Idiot Mag SET.13

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CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 1


6 EDITORIAL Com Unhas e Dentes 14 ATUALIDADE Silly Season 24 SKATE Conspirações do 11 Setembro 34 PHOTOREPORT Paper Voices 52 PHOTOREPORT Graff Na Garagem 64 MODA Idiota de Rua + Tendências 74 TABU? Alcova de Patrícia 84 HOMOGENEO Retrospetiva 2013 90 LA FOUINOGRAPHE South of France #2 99 OPINIÃO Coitada da Judite 2 // www.IDIOTMAG.com

08 VROTEIRO + VER, OUVIRE LER 20 PHOTOREPORT Alma + Fedor + Jeff Mills 32 ATUALIDADE Os Descobrimentos da Inov 42 ILUSTRADOR Eime 62 ELETRÓNICA Lewis Fautzi 66 PHOTOREPORT Kyote + Boys Noize 80 INTERVENÇÃO Enough is Enough 88 INTERVENÇÃO Porto Original 96 PROVOC’ARTE O Jornalismo Judite 100 O Anti-IDIOTA O Piripo do Bloco


Direcção: João Cabral // Nuno Dias Textos: Ana Catarina Ramalho Ana Luísa Carvalho Bernardo Alves Bruno Manso Carmo Pereira Carolina HardCandy Flora Neves Mariana Ribeiro Lemos Nuno Dias Patrícia (Pseudónimo) Rui de Noronha Ozório Tiago Moura Tish Design: João Cabral // Nuno Dias IDIOT, Gabinete de Design® Capa: Eime Ilustração: Eime Fotografia: Aline Fournier Diogo Campo Grande Lígia Claro Video: Mariana Oliveira Rita Laranjeira

Todos os conteúdos gráficos são da responsabilidade de: IDIOT, Gabinete de Design ® www.idiocracydesign.com Info@Idiocracydesign.com Cada redactor tem a liberdade de adoptar, ou não, o novo acordo ortográfico (*) NENHUMA ÁRVORE FOI SACRIFICADA NA IMPRESSÃO DESTA MAGAZINE!

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// Nuno Dias


COM UNHAS E DENTES ESTE MÊS ABUSAMOS. SOMOS UMA AUTO PUBLICAÇÃO, NÃO TEMOS RESTRIÇÕES EDITORIAIS. AINDA NAS PRIMEIRAS EDIÇÕES DIZIA À PATRÍCIA DA ALCOVA: “NOS TEUS TEXTOS TEM QUE HAVER PELO MENOS TRÊS VEZES “PUTA” E 2 VEZES “CARALHO”. VIVÍAMOS O SONHO DE SERMOS LIVRES, DE PODERMOS DIZER O QUE QUISÉSSEMOS. NÃO TEMOS QUE SER IMPARCIAIS COMO QUALQUER OUTRA PUBLICAÇÃO. SE TENHO UMA OPINIÃO VOU DEFENDÊ-LA COM UNHAS E DENTES. E CUMPRIMOS. ESTE MÊS NÃO PODIA SER DIFERENTE, AINDA PARA MAIS LOGO EM INÍCIO DE TEMPORADA. E ASSIM FIZEMOS MAIS UMA IDIOT MAG. PARA NÓS MAIS UMA OBRA DE ARTE, CARREGADA DE CRIATIVIDADE, DE IDEIAS, DE IDEAIS. CARREGADA DE VIDA, CARREGADA DE ALEGRIA. E QUEM MELHOR PARA ILUSTRAR ESTA EDIÇÃO DO QUE O PERFECCIONISTA EIME? COMO É QUE AO FIM DE 19 EDIÇÕES AINDA NÃO O TÍNHAMOS CONVIDADO? ERRADO. PIOR, AINDA DESCOBRIMOS QUE NA NOSSA QUERIDA INVICTA AINDA NÃO TEMOS O PRIVILÉGIO DE TER UMA OBRA DELE. ATÉ QUANDO? BREVE, ESPERAMOS. FOI UM MÊS DE AGOSTO CARREGADO DE TRABALHO, ONDE OS IDIOTAS JUNTARAM-SE AO PACHA DE OFIR PARA CRIAR UM NOVO CONCEITO DE NOITES DE VERÃO. SURGIU A ELECTRONIC <3 BEAT, QUE BATIA POR BOA MÚSICA, MAS TAMBÉM POR MUITA ARTE. FOI ASSIM QUE LEVÁMOS O YOUTH ONE, ALMA, FEDOR, KYOTE, GO MES, CAT DIAS, ATÉ O HAZUL NOS ACOMPANHOU. FOI TÃO BOM QUE TIVEMOS QUE VOLTAR NO ANIVERSÁRIO. NO MEIO DISTO, E COMO AMAMOS MÚSICA, AINDA ESTIVEMOS NO NEOPOP. ESPERO QUE TENHAM VISTO O VÍDEO. MAS VOLTANDO À EDIÇÃO CORRENTE, ESTE MÊS NÃO PODÍAMOS ESQUECER QUE OS TRÁGICOS ACONTECIMENTOS DO 11 DE SETEMBRO “COMEMORAM” ESTE MÊS 12 ANOS. SERÁ O SUFICIENTE PARA SEREM ESQUECIDOS? NÓS NÃO ACHAMOS QUE SIM, “A COMPLETA FALTA DE PROVAS É A PROVA MAIS SEGURA DE QUE A CONSPIRAÇÃO EXISTE E CONTINUA A FUNCIONAR” PORTANTO, A ANA LUÍSA CARVALHO RELEMBRA-NOS TODAS AS INCONGRUÊNCIAS DESTA HISTÓRIA. HÁ COISAS QUE NÃO PODEMOS ESQUECER. CONTINUANDO COM A NOSSA VONTADE DE NOS EXPRIMIRMOS, À LINGUA AFIADA DO TIAGO MOURA, DO RUI OZORIO E DA CAROLINA HARDCANDY JUNTA-SE A MARIANA RIBEIRO LEMOS. ESTE MÊS CHAMAM À ATENÇÃO O BLOCO DE ESQUERDA, A JUDITE DE SOUSA, A INOV, A RÚSSIA E O LUÍS FILIPE MENEZES. PARA O MÊS QUE VEM É MÊS DE AUTÁRQUICAS, O QUE AINDA VAI FAZER CORRER MUITA “TINTA”, O QUE QUER DIZER, QUE EM OUTUBRO VOLTAMOS FRESQUINHOS COM MUITA, MUITA “LÍNGUA AFIADA”. CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 7


Flora Neves

OPTIMUS D’BANDADA: É em parceria com a Câmara Municipal do Porto que a Optimus organiza pelo terceiro ano consecutivo um dos eventos mais aguardados na cidade do Porto. A Optimus D’Bandada está de volta, já a 14 de Setembro, e garante trazer música da boa à cidade, lançado o desafio a todas as pessoas, bares, lojas, habitações e ruas para criarem a sua própria programação e poderem juntar-se a esta festa da música. Concertos de António Zambujo e Best Youth, na Praça dos Leões. INDIE MUSIC FEST: Organizado pela Associação Movimento Indie de Baltar, a decorrer dia 6 e 7 de Setembro, O Indie Music Fest é um festival totalmente nacional. O IMF tem confirmado um total de 21 artistas Optimus D’Bandada de diferentes áreas, música, teatro, fotografia, pintura e poesia, aliados a um ambiente de extrema beleza natural. Aproveita a boleia, do autocarro e a estadia no campismo, ambos grátis. O custo da pulseira é de 5€ pré-venda e podes contar com bandas como The Glockenwise, Long Way to Alaska, Tape Junk, Bang Bang Romance, entre outras. Os suecos HYPOCRISY visitam o nosso país em Setembro dia 30, no Hard Club. A banda de Peter Tägtgren e companhia vem apresentar o seu mais recente disco “End of Disclosure“, editado este ano pela Nuclear Blast. Os bilhetes para estes concertos são postos à venda no dia “Familia Brochado” 4 de Julho, nos locais habituais, com o preço de 22€.

FAMÍLIA BROCHADO: De dia 5 a 8 de Setembro o Teatro Sá da Bandeira recebe a Família Brochado, uma comédia musical de 90 minutos que faz as delícias de miúdos e graúdos. A peça retrata a história de uma família falida da Invicta, que foge da polícia e escapa aos ladrões. Ofélia Constança Brochado, Duarte Piu Brochado, Gengis Kim, a enfermeira Pussycat, o taxista Zé Gusto e o maestro de Várzea de Ovelha, são algumas das personagens hilariantes que nos maravilham num enredo onde não falta crime e mistério, triângulos amorosos e uma fantástica relíquia que salvará as nossas 8 // www.IDIOTMAG.com

personagens da crise e da quadrilha da loja dos trezentos …a não perder! OS NEGÓCIOS DO SENHOR JÚLIO CÉSAR: De 13 a 29 de Setembro, no Teatro Nacional de São João, o romance inacabado de Bertolt Brecht, “Os Negócios do Senhor Júlio César” confronta-nos com a dura aprendizagem de um jovem biógrafo que, através dos relatos de um banqueiro e das notas de um escravo, acede aos aspectos menos gloriosos da ascensão de Júlio César, pondo em marcha um implacável processo de desmitificação do carismático imperador romano. Os preços variam entre os 7,50€ e os 16€


Munchie Burguer Kitchen

MUNCHIE – THE BURGUER KITCHEN: Especializado na preparação de hambúrgueres suculentos, o Munchie é um restaurante em plena Baixa da cidade. A cargo de Pedro Moura Bessa, a cozinha deste espaço pretende ser descontraída, com espírito slow-food. A decoração do espaço é minimalista e no exterior existe uma agradável esplanada. O preço médio por pessoa ronda mais ou menos os 12€. ESSÊNCIA: Numa moradia com esplanada, jardim e sala privada para grupos, o restaurante vegetariano Essência, na rua Pedro Hispano, tem uma cozinha singular, num ambiente afectuoso, intimista e familiar. Os pratos são criativos, a comida saborosa com ingredientes frescos e de qualidade. O preço por pessoa é em média 25€. Ideal para descontrair ao mesmo tempo que transforma o acto de comer num enorme prazer.

SERROTE BAR: Recentemente aberto, no centro da baixa, na rua da Picaria, o Serrote bar apresenta uma conotação histórica. Uma antiga carpintaria que agora segue as vanguardas do jazz, soul e funk. O serviço é cuidado e apresenta uma carta de diversas opções, desde as deliciosas sangrias, passando pelos gins, cocktails e por último os aprazíveis petiscos tradicionais. No interior existe uma parede onde são expostos mensalmente trabalhos de jovens criadores. // Serrote

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Tish TV. The White Queen: O romance “The Women of the Cousins’ War” Phillippa Gregory foi adaptado para a série televisiva britânica “The White Queen”. O argumento passa-se durante a Guerra das Rosas, quando os Yorks e os Lancasters lutam pelo poder em Inglaterra e Edward IV é o rei coroado. Amor, traição e morte rodeiam as personagens de Elizabeth Woodville, Margaret Beaufort e Anne Neville. Com Rebecca Ferguson, Max Irons e Amanda Hal, entre outros. CINEMA. Bling Ring: O novo filme de Sofia Coppola é baseado em factos reais e conta a história de um grupo de jovens que assalta casas de celebridades em Los Angeles. Paris Hilton, Lindsay Lohan, Orlando Bloom foram algumas das vítimas. Com Emma Watson, Israel Broussard, Katie Chang, Claire Julien e Taissa Farmiga.

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Vida no Céu de José Eduardo Agualusa: “Um romance distópico, num futuro que se segue ao Grande Desastre, e em que o Mundo deixou de ser onde e como o conhecemos. Encontrando-se o globo terrestre inteiramente coberto por água, e a temperatura, à superfície, intolerável, restou ao Homem subir aos céus. Mas essa ascensão é literal (não é alusiva ou simbólica): a Humanidade, reduzida agora a um par de milhões de pessoas, habita aldeias suspensas e cidades flutuantes - dirigíveis gigantescos denominados Tóquio, Xangai ou São Paulo -, e os mais pobres navegam o ar em pequenas balsas rudimentares. Carlos Benjamim Moco é o narrador da história”. in Bertrand

Scienze: Directamente de Brooklyn, Scienze traz-nos o novo álbum Ella (20 faixas) com participações de Lord Quest, Blu, Maffew Ragazino e Fresh Daily. //

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DON´T WAKE ME UP WHEN THE SILLY SEASON ENDS

O MÊS DE SETEMBRO NÃO SÓ É CONHECIDO POR SER O MÊS DO REGRESSO ÀS AULAS, À VIDA (DITA) NORMAL, MAS TAMBÉM POR SER O MÊS DA CHAMADA SILLY SEASON, OU SEJA, AQUELA ÉPOCA EM QUE AINDA ESTAMOS NA FASE NÃO-QUERO-JÁ-ENFRENTAR-O-MUNDO-REAL-PRECISO-DE-FÉRIAS-DAS-FÉRIAS, EM QUE TUDO O QUE ACONTECE ACABA POR TER POUCA RELEVÂNCIA. Ana Catarina Ramalho 14 // www.IDIOTMAG.com


filme “ The Heat”

Quase tudo se concentra em novidades do mundo cor-de-rosa ou em reality-shows que nada vêm acrescentar à nossa vida, isto porque, no fundo, ninguém quer encarar a realidade que, depois do verão, o natal já está quase à porta. Para além dos telejornais voltarem a falar de dívidas, do caos nacional, nos canais de televisão há, também, a chamada rentrée. E para que não entremos em paranoia por já termos saudades dos momentos em que não tínhamos mais nada em que pensar, a não ser a que horas fazer a próxima sesta ou fazer mais um lanche, eis o que o mês de

setembro nos espera: No cinema algumas das apostas serão, desde a comédia, The Heat (Armadas e Perigosas) com Sandra Bullock e Melissa McCarthy, passando pelo drama histórico: The Butler (O Mordomo) com Forrest Whitaker e Oprah Winfrey; pela ação em White House Down (Ataque ao Poder) com Channing Tatum e Jamie Foxx e Runner, Runner (Jogo de Risco) com o tão falado nestes últimos tempos, Ben Affleck, e Justin Timberlake. Estrearão, ainda, nos filmes de animação Justin and The Knights of Valour (Justin e a Espada da Coragem) e Ronal Barbaren (Ronaldo, o Bárbaro).

“Runner, Runner”

“The Butler”

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Por outro lado, no teatro, durante o mês de setembro no Teatro Carlos Alberto terá lugar a Corrente Alterna – Mostra de Criações Incógnitas, na qual companhias da cidade, as que não receberam subsídios da DGArtes, que não conseguem ter salas de ensaios fixas, aquelas a quem prometeram um futuro melhor, terão oportunidade de mostrar os seus trabalhos durante os dois primeiros fins-de-semana. Dezassete projetos de teatro, dança, circo e performance ocuparão o teatro e ainda as praças de Carlos Alberto e Batalha, numa mostra de trabalho nunca antes vista. No Teatro Nacional de São João estará em cena de 13 a 29 de setembro Os Negócios do Sr. Júlio César de Bertolt Brecht, a partir da adaptação de Rui Pina Coelho e com encenação de Gonçalo Amorim.

No plano da televisão é já conhecido que a SIC vai apostar no X-Factor português, já a TVI irá apostar, uma vez mais, no formato já conhecido do Secret Story.

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Teatro Nacional São João, Porto

Fanny da Casa dos Segredos


“Family Guy”

No entanto, este mês é também sinónimo de regresso das séries de televisão que não conseguimos deixar de seguir. Boardwalk Empire está de volta no dia 8 de setembro; New Girl dia 17; Last Man Standing dia 20. Já a How I Met Your Mother e 2 Broke Girls regressarão no dia 23. Modern Family e Criminal Minds no dia 25; Glee, Grey’s Anatomy, The Big Bang Theory, Parks and Recreation dia 26. Já o dia 29 de setembro será o dia de Once Upon a Time; Family Guy, American Dad, The Good Wife e Homeland. Havendo, também, séries acabadinhas de gravar que estão à espera de serem apreciadas, tais como, Brooklyn Nine-Nine, Lucky 7 ou Back in the Game, entre outras. Portanto, o remédio para setembro é esquecer o pedido para nos acordarem no final do mês, já que temos aqui várias razões para aproveitar este mês de regresso à vida socio-profissional (chamemos-lhe assim) que todos pusemos de lado durante este verão. Bom regresso! //

“How I Meet Your Mother” CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 17


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PACHA OFIR + GARE 909: JEFF MILLS CONTINUAMOS A NOSSA AVENTURA PELAS NOITES DO PACHA OFIR DESTA VEZ, COM UM GOSTINHO ESPECIAL. O NOSSO CLUBE PREFERIDO, O GARE PORTO, MUDOU-SE POR UMA NOITE PARA OFIR, E ENTREGOU OS COMANDOS DA CABINE A JEFF MILLS. SENDO ASSIM, NÓS ENTREGAMOS A OBJETIVA À LIGIA CLARO. E COMO A NOITE ERA ESPECIAL, FOMOS BUSCAR DOIS ARTISTAS DOS NOSSOS COLETIVOS FAVORITOS: ALMA DO COLETIVO RUA E FEDOR DOS MANIAKS. O RESULTADO? SEMPRE O MELHOR.

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: TEORIAS DA CONSPIRAÇÃO NA MANHÃ DO DIA 11 DE SETEMBRO DE 2001 O MUNDO MUDOU. O ATAQUE ÀS TORRES GÉMEAS DO WORLD TRADE CENTER, SÍMBOLO DO PODERIO NORTE-AMERICANO CHOCOU O MUNDO, E MARCOU A HISTÓRIA DA HUMANIDADE, COMO O MAIOR ATAQUE TERRORISTA ALGUMA VEZ PRESENCIADO. PASSARAM-SE 12 ANOS E ESTA HISTÓRIA TEM AINDA MUITAS PERGUNTAS SEM RESPOSTA. AS CHAMADAS “TEORIAS DA CONSPIRAÇÃO” CONTINUAM A PROLIFERAR, E OS DEBATES SOBRE SE AQUILO QUE SE PASSOU FOI MESMO UM ATAQUE TERRORISTA, OU SE, ANTES PELO CONTRÁRIO, FOI UM ATAQUE PLANEADO PELO PRÓPRIO GOVERNO AMERICANO PARA JUSTIFICAR A INVASÃO AO IRAQUE E AO AFEGANISTÃO, VÃO-SE MANTENDO. Ana Luisa Carvalho 24 // www.IDIOTMAG.com


As “teorias da conspiração” sobre os ataques do 11 de setembro de 2001, colocam em causa a versão oficial, de que os atentados foram perpetrados apenas pela Al-Qaeda, uma organização terrorista criada por um milionário radical saudita (Osama Bin Laden),empenhado numa guerra santa contra o ocidente, sem qualquer conhecimento prévio por parte de qualquer órgão do governo dos Estados Unidos. O dedo da administração de George W. Bush nos atentados, para justificar as restrições às liberdades individuais e intervenções em países islâmicos, o colapso estrutural das Torres Gémeas do World Trade Center ter sido resultado de uma demolição controlada, ao contrário de uma falha estrutural provocada pelos incêndios, a encenação do voo 93 ou os supostos 4 mil judeus que não foram trabalhar no dia dos atentados, são algumas das principais “teorias da conspiração” existentes.

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Outra teoria que merece destaque é a de que o Pentágono foi atingido por um míssil lançado por pessoas pertencentes ao próprio governo americano, e não por um avião comercial como defende a tese oficial. As explicações nunca são simples para um ato que ultrapassa a ficção, e por isso mesmo as “teorias da conspiração” encontram aqui um terreno fértil. Os motivos que os teóricos da conspiração alegam para que este ato tão horrendo tenha acontecido, são que serviram para justificar as invasões do Iraque e do Afeganistão, bem como os interesses geoestratégicos americanos no Médio Oriente. Mas outras teorias conspiratórias vão mais longe e são capazes de citar autoridades que afirmaram ter tido conhecimento prévio dos ataques mas que os ignoraram, ajudando assim os terroristas. Por seu lado, a comunidade de engenharia civil reconheceu que os impactos provocados pelos aviões a alta velocidade, combinado com os incêndios que se seguiram, e não uma demolição controlada, levaram ao colapso da Torres Gémeas, conclusão defendida também pela Comissão do 11 de Setembro, rejeitando assim as teses de demolição controlada do complexo do WTC.

as suas apostas em conformidade. Uma análise sobre a possibilidade de negociações com informação privilegiada sobre o 11/9 concluiu que uma medida anormal de volume de vendas foi observada, visto estar em níveis anormalmente elevados nos dias que antecederam os ataques. O trabalho concluiu que existiu evidência de atividade incomum no mercado de opções nos dias que antecederam o 11 de setembro. A exposição da vulnerabilidade dos Estados Unidos e da incapacidade de reação de alguns serviços foi dolorosa para uma sociedade habituada á supremacia, e as “teorias da conspiração” que apoiam a versão de que o governo americano esteve envolvido no 11 de Setembro e detetam falhas na história oficial, proliferaram. Uma afirmação comum entre os teóricos da conspiração é a de que o Comando de Defesa Aeroespacial Norte-americano (NORAD) emitiu uma posição para atrasar deliberadamente a saída dos caças para permitir que os aviões sequestrados pudessem atingir os seus objetivos sem qualquer interferência. De acordo com esta teoria, o NORAD tinha a capacidade para localizar e intercetar os aviões, e a incapacidade de fazer isso indica uma conspiração do governo para permitir que os ataques acontecessem. “(...)TRADERS COM INFORMAÇÃO PRI- Questões como esta originaram perVILEGIADA PODEM TER SABIDO COM guntas com respostas nem sempre creANTECEDÊNCIA.” DOS ACONTECIMEN- díveis e com incongruências à mistura, senão vejamos: TOS DO 11 DE SETEMBRO” SUSPEITA DE NEGOCIAÇÕES COM INFORMAÇÃO PRIVILEGIADA Poucos dias antes dos ataques, havia uma quantidade extraordinária de opções de venda colocadas no mercado das ações da United Airlines e da American Airlines. As autoridades acreditavam, e alguns defensores das teses de conspiração continuam a defender, que traders com informação privilegiada podem ter sabido com antecedência dos acontecimentos do 11 de Setembro, colocando 26 // www.IDIOTMAG.com

The Falling Man, de Richard Drew, uma das fotos que se tornou ícone dos ataques do 11 de setembro.


FALHA AO INTERCETAR AVIÕES SEQUESTRADOS Pergunta: Por que razão a melhor força aérea do mundo foi incapaz de intercetar os aviões sequestrados que invadiram o espaço aéreo norte-americano naquele dia? A versão conspiratória refere que o próprio governo terá ordenado ao Exército para não tentar recuperar os aviões dos sequestradores. Já os EUA anunciaram que se tratou de um sequestro múltiplo incomum, com violência a bordo, e no qual o equipamento que transmitia a localização do avião foi destruído. Outros relatórios apontam que naquele preciso dia, o comando de defesa aérea americano terá tido problemas na comunicação com o controle de tráfego aéreo civil e o Exército.

A QUEDA DO WORLD TRADE CENTER Pergunta: Porque caíram as torres da forma que caíram? As “teorias da conspiração” apontam para que as torres tenham sido implodidas, visto tratar-se da única forma de caírem de pé e de forma tão rápida. Relatos de pessoas afirmam ter ouvido sons de explosões antes da queda das Torres Gémeas. A versão americana aponta que os aviões ao embaterem nas torres danificaram a estrutura de suporte, e os vários incêndios que se seguiram ao embate, originaram altas temperaturas que fizeram com que os pisos cedessem provocando um peso superior ao que as colunas do WTC suportavam, provocando a sua queda.

“COMO FOI POSSÍVEL UM AVIÃO DESPENHAR-SE NO CENTRO DAS FORÇAS ARMADAS AMERICANO SEM DEIXAR QUALQUER RASTO?” PENTÁGONO Pergunta: Como foi possível um avião despenhar-se no centro das forças armadas americano sem deixar qualquer rasto? Não se terá tratado de um Boeing 757 comercial, mas sim de um pequeno caça ou avião não tripulado, garantem os defensores da “teoria da conspiração”, acreditando também que este estaria controlado pelo próprio Pentágono e não pela Al-Qaeda. Já os EUA revelaram que o FBI teria capturado a caixa-negra do avião, e algumas fotos e vídeos indicam evidências do trajeto do avião antes da colisão contra o Pentágono, para além de algumas testemunhas afirmarem ter visto o avião cair sobre o edifício.

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O VOO 93 Pergunta: Onde foram parar os destroços do quarto avião, que se despenhou na Pensilvânia? As teses conspiratórias apontam para o facto de o avião ter sido atingido por um míssil e se ter desfeito no ar. Os EUA, por seu lado, apresentaram fotografias dos supostos destroços do avião e uma gravação do interior do mesmo, onde se revela o pânico dos passageiros por causa dos sequestradores, não existindo ainda assim, provas quanto aos destroços do avião. O Exército afirma também que não recebeu qualquer ordem para abater o avião, deitando por terra a teoria de que o avião teria sido atingido por um míssil, como defenderam as “teorias da conspiração”. A TORRE 7 (na foto) Pergunta: Como é que um arranha-céus desabou tão depressa sem ter sido atingido por um avião, e quando nenhum outro prédio revestido de aço desabou por causa dos incêndios? A queda da torre demorou 2,25 segundos. Só uma demolição controlada poderia ter feito isto acontecer tão rapidamente, e existem relatos para a existência de material térmico encontrado nos destroços da torre, situação que o governo americano sempre negou. A versão dos EUA para este acontecimento prende-se com o facto de o prédio ter desabado por causa dos incêndios incontroláveis causados pelo colapso da torre norte, mas esta explicação nunca ficou bem esclarecida até aos dias de hoje.

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Apesar de serem refutáveis, as “teorias da conspiração” vão persistindo até aos dias de hoje. Ao contrário das teses da morte do presidente Kennedy, que se criaram ao longo de anos, as teorias sobre os ataques às Torres Gémeas no dia 11 de setembro de 2001, foram sendo difundidas, quase instantaneamente, pela internet e alimentadas pela contínua repetição das imagens aterradores das pessoas que saltavam das torres para a morte, antes destas se desmoronarem.

Jonathan Barnbrook “Corporate Fascist”

“A COMPLETA FALTA DE PROVAS É A PROVA MAIS SEGURA DE QUE A CONSPIRAÇÃO EXISTE E CONTINUA A FUNCIONAR”. O facto é que nos atentados do 11 de setembro de 2001, dois aviões pilotados por membros da Al-Qaeda embateram nas torres gémeas, fazendo ruir os edifícios e matando 2753 pessoas. Um terceiro aparelho chocou com o Pentágono, em Washington, causando 184 mortes, e um quarto avião despenhou-se na Pensilvânia, matando mais de 40 pessoas. Estes são os verdadeiros factos, e aqui não há lugar para “teorias da conspiração”. Os atentados aconteceram mesmo, o mundo mudou, uma série de guerras, com epicentro no Médio Oriente, foram iniciadas, a ameaça do terrorismo continua a pairar, nunca as questões de segurança tiveram tanta prioridade. Mas uma coisa é certa, naquele 11 de setembro muita coisa ficou por explicar

com muitas incongruências à mistura. Apesar da sistemática invalidade das diversas “teorias da conspiração”, estas continuam a perdurar e a proliferar. Como dizem os teóricos da conspiração, “a completa falta de provas é a prova mais segura de que a conspiração existe e continua a funcionar”. E já se passaram 12 anos… // CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 29


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OS DESCOBRIMENTOS

DA

JÁ LÁ VÃO MAIS DE 500 ANOS DESDE QUE PORTUGAL ATRAVÉS DOS DESCOBRIMENTOS DEU NOVOS MUNDOS AO MUNDO; AGORA ESTÁ NA ALTURA DE SE APROVEITAR DELE OUTRA VEZ COBRANDO UM OU OUTRO FAVOR AQUI E ACOLÁ... Mariana Ribeiro Lemos

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Muito como quem depois de velho e acabado, através de subtis e bem posicionadas achegas lentamente se introduz na casa dos filhos, também Portugal, aos poucos, se vai infiltrando nas áreas cinzentas do panorama internacional. Um dia aparece em casa à noite com um pírex de rojões, no outro lava os pratos do jantar e leva a roupa suja, até que, finalmente, a piéce de resistance, a clássica encenação do colapso cardíaco e está feito, estamos dentro. Quando eles dão por nós Bumbaaa! Estamos na União Europeia! Funcionou em 86 e funciona agora. Isto tem a vantagem adicional de que, uma vez dentro, depois já não nos põem na rua, que parece mal.. E com os resgates económicos ainda vai dando para comprar uma ou outra coisinha bonita. E cá vamos nós, portugueses, de novo a repovoar o mundo, desta vez com mão-de-obra


qualificada que se espalha e entranha nos mais ínfimos interstícios da economia internacional, que é como quem diz: onde há um buraco, está lá um português. Já lá dizia o ditado, se não os podes vencer... espalha-te subtilmente pelos seus cantos mais recônditos e espera que ninguém dê por ti, e se te perguntarem alguma coisa, diz-lhes que já cá estavas primeiro. É simples e não tem nada que enganar; apurada ao longo de gerações de esperteza saloia, esta táctica tem-se provado infalível com micróbios, vírus, fungos, assim como com alguns ocupas mais sóbrios. O programa INOV Contacto muito tem feito no sentido de espalhar esta pandemia lusitana. Arremessando estagiários em todas as direcções pelo mundo, melhor do que qualquer navio negreiro, há já quase 15 anos. Esta foi uma ideia da agência pública AICEP (Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal) que tem a árdua e criativa missão de “promover a imagem de Portugal” junto das empresas estrangeiras, assim como “promover a internacionalização das empresas portuguesas”. Para isto, foi então criado o programa INOV Contacto, no intuito de “apoiar a formação de jovens com qualificação superior em contexto internacional”, e mais ainda, “permitir a transmissão de informação entre os participantes no Programa através de uma rede informal de conhecimento”. O que quer isto dizer? Só deus sabe… ou talvez o diabo, mas na prática resolve-se com algo deste género: Pessoal jovem, com licenciaturas e mestrados e doutoramentos, à procura do primeiro emprego, aos quais se misturam uns quantos desempregados deprimidos à beira da casa dos 30 (o programa é só até aos 29), baralha-se e espalha-se tudo muito bem por empresas semidecadentes, em países um tanto ao quanto duvidosos - e voilá! Não é apenas um estágio! É um Kinder Surpresa! O pobre estagiário não sabe para onde vai, nem o que vai fazer até ao final de um enigmático “Curso de Práticas Internacionais”, que tem lugar algures em Portugal logo após a fase de selecção e aprovação dos candidatos (altura em que já é tarde de mais para voltar atrás). Todas as burocracias adstritas ao processo de estágio figuram num magnífico documento que, para mim, mais do que um simples re-

gulamento, prestar-se-ia a ser um excelente guião para um reality show ao estilo TVI: 42 países, 4 mil estagiários; não podem desistir; não podem voltar a casa; não podem escolher. Estão reunidas as condições para um mau episódio de “Presos no Estrangeiro”. Dramatizações à parte, o regulamento estipula que o estagiário não poderá recusar ou desistir do estágio após o seu início, sob pena de devolução de todos os benefícios monetários que lhe foram concedidos até à data. Mais: o estagiário não pode ausentar-se do país de destino sem antes pedir autorização por escrito à AICEP. Em caso de doença, só lhe é concedida a autorização para deixar o país de estágio, caso a mesma não possa ser tratada no local. Uma representante da empresa de recursos humanos contratada pela AICEP para a fase de selecção de candidatos, com quem falei esta semana, afirma com orgulho que a razão mais comum pela qual são retirados estagiários dos seus locais de destino tem sido o irromper de conflitos armados nos territórios em questão, eventualidade em que o jovem, traumatizado ou não, é recolocado noutro destino à escolha da AICEP. Refere-se ainda, no dito documento, que todo o trabalho desenvolvido no âmbito do programa é tido como “propriedade originária da AICEP E.P.E que se reserva o direito de alterar, publicar total ou parcialmente e de os disponibilizar aos agentes económicos intervenientes no processo de internacionalização da economia portuguesa.” Finalmente, a cereja no topo do bolo: o estagiário fica obrigado, por um período de 5 anos após a conclusão do estágio, a “prestar informações sobre a sua participação no programa, sobre o seu desenvolvimento profissional e ainda sobre informação económica relevante no âmbito da rede de conhecimento networkcontacto”, cujo incumprimento leva à famosa pena de devolução total de todos os benefícios recebidos durante os meses de trabalho. Será esta uma nova tendência de “Outsourcing responsável” em que não só o trabalho mas também o operário é delegado para países de terceiro mundo? Ou será que Portugal já está tão próximo do terceiro mundo que para trabalhar lá fora tem de levar o seu próprio material? // CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 33


Paper Voices parte do meio de comunicação no seu princípio físico e inerte, para tornar explícito a infinidade de relações vivas e animadas que o compreendem, tão intrínsecas no nosso quotidiano que passam a tornar-se parte de nós mesmos. As fotos tratam papel como sinónimo de jornal, que por sua vez representam um meio de comunicação no ideal de representar a comunicação como um todo.

WAKE UP 34 // www.IDIOTMAG.com

MORNING SCREAM


BE FREE CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 35


THERE ARE TEARS BETWEN US

ALL IS BLOOD

DIVINE FAITH

COOK NEWS

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A obra foca seus esforços na demonstração literal da autonomia da informação e as suas relações com a sociedade, amontoando pilhas de mais cem jornais nas suas composições e ignorando por um momento que a comunicação é fruto do homem, para indagar o quanto esse homem é fruto da sua comunicação.

NEW NEW NEWS CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 37


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NEWSTORM

ALONE

GIVE ME BACK MY PAPER DREAMS

THE BALLER OF CONVENIENT TRUTH


A série de autorretratos tem como personagem principal o papel e sua voz, num mundo onde o homem é personagem reacionário de uma realidade moldada pela informação, média e comunicação. O grande poder da obra não está apenas no que ela grita e transmite assim que é visualizada, mas também na voz que é criada a partir do diálogo visual de cada observador individualmente.

WE ARE THE NEWS CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 39


EMERGE

THE END 40 // www.IDIOTMAG.com


Paper Voices traz muitos elementos familiares envoltos numa estrutura peculair cinza de papel. O mais incrível é que esses elementos soam com uma voz diferente para cada um que a escuta. A voz conveniente, a voz da crítica, a voz do silêncio, a voz do riso, a voz do medo, a voz do espanto. Muitas são as vozes que se podem ouvir. Alguns ouvirão a mesma, outros serão agraciados com um concerto de uma voz exclusiva, a única certeza que podemos ter é que seja em grito ou em sussurro, ela será de papel. //

O autor deste trabalho é Jhonatas Silva, brasileiro, mora em São Paulo, e tem 22 anos. Vê os seus trabalhos em: http://www.flickr.com/photos/jhows/

ASHES CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 41


NÃO É NENHUM DESCONHECIDO DO PÚBLICO FIEL AO GRAFFITI (NEM A QUALQUER OUTRO), MAS TAMBÉM NÃO DISPENSA APRESENTAÇÕES PORQUE NUNCA É DEMAIS FALAR DO QUE É BOM. TEM UMA BAGAGEM ARTÍSTICA DIVERSIFICADA, UMA POSIÇÃO MUITO CONSCIENTE EM RELAÇÃO AO QUE FAZ E AOS OUTROS E É UM ENTREVISTADO CHEIO DE COISAS PARA DIZER. UM DIA, PELAS MAIS ÓBVIAS RAZÕES, EIME ILUSTRARIA A IDIOT. EI-LO.

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ILUSTRADOR DO MÊS texto: Tish

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Idiot- Quando surgiu o interesse por artes plásticas, graffiti e street art? Eime - O interesse pelo mundo das artes plásticas já vem desde muito novo. Sou um dos muitos casos que pinta desde que se lembra e era inevitável vir parar mais tarde a este universo e fazer disto vida. A pintura nunca foi bem o meu foco principal, o desenho sim, adorava desenhar. Falo no passado porque sem querer abandonei o meu vício inquietante de 44 // www.IDIOTMAG.com

desenhar, em qualquer lado e em qualquer superfície. Foi, talvez, por estar sempre a desenhar que comecei a interessar-me pelo graffiti. As inúmeras possibilidades de criação de lettering eram sempre um desafio e uma não monotonia que precisava para o meu dia-a-dia. Como nunca gostei de repetir projectos, esboços, o que fosse, estava (e continuo assim) sempre à procura da novidade e isto leva a que não estagnes numa forma ou estilo.


Em: Galeria de Arte Urbana, Lisboa

Idiot- Quanto tempo passaste nessas andanças? Eime - Passei pouco tempo no graffiti, foram apenas 2,3 anos, com pouca regularidade a pintar na rua, mas calhou numa fase de transição de escola e de cidade. Saí das Caldas da Rainha, onde morava e pintava a maior parte das peças, com um ou dois amigos e mudei-me sozinho para Lisboa, onde a vida sempre correu de forma mais acelerada. Esta mudança quase brusca abriu-me os horizontes e, apesar de nunca, até hoje, me ter desapegado do graffiti, comecei a receber novos inputs e a perceber que havia outras formas de

espalhar o meu trabalho. Foi por esta altura que comecei a explorar os stickers e past ups e de forma bastante básica, o stencil. A curiosidade levou-me a pegar em tudo com as duas mãos e só aos poucos é que fui começando a focar-me mais em certas técnicas. Os past ups davam mais adrenalina mas foi nos stickers que investi mais, tanto por Lisboa como pelas Caldas, cidade que, por essa altura estava a ser (bem) invadida por parte dos estudantes locais e alguns de fora. Espalhei muito por lá mas era em Lisboa que a coisa ia ganhando força. Depois de 3 anos com uma actividade bastante regular na arte urbana e numa altura de bastante envolvimento e investimento pessoal, voltei a mudar de cidade, desta vez para o Porto, onde as ruas não estavam tão preenchidas e a actividade urbana não se sentia de forma tão forte e constante como já estava a ficar habituado. Por estes motivos e por outros mais pessoais, hibernei (artisticamente) durante 2 anos. Nunca me desliguei por completo de tudo o que ia acontecendo à minha volta mas estava a precisar de encontrar um novo foco. Em 2008 lá despertei mas desta vez apenas focado na técnica de stencil, que até hoje tem sido a base para todos os trabalhos que desenvolvo. Nem sempre sou um criador de stencil a 100% porque em certos trabalhos, opto por fazer apenas 1 ou 2 layers e os restantes pinto a olho nu. Tem a ver com a capacidade de criação e com a falta de verbas para suportar os custos das impressões. A técnica e base estão sempre presentes, mas a meu ver, ao pintar alguns layers à mão livre, sem a folha a moldar o desenho, torno tudo mais livre, imprevisível e enriquecedor. CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 45


Idiot- És o homem do stencil…como caracterizas o teu trabalho? Eime- Um tipo de stencil livre, menos colado à técnica tradicional onde se corta todos os layers, se pinta a spray, com mensagens… Gosto de pintar a pincel, apesar de demorar mais tempo permite-me controlar melhor o que e onde pintar. O não saber exactamente como vai ficar no fim, por causa das texturas, dos escorridos, das partes mais, ou menos, pintadas é sem dúvida o que mais me agrada. Talvez seja isto que caracterize mais o meu trabalho e o facto de trabalhar sempre rostos a preto e branco. Idiot- Confessa-nos os teus ídolos. Eime- Para não estar a mencionar todos e correr o risco de me esquecer de alguém importante, prefiro dizer que as minhas influências deambulam entre a arte urbana, o graffiti, a arquitectura, o design gráfico e a cenografia. Não dou muita importância a quem faz, mas o que faz e como o faz. Idiot- Tens interesse em expressar algo específico nas tuas criações ou isso é tudo bla bla de artista? Eime - Por norma, as minhas peças não tem qualquer tipo de mensagens. O que expresso são os sentimentos reflectidos no rosto fotografado. Quando são trabalhos mais específicos, procuro que o rosto transmita algo que ligue, ou contraste com o local onde vai ser pintado. Uma cara de alguém anónimo pode ligar-se mais com o observador do que a de alguém conhecido. No anónimo consegues ir buscar lembranças, identificar com alguém que conheças, joga contigo de uma forma mais pessoal e intima. Como cada qual vê uma pintura e a interpreta de forma completamente diferente, é importante que ela te dê algo, para além da técnica e qualidade ali representada.

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Idiot - Os teus rostos são carregados de intenção, expressão e logo dramáticas. Alguma razão em particular? Eime - É simples, um rosto com uma expressão forte fica mais facilmente na memória do observador. Nem sempre são expressões “simpáticas” mas todos os dias deparamo-nos com mil tipos de expressões, eu acabo por representar uma delas que foi captada no segundo em que foi fotografada. Trabalho mais frequentemente rostos de “velhos” porque neles existe chapado o seu passado, é toda a sua vida num só “quadro”. A busca do vazio também é algo que me tem interessado, porque nem sempre há rostos que nos dizem tudo, acho importante também nós, enquanto observadores, preenchermos aquela imagem com a nossa memória. Idiot – Quanto aos outros, quem admiras na street art nacional e internacional? Eime- Cada vez mais me torno seguidor fiel de determinados artistas porque tenho notado uma crescente evolução na arte urbana mundial. Há muitos artistas com uma qualidade brutal e muitas vezes nem têm estilos que me agradem muito, mas separo as águas entre qualidade e estilo. Admiro aqueles que no seu trabalho está reflectido o esforço, vontade e empenho. Não adianta salientar nomes.


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Eime + AddFuel Em: Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa

Idiot- Como vês o fenómeno street art no Porto? Eime - O Porto está a passar por uma fase de mudança. É mau porque a “limpeza” está a ser geral e sem distinção, mas por outro lado, interpreto isto como um “play again?”. Desde que vim para o Porto, há 7 anos, tenho notado algumas alterações, mas é como em todo o lado, há sempre fases de maior e menor intensidade. Comento apenas como observador porque na cidade em si não tenho nenhuma peça, as oportunidades têm surgido sempre fora. Pode ser que esta fase esteja a mudar porque outro lado bom desta acção de limpeza por parte da câmara do Porto é que ajudou a que muitas pessoas se juntassem/ unissem a

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favor da arte urbana e começassem a pôr em prática algumas ideias que talvez estivessem em stand by há muitos anos. Hoje em dia nota-se uma maior vontade em que a arte urbana no Porto exista, esteja viva, principalmente com eventos bem pensados, sempre numa atitude consciente. Idiot – Quais são os teus objectivos artísticos enquanto criador? Eime - Felizmente tenho tido oportunidades para atingir certos objectivos, desde pintar em grande escala, fazer colaborações, partilhar o mesmo espaço físico e processo criativo com outros internacionais (que muitas vezes nos abrem os olhos e nos dão mais


valor dos que os de cá) mas o objectivo principal é tentar estar em constante evolução, não adormecer pelo meio e lutar enquanto isto tudo faz sentido.

num festival de arte urbana, com outros artistas nacionais lá do topo e outros internacionais que impõem respeito por todo o seu trabalho e percurso. Sem dúvida que foi ali, naquele ambiente e conjunto artístico que Idiot - Que peça ou evento te marcou mais até hoje? percebi que isto não é brincadeira e que gosEime - Foi sem dúvida a que fiz nos Açores, du- to mesmo desta porra. rante a primeira edição do festival Walk&Talk em 20101. Foi a primeira vez que tive opor- Idiot - Que principais diferenças sentes no movitunidade de fazer uma peça que “abraçava” mento artístico “de rua” nos últimos anos? uma casa, durante 7 dias sempre a pintar, Eime - Noto muita coisa, principalmente o sozinho (como sempre gostei de apoio e aposta na arte e nos artistas o fazer) e claro porque que há por parte dos joera a minha esvens aos mais treia

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velhos. A arte urbana, incluindo todas as vertentes, por vontade de muita gente (por todo o mundo), hoje em dia está presente no dia-a-dia, é algo inevitável e que já não se pode escapar. Tem ganhado mais visibilidade porque há mais respeito, e a maior parte das peças já são olhadas como objecto artístico e não como meras manchas que ocupam muros e paredes. Penso que, desde que se começou a fazer peças em grande, por vezes, mega escala, todo o nosso olhar perante aquilo mudou. Com todas as oportunidades que têm surgido, desde eventos a concursos, o número de artistas tem aumentado e a qualidade técnica também. Este desabrochar de muita gente leva a que haja mais vontade de fazer melhor porque ao sermos mais, temos que conseguir deixar o nosso cunho bem presente. Com todo este fervilhar e velocidade cibernética, num simples segundo tudo se pode inverter e quem está hoje na boca do mundo, amanhã já foi comido por outros tantos.

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Idiot – Já tocaste neste assunto, mas o que sentes em relação à posição camarária e política desta cidade em relação ao graff? Eime - É de extremos, o que nunca é positivo. Tentam, de uma forma completamente castradora, silenciar tudo e todos. É curioso circular hoje em dia pela cidade e perceber o quão descaracterizada está, com todas aquelas manchas monocromáticas. Isto a meu ver não são acções de limpeza, é antes uma tentativa forçada e por vezes em vão, de transformar uma cidade num espaço neutro e ainda mais pobre. Como todos sabem, o Porto é considerado uma cidade cinzenta, com ruas escuras e estreitas mas tem um potencial enorme para acolher arte, basta que quem manda dela perceba tudo isto.

Daniel tem 27 anos e o curso de Ofícios do Espectáculo no Chapitô em Lisboa e Licenciatura em Cenografia, pela Escola Superior de Música e Artes do Espectáculo do Porto. //

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texto: Tish fotos: Mars

GRAFF NA GARAGEM

Há um novo mural de graffiti na cidade, contra todos os desejos da edilidade em tirar a arte das paredes. É numa garagem na Rua de Camões (lembram-se do Flea Market?) e reúne trabalhos de alguns dos mais talentosos writers nacionais. A iniciativa “Art Inna Park” envolveu o idiota YouthOne e inaugurou no sábado 24. Agora que o pó e o spray assentaram, dêem uma vista de olhos. É de borla e está lá para quem quiser ver. Vão encontrar de certeza algum artista que ilustrou a nossa capa ou virá a ilustrar. Mas isso é segredo.

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O nosso idiota Mesk marcou presença no evento, com mais um dos seus animais fantásticos. Vejam a entrevista ao artista na edição de Novembro do ano passado

Um dos “monstrinhos” de Dub na garagem de Camões.

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“Porkys� mistura o lettering de Oker e a figura da autoria de Fedor Virus e Contra aqui juntos neste trabalho

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Nomen deu um salto à Invicta com um dos seus retratos realistas

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Aore acompanha as “ladies in da house”, Mars e Rafi

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Third em acção. Também Ekyone esteve presente na inauguração do evento


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Dheo e Noir tambĂŠm se juntaram para este trabalho

Mr Dheo, claro.

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Os neons tão característicos de YouthOne a marcar presença no Inna Park //

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SÃO POUCOS OS JOVENS TALENTOS QUE OBTÊM SUCESSO NO NOSSO PAÍS. LUÍS GONÇALVES É UM DESSES. APESAR DE TER COMEÇADO A ENVOLVER-SE COM A ELECTRÓNICA HÁ POUCOS ANOS, TEM UMA CARREIRA PROMISSORA NO MUNDO DA MÚSICA. LUÍS ESTÁ NO INÍCIO DOS SEUS VINTES, E JÁ TEM TEMAS TOCADOS POR SUPRA-SUMOS DO TECHNO COMO BEN KLOCK, DVS1, LAURENT GARNIER, ADAM BEYER E RICHIE HAWTIN ENTRE MUITOS OUTROS. O SEU SOM É PESADO, MENTAL E ATMOSFÉRICO, MAS MOVE QUALQUER PISTA DE DANÇA! A IDIOT APOIA TODOS OS JOVENS PROJECTOS COM TALENTO DO NOSSO PAÍS, E DECIDIU FAZER UMA PEQUENA ENTREVISTA AO PRODUTOR, DJ, LABEL OWNER, E PROMOTER - LEWIS FAUTZI. Bernardo Alves

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Idiot - Olá Luís! Conta-nos como começou a tua carreira! Luis - O meu interesse pela música surgiu aos 13 anos com a organização de festas privadas para amigos. Pouco depois, começaram a surgir os convites tocar em alguns clubes e bares na zona norte, explorando diversos estilos de música. O que na época ainda não estava definido devido à vontade de explorar e de descobrir novos horizontes. A vontade de adquirir conhecimentos sobre como se fazia música levou-me a instalar o primeiro programa de produção, o FL STUDIO. Posteriormente, já com lançamentos em algumas editoras, comecei a trabalhar com o Ableton Live, permitindo-me assim começar a construir o meu primeiro LIVE. Hoje, tenho um estilo bastante definido onde tento transmitir aquilo que sinto e o que sou através das minhas produções. Idiot - Com que equipamentos crias a tua música? Qual é o teu setup? Luis - Como referi anteriormente, uso o Ableton Live para construir as minhas músicas. Para os meus synths utilizo alguns VST’s como Synlenth1, Phoscion, Monopoly, entre outros.

Idiot - Fala-nos do teu novo EP, e o que esperas para a tua label. Luis - O meu novo EP chama-se 303 e será lançado em Outubro na Soniculture, editora do meu grande companheiro Expander. Idiot - Que equipamentos costumas usar nas tuas actuações? Luis - Costumava usar o Traktor e dois controladores X1 para DJ SET, mas entretanto optei por tocar com CD’S e discos vinil, uma vez que o Traktor nunca me fez sentir DJ. Em formato LIVE, utilizo o Novation Remote Zero SL e o Ableton Live. Idiot - Quais os planos para o futuro da tua carreira? Luis - Vivo muito o presente, tenho vários objectivos no mundo da música e por isso tento sempre dar o meu melhor para alcançar a cada um deles. Posso adiantar que no próximo ano conto com vários projectos, como um álbum na Soma Records e vários lançamentos em editoras de renome. Em Outubro a minha editora, Konstrukt Records, completa dois anos e por isso irei lançar um “Various Artists” que contará com músicas de bons artistas. Outro grande plano para a minha editora é a edição em formato vinil. // www.facebook.com/lewisfautziofficial www.facebook.com/nukleardefaultofficial www.soundcloud.com/lewisfautzi CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 63


Encontrámos a Catarina Ribeiro em São Bento, tem 22 anos e é actriz profissional. Formou-se na Academia Contemporânea do Espectáculo (ACE) no curso de Interpretação na turma de 2006/2009, seguindo os seus estudos para a Escola Superior Teatro e Cinema (antigo Conservatório de Teatro em Lisboa). Interrompeu o curso por questões profissionais. Neste momento podemos vê-la em todas as produções de musicais da Vivonstage realizadas no Sá da Bandeira. Por isso estejam atentos. // Bruno Manso 64 // www.IDIOTMAG.com


MALAS TRANSPARENTES

Esta moda já foi vista noutras estações, mas atenção, para poder usar este acessório precisas de comer muita sopa. É um acessório em que são expostos todos os teus valores e outros objectos que lá irão ser transportados. Quando usares este acessório tens que ter em atenção a arrumação dos teus objectos. E não te esqueças que é um perigo usar grandes valores, pois com essa mala vais pôr as pessoas a olhar para o que esta lá dentro e, de certa forma, para a tua intimidade. // Bruno Manso

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PACHA + BOYS NOIZE + KYOTE DE BERLIM VEIO BOYS NOIZE, E DO PORTO TROUXEMOS DESTA VEZ: KYOTE. UMA NOITE EM QUE A DIVERSÃO FOI CONSTANTE ONDE NÃO PODIA DEIXAR DE HAVER ARTE, POR TODOS OS LADOS. O PHOTOREPORT É DE UM https://www.facebook.com/JorgeTeixeira.Photography ESTREANTE NA IDIOT MAG, BEMVINDO JORGE TEIXEIRA!

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Kyote https://www.facebook.com/pages/Kyote/217589404993431?fref=ts

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https://www.facebook.com/pages/Kyote/217589404993431?fref=ts Mural por: Kyote

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*aviso antes de ler, a pedido do editor, nesta tratasse, ele queria vê-la. Pensou que o seu ar sabido crónica pululam obscenidades e relatos para lhe tinha garantido bons conselhos, e que a confissão de algo de urgente só a ela pudesse ser entregue. De maiores de 18… tabuísmos… “curiosidade [kurjuzidádi]. s. f. (Do lat. curiositas, -atis). 1. Qualidade de curioso. 2. Qualidade do que tem desejo de saber, de se informar, que tem interesse em aumentar os seus conhecimentos. 3. Qualidade ou estado do que tem forte desejo ou vontade de aprender, conhecer, desvendar os descobrir coisas novas. ≠ DESINTERESSE. Foi a curiosidade que o impeliu para o campo da investigação científica. 4. Qualidade de quem tem grande vontade ou desejo indiscreto de obter informações ou conhecer detalhes, que lhe dizem ou não respeito, acerca de terceiros. ≈ BISBILHOTICE, INDISCRIÇÃO. ≠ DISCRIÇÃO. 5. Informação considerada interessante pela sua vulgaridade ou originalidade. O jornal tinha uma secção de curiosidades. 6. Objecto ou qualquer coisa rara, original ou estranha que desperta, por isso, interesse. Coleccionava curiosidades. 7. Gosto particular, preferência pelo que é raro, desconhecido ou original. (…) 8. Fam. Trabalho ligeiro e recreativo.” “gato1, a [gátu, -a]. s. (Do lat. tardio cattus) 1. Mamífero carnívoro, da família dos felídeos, de garras retrácteis, representado em quase todo o mundo por numerosas espécies e raças domesticadas, mas existente também em estado selvagem. (…)carapau+ de gato, olhos+ de gato. 2. Pessoa ágil, esperta. 3. Bras. Fam. Pessoa bonita, atraente, que dá nas vistas pela boa aparência física. à/de noite todos os gatos são pardos, expressão usada para transmitir a ideia de que existem momentos ou situações em que não é possível detectar determinadas diferenças. atirar-se como gato a bofe/bofes. 1. Atirar-se com toda a voracidade, de forma impetuosa. 2. Dirigir-se a alguém com agressividade verbal; acusar com violência. comer gato por lebre, ser enganado, recebendo alguma coisa de qualidade inferior à esperada ou devida. (…) estar com um olho no prato, outro no gato, Fam. estar com atenção, vigiando aquilo que está exposto e susceptível de ser roubado, gato escaldado de água fria tem medo, usa-se para expressar a ideia de que as más experiências tornam as pessoas desconfiadas. (…) ir, o gato, às filhós, ser arriscado, verificar-se uma situação perigosa, delicada. (…) não poder com uma gata pelo rabo, Fam., estar muito fraco, muito debilitado; não ser capaz de fazer grandes esforços. (…) gato2 [gátu]. s.m. (Do lat. tardio cattus). 1. Erro em escrita ou operação de cálculo. ≈ ENGANO. (…)aqui/aí/ali há gato!, frase exclamativa usada para indicar que há algo que levanta suspeitas, dúvidas.

A cara imberbe e o olhar fixo que não tirava de Patrícia levantavam suspeitas sopradas pela postura mansa e ar de menina. Demorou toda a noite a falar com ela, mesmo com amigos comuns, mas quando falou, quis nome, número e promessa de que ainda iriam falar antes de se irem embora. Conversa, para Patrícia, é como água, não se nega a ninguém. E o ar infantil, inocente e com absoluta necessidade, tirou-lhe o contacto como se tira um rebuçado a uma criança. Mas amanhecia, e distraída com outros afazeres, corpos peludos e cheirosos entre os quais se dividia, desapareceu para o quarto de uma pensão, ágil e felina, sem ninguém dar conta. No dia seguinte eram seguidas e insistentes as mensagens que a acordavam. Como se de um caso último se 74 // www.IDIOTMAG.com

mãos a segurar a cabeça e estômago dorido acedeu a um jantar. Com uma sopinha tudo fica arrumado, cruzou-lhe a mente em ritmo lento e pensamentos forçados. Tudo era tão difícil, de pé e a ir para o restaurante, que era apenas mais uma paragem no caminho para casa, sentia que não podia com uma gata pelo rabo. Quando subiu a rua já ele estava sentadinho, numa pedra, com ar cândido e perdido. Olhava para ele e não sabia bem o que via, mas não era um cachorrinho… Comeram uma sopa e Patrícia ainda lambeu os beiços com um peixinho. Levantou-se e declarou o final do encontro. O rapaz quis acompanhá-la. No caminho pediu para dar a mão e à porta de casa olhava para ela como se de um animal de estimação perdido se tratasse. Com a carinha franzida pedia uma tacinha de leite e um pouco de mimo. Abriu-lhe a porta, deixou-o entrar, disse que ia tomar um banho e depois trabalhar. Deu todos os sinais que queria que se fosse embora, de forma subtil para não magoar o rapaz. Saiu do banho e ouviu as palavras mágicas: “Deixa que eu seja o teu gatinho…”. Dito quase a miar. A segurar a toalha perguntou-lhe baixinho a lista de itens que corria na cabeça ao mesmo tempo qua as últimas gotas lhe escorriam pelo corpo, se podia pôr-lhe coleira, se dormia aos pés dela na cama. Ele enquanto lhe dava uma cabeçadinha no pescoço disse que podia fazer dele tudo o que Patrícia quisesse. Ela avisou que podia ser muito má, que não o queria consentido ao engano, que lhe dava muito prazer e ao mesmo tempo muita dor. Assentiu a tudo. Ela, de toalha caída levou-o para o quarto pela mão. Despiu-o. Deitou-o de barriga no chão. Murmurou que aprendizagem tinha um custo e ela um gosto por impor disciplina. Com o pé descalço contornou-lhe o corpo. Esquálido e suave, sussurrou-lhe, “vais ser um bom gatinho” e com as garras de fora passou-lhe as unhas na nuca, na cara, nas costas, primeiro suave, depois com pressão, pouco depois de forma dura. Viu as costas brancas ganharem veios vermelhos, como uma árvore sangrada na primavera, e ouviu-lhe um primeiro gemido. Com cuidado perguntou: “continuamos, gatinho?” Ele miou. Assentou-lhe bem a coleirinha e de trela passeou-o pelo quarto, alternando pisadas no corpo bem calculadas com meigas festinhas. Puxou-o para perto pela trela e tomando-lhe o focinho, apertou-lhe os lábios carnudos e deu um estalo naquela cara de menino. Sempre de quatro, o gatinho. Calçou uma luva, pegou no lubrifican-


te, e abriu-lhe o rabo bem feito, sentiu-o arredio, assustado que nem um animalzinho. “Nunca te foderam o rabinho, bichano? Não te preocupes que não te escaldo, vou de morninho.” Primeiro com um dedo, depois o dedo rodado, começou a gemer o rapazinho, passou para dois, bem em gancho, certeirinho. Sentiu-o quase a vir-se. “Calma, hoje o prazer não é teu, bichaninho.” Bateu-lhe na mão com se tentava tocar. Voraz, acertou-lhe de palma inteira na cara. “QUIETO, JÁ DISSE, GATINHO.” De quatro arrastou-o para perto da cama, perante um ar entre o confuso e o demasiado entesoado. Abriu as pernas, a cara dele no meio delas e mandou: “Agora lambe, animalzinho.” Não o deixou parar enquanto não ficou satisfeita. Uma, duas, três vezes se veio. Devagar, depressa, de novo devagarinho, com a língua dele a sorver-lhe a vulva vezes sem conta, como se a cona dela fosse o prato dele de leite. Quando Patrícia não quis mais, deitou-se. A ele deixou-lhe os pés da cama, um cantinho. Só o deixou sair de manhã, não fosse a noite fazê-lo pardo sem saber se o passado era sonho ou pesadelo. Ao acordar, deu-lhe pequeno-almoço e carinho e ouviu pedidos para voltar. Uma vez feita a curiosidade tinha viciado o gato. Sem grandes promessas, abriu a cancela, vendo-o ir, levezinho e com ar de quem tinha gostado de apanhar. Com tanto consolo, PETA nenhuma metia medo, porque às vezes tratar mal é fazer bem a estes homens-animaizinhos.

Suados, olharam-se, beijaram-se vestiram-se e foram ao balcão outra vez, ele um gin tónico, ela fumar um cigarro. Da vossa, viciosa e virtuosa como só pode ser uma,

praia do que os pós Bling Bling. Com um aplicador que nos transporta para tempos idos cheios de charme e canções com pós de arroz (que virtude!), Bling Bling é brilho numa caixinha. Passando na pele podemos escolher mais ou menos intensidade de o quão “purpurinados” queremos ficar e este brilho traz um convite. A provas, senhores. Com um sabor irresistível convida a lambidelas e mordos por onde Bling Bling anda, desafiando-nos a desenhar na pele rios prateados que são caminhos de prazer. Encontram-se estes e outros úteis acessórios em reuniões de enxoval para o ócio adulto, através de Carmo Gê Pereira.

Setembro só existe de meados para a frente. Setembro é a rentrée, as festas mais engraçadas onde podemos exibir o nosso bronzeado, andar com pouca roupa e voltar a ser verdadeiramente urbanos. Arrumar as roupinhas de festivais, o ar de hippie chic, e afundarmo-nos em betão com gosto e até saudades. Esqueçam que vão voltar a passar dias a trabalhar, a maioria de nós já o fez o Agosto e Julho todo, e agarrem àquela ideia de verão que tínhamos quando eramos estudantes e desocupados… E nada melhor para por uma pa- “Bling-Bling” Bijoux Indiscrets – tine de sofisticação à pele de 21,95€

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LOVE IS PATIENT,LOVE IS PATIENT, LOVE IS KIND,LOVE IS KIND, LOVE IS PATIENT,LOVE IS PATIENT, LOVE IS KIND,LOVE IS KIND, LOVE IS PATIENT,LOVE IS PATIENT, LOVE IS KIND.LOVE IS KIND. AMEN.AMEN.

Tiago Moura

EU SOU GAY E A ÚNICA RAZÃO QUE ME PRENDE A COMEÇAR ESTE TEXTO O que me choca profundamente nas recenCOM ESTA DECLARAÇÃO É O MEDO DE tes notícias das políticas anti-LGBT russas SENTIR QUE TODOS OS PASSOS QUE e as suas repercussões no seu quotidiano é o modo como as principais vozes ocidentais FORAM DADOS NA DIREÇÃO CORREse têm mantido serenas sobre o assunto. As TA, NO QUE DIZ RESPEITO A ASSUN- únicas pessoas que parecem de facto iradas TOS LGBT, PODEM SER REVERTIDOS com o assunto é a própria comunidade LGBT, NUM BREVE INSTANTE. que tentam, sem grande efeito, pôr um termo a esta situação. No fundo, o que este silêncio demonstra é como continuamos a ser vistos como cidadãos de segunda classe, cujos problemas não pedem intervenção geral.

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Em 1936, os Jogos Olímpicos aconteceram em Berlim e o mundo todo ignorou as políticas de Hitler e as consequência dessa mesma ação podem ter sido, como sugere Stephen Fry numa carta aberta ao Comité Olímpico, catastróficas. Fry constrói o óbvio paralelismo desse evento com o que se apronta a acontecer em Sochi, na Rússia, que coloca em perigo o bem estar dos seus participantes. Assusta-me que a decisão de deslocar os Jogos Olímpicos ou até mesmo de os adiar seja tão difícil de tomar quando está em c a u s a valores como justiça, igualdade e qualidade de vida. Tudo chavões da sociedade ocidental que, afinal, o mesmo parece descartar quando lhe é menos oportuno. Assusta-me imenso que, em 2013, na Europa, algo tão natural como a liberdade seja colocada em causa, quando existe dinheiro e patrocínios envolvidos no assunto. Durante os Campeonatos Mundias de Atletismo, que aconteceram em agosto, na Rússia, após as reformas de Putin entrarem em vigor, foram vários os atletas que, de modos distintos, mostraram o seu desagrado com as políticas do líder russo. Mais recentemente, o ator Wetnworth Miller, da extinta série Prison Break, recusou um convite para assistir à estreia do seu novo filme, em solo russo, tratando-se ele de um homem gay. Existe ainda a foto da atriz Tilda Swinton, na Praça Vermelha, no crepúsculo do dia, levantando a bandeira LGBT, em frente a um carro da polícia. Essa foto tem vindo a ser partilhada nas redes sociais como um desafio aos utilizadores a protestarem as novas leis.

“UM JORNALISTA, DE UMA REDE (...) DE PUTIN, AFIRMOU (...) QUE OS CORAÇÕES DOS HOMOSSEXUAIS QUE FORAM TORTURADOS E MORTOS DEVIAM SER QUEIMADOS PARA NÃO CONTAMINAR O SOLO.” A reforma de Putin passa não só pela perse-

guição e ostracização dos gays e lésbicas russos, mas também pela condenação de qualquer tipo de propaganda e discurso pró-LGBT. Um jornalista, de uma rede gerida pelo partido de Putin, afirmou numa transmissão do telejornal que os corações dos homossexuais que foram torturados e mortos deviam ser queimados para não contaminar o solo. Por causa da reforma a nível das leis de adoção, existem casais que se estão a preparar para fugir, do seu país, a medo de verem os seus filhos retirados da sua custódia, por serem homossexuais. Lady Gaga e Madonna foram ambas processadas em milhões de euros, por falarem, nos seus espetáculos, a favor dos direitos LGBT. A lista das consequências da perseguição de Putin aos gays e lésbicas podia continuar: mais explicitamente, com exemplos mais ridículos e casos mais severos de violências; todos sinal de que não é seguro e de que a Rússia, atualmente, não vive sob os mesmos valores da União Europeia. E o governo russo tem noção disso, pois recentemente, Vladimir Putin um decreto que, entre outras alíneas, proíbe qualquer tipo de protestos, durante os Jogos Olímpicos de Sochi, a decorrer em fevereiro de 2014. Em meados do ano corrente, a dupla de Hip Hop, Macklemore & Ryan Lewis editaram, em parceria com Mary Lambert, a música Same Love que celebra as mudanças que o mundo está a sofrer lentamente, em relação a assuntos LGBT. A presente referência serve para sublinhar dois paralelismos: primeiro, que uma música com a dita temática encontre uma voz no mundo do Hip Hop, dominado por modelos de hiper-masculinidade, é um passo importante na cultura jovem e, segundo, que o facto do conceito de same love, ou de chavões como love is love, permear as culturas menos educadas mais rapidamente que as camadas superiores da sociedade. Existem melhores e mais importantes maneiras de mostrar-mo-nos unidos do que os Jogos Olímpicos. // CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 81


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AINDA ATARANTADA COM O FINAL DAS FÉRIAS, PREPAREI-VOS UM BREVE RESUMO DAQUILO QUE, PARA MIM, MARCOU O ANO DE 2013 ATÉ À DATA, NO QUE TOCA ÀS QUESTÕES LGBT EM PORTUGAL. Setembro tem sempre ares de recomeCarolina HardCandy

“Penny Arcade’s Bad Reputation Book Party” 84 // www.IDIOTMAG.com

ço. Para mim, como para muitos, agosto é ainda sinónimo de “férias grandes”: continua a ter aquele travo a recreio, a descanso, a dolce fare niente. Mesmo depois dos tempos de escola, setembro continua a lembrar-me os anúncios de “regresso às aulas” das grandes superfícies comerciais. É altura de pegar novamente nos livros, consultar o e-mail, cansar os olhos à frente do computador e, vistas bem as coisas, voltar ao “mundo real”. Neste caos criativo que é o final das férias, dou comigo a fazer balanços. Assim, como quem espalha papéis na mesa para poder organizá-los, este mês decidi fazer um pequeno resumo daquilo que 2013 fez e fará pelas causas LGBT em Portugal. Antes de avançar, no entanto, sublinho que esta espécie de “antologia de acontecimentos” é bastante subjetiva (por isso não me venham criticar por ter referido “x” e não ter mencionado “y”, eu falo do que me apetecer, ok?!).


BREVE (E PESSOALÍSSIMA) RETROSPETIVA DE 2013

Começo pela questão da co-adoção que tanto andou na boca dos portugueses, tendo sido mal interpretada frequentemente. Em maio do presente ano, o Parlamento aprovou o projeto de lei do PS que prevê a co-adoção entre pessoas do mesmo sexo que estejam casadas ou a viver em união de facto. Se lêssemos só o título das notícias, poderíamos pensar que se trata de uma grande evolução naquilo que toca à igualdade. As entrelinhas, no entanto, deixam muito a desejar. Isto porque o dito projeto apenas propõe que “quando duas pessoas do mesmo sexo sejam casadas ou vivam em união de facto, exercendo um deles responsabilidades parentais em relação a um menor, por via da filiação ou adoção, pode o cônjuge ou o unido de facto co-adotar o referido menor”. Ou seja, é necessário existir já um vínculo de parentalidade por parte de um dos membros do casal, persistindo a discriminação contra casamentos e uniões de fato que, embora reconhecidos pela lei portuguesa, não concedem quaisquer direitos no diz respeito à adoção plena de crianças. Resta lembrar que as tentativas do BE e do PEV para mudar essa incongruência legal foram chumbadas pelo Parlamento.

Deste modo, a aprovação da proposta de lei pode apenas ser encarada como o primeiro de muitos passos em direção à igualdade, não representando, de modo algum, o cessar de uma luta. Mais: embora a proposta tenha sido, na generalidade, aprovada em maio, a votação final foi adiada para setembro. Só depois deste “regresso às aulas” é que saberemos verdadeiramente aquilo que a lei nos garante (e isto se o Sr. Aníbal deixar). Saindo do campo legal e passando ao ativismo, é necessário referir as marchas que aconteceram em diversos pontos do país. Maio trouxe a Marcha contra a Homofobia e Transfobia de Coimbra, já na quarta edição, cujo título do manifesto “Cidadania plena, ou não vale a pena” denunciava as diversas situações de desigualdade que ainda se verificam no nosso país. Junho e julho ficam marcados pelas Marchas do Orgulho LGBT de Lisboa e do Porto (14ª e 8ª edições, respetivamente) com os motes “Arco-Íris contra a crise” e “Dão-nos luta ao corpo, nós damos o corpo à luta!”. Também em julho, saiu à rua pela primeira vez a Marcha pelos Direitos LGBT - Braga que parece ter excedido as expectativas dos seus organizadores. Num futuro próximo, a cidade proCULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 85


mete a criação de uma rede de defesa e promoção dos direitos LGBT que leve a cabo diversos eventos (ciclos de cinema, debates, etc) e cujo trabalho de todo o ano culmine na marcha. Se destaco o caso de Braga é porque me parece fundamental sublinhar que o ativismo não acontece de forma homogénea em todo o país, existindo zonas como o Minho onde só este ano foram dados os primeiros passos nesse sentido. Numa situação semelhante temos a ilha de S. Miguel que viu passar, no último dia de agosto, a II Marcha de Orgulho LGBT integrada do II Festival Pride Azores que, com o mote “Não desapareças na paisagem”, promove a visibilidade nesse território através da exibição de filmes e a organização de palestras e conversas informais em vários locais de Ponta Delgada. É precisamente este critério de visibilidade que me interessa em algumas ações do campo cultural português. Não por uma questão de dimensão, mas de cronologia, começo por referir o Colóquio Escrever nas Margens: LGBT em Portugal que, no mês de março, promoveu no Porto encontros semanais onde foram debatidas diversas obras de criadores portugueses (no campo da literatura, do cinema e das artes) que abordam temáticas LGBT, possibilitando também diálogos sobre questões históricas, ativismo, legislação, etc. Já que fui uma das organizadoras do evento, estejam à vontade para dizer que estou a puxar a brasa à minha sardinha, mas quem esteve presente sabe que “foi bonita a festa, pá”. Também o Loose Holes: Portuguese Festival of Queer Performance, que aconteceu no mês de maio, no Porto e em Lisboa simultaneamente, e que eu pude acompanhar de perto, funcionou como um belíssimo palco para a divulgação do trabalho de diversos artistas nacionais e internacionais. Discutindo o próprio significado do conceito “queer” e as suas vertentes, o festival 86 // www.IDIOTMAG.com

apresentou um leque variado de abordagens e performers, entre os quais Penny Arcade, artista americana e uma das pioneiras da área. Se não conhecem o trabalho dela, não sabem o que andam a perder. Vê-la ao vivo, ouvir o que tem para dizer foi um dos pontos altos do meu ano. E por falar em coisas ao vivo, não podia deixar passar os festivais de verão. Quem esteve no Milhões de Festa certamente não ficou indiferente ao concerto de Mykki Blanco, (na foto) o americano que é, atualmente, uma das caras conhecidas do Queer Rap e que mistura, com maestria, golden chains e saltos altos. Já em Paredes de Coura, o afterparty de uma das noites ficou


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Loose Holes e Queer Lisboa 2013

a cargo dos ingleses 2 Bears que com letras como “Don’t matter who you are/ Just get down and have a bear hug” a dupla criou um ambiente de festa onde reinou a animação e a celebração da diversidade. Finalmente, e em jeito de convite, refiro o Queer Lisboa, festival de cinema que vai já na 17ª edição e se apresenta como “o único festival nacional com o propósito específico de exibir filmes de temática gay, lésbica, bissexual, transgénero e transsexual”. Dito isto, e com os papéis já arrumados sobre a mesa, encontramo-nos em Lisboa, de 20 a 28 de setembro. // CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 87


ESTAMOS NO FIM DE AGOSTO, AQUELE MÊS QUE, ESTE ANO, NOS LEMBROU QUE EXISTIAM VENTOINHAS. ESTAMOS NO FIM DE AGOSTO E ESTOU NO PORTO. ENTRÁMOS NUM BARZINHO DA BAIXA PORTUENSE, PARA QUEM CONHECE FICA ALI PARA OS LADOS DO 77. MÚSICA AO VIVO. ERA UMA JAM SESSION E TRÊS MÚSICOS INTERPRETAVAM CLÁSSICOS DA BOSSA NOVA. NOITE QUENTE, BOA MÚSICA, ÓPTIMA COMPANHIA.Rui de Noronha Ozorio 88 // www.IDIOTMAG.com


A partir de certa altura, uma cantora se ergueu para a ribalta e, cheia de vontade e determinação decidiu cantar o Summertime. Quando me preparava para me emocionar com aquele momento meio hipster mas intenso ao mesmo tempo, eis que a senhora, que eu julgara cantora, decidiu mugir a letra, de tal forma que fiquei sem palavras. Mas foi graças a esta artista cheia de talento da nossa praça que peguei num flyer. E é aqui que começa a nossa história. Anteriormente foi apenas uma introdução rebuscada para, ao estilo barroco, ornamentar de estética e de grotesco este texto, porque fraco de tema. Este flyer anunciava a convocatória Porto Original. Achei o programa interessante, até porque estaria ligado a áreas mais radicais do desporto e mais alternativas da arte. Isto é, tínhamos Skates, Graffiti, Arte Urbana, Fotografia e Vídeo, Música, Teatro e Dança. Muito completo e com um texto que demonstra o objectivo deste acontecimento artístico: “Porto Original é um evento colaborativo, sem fins lucrativos, feito para jovens do Porto, que tem como objectivo dar oportunidade para que estes mostrem o seu talento nas várias áreas”. Até aqui tudo muito bem. O que escrevi anteriormente é mais uma introdução, porque este tema não vale mesmo a pena, mas tinha que “encher chouriços”.

Em certo momento, ainda a outra rapariga gemia em tom de vómito o jazz (agora completamente assassinado), olho melhor para o dito flyer e reparo que, em letras muito pequeninas, estava escrito o seguinte: Luís Filipe Menezes. De repente toda a arte foi instrumentalizada como arma de campanha eleitoral, com o intuito de promover uma fotografia política do candidato junto dos artistas. Que conveniente seria ter os artistas do seu lado. Afinal isto tem fins lucrativos e o lucro chama-se urna; afinal isto não foi feito para os jovens mostrarem talento, mas para revelar o talento da campanha e consequentemente concretizá-lo em mais um voto. Este senhor, responsável pela mega dívida de Gaia, quer vir brincar para o Porto e, para isso, trata a criatividade como algo que não será livre naquele momento, como algo que está cativo e manchado com o compromisso. Os artistas não acreditam em política. A sua política faz-se de cores (não partidárias), de luz, de sombra, de versos e cantigas e essa não é a praia de Menezes. Aquilo que os políticos chamam de Porto Original, os artistas chamam de Mesquinhice Natural! Esta convocatória está marcada para o dia 21 de Setembro. Quem estiver interessado lembre-se que este tema não teve interesse nenhum… e agora exclamo: Absolutamente Nenhum! //

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Rui de Noronha Ozório

OS PORTUGUESES SEMPRE SE HABITUARAM A UM MAU JORNALISMO, FOSSE PELA QUANTIDADE DE ERROS SINTÁCTICOS, MORFOLÓGICOS OU ATÉ SEMÂNTICOS, FOSSE PELA QUANTIDADE ASSUSTADORA DE NOTÍCIAS SEM INTERESSE NOTICIOSO, FOSSE PELA OPINIÃO BÁSICA DOS PIVÔS QUANDO, EM TELEVISÃO, DECIDEM EMITIR TRATADOS DE CERTEZAS ABSOLUTAS OU SEREM LÍDERES DE OPINIÃO… TAL É O CASO DA VIOLÊNCIA VERBAL DA MANUELA MOURA GUEDES, DO IRRITANTE PISCAR DE OLHO DO RODRIGUES DOS SANTOS OU DA ARROGÂNCIA INSUPORTÁVEL DA JUDITE DE SOUSA. ESTES SERIAM A TAL ÉPOCA DE OURO DO JORNALISMO PORTUGUÊS, MAS O QUE, INFELIZMENTE, SE PERCEBE É QUE O OURO JÁ NÃO É O QUE ERA.

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Em meados de Agosto, assistimos, na TVI, à pérola jornalística que foi a entrevista a Lorenzo Carvalho pela digníssima e excelentíssima senhora Entrevistadora Judite de Sousa. Primeiramente há que dizer quem é este indivíduo que suscitou o interesse dos meios de comunicação social, ao ponto de não se falar de outra coisa. Até neste espaço de escrita ele está a ter o seu tempo de fama. Lorenzo tem 21 anos e é um jovem milionário brasileiro que ostenta de forma extravagante a sua riqueza, provinda dos negócios de pedras preciosas dos seus pais. Está há um certo tempo a viver em Portugal e, aquando do seu aniversário, decide gastar cerca de 300 mil euros numa festa e convidar, porque estamos no verão, a sua amiga Pamela Anderson que todos conhecemos por ser uma imagem muito ligada às caniculas e às reduções, ao mar e às… bem, ele trouxe-a e fez muito bem! Quem pode, pode… e ele pode! Este jovem que vive como quase todos gostaríamos de viver teve um problema: veio para Portugal. Portugal é um país de invejosos que nunca pensam com motivação. Imaginemos que um alemão está a passear com o seu amigo tuga e, a meio do caminho, passa, por eles, um Ferrari. O alemão dirá: um dia hei de ter dois destes; mas o português, ressabiado desde sempre, dirá: filho da mãe, havia de andar a pé como eu. Já não bastava ser alvo dum complexo de inferioridade lusitano, também foi parar, como já disse atrás, aos estúdios da TVI para uma entrevista com a senhora dona Judite “Moral” de Sousa que costuma fazer um brilharete ao pé do profeta Nostradamus, vulgarmente conhecido por Medina Carreira. Nesta entrevista, de má memória, este miúdo foi apelidado e adjectivado com as mais grosseiras palavras, os mais patéticos insultos e com a pior qualidade jornalística de sempre de toda a televisão portuguesa. Conseguiu, até, superar a infeliz e saudosa entrevista da Manuela Moura Guedes ao Marinho Pinto, o homem do bastão! Quem se julga esta senhora para decidir atacar, moral e violentamente, um rapaz sem estudos e com muito dinheiro, que investe em Portugal desde que cá mora. É assim que recebemos as pessoas? Dizendo que elas se vierem para cá não podem

ostentar o que têm nem viver a vida como podem? Fazendo de mãezinha salazarenta, promovendo as políticas governamentais da austeridade e da autoridade? Dizendo que o rapaz é fútil e que deveria ajudar os mais necessitados e o país que está doente? Se algum dia se lembrarem de fazer uma promoção internacional deste país e contratarem a Judite… preparem-se para ter uma crise no turismo, porque já se percebeu que entre ela e um repelente, a diferença está apenas no pacote e a do insecticida consegue ser mais apelativo. Passados uns dias da entrevista, ouvimos o frenético professor Marcelo justificar a atitude da senhora apresentadora Judite, como se ela não tivesse de pedir desculpa pela nódoa mediática que proporcionou. Dizia o senhor comentador e político laranja o seguinte: “A Judite é incisiva”. Será que o professor não percebe a diferença entre ser incisivo e ser mal-educado? Depois completou a sua justificação na defesa da sua companheira de Domingo, argumentando que a sua amiga estava irritada com o jovem por este ter uma concepção do dinheiro muito diferente da sua. E questiono-me novamente: e isso dá-lhe o direito de fazer o que fez? Ela que ganha a módica quantia de cerca de 30 mil euros mensais? Oh Judite e tu que fazes com tanto dinheiro? Ajudas alguém? Achas bem ganhares tanto num país que atravessa uma crise profunda? Em resposta ao professor, a Judite admite que não esteve nos seus melhores dias, que foi uma sexta-feira negra em que o tom da entrevista foi desajustado e a duração demasiadamente longa. Com isto, ela não pede desculpa como ainda diz que o miúdo não merecia tanto tempo! De facto, não tinha de ter tanto tempo, nem ter tempo absolutamente nenhum. Chego, por fim, à conclusão que a senhora moralista que faz de pivô não conhece o código deontológico dos jornalistas ou ignora-o completamente. E como tal, fica a apresentar telejornais onde apenas se lêem os telepontos. E quando tem uma oportunidade, desequilibra-se e diz atrocidades pela boca fora, achando que está a fazer bom jornalismo. Mas o que ela faz, de facto, é uma bosta, uma bosta que deveria ficar conhecida como Jornalismo Judite, para não lhe chamar outra coisa! // CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 97


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COITADA DA JUDITE... QUANDO SE LEVANTOU DA CAMA NAQUELA SEXTA-FEIRA DE 16 DE AGOSTO, JUDITE DE SOUSA NÃO FAZIA IDEIA DE QUE ANTES DE O DIA TERMINAR AINDA IA ARRANJAR MANEIRA DE SER CHACINADA PELAS REDES SOCIAIS LUSO-BRASILEIRAS. PARA QUEM PERDEU MAIS ESTE GRANDE MOMENTO TELEVISIVO DO JORNAL DAS 8 DA TVI, QUE ULTIMAMENTE SE TEM ESPECIALIZADO EM ACABAR COM A CARREIRA DOS SEUS PRÓPRIOS JORNALISTAS, PASSO A RECAPITULAR: Mariana Ribeiro Lemos Lorenzo Carvalho é um jovem milionário de 22 anos de origem brasileira com uma costela portuguesa. Ao que consta, a riqueza da sua família teve origem no negócio das pedras preciosas iniciado pelos avós maternos ainda no Brasil. Para infortúnio de Judite de Sousa, Lorenzo muda-se para Portugal (terra dos avós paternos) no ano passado trazendo com ele a mulher e filho acompanhados de um grande desejo de esbanjar dinheiro à maluca. Lorenzo tem tudo, carros, casas, amigos, mulheres, mau gosto e muito, muito dinheiro. Se tudo isto já é um pouco irritante para quem como nós passa o dia a contar tostões para ir comer uma tosta mista e um Compal no café da esquina; para alguém como Judite de Sousa com uns míseros 24 mil euros por mês e muito pouco sentido de humor foi a gota de água. Judite perdeu a paciência, anos e anos de jornalismo para aturar putos ricos de vida fútil ainda por cima a uma sexta feira.. Sem papas na língua Judite torna-se no Martin Luther King dos portugueses atacando o capitalismo com tanto ou mais afinco que alguém que recebe o indexante de apoios sociais (“salário mínimo” prós amigos). Eu pessoalmente não tenho nada contra ser jovem , azeiteiro e rico.. Aliás, tirando o azeiteiro ,

até é uma iniciativa a que dou todo o meu apoio mas temo pela sanidade da Judite de Sousa.. Ela já deveria saber bem que não se pode atacar assim um brasileiro; eles são mestres na arte da comiseração, rapidamente passou de privilegiado a vítima de violência verbal. Oh Judite onde te foste meter... Corre! Pega nos 24 mil e corre enquanto podes! Mas não... No fundo a culpa não é apenas tua; a que nível desceram os nossos telejornais que o simples facto de um brasileiro rico ter vindo viver para Portugal constitui tempo de antena em horário nobre? No entanto a entrevista não foi de todo justa mas a vítima nunca foi Lorenzo. Muito pelo contrário, ele dominou a opinião pública logo desde o início. A sério, assistam de novo à entrevista, em 14 ou 15 minutos a palavra “Deus” foi utilizada (que eu tivesse contado) 5 vezes por Lorenzo e a expressão “de coração” 6 vezes contra as 0 vezes de Judite. E que palavras utiliza ela então? Só coisas negativas e horripilantes como “fome”, “desemprego etc...” portanto temos Lorenzo – 11 Judite – 0 e quando pensamos que a entrevista está a acabar, Lorenzo ainda atira o golo de ouro com a frase “Eu adoro crianças!” Como se pode competir com isto? Judite, descansa não havia nada que pudesses fazer. // CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 99


O BLOCO DE ESQUERDA, DESDE A SUA FUNDAÇÃO, TEM PRESENTEADO O PAÍS COM QUESTÕES FRACTURANTES, TAL É O CASO DO CASAMENTO ENTRE PESSOAS DO MESMO SEXO, A CO ADOPÇÃO POR CASAIS DO MESMO SEXO, A DESCRIMINALIZAÇÃO E LIBERALIZAÇÃO DO ABORTO, A IGUALDADE ENTRE OS GÉNEROS E MUITOS OUTROS ASSUNTOS QUE, ATÉ À DATA, ERAM UMA ESPÉCIE DE TABU MORALISTA DA SOCIEDADE ABURGUESADA. TODO O MÉRITO!

Rui de Noronha Ozorio 100 // www.IDIOTMAG.com


De repente, eis que salta para a praça pública uma questão, desta vez nada fracturante mas muito desinteressante: A criminalização do Piropo, como fazendo parte de um ataque à integridade de quem o ouve e, também, como sinónimo de assédio sexual. Ficamos todos a pensar… mas por que raio se lembraram disto? Não percebem que o piropo é uma graçola que não ofende? Não percebem que assédio sexual é uma área escura bem mais complexa que o piropo do trolha do 5º andar. E, vendo bem, o piropo até tem algo de poético e imaginativo, de metafórico e de colorido. Mas é melhor nem dizer isto porque ainda criam uma comissão de censura a alguns poemas de alguns grandes poetas da nossa praça. Mas já agora, caso isto vá para a frente com a seriedade que o Bloco lhe quer dar, então nessa altura quero denunciar duas Prostitutas ali do Marquês de Pombal porque, para além de me terem cravado um cigarro, ainda me tentaram levar com meia dúzia de piropos ordinários e a troco do papel verde do capitalismo. Voltando ao tema em concreto, percebemos que os bloquistas estejam contra o piropo. Na realidade, quando uma bloquista passa por um prédio em obras é natural que não ouça coisas tão bonitas como “Oh estrela queres cometa?”, ou então “Oh flor dá para por?” ou até aquela maravilhosa manifestação de afecto “A tua mãe devia ser uma os-

tra para cuspir uma pérola como tu”. E não ouve estas palavras doces porque não é uma estrela, porque não é uma flor, porque não é uma pérola, mas mais uma militante ressabiada que vê porcaria em todo o lado, que vê machismo em qualquer frase dita por um homem. Para esta gente complexada do Bloco, o mais importante é vitimizar tudo e todos e conceptualizar atitudes. Antes um miúdo apalpava uma colega e diziam que era malandrinho, hoje dizem que ele exerce Bullying! Antes um trolha dizia um piropo, hoje dizem que comete assédio sexual! Há neste bloco algo de sério e de ridículo, de vanguarda e de intolerância, de democrático e de ditatorial. Há neste bloco muita gente que parece parva com teses tão mesquinhas e inadequadas. Um dia destes andam a discutir a proibição das outras ideologias contrárias às suas, dizendo que tais barbaridades deveriam entrar no catálogo dos crimes contra a humanidade. Enfim, nem sei o que diga mais sobre esta matéria, mas um dia que me ouçam dizer, enquanto o Semedo passa - “nunca te foram ao cu,/ nem nas perninhas, aposto!/ Mas um homem como tu,/ lavadinho, todo nu, gosto!” – então nessa altura, para não ser preso e cantar a minha defesa, terei de dizer que não era um piropo, mas um poema de António Boto… que, felizmente, ainda não é crime dizer Poesia em Portugal. //

CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 101


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