. “Assim que comecei a desenhá-los, as ideias foram acontecendo e me descobri designer”, conta.

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Para aperfeiçoar sua técnica, a designer formou-se em Comunicação Visual na Escola Nacional de Belas Artes da UFRJ (Rio de Janeiro). Além disso, estudou técnicas de vidro soprado na Penland School of Art and Craft e na Pilchulk Glass School (EUA), e também cursou técnicas de desenho na Byam Shaw School of Painting and Drawing (Inglaterra). Figura de destaque no design contemporâneo brasileiro, Jacqueline acaba de criar uma nova coleção em cristal soprado para a Cá d’Oro, com produção em Minas Gerais. Este ano, ainda participou do Le Brésil Rive Gauche, que contou com o melhor da moda, da culinária e da arte brasileira, na cultuada e centenária loja de departamentos Le Bon Marché, em Paris. Fotos: Andrés Otero

Vaso Continente I, II, III, VI - Cores CRIAÇÃO Marca registrada de seu trabalho, o vidro é a base da maioria de suas criações. Segundo ela, esse material, originariamente orgânico e absolutamente fluido, é quase como a lava de um vulcão: incandescente e cheio de vida própria. “Tanto o cristal, como o vidro, fluem, contraem e expandem com a temperatura ambiente. Possuem vida própria e essa é a irresistível atração da matéria viva. Ao tornarem-se um objeto ou móvel “sólido”, eles nos mostram características primordiais, como a capacidade de receber luz. Conseguem ser presença e ausência ao mesmo tempo e isso é fascinante” diz.


Criador&Criação

Fotos: Vaso Membrana IB

Jacqueline conta que o cristal é um vidro, porém, feito com materiais mais nobres. Isso gera mais efeito translúcido e uma qualidade maior ao material. “A plasticidade do cristal, em estado incandescente, é um encantamento que já posso chamar de vício. É uma “argila” iluminada que está plena de mistérios a serem explorados. Até hoje, o cristal me provoca e a própria matéria-prima me inspira. Ela sempre me surpreende”.

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Criador&Criação

Ela explica que o cristal é colhido do forno em alta temperatura, por um cano de aço. É então soprado e manipulado nesse estado, com folhas de jornal molhado ou com uma ferramenta de madeira molhada. O vapor entre o cristal e o material molhado é o que o molda. No processo, os materiais nunca chegam a se tocar. Personagem Uma das multifacetas de Jaqueline é o trabalho de criação de figurinos para peças teatrais, comerciais e, até mesmo, ballet. Segundo a artista, o figurino pode ajudar a traduzir uma história, um personagem e, muitas vezes, possui uma função importante na peça. A roupa de um ator pode ajudar a demarcar a época em que ocorre a história narrada ou ressaltar alguma característica da dança apresentada, entre outros. “É um trabalho desenhado em equipe, já que temos costureiras, atores e, principalmente, a visão do diretor. O figurino faz parte de uma obra de arte Fotos: Andrés Otero

Centro Quente

Três Buffet Carvalho


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Centro Marola

maior e mais ampla, que não se restringe a ele mesmo. É importante que cumpra seu papel funcional e, principalmente, emocional”, diz. E, por falar em funcionalidade, Jacqueline afirma que, para ela, não existe design que, ao se propor a ser utilitário, desconsidere sua função. Não existe domínio estético ou funcional, existe um equilíbrio. Um limita o outro, obrigatoriamente. Do contrário, o design não foi alcançado. “A funcionalidade diferencia arte e design. Acredito que trace uma linha importante, mas não segregatória entre as duas vertentes criativas,” finaliza.

Copacabana Chaise


Foto: divulgação pág. 76

Ícones


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A Dama de Ferro da arquitetura Como uma iraquiana conquistou o mundo dos projetos por Ana Cláudia Ulhôa O trabalho é uma das coisas mais importantes de sua vida. Sem família para dividir o apartamento de Londres, a única arquiteta ganhadora de um Pritzker Architecture Prize – equivalente a um prêmio Nobel de arquitetura – tem fama de durona e exigente. Quem já trabalhou com Zaha Hadid, como a arquiteta Isabela Vecci, confirma: “Você sente até uma certa tensão das pessoas em relação a ela”. De acordo com a própria Zaha, em entrevista ao jornal inglês The Guardian, para conquistar espaço em um mundo ainda dominado pelos homens é preciso abrir mão de certas coisas: “Claro que afeta sua vida pessoal. Mas, não porque eu tenha que sacrificar tudo por fazer isso. É só como as coisas são”. Formada em Matemática e Arquitetura, a profissional de 62 anos é conhecida por suas criações futuristas ao redor do mundo, como a ponte Sheik Zayed, em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes; a Ópera de Guangzhou, na China; e o Centro de Esportes Aquáticos de Londres, criado para receber os Jogos Olímpicos de 2012.


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Ícones

Eleita uma das 100 pessoas mais influentes do mundo pela revista Time, em 2010, Hadid já foi considerada uma lunática, por experimentar formas que desafiam os modelos tradicionais. Isabela Vecci conta que vários profissionais da área a acusam de ser formalista, ou seja, de dar mais ênfase à forma do que a outras características importantes de uma construção, como, a funcionalidade dos espaços. No entanto, Vecci argumenta: “muitos dizem que sua arquitetura quer ser muito ‘Uau!’ Mas ela tenta realizar um trabalho baseado no que outros arquitetos antigos já desenvolveram. Ela bebe de fontes anteriores e admite isso. É um trabalho técnico e não só estético. No escritório dela a pesquisa é muito importante”. Em relação às influências de Zaha Hadid, Isabela explica que a arquiteta teve duas bases de formação: o construtivismo russo e o modernismo brasileiro. “No início da carreira dela, é possível notar uma influência do construtivismo russo. Ela começou a realizar um trabalho ligado ao desenvolvimento de planos. Zaha pensava o espaço como uma decomposição de planos. Depois, ela encaminhou-se para o estudo das formas paramétricas. Essa pesquisa surgiu mais nos anos 1990, com a contribuição do sócio dela, o Patrik Schumacher. Eles acreditam que se a vida contemporânea é complexa, a arquitetura também deve ser. Se

Mesa Table

a vida é líquida, amorfa, a arquitetura deve corresponder a isso”. A aprendiz de Zaha ainda completa: “Se você observar as obras dela, o grande protagonista é o concreto. Existe uma economia muito grande de materiais, ela usa praticamente concreto, metal e vidro. Seus projetos são muito simples em relação a materiais e complexos em relação à forma. É quase uma gênese do que é arquitetura mesmo - arquitetura como forma. O que tem muito a ver com nossa escola modernista, que ela admira tanto. Oscar Niemeyer é uma referência para ela”. As origens de Hadid também dizem muito sobre o seu trabalho. Nascida em Bagdá, em 1950, a arquiteta viu um Iraque onde seguidores de diferentes religiões conviviam. As mulheres podiam estudar e trabalhar normalmente. Em um bate-papo registrado pela revista Casa & Jardim, Zaha conta: “as pessoas tinham uma crença real no progresso e na modernidade, com a ideologia de liberdade. Nesse tempo, por todo o mundo árabe, havia muitas mulheres arquitetas, engenheiras e profissionais.


Mesa Liquid Glacial

Mesa Mesa Dune

Nordpark Estaテァテ」o Ferroviテ。ria em Innsbruck - テ「stria Foto: Werner Huthmacher.


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Centro de esportes aquรกticos de Londres

ร pera de Guangzhou, na China


Ícones

Foi um momento de construir uma nação, com muita ênfase na arquitetura”. Por isso, se engana quem acha que Zaha Hadid é uma mulher que teve que enfrentar muitas dificuldades em sua terra natal. Segundo ela, seu maior desafio é enfrentar o preconceito existente em países como Inglaterra e Estados Unidos. “Trabalho muito para me sobressair a esse preconceito, por ser árabe, e aí tenho de enfrentar as barreiras por ser mulher! No momento em que a minha feminilidade é aceita, posso sentir, de novo, o preconceito por ser árabe”, afirma à publicação da editora Globo.

Ponte Sheik Zayed, em Abu Dhabi

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Ícones

Nunca houve uma mulher como Rita Jogadas de cabelo, silhuetas bem desenhadas, tom de voz.

Essas são algumas das característica que transformaram Hayworth em um símbolo de encantamento e beleza. por Pedro Vaz Perez Se é possível afirmar que o imaginário do cinema americano foi construído, sobretudo, por mitos, Rita Hayworth certamente foi um dos maiores. Com muito charme e glamour, irresistivelmente sedutora e fatal, essa atriz norte-americana de ascendência hispano-irlandesa entrou para a história do cinema mundial, alterou os rumos da indústria cinematográfica dos Estados Unidos, redefiniu padrões de beleza e de comportamento femininos e fez muito marmanjo suspirar tomado de assalto pelo desejo. Batizada como Margarita Carmen Cansino, nasceu no Brooklyn, Nova York, em 17 de outubro de 1918. Filha de um casal de dançarinos, já praticava o ofício desde muito jovem na Companhia dirigida pela família. Estreou no cinema de forma discreta em 1934, época de ouro de Hollywood, no filme Cruz diablo, chamando a atenção de produtores. Conseguindo bons contratos em grandes estúdios, atuou em mais de 60 filmes, contracenando com nomes como Cary Grant, Frank Sinatra, Fred Astaire, Glenn Ford e John Wayne e foi dirigida por diretores de peso, dentre eles Howard Hawks e Orson Welles – este último, um dos quatro homens com os quais se casou ao longo da vida. O auge de sua carreira – e assim parecem concordar críticos e historiadores – foi o longa- metragem Gilda (1946). Já sob a alcunha de Rita Hayworth, interpretou a personagem que dava nome ao filme e se eternizou como a femme fatale definitiva da década de 1940. Fácil entender os motivos. O escritor Luis Fernando Veríssimo, que já dedicou longas páginas e colunas a suspirar por Rita,


Fotos: divulgação

Rita Hayworth como Gilda em 1946


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Ícones relembra, em seu livro A Eterna privação do zagueiro absoluto (Editora Objetiva), sua primeira vez com Gilda. Foi num cinema em Caxambu, interior de Minas Gerais, quando ainda era um garoto, com bem menos que 18 anos, idade mínima da sessão. Mas, como a fiscalização, conta Veríssimo, não era lá das mais exigentes, pôde assistir “a primeira aparição quintessencial, a mais inesquecível de todas... a primeira visão de Rita Hayworth em Gilda”. A cena é marcante: antes do vigésimo minuto, da porta do quarto seu marido pergunta, antes de apresentá-la ao personagem vivido por Glenn Ford: “Gilda, are you decent?”. É a deixa para Rita fazer aquela sensacional entrada em cena que há tantos anos povoa os sonhos de Veríssimo: joga sensualmente seus cabelos para trás, ajeita de forma provocante seu vestido e, lançando um olhar fatal, responde: “me? Shure, I’m decent”. No filme, dirigido por Charles Vidor, Rita Hayworth vive uma sedutora cantora de cabaré e protagoniza um complexo triângulo amoroso com Johnny Farrel (Glenn Ford) e Ballin Mundson (George Macradey), dono de um cassino em Buenos Aires. Contudo, a cena que realmente a eternizou, além de fazer todos os homens suspirarem nos cinemas pelo mundo afora, ainda estava por vir. Já com a narrativa próxima do fim, Gilda, que veste um tomara-que-caia preto, com longas luvas negras até os cotovelos, sobe até o palco do cassino e dá início a uma das mais marcantes e polêmicas danças da história do cinema. Cantando Put the blame on Mame, começa, lenta e sensualmente, a retirar uma das luvas pretas, que depois gira no ar e atira para a plateia, que vai ao delírio. Naquela época, o cinema era fortemente controlado pelos censores do Hays Office, que consideraram a cena como um strip-tease – por isso o filme foi proibido para menores de 18 anos. “Em um cinema completamente conservador, ela fez um strip-tease com muito de tease e nada de strip. Tirou uma luva apenas. Mas, com isso, foi precursora da ideia de um desejo muito pouco explicitado, mas de grande latência”, avalia Júlio Pessoa, coordenador do curso de cinema do Centro Universitário UNA.

Rita Hayworth no filme Gilda

O tom de voz, o olhar sedutor, os decotes insinuantes, o jeito como fumava seu cigarro


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e soltava sensuais baforadas, as poses e movimentos que libertavam a imaginação: atributos que contribuíram para eternizar uma das mais provocantes atrizes da história do cinema. Mas, como avalia o escritor Ruy Castro em seu livro Um filme é para sempre (Companhia das Letras), parecia haver algo ainda mais profundo e secreto: “seu fogo gelado, se se pode chamá-lo assim – a capacidade de inflamar uma paixão e, ao mesmo tempo, esnobar o ser inflamado a ponto de reduzi-lo à servidão total, ao nada”. Rita Hayworth no filme Afair In Trinidad

Rita foi uma artista múltipla. Além de interpretar, era bailarina e pôde dançar nos musicais, gênero de grande repercussão à época. Faleceu em Nova York, em 14 de maio de 1987, vítima do mal de Alzheimer. Seus biógrafos atestam que ela preferiria ter sido lembrada como uma grande atriz. Orson Welles fez de tudo para mostrar ao público esta outra faceta de Rita, como demonstra o crítico de cinema francês André Bazin, no livro Orson Welles (Jorge Zahar Editor). Chegou a exigir, diante da imprensa, que ela cortasse seus cabelos bem curtos para filmar A Dama de Xangai (1947) – “um filme para Rita”, afirma Bazin. Mas, como avalia Julio, “sempre será lembrada pelo strip-tease que fez. E nem fez”.

Filmes de destaque: O Paraíso infernal (1939), dirigido por Howard Hawks e estrelado por Cary Grant; Uma loira com açúcar (1941); Rita Hayworth em My Gal Sal

Ao compasso do amor (1941), com Fred Astaire; Minha namorada favorita (1942), com Fred Astaire; Bonita como nunca (1944), com Gene Kelly; Modelos (1944); O Coração de uma cidade (1945); Gilda (1946), com Glenn Ford; A dama de Xangai (1947), dirigido por Orson Welles; Meus dois carinhos (1957), contracenando com Frank Sinatra;

Rita Hayworth na famosa cena da luva - Gilda

O mundo do circo (1964), contracenando com John Wayne e Claudia Cardinale.


Refletir o futuro em cada projeto

Auditório do Banco Central, Brasília. Fotografia Haruo Mikami

BELO HORIZONTE Templuz Av. Nossa Senhora do Carmo 1150, Sion Encontre um de nossos showrooms através do www.lightdesign.com.br



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GiroCultural

Kuala Lumpur, caldeirão cultural por Aline Lara Kuala Lumpur, capital da Malásia, é um caldeirão onde se mesclam, de forma harmoniosa, as milenares culturas chinesa, árabe e indiana, salpicadas aqui e ali por elementos da cultura britânica. Entender esse exuberante mosaico de hábitos, costumes e cores, emoldurado por uma paisagem urbana moderna e cosmopolita de arranha-céus e largas avenidas, é ponto de partida para compreender a alma dessa movimentada cidade.


Foto: Aline Lara

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Fotos: Remira Rampazzo Gambarato

Templo de Batu Caves


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GiroCultural

Embora essas três ricas culturas coexistam harmoniosamente, não se miscigenaram como no Brasil. Mesmo com tantos povos tendo formado nosso país, ainda assim, todos se sentem e se identificam como brasileiros. Já por aqui, o Governo da Malásia precisou lançar uma campanha chamada “1 Malaysia”, que tenta promover um sentimento de unicidade nacional, tão raro nesse país. O ponto positivo da segregação é que podemos experimentar tradições de cada um desses povos, que ainda permanecem fiéis às suas origens. Em breve passeio pela cidade, é possível perceber os elementos dessa pluralidade cultural presente por todos os lados. Até 55 anos atrás, a Malásia ainda era colônia da Inglaterra, motivo pelo qual a influência britânica ainda é tão forte. Formando o cenário árabe, temos os imponentes prédios públicos e as inúmeras mesquitas, equipadas com potentes alto-falantes, de onde ecoam orações cantadas cinco vezes ao dia. Pink Mosque, Instana Kehakiman

Putrajaya, capital administrativa,

Fotos: Aline Lara

cidade satélite de KL


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Foto: divulgação

A parte indiana da cidade incita todos os nossos sentidos, com diversas cores, cheiros, texturas, sons e sabores. Batu Caves é um exemplo dessa experiência sensorial. Esse templo hindu, construído dentro de um complexo de cavernas, está localizado a 13 km do centro da cidade. Logo no pátio que dá acesso ao templo, é possível avistar a estatua de 42,7 metros do Deus hindu Murugan, compondo uma das mais belas paisagens da região.

Espaço interno do Hotel Traders em Kuala Lumpur

Mas, para entrar na caverna é preciso subir 272 degraus, um sacrifício que se torna maior no período do Thaipusam, festival religioso, em que uma multidão de fiéis sobe as escadas com o corpo traspassado por ganchos de metal e carregando pesadas imagens de deuses hindus.

Foto: Aline Lara

Foto: divulgação

Essa combinação de culturas fica ainda mais interessante por ocorrer em uma cidade contemporânea, repleta de enormes arranha-céus, largas avenidas e infinitos shopping centers. A cidade é lar das torres gêmeas mais altas do mundo, as Petronas Twin Towers, que se tornaram um dos principais símbolos da Malásia.

Transporte urbano

Interior do Templo Batu Caves


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GiroCultural

Artes A cena artística da cidade reflete a mesma rica mistura. No Museu de Arte Islâmica da Malásia, ou IAMM como é mais conhecido, podemos encontrar uma magnífica coleção de artefatos da cultura malaia, indiana e chinesa, incluindo joias, armas, tecidos, moedas, trabalhos em metal, cerâmica, manuscritos e arquitetura. O IAMM tem dois andares de galerias permanentes e duas galerias especiais para exposições temporárias. Na cidade é possível encontrar também diversas galerias de artes plásticas, como a Galeria de Arte Nacional; Galeria Petronas e destaque para Sasana Kijang, galeria que possui cerca de 1.700 obras, entre elas os trabalhos dos artistas mais renomados do país.

Para encerrar o assunto, mais algumas curiosidades: a maioria dos prédios aqui não possuem 4º andar, assim como o 14º, o 24º e qualquer número terminado em 4. Eles são substituídos por 3A, 13A, pois o número 4 não é auspicioso na cultura chinesa, e a pronúncia da palavra quatro em chinês é semelhante à pronúncia da palavra morte. E, aqui se comemora o “Ano Novo” quatro vezes: o chinês, o islâmico, o indiano e o tradicional e, a melhor parte, em todos eles são decretado feriados nacionais.

Vista panorâmica de Kuala Lumpur

Petronas Towers

Fotos: divulgação

Kuala Lumpur é uma cidade ainda pouco explorada pelos brasileiros mas, com certeza, um ponto interessante a ser incluído no roteiro para quem vai visitar a Ásia.


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