Expediente: Editor Camilo Belchior Jornalista Responsável: Cilene Impelizieri 5236/MG Jornalistas: Ana Cláudia Ulhôa Pâmilla Vilas Boas Projeto gráfico e coordenação gráfica Cláudio Valentin A Revista iDeia é uma publicação da Editora PlexuDesign, patrocinada pelo Grupo Loja Elétrica / Templuz, com veiculação gratuita, não podendo ser vendida. Sua distri-
Vivemos um momento diferente do que há muito pouco tempo. As novas tecnologias, a comunicação e a informação ultrarrápidas criaram um mundo totalmente globalizado, que contribuiu para moldar uma nova forma de perceber e entender o design e suas ramificações. Para comemorar a décima edição da revista iDeia, um marco para toda equipe da revista, que não mede esforços para preparar com esmero cada edição, trouxemos algo mais amplo para você, leitor: um recorte emoldurado do que profissionais do design e áreas correlatas estão fazendo mundo afora. Como diz o escritor Rafael Cardoso: “O design de hoje molda e transforma o mundo”. Tivemos o cuidado de escolher lugares com pouca presença na mídia, mas que apresentam uma riqueza singular – projetos extremamente interessantes, mesmo que fora dos grandes eixos.
buição é feita para um mailing seleto de profissionais das áreas afins ao design e formadores de opinião. Contato:
Nosso Giro Cultural passa por Bangladesh, Nova Zelândia, Groenlândia, Chile, Israel, Emirados Árabes, Austrália, Costa Rica, África do Sul, Argélia, Tunísia e Ucrânia.
contato@revistaideia.com Os artigos assinados são de exclusiva responsabilidade dos autores e não refletem a opinião da revista.
E, como nossa revista tem base mineira, optamos também por destacar três locais do interior do estado: São Sebastião do Paraíso, Santos Dumont e o norte de Minas, onde há muita coisa bacana para ser vista. Desejo uma excelente viagem! Camilo Belchior
Foto: divulgação Theo Jansen
pág. 4 - Bangladesh - Muzharul Islam
Bangladesh Uma visão política da arquitetura Os rumos do modernismo no sul da Ásia por Pâmilla Vilas Boas
Arquiteto, professor, urbanista, educador e ativista político. Muzharul Islam (1923/2012) é, até hoje, um dos principais arquitetos de Bangladesh, responsável por definir os rumos da arquitetura modernista no país. Ele é considerado o mestre do modernismo regional no sul da Ásia e pai da arquitetura moderna local.
Muzharul Islam é considerado o primeiro arquiteto de Bengala. Em 1946, ele obteve bacharelado em Engenharia pela Universidade de Calcutá e, em 1952, se tornou bacharel em arquitetura pela Universidade de Oregon, nos EUA. Quando começou sua carreira, a região era dominada por uma “ressaca” pós-colonial influenciada por estilos internacionais e regionais “superficiais”. O arquiteto Nurur Rahman Khan, membro do Instituto de Educação dos Arquitetos de Bangladesh e diretor dos arquivos de Muzharul Islam, explica que as obras de Muzharul são ícones da arquitetura moderna e também demonstram sua capacidade em transformar questões complexas
Fotos: divulgação
O país conquistou sua independência do Paquistão em 1971, depois da guerra civil, de nove meses, entre o Paquistão Ocidental e oriental. Antes disso, Bangladesh fazia parte do Paquistão Oriental. O país tem quase todas as fronteiras com a Índia, por isso, muitos de seus aspectos físicos e culturais são partilhados com seu vizinho, Bengala Ocidental, um estado da Índia. Os dois países formam uma região da Ásia conhecida como Bengala.
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da região numa arquitetura contemporânea sensível ao contexto social, cultural, climático e econômico do país. Islam acreditava que era preciso ser um homem do mundo e um bengali. Encontrar a si mesmo, ter os pés fincados no solo, sem se estagnar.
Muzharul Islam foi o responsável pela criação de uma linguagem da arquitetura moderna no país.
Nurur explica que a modernidade em Bengala remonta há cerca de 200 anos, quando se iniciou o desenvolvimento das primeiras cidades organizadas, como Mahasthangarh, uma das primeiras cidades urbanas e importante sítio arqueológico da região. Nurur destaca ainda a criação dos centros de educação budista em Nalanda e, mais tarde, os grandes mosteiros budistas em Paharpur e Mainamanti. Esses mosteiros, segundo Nurur, além de centros religiosos, eram importantes centros de ensino. “A mentalidade Bengali foi moldada por nossas paisagens, a vida segura e simples que veio dessas paisagens, a psique filosófica das pessoas, construída pelo desenvolvimento da literatura, arquitetura e arte por mais de mil anos. Os mosteiros, mesquitas e templos representam a transformação da
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cultura e da arte em arquitetura, no uso de materiais e proporções elegantes, que foram se transformando na arquitetura moderna. Como podemos ver, o modernismo Bengal é uma matriz complexa, que se desenvolveu por mais de mil anos e uma modernidade Bengal só teria sucesso levando em conta a força dessa matriz”, ressalta.
Nova linguagem Para Nurur, Muzharul Islam foi o responsável pela criação de uma linguagem da arquitetura moderna condizente com o país e que, até hoje, é a força motriz da arquitetura contemporânea. “O que ele deixou para trás, em termos de clareza estrutural, a materialidade, a resposta à mudança climática e a compreensão da condição sócio–econômica são pontos de referência que influenciam arquitetos até hoje”, ressalta.
Islam era um ativista que se preocupava com a distribuição de renda em seu país.
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Além de arquiteto, Islam era um ativista que se preocupava com a situação socio-econômica e com a distribuição de renda em seu país. Para o pesquisador, Islam foi capaz de dizer à sociedade que a beleza não está na decoração, nem na demonstração de riqueza e ostentação. Pelo contrário, a obra dele ressalta a história, trazendo um novo senso de autoestima para o país.
Fotos: divulgação
“Sua verdadeira mestria foi transcender ao que estava acontecendo e desenvolver uma arquitetura moderna, que não foi uma imposição, mas sim resposta, extremamente sensível, à história, cultura, tradição, o clima, o lugar, as pessoas, à complexidade socioeconômica e o contexto sócio-político. Suas obras pioneiras, em 1950, marcam o início
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O projeto de construção da Assembleia Nacional de Bangladesh foi realizado por Muzharul Islam em parceria com o arquiteto Louise I Kahn.
do Modernismo em Bengali, que apontou caminhos também para a arte e literatura”, ressalta. O principal legado, afirma Nurur, foi acreditar que avançar não significa abandonar o passado. Islam tinha grande orgulho da herança cultural da sociedade Bengala, ele passou por quase todos os cantos do país, desenvolvendo uma forte compreensão do seu povo. “O trabalho de Muzharul Islam foi o primeiro que abordou todas estas questões ao mesmo tempo, sem sucumbir a ‘gestos regionais’”, ressalta.
“Sua contribuição para a arquitetura não deve ser vista apenas como o trabalho de um mestre moderno, mas como um verdadeiro ativista, que acreditava que temos o direito de determinar a nossa própria arquitetura e modernidade, levando em consideração os nossos problemas e herança. Isso também tem feito do seu trabalho uma fonte inesgotável de inspiração e aprendizagem que, por sua vez, o transformou em um dos maiores educadores em arquitetura da região”, avalia.
Fotos: divulgação
Nurur explica ainda que o projeto de construção da Assembleia Nacional de Bangladesh foi realizada por Muzharul Islam em parceria com o arquiteto de renome mundial Louise I Kahn, que nasceu na Estônia e se mudou para os EUA ainda criança. À época, ele decidiu convidar um arquiteto (conhecido internacionalmente) para ser fonte de inspiração para os arquitetos do país. Ele propôs três nomes: Le Corbusier, Alvar Aalto, e Louise I Kahn. Corbusier estava muito ocupado e Kahn se tornou a escolha final. Islam andou com Kahn pelo país, deu-lhe livros de arquitetura e cultura e compartilhou diferentes visões sobre o projeto.
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Jamie Harkins em uma de suas obras, a ampulheta Foto: divulgação
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Nova Zelândia Imaginação nas areais da praia por Ana Cláudia Ulhôa
Uma das brincadeiras mais comuns nas praias de todo o mundo é construir castelos de areia. Mas já imaginou trocar o balde por uma vareta e uma corda e criar um castelo de proporções enormes, que saltam da superfície? Ou, quem sabe, uma pista de skate, um piano, um templo grego? Em Tauranga City, Nova Zelândia, é fácil se deparar com desenhos como esses. As praias de água cristalina e grandes áreas verdes do lugar são a inspiração e tela do artista plástico Jamie Harkins, que usa uma técnica conhecida como anamorphosis para dar vida à sua arte. Todas as vezes que chega à praia, Harkins escolhe uma imagem e a desenha de maneira distorcida para que ela ganhe um efeito 3D, quando vista de um ponto específico. Mas o trabalho não para por aí. Sua arte só se completa quando pessoas são fotografadas sobre a figura e, em seguida, tudo é apagado pelas ondas do mar. Afinal, como diz Jamie: “eu ganho experiências e novas inspirações para minha próxima criação, como também ganho uma nova tela para começar”. Revista ideia: Como surgiu seu interesse pela arte? Jamie Harkins: A arte era algo que apenas fazia quando era mais novo. Era um garoto tímido, quieto e desenhando. Era como uma porta qualquer em algum lugar, sem regras, onde a imaginação pudesse florescer. E o desenho final era como se isso fosse a evidência de que você esteve lá. Amo criar e sem isso me sinto fora de mim. Ri: Como surgiu a ideia de fazer arte em 3D na praia? JH: Fazer arte na areia da praia veio de uma frustração de não ter dinheiro suficiente para comprar grandes quantidades de giz e fazer arte de rua 3D e, vivendo na praia, soube que a areia tem a habilidade de se parecer com um lápis à distância. Então, comecei a experimentar.
Jamie Harkins, artistas plástico da Nova Zelândia Foto: divulgação
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1. Após terminar seus desenhos, Harkins convida as pessoas a interagirem com a obra para registrá-la em fotografia 2. Trampolim 3D desenhado em uma das praias da Nova Zelândia 3. Harkins tocando seu piano em 3D
Ri: Você criou o coletivo 3D Sand Drawing com Constanza Nightingale e David Rendu. Diga-me um pouco sobre a história deste coletivo. Ele ainda existe? JH: A colaboração veio do fato de saber que precisaria de mais do que meu próprio conjunto de mãos para vencer a maré. Porém, mesmo com ajudantes, um ou dois foram cobertos pelo mar antes da conclusão. Atualmente, continuo meu trabalho com meus amigos, transeuntes, família e tenho prazer ao ver as pessoas se envolvendo com isso tudo. Ri: Como você escolhe o desenho que será feito na areia? JH: Escolho a peça que quero desenhar na praia fazendo alguns esboços, imaginando o que quero ver. Geralmente, gosto de cenas surrealistas e trabalho onde as pessoas possam entrar para vender peças que tenham um impacto ilusionista, mas tento criar algumas atrações que tenham, também, uma certa luz natural envolvida. Ri: Qual é o processo para executar o desenho? JH: A maneira como faço teses provém de se ter capacidade de imaginar o desenho tão bem, que você pode ver as formas geométricas dentro do contexto e pode, então, fixar os pontos e seus cantos para que tenha referências para começar a construir o desenho é como desenhar em uma almofada na sua frente. Normalmente, os desenhos são feitos com uns 100 metros de comprimento e suas mãos são a voz ativa “É como se eu estivesse desenhando em uma prancheta, só que meus braços teriam 100 metros de comprimento“. Descubro novas técnicas a cada dia, apesar de ter um movimento que inicia tudo para mim. Uso diferentes varas que encontro na praia, e um longo pedaço de corda para fazer linhas retas agradáveis. Ri: Você não se incomoda com o fato de que seu desenho ser apagado rapidamente pela água do mar? JH: Não fico triste que o trabalho é apagado, pois, para mim, é uma arte como a fotografia.
Fotos: divulgação
Na verdade, funciona como uma espécie de presente para aqueles que estiveram lá e que, mesmo que metaforicamente falando, levaram esse trabalho com eles. Ganho experiências e novas inspirações para minha próxima criação, assim como uma nova tela para começar. Ri: Quais são suas maiores influências no mundo da arte? JH: São os artistas mestres e as vidas que eles levaram. Sou um fã de todos os grandes nomes, mas em particular: Salvador Dalí, Picasso e Gauguin. Sou fascinado pela forma como deixaram sua marca no mundo e, ao mesmo tempo, conduziram extraordinariamente suas vidas. Suas artes inspiram, mas as convicções me inspiram mais ainda. Ri: Nos conte um pouco sobre o seu país. Como influenciou seu trabalho? JH: Meu país é um belo lugar onde as pessoas são humildes e amigáveis. Eu, pessoalmente, vivo em uma cidade praiana, onde no inverno a cidade é calma e a maioria dos moradores “hiberna”. No verão, os navios de cruzeiro transformam o lugar com visitantes e ondas populacionais. É uma cidade de verão e muito popular devido às praias, esportes aquáticos e pesca. Sinto que a Nova Zelândia é um dos lugares mais bonitos para se viver no mundo. Está em nossa natureza fazer algo de bom a partir do nada e essa atitude nos encoraja a pensar em uma forma paralela de fazer minha arte na areia. A praia na minha cidade me encoraja a sair frequentemente. Eu amo estar na natureza e com os elementos da minha criação. Não há nada melhor que um mergulho da vitória no final da corrida após andar na praia o dia todo.
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Groenlândia Natureza intocada por Pâmilla Vilas Boas
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A estilista Bibi Chemitiz nasceu na Groenlândia e ainda adolescente, se mudou para a Dinamarca. Hoje, transita pelos dois universos e cria roupas inovadoras que resistem ao tempo. Em sua obra, ela ressalta a dualidade entre o passado de tradição de seu país com o presente das paisagens urbanas e um futuro de urbanização a cada dia mais intensa na Groenlândia. Bibi nasceu na pequena cidade Nuuk e cresceu com a cultura de seus antepassados Inuit. Antes do comércio com os europeus, os inuit, nação indígena esquimó, viveram por mais de quatro mil anos em cabanas relvas, tendas e iglus. As moradias eram feitas com troncos, ossos e peles de animais. A partir do século XV, com a intensificação do comércio de peles com os baleeiros e pescadores europeus, eles abandonaram inúmeras práticas tradicionais para se voltarem inteiramente à caça de animais para extração de peles. Apesar de ainda ser uma cultura esmagada pelas paisagens modernas, Bibi sente orgulho de ser uma mulher Inuit, que ressalta aspectos de sua cultura e da natureza ainda intocada da Groenlândia.
Bibi ressalta, em suas coleções, aspectos da cultura Inuit e da natureza ainda intocada da Groelândia.
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Revista iDeia: Como a Groenlândia influencia seu trabalho? Bibi Chemitiz: Eu nasci e cresci na Groenlândia, mas me mudei para a Dinamarca ainda adolescente, então eu uso tanto minha origem na Groenlândia e meu presente na Dinamarca como elementos-chave em meu projeto. Ri: Quais aspectos da tradição da Groenlândia mais chamam sua atenção? BC: A Groenlândia é um país enorme, acho que não é muito menor do que o Brasil, mas só vivem em torno de 56.000 pessoas em todo o país. A cultura desempenha um papel enorme para a maioria das pessoas da Groenlândia, porque somos tão poucos que isso se torna muito importante para nós. Tudo está estreitamente relacionado entre si, algumas das tradições eram apenas parte da sobrevivência, outras faziam parte da velha narrativa presente nas noites nas pequenas cabanas. A Groenlândia é um país árido para se viver, há um grande número de peixes e outros animais, mas é quase impossível para o cultivo
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de milho, frutas ou outras plantas. No inverno a temperatura pode facilmente chegar -30 ou -40 graus Celcius, e uma grande parte do país fica escura por muitos meses, sem luz do sol. Acho que o que me inspira mais é a natureza e a beleza crua do país. Ri: Quais são as peculiaridades de fazer moda num país tão frio? BC: Na verdade, eu trabalho em Copenhague, Dinamarca. Mudei-me para a Dinamarca na minha adolescência com os meus pais, e comecei minha marca há dez anos, quando eu tinha 21 anos. Eu visito a Groenlândia três vezes por ano, mas é muito difícil executar uma empresa de produção/design lá. Estamos longe de tudo e seria muito caro para enviar e receber a produção. Tenho que viajar para Paris quatro vezes ao ano, além de ter que visitar meus lugares de produção
Fotos: divulgação
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em Portugal, Polônia e outros locais durante o ano. Se eu viajasse mais para a Groenlândia, gastaria todo meu dinheiro em viagens. Um bilhete de regresso a Copenhague é de cerca de 1000 €. Ri: Como você concilia passado e futuro em suas obras? BC: Costumo usar algumas das formas tradicionais de capuzes em minha concepção e uso a artwork da Groenlândia – mas, muitas vezes, não olho para trás, tento olhar para a frente e criar algo novo, sempre em relação a mim e meus antepassados. Ri: Como você analisa o fato da cultura Inuit ter sido esmagada pela urbanização moderna na Groenlândia? BC: A questão política da Groenlândia vs. Dinamarca é muito, muito complicada. Essa
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pergunta vale um livro inteiro. Acho que os dois paises têm encontrado relações relativamente saudáveis e a cultura Inuit na Groenlândia e também em outras áreas inuit como Nunavut, no Canadá e no Alasca estão ficando cada vez mais fortes. Eles estão fundando um novo lugar depois de muitos anos em que ser um Inuit não era uma coisa boa. Eu sou uma mulher muito orgulhosa de ser Inuit. Ri: Você utiliza elementos da cultura Inuit no seu trabalho? BC: Sim, uso isso sempre em minha coleção. Nem todos os itens têm elementos Inuit, mas são elementos-chave em cada coleção. Você pode vê-los em estampas e formas, por exemplo. Às vezes são os animais que são vitais para a vida na região ártica, outras vezes é mais a arte que nós usamos. Mostramos e trabalhamos com o que sentimos.
Ri: Groenlândia é ainda um país desconhecido para o resto do mundo. Você acha que isso está mudando agora? BC: Espero que sim, é extremamente bonito e cheio de admiração. A parte difícil é chegar lá. Primeiro, você só pode voar para a Groenlândia da Dinamarca e da Islândia e esses dois países são caros em relação à maioria dos lugares fora da Escandinávia. Estou sempre dizendo a todos que conheço muito sobre a Groenlândia, que é um grande lugar para se visitar. Não há nenhum outro igual na terra. Qualquer pessoa que quiser visitar meu pais pode me escrever e darei alguns conselhos. Acho que, algum dia, vou voltar quando minha empresa estiver mais estável, com condições de ter gente para executar o transporte e coisas assim. Mas, ao mesmo tempo, adoraria ir ao Brasil e ver a costa e também a floresta e o rio Amazonas.
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Ri: Como você avalia a cena da moda na Groenlândia? BC: Não existe de fato uma cena fashion. Somos algumas pessoas que trabalham com o design, mas apenas duas ou três vivem disso. Lembre-se que somos apenas 56 mil pessoas vivendo na Groenlândia, então somos menos do que uma pequena cidade do Brasil em um país inteiro. É por isso que tento usar a Groenlândia o máximo possível no meu design, pois realmente não existem outras pessoas que farão isso.
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pág. 20 - Brasil (São Sebastião do Paraiso) - João Pimenta
Brasil Uma roupa para refletir por Ana Cláudia Ulhoa
Ao som de Max Blum, o primeiro modelo entra na passarela. Ele está vestido com um casacão, que traz uma mistura bem inusitada: a peça é composta por chevron, pied-de-poule, risca-de-giz e xadrez. Em seguida, surgem macacões de alfaiataria, ternos e sobretudos com uma modelagem feminina e materiais como jacquard, algodão, lã e poliéster. A cena descrita fez parte do desfile de João Pimenta para a última edição do São Paulo Fashion Week (novembro de 2014) e reflete bem as principais caraterísticas do trabalho desse estilista mineiro, que já se tornou uma das maiores referência da moda masculina brasileira. Proprietário de uma grife há dez anos, João criou um estilo único e provocou o mercado ao mesclar padronagens femininas com masculinas e tecidos nobres com outros mais simples. Sua ideia foi levantar uma discussão sobre as barreiras que existem entre o feminino/masculino e o pobre/rico na moda. O interesse por esses temas veio das origens de Pimenta, que hoje tem muito orgulho de toda a sua trajetória. Revista iDeia: Como começou seu interesse pela moda? Como foram os seus primeiros passos nesse ramo? JP: Nasci em Minas Gerais, em São Sebastião do Paraíso, e fui para Ribeirão Preto quando tinha quatro anos. Com dez anos, entrei para um projeto da prefeitura de Ribeirão Preto, que abria espaço para o primeiro emprego para jovens. Fui então trabalhar nas Casas Pernambucanas, onde tive o primeiro contato com os tecidos. Quando comecei lá, fazia pacotes. Depois, fui criar as vitrines. Como o vitrinista da loja não estava bem, comecei a fazer moulages com os tecidos. Foi assim que fiz minha primeira história com roupa. Foi fazendo moulage - drapeando tecidos no corpo dos manequins e formando roupas. Foi nesse momento que me apaixonei por esse mundo. Depois, trabalhei em outras lojas de tecelagem em Ribeirão Preto e, quando fiz 18 anos, vim para São Paulo atrás do meu sonho de trabalhar com roupas.
João Pimenta, estilista nascido em São Sebastião do Paraíso-MG
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1. Após terminar seus desenhos, Harkins convida as pessoas a interagirem com a obra para registrá-la em fotografia 2. Trampolim 3D desenhado em uma das praias da Nova Zelândia 3. Harkins tocando seu piano em 3D Fotos: divulgação
Fui parar na rua São Caetano, que é a rua das noivas aqui em São Paulo, no bairro da Luz, e tive meu primeiro trabalho de estilista. Foi lá que aprendi a desenhar, mas era um trabalho que não gostava muito de fazer, porque era voltado para roupa de casamento, que não tem nada a ver com o meu perfil. Mas, fiquei lá durante cinco anos. Depois, consegui entrar para o Mercado Mundo Mix e comecei a fazer minissaias. O bacana de lá é que era muito diversificado, fazia peças mais voltadas para a arte do que para a moda. Misturava materiais bem inusitados, como seringas, remédio, coisas perecíveis, pregos, lâmpadas, tudo para fazer uma minissaia. Mas, foi o primeiro trabalho em que tive mídia. Eles gostavam muito da diversidade de materiais, mesmo não sendo muito usável. De lá para cá, a coisa foi tomando outra forma. Abri uma loja na Galeria Ouro Fino, aqui na Augusta, depois entrei para a Casa de Criadores, fiquei
cinco anos lá e fazem outros cinco que eu estou desfilando no São Paulo Fashion Week. Ri: Por que você resolveu trabalhar com moda masculina e discutir essa questão do feminino/ masculino? JP: Quando estava na Casa de Criadores, fazia moda feminina, mas os meninos entravam na loja e procuravam, no meio as araras das meninas, alguma alternativa de roupa que fosse mais unissex. Aí, percebi a demanda do mercado. Como já tinha histórico no feminino e sempre achei a roupa masculina muito quadrada, comecei a fazer um masculino mais diferenciado, me inspirando na modelagem que trabalhava para o feminino. É por isso que as pessoas dizem que nossas roupas são quase femininas. Isso também foi uma forma que achei de a imprensa enxergar uma discussão do masculino com o feminino, de formas, dessa coisa de diversificar
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um pouco a roupa do homem. Por muito tempo, continuei não vendendo minhas roupas, mas criando uma linguagem de moda voltada para o público masculino. Ri: Como é a aceitação do mercado? JP: Essa história é bem dúbia, porque se não tivesse ido por esse caminho, não teria conseguido esse espaço. O status, a pose, os patrocínios que tenho hoje existem mais devido a essa linguagem de moda. Até hoje tenho certa dificuldade de mercado, porque minha roupa é muito autoral ainda. Já faz dez anos que eu estou fazendo coleções e só agora minha roupa está tomando uma forma um pouco mais fácil de digerir. Só que faço roupa sob medida, então o cliente que quer alguma coisa diferente me procura, porém quando vai fazer o pedido é que escolhe o modelo, o tecido, o acabamento. Então essa roupa acaba indo para um gosto dividido entre eu e meu cliente, que consegue tirar daqui uma roupa mais dentro das regras, em cores mais fáceis, em tecidos mais reais, em modela-
gens mais simplificadas. E, na verdade, eles me procuram pelo diferencial, mas, na hora de executar a roupa, eles querem uma roupa um pouco mais certinha mesmo, um pouco mais tradicional. Ri: Antes você tinha uma loja e depois começou a fazer roupas sob medida. Você fez isso por uma questão de mercado ou foi por um gosto seu mesmo? JP: Como eu tinha loja, havia uma demanda grande. Tinha muito cliente, porque minha loja era totalmente unissex, todas as roupas vestiam homens e mulheres. Moda para mulher é sempre P, do 36 ao 40, como fazia uma modelagem feminina pensando em um homem, minhas roupas sempre eram grandes, então tinha muitos clientes que me procuravam por isso. Porém, como tinha que abastecer sempre essa loja, sentia que meu trabalho estava ficando, de novo, de uma forma que não era o que eu acreditava. Na verdade, a questão de ter uma loja aberta para a rua passou a não ser mais interessante para mim. E sentia
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também uma necessidade muito grande de aprimorar meu trabalho de alfaiataria. Então, fui para um lugar bem menor, uma sobreloja. Hoje, meus clientes compram uma roupa com três meses antecedência da data em que vão usar. Eu tenho esse tempo para trabalhar da maneira que acredito.
Desfile da grife João Pimenta na última edição do SPFW, realizado nos dias 03 a 07 de novembro de 2014. Nessa ocasião, o estilista mineiro comemorou 10 anos de desfile e fez uma retrospectiva de sua obra. Crédito: Namídia Comunicação
Ri: Uma característica sua é usar tecidos mais nobres com outros, um pouco mais simples. Como é feita essa escolha do material? JP: Venho de uma família muito simples, de agricultores do interior de Minas Gerais. Meu pai trabalhava na roça, por isso tenho uma identidade de uma família humilde e moda é bem fútil, né? As pessoas valorizam muito a questão do chique. Então, além do masculino/feminino, também deixo muito claro em meu trabalho essa questão de pobre e rico. Gosto muito de trabalhar tecidos nobres misturados com outros extremamente simples, exatamente para discutir essa questão de que nem só o que
é caro é bom, ou o que é elite é sofisticado ou elegante. Me inspiro no caipira, na roça, em personagens da folia de reis, de congada. Gosto muito de colocar que essa elegância, essa beleza, também está no campo e nas pessoas simples. Acho muito triste as pessoas valorizarem somente a questão da elite na moda. É uma coisa que me incomoda muito. Ri: Eu fiquei sabendo que você demorou a se assumir como estilista. Por quê? JP: Exatamente por isso. Não conseguia entender essa situação. Vindo de um berço como eu vim, de uma vida difícil que tive até aqui, não me sentia na autonomia de dizer para uma pessoa o que é bonito, feio, ou o que ela deveria usar. Eu mesmo tinha muito preconceito em relação a essa história de ter vindo de uma família humilde e estar fazendo um trabalho para a elite. Aí, aconteceu uma coisa muito bacana. Quando ainda estava na Casa de Criado res, fui fazer um desfile em Paris e saí para fazer uma pesquisa de mercado. Quando
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entrei na loja do John Galliano, vi uma peça de roupa dele que era exatamente igual a que eu tinha acabado de fazer. Era com o mesmo tecido, com uma mesma máquina que eu crio, com a mesma ideia, aí pensei: Poxa vida! Estou aqui no primeiro mundo, vendo um trabalho de uma cara que eu admiro muito, que para mim é um Deus, para ele estar fazendo uma coisa com o mesmo tecido e a mesma máquina que eu? Alguma coisa está errada nisso. Depois dessa experiência, resolvi falar das congadas. Meu pai era da congada e a
minha família toda tinha muito preconceito com ele, porque a congada tinha essa coisa toda de mistura de religião. Conta a história de um negro que vira rei. Eles colocam uma toalha de mesa nas costas e uma panela na cabeça e viram rei. É o momento em que o pobre vira o rei. Então, me inspirei nessa história e fiz uma coleção para a Casa de Criadores, acho que em 2010. Essa foi, na verdade, a primeira vez que realmente senti, na imprensa de moda, uma afeição gigante pelo que eu estava fazendo. As pessoas amaram, se identifica-
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ram e gostaram muito da discussão. Nesse momento, percebi que se eu usasse minha história para criar um estilo para a minha marca, além de estar sendo autêntico comigo mesmo, também estaria quebrando esse estigma de pobre e rico. Ri: Você também cria seus próprios tecidos? JP: O mercado, a indústria e os estilistas têm uma preguiça muito grande com a moda masculina. Na verdade, eles estão completamente equivocados, porque o homem consome de uma forma muito séria e é um cliente muito especial. Só que nem a indústria têxtil nem os estilistas querem correr o risco de fazer uma coisa diferente para o homem. Consequentemente, toda vez que vou fazer uma coleção, não encontro tecidos de acordo com o que gostaria de fazer. Também não faço como os outros estilistas, que usam tecidos importados, porque brigo pela moda brasileira e não acho justo comprar um tecido italiano para fazer uma roupa e dizer que aquilo lá é nacional. Então, comecei a desenvolver meus tecidos em tear manual. Durante muitos anos, fiz esses tecidos em tear e, só agora, nas últimas coleções, foi que comecei a desenvolvê-los de forma industrial. Ri: Como você percebe seu público? O que o homem brasileiro, principalmente, quer em relação à moda? JP: Eles querem um pequeno diferencial - o caimento, o corte, o detalhe de uma gola, um botão especial. O homem quer bem pouco, mas quer uma roupa com muita qualidade. Ele faz uma compra consciente, quer que a roupa dure. Não é como as mulheres, que as tendências vão chegando e elas vão trocando o guarda roupa. E, na questão têxtil, eles querem tecidos leves. O linho é um tecido que os homens amam, mas hoje não vejo nenhuma fábrica de
linho no Brasil. O homem é muito exigente na hora de fazer uma roupa. No primeiro encontro eles aparecem assim: “Ah! eu não sei o que quero, tudo pra mim está bom”. Mas, quando você começa a trabalhar a roupa no corpo deles, eles são extremamente exigentes, sabem de detalhes, de acabamento, querem escolher o forro, ficam querendo definir a largura da gola. Ri: Como é o seu processo criativo? JP: Quando estou quase terminando uma coleção, já sinto necessidade da próxima. Então, as coleções são interligadas. Naturalmente, quando estou para entregar uma, a outra já começa a surgir, porque o raciocínio é sempre o mesmo. Eu gosto muito de falar de brasilidade, adoro trabalhar com matéria-prima brasileira e essa questão de discutir esses dois assuntos. É muito engraçado, porque só consigo entender realmente minha coleção quando estou a quinze dias de desfilar, por exemplo. Então, quando ela fica pronta é que descubro que queria mais dela, e esse mais vem na próxima, porque já não dá mais tempo. Na verdade, é o desenrolar de um raciocínio. Ri: Eu gostaria que você falasse um pouco sobre o desfile da SPFW/Inverno 2015. JP: Foi um momento especial, porque comemoramos dez anos de desfile. Então, senti uma vontade muito grande de olhar para trás, nessas modelagens que a gente já tinha feito antes e nos materiais, consegui desenvolver 29 tipos de tecidos. Também tinha dentro desse trabalho a discussão da questão da alfaiataria, porque hoje o alfaiate não existe mais. Queria resgatar essa história de fazer roupa no corpo.
pág. 26 - Chile - Sebastian Errazuriz e Explosion Cabinet
Chile
Ícones contemporâneos A obra de designers chilenos revela o potencial inovador da América Latina por Pâmilla Vilas Boas
O trabalho do estúdio Gt2p envolve tecnologia digital e técnicas artesanais
Chile - Sebastian Errazuriz e Explosion Cabinet - pág. 27
Um convite para o público sair da caixa. Essa é a inspiração do designer chileno Sebastian Errazuriz, que há dois anos vem trabalhando na série “Explosion Cabinet”, mobiliários que podem se desmanchar em diferentes formas. “Os armários são uma metáfora literal para o paradigma de sair da caixa”, afirma. Sebastian Errazuriz, designer chileno criador da série “Explosion Cabinet“
Imagem representa o trabalho dos integrantes do estúdio gt2p
Sebastian explica que a maioria dos aparadores, até hoje, foram criados como um par de portas que se abrem para mostrar seu conteúdo. A maior parte das variações são decorações estéticas no lado de fora ou dentro. “Nesse caso, são caixas que foram estruturalmente projetadas para abrir de uma forma diferente e, ao fazer isso, elas adquirem sua identidade estética”, afirma. Em 2014, Sebastian realizou uma exposição no Museu de Arte Carnegie, na Pensilvânia/ EUA. Para a responsável pela exposição, Rachel Delphia, trata-se de uma obra prima do design de móveis contemporâneo. Fechado, o Explosion é um aparador bonito, porém comum. Mas, de modo surpreendente, e com um suave impulso, as ripas deslizam umas sobre as outras e se abrem cada vez mais, chegando ao ponto de parecer que o aparador se abriu mais do que deveria, colocando em risco
Fotos: divulgação
Série “Explosion Cabinet”, mobiliários que podem se desmanchar em diferentes formas.
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sua estabilidade. Apesar de se expandir externamente, as proporções geométricas são mantidas. Isso é possível graças a uma técnica de encaixes. Para tornar possível essa “explosão”, Sebastian trabalhou primeiro com esboços, em seguida com modelos em 3D, até descobrir um sistema para desenvolver o projeto. A peça é tão complicada que foi necessário muito trabalho para fazer um protótipo perfeito. As maiores dificuldades do projeto foram a resistência dos materiais, a suavidade do movimento, a elasticidade e a rigidez estrutural. “A peça também lida com as complexidades naturais da reação da madeira com a umidade e calor”, afirma. Para Sebastian, o equilíbrio da peça e o malabarismo dos elementos ilustra a ideia de um alcance estético máximo com o mínimo de elementos possíveis.
Série “Explosion Cabinet”, mobiliários que podem se desmanchar em diferentes formas.
Chile - Sebastian Errazuriz e Explosion Cabinet - pág. 29
“A maior parte do meu trabalho convida os espectadores a olhar novamente para as coisas e questioná-las. Com o Explosion, estou quebrando o paradigma do mobiliário. Não mais nos aproximamos de uma caixa com duas portas, mas podemos acessar o gabinete por todos os lados. A caixa torna-se uma peça muito escultural, que tem um forte senso de drama e uma projeção que transforma seu uso a partir de uma peça funcional e uma poderosa estética”, relata. Digital e artesanal Nos estágios iniciais, o designer Eduardo Arancibia considerava que todas as criações do estúdio de design, arte e arquitetura, gt2p, sediado em Santiago, no Chile, poderiam ser realizadas através da concepção e fabricação digital. Mas, ao longo do tempo, descobriu que o trabalho tem mais valor quando envolve tecnologia e técnicas tradicionais. Hoje, ele usa tecnologia digital e artesanato, dando nova vida às técnicas tradicionais, com a metodologia que chama de “Digital Crafting” ou “Arte digital”. Trata-se da conexão entre o conhecimento computadorizado, somado ao design, experiência e “know how” de artesãos, que alimentam e ajudam a qualificar cada
Fotos: divulgação
Imagens do projeto “Losing my America”
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O trabalho do estúdio Gt2p envolve tecnologia digital e técnicas artesanais
O objetivo do grupo, de acordo com Eduardo, é o de promover e disseminar o conhecimento tradicional, juntamente com a construção de pontes entre a indústria de criação e os artesãos. Com essa abordagem, eles desenvolveram a coleção “Losing my América” que faz parte da exposição “Novos Territórios: Laboratórios de design, artesanato e arte na América Latina”, inaugurada em novembro de 2014, no Museu de Artes e Design (MAD), em Nova York. A exposição vai até o dia 06 de abril de 2015. “Losing my America” nasceu com o objetivo de identificar e cadastrar técnicas e artesãos que têm o potencial para colaborar com designers, através da troca de conhecimentos na prática. O projeto
propõe o desenvolvimento e intervenção de peças artesanais icônicas em colaboração com designers e produtores, potencializando a possibilidade de trabalho conjunto no futuro. Eduardo explica que um aspecto importante é a capacidade de trabalhar com a diversidade de artesanato do Chile, ainda pouco conhecida, mesmo em seu próprio país. “Com base em nossa experiência de trabalho na coleção “Losing my America”, somos convidados a resgatar os processos tradicionais, incorporando design como uma ferramenta fundamental na criação de novas peças, que preservam a tradição e, simultaneamente, se conectam ao design contemporâneo”, ressalta. “Um dos nossos objetivos tem sido a transferência de todos os conhecimentos adquiridos na indústria de design internacional, ajudando outros designers a entender os diferentes segmentos em que podem se concentrar”, completa.
Fotos: divulgação
um dos algoritmos generativos ou DNA dos produtos criados pelo grupo, explica Eduardo. “Essa abordagem representa uma mudança de atitude para alcançar realização formal de projetos, estabelecendo uma relação direta entre o design digital e a produção industrial”, afirma.
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Israel A inquietude criativa de Ron Arad por Ana Clรกudia Ulhoa
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1. Ron Arad, designer e arquiteto nascido em Tel Aviv. Foto: www.wired.co.uk
Fundada por uma comunidade judaica em 1909, Tel Aviv é hoje a segunda maior cidade de Israel. Durante todo o século XX, o município se desenvolveu e tornou-se uma metrópole moderna, abrigando diversos centros de artes cênicas, museus e edifícios com uma grande diversidade de estilos arquitetônicos, com destaque para as construções inspiradas nas escolas de Bauhaus e Le Corbusier. Foi nesse ambiente efervescente que o arquiteto e designer Ron Arad passou toda a infância e parte de sua juventude. Nascido em 1951, Arad foi criado em uma casa de artistas. Com uma mãe pintora, um pai fotógrafo e um irmão músico, o arquiteto frequentou o meio artístico e desenvolveu um gosto pelo desenho ainda muito cedo. “O lugar onde você nasce, o tempo em que você cresce, a música que escuta desde pequeno, a arte que você vê, tudo deixa uma marca, e
eu não sou uma exceção. Fui uma criança dos anos 60 e isso está aí. Meus pais eram artistas, por isso, fui muito estimulado. Eles me levavam a inaugurações de exposições aos domingos, em casa conversavam sobre arte e literatura, meu irmão mais velho é músico. Cresci no meio de uma comunidade muito vibrante”, conta Ron em uma entrevista concedida para a revista Elle Decor España, no ano de 2013. Arad permaneceu em Israel até 1973. Assim que terminou o curso de Arte e Design, na Academia Bezalel, em Jerusalém, o designer se mudou para Londres, com o objetivo de estudar na Architectural Association. Seu primeiro projeto de design foi a Chair Rover (1981), desenvolvida a partir do assento de um carro Rover 200 e uma tubulação de metal, a cadeira se transformou em um ícone dos anos 80.
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2. Shopping Mediacite (2009). Foto: www.archdaily.com 3. Cadeira Big Easy cromada (1988-1989) Foto: en.wikipedia.org 4. Cadeira Tom Vac (1999) Foto: www.archiexpo.com 5. Sofá Europa (1984). Foto: www.archiexpo.com
Cada vez que lançava um produto com bordas arredondadas e materiais como aço, alumínio ou poliamida, o israelense ganhava mais prestígio. Por tentar reinventar a forma e a estrutura do mobiliário tradicional, Ron Arad, muitas vezes, foi visto mais como um artista do que como designer. “Designers me acusam de ser um artista, artistas me acusam de ser um arquiteto, arquitetos me acusam de ser um designer. Mas isso não me incomoda muito, isso é apenas a forma como o mundo funciona fragmentado”, explica em uma entrevista para o jornal britânico The Guardian, também em 2013. Um dos projetos de maior destaque de Ron é a cadeira Rocking Chair (1986-1987). Feita em aço inoxidável, a peça possui um desenho totalmente curvilíneo e pode ser encontrada em diversas cores, como vermelho, preto e dourado. As peças Big Easy (1988-1989), Little Heavy (1991) e Victoria & Albert (2000), para a Moroso, também são constantemente lembradas pelos admiradores do trabalho de Arad. Entre os projetos mais recentes do designer e arquiteto está a Two Nuns (2013). Convidado para transformar as tradicionais bicicletas londrinas Boris Bike em uma obra de arte funcional, Ron Arad usou todo o seu poder de inovação e apresentou um modelo em que as rodas foram substituídas por tiras de aço arqueadas, que funcionam como molas.
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Já na área da arquitetura, Arad tem como principais obras o Design Museum Holon (2010), primeiro museu de Israel voltado para o design, e o Shopping Mediacite (2009), localizado na Bélgica. Os dois são compostos por faixas de concreto e aço que ondulam sobre a estrutura dos edifícios. Produtivo e reconhecido em todas as suas áreas de atuação, Ron diz que trabalhar com criação é algo que o fascina e o estimula. “Criatividade serve para evitar o tédio, por isso tem a sorte de ser criativo. Eu amo chegar na segunda-feira e começar a semana. Eu não sou um escravo do meu trabalho, assim como muitas pessoas, e isso é graças à criatividade. Estou muito feliz de aprender coisas novas, isso é tudo”, afirma a Elle Decor. No entanto, durante a entrevista para a revista espanhola, ele deixa clara sua preferência pelo design e pela arte.
6. Ron Arad, designer e arquiteto israelense. Foto: divulgação 7. Victoria & Albert desenvolvida para a Moroso em 2000. Foto: www.designboom.com
Israel - Ron Arad - pág. 37
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“Na arquitetura você tem que lidar com muitos regulamentos e negociar com as autoridades, construtores, clientes, polícia, bombeiros, vizinhos, mulheres, maridos. Além disso, como um arquiteto você é secundário, não dizemos ‘vou construir uma ópera’ sem que alguém tenha te encarregado para fazer isso. No entanto, como um artista você tem uma ideia e, se você acredita nela, você segue em frente. Você não tem que convencer ninguém”, revela. Segundo Ron Arad, a inspiração para desenvolver todos esses projetos vem da sua inquietude e da observação contínua de tudo que está a sua volta. “Tudo o que eu vi até ontem às quatro horas da tarde. Tudo pode desencadear algo: bom, mau, bonito, não tão bonito. Eu não sou uma pessoa metódica. Estou inquieto e ocioso, e eu salto de um lado para o outro”, conta ao The Guardian.
pág. 38 - EmiradosÁrabes - Antonia Carver
Emirados Árabes
O particular e o global nos Emirados Árabes Unidos Semana de artes em Dubai reúne iniciativas globais com foco no que há de mais relevante na produção cultural dos Emirados Árabes por Pâmilla Vilas Boas
EmiradosÁrabes - Antonia Carver - pág. 39
A guerra civil no Líbano, o boom da globalização da Índia e os efeitos da recessão econômica em Dubai. Esses são temas que inspiram o artista libanês Vikram Divecha, que cresceu nos Emirados Árabe e hoje vive em Dubai. O trabalho de Divecha investiga a urbanização e o comportamento social em meio a mudanças culturais e econômicas, trazendo à tona uma angústia urbana moderna, abafada pela globalização. Em 2014, ele foi o vencedor do Prêmio Artista Emergente do Design Days Dubai, única feira na Ásia dedicada ao design de produto e mobiliário.
A nona edição da feira será realizada entre os dias 18 e 21 de março de 2015 e terá como foco as conexões da região com a América Latina. De acordo com a diretora do evento, Antonia Carver, as relações de troca entre a América Latina e o Oriente Médio podem ser observadas a partir de centenas de anos de migração e interações comerciais e, hoje, também no compartilhamento de práticas artísticas.
O Design Days Dubai faz parte da Semana de Arte de Dubai, que acontece anualmente em março, mês mais dinâmico do calendário cultural dos Emirados. A semana reúne ainda a feira Art Dubai, uma iniciativa que destaca uma infinidade de exposições, projetos e eventos. Essa
Revista iDeia: De onde veio a ideia de focar na América Latina e sua conexão com o mundo árabe? Quais são as principais conexões entre as regiões? Antonia Carver: A cada ano a feira concentra-se em um novo tema ou geografia e aborda um assunto que está perto do Golfo e do mundo árabe. Brasil, Colômbia, Chile, México, Peru e tantos outros países da América Latina têm uma história de intercâmbio com o mundo árabe - particularmente através de ondas de migração para este continente a partir de Líbano, Síria e Palestina. O Oriente Médio também tem uma relação contemporânea, mais do que um sentido efêmero, de compartilhar sensibilidade - dinamismo, atenção à família, florescimento das cenas artísticas. Percebemos que nunca houve uma chance no Golfo, pelo menos,
Fotos: divulgação
Imagem da obra da artista Maïmouna Guerresi exposta na Feira Art Dubai em 2014
é a principal feira de arte internacional da região MENASA (Oriente Médio / Norte da África / Sul da Ásia), e nos últimos anos tornou-se um dos pilares da expansão da arte contemporânea da região, já reconhecida como um dos pontos de encontro mais globalizados do mundo da arte. A feira de arte Art Dubai conta com o patrocínio do Sheikh Mohammed Al Maktoum e, em 2014, contou com 85 galerias de 34 países.
Fotos: divulgação
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Instalação do Coletivo Amor de Madre na Feira Art Dubai em 2014
para explorar essas ideias compartilhadas, e que Art Dubai deve ser o lugar para começar esta troca. Ri: Como a sensibilidade artística pode ser compartilhada entre as nações atualmente? AC: A Feira inclui uma exposição coletiva de pintura, desenho e instalação, além de cinema, performance, livros de artistas e muito mais. É uma oportunidade para as pessoas, que vêm de todo o mundo, especialmente do Oriente Médio, África e sul da Ásia - conhecer o trabalhos dos artistas, explorar ideias e conceitos compartilhados. Muitas vezes achamos que a feira fornece uma faísca - e que artistas, galeristas, curadores e colecionadores se
conhecem lá e desenvolvem seus próprios projetos - por isso espero que este intercâmbio entre o Oriente Médio e a América Latina possa crescer a partir daqui. Ri: Como e por que surgiu a ideia de criar uma feira de arte em Dubai? AC: Art Dubai foi lançada em 2007 e, naquela época, foi a primeira grande feira internacional na Ásia. Foi na vanguarda de um movimento, de oeste para leste, que viu nos últimos dez anos uma proliferação de feiras, bienais e grandes exposições, e as “economias em desenvolvimento” fora da Europa e da América começaram a chamar a atenção da Artword. Desde o início, Art Dubai era um tipo diferente de feira, com uma aborda-
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Imagem da obra “Plastic Tree C” do artista Pascale Marthine Tayou
gem global, e que coloca em primeiro plano iniciativas não comerciais e comerciais. (Nosso programa inclui dias de fórum de arte global, projetos de artistas, comissões, programas de cinema, e uma série de iniciativas educacionais para todas as idades, incluindo uma escola de arte). Ri: Como você avalia a cena artística de Dubai nos dias de hoje? AC: Ela está crescendo muito rapidamente. Dez anos atrás, havia um punhado de galerias - agora há mais de 40, além de institutos sem fins lucrativos, fundações, revistas e muito mais. Há certa energia e espírito de empreendedorismo na cidade, que se presta a nutrir uma cena artística dinâmica. E por perto, Sharjah tem uma das principais bienais do mundo, enquanto Abu Dhabi e Doha têm grandes museus. Ri: Quais são os artistas mais importantes do país hoje? AC: Há muitos - desde os pioneiros, como a performance e instalação da artista Hassan Sharif, que tornou-se conhecida a partir da década de 1970, através de uma nova geração de artistas mais jovens, a maioria mulheres, muitas das quais participam de nossos programas de residência e projetos.
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Fotos: divulgação
Instalação do Coletivo Amor de Madre na Feira Art Dubai em 2014
Brasil em Dubai O coletivo Amor de Madre, marca brasileira representada por designers e artistas nacionais e internacionais, participa do Design Days Dubai desde sua primeira edição em 2012. Olivia Yassudo, fundadora do coletivo, explica que na primeira edição, eles eram os únicos representantes da América Latina na feira. “Dubai foi nossa primeira participação em uma feira internacional e quem nos abriu as portas para o mundo com um olhar mais claro para o que estávamos buscando como galeria de design”, explica. Na última edição, em 2014, o coletivo apresentou trabalhos experimentais, performances, projetos realizados ao vivo, além de outros, educacionais e palestras. “Os projetos educacionais e palestras possibilitam a troca e o diálogo proposto pelo coletivo, sempre ampliando as questões do design e não se limitando apenas à compra e venda de objetos”, afirma. Em 2015, a proposta é que o coletivo apresente o projeto “A Place to Departure
(Um lugar de partida)”, que apresenta a tecnologia como possibilidade de diminuir distâncias, respeitando os territórios. A instalação interativa faz parte de um projeto maior, que busca conectar as cidades de Pequim e São Paulo, e foi apresentada pela primeira vez em setembro de 2014, durante a BJDW, um dos maiores festivais de design da Ásia. “A Place to Departure” conecta o toque a partir de sensores escondidos em sua estrutura de madeira e vidro e foi criada como resposta sobre como aumentar a intimidade através da tecnologia. A peça, apesar de extremamente tecnológica, tem um visual pouco tecnológico, se abstendo de telas e efeitos pirotécnicos, que acabam por afastar o público. “A madeira, cortada no CN (máquina de controle numérico computadorizado), tem seu padrão desenhado pela mistura de uma padronagem local pré-determinada, modificada a partir de algoritmos que recebem interferência da latitude e longitude do local de exposição”, ressalta.
pรกg. 44 - Austrรกlia - Marc Newson
Austrรกlia Design em ritmo industrial por Ana Clรกudia Ulhoa
Marc Newson, designer australiano Foto: Jan Buus
Austrália - Marc Newson - pág. 45
Aeronaves, joias, roupas, carros, móveis, calçados, relógios, bicicletas, máquinas fotográficas, iates, utensílios domésticos, peças-conceito... A lista de produtos criados pelo australiano Marc Newson parece não ter fim. Toda essa produtividade, aliada à criatividade e à preocupação com a qualidade de cada obra, deu ao designer industrial alguns dos clientes mais importantes do mundo e colocou seu nome no ranking da revista Time, que elege as 100 pessoas mais influentes do planeta. As primeiras marcas de renome que contrataram Marc para desenhar foram a Cappellini e Moroso, quando ele ainda tinha 27 anos. Daí para frente, sua cartilha de clientes só aumentou. Atualmente, o designer atende empresas como Nike, Absolut, Alessi, Canon, Microsoft, Nestlé, Gap, Heineken e Apple, que assinou contrato com Newson em setembro de 2014.
Lockheed Lounge, uma das primeiras criações de Marc Newson Foto: http://goo.gl/YtiIhJ
De acordo com o designer, as raízes para seu sucesso vieram da infância agitada. Filho de uma adolescente de 18 anos, Marc Newson foi abandonado pelo pai e teve como figura paterna
¹: http://goo.gl/5AY9uz
seu avô, um imigrante grego que vivia mudando de emprego. O clima de constante mudança fez com o Marc se acostumasse à falta de rotina. “Gosto que as pessoas controlem suas vidas, não seus hábitos e costumes. Por isso, desde criança me atrai experimentar, provar e averiguar”, lembra na matéria do jornal El País, publicada em outubro de 2012¹. Na mesma matéria, ele completa: “Sair de sua zona de conforto te abre os olhos, te permite compreender como as pessoas solucionam os mesmo problemas de maneiras diversas”. Outro fator determinante para a formação do designer foram as diversas viagens que ele realizou durante a juventude. Aos 12 anos, Newson colocou a mochila nas costas e passou um ano viajando com a mãe pela Europa. “Ela ia completar 30 anos e, ao me ter tão jovem, pensou que não havia visto o mundo”, conta ao El País. O australiano também chegou a morar em Tóquio e em Seul, para acompanhar a mãe, que havia se casado. Quando Marc Newson teve que escolher uma carreira, ele já estava de
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volta à sua cidade natal, Sydney, e decidiu ingressar no Sydney College of the Arts. “Bem, fui para a escola de arte e não queria estudar design. Você tinha a opção de se especializar em pintura, escultura, gravura, cerâmica, ou joias. Acabei me concentrando no departamento de joias e me graduando em design de joias. Não porque tinha interesse em fazer joias, era simplesmente o único departamento na escola de arte que realmente te ensinava a fazer alguma coisa. Todos os outros, como escultura ou pintura, não estavam interessados em ensinar habilidades específicas, era muito esotérico. No departamento de joias havia ferramentas, workshops, pessoas para ensinar como construir coisas. Isso era realmente tudo o que eu queria, Know-how para fazer outras coisas”, explica em entrevista concedida à revista estadunidense Interview². Embryo Chair estampada Foto: http://goo.gl/nPsBSH
Ainda no curso de Design de Joias, Marc começou a se aventurar na criação de móveis. Depois de se formar, em 1984, ele foi premiado com uma bolsa do Australian Crafts
²: http://goo.gl/vK9Tsu
Austrália - Marc Newson - pág. 47
Iate Aquariva Foto: divulgação
³: http://goo.gl/uPWnWY
Council e organizou uma exposição no Roslyn Oxley Gallery, em Sydney, onde apresentou a Lockheed Lounge (1986). O divã prateado e cheio de curvas se transformou em um dos trabalhos mais conhecidos do designer e se tornou a peça de design mais cara do mundo, ao ser leiloada por 2,1 milhões de dólares. Além da Lockheed Lounge, Newson criou outros modelos de destaque, como o Orgone Lounge (1989), Embryo Chair (1989) e o Nike Zvezdochka (20042010). Todos com traços que revelam o gosto do designer pelo futurismo e pelo biomorfismo – estilo artístico baseado em curvas que evocam seres vivos. No mundo da arte, os nomes que mais inspiraram Marc Newson, ao longo de sua trajetória, foram Marcel Duchamp, Jean Arp e Piero Manzoni. “Na escola de arte, estava absolutamente obcecado com pessoas como Marcel Duchamp e Jean Arp (...) Mais recentemente, mergulhei através de diferentes eras. Devo dizer que meu período favorito seria a arte italiana na década de 1950, como Piero Manzoni. Acho que tem muito a ver com o fato de que, mesmo quando era criança, estava muito influenciado pelo design
italiano. O que estava acontecendo no pós-guerra na Itália, inclusive no design automotivo, me inspirou enormemente”, diz à Interview. Entre as áreas de atuação preferidas, Marc destaca a aviação. “Na verdade, gosto de trabalhar em diferentes indústrias, é assim que aprendo. Gosto do desafio de cada informação dada. Embora tenha que admitir que a indústria aeronáutica é particularmente estimulante”, esclarece em uma entrevista dada ao site Designophy, em dezembro de 2009³. Independente do cliente, Newson lembra que o papel do designer é ser um solucionador de problemas. Por isso, é preciso trabalhar com afinco e pensar sempre no futuro. “Gostaria de pensar que os designers vão sempre se esforçar para melhorar o que já existe e que estar ciente de que o mundo precisa em termos de design. Falando por mim, sinto fortemente que é meu dever, como designer, olhar para o futuro, tentar imaginar como serão as coisas e se esforçar para empurrar os limites um pouco mais além”, afirma no Designophy.
pág. 48 - CostaRica - Ibo Bonilla
Costa Rica Arquitetura em expansão Ibo Bonilla traduz a relação das pessoas com o espaço por Pâmilla Vilas Boas Conhecido por seu trabalho em escultura e arquitetura, Ibo Bonilla tornou-se um dos artistas mais influentes da Costa Rica. Ele nasceu em 1951, na cidade de Sarchí, famosa por seu patrimônio artístico. Em 1977, foi o primeiro a obter licenciatura em arquitetura no país e um dos primeiros da América Central a atuar como arquiteto na Europa. Sua obra arquitetônica aborda a bioclimatologia e o estudo das interações entre pessoas e espaço físico. Além de ter projetado uma variedade de residências particulares, Bonilla projetou a Universidade de Ciência e Tecnologia da América Latina, o Hospital Ibero-americano e o Centro de Heredia, província da Costa Rica. No campo da escultura, o artista retrata temas da biodiversidade tropical, os sentimentos, as mulheres e suas percepções. Uma de suas esculturas mais famosas é “El Obelisko Fi”, uma estátua de bronze fundido. O artista utiliza uma grande variedade de materiais, incluindo madeira, pedra, metal, argila, vidro, quartzo, resinas, cerâmica, ferro e cimento. A maioria das peças de Bonilla tem entre três e seis metros de altura e vêm sendo exibidas ao redor da Costa Rica e da Espanha.
Fotos: Ibo Bonilla
Revista iDeia: Como você define seu processo arquitetônico? E o de trabalho em escultura? Ibo Bonilla: Arquitetura é esculpir o espaço para atender às necessidades físicas, emocionais e espirituais, resultando numa harmonia entre estética, técnica e local, no momento em que é feita. A arquitetura é um modelo de meta-pele social com arte. Quando a pele torna-se predominante por seu valor estético, tende a ser a escultura. Se a prevalência é técnica, tende a ser engenharia construtiva. Se a ênfase é o local, tende a ser paisagismo. Se ocorre uma harmo-
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nia entre todos esses sistemas, estamos na presença de um bom trabalho de arquitetura. Cada obra tem sua proporção e medida exata e é trabalho do arquiteto que, se faz do seu diálogo e síntese uma sinergia poética, resulta em uma obra de arte. Tanto a escultura como a arquitetura deve nascer das condições do seu meio ambiente, materiais e expectativas dos usuários. Em tal caso, deve conter expressões simbólicas universais e locais, que catalisam as aspirações e a compreensão do destino incerto, através de formas poéticas, pensamento coletivo sem palavras. Ri: Qual a relação entre arquitetura e escultura em seu trabalho? IB: Arquitetura, escultura e música compartilham uma linguagem comum: ritmo, forma, textura, harmonia, equilíbrio, imagem, composição, equilíbrio, proporção, escala, contraste, transição, ação, movimento, luz, tempo, universalidade, volume, pureza, quietude, silêncio etc. Então, cada obra de arquitetura ou escultura deve ser vista como uma forma musical, como uma sinfonia, sonata, concerto, prelúdio, fantasia ou balada vernácula, dependendo das circunstâncias. As formas elementares como arquétipos com forte significado no inconsciente coletivo constituem o vocabulário apropriado para realizar composições que as vinculam. Ri: Como foi o processo de criação do centro da cidade de Heredia? IB: A cidade de Heredia teve sua gênese na tradicional malha urbanística ortogonal castellana, arquitetonicamente temperada pela imperativa necessidade de utilizar materiais e mão-de-obra local, em um clima tropical e geologia sísmica. Exceto para a Igreja Católica, predominaram edifícios institucionais e casas construídas diretamente no solo (adobe y bahareque) e com madeira que, com a riqueza gerada pelas
Ibo Bonilla tem vasta obra na arquitetura e escultura
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muitas plantações de café de Heredia, geraram várias adaptações e detalhes desenvolvidos por artesãos locais, alcançando um rico sincretismo entre as várias culturas envolvidas. O resto de sua história tem sido o comum, uma colagem de estilos de moda e às vezes mal interpretada, mas quase sempre se renderam a incorporar elementos tropicais de proteção climática, o que dá uma unidade frágil, apoiada pela declaração de Patrimônio Cultural Arquitetônico dos edifícios mais emblemáticos, que servem como eixo e referência. Ri: Qual a importância da arquitetura de baixo impacto ambiental na atualidade? Você concorda que as iniciativas para se democratizar a arquitetura de baixo impacto ainda são tímidas? Por quê? IB: A arquitetura de baixo impacto ambiental é baseada em uma sólida compreensão do ambiente de cada projeto, repensando as antigas técnicas de conforto bioclimático específicas para cada zona biótica, à luz das
novas necessidades, novas tecnologias e novos materiais. No atual cenário mundial não há alternativa para reduzir esses 60% da poluição e da degradação do planeta, que traz o setor da construção. De fato, a democratização ainda é tímida. Na academia e em algum setor profissional estamos realizando grandes esforços para nos salvar do “expressionismo tecnológico” que é abundante entre impérios econômicos que querem mostrar seu poder à custa da degradação ambiental, anunciando que a alta tecnologia está a serviço da economia ambiental, quando na verdade é o oposto: símbolo do desperdício. Ri: Como funciona o processo de construção em comunidades indígenas e campesinas? IB: Estamos apoiando as comunidades indígenas e camponesas em projetos produtivos que dão vida à economia local com base no uso responsável e sustentável das áreas silvestres protegidas com as quais eles convivem. Para gerar a infraestrutura necessária, não
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Fotos: Ibo Bonilla
Sua obra arquitetônica,aborda a bioclimatologia e o estudo das interações entre pessoas e espaço físico
carregamos modelos externos. O que fazemos é trabalhar através de oficinas em cada comunidade, de maneira conjunta, recuperando a memória histórica para a solução de suas necessidades construtivas, mantendo a estética e identidade locais. Lá os profissionais servem somente como facilitadores para atender as necessidades de construção e como garantidores do cumprimento das normas nacionais de saúde e segurança, assim como para gerar uma linguagem de leitura do modelo, que permite a eles uma gestão autônoma. Ri: Como você avalia a cena artística e arquitetônica de seu país? IB: Interpolados entre a dicotomia da arte: a neutralidade estética semântica e o comunicacional com um senso de catalizador social - podemos notar que cada vez mais, temos artistas e arquitetos comprometidos com a autenticidade, sendo que, entre escultores, percebemos melhor uma linha formal e simbólica que provem desde os trabalhos em jade e pedras pré-
-colombianas. Enquanto na arquitetura, por urgência e volume de negócios, envolvem-se, com influência, contadores, economistas, engenheiros e, até mesmo dentistas, como empreiteiros de construção, com muito pouco interesse em outros benefícios que não sejam os econômicos imediatos. Diante disso, a arquitetura como arte comunicacional é restrita a casas singulares, edifícios institucionais e alguns comerciais. Ainda assim, nos mantemos otimistas em permear a consciência de arquitetos e artistas, a nível acadêmico e por meio da difusão midiática, criando usuários mais exigentes. Ações que apoiamos com partidarismo a favor do uso de normas do design, construção e manutenção tipo “verde”, adaptadas ao ambiente tropical como as Normas RESET (“Requisitos para Construções Sustentáveis nos Trópicos”, promovido pelo Colégio de Arquitetos de Costa Rica e Instituto de Normas Técnicas de Costa Rica).
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África do Sul Um design em ascensão por Ana Cláudia Ulhoa
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Trevyn e Julian McGowan, da Southern Guild Foto: Jac de Villiers
Andile Dyalvane é designer da Imiso, empresa especializada em peças de cerâmica Foto: Jac de Villiers
John Vogel designer de móveis da África do Sul Foto: Jac de Villiers
“O design do nosso país é artesanal, feito à mão e cerebral. Nossos designers trabalham de forma muito pessoal, exploratória, com relevância cultural profunda e pouco interesse em tendências passageiras”. Essas são as características que, segundo Trevyn e Julian McGowan, tem feito o design sul-africano ganhar o mundo.
Mesa Bloom Foto: Jac de Villiers
O casal é responsável pela criação e direção da Southern Guild, fundação aberta em 2008 para auxiliar os profissionais da África do Sul na divulgação de seus trabalhos. Antes da Southern Guild, os dois trabalhavam com exportação de peças de design sul-africanas para as principais lojas de varejo do mundo. Com mais de dez anos de experiência nesse setor, Trevyn e Julian contam que nunca o design sul-africano foi tão bem aceito. Desde 2012 é possível ver representantes do país em feiras, como Design Days em Dubai, Collective em Nova York, Design Miami/Basel e Design Miami. “Todos os olhos parecem estar voltados ao crescimento do continente africano. Por isso,
há ainda mais estímulo para explorar os impulsos primitivos do berço da humanidade. Nossos designers estão explorando isso e o mundo está observando e levando em consideração, ou seja, o interesse no design africano nunca foi tão grande”. No entanto, os McGowan explicam que ainda existem algumas barreiras a serem enfrentadas. “Pelo fato de ser uma indústria e um mercado ainda emergentes, os designers, frequentemente, criam produtos para uma demanda comercial que ainda é inexistente”. Por isso, a dupla se empenha cada dia mais em incentivar não só a produção, como também a opção por desenhos que fujam dos padrões. Segundo o casal, a fundação estimula os profissionais da área a assumirem riscos, pois acredita que este “é um setor emergente cheio de possibilidades e positividade”. Para Trevyn e Julian McGowan, entre a grande diversidade de trabalhos
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encontrados no país, a cerâmica e o design de móveis são alguns dos que mais se destacam. “A qualidade do trabalho de cerâmica na África do Sul é muito boa, porque todo mundo segue sua própria voz e não há um estilo genérico. Temos incríveis professores de cerâmica e trabalhos que, geralmente, são muito culturais. Há uma grande tradição de fabricação de móveis aqui, devido aos colonos europeus de mais de quatro séculos”. Um dos nomes mais importantes da África do Sul, no mercado de cerâmica, é Andile Dyalvane que, junto com Zizipho Poswa, dirige a Imiso. Preocupados em retratar a vida, tradições e paisagens país, a dupla cria peças decorativas e de mesa com tons vibrantes e formas irregulares.
Detalhe da mesa Docks Foto: Jac de Villiers
A coleção Views from the studio, por exemplo, traz cenas cotidianas do porto e da área industrial de Cape Town. Guindastes, containers e o mar são recriados em cores como vermelho, amarelo e azul turquesa. Já na coleção
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As peças da Imiso valorizam o uso das cores e de formas diferenciadas Foto: Jac de Villiers
Peça da coleção Views from the studio, baseada no cotidiano do porto e da zona industrial de Cape Town Foto: Jac de Villiers
A peça Bloom é composta de várias flores de madeira, que juntas formam uma mesa Foto: Divulgação Southern Guild
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Handpinched, os artistas desenvolveram xícaras, tigelas, copos e bowls que imitam as formas das flores e plantas locais. De acordo com Andile, Imiso deriva da palavra Ngomso-Xhosa, que significa amanhã. Ele afirma que cada obra que surge das mãos dos dois tem por objetivo usar a realidade de hoje para mudar o amanhã. “Em essência pensamos no passado, presente e futuro para viver nossas visões criativas nos negócios. Trabalhamos também com espírito de uma consciência de onde viemos, onde estamos, o que fazemos e quem nos tornamos”. No setor de móveis, um dos profissionais mais lembrados é John Vogel. Arquiteto por formação, John começou a desenhar cadeiras, sofás e mesas ainda na faculdade de arquitetura. Desde essa época, ele
Mesa Loves Me, Loves Me Not Foto: Jac de Villiers
defendia a boa relação do homem com a natureza e adotou como matéria-prima principal a madeira. “Eu sempre fui interessado na ideia de considerarmos que somos uma parte da ordem natural e que temos de permanecer conectados e conscientes da nossa responsabilidade para prosperar em simbiose com o nosso meio ambiente. Então, eu realmente desfruto da oportunidade de fazer design com natureza”. A imagem de folhas, pétalas de flores e animais quase sempre estão presentes nos móveis de Vogel. Além disso, os tecidos e fios escolhidos para revestir suas cadeiras, poltronas, sofás e espreguiçadeiras possuem um aspecto bem artesanal. Porém, a obra do designer vai além da questão da sustentabilidade, ela fala também sobre a busca de uma identidade sul-africana. “Eu comecei minha carreira na época em que
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Em cada coleção, Andile Dyalvane busca retratar a vida, tradições e paisagens da África do Sul Foto: Jac de Villiers
Nelson Mandela foi libertado da prisão, e isso proporcionou a oportunidade de começar o processo de definição de um novo DNA de design sul-africano. Tem sido um processo interessante para refletir minha própria experiência subjetiva de ser sul-africano, interpretar o nosso patrimônio coletivo e trazê-lo para o presente, refletido em uma forma contemporânea, que inclua senso familiar e otimismo”. Sobre o cenário atual do design produzido na África do Sul, Vogel observa que: “O design sul-africano, em geral, é pragmático e despretensioso. Os nossos designers estão em um momento de descoberta e, por isso, há muitas abordagens diferentes em muitos meios. O que torna essa abordagem relevante hoje em dia é que ela é baseada, na maior parte, em artesanatos, em um momento em que o mundo do design está inclinando-se em direção a autenticidade. Um desafio para nós é, provavelmente, o tamanho do nosso mercado, os impactos na escala e os limites da tecnologia”. Já Andile Dyalvane acredita que: “A relatividade, a consciência de um design para o grande público e até mesmo um plano de carreira devem ser defendidos com vigor, para manter a busca de formas inovadoras, celebrando, ao mesmo tempo, nossas histórias. Devemos estar atentos e consistente, inspirados pelas nossas experiências para fazermos o progresso”.
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A memória dos ribeirinhos e suas lendas no design das embarcações por Pâmilla Vilas Boas
Fotos: André Fossati
Brasil Magia, arte e design no rio São Francisco
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É em forma de gente ou de bicho. Pode até ser uma mistura dos dois. As barcas de figura ou carranca tinham como características as imagens instaladas na proa das embarcações. Esse tipo de barca começou a ser produzida na segunda metade do século XIX e preencheu o rio até meados de 1950. Elas tinham uma dupla função: identificavam o barqueiro responsável pelo comércio ambulante e o frete de cargas, e protegiam as barcas dos seres míticos - entre eles, o mais temido: o caboclo d’água. Com um design peculiar, se tornou a embarcação típica do rio São Francisco. Caboclo d’agua, vapor iluminado, mãe d’água. Esses são alguns dos encantamentos que marcam, até hoje, a navegação no São Francisco. Quanto mais cheio, mais rico, mais vivo, mais os seres míticos se proliferam no imaginário ribeirinho. O caboclo d’água vive nas profundezas do rio. Sem profundidade, ele se esconde nas matas. Sem matas, desaparece. Mesmo com a rasura marcada por uma das maiores secas do século, em 2014, muitos ribeirinhos viram o caboclo, só que bem longe. O caboclo d’água tem forma de homem e de bicho. Às vezes, é a mistura dos dois. Carlúcio pescador, o poeta catrumano de Januária, uma das cidades mais antigas e importantes da região, explica que o rio conversa com o pescador. Mas esse mistério ele não revela. “Se eu mostrar o caboclo d’agua para você, acabou a graça”. O pes-
cador e lavrador, Seu Dão, vive na comunidade quilombola de Palmeirinha, no munícipio de Pedras de Maria da Cruz. Ele também já encontrou, algumas vezes, com o Caboclo e nos descreve o ser mítico: “um pretinho, baixotinho, esquisito, mal encarado, que queria virar meu barco e me trazer um prejuízo”. Mas Carlúcio não teme o Caboclo. É só deixar pinga e fumo de rolo, que ele não amola. O antropólogo Zanoni Neves explica que o pescador acredita que é possível negociar com o caboclo d’água, em troca da boa navegação e pesca. “Uma espécie de troca com seres míticos do rio”, afirma. Esses relatos fazem parte do acervo do projeto “Cinema no Rio São Francisco”. Sua nona edição, realizada em outubro de 2014, percorreu os munícipios ribeirinhos de São Francisco (MG) até Angico (BA). Desde 2004, o projeto exibe filmes para essas comunidades; realiza pesquisa sobre as histórias locais e produz um breve documentário de cada uma delas, exibido antes da sessão de cinema. Junto com a comitiva, o fotógrafo André Fossati faz mais do que registros - produz fotos e arte sobre os encantos do rio. Algumas dessas imagens ilustram esta edição da Revista iDeia. Como relata a pesquisadora Juliana Afonso, que fez parte da equipe do projeto em 2014, ninguém volta
As canoas de madeira ainda são o principal elemento na paisagem do rio são Francisco.
pág. 60 - Brasil (Norte de Minas Gerais)
As barcas são importantes meio de transporte de cargas e pessoas pelo rio.
inteiro do rio São Francisco. “A alma fica por lá, junto com o sol que esturrica a terra, com a água que corre mansa, com o sorriso de tantas e tantas pessoas. Nossa alma ficou no Velho Chico. Agora, ela faz companhia ao caboclo d’água e às lavadeiras. Nossa alma conversa com elas, todos os dias, e conversa com a gente, nos sonhos, para nos lembrar dos momentos que vivemos no sertão”. Zanoni é pesquisador, mestre em antropologia social e membro do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais e explica que, na primeira metade do século XX, as barcas faziam o transporte a frete e o comércio ambulante, aportando em cidades, vilas e fazendas. Chegavam a percorrer 1.371km entre Juazeiro (BA) e Pirapora (MG). Durante as décadas de 1940 e 1950, a introdução das “barcas motorizadas” provocou o desaparecimento das chamadas “barcas de figura” da paisagem do Velho Chico. Com a legislação trabalhista e a dificuldade de encontrar mão de obra, os sergipanos se reuniram numa colônia e introduziram uma tecnologia mais avançada: as barcas com duas velas e dois traquetes e a motorizada. As antigas barcas de figura deixam de existir. “Hoje, sua imagem pode ser apreciada nos objetos artesanais, que imitam as antigas barcas com suas figuras de proa e expressam simbolicamente a importante função que esse tipo de embarcação exerceu no médio São Francisco”, afirma. “Ainda existem alguns remanescentes das barcas de figura em Juazeiro, Petrolina e Sobradinho, com barqueiros que retomam a tradição das carrancas, mas sem a generalização de antes”, completa. Forma e função Iara, carranca, jacaré, caboclo d’água. As praças de Itacarambi, no norte de Minas, são todas personalizadas. Na praça principal, os bichos e encantamentos do rio. Na outra, em homenagem aos
Brasil (Norte de Minas Gerais) - pĂĄg. 61
Benjamim GuimarĂŁes: o vapor mais famoso do Velho Chico.
pág. 62 - Brasil (Norte de Minas Gerais)
A procissão de barcos foi um momento único, uma oportunidade de ver o rio cheio de gente e embarcações, como era no início do século, apogeu do comércio na região. Nessa época, os vapores eram o principal meio de transporte. Cada um
tinha um apito com sonoridade diferente. Os ribeirinhos ouviam o apito e identificavam o vapor: Benjamin Guimarães, Wenceslau Braz, Saldanha Marinho. Elas corriam para receber os passageiros, fazer comércio ou simplesmente se divertir com a chegada ou com a parada nos portos de cada cidade. Hoje, com bandeiras de Nossa Senhora, os barquinhos de pescador seguiram em comitiva pelo rio. Crianças, jovens e adultos fizeram festa nas ilhas de areia que, pela rasura da água, fazem parte da vista. Zanoni explica que as canoas de pescadores tiveram origem na tradição indígena de produzir embarcações. Os índios usavam um tronco inteiriço de árvore e escavavam
Fotos: André Fossati
pescadores, a praça dos bancos. Banco dos solitários, dos namorados, intelectuais, da família, dos moderados. Cada banco é personalizado e colorido. Lá, sua condição de existência faz escolher aonde sentar. Barcos de madeira, de alumínio, embarcações que transportam pessoas, barquinho de pescador. Em procissão pelo rio São Francisco, todos se encontram para louvar Nossa Senhora, no dia 12 de outubro, em Itacarambi.
Brasil (Norte de Minas Gerais) - pág. 63
com fogo e instrumentos de pedra. O ribeirinho incorpora a tradição, mas insere instrumentos de origem europeia para escavar o tronco com mais agilidade. Machado e enxada vieram com a colonização do Brasil e ajudaram na produção das canoas de pesca. “E, mais recentemente, com a vigilância dos órgãos ambientais, as canoas de grandes troncos tendem a acabar. Existem apenas os últimos exemplares. As de tronco foram substituídas pelas de tábuas cerradas”, explica. Para o pesquisador, essas canoas de tábuas são mais leves e ágeis e o canoeiro que tem condição coloca motor para viajar com mais tranquilidade. Ele explica que, no médio são Francisco, já existem os bar-
A barca Luminar transportou a equipe do projeto Cinema no Rio São Francisco por mais de 5 anos consecutivos.
cos feitos de chapa de metal com motor na popa. Mesmo com tantas mudanças, o que permanece é a forma. “Você tem uma proa feita como um bico que corta as águas com mais facilidade. A proa tem uma parte de ângulo agudo mais fechado para vencer a correnteza”. Hoje em dia, além das canoinhas e barcas de chapa, são comuns os chamados empurradores que, com o estreitamento do rio, passou a não ser navegável em todos os trechos. Compõem a paisagem, ainda, as chamadas lanchas. “A lancha de chapa é uma decorrência da falta de madeira e da vigilância com relação à destruição das matas. Recurso do pescador para substituir as de madeira”, afirma.
pág. 64 - Argélia - Rudy Ricciotti
Argélia A arquitetura combativa de Rudy Ricciotti por Ana Cláudia Ulhoa
Argélia - Rudy Ricciotti - pág. 65
MuCEM Museu da Europa e das Civilizações Mediterrâneas, localizado em Marseille, França. Foto: http://goo.gl/ShCvTO
Legenda: Rudy Ricciotti, arquiteto argelino radicado na França. Foto: Divulgação
“Nasci em Argel (Argélia), mas cresci em Camargue (França) onde o horizonte é plano, com pântanos, mosquitos, juncos, lagoas de sal e muito pouca sombra. Tive uma infância de um pescador e isso alimenta minha memória”. As referências, obtidas nos tempos de criança, são algumas das características mais marcantes das principais obras do engenheiro e arquiteto Rudy Ricciotti. A opção por construções monolitistas - formadas por um bloco único - com diversas aberturas recobertas por vidros, lembram as planícies e as formas dos canais da cidade francesa e revelam um gosto pela iluminação natural. Segundo o próprio arquiteto, o exemplo mais flagrante disso é o Museu da Civilização Europeia e Mediterrânea (MuCem). Inaugurado em 2013, no porto de Marseille, França, o edifício possui 40mil m² de área construída e forma um quadrado perfeito. O material usado na obra foi um concreto desenvolvido pela equipe de Rudy e vidro que, entrelaçados, formaram uma espécie de rede, permitindo a entrada de luz solar e ventos vindos do mar. Outro exemplo é o Museu Jean Cocteau, localizado em Menton, França. Aberto ao público em 2006, o prédio branco, em forma de trapézio, foi erguido para abrigar a coleção de um empresário americano sobre o cineasta surrealista que dá nome ao local. Inspirado no aspecto sonhador dos filmes de Cocteau, Ricciotti usou concreto e vidro para criar a imagem de tentáculos que cobrem os cerca de 2.700 m² de terreno. Rudy Ricciotti também é conhecido pelo projeto que realizou com o italiano Mario Bellini, para desenvolver o Departamento de Artes Islâmicas do Louvre, em Paris. Finalizada em 2012, a nova instalação foi erguida em um dos pátios do museu, que divide espaço com fachadas dos séculos
pág. 66 - Argélia - Rudy Ricciotti
XVII e XIX. Para fazer menção à cultura do Oriente Médio e criar algo que fosse de vanguarda, mas que não se chocasse com os prédios que já estavam ali, os arquitetos criaram uma cobertura ondulada de metal e vidro dourados, que remetem a tapetes voadores ou a um tecido que foi levado pelo vento e paira pelo deserto. Como é possível perceber, a matéria-prima preferida de Rudy é o concreto. De acordo com o engenheiro e arquiteto, esse material tem uma boa durabilidade e permanece estável. Além disso, ele conta que adora trabalhar com pedreiros. Mesmo tendo passado pela Escola de Engenharia de Genebra, em 1974, e pela Escola de Arquitetura de Marseille, em 1980, Ricciotti diz que seus verdadeiros professores foram os profissionais que trabalham com as mãos. Ele resume sua experiência na universidade como “um desastre. Saí, lamentavelmen-
Foto: © tuulimaa | Dollar Photo
Museu da Europa e das Civilizações Mediterrâneas em frente ao mar de Marseille, França
Argélia - Rudy Ricciotti - pág. 67
te, pouco arquiteto e engenheiro desses estudos. O único interesse que a faculdade provocou em mim foi ter despertado minha paranoia”, conta. Conhecido por sua personalidade crítica e provocativa, Rudy Ricciotti possui opinião formada sobre as principais questões que permeiam a arquitetura contemporânea e não hesita em proclamá-la. Um exemplo, é o livro L’architecture est un combat sport de 2013, que traz uma entrevista de David d’Equainville com o arquiteto. Durante a conversa, Rudy dispara contra o minimalismo, a chamada arquitetura verde a o estabelecimento de padrões a serem seguidos. “L’architecture est un combat sport, é um livro político que não é reservado para arquitetos, mas para aqueles que ainda amam o seu tempo e se concentram no riso para escapar do cinismo. Ele fala de nojo da corrupção política e
Foto: © Brad Pict | Dollar Photo
Foto: © aterrom | Dollar Photo
pág. 68 - Argélia - Rudy Ricciotti
negócios pornográfico construídos sobre as questões ambientais. Eu também tento identificar alternativas para a consecutiva programação neurolinguística do moralismo, que paira pelo ambiente. Estamos colonizados pela estética da globalização, é preciso ficar claro a partir deste estado de merda!”, defende. Hoje, com 62 anos, Ricciotti comanda um escritório em Cassis, França, que possui uma equipe composta por 29 pessoas. Ele também preside a editora Al Dante e é membro do conselho editorial da revista L’Architecture d’aujourd’hui. Ao longo de sua carreira, o engenheiro e arquiteto já recebeu diversas condecorações como o Prêmio Nacional de Arquitetura (2006) e as ordens ‘Officier des Arts et des Lettres “, “ Chevalier de la Légion d’honneur “e “ Officier de l’Ordre national du Mérite “, concedidas pelo Estado francês. Depois dessa longa caminhada, Rudy Ricciotti revela que, atualmente, o que ele pretende passar com seu trabalho é conhecimento. “Cada livro, cada fragmento pede ao arquiteto que avalie as questões, a fim de estabelecer a resposta mais precisa. A memória dos negócios e do conhecimento é essencial para transmitir às gerações futuras”, finaliza.
O projeto do museu Jean Cocteau foi inspirado nas obras do cineasta que dá nome ao local Fotos: divulgação
Todas as possibilidades da automação ao alcance dos seus dedos!
Há 23 anos a Power Home Theater atua no mercado com projetos de automação, sonorização, integração de sistema de audio e vídeo residenciais e comerciais, usando os produtos mais sofisticados disponíveis no mercado nacional e internacional. A partir deste ano de 2015 a Power é parceira fixa da Templuz, ocupando o terceiro andar do prédio. Aguardamos sua visita! Power Home Theater © Vpardi | Dollar Photo
pág. 70 - Brasil (Santos Dumont) - Pedro David
Brasil
Fotos: Pedro David
O lado poético do documental por Ana Cláudia Ulhoa
Escafandro / Série: Paisagem Submersa
Autorretrato do fotógrafo mineiro Pedro David
Brasa / Série: Jardim
Um homem magro, vestindo um escafandro e parado em frente a uma casa de pau a pique, situada no Norte de Minas, exatamente onde estava sendo construída a Usina Hidrelétrica de Irapé. Essa imagem, captada pela lente de Pedro David, revela uma preocupação com o documental e, ao mesmo tempo, com o imaginário e o poético. Foi o sonho de largar a fotografia comercial e se dedicar completamente à arte que fez com que o fotógrafo de Santos Dumont, Minas Gerais, produzisse trabalhos como esse e se tornasse uma referência para quem está dando os primeiros passos na área. Segundo Pedro, tudo começou quando ele ainda era criança. Os pais designers sempre tiveram obras de arte e material de fotografia em casa. “Na época, eles compraram uma câmera manual mesmo, para fazer foto da família e dos passeios. Eles tinham um laboratório no quarto do fundo do apartamento e gostavam de brincar. Então, eu tomei contato com isso muito cedo. Com quatro ou cinco anos, eu via os dois revelando filmes, lendo manuais, aprendendo a fazer”, explica. Quando chegou à idade de prestar vestibular, David já sabia que queria trabalhar com fotografia, mas escolheu jornalismo, por acreditar que esse curso teria mais proximidade com a carreira de fotógrafo. Porém, ao longo da graduação, descobriu que escrever reportagens não era bem a sua praia. Pensando em realizar um trabalho mais autoral e artístico, ele concluiu o curso de jornalismo
Brasil (Santos Dumont) - Pedro David - pág. 71
e partiu para a graduação em Artes Plásticas, pela Escola Guinard, da Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG). Mas, a transição do mercado de fotojornalismo para o de fotografia de arte não foi rápida. Por muito tempo, Pedro atuou como freelancer para indústrias e revistas do Grupo Abril e chegou a trabalhar por oito anos no jornal Estado de Minas. Seu sonho só se concretizou quando ele e mais dois amigos, Pedro Motta e João Castilho, se juntaram para viajar, fotografar e estudar sobre as leis de incentivo à cultura. “Nosso primeiro projeto foi uma grande escola. A gente teve que aprender a fazer tudo: fotografar, viajar, abordar as pessoas. Fomos pesquisar formas de financiar nosso trabalho e nos deparamos com a lei de incentivo. Mas, como é que faz? A gente aprendeu a fazer projeto pedindo ajuda para a mãe, pai, amigos e fomos fazendo”, recorda. O resultado foi o Paisagem Submersa, série de fotografias produzidas no Vale do Jequitinhonha, Minas Gerais, que retrata o impacto da construção de uma usina hidrelétrica na vida dos cidadãos locais. As imagens, transformadas em livro e exposição, foram consideradas, pelos críticos, como uma das obras mais importantes da fotografia nacional recente. Eder Chiodetto, por exemplo, diz em seu livro Geração 00 – A nova fotografia brasileira que o trabalho dos jovens mineiros “é o produto mais bem acabado feito no Brasil até 2010, deste estado de coisas que levou o documentarismo a um novo e vibrante voo”. Após conseguir um retorno tão positivo, Pedro David prosseguiu com seu objetivo de viver de arte. Seu segundo trabalho foi o Rota Raiz, que também abordava o sertão mineiro. “Na mesma viagem do Paisagem Submersa, entre 2002 e 2008, fazia algumas imagens, já pensando em outras histórias. Na verdade, o Rota Raiz é um trabalho que vem responder, para mim, a um monte de questões, como: Por que me tornar fotógrafo? Por que ir ao Vale do Jequitinhonha? Por que viajar? Eu me perguntava tudo isso durante as viagens. Estava ali para fazer a história dos atingidos. Mas, por que procurar essa história? Aí encontrei tudo isso nessa coisa que te falei dos
pág. 72 - Brasil (Santos Dumont) - Pedro David
Gislaine / Série: Rota Raiz
Costela / Série: Jardim
Cortinado / Série: Rota Raiz
Brasil (Santos Dumont) - Pedro David - pág. 73
Fotos: Pedro David
Os couros / Série: Paisagem Submersa
meus pais. Além de fotografarem, também tinham uma
Quem conhece a história de Pedro David consegue
história com essa região. Minha mãe tinha parentes no
perceber nitidamente um forte caráter biográfico
interior da Bahia, então ela teve uma vida muito ligada
em sua obra. No entanto, o fotógrafo lembra que
às cidades da continuação do Vale do Jequitinhonha.
seu objetivo não é falar apenas dos seus problemas,
E meu pai viajou muito para lá, em um trabalho que fez
mas abordar algo muito maior. “A linha principal é a
quando eu era criança”, conta.
relação entre o homem e seu universo. O meu é o ponto de partida, mas não estou querendo falar do
Em seguida, vieram as séries Aluga-se e O Jardim. As
meu pequeno problema. Parto do meu ambiente para
duas obras foram inspiradas na relação do fotógrafo
tentar criar uma linguagem universal e discutir nossa
com o ambiente que ele havia escolhido para ser seu
relação com o ambiente contemporâneo”.
lar. Na primeira, Pedro clicou os apartamentos que visitou para alugar na capital mineira. O segundo foi
Depois de todos esses trabalhos, Pedro conseguiu
feito no entorno da casa onde ele vive atualmente
atingir seu objetivo. Há dois anos, se dedica apenas
com a família, em Nova Lima, localizada na Região
aos projetos artísticos e já vê seu nome ser lembrado
Metropolitana de Belo Horizonte.
por vários integrantes de uma geração que tem se destacado cada dia mais. “De lá pra cá, o trabalho
“Sempre me lembro dos episódios em que o dono
dos fotógrafos mineiros andou bastante, a gente vê o
pedia o imóvel e você tinha que procurar outro. Isso
pessoal empolgando mais. Às vezes, eles até chamam
sempre me incomodou. Então, quando tive que achar
a gente, ligam, perguntam. Hoje, há muitas pessoas
o meu, fui fotografar os apartamentos. O Jardim foi
trabalhando seriamente e conseguindo as coisas. Tem
quando me mudei para cá. Senti vontade de entender
gente mais nova e na nossa idade que acabou se
essa região. Já vinha usando a fotografia há muito
empolgando, porque viu que era possível. Quando
tempo para entender minha vida, minhas ideias, o
surgem essas oportunidades de prêmios nacionais
lugar onde eu moro. Quando cheguei aqui e vi esse
sempre vemos o pessoal daqui sendo aprovando, e isso
universo tão diferente, achei natural percorrê-lo e tentar
é muito bom”, conclui.
interpretá-lo”.
pág. 74 - Tunisia - Tom Dixon
Tunisia
Entre a modernidade e a sofisticação inglesa por Ana Cláudia Ulhoa
A cada nova coleção, seu nome ganha ainda mais destaque no cenário internacional. A sofisticação, beleza e alta tecnologia de seus móveis, luminárias e acessórios para a casa lhe renderam o título de designer do ano de 2014 na feira Maison & Objet, realizada na França. Porém, ao contrário do que muitos pensam, Tom Dixon nunca pensou em ser designer. Na verdade, esse caminho surgiu em sua vida de forma acidental. Nascido em Sfax, na Tunísia, Dixon deixou seu país de origem quando ainda tinha quatro anos, para se mudar para Londres, Inglaterra. Quando jovem, Tom chegou a ingressar na Chelsea Art School, mas abandonou os estudos para tocar baixo na banda Funkapolitan. A carreira de músico não durou muito, dois anos depois o designer já havia deixado o grupo. A próxima profissão da lista foi a de mecânico de motocicletas. Foi nesse emprego que Tom Dixon aprendeu a trabalhar com metal, uma de suas matérias-primas favoritas. Os primeiros projetos na área do design só vieram em meados de 1980. No final dessa década, Dixon já havia sido contratado pela italiana Cappellini, onde desenvolveu sua cadeira mais famosa, a S Chair (1989). Como o próprio nome já diz, ela possui uma estrutura metálica coberta por vime ou tecido, que lembra a forma de um “S”. Esse modelo se tornou tão icônico que
Pendente Etch Web Foto: http://goo.gl/l6mRbM
Tunisia - Tom Dixon - pág. 75
¹ http://goo.gl/sDw91c ² http://goo.gl/oMUJWx
passou a integrar a coleção do Museu de Arte Moderna de Nova York - MoMa. Em entrevista concedida à revista Casa e Jardim ¹, em outubro de 2014 - quando veio ao Brasil lançar sua última coleção -, Tom explica que, para ele, o design sempre foi e continua sendo um hobby. “Eu nunca tomei essa decisão. Começou como um hobby, como algo divertido, e foi evoluindo com o tempo, mas sinto como se fosse um hobby. Sinto muito prazer em fazer o que faço”. Como Tom Dixon não possui muitas recordações de sua terra natal, ele se define, na matéria da Casa e Jardim, como “um homem misterioso, do mundo, mas muito britânico”. Ele acredita que ter esse tipo de referência é essencial na hora de criar e vender. “É muito importante ter um legado, e os britânicos têm uma tradição muito antiga de inspiração. Uso parte disso como tentativa de fazer algo moderno. No mercado global, que é muito competitivo, é uma vantagem você ter uma nacionalidade e um senso estético ao mesmo tempo tradicional e atual”, argumenta, em entrevista à Folha de São Paulo ², também em outubro de 2014. O ar britânico de seus projetos ficou ainda mais evidente na coleção Club (2014). Inspirada nos tradicionais clubes privados ingleses, esse trabalho traz móveis, lumi-
pág. 76 - Tunisia - Tom Dixon
nárias e acessórios que combinam alta tecnologia com a sofisticação das peças clássicas locais. Um exemplo é a poltrona Wingback, com seu encosto alto e apoio para os pés. Feito em madeira sólida, estofado revestido em veludo e recheado com camadas de algodão natural e cerdas de javali, o modelo é um símbolo de conforto e elegância. Já a Y Chair usa uma técnica diferenciada para unir três características importantes em uma cadeira: ergonomia, durabilidade e desenho inovador. “Queria usar em um projeto uma cadeira ergonomicamente correta e que, ao mesmo tempo, tivesse personalidade própria. Mas não encontrava. Então, percebi a oportunidade de criar algo novo. Iniciei os trabalhos
1.
com o objetivo de fabricar industrialmente. No entanto, as tecnologias antigas não permitiam. A solução foi atualizar uma técnica industrial de modelagem por injeção, usando nylon preenchido por fibra de vidro. Deu certo”, conta ao site ArkPad ³ durante sua passagem pelo Brasil. Para Tom Dixon, o maior desafio na hora de criar é “ter ideias que possam ser comercializadas. A maioria dos designers só faz o desenho e transfere a produção para outros profissionais, algo pouco interessante. Busco sempre criar algo original, que possa ser interessante para o mercado, mas também fabricado e vendido por um preço justo. Esse é o grande dilema, a relação entre o preço final e a inovação”, diz ao ArkPad.
Tunisia - Tom Dixon - pág. 77
O designer também lembra que não gosta de seguir tendências, pois essas passam muito rapidamente e deixam seu produto defasado. “Eu fujo delas. Tomo cuidado para que meu trabalho não esteja “na moda”, porque acho esse mercado muito instável. O que está na moda hoje é esquecido amanhã e trocado por uma nova tendência. Prefiro criar peças atemporais, que não sejam tão datadas”, afirma na matéria da Casa e Jardim.
1. Peças da coleção Club Foto: http://goo.gl/SBhprV 2. S Chair Foto: http://goo.gl/47yfgx 3. Y Chair Foto: http://goo.gl/jhKKHk 4. Pratos Eclectic Foto: http://goo.gl/CNkFy0 5. O pendente Flood foi inspirado na indústria automotiva Foto: http://goo.gl/HWgQ5K
Segundo Tom Dixon, a arte pode trazer muito mais contribuições para o design do que a moda. “Acredito que a contribuição da arte para o design seja muito mais efetiva, pois nos leva a um desenvolvimento conceitual. A arte traz ideias novas e nos inspira a buscar materiais e formatos diferentes”, explica à jornalista da ArkPad.
³ http://goo.gl/IwmCDU
2.
3.
4.
5.
pág. 78 - Ucrânia - Vladimir Denshchikov e Kseniya Simonova
Ucrânia
A fé que move a arte Artistas da Ucrânia revelam religiosidade com técnicas inusitadas por Pâmilla Vilas Boas
Apesar de seu segundo acidente vascular cerebral, o artista ucraniano Vladimir Denshchikov continua produzindo suas obras em linho. Ele cria ícones religiosos com milhões de nós feitos manualmente durante meses de trabalho árduo. Vladimir trabalha sem agulhas ou ganchos. “São trabalhos artesanais muito demorados e interessantes. Por isso, são inerentemente mais valiosos do que os produzidos em massa. É por isso que trabalho apenas usando os dedos”, ressalta. Os Ícones de Denshchikov distinguem-se por uma atmosfera de luz, bondade e paz. Eles são amarrados com fios de linho (0,5-2 mm), em uma técnica chamada macramé, aplicada pelo pintor há mais de 30 anos. Um ícone de 40 x50 cm leva de três a seis meses para ficar pronto. O artista gastou 14 meses para criar o príncipe Alexander Nevsky, feito com 9 milhões de nós amarrados à mão. Essa técnica é única e não tem nada parecido no mundo.
Fotos: divulgação
Vladimir nasceu em 1952, em Kiev, capital da Ucrânia, e se graduou na Universidade de Teatro da cidade, iniciando sua carreira de ator em 1975. As obras de Denshchikov já foram exibidas na Alemanha, Áustria, Ucrânia Criméia e alguns de seus ícones são mantidos em coleções privadas nesses países. Em 2014 o artista fez dez peças com ajuda de seus alunos. “É muito difícil encontrar fio de linho, especialmente com diferentes matizes. Associo linho com a ortodoxia. Eu quero que minhas obras sejam vistas por um grande número de pessoas. Elas são para a paz”, ressalta. Denshchikov pinta seus ícones com a bênção do clero e antes de começar as suas obras, se mantém em jejum.
Vladimir Denshchikov criaUcrânia - Vladimir Denshchikov e Kseniya Simonova - pág. 79 ícones religiosos com milhões de nós feitos manualmente.
Animações de areia Em uma noite, o insight finalmente chegou à Kseniya Simonova. Havia uma luz em sua janela, que permaneceu até de manhã. A madrugada chegou e a verdadeira inspiração entrou em seu cérebro. Simonova sentiu que abriu uma segunda vista em seus olhos. Nos pontos escuros, ela começou a ver novos rostos e histórias. A artista Kseniya Simonova venceu a versão ucraniana do Britain’s Got Talent em 2009, desenvolvendo um método artístico único: ela cria animações de areia. Em sua apresentação vitoriosa, ela fez uma animação de areia, ao vivo, retratando a vida na União Soviética durante a Grande Guerra Patriótica contra o Terceiro Reich, na Segunda Guerra Mundial. Simonova ganhou ₴ 1.000.000, o equivalente a R$ 200.000,00, pelo primeiro lugar na competição. O vídeo da apresentação no YouTube já tem mais de 37 milhões de acessos. (http://goo.gl/ o7Bmzf) A dama da areia nasceu em Evpatoriya, pequena cidade da península da Criméia, no sul da Ucrânia e sempre sonhou em ser mais do que uma artista clássica, que desenha e pinta no papel. Os negócios dela e de seu marido estavam em colapso e Simonova entrou em uma terrível depressão. Mas seu marido queria incluir um novo projeto em seu teatro, com a utilização de areia nos espetáculos. A artista primeiramente recusou e depois percebeu que poderia realizar uma performance inusitada com o material. A areia da praia não se adaptou bem ao propósito de se fazer uma animação ao vivo, nem a areia de rio. Até que descobriram uma areia vulcânica especial que, como era muito cara, precisaram vender os
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equipamentos do escritório. Ela treinou por muitos dias para perceber a essência da animação com areia, baseada em constantes transformações das imagens. “É na verdade próximo da magia. Honestamente, eu ainda não posso dizer como o processo acontece, ele só vem em minha cabeça, isso é tudo. Eu não controlo as histórias e imagens que vêm a minha mente, eu só as fixo na areia”, relata. Seu processo de criação parte das histórias que ela ouve ou vê pelas ruas da Ucrânia. “A inspiração pode vir de qualquer lugar - desde a história que eu escuto de uma mulher idosa na rua (eu realmente gosto de ouvir histórias de senhoras de idade, é o meu hobby, se posso dizer assim), que vem das árvores de aparência estranha ou que eu encontro em um passeio com os meus dois filhos. Eu posso ver um gato no telhado - e de repente aparece uma história, o gato é apenas um sinal e a história se transforma em algo totalmente diferente”, relata. Apesar dos conflitos que envolvem seu país atualmente, Simonova diz não focar
nesses assuntos. “Eu tento ignorar temas que envolvem política e dinheiro, eu tento não pensar sobre essa sujeira. Meu objetivo é mostrar a beleza do mundo criado por Deus, criado com grande amor e carinho. Mas ninguém pode fugir da realidade. Então, às vezes, a minha dor vem em minhas histórias. Tudo o que eu posso dizer é que as guerras são horríveis. Há algum tempo eu jamais poderia pensar que isso iria acontecer com meu país”, afirma. Simonova é cristã ortodoxa e acredita que foi Deus que lhe deu a possibilidade de ser uma artista da areia. “Eu amo a Deus, quanto mais eu vivo, mais eu amo e respeito Deus por seu amor eterno por nós, por sua paciência eterna para a humanidade. Eu sou cristã ortodoxa e eu fui ensinada a partilhar amor e bondade, o que eu tento fazer em minha arte. Eu acho que Deus me deu a possibilidade de ser um artista de areia, porque ele queria transferir sua mensagem de amor dessa maneira. Eu acho que é um dom de Deus que eu tenho que desenvolver da melhor forma”, revela.
A artista Kseniya Simonova cria animações de areia em performances ao vivo.
Fotos: divulgação
Vladimir Denshchikov cria ícones religiosos com milhões de nós feitos manualmente.
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O poder das cores e da luz por Ana Cláudia Ulhoa
A cor de uma parede, o material de um balcão ou um ponto de luz específico pode mudar completamente a cara de um ambiente. Foi investindo nesses detalhes que Johanna Anastasia transformou um escritório de advocacia tradicional em um local jovem e, ao mesmo tempo, sofisticado. Após adquirir quase um andar inteiro de um prédio comercial localizado no bairro Lourdes, em Belo Horizonte-MG, os proprietários do escritório Ney Campos Advogados Associados procuraram pela sócia da Anastasia Arquitetos para realizar uma transformação naquele ambiente. “Eles queriam montar algo que desse uma imagem real do que era a empresa. Eles já tinham alguns móveis do escritório antigo, mas não queriam usá-los. Como estavam com um ambiente amplo e tinham comprado o lugar, eles queriam renovar e modernizar para o local”, conta. O primeiro passo foi realizar um estudo de perspectiva, que foi apresentado ao cliente e retocado até que tudo ficasse de acordo com o que foi idealizado. “A gente tenta descobrir o que a pessoa quer e vai fazendo isso em imagens até ela olhar e falar: é exatamente isso que eu
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imaginei. Porque muitas vezes as pessoas têm uma ideia, mas não conseguem descrevê-la com detalhes”, afirma. Após o projeto em 3D ter sido aprovado, Johanna deu início à reformulação do espaço. O ambiente que possuía originalmente, cinco salas e cinco banheiros deu lugar a três salas de advogados, uma sala de administração, quatro banheiros e dois grandes ambientes, onde os advogados trabalhariam em conjunto. Anastasia explica que: “com essa história de fazer um escritório mais moderno. Criamos um ambiente em que todo mundo vê todo mundo. Fizemos tudo com divisória de vidro para ter uma amplitude. Porém, como existem conversas privadas, algumas salas foram fechadas com vidro”. Em todos os espaços do projeto foram usados forros acústicos, pisos de PVC madeira, divisórias brancas com vidro transparente e mesas com madeira clara. O objetivo foi criar uma ambientação mais agradável.
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No ambiente mais amplo do escritório, a arquiteta usou pendentes tipo industrial vermelhos, uma sequência de mesas que formam uma grande estação de trabalho e mandou que uma das paredes fosse pintada de azul. Tudo isso, para tornar o local mais jovem, como as pessoas que iriam trabalhar ali. Na recepção, o tom que prevaleceu foi o de sofisticação e aconchego. Esses sentimentos foram proporcionados por uma parede e um balcão de travertino, um painel de madeira atrás desse balcão e a instalação da logomarca da empresa em aço inox. O projeto luminotécnico foi realizado pela arquiteta com peças da loja Templuz. Foram utilizadas 45 luminárias embutidas de acrílico no forro de todas as salas, um pendente perfil slim e algumas lâmpadas dicroicas na recepção. “A maior parte da iluminação é indireta, porque é um escritório. Não tem jeito de por muita luz focada. Mas na recepção que usamos alguns focos
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para a placa com a logo do escritório e para o painel de madeira”, esclarece. De acordo com Johanna Anastasia, o cuidado com os detalhes e o estudo de perspectiva foram determinantes para o resultado desse trabalho. “Por ser um escritório de advocacia, ficou com uma cara leve, jovem e muito aconchegante, o que é bom em um ambiente de trabalho. O cliente ficou super satisfeito com os detalhes, disse que ficou do jeito que ele imaginou. A gente tem esse cuidado muito grande de ter esse estudo de perspectiva. Tudo o que planejamos é retratado exatamente da forma que é apresentado depois. Eu até brinco, se você acha o 3D bonito, vai achar o ao vivo maravilhoso, porque a perspectiva é fria e o ao vivo é exatamente o que você viu no projeto, só que humanizado”, conclui.
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Criando clima
A melhor iluminação, no melhor ambiente. É o resultado dos apartamentos modelo, decorados em parceria com a Templuz. por Pâmilla Vilas Boas
Fotos: Ludmila Loureiro
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Mesa de jantar para seis lugares, sala ampla e espaçosa, um pequeno escritório, quarto de casal com cama plus size e outros dois decorados com motivos infantis. Varanda com vista para a cidade, área com choperia e bancada. Quando fomos fotografar os apartamentos modelo da Somattos, nos identificamos imediatamente. “Ele foi feito para mim”, afirmou a fotógrafa Ludmilla Loureiro. Levamos um susto quando descobrimos que o apartamento, localizado no bairro Alto do Engenho, em Belo Horizonte/MG, tinha apenas 91 metros quadrados. “Não é possível”... O que era apenas para ser fotografado, logo se transformou em objeto de desejo. A vontade era ficar lá o dia todo... Todos os apartamentos foram decorados por Márcia Cavalhaes, em parceria a Templuz, que forneceu todo o material para iluminação. Márcia explica que esse efeito que os apartamentos modelo despertam nos clientes é potencializado por uma iluminação planejada. “O projeto de decoração mais limpo se reflete na iluminação, que tem a função
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de criar um clima especial”. Para conseguir esse efeito, a decoradora gosta de usar um pendente sobre a mesa de jantar; abajoures no quarto de casal e paflons para dar um clima mais rock ou romântico nos quartos das crianças. “Não gosto de encher o teto de pontos, gosto da iluminação mais aconchegante ou moderna. Uma complementação sutil e indispensável”. Para Márcia, a parceria com a Templuz favoreceu o desenvolvimento de seus projetos. Ela participa de todo o detalhamento e lançamento dos apartamentos. Nas áreas comuns, a iluminação foi especificada em conjunto com a Templuz. Já a decorativa, como pendentes e abajoures, por exemplo, foi fornecida pela empresa sem custos para a construtora. “Isso é legal por que, quando o cliente vai comprar, ele se identifica com o produto e vai à Templuz atrás do projeto luminotécnico. Isso viabilizou um bom custo para construtora
Fotos: Ludmila Loureiro
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O projeto de iluminação dos apartamentos modelo, decorados em parceria com a Templuz, ressalta o melhor do ambiente num clima aconchegante e agradável.
e eu pude especificar produtos melhores”. Já a light planner da Templuz, Marcela Fontes, explica que, primeiramente, o escritório envia a planta com o projeto luminotécnico, layout e acabamento. Com essas informações, a equipe da Templuz escolhe a iluminação. “Márcia vem até a loja e escolhemos juntas as peças. Já temos uma ideia do estilo dela e propomos de acordo com o padrão de cada apartamento”, explica. Marcela considera a parceria muito positiva, principalmente com relação ao retorno dos empreendimentos. “Com essa parceria, a construtora têm vindo mais à loja e a gente tem aberto mais portas também para os clientes finais. Procuramos peças diferenciadas, que não encontramos em outros lugares. Há ainda a possibilidade de encomendar peças exclusivas”, ressalta.
Fotos: Ludmila Loureiro
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Para todos os bolsos Os apartamentos foram pensados para um público composto por profissionais liberais, em busca de seu primeiro apartamento. São jovens com um poder aquisitivo mais restrito, mas que não abrem mão do bom gosto. São pessoas informadas, que admiram um bom projeto de decoração e iluminação. Para a decorada, em função das facilidades de parcelamento, todo mundo pode ter um apartamento bem decorado. “Na Templuz, por exemplo, é possível encontrar produtos de alto luxo, luxo e produtos comerciais que se parecem com o alto luxo, mas com o custo de produto comercial. Dessa forma, conseguimos, com um orçamento limitado, fazer um projeto decorativo tão bacana quanto se trabalhássemos com uma verba maior”, afirma.
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Tradição que produz um grande café
O sabor diferenciado e exclusivo que a linha de produtos Café Barão oferece ao seu paladar é o resultado de um longo e delicado processo. Ele começa no plantio, com a escolha do solo, passa pela maturação dos frutos, até o momento ideal de colheita, pela torrefação dos grãos, com temperaturas controladas, pela moagem e pelo empacotamento 100% automatizado. Uma tradição que se repete e se aperfeiçoa há quase 30 anos, com um único objetivo: proporcionar a você uma experiência sem igual.Café Barão, o nobre sabor do café. 0800 283 4319 | www.cafebarao.com.br
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PATROCÍNIO:
REALIZAÇÃO:
Templuz
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INCENTIVO: