Idiot Mag n.28 JUN.14

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6 EDITORIAL Um Revirar de Olhos 14 ATUALIDADE Sem Título n.1 24 ATUALIDADE Imaginarius 34 CINEMA 38 DESIGN Suricata 46 ATUALIDADE Atelier CTRL 54 INTERVENÇÃO Dejá Vu? 62 PROVOC’ARTE Euro Pia

10 VROTEIRO + VER, OUVIRE LER 16 ARTISTA DE CAPA Aline Fournier 28 PHOTOREPORT Love & Light 36 IDIOTAS AO PALCO 42 ELETRÓNICA Festival Forte 50 HOMO’GENEO (Des)Maio 58 INTERVENÇÃO A Agenda do Senhor Morais 65 GUIA De Um Jovem...

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Direcção: João Cabral // Nuno Dias Textos: Ana Meira Ana Catarina Ramalho Ana Luísa Carvalho Bernardo Alves Carolina HardCandy Mariana Vaz Nuno Dias Nuno Di Rosso Ricardo Branco Rui de Noronha Ozório Tiago Moura Tish Estagiarios: Ana Santo Andreia Carvalho Diogo Moreira Gonçalo Ribeiro Rui Castro Design: João Cabral // Nuno Dias IDIOT, Gabinete de Design® Capa: Aline Fournier Fotografia: Aline Fournier Lígia Claro Video: CTRL N Rita Laranjeira Todos os conteúdos são da responsabilidade de: IDIOT, Gabinete de Design ®

Cada redactor tem a liberdade de adoptar, ou não, o novo acordo ortográfico (*) NENHUMA ÁRVORE FOI SACRIFICADA NA IMPRESSÃO DESTA MAGAZINE!

www.IDIOTMAG.com IDIOT@IDIOTMAG.COM CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 3


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Nuno Dias


UM REVIRAR DE OLHOS 1H45, TERÇA FEIRA. ESTOU SOZINHO, FRENTE AO COMPUTADOR. COM TANTO PARA FAZER, OLHO PARA UMA PÁGINA EM BRANCO NO WORD, SEM INSPIRAÇÃO PARA ESCREVER. A CHUVA LÁ FORA ESCONDESE NA DENSIDADE DA ESCURIDÃO. PARECE UM FILME DE TERROR. O FRIO, POR SUA VEZ, ENCONTRA-ME COMO SE NUNCA ME TIVESSE PERDIDO DE VISTA. REFLEXIVO, PERCO-ME NUMA SEGURANÇA TÃO INCERTA QUE, INQUIETAMENTE, ME ASSUME OS PENSAMENTOS, TÃO INESPERADOS QUE NÃO ME DÃO SOSSEGO. MAS NÃO ME SINTO SÓ. LEMBRO-ME DO TEU SORRISO. ESSE CLICHÉ QUE TANTO FALAM. NÃO O RECONHEÇO APENAS PELO GESTICULAR DOS LÁBIOS, MAS PELA FORMA QUE ME OLHAS. OLHOS ABERTOS, QUE ME PENETRAM COMO SE ME CONHECESSES DESDE SEMPRE. QUAIS SEGURANÇAS INCERTAS, QUAIS INQUIETUDES DESPROVIDAS. ESQUEÇO-AS, NUM MURMÚRIO DE SINCERIDADE DE QUE NÃO ME PRIVAS. MAS É ESSE REVIRAR DE OLHOS, TÃO PRÓPRIO, TÃO SEGURO, QUE ME RECLAMA MIL EMOÇÕES, MIL PENSAMENTOS. BONS, RECONFORTANTES, LIVRES E ACOLHEDORES. ESSE REVIRAR DE OLHOS QUE ME FAZ ESQUECER O TEMPO. ESSE REVIRAR DE OLHOS QUE ME LEVA A PENSAR “FINALMENTE SINTO-ME EM CASA”. E COMO ME SINTO EM CASA, ESTE MÊS ENTREGAMOS A CAPA À PRATA DA CASA: DA SUIÇA PARA O PORTO ALINE TROUXE-NOS TODA A SUA ARTE E, QUASE COMO COINCIDÊNCIA, FOTOGRAFOU A NOSSA OUTRA FOTOGRAFA PREFERIDA. A VIDA É FEITA DESTAS COISAS, PEQUENAS SITUAÇÕES QUE NOS AQUECEM O CORAÇÃO E QUE NOS FAZEM FELIZES. // CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 7


http://www.monikaarijaodobasic.com/ Ari https://www.facebook.com/ari.odobasic?fref=ts



Ana Catarina Ramalho

A partir de junho as escolas de teatro do Porto têm assento no Teatro Nacional de S. João, este é inaugurado no dia 11 de junho com o Projeto de Formação em Contexto de Trabalho dos alunos do 2º ano de Teatro do Balleteatro, Tirésias. Até dia 13 de junho, com direção de Nuno M Cardoso. No dia 13 de junho e até dia 29 do mesmo mês é a vez d’O Regresso a Casa, de Harold Pinter e encenação de Jorge Silva Melo. O Teatro Nacional de São João recebe João Perry numa peça que promete ser fabulosa, ou não fosse da autoria de um dos dramaturgos mais brilhantes da história do teatro inglês. Em junho, performers e artistas são ainda convidados a surgir no Mosteiro São Bento da Vitória através dos eventos preview MAP/P e xCoAx 2014, sendo este último um programa de concertos e performances em que irá ser estudada a interligação entre a computação e as artes. 10 // www.IDIOTMAG.com

SINN SANDWICH Estás entre amigos e não te apetece estar a jantar nalgum local cheio de pessoas? O Sinn Sandwich é a resposta para esse momento. Perto da travessa da Cedofeita, o Sinn tem um ambiente calmo, que nos permite degustar calmamente da nossa sandwich. Um jantar descontraído e intensamente saboroso. A não perder!

Até dia 24 de junho, no Museu de Serralves, estará patente uma exposição de Mira Schendel (1919-1988) uma das mais importantes artistas da América do Sul. //


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TV. True Detective. A vida dos dois detectives Rust Cohle e Martin Hart numa cruzada/perseguição a um serial killer do Louisiana, durante 17 anos. Obrigatório ver. Nem que seja por Matthew McConaughey e Woody Harrelson. CINEMA. A Erva do Rato. Júlio Bressane (Tabu) inspira-se em contos de Machado de Assis para trazer para a tela a história de um casal que se conhece num cemitério, decidindo viver juntos para sempre.

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José James. Novo álbum (5º) de José James, “While you were Sleeping”, a sair no dia 10 pela Blue Note Record. Ninguém resiste.

Lanzarote - A janela de Saramago. “Livro concebido pelo fotógrafo João Francisco Vilhena, com textos dos Cadernos de Lanzarote, de José Saramago, a partir do seu encontro com o escritor na ilha onde José Saramago fincará as raízes que darão lugar à segunda parte da sua vida literária, numa profunda ligação com a natureza, qual regresso às origens, narradas n’As Pequenas Memórias e face à aproximação da velhice e da morte”. In Bertrand livreiros online. //Tish

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AQUELE MOMENTO EM QUE FUMAMOS UM CIGARRO E OLHAMOS PARA A BORRA DA CHÁVENA DO CAFÉ E O UNIVERSO SE DECLARA A NÓS. O MOMENTO EM QUE O TÍTULO DE UMA MÚSICA SE DESDOBRA NA JUSTIFICAÇÃO DA NOSSA EXISTÊNCIA. A EPIFANIA DE JUNTAR A FALA DE UMA PERSONAGEM DA NOSSA SÉRIE PREFERIDA E PERCEBER QUE UM LIVRO PODE SER ESCRITO SOBRE UM TEMA HÁ MUITO ESCONDIDO NO NOSSO SUB –CONSCIENTE. AH! OUTRA VEZ. CRIATIVIDADE OU INSPIRAÇÃO? Ana Meira

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Suprema manifestação do nosso ser. Expressão infinita dos nossos medos. Ruína total da ignorante felicidade. Consciência eterna do mundo a tons de cinza. Já que existes. Que sejas a melhor. Traz-nos prazer. Traz-nos alegria ou dor. Mas traz-nos extremos. Traz-nos sucesso e objetivos atingidos. Traz-nos resultados e vida. Existe para o meu bem. Existe para o meu mal. Transforma-te em tradução de mim e do meu ‘eu’ nos outros. Se existires, ao menos que sejas a melhor. Não sejas amena e simples, não sejas uma Frida sem Kahlo, nem um Hendrix sem guitarra. Não rebentes paredes para depois as reconstruires. Sê a pior. Arrasa com tudo. Sê tumultuosa e viril, feminina e fatal. Sê tola, não tenhas medo. De que é que te serve o medo? Para te imputar restrições, rédeas e hierarquias. Tu é que mandas. Eu viro-me para onde tu mandares. Mas, por favor, manda-me. Acaba com as noites bem dormidas e com a capacidade de lucidez. Mediana? Acredito que tenha que haver um equilíbrio, de ferocidade e serenidade, de genialidade e mediocridade. Mas, já dizia o outro, e muito bem, “dos fracos não reza a história”. Então ao menos acaba comigo e com o meu cérebro e com o meu coração. Dou-te tudo de mim. Mas tens que dar de volta. Porque não podes sair impune disto tudo. De ideias se cria o mundo. Será? De ideias está o mundo cheio. Realmente está. Mas as que são boas, aque-

las mesmo muito boas, essas sim. Essas conseguem abrir o Mar Vermelho e assassinar o JFK. É preciso um canal. Criar toda a gente cria. É preciso é pôr toda a miscelânea em prática. Com alma e coração e também muita destreza. Algum dom de oratória também não faz mal a ninguém. Porque não se esqueçam de uma coisa: se houver um grande argumento, não precisamos de grandes efeitos especiais. Bem, na realidade, sucinta e assertiva, apenas observamos que existem muitos criativos, aliás: existem todos os criativos. Todos criamos, bem ou mal, de forma espontânea ou contratada ou até as duas. Mas todos criamos alguma coisa diariamente. Até há quem crie pessoas! Então o que é que mede a criatividade? Ou a criatividade é imensurável e nós apenas medimos a qualidade do que é criado? Se assim for, de que adianta sermos “muito” criativos, quando quantidade não é qualidade e o que se quer é que, quando alguém crie, que crie alguma coisa obscenamente espetacular, ridiculamente maravilhosa. A todos nós nos passa uma coisa pela cabeça: atinge-me como um trovão. Parte-me ao meio e contigo traz a melhor ideia do mundo para dentro de mim. Pois é. Mas de raios e trovões só Zeus no seu Olimpo. É preciso trabalho. É preciso esforço, dedicação, suor e mãos na massa. Realmente a criatividade não toca à campainha, mas a romantização da criatividade é que mata o criativo. És-me tão querida que te escrevo na primeira pessoa, se pudesse até escrevia em todas, mas os meus Idiotas iam ficar chateados. //

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O QUE Nテグ SABES SOBRE

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ALINE FOURNIER É “ LAFOUINOGRAPHE“ - UMA CONTRACÇÃO DE “LA FOUINE” ( FUINHA, O ANIMAL SELVAGEM CONHECIDO PELA SUA CURIOSIDADE, COMO A ALINE) E “GRAPH”, DERIVADO DE FOTOGRAFIA.. ESTUDOU JORNALISMO E COM O DIPLOMA DO BOLSO PERCEBEU QUE JÁ ERA HORA DE TER A SUA INDEPENDÊNCIA, FAZENDO UM CURSO DE DESIGN DE MULTIMÉDIA. “ DEPOIS DISSO TRABALHEI SEIS MESES NUMA AGÊNCIA DE PUBLICIDADE E MAIS UM ANO E MEIO NUMA MULTINACIONAL RESPONSÁVEL PELA COMUNICAÇÃO PARA TODA A EUROPA. ESTAS DUAS EXPERIÊNCIAS DISSERAM-ME QUE NÃO SOU PESSOA DE TRABALHAR PARA UM PATRÃO E QUE ERA MESMO URGENTE SER FREELANCER”. Tish

Estas fotografias foram capturadas na visita de Aline ao Porto. Nesta à nossa outra fotografa Ligia Claro CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 17


https://www.facebook.com/ligia.claro.photography Ligia e Catarina

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Von Khaos

DE ONDE VEM Nasceu em Nendaz, Valais, Suíça, uma região selvagem. “Somos gente de carácter forte, e orgulho nas nossas origens. A má parte é que muita gente aqui nesta região tem uma mente muito fechada e nunca viaja. Quando saímos de casa, deixamos de existir para eles. Mas é uma boa equação. Tenho raízes fortes e é altura de descobrir o mundo e abrir a minha mente”. SOBRE A SENSIBILIDADE... “Tive uma doença quando tinha 3 anos e perdi sensibilidade auditiva. Não tinha irmãos e durante a minha infância fugi para os universos imaginários que criei na minha cabeça. Nunca perdi a minha imaginação inquieta até hoje e isso ajuda-me muito com a fotografia. E algumas pessoas dizem-me mesmo que vejo mais na profundidade, no 3 D por esta falta de audição”.

COMO TRABALHA A SUA PAIXÃO Teve aulas de fotografia analógica - “Sim, sou velha já”, diz sorrindo – e “amou”. Principalmente a “black room” onde passou tantas horas. Com o curso de multimédia aprendeu fotografia digital, trabalhando no Photoshop: “ A máquina estava lançada, nunca mais parei de fazer fotografia”, conta-nos. “Também aprendi muito sobre publicidade e marketing, conceitos, identidade, como atingir o público alvo, e isso influenciou-me muito no meu trabalho, hoje mais do que nunca”. Desde Janeiro de 2012 é fotógrafa a 100% e a maior parte dos seus trabalhos foram sobre fotografia publicitária para empresas e artistas, e trabalho de foto reportagem para os media e eventos privados. “ A parte mais importante de mim é o trabalho de fotografia com modelos, a criação de universos, viajar com a fotografia. “Não consigo ainda viver disso, mas estou a construir o caminho. Ser freelancer dá-me flexibiCULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 19


https://www.facebook.com/ligia.claro.photography Ligia

Atelier da Idiot 20 // www.IDIOTMAG.com


lidade suficiente para ter “empregos”, durante estes anos todos. Não sei se sou fotógrafa. A câmara é um meio, acho que sou mais uma artista que produz trabalho comercial para viver”. Trabalha essencialmente com luz natural e o menos possível em estúdio. A maior parte do seu trabalho é o “antes” ( procura de modelos, lugares, autorizações, temas, figurinos) e o “depois” na pós produção. “Tirar a fotografia em si é apenas 25% do meu trabalho”. O QUE FAZ QUANDO NÃO ESTÁ A FOTOGRAFAR “A fotografia consome o meu tempo todo. É uma paixão verdadeira. Quando posso, viajo, conheço pessoas noutros países e tiro fotografias com eles. Quando estou na Suíça, adoro passear nos Alpes, nas paisagens selvagens. Tenho a sorte de viver no Sul da Suíça, meia hora de carro e estou em Itália ou França”. MOMENTOS MEMORÁVEIS “Todas as fotografias são uma experiência fantástica e cheia de surpresas. Muitas vezes fotografo em sítios proibidos com mulheres que usam vestidos de noite compridos e saltos altos. É épico! A fotografia mais estranha que tirei até hoje foi com um pianista num

mês de Março. Toda aquela logística de cinco homens e um transporte para levar o piano! Estava muito frio e o pianista só conseguiu tocar dois minutos”, conta sorrindo. “Mas o resultado foi interessante”. Vejam aqui. https://www.facebook.com/media/set/ ?set=a.10150397472808731.36240 3.207039818730&type=3 AS SUAS INFLUÊNCIAS “A minha maior influência é o David LaChapelle e também Erwin Olaf”. AS SUAS INSPIRAÇÕES... “Tudo o que seja original. Pode ser uma pessoa, um estilo, uma decoração, uma ideia, um livro, um desenho. Sou muito curiosa e olho sempre tudo à minha volta. O poder da natureza é uma óptima inspiração. O homem não é nada comparado a isso”. … E EXPRESSÕES “Quero que as pessoas sintam algo quando olham para as minhas fotografias, e façam a sua própria interpretação. Deixo as minhas fotos abertas o mais possível, as pessoas podem ter várias interpretações para a mesma foto, dependendo da sua vida, dos seus sentimentos”. CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 21


1. Ligia // 2. Ligia e Ana // 3. Von Khaos

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O QUE QUER PARA O FUTURO “Adorava fazer mais fotografia artística e trabalhar com outros profissionais (maquilhadores, hairstylist, cabeleireiros, decoradores, estilistas) para um melhor resultado. Estou a ver se consigo ir viver para Nova Iorque uns meses, para encontrar novas possibilidades de colaborações”.


A EXPERIÊNCIA IDIOTA. E COMO AMOU O PORTO, CLARO. “Entendi recentemente a importância da promoção. Primeiro quando comecei a fotografia, estava escondida atrás de uma alcunha. Agora, adorava mantê-la mas é impossível se quero bons trabalhos e colaborações. Tenho de vender-me e o meu trabalho como uma marca. Faço-o na Idiot. Conheci a Idiot Mag através de uma modelo suíça que tem um primo jornalista no Porto. O mundo é mesmo pequeno! No mês passado, conheci os “patrões” e outros elementos da equi-

pa. Foi um prazer. É a segunda vez que venho ao Porto e estou impressionada pela inspiração e criatividade nesta cidade. Não compreendo os artigos da revista porque não sei português, mas acho visualmente muito interessante. É fresca, jovem, moderna e não convencional. Ser a artista convidada deste mês é um privilégio, estou muito orgulhosa. É importante para mim que este trabalho seja realizado no Porto. Conheci muitos modelos, de vários estilos e foi um prazer trabalhar com eles. Muito obrigada, equipa Idiot!” // CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 23


ONDE A TECNOLOGIA ENCONTRA A ARTE ERUDITA

VIDEOMAPPING, UM ESPETÁCULO PARA QUEM NÃO APRECIA A PARTE DE TRÁS DAS CABEÇAS DOS OUTROS. JÁ SE PASSOU UM ANO DESDE O ÚLTIMO FESTIVAL INTERNACIONAL DE TEATRO DE RUA DE SANTA MARIA DA FEIRA , VULGO IMAGINARIUS , O QUE INEVITAVELMENTE SIGNIFICA QUE ESTÁ NA ALTURA DE FAZER OUTRO. E ASSIM FOI. NO FIM DE SEMANA DE 23 E 24 DE MAIO, MAIS UMA VEZ, DEZENAS DE ARTISTAS (MAIORITARIAMENTE ESTRANGEIROS) CONVERGIRAM PARA A PEQUENA CIDADE CATELADA PARA ATUAR EM PÚBLICO NUM DOS MUITOS PALCOS ESPALHADOS PELAS RUAS. DIR-SE-IA QUE, SE ALGUÉM MAIS AFOITO PODERIA ATIRAR UMA PEDRA E TERIA GRANDES HIPÓTESES DE ACERTAR NUM ENTERTAINER DE LÍNGUA HISPÂNICA. texto e fotos: Mariana Vaz 24 // www.IDIOTMAG.com


Músicos, cantores, atores, trapezistas, mágicos, palhaços, dançarinos e outros que tais revezaram-se pelos vários cantos da cidade em performances que se sucederam quase ininterruptamente, com horário marcado. O problema dos espetáculos de rua é que determinam toda uma nova hierarquia de audiências, determinada não pelo poder económico mas sim pela altura de cada espetador. No meio da multidão, a maioria dos mortais acaba por imaginar o espetáculo pelo som, enquanto inspeciona a raiz do cabelo do vizinho da frente. Alcançar o grande público sem utilizar os meios de comunicação é algo a que o grupo Sinergias se tem dedicado e aperfeiçoado desde a sua criação em meados de 2010. E foi isso que voltou a repetir, desta vez com Santa Maria da Feira como pano de fundo. Trata-se de um coletivo de artistas portuenses dedicados a criar espetáculos multimédia interativos, em grande escala. A ideia nasceu com o projeto final do curso de “Music Technology” da London College of Music quando José Rui Veiga, hoje diretor artístico e Sound Designer no Sinergias, decidiu procurar

“uma vertente multimédia que refletisse o áudio que produzia num contexto gráfico e de maior escala. (...) com a simbiose de vários meios num projeto multimédia em que não pode existir um sem o outro”. Utilizar os sentidos, quantos mais melhor, mas sendo a visão a bênção que é, também aqui a projeção de vídeo em grande formato assume um papel central, mas, todavia, não preponderante. Através duma miscelanea de meios e tecnologias de comunicação como a fotografia, a dança, uns quantos sensores de deteção de movimento (motion tracking), a música ao vivo e a cenografia entre outros, o espetáculo ergue-se em toda a sua monumentalidade, torna-se interativo e, em menos de nada, instala-se como uma segunda realidade aumentada.

“...procuramos que sejam os performers e o público a fazer o espetáculo acontecer (...) a compreensão de que o som é feito de movimentos é essencial para perceber que, na mesma perspetiva, os movimentos são parcialmente feitos de som.”

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Desde espetáculos artísticos, como o homónimo “Sinergias” apresentado nas Noites Ritual nos jardins do Palácio de Cristal no Porto, a experiências educativas e até mesmo institucionais, como é o caso da instalação criada para o museu do Futebol Cube do Porto, de tudo o Sinergias tem feito; contudo, cada caso pede uma linguagem e nível de interação diferentes. Este ano o grupo estreou-se no “MEO imaginarius” em Santa Maria da Feira, aliciado pela Câmara Municipal e pela Feira Viva para comemorar os 500 anos do Foral de Terras de Santa Maria da Feira. Assim, às 12 badaladas dos dias 23 e 24 de Maio, a fachada da Igreja Matriz, mesmo no coração da cidade, palpitou como se não houvesse amanhã num espetáculo de luz, som e vídeo acompanhado de música ao vivo, visível por qualquer satélite que se preze. A ponte entre os diferentes meios é feita através da simbiose dos conhecimentos partilhados dentro da equipa. Estes X-men das artes foram convergindo, recrutados pelas necessidades específicas de diferentes projetos, e hoje compõem uma equipa coesa formada pelo ”crem de la crem” dos profissionais de cada área: motion design, animação 3D e programação de plataformas interativas (Hugo Silva, Mafalda Cruz, Pedro Matos, Pedro Pinto, Vitor Teixeira), design gráfico, comunicação audiovisual, fotografia e captação vídeo (Pedro Pinto, Pedro Matos), co-

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reografia, teatro e espetáculo (Mafalda Cruz, Cristina Novo). A estes elementos fixos juntam outros mais voláteis, conforme os caprichos de cada projeto. Trabalhar com interação implica lidar com a orgânica humana. Através da performance de músicos, cantores e dançarinos, etc, é possível acrescentar a dose exata de entropia necessária à criação do irrepetível. “…Mariana (a coreógrafa) compõe a banda sonora com os seus movimentos em tempo real, sendo um factor surpresa para todos os que presenciam a peça (para ela inclusivé). Desta forma sabemos que nunca haverá duas apresentações iguais.“ A experiência individual, enquanto em grupo, é a forma como o Sinergias pretende abrir portas ao inesperado e utilizar este novo conceito para promover o gosto pela arte e pela tecnologia, assim como pela experimentação, pela criação e pela investigação. “De futuro gostaríamos de articular e intermediar as artes com outras áreas setoriais, designadamente a educação, a ciência, a tecnologia, ambiente e o sector paisagístico/urbanístico, o turismo-cultural”.


Através deste conceito ainda pouco praticado em Portugal, o Sinergias procura também exercer um papel social, dinamizando a oferta artística, cultural e educativa por todo o país “promover o gosto pela qualidade de vida – a cidadania- qualificar as populações através da descentralização e dinamização da oferta artística e cultural corrigindo alguns desequilíbrios regionais.” Numa cultura em que cada vez mais nos esquecemos que para ver 3D não é preciso colocar óculos especiais, este conceito vem mostrar que não é necessário demonizar a tecnologia para voltar a sensibilizar o público para a importância da realidade. //

texto e fotos: Mariana Vaz CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 27


LOVE AND LIGHT ABEL BRANCO

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“O meu projecto “Love Hand Light Photography” teve início no ano de 2012 após uma viagem pelo Sul da Índia. A fotografia era algo que me fascinava desde cedo, e após uma breve passagem pelo Design Gráfico, decidi dedicarme inteiramente à fotografia.

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Quando regressei dessa mágica viagem, após um ano, decidi seguir com este projecto para a frente! Peguei não só nas fotografias dessa viagem, mas também em todas as que tinha guardadas e com as quais ainda não tinha feito nada!

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Depois decidi partir para o Sul de França, onde também tive a oportunidade de seguir o meu sonho. Este mês inaugurei umas exposição no Porto, na Associação Casa da Horta, e espero que muitas outras se avizinhem...

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Apenas gostava de vos mostar e falar um pouco das minhas experiências e do meu trabalho, e espero que gostem...” //

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DEBAIXO DA PELE Jonathan Glazer (2013)

Uma imagem que não é muito explícita acompanhada de alguém que ensaia fonética humana – como quem aquece antes de actuar – o ruído e a banda sonora dramatizam a chegada do novo alienígena ao planeta e depois o silêncio. Debaixo da Pele é uma mistura de documentário e ficção protagonizada por Scarlett Johanson que procura encontrar algumas respostas para a questão do que é afinal ser-se humano. Scarlett é um ser extra-terrestre que caça homens solitários pelas ruas e paisagens sombrias, húmidas e enevoadas da Escócia. O plot tinha tudo para correr mal, mas acabou por se tornar num dos mais originais filmes dos últimos anos. Ainda que tenha trabalhado anteriormente com Nicole Kidman e Lauren Bacall no seu The Birth, é com este filme que Johnathan Glazer ganha a sua notoriedade ao trazer até às salas uma verdadeira experiência cinematográfica que se agarra à nossa mente e que continua a surpreender para além do seu visionamento. Debaixo da Pele é um filme que desconstrói algumas das formas do cine-

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Crítica por:

Ricardo Branco

ma e se torna original e irreverente especialmente pelo seu trabalho de luz e também pelo seu silêncio. Scarlett Johanson está verdadeiramente deslumbrante neste papel que nos recorda que ela é, sem dúvida, uma boa actriz e em que podemos ver o seu corpo para além do habitual – a exploração de movimentos e partes corporais do ser humano tal como o pensamentos sobre as emoções vão pedir uma reflexão por parte do espectador que vai ter de dar também de si a este filme em que não existe uma conclusão ou resposta directas. Será - de certeza - daqueles casos ambíguos, mas deliciosos de algo que se adora ou se detesta. //


SÓ OS AMANTES SOBREVIVEM Jim Jarmusch (2013)

Estamos no ligeiramente no futuro num cenário semi-apocalíptico em que o sangue dos humanos já não é puro e os vampiros estão a morrer à sede. A paisagem, a cor e banda sonora são realmente bonitas. Só os Amantes Sobrevivem é o mais recente filme do Jim Jarmusch protagonizado por Tilda Swinton e Tom Hiddleston como vampiros que não matam humanos, mas que estão prestes a ficar sem reservas de sangue e a morrer lentamente. Apaixonados pela vida e amantes de séculos, continuam a ter os seus problemas conjugais: estes Adam e Eve que nos remetem para o primeiro casal do mundo como uma referencia que generaliza a relação que o filme nos apresenta – arrumando-a juntamente com muitas outras refe-

rências eruditas e ocas com que nos deparamos ao longo da longa-metragem e que acabam por não passar de meros caprichos do realizador conhecido por Café e Cigarros. Tilda Swinton está belíssima e arrebatadora como só ela consegue concretizar e o universo que o filme cria deixa-nos envolvidos e entregues ao ecrã até sentirmos que a certa altura a narrativa nos embala simplesmente com a sua direcção vã e perdida. Uma metáfora bonita para uma perspectiva de um futuro mundo semi-apocalíptico onde a água estará quase toda contaminada e o ser humano traficará água potável até à sua extinção e consequentemente, até ao desaparecimento de quase toda a vida no planeta. Ainda que tenha estreado em Novembro passado no Lisbon & Estoril Film Festival, o filme chega finalmente às salas de cinema já no próximo dia 12 de Junho. //

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O MÊS DE JUNHO COMEÇA COM O DIA MUNDIAL DA CRIANÇA E, EM JEITO DE CELEBRAÇÃO, O IDIOTAS DESTE MÊS VEM ENTREVISTAR UMA COMPANHIA EMERGENTE DA NOSSA CIDADE.

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Luís Trigo e Paula Silva Trigo são os elementos fixos da companhia ET7RA, o diretor da companhia/ator residente e produtora, respetivamente. «Os restantes membros são atores que colaboram connosco e que eu tento ao máximo manter, porque confio neles. E se a peça deixar que o seu perfil entre em cada personagem, claro», explica Luís. A ET7RA foi criada por volta de janeiro de 2009, quando Luís foi convidado para apresentar uma peça numa mostra de teatro infantil, tendo estado parada para voltar à ribalta em 2012, quando Luís se deparou com a falta de trabalho e decidiu, assim, arrancar


com uma companhia profissional de Gaia, local em que, até à data, ainda não possuía nenhuma. As crianças são, assim, o público com quem a companhia pretende interagir não só por «terem tudo à sua disponibilidade», mas também porque «o teatro, a dança ou a música devem fazer parte do seu crescimento, já que lhes dá um equilíbrio emocional e fazem com que entendam melhor as suas fragilidades». Assim, o trabalho da companhia tenta acompanhar o trabalho que é realizado na escola, na medida em que são os livros estudados que ganham vida e passam para o palco. Acabam por cativar a leitura da obra, «ajudamos a perceber a obra, a mostrar que afinal até pode ser bom ler e, sem dúvida, nos exames terão a tarefa mais facilitada porque têm uma ideia do que o livro quis dizer. A nossa missão torna-se mais difícil, mas mais gratificante», acrescenta o ator. O teatro acaba por ser esta espécie de extensão da escola, que acaba por ganhar uma outra importância na vida futura das crianças. Até porque muitos dos miúdos ficam fascinados pelo que veem, pelas personagens estarem ali, «viverem na sua escola, estarem ao lado delas e conversarem com elas no final, para tirarem dúvidas». Um dos melhores momentos para Luís é o sentimento de gratificação que surge no final de cada peça, principalmente devido aos olhares infantis que recebe no final, de agradecimento e admiração. «A sinceridade das crianças é algo que me

fascina», explica. Assim, uma das recompensas é este facto de terem dado àquelas crianças uma «lembrança boa e que, no final do dia, falem em casa do que viram e que ganhem gosto em fazer ainda mais de ‘conta’». Embora acompanhem as escolas, a verdade é que a companhia não se pode dar ao luxo de tirar férias. Aproveitarão esta pausa escolar, que virá já neste mês, para trabalhar em textos futuros, mas também aproveitam para retemperar energias para criar ainda melhores experiências. A companhia prepara-se agora para se dedicarem a um projeto para o público geral, para começarem a desenvolver a sua premissa «consideramos que o teatro deve ser pensado para todos, enquanto veículo de cultura e educação». Luís Trigo tem noção de que a cultura portuguesa está mal, mas é por influência da própria cultura, por isso quando menos se pensar no umbigo, mas mais no público a cultura tornará a ser importante. «A vida da criança é mais intensa do que se julga, é a infância que determina quem seremos no futuro. O teatro pode ajudar a criança a perceber os seus medos, a sua identidade, mas quem diz teatro, diz a arte, qualquer coisa que a faça estar de comunhão com o mundo». De pequenino se torce o pepino, já lá se diz na sabedoria popular, mas talvez seja esta a solução para tratar de um problema sem fim à vista. Educar as crianças para que a futura geração tenha gosto e orgulho na sua cultura. // Ana Catarina Ramalho

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DESIGN CIVILIZADO NA SELVA URBANA

DESIGN STUDIO


DEPOIS DO MAGALHÃES, E JÁ COM UMA NOMEAÇÃO PARA OS GERMAN DESIGN AWARDS E PRESENÇA CADA VEZ MAIS MARCADA NO PANORAMA INTERNACIONAL, O SURICATA DESIGN STUDIO DESTACA-SE NO RESSURGIR DA APOSTA NACIONAL NO DESIGN DO PRODUTO. Mariana Vaz

Já lá vão os tempos em que o bom design era italiano e desengane-se quem pensa que hoje em dia design português consiste em espetar andorinhas e corações de Viana em tudo o que é coisa que não mexe. “Atenta, vigilante e ansiosa”, é assim que Tiago Cruz designer e co-fundador deste projeto descreve não apenas o simpático animal ao qual roubaram o nome mas também a postura e mentalidade comum deste grupo de designers. O Suricata Design Studio aparece em 2011 através da iniciativa de Tiago Cruz, Afonso Cameira e Tiago Matos, três estudantes da Escola Superior de Arte e Design de Matosinhos que “com vontade e interesse em trabalhar nas mais diferentes áreas que o design oferece” decidiram formar o seu próprio projeto. Desde design de produto, mobiliário, design de comunicação, packaging, tecnologias da informação e comunicação até à impressão 3D. É com isto que trabalham diariamente face aos problemas, ora resolvendo uns ora inventando outros.

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“Tentamos fazer com que o design seja mais uma ferramenta para o melhor desenvolvimento futuro. Por isso apostamos sempre em empresas que sentimos ter a mesma ambição em desenvolver produtos inovadores, funcionais e versáteis.” Hoje, de cabeça erguida, costas esticadas e olhos no horizonte a Suricata perscruta para lá das fronteiras convencionais daquilo a que comummente se associa ao design. Após a trágica perda de Afonso Cameira e a saída de Tiago Matos segue agora Tiago Cruz com o apoio de Célia Santos o trabalho do coletivo. Versatilidade, rapidez, eficácia e qualidade não são só palavras utilizadas para preencher espaços em branco no currículo. Através de uma metodologia e ritmo de trabalho muito próprios, a Suricata tem vindo a garanti-las aos seus clientes já familiarizados com as diferentes fases do processo: Conceito, Desenho ilustrativo, Modelação 3D, Renderização e Visualização. Reeducar uma indústria para a qual o design está mais próximo de um autocolante “leve 2 pague 1” do que de um processo lógico e racional , não é tarefa para quem não prima pela paciência. Porém, as incontornáveis mais valias inerentes à inovação pela prática do chamado “bom design” têm-se mostrado o melhor persuasor no que toca à integração do designer como membro ativo no desenvolvimento de novos produtos. 40 // www.IDIOTMAG.com

A experiência do grupo no desenvolvimento dos computadores Magalhães é um bom exemplo do reconhecimento do design do produto no meio industrial português enquanto elemento identificativo e unitário para além de funcional: desde o conceito, à imagem, ao produto e até à embalagem “Na concepção, criação e desenvolvimento, de um produto, tentamos sempre conjugar o lado funcional e estético orientado pela relação que o utilizador pode ter com o objecto...” Num ato de respeito pelo utilizador, a versatilidade não impõe, sugere. Cada objeto pede a opinião e convida a ser usado “sem esquesitices”, como tiver de ser.. . O resultado são objetos cuja simplicidade da relação forma / função proporcionam a falsa sensação de que poderíamos ter sido nós a pensar naquilo. A multibanqueta , projeto nomeado para os German Design Awards encar-


na um desses irritantes momentos. Produzido e comercializado pela empresa Wewood Portugueses Joinery é um tributo ao proverbial “banco corrido” português, omnipresente na história como complemento de mesa e “facilitador de interação” entre pessoas em tascos, cantinas e tabernas. Enquanto perpetua um dos mais marcantes valores nacionais, esta banqueta multifunções preenche o papel de tabuleiro, mesa de apoio, escadote... adaptando-

-se a cada situação e utilizador. Da mesma forma, o candeeiro “I DO” conquista pela polivalência com que se entrega às nossas mãos e caprichos onde até a cor do cabo elétrico pode variar com o estado de espírito. Assim se estabelece uma estreita relação com o utilizador ainda mais exacerbada pelo caráter tradicional dos materiais, texturas e métodos de fabrico que de uma maneira sincera e despretensiosa nos conectam ao objecto. //

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SE REGRESSARMOS AO FUTURO (FRASE QUE SERVE DE MOTE AO NOVO FESTIVAL FORTE), VINDOS DE 1969, AO VOLANTE DE UM DELOREAN, E INTRODUZIRMOS A DATA 4 DE OUTUBRO DE 1997, COM DESTINO CASTELO DE MONTEMOR-O-VELHO, E LIGARMOS DE SEGUIDA O CAPACITOR DE FLUXO, ACELERANDO O VEÍCULO ATÉ ÀS 88 MILHAS POR HORA, VAMO-NOS DEPARAR COM UMA MULTIDÃO ONDULANTE DE VESTES COLORIDAS CALÇAS DE XADREZ, BOTAS ESTRANHAS DE SOLA ENORME, CASACOS DE PELO, ÓCULOS ESCUROS PARA DISFARÇAR OLHARES MEIO TRANSVIADOS - A DANÇAR TECHNO. SE NO MESMO DELOREAN MARCARMOS A DATA 28 DE AGOSTO DE 2014 E O MESMO DESTINO, ENCONTRAREMOS UMA MULTIDÃO ONDULANTE, AGORA COM VESTES MAIORITARIAMENTE DE COR ESCURA, A DANÇAR TECHNO. Nuno Di Rosso

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O Forte, que se estreia este ano no calendário festivaleiro, quer trazer de volta a Montemor-o-Velho a música de vanguarda e o movimento electrónico, concretamente a este castelo, que provavelmente detém o recorde de festas numa infraestrutura deste tipo em Portugal, e que está indelevelmente ligado à história da música electrónica no nosso país. A Idiot é parceira do certame, por isso, vamos dedicando nos meses que precedem o evento, várias iniciativas a ele ligadas, com passatempos incluídos. Por agora apresentamos o cartaz, que é maioritariamente virado para o techno. Senão vejamos: Expander & Thinkfreak, David Rodrigues, Kinetic, Manu, Miguel Soares & Pedro Pimenta, que serão os representantes nacionais mais óbvios da estética desenvolvida entre Detroit e Berlim; Twofold e João Maria, aqueles que ficam na fronteira; e a destoar, os dois Ruis do cartaz, Trintaeum e Vargas, que se encontram mais ligados ao house. Quem segue esta cultura sabe que David Rodrigues é figura de proa na sua Coimbra natal, e que Expander descobriu Thinkfreak, e que editam na Soniculture de Expander, amiúde. Sabe também que Trintaeum é programador do bar da Casa da Música, facto que tenta esconder, e que foi a mente por trás de muitas noites de sucesso no pequeno/ grande 31 na Foz. E que Vargas é residente e programador do mais importante clube nacional (não é o Benfica nem o Porto), chama-se Lux, e ainda tem tempo para realizar um programa de rádio imperdível na Antena 3, ele que faz rádio há muitos anos. Alguns lembrar-se-ão de Casa, Bateria e Baixo na Voxx. De João Maria sabemos que é patrão da

Assemble Music, que já editou EPs de gente tão distinta como Villalobos ou Maayan Nidam, e é ainda programador do Ministerium e do palco electrónico dos festivais da Música no Coração. Para quem não segue este movimento cultural, posso afiançar que o contingente internacional do cartaz é maioritariamente composto por artistas que se movem dentro desta linguagem. De Oscar Mulero, figura incontornável deste estilo no país vizinho, a Billy d’Alessandro, norte-americano que é outro nome forte no panorama editorial da Soniculture, passando por Rødhåd e DVS1, figuras em ascensão no panorama techno internacional, chegamos aos cabeças de cartaz, aqueles que te fazem, ou não, sair de casa. Sven Väth, dono da Cocoon e um dos melhores djs do mundo, tem que ser destacado por andar nisto desde meados dos 80, por ser um impulsionador da música electrónica como um todo, e, acima de tudo, por transmitir uma energia inconfundível, pela paixão que põe em todos os projectos que se envolve. Vai ser decerto uma das grandes actuações em Montemor. Se Väth é o rei, podemos considerar Ben Klock o príncipe. Detentor de uma técnica impar, foi até capaz de ensinar algumas coisas a Nina Kraviz, e vai decerto electrizar todos com o seu techno vibrante e musculado. Ainda na vertente dj set, não poderia deixar de apontar como obrigatório o set de Michael Mayer, fundador da Kompakt e umfreestyler por excelência. A capacidade de cruzar várias fronteiras dentro da electrónica num set é sem dúvida a sua maior arma, arma essa que faz com que seja venerado em muitas pistas de dança por esse mundo fora. CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 43


Quanto às apresentações ao vivo destaque óbvio, pela raridade, para os Minilogue com Mathew Jonson. Será o momento Live Aid do festival, ao juntar dois nomes incontornáveis do techno mais melódico e viajante, numa só actuação. Imperdível. Outro live em destaque é o do brasileiro Gui Boratto, M-A-C-H-I-N-E-S é o nome da actuação, que consiste na sequenciação de uma amálgama de máquinas analógicas, tendo o improviso e a experimentação como cenário. Do Brasil chegam também os Elekfankt, dupla que vem do Blues, mas que se apaixonou pela electrónica, e que faz música que viaja entre o house a baleárica. A fechar o capítulo das actuações ao vivo temos Gaiser, artista ligado à Minus de Richie Hawtin. O objectivo do Forte é, segundo a organização, “cultivar um nicho de mercado relacionado com a música electrónica de qualidade, visto que não existem eventos de elevada dimensão com propostas baseadas nesta premissa” , referindo o Sonar em Barcelona e o Mutek em Montreal como referências. Nesta que é a primeira edição, salta à vista que o Forte não tem ainda a diversi-

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dade musical destes festivais, mas se olharmos para as primeiras edições dos mesmos percebemos que essa variedade foi sendo conquistada. Esperemos que num futuro próximo possamos ver na mesma noite artistas tão díspares como os que vi numa saudosa noite de 2005 em Barcelona: Cut Chemist, Luke Vibert, M.I.A., Miss Kittin, Soulwax, LCD Soundsystem, Richie Hawtin, De La Soul, Jamie LIdell ou Battles. // https://www.facebook.com/festivalforte http://www.festivalforte.com/


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O ATELIER-CTRL, MAIS QUE UM SÍTIO É UMA MARCA, É ESSENCIALMENTE UM CONCEITO ORIENTADO PARA MODA, ONDE É PRETENDIDO A MISTURA DE VÁRIAS VERTENTES ARTÍSTICAS.

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Tudo começa na criação de um manifesto escrito que se transforma numa narrativa acerca de um tema base onde assenta tudo o resto. Cada narrativa é ilustrada por uma pintura com o objetivo de a sintetizar, sendo mais tarde transportada, em forma de print, para uma coleção de roupa. Em cada peça está representada um capítulo de uma narrativa original, assim como um quadro e ainda uma música composta por um dos membros do Atelier, Lewis M., preparando assim o tema para os cinco sentidos. As séries são finalizadas por outros dois membros, André Landolt e Gererdo Burmester, com a idealização da imagem de cada série na forma de filme e fotografia. Na exposição iniciada a 17 de Maio, e com fim marcado para 20 de Junho, na galeria Cusq, é inserida a série Dithyrambos, a coleção Outono/Inverno de 2014 do atelier.

A exposição mostra o trabalho de pintura para esta série que tem no total de seis obras que foram desenvolvidas no ano passado. A Dithyrambos aborda o mito de Orpheus do ponto de vista existencialista e da busca pela criação pura. O Atelier-Ctrl, com todo o seu conceito criativo, está presente na criação da Idiot Store, a loja onde todos são idiotas, no Centro Comercial Bombarda. Podem ficar a conhecer mais sobre o Atelier-Ctrl no seu website: www.atelier-ctrl.com //

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Von Khaos https://www.facebook.com/zombieuterus?fref=ts


COMECEMOS POR CONSTATAR O ÓBVIO: MAIO FOI UM MÊS DE VISIBILIDADE LGBT. SE A LUTA PELA DESCONSTRUÇÃO DOS PRECONCEITOS É UM MOVIMENTO CONTÍNUO, MUITOS ESCOLHEM IGNORÁ-LA, VIRANDO A CARA COMO QUEM FINGE QUE NÃO VÊ O ELEFANTE COLORIDO NO MEIO DA SALA. MAIO TRATOU DA SAÚDE ÀQUELES QUE PREFEREM NÃO VER, NÃO FALAR, NÃO COMENTAR. FORAM VÁRIOS OS ACONTECIMENTOS QUE PUXARAM PELA LÍNGUA DOS PORTUGUESES E NÃO TARDOU ATÉ QUE SE DESTILASSE O VENENO DO COSTUME.

fotografia: Terry Richardson 50 // www.IDIOTMAG.com

texto: Carolina Hardcandy


A vitória de Conchita Wurst no Festival da Eurovisão foi o prato do dia. Um pouco por todo o lado as opiniões divergiam: alguns ficaram satisfeitos com o resultado, outros torceram o nariz pelas mais variadas razões. Chamaram-lhe trabalho do lobby gay, chamaram-lhe doença, chamaram-lhe até (e garanto-vos que li isto) “um insulto à figura feminina”. Thomas Neuwirth, mundialmente conhecido como Conchita Wurst, despertou tanta fúria com o seu sucesso que terá, segundo alguns líderes religiosos, provocado as cheias que assolaram os Balcãs. Graças a estas reações, houve quem achasse a vitória contraproducente, uma vez que esta teria despertado os homofóbicos que estavam, até então, adormecidos. Admito, foi uma pedrada no charco que veio agitar as águas e trouxe o lodo à superfície, mas não acho que isso seja mau. É bom sabermos com o que contar. É preciso lembrarmo-nos que, por detrás da postura de tolerância (e uso esta expressão com toda a carga pejorativa que ela comporta), o preconceito continua vivo e preparado para atacar a qualquer momento. Isto remete-me, claro está, para outra polémica do mês: a passagem do rapper Mykki Blanco pelo nosso país. O artista que, além de poeta e performer, é um dos principais nomes do queer rap americano e está na lista dos genderfucks mais famosos da atualidade, veio a Lisboa apresentar o resultado da sua

residência artística na Galeria Zé dos Bois mas foi detido ainda no aeroporto. O alerta chegou através da sua conta de Facebook: “I’m being arrested in Portugal for being gay”. Mykki precisava de vouchers para o táxi e perguntou a um polícia que estava no local onde poderia comprá-los. Quando a ajuda foi negada sem explicações, confrontou o agente, que lhe lançou “já te disse para ires embora, bicha”. Face ao insulto homofóbico, a sua resposta foi um “fuck you” que lhe rendeu uma detenção por desacato à autoridade. Depois de pagar uma multa de 600€, Blanco saiu em liberdade e teve de enfrentar o julgamento da opinião pública. Os portugueses foram rápidos a ditar as suas sentenças: mensagens de apoio, pedidos de desculpa, mas também ofensas e ameaças de morte com palavras como “linchamento” e “escravatura”. De modo a proteger-se do cyberbullying, Mykki bloqueou o acesso dos utilizadores portugueses às suas contas nas redes sociais e resumiu a situação no Twitter: “what happened to me in Portugal was very minor, but seemed to bring out every racist, fascist and nationalist in the entire country”. Alguns dos fãs portugueses que estavam a defendê-lo sentiram-se injustiçados pelo bloqueio geral e acabaram por virar-se contra o rapper, encarando o episódio como uma manobra de autopromoção. Do meu ponto de vista, trata-se de um caso CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 51


evidente de culpabilização da vítima. Mykki foi discriminado por um agente da autoridade que, para além de lhe negar ajuda, chegou ao cúmulo de insultá-lo. É certo que não foi obrigado a responder, podia ter engolido o sapo e seguido caminho, mas quem somos nós para decidir qual é a reação mais adequada? Numa situação limite como esta, parece-me natural que alguém que tem como mantra pessoal e artístico a luta pela igualdade perca a paciência e responda à agressão, sujeitando-se a arcar com as consequências. Na mesma linha de raciocínio, acho compreensível que, para proteger-se dos ataques, tenha cortado relações cibernéticas com os portugueses, mesmo que daí resulte a perda de alguns fãs. Acompanho o trabalho de Mykki Blanco já há algum tempo e este episódio só veio aumentar a minha admiração por ele. É costume dizer-se que a melhor forma de lidar com um bully é ignorá-lo, mas tenho algumas dúvidas quanto a este método. Não acho que tenhamos de aguentar os ataques como quem não os sente, na esperança de que o outro se canse. Mykki atacou de volta e eu, pelo menos, não vou censurá-lo por isso. Algumas notícias internacionais relataram o caso, apresentando o nosso país como um lugar perigoso para os indivíduos LGBT. É claro que compararmos a nossa realidade com a de outros países muito menos evoluídos nessas matérias fá-la parecer uma espécie de El Dorado da igualdade, mas porque haveremos sempre de nos comparar ao pior possível? Temos ainda muito que 52 // www.IDIOTMAG.com

crescer e é bom que o saibamos. Aprovamos os casamentos entre pessoas do mesmo sexo mas continuamos a negar-lhes o direito de constituir família. Aceitamos os LGBT mas continuamos a condená-los todos os dias, seja com uma piada “inocente”, um comentário maldoso ou um olhar de troça. Portugal ainda é terrivelmente homofóbico entre dentes, discretamente, para que não o condenem por isso. Maio foi também o mês em que a equipa do Sevilha venceu a Liga Europa e, durante a celebração, dois jogadores beijaram-se. A imagem do beijo de Ivan Rakitic e Daniel Carriço correu a Internet, gerando todo o tipo de piadas. Ou seja, um beijo entre dois homens conseguiu ridicularizá-los, torná-los alvo de chacota mesmo entre aqueles que supostamente os apoiavam. O jogador croata veio a público explicar que Carriço se tinha virado no momento em que ia beijá-lo na face e as câmaras captaram o acidente. E rematou, em tom de brincadeira: “Precisamos dele, por isso azar. Que posso fazer, matá-lo?”. A suposta “gaffe” rendeu ainda o prémio de Javardona do Ano à namorada do jogador português, que publicou no seu Facebook algo tão bonito quanto “Vão ma-


mar num granda caralhão quem é atrasado mental ao ponto de dizer que o Daniel é paneleiro”. A 17 de maio celebramos o Dia Internacional de Luta contra a Homofobia e Transfobia. Todos os acontecimentos que referi servem para lembrar-nos da importância desta data e da necessidade desta luta. Por cá, tivemos a quinta edição da Marcha da Luta Contra a Homofobia e Transfobia de Coimbra. Nos próximos meses virão as marchas de Braga, Lisboa, Porto e Açores. Todos os incidentes que aqui referi, todas as pequenas e grandes discriminações que continuam a ocorrer diariamente no nosso país mostram o quanto estas iniciativas são fundamentais - e eu, mais uma vez, vou juntar-me a elas. Vou marchar por mim, pelos meus, pela Conchita, pelo Mykki e por todas as pessoas cuja existência continua a incomodar muita gente. Havemos de incomodar até que o incómodo passe: se calhar é assim que se derrota um bully. //

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OS RESULTADOS DAS RECENTES ELEIÇÕES PARA O PARLAMENTO EUROPEU CHAMARAM A ATENÇÃO PARA O EUROCETICISMO QUE SE EXPERIENCIA ATUALMENTE, COM A PRESENÇA DOS PARTIDOS DA EXTREMA-DIREITA A FAZER-SE SENTIR POR TODA A EUROPA. PODERÁ ESTE SER O PRINCÍPIO DO FIM DA UNIÃO EUROPEIA? Tiago Moura

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Le Pen

Dos Balcãs ao nosso pequeno país, as recentes eleições europeias revelaram um profundo descontentamento com o estado do nosso continente: da vitóra do chauvinismo de Marine Le Pen, na França, e das políticas mais cínicas ao Espaço Europeu de Nigel Farage, na Grã-Bretanha e de Sinn Féin, na Irlanda, os eleitores pareceram, em geral, enviar um sinal de que estavam a questionar o modo como a Europa é governada. Com o Parlamento Europeu e o seu líder a possuir um maior poder no processo legislativo europeu, esta eleição teve uma importância significativa, tornando os seus resultados numa alarme para a fúria crescente dos eleitores europeus. Cinco anos de questões com a moeda única, dívidas e planos de austeridade, os resultados mostram uma Europa dividida, fragmentada, e com eleitores desencantados com os partidos de maioria, agarrando-se aos ideiais de partidos marginais (pequena revisão da matéria História do 9º ano: após a crise económica de início do século XX, foram exatamente as mesmas vozes “marginais” que deram uma nova esperança ao povo europeu. O resultado já todos sabemos). Apesar das elevadas percentagens de abtenção sentidas em toda a Europa (a média rondava os 50% em quase todos os países), um porta-voz do Parlamento Europeu descreveu os níveis de participação neste processo eleitoral como

históricos, afirmando que havia acontecido uma cisão entre os comportamentos eleitorais dos europeus. Contudo, com números da abstenção tão elevados, muitos contestam a validade das eleições e da instituição em si. Para uma parte da Europa, a vitória surpreendente de Marine Le Pen, na França, foi a mais chocante. A vitória de Le Pen, na França, a primeira vez que a Front National (FN) vence face aos partidos tradicionais franceses, numa grande eleição (François Hollande obteve 14% dos votos). Le Pen rapidamente definiu o voto como um sinal de apoio à sua política anti-imigração, utilizando o recente resultado do referendo suiço sobre o assunto para pedir o mesmo em território francês. A vitória de Le Pen fez-se sentir por todo o território francês, inclusive na costa ocidental, que até então tinha sido impermeável às suas políticas xenófobas e anti-Europa. O aumento no apoio vem das camadas mais jovens e do proletariado. Quando os resultados se tornaram evidentes, na noite de domingo, o primeiro ministro francês anunciou um terramoto no panorama social e comprometeu-se a restaurar o crescimento da nação. Hollande afirmou que a França não seria capaz de cumprir o seu destino enquanto nação curvando-se sobre si mesma e excluindo o outro (pequena revisão da matéria de História do 9º ano: o sentimento ou noção de o outro era associada muitas veCULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 55


zes aos judeus, que eram vistos como elementos separados da sociedade. O resultado já todos sabemos). O impacto imediato das eleições variará por todo o terrtório europeu: os resultados trarão renovada pressão para eleições antecipadas na Grécia e na Bulgária, a própria prestação de Marine Le Pen poderá ter consequências imprevisíveis no panorama político francês. Mas enquanto os principais blocos partidários europeus recuperam destes resultados, a atenção volverá sobre as alianças que serão formadas no Parlamento e na disputa pelos principais cargos em Bruxelas. Apesar da vitória triunfante do Front National, teremos de aguardar para ver se a sua líder conseguirá arranjar apoio de um número suficiente de partidos de países diferentes para assegurar um bloco nas votações do Parlamento. Isso requer, pelo menos, 25 membros do Parlamento Eu56 // www.IDIOTMAG.com

ropeu de sete nações distintas. Mesmo os resultados de nações que não votaram por partidos da extrema direita, tal como Portugal, a Eslováquia e a Roménia, são chamadas de aviso para o governo centro-direita que atualmente lidera. Na Grécia, os resultados a favor de Syriza são um claro protesto às políticas de austeridade implementadas, mas também aí se sente a insurgência da extrema direita com a Aurora Dourada, um partido neo-nazi, a eleger pelo menos dois membros do Parlamento Europeu. A tendência eurocética dos resultados para o Parlamento Europeu mostram um povo insatisfeito com a realidade governamental e, mais preocupante, desiludidos com os valores da União Europeia (pequena revisão da matéria de História do 9º ano: O resultado já todos sabemos). //


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CURTA-METRAGEM

“A AGENDA DO SR. MORAIS” CONTA A HISTÓRIA DE UM DIA NA VIDA DE BRUNO MORAIS, UM ADVOGADO, CONSELHEIRO E “CLEANER” QUE TRABALHA PARA MEMBROS DO CRIME ORGANIZADO. NUMA LUTA CONTRA O TEMPO, BRUNO TENTA CUMPRIR A SUA AGENDA, QUE INCLUI CHANTAGEAR UM AUTARCA, TOMAR CONTA DE UM IMPREVISTO E SILENCIAR UMA TESTEMUNHA. PARA O CONSEGUIR, ELE TERÁ DE ULTRAPASSAR VÁRIOS OBSTÁCULOS QUE COMPROMETEM O SEU CAMINHO. texto: Gabriela Sousa 58 // www.IDIOTMAG.com


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Esta curta-metragem é um projecto de um grupo de alunos do segundo ano de Cinema e Audiovisual da Escola Superior Artística do Porto. A equipa técnica conta com dez elementos responsáveis pelos diferentes departamentos e assistentes e uma equipa de onze actores profissionais e amadores. Tiago Cruz é o argumentista e realizador desta curta-metragem. Fascinado por histórias do mundo do crime, ele pretendeu criar uma história de acção com personagens controversas. O realizador inspirou-se no próprio pai que também se chama Morais e que também tem de percorrer longos caminhos de automóvel, todos os dias, para resolver os problemas da empresa para a qual trabalha. Este foi um projecto ambicioso para os meios que estes alunos possuem.

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Com limitações de material e períodos específicos para a sua utilização, o facto de a produção ser de baixo orçamento (para não dizer quase nenhum), e por esta razão, o facto de não ter fundos para pagar a actores, alugar espaços e modificá-los, comprar todos os adereços necessários, etc., foi um desafio e obrigou-os a serem realmente criativos para conseguir superar todas estas, e outras, objecções. Foi preciso coragem e persistência, muitas discussões (no bom sentido), muitos e-mails, muitas chamadas telefónicas e muita vontade de todas as partes envolventes que desde sempre acreditaram e deram força ao projecto. O filme encontra-se em fase de pósprodução e ainda não tem data ou local marcado para a estreia, mas

para saberem mais e se manterem a par de todas as informações, desenvolvimentos e novidades, assim como, entrevistas individuais de toda a equipa técnica, podem, e devem consultar a página de facebook ( ht t p s : // w w w . f a c e b o o k . co m / thenotebookofmrmorais) ou o blog (http://thenotebookofmistermorais. blogspot.pt/). Esta curta-metragem é um projecto de um grupo de alunos ambiciosos e trabalhadores, que não tiveram medo da elevada dificuldade de exequibilidade, comprometendo-se a conseguir o melhor resultado possível. Este grupo de alunos tem uma intenção, uma meta, um sonho: mudar o paradigma do cinema português e preencher salas de cinema com audiências satisfeitas. //

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MAIS UM DOMINGO, MAIS UM FIM DE FIM DE SEMANA EM QUE NADA ESTÁ AGENDADO, A NÃO SER, CLARO, AS HORAS A MAIS NA CAMA E O ALMOÇO NA HORA DE JANTAR! ESTE TÉDIO PODIA SER MAIS CRÓNICO E TRANSFORMAR AS ALMOFADAS NUMA ESPÉCIE DE COMPANHEIRAS DE VIAGEM. Rui de Noronha Ozorio Hoje é, afinal, dia de eleições para o parlamento europeu, que é como dizer, dia de praia, dia para ir ao centro comercial, olhar as montras e usar o cartão de crédito mentiroso. No entanto, não me apetece ver muita gente... por isso vou votar. O facto é que nenhuma escola está aberta ao Domingo, nem mesmo para o Sócrates nem para o Relvas (já nem se lembravam deste, aposto!). Depois de votar, sento-me a fumar um cigarro onde tantas vezes o fiz! Estudei nesta escola e, nessa altura, fazia coisas bem mais interessantes e pedagógicas do que isto que vim cá fazer hoje – eleger meninos mimados! Já em casa, assisto ao espectáculo eurovisionado em todos os canais, com a diferença que a Conchita Wurzt era a Judite de Sousa e a Música era outra bem diferente. Os resultados definitivos deram, em vez de vitórias e derrotas, uma catadupa histérica de discursos em que todos ganharam epicamente, menos o governo que falou, pelos vistos, numa derrota que já se previa (quais profestas da desgraça nada responsáveis por isso). O facto é que houve uma grande derrota, mas uma derrota da própria Democracia que conseguiu que um terço da população portuguesa fosse a uma escola ao Domingo. Pelo que vejo todos os dias, até que conseguiram muita gente! A sorte é que ninguém se comoveu com a história do Mário Machado, senão a esta hora tínhamos 21 deputados 62 // www.IDIOTMAG.com

portugueses ao Parlamento Europeu a gritar pelo Füher Adolfo! A cena é que Portugal é um país de meninos, porque em França eles foram muito mais ousados: conseguiram dar uma vitória esmagadora àquela senhora ariana filha dum ditador e de uma estrela da Play Boy! Isto sim, é pluriculturalista, é poliamor! Infelizmente, parece que a senhora sai ao Pai. Na Áustria, terra que viu nascer Divas como Hitler e a já citada Conchita Wurzt, esta última também responsável, segundo os líderes religiosos dos balcãs, pelas inundações divinas na região. Mas como dizia, na Áustria também ganhou a extrema direita! Em Portugal ganhou imensa gente, uma casa portuguesa com certeza. Houve ganhadores de todas as espécies: Ganhou o (In)seguro que, num laivo de orgasmo nervoso, exige eleições antecipadas e consegue: as que o vão substituir pelo Costa (o esperado Dom Sebastião dos Socialistas); ganhou o João Ferreira, que é o Dandy burguês do comunismo (só com semelhante paralelo no primo Bloco de Esquerda), e que pelos visto até tem trabalhado bem lá por Bruxelas; ganhou o Partido da Terra, na pessoa do homem do talho, disfarçado de Marinho e Pinto, um tal antigo bastonário conhecido por dizer umas merdas e fazer peixeiradas na televisão; ganhou o Bloco de Esquerda, ganhou o que os outros ainda não ganharam: Juízo! Lá vai a Marisa Matias sozinha para Bruxelas, mas sempre pode apanhar uma Boleia de Clio do Assis e do condutor Zorrinho! Queria também referir uma palavra ao POUS pela coragem de serem sempre os menos votados e estarem sempre com a mesma conversa! Em Portugal é uma festa e todos são aniversariantes! Poderia até falar só destes mamões, em especial do Assis que tem nome e cara de Santo, mas trabalhar não é com ele – diz o Diário Económico que foi quem menos apresentou relatórios e que mais falta de assiduidade teve.


Menino mau e rebelde. Poderia falar só deles, mas há que dirigir uma palavrinha ao Povo, ao Zé e à Maria que foram às compras naquele festivo domingo nas escolas. Olha Zé quero dizer-te que és um imbecil, um gajo sem vontades, um impotente! E quanto a ti, Maria... és feia e cheiras mal! Como é possível não participarem na Democracia que vos foi oferecida, votando em branco-cor-de-protesto? Como é possível haver Osgas menos peganhentas que vocês, haver Alfaces menos vegetais que vocês? Sinceramente, não sei! Mas é um facto! “Ah e tal, tínhamos de comprar uma retrete que o Zé precisava de fazer um xixi!”... Olhe, minha senhora, se quiser fazer um xixi com muita dignidade, vá à escola e mije na Euro Pia! //

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UM GUIA DE UM JOVEM FRACASSO PARA SE TORNAR NUM ADULTO EXCELENTE Crónica: Tiago Moura

MAIS VALE SÓ QUE MAL ACOMPANHADO: Eu gosto de estar sozinho. A Lykke Li tem uma música no seu novo disco, chamada Sleeping Alone, sobre a dificuldade em habituar-se a dormir sozinha, mas a verdade é que, não contabilizando alguns pormenores, eu durmo muito bem sozinho. Não vou contrariar a lengalenga que os aspetos mais saborosos da nossa vida sabem melhor partilhados, mas na minha experiência descobri um travo especial em reconhecer o prazer de estar sozinho. Eu gosto de caminhar sozinho, gosto de estar sozinho num jardim a ler ou a fazer nada e gosto de me pavonear em roupa interior pela casa fora ao som da Fancy. Tanto que, se tiver de escolher entre realizar estas actividades sozinho ou acompanhado, mais facilmente me aventuro só do que com alguém. Contudo, e como tenho vindo a descobrir, aprender a estar sozinho é uma situação completamente diferente a eleger estar só. Cada vez mais a totalidade do meu dia é passada em diálogo comigo próprio e, apesar de eu gostar imenso da minha pessoa, há momentos em que sinto falta de -- alguém. Há um ano atrás, eu passava o dia completo com a Kiki: trabalhávamos, estudávamos, encenávamos e íamos ao ginásio juntos e estar com ela (e saber da vida dela) era tão natural como estar sozinho. Comparável com a sensação descrita por JK Rowling, nos últimos momentos do quarto livro da sua famosa saga, quando o seu herói afirma encontrar aquelas pessoas cuja proximidade é tal que o silêncio é tão comunicativo como o seu contrário. Doze meses depois, e quando nos juntamos, acontece algo que raramente

acontecia: temos de nos situar na vida do outro. Normalmente, combinamos jantar e a primeira hora é gasta a contar as novidades. Depois, e durante o resto do serão, somos nós novamente, mas aqueles primeiros momentos são -- diferentes. - Então, novidades? - começa num qualquer momento após caloroso olá. Não sinto como sendo justo ter de ser convidado a entrar no mundo dela e vice versa, sempre que nos encontramos, quando nem há um ano partilhávamos o mesmo -- tudo. É um balanço estranho (ou falta de) que tenho notado: se, antes, eu ansiava pelo meu espaço e momentos a só, porque era uma pausa de algo que eu sabia que estava ali quando regressasse, agora acontece o contrário. Encontro-me num novo lugar-comum em que tenho de me esforçar para manter os meus amigos. Estas constatações fazem-me pensar se esse aparente isolamento aumentará quando sair de casa. Será que é isso que eu quero? Um sem fim de noites a ler e sem a possibilidade de ir à sala e ter quem com quem dar duas de letra? Eventualmente, terei de adotar um animal de estimação para combater o vazio ao chegar a casa depois de um dia de trabalho ou convidar amigos a passarem lá a noite para que não ter medo do escuro. A minha Mãe bem avisou que tomar este passo era mais fácil - a diferentes níveis - se o fizer acompanhado. Mais uma vez, ela poderá ter razão e eu terei de ceder a ela e começar a procurar não só casa, mas também alguém com quem partilhá-la. // CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 65


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