Idiot Mag nº24 FEV.14

Page 1

CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 1


6 EDITORIAL Em 2 Anos 14 ATUALIDADE Idiot Week @ Exponor 30 ARTISTA DE CAPA Vhils 44 ATUALIDADE Concentricum 49 IDIOTAS AO PALCO 54 TESTEMUNHOS 68 INTERVENÇÃO Praxe

10 VROTEIRO + VER, OUVIRE LER 16 PHOTOREPORT Idiot Mag: 2 anos 40 ATUALIDADE Como Definir um Idita 46 FILMES 50 ELETRONICA Alex FX 58 TABU? A Alcova de Patrícia 72 HOMO’GENEO Dura Lex Sed Lex

76 LA FOUINIGRAPHE 88 CRÓNICA Guia de Um Jovem...

2 // www.IDIOTMAG.com

84 PROVOC’ARTE Era Uma Vez A Sociedade


Direcção: João Cabral // Nuno Dias Textos: Ana Meira Ana Catarina Ramalho Ana Luísa Carvalho Bernardo Alves Bruno Manso Carmo Pereira Carolina HardCandy Flora Neves Mariana Vaz Nuno Dias Nuno Di Rosso Patrícia (Pseudónimo) Ricardo Branco Rui de Noronha Ozório Tiago Moura Tish Design: João Cabral // Nuno Dias IDIOT, Gabinete de Design® Capa: VHILS Fotografia: Aline Fournier Lígia Claro Video: Rita Laranjeira

Todos os conteúdos são da responsabilidade de: IDIOT, Gabinete de Design ®

Cada redactor tem a liberdade de adoptar, ou não, o novo acordo ortográfico (*) NENHUMA ÁRVORE FOI SACRIFICADA NA IMPRESSÃO DESTA MAGAZINE!

www.IDIOTMAG.com NUNO@IDIOTMAG.COM CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 3


or at

aM

d Re //

An

so

ei ra

an

M

// Re da to ra

ve s/ /R ed at or

a or at d Re //

lar o

z Va

ra

o

un Br

Al

a ian ar

ra fa

// Fo tó g

M

o ot m ro /P a/ us So

ia C

or at

Ti

sh

di // E d Re //

ia n Vâ

Líg

to ra

r to di

E // ra ou M

o

Nu n

Di as

// Di re to r

r to re Di // o ss Ro Di

a or at d Re //

ar do

o ag

al br Ca o n Nu

o alh am aR r in

Be rn

Ti

ão Jo

ta Ca

4 // www.IDIOTMAG.com


ui sa

o

rv alh

Ca

eo id V // ra

at or a // Re d ei liv

aL

or at

Ri

ta d Re //

aO ian ar

An

La co

je ra n

an Br

M

ra fa

ira

eo id // V o rd ca

r/ /F ot óg

Ri

or at d Re //

ie

Fl

or aN ev e

ra to di

s/ /R ed at or a

E // ra

r to di E //

dy

rn

i re Pe

r io zo

an dC ar aH

Fo u

o

aO nh ro No

e

m

de

lin ro Ca

Al in

r Ca

i Ru

é dr

An

or at ed /R s/

ró ei Qu

CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 5


// Nuno Dias e Jo達o Cabral

Sydney 2013 fotografia: Silvia Lopes 6 // www.IDIOTMAG.com


EM DOIS ANOS: CONHECEMOS O TRABALHO DE 167 ARTISTAS DE DIFERENTES ÁREAS CONHECEMOS PESSOALMENTE 25 STREET ARTISTS

PUBLICÁMOS 20 ARTIGOS DE MODA

VISITÁMOS O ATELIER DE 27 DESIGNERS

CONTÁMOS A NOSSA AVENTURA A 511 ALUNOS

ENTREVISTÁMOS 47 MÚSICOS

ESCREVEMOS 126 ARTIGOS DE ACTUALIDADE

ESCREVEMOS 71082 PALAVRAS EM ARTIGOS DA SECÇÃO DE INTERVENÇÃO INTERAGIMOS DIRECTAMENTE COM 1371 PORTUGUESES

ENTREVISTÁMOS 23 DJS

INTERAGIMOS DIRECTAMENTE COM 74 ESTRANGEIROS

CONDUZIMOS 24 ENTREVISTAS

JÁ PASSARAM PELA REDACÇÃO DA IDIOT 26 REDACTORES

TIVEMOS 53 ARTIGOS DE TABU

ESTIVEMOS ENVOLVIDOS COM 110 ENTIDADES E PROJECTOS

REGISTÁMOS 76 PHOTOREPORTS

ORGANIZÁMOS E PARTICIPÁMOS EM 14 EXPOSIÇÕES E EVENTOS

CONSEGUIMOS DAR A PINTAR 31 PAREDES

FIZEMOS 32 PASSATEMPOS E CONCURSOS

TRABALHÁMOS COM 26 FOTÓGRAFOS

CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 7


Paris - Le Mur fotografia: Smart Bastard

8 // www.IDIOTMAG.com


CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 9


Ana Catarina Ramalho

Em fevereiro a cidade promete alguns bons concertos, nomeadamente na Casa da Música que, nos dias 22 e 27 de fevereiro receberá Luísa Sobral e Bezegol (na foto), respetivamente. Também José Cid, o cantor romântico do tempo dos nossos pais, toca no Coliseu do Porto no dia 14 de fevereiro. Que mensagem mais romântica para dar, neste dia, do que «Como o macaco gosta de banana, eu gosto de ti»? 10 // www.IDIOTMAG.com

No Mosteiro de S. Bento da Vitória, a peça Madalena voltará a estar em palco. De 1 a 14 de fevereiro, a partir de Frei Luís de Sousa de Almeida Garrett. Uma produção da Ensemble – Sociedade de Atores e encenação de Jorge Pinto. No Teatro Nacional de São João será a vez de Coriolano (na foto), de 6 a 16 de fevereiro. Com uma duração aproximada de três horas, esta peça de Shakespeare, conta com a encenação de Nuno Cardoso. Já no Teatro Carlos Alberto, será a vez de Como Queiram, encenada por Beatriz Batarda, esta peça (também de Shakespeare) estará em cena de 14 a 23 de fevereiro. A não perder, certamente.


Até dia 30 de março, na alfândega, o Magic Art 3D estará à espera de espetadores para interagirem com as obras de arte expostas. Esquece os «proibido fotografar» e abraça o «fotografa, diverte-te e participa»!

Até 9 de fevereiro está, no pavilhão Rosa Mota a XX Festa do Livro em Saldo. Para acabar os saldos…numa onda cultural. No dia 8 de fevereiro, os Cedofeita Viva organizam um Mercado do Fado na rua de Cedofeita (na foto).

Wok Eat. Restaurante de fusão asiática. Aqui podemos provar comida tailandesa bem preparada, saborosa e com um atendimento excelente. O espaço com uma decoração simples, convida a entrar e a relaxar. Ideal para um jantar entre amigos durante o fim de semana. Na rua Sá de Noronha, perto da Praça Carlos Alberto. // CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 11


CINEMA. O Clube de Dallas. Matthew McConaughey é um seropositivo que decide procurar medicamentos alternativos ao AZT para curar outros doentes, drogas ilegais nos Estados Unidos e formando assim o Clube de Dallas. Um drama de Jean-Marc Valée com Jennifer Garner e Jared Leto, baseado numa história verídica. TV. The Walking Dead. Está quase aí (finalmente) a segunda parte da quarta temporada da série mais vista da Fox. Espreitem aqui alguns episódios e preparem-se já para a próxima temporada (em Outubro). www.amctv.com/shows/the-walking-dead

12 // www.IDIOTMAG.com


PUBLICIDADE

Black Panther. Está já à venda no iTunes o novo EP de Ayanna Witter Johnson, a cantora inglesa de folk e soul nomeada em 2012 para um MOBO. Já trabalhou com artistas como Kronos Quartet, Nitin Sawhney, Courtney Pine, entre outros.

Amada Vida, de Alice Munro. “Uma poeta, na sua primeira festa literária em território inóspito, é resgatada por um colunista de jornal, acabando por partir numa incursão pelo continente que a leva a um inesperado encontro. Um jovem soldado, ao regressar da Segunda Guerra Mundial para os braços da sua noiva, sai na estação de comboio anterior à sua, encontrando numa quinta uma mulher com quem começa nova vida. Uma jovem mantém um caso com um advogado casado, contratado pelo seu pai para gerir os seus bens. Quando é descoberta, encontra uma forma surpreendente de lidar com a chantagista. Uma rapariga que sofre de insónias imagina, noite após noite, que assassina a irmã mais nova. Uma mãe resgata a sua filha no exacto momento em que uma mulher tresloucada invade o seu quintal”. In Bertrand online. // Tish

CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 13


14 // www.IDIOTMAG.com


“É INCONTORNÁVEL. A IDIOTICE NÃO SÓ ESTÁ PARA FICAR COMO, ASSIM EM JEITO DE CASAMENTO CIGANO, SERÁ FULGUROSAMENTE CELEBRADA DURANTE 4 DIAS, DE 13 A 16 DE MARÇO, NA EXPONOR.”

QUEM QUER SER “QUEM?” E QUEM QUER SER IDIOTA? Quem tem juízo não fica acordado até tarde. Quem é sensato não ri de coisas sérias. Quem é razoável não salta muros. Quem é prudente não fala com estranhos... mas, quem é “quem”? Quem é “quem”, não vai à Idiot week! É incontornável. A idiotice não só está para ficar como, assim em jeito de casamento cigano, será fulgurosamente celebrada durante 4 dias, de 13 a 16 de Março, na Exponor. Após completar 2 voltas ao Sol sem se queimar (muito), esta mesma publicação de que hoje desfrutam, vai explodir num manancial ideológico que promete por a mexer corpo e mente nas mais variadas formas. A Idiot Week - semana das ideias- vai integrar a “Qualifica”, uma das maiores feiras de emprego, formação e empreendedorismo realizadas em Portugal, que desta feita será reforçada pela comemoração do Ano Europeu do Cérebro e Desenvolvimento Cognitivo, uma iniciativa da Comissão Europeia. Todos os idiotas estão convocados ! Apelamos a todo o amor e dedicação que devotam à nossa querida mãe - a criatividade- e pedimos a todos os pensadores livres que ajudem uma vez mais a mover as indústrias da nossa cultura (antes que outros o façam por nós).

Vamos tirar o faqueiro de prata e a vista alegre do armário, servir o “vinho bom” que é para as visitas e ligar o aquecimento central! Nesta iniciativa inédita irão estar presentes diversas personalidades dos mais variados ramos da cultura actual, artistas de arte urbana como Mr. Dheo, exposições temáticas, música ao vivo, workshops, desfiles, castings de modelos e actores, street dance, desportos radicais, djing...tudo debaixo (ou quem sabe em cima) do mesmo tecto usufruindo de uma cobertura mediática digna de qualquer reposição da Casa dos Segredos.

Mas, antes de começar, retiramos a palavra “sustentabilidade” da boca, e, para elas não irem a abanar, colocamo-la nas mãos . Assim, arregacem também as mangas e juntem-se à recolha de material urbano pelas ruas do Porto. Com o actor Diogo Costa Reis como figura de proa, vamos recolher contentores, paletes e outro desse “lixo” citadino tão necessário à construção de grandes coisas! Esta vai ser a matéria prima da nossa Idiot week, inteiramente construída com material reaproveitado. Porque a crise está fora de moda e já se mostrou mais do que uma vez que quem tem pouco faz muito, vamos reinventar e relacionar o mundo que nos rodeia atirando para a sopa primordial os nossos mais preciosos valores humanos – os idiotas! // Mariana Vaz CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 15


EM DOIS ANOS MUITA COISA ACONTECEU, MUITOS MOMENTOS PASSARAM E MUITAS AMIZADES FICARAM. MAS MELHOR DO QUE ESCREVE-LO, FIZEMOS UMA SELECÇÃO DE ALGUMAS FOTOS DE 2 ANOS DE MUITA IDIOTICE.

16 // www.IDIOTMAG.com


Primeira exposição da Idiot no Centro Comercial de Cedofeita (fev. 2012) CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 17


Em cima: idiotas nos escritorios da Idiot, em baixo Idiot @ Barcelona 18 // www.IDIOTMAG.com


Instalação da Idiot Mag no Get Set Art Festival 2013 Idiotas a intervir pelas ruas do Porto

Roupa da Idiot Mag

CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 19


Na grรกfica a preparar a street idiot

Padure e Draw no C.C.Bombarda

20 // www.IDIOTMAG.com

Frederico Draw @ Gare Porto


!Portal Hazul” @ Gare Porto

CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 21


Promoção “idiotas com Asas” @ ESEIG Equipa de Idiotas numa sessão fotográfica

22 // www.IDIOTMAG.com


Idiot Art @ Rua Conde de Vizela Holi Idiot Fest @ ESAD

CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 23


Holi Idiot Fest @ ESAD, comemoração do 1º ano da Idiot Mag

24 // www.IDIOTMAG.com


CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 25


Hazul @ Pacha Ofir

26 // www.IDIOTMAG.com


Youth One + Idiotas no Pacha Ofir Evento “UPT + criativa” da Idiot Mag na Universidade Portucalense

CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 27


Resistance, music & urban culture festival na Alfandega do Porto

28 // www.IDIOTMAG.com


Idiotas na inauguração do Museu do FC Porto

Idiot, eleita melhor Ideia de Negocio de 2013 @ Exponor

CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 29


30 // www.IDIOTMAG.com


ARTISTA DE CAPA:

texto: Tiago Moura na foto: Vhils @ Walk & Talk, Aรงores CULTURA E TENDร NCIAS URBANAS // 31


Vhils @ Shangai 32 // www.IDIOTMAG.com


PUBLICADA PELA GESTALTEN, A PRIMEIRA MONOGRAFIA DO TRABALHO DE VHILS, ARTISTA CONVIDADO DA EDIÇÃO DE ANIVERSÁRIO DA IDIOT MAG, SUBLINHOU O IMPACTO DO SEU TRABALHO E O MODO ÚNICO COMO A SUA OBRA, QUE JÁ VIAJOU O MUNDO, SE RELACIONA COM DIFERENTES ESPAÇOS E COM DIFERENTES CULTURAS.

A técnica de Alexandre Farto é violenta na sua natureza e impactante no sentimento que compõe cada peça. Ao tentar perceber o trabalho de VHILS há algo que se torna impossível escapar: a pluralidade de dimensões existentes dentro de uma única criação sua. Todos os passos do seu processo artístico estão imbuídos de significado e existe uma imensidão de leituras que podemos fazer enquanto espetadores e isso é um testemunho ao poder criativo das suas imagens.

Oriundo do Seixal, a relativamente jovem obra de VHILS atravessou diferentes ferramentas, métodos e concretizações, até chegar à sua metamorfose atual: do graffiti à colagem e, mais notoriamente, da lata ao martelo. O seu trabalho já foi aclamado por diferentes publicações (cf. The Times) e reconhecido por diferentes artistas (Banksy mostrou um interesse particular no desenvolvimento e crescimento artístico do português) e a própria crítica parece rendida à multidisciplinaridade e pluralidade nas suas criações. CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 33


“When I passed the idea to walls it was natural to work with this removal concept, this negative field. The process itself can be brutal and violent, but the result in my opinion, is expressive and poetic. The result was visibly interesting and allowed to start to incorporate the wall as one of the physical components to the intervention, unlike what happened to the painting, where the wall was a base. (..)With my work, I try to delve into the several layers that compose the edifice of history, to take the shadows cast by this model of uniform development to try and understand what lies behind it.”

Vhils @ Rio de Janeiro

O trabalho arqueológico das suas obras “sublinha a poética da ruína” do espaço urbano em pulsante crescimento ao mesmo tempo que o papel intrínseco dos seus habitantes se torna num importante foco do produto final. O paradigma do crescimento económico e expansão citadina versus a perda de identidade enquanto contrastes de superfícies, materiais e sentimentos é uma das mais importantes inspirações no trabalho de VHILS, visível na sua multiplicidade de materiais e técnicas escolhidas. Neste sentido, podemos interpretar a sua técnica escavatória como uma procura pela “essência perdida” de um espaço urbano - de uma cidade - desaparecido entre as construções quadradas e repetidas até à exaustão e publicidades da Coca-Cola. Esse confronto é normalmente exposto em prédios normalmente esquecidos, tais como os seus moradores, que o artista grava através de um processo de erosão, desgaste e escultura da fachada do edifício, num movimento a que o artista chama “reciprocal shaping”. 34 // www.IDIOTMAG.com


JR e Vhils @ Los Angels

CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 35


Vhils com Pixel Pancho, Lisboa

36 // www.IDIOTMAG.com


Afirmar que o resultado é pura poesia visual, na mais respeitável das suas formas, é uma constatação fácil, porque apesar do processo minucioso a imagem final é simples no modo como comunica “o confronto entre as aspirações do indivíduo e o ambiente saturado e saturante do ambiente urbano”; como um comentador uma vez disse sobre o jogo de Roger Federer: ele faz aquilo parecer fácil. A mensagem é complexa, mas o método utilizado para a comunicar é cristalino e percetível a todo o seu auditório.

CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 37


“Although the first artwork has moved away from graffiti, many of the tools and techniques he resorts to have a clear connection with those used by the most extreme form of this illegal practice, emphasising the aesthetics of visual vandalism.�

Vhils, projecto Crono, Lisboa 38 // www.IDIOTMAG.com


Há algo nesta afirmação que nos deve fazer pensar - não sobre o porquê de ainda hoje considerarmos qualquer tipo de expressão artística um ato de vandalismo, mas o porquê um vândalo ser capaz de comunicar uma ideia tão importante (e todas as suas incríveis ramificações) de um modo tão claro e transversal, e continuar a ser visto como menor? Como podemos considerar alguém que tem uma perspetiva tão incisiva sobre as engrenagens do nosso mundo um marginal? A obra de VHILS é prova viva da centralização da marginá-

lia artística na consciência coletiva. Nos últimos tempos, tornou-se frequente vermos grupos de pessoas de baldes de tinta na mão pelas ruas do Porto com o intuito de a limpar e, em algumas dessas situações, foi a cidade e nós próprios que ficamos a perder. O trabalho de VHILS torna-se um desafio branquear, não devido à complicada técnica a si associada e ao esforço que isso implicaria, mas porque parte das obras do jovem artista trabalham a nível da nossa própria memória coletiva e essa, também, está gravada em pedra. //

Na “Truman Brewery”, Londres CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 39


texto: Ana Meira

40 // www.IDIOTMAG.com


PELO PRIBERAM, DICIONÁRIO DE LÍNGUA PORTUGUESA, IDIOTA: ADJETIVO DE DOIS GÉNEROS E SUBSTANTIVO DE DOIS GÉNEROS: 1. QUE OU QUEM SE MOSTRA INCAPAZ DE COORDENAR IDEIAS. = ESTÚPIDO, IMBECIL, PARVO, PATETA; 2. QUE OU QUEM DENOTA ESTUPIDEZ. = ESTÚPIDO, IMBECIL, PARVO, PATETA; 3. QUE OU QUEM APRESENTA IDIOTIA. PELO OXFORD DICTIONARY: A STUPID PERSON; 2. ARCHAIC A PERSON OF LOW INTELLIGENCE. RESUMINDO, PELOS DICIONÁRIOS CONSULTADOS: ESTÚPIDO, IMBECIL, PARVO, PATETA. Pelos próprios Idiotas: substantivo de dois géneros e adjetivo de dois géneros. Alguém que tem Ideias. Alguém que tem tantas Ideias, que forma um coletivo de ideias e arranja maneira, de forma pró-ativa, de as partilhar com outros Idiotas. Provocador, deseja quebrar limites e cânones sociais de forma reacionária e sarcástica. Para os Idiotas-espetadores, atentos durante dois anos a este coletivo de Ideias e intervenções, aqui vai a definição. Os Idiotas são estúpidos, porque a originalidade também tem os seus senãos. Os Idiotas são Imbecis porque a forma melhor de encarar a sociedade

e cultura atuais é a ironia. São parvos porque são sarcásticos, amargos e provocatórios nas críticas eficazes e certeiras que fazem. And god knows how difficult is to handle sarcasme isn’t it? São patetas porque a patetice é uma forma de vida que traz grande felicidade, ao contrário do que alguns não-idiotas possam pensar. Caraterísticas pouco comuns e convencionais para um grupo de pessoas com boas ideias, com um ávido desejo de conhecimento, autocrítica e análise social e cultural, grande capacidade de trabalho e de inovação. Ao longo destes dois anos de pura e completa Idiotice, estes

CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 41


Idiotas conseguiram converter um grande número de pessoas ao seu modo de estar e de ver o mundo. Partilham e enriquecem-se a eles, e aos outros, com debates e informação sobre a sociedade e a cultura artística e urbana atual (e nós sabemos o quão necessário isto é). Com um grande sentido de humor e veracidade, com alfinetadas no peito, a quem se sentiu martirizado pelas críticas morda-

42 // www.IDIOTMAG.com

zes e peremptórias dos que estão atentos ao mundo que os rodeia, os Idiotas criaram uma comunidade de gente realmente interessante, com visões realmente interessantes. Por isso, e vamos atentar que os verdadeiros idiotas estão sinalizados com letras minúsculas, se calhar aqui jaz a verdadeira questão que nos faz rebolar na cama durante a noite: quem é o verdadeiro idiota agora? //


PUBLICIDADE

CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 43


44 // www.IDIOTMAG.com


Exposição individual que o artista Diogo Machado aka ADD FUEL em Coimbra, pela Mercearia de Arte Alves & Silvestre A Mercearia de Arte apresenta a exposição CONCENTRICUM de Add Fuel, como é mais conhecido Diogo Machado, um dos artistas integrantes da nova geração de criadores de arte urbana. Com inauguração a 1 de Fevereiro, pelas 21h30, a exposição, com curadoria de Lara Seixo Rodrigues, permanecerá até 28 de Fevereiro. Add Fuel, que esteve recentemente em Coimbra para a realização do mural “Tem Sempre Encanto”, na rua Fernão Magalhães (junto à Loja do Cidadão), visita de novo esta cidade, revisitando também este trabalho, numa versão “indoor”. “Frequentemente questionada por uma breve descrição quanto ao actual momento artístico de ADD FUEL, a resposta quase instantânea e recorrente tem sido ‘portugalidade’. Mas a verdade, é que fazer conter todo o trabalho deste artista numa simples palavra, é tarefa quase impossível! Se é clara a percepção de um carácter específico da cultura e da história portuguesa, tanto pelo uso da cerâmica como suporte do seu trabalho, como pela utilização dos tradicionais e infindáveis padrões da nossa azulejaria, o trabalho de ADD FUEL oferece-nos adicionalmente uma imensidão de universos imaginários, povoados de criaturas de ficção (quase) científica, que têm tanto de simpáticas, como de assustadoras, tanto de sarcásticas, como de hilariantes. É nestes universos, irremediavel-

mente influenciados pelo mundo do skate, do punk, dos videojogos ou da animação, que encontramos reflexo do (já longo) percurso de Diogo Machado enquanto ilustrador. O mesmo, com que brinca e nos brinda na re-interpretação e na re-invenção da azulejaria tradicional portuguesa, alinhando precisa e simetricamente, uma enormidade de figuras de data contemporânea, que formam elementos plenos de plasticidade e de historicidade. Creio que é esta característica de ‘dupla leitura’ (e por vezes tripla, quando se lhe incorpora uma mensagem) que acompanha todo o trabalho de ADD FUEL, seja a cerâmica, a madeira ou a parede em espaço público o seu suporte, que se assume como um traço inconfundível e extremamente enriquecedor do mesmo. Esta capacidade de possibilitar uma multiplicidade de leituras por parte do observador ou do transeunte. Esta capacidade ‘do parecer e do ser’ num trabalho uno. Esta capacidade de laboração a várias escalas e camadas, oferecendo igualmente diferentes observações e percepções da história nacional e local, no que a esta nossa herança se refere. É todo este processo de criação de algo novo e único, com base em algo existente, que será exposto em CONCENTRICUM. Uma pequena, mas concentrada, deambulação no tempo, forma e método, estendida momentaneamente ao exterior, revisitando o trabalho ‘Tem Sempre Encanto’ realizado em Coimbra, que renasce agora no interior.” // Lara Seixo Rodrigues CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 45


Crítica por:

Ricardo Branco

UMA HISTÓRIA DE AMOR De Spike Jonze (2013)

Uma história sobre um homem que conhece uma mulher e se apaixona: ela, Samantha (Scarlett Johansson), é um sistema operativo criado para satisfazer as necessidades dos seus usuários e “crescer” com eles – uma ideia que já foi antes explorada, ainda que parcialmente, num dos episódios da série britânica Black Mirror. Theodore (Joaquin Phoenix) é um escritor de cartas por encomenda – uma profissão pouco comum, mas que num futuro próximo parece expandir-se bastante; estamos no futuro claramente e o mundo é luminoso, linear e colorido, tal como apenas Spike Jonze o poderia filmar

46 // www.IDIOTMAG.com

– não temos monstros numa ilha como no seu famoso e anterior O Sítio das Coisas Selvagens, mas há magia no ar de qualquer das formas. Uma História de Amor é um enorme elogio à solidão, ou talvez ainda mais do que isso: um elogio ao ser solitário. Uma reflexão sobre como o desenvolvimento tecnológico nos afasta uns dos outros – o ser humano cheio de si e o seu maior fã; o maior fã da escrita de Theodore também é ele próprio e damos com ele perdido em movimentos mecânicos e rotineiros, enquanto carrega o seu fardo, o mundo nos seus ombros. Tudo muda quando ele conhece Samantha e não é só ele que se apaixona por ela, ela sente o mesmo por ele e a utopia soa tão bizarra como profunda e emocional; a solidão de Theodore é acolhedora, é um reflector – uma plena armadilha que nos leva à compreensão e num segundo nível à compaixão. A tela é um reflector também e encontramos fantasmas que ficam a assombrar-nos muito depois do plano final; tal como Theodore, aprendemos qualquer coisa sobre o nosso interior só e dividido, tão masculino como feminino. A estreia nacional é no dia 13 de Fevereiro e que boa época para uma história de amor.


NINFOMANÍACA

De Lars von Trier (2013)

Antes do primeiro plano do novo filme de Lars von Trier existe um aviso que nos alerta para o facto de estarmos a ver uma versão censurada da sua nova obra: deram-lhe o nome de versão softcore e Portugal só terá acesso a esta versão nas poucas salas em que este filme se encontra em exibição. A polémica foi grandiosamente imposta – a máquina do marketing não parou de trabalhar e a palavra chegou a todos os cantos: Lars von Trier estava a filmar sexo explícito e queria contar uma nova estória baseada numa mulher que é profundamente viciada em sexo. Percebe-se, de facto, o forte apelo às massas, pois concluímos que este é um filme feito com o único intuito de chocar essas próprias massas. O trágico von Trier que sempre nos presenteou com a sua peculiar crueldade e dureza perdeu-se e o resultado são quatro horas (na versão censurada da obra) de conceitos

vazios e pouco pertinentes. É claro que a imagem é bonita e o sexo vigorosamente filmado, mas a história de Joe (Charlotte Gainsbourg) não convence e até irrita: é preciso ter cuidado quando estamos a tentar ser moralistas e uma mulher que está desesperada por redenção e autointitulada de má devido ao seu intrínseco vício soa demasiado artificial e até assustador. A sua obsessão com a redenção não está em harmonia com os episódios que são relatados. O filme está dividido em oito capítulos e em dois volumes, a sua estética é moderna e tão apelativa como prazerosa – as imagens extremamente sensuais aliciam tal como Joe alicia as suas presas, é tudo como um anzol, uma data de metáforas resolvidas e entregues de bandeja: tudo está mastigado e pronto a engolir. Joe não sente nada e o espectador não tem de pensar em nada também. //

CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 47


PUBLICIDADE

www.animaisderua.org

esterilizar é proteger ligue o n.º solidário 760

48 // www.IDIOTMAG.com

300 161 e ajude um animal em risco. custo da chamada €0,60 + IVA


NESTE MÊS DE FEVEREIRO O PORTO REVISITA OS CLÁSSICOS. ESTAREMOS NÓS COMO OS RENASCENTISTAS, BUSCANDO NOS ANTIGOS A INSPIRAÇÃO PARA ENALTECER A NOSSA PERFEIÇÃO? Madalena, o coração de Frei Luís de Sousa, estará em cena no Mosteiro São Bento da Vitória de 4 a 14 de fevereiro. Trazendo a importância da sua personagem para o dia de hoje, dá-se corpo aos sentimentos que assombram Madalena. Sim, aqueles que estudamos no secundário. Outro clássico revisita a Invicta: William Shakespeare irá habitar no Porto durante o mês de fevereiro. Primeiro surge Coriolano, de 6 a 16 de fevereiro, no Teatro Nacional de São João. A peça, encenada por Nuno Cardoso, consegue transpor a sua ação para os dias de hoje, uma vez que gira à volta de questões políticas, bem ao jeito de Shakespeare. Depois de uma tragédia, chega a vez de uma comédia – Como queiram é encenada no Teatro Carlos Alberto pela mão de Beatriz Batarda. Depois de Rosencrantz e Guildenstern de Tom Stoppard (enc.: Marco Martins) ter passado pelo TNSJ, Beatriz Batarda traz alguns elementos da mesma peça para um palco diferente, como é o

caso de Bruno Nogueira e Nuno Lopes. A Floresta de Arden recebe assim os já conhecidos jogos de Shakespeare usados na comédia, a troca de género e identidade relacionados com o amor e que levam às maiores peripécias. No dia 28 de fevereiro, o Teatro do Frio volta em parceria com Regina Guimarães, para uma peça em que traz três personagens portuguesas que se encontram numa viagem à boleia para casa. Um fenómeno recente, quando nos lembramos do sistema de boleias que existe no facebook. No Rivoli Teatro Municipal, Rita Ribeiro continuará a interpretar a mãe de Gisberta até dia 16 de fevereiro. Este mês, como já sabemos, para além das Leituras no Mosteiro (dia 11 e 25 de fevereiro com Mestre Ubu (Alfred Jarry) e Pelo Buraco da Fechadura (Joe Orton) ), respetivamente, temos também as Quintas de Leitura, no Teatro Campo Alegre, no dia 27 de fevereiro com Entre Nós. Saudações teatrais! / Ana Catarina Ramalho

Mosteiro de São Bento da Vitória

CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 49


Idiot - Infelizmente não temos páginas suficientes para nos contares todos os teus feitos, portanto resume-nos um pouco da tua história. Alex - Bom, resumindo, eu dedico a minha vida à música desde que me lembro. A minha infância foi rodeada de música e sempre vivi perto de discos e instrumentos. Tudo o resto foi uma evolução natural. Das bandas de garagem até ao experimentalismo, passando por lojas de discos, palcos e estúdios de gravação, tive a sorte de estar em alguns dos momentos-chave na história da música electrónica deste país. Sou muito grato por isso, mas também pelo facto de ainda hoje poder fazer música sem barreiras e preconceitos - não faço cedências e creio que só assim podemos com esforço e dedicação atingir uma plenitude sonora que se identifique connosco, ou 50 // www.IDIOTMAG.com

então, na melhor das hipóteses, conseguirmos nós mesmos criar a nossa própria sonoridade - aquilo que defino por assinatura sónica; nesse aspecto, e sem quaisquer falsas modéstias, sei que já atingi esse patamar. Eu não necessito de me ligar a um género (ou sub-género) específico de música. Todo o tempo que investi nisto permitiu-me poder abordar qualquer género musical e incutir-lhe o meu cunho. Idiot - Ao longo de todos estes anos ligado à música, actuaste com alguns dos melhores nomes de sempre da música electrónica. Quais destes artistas/eventos gostarias de salientar? Alex - Ui, já foram alguns, mesmo para um outsider como eu. Recordo-me de nomes como Orbital, Speedy J, Goldie, Krust, Roni Size, Faze Action, Rhythm & Sound, Tikiman, Paul Van Dyk, e


mais outros tantos, mas os dois mais importantes aconteceram num espaço inferior de 6 meses entre si; foram os casos do Photek e do Alan Wilder (Recoil, ex-Depeche Mode), de quem sou actualmente amigo pessoal. Em termos de eventos, orgulho-me imenso de ter representado Portugal na segunda edição do Sonar em Barcelona (1995), quando aquilo estava longe de ser o que todos conhecem actualmente.

para a edição anual de (pelo menos) um 10” limitado e numerado a 100 unidades, incluindo faixas/versões exclusivas. Todas as capas e rótulos serão diferentes, manuscritos e pintados individualmente. Mais que a intenção de criar um objecto de colecção, existe a intenção de criar algo único e irrepetível, pelo que não haverá reprints dessas edições, nem sequer a hipótese de se alargar o número das mesmas - quando é anunciado um vinil da ECHOMENTAL já se deverá Idiot - Criaste recentemente uma editora saber a fórmula: 1-10-100 : 1 disco, chamada Echomental. Qual o motivo que 10 polegadas, 100 unidades. te levou a iniciar este projecto e que planos tens para ele? Idiot - Se fôssemos ao teu estúdio, o que Alex - Existem vários motivos, des- poderíamos encontrar a nível de máquide a necessidade de um canal para o nas, hardware e software? output de material meu, complemen- Alex - Muita coisa, apesar de já ter tado com uma dedicada componente sido bastante mais. Quando comecei a gráfica e audiovisual. trabalhar mais afincadamente em terExiste um plano traçado, o qual espe- mos profissionais, a música era algo ro que decorra da melhor forma possí- que ainda tinha um input informático vel. Inicialmente serão apenas temas bastante diminuto (em termos de sofmeus com participações ocasionais tware), por isso TUDO era sequenciade vocalistas estrangeiros, mas pode- do via MIDI e os samples tinham de ser rá alargar a outros artistas em nome feitos e armazenados em samplers. individual. Terão, naturalmente, como Não existiam plugins, por isso tinham em qualquer editora que estar numa de haver sintetizadores e processadolinhagem consonante com o catálogo. res físicos, o que se por um lado te habilitava a operar tudo sem a hipótese Idiot - O lançamento fica só pelo digital, de “save” ou “undo”, por outro tornava ou também tencionas editar em vinil? todo o processo muito mais interactiAlex - Serão edições digitais de alta vo; o próprio processo de mistura de resolução mas existe também o plano um tema chegava a assemelhar-se a

PUBLICIDADE

CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 51


uma coreografia, uma vez que não havia automatismos... Resumindo, ainda tenho bastante hardware, o qual vou dando algum uso regular juntamente com o mundo 100% digital e informatizado. No fundo, a inteligência está no modo como utilizas todas as ferramentas que tens ao teu dispor. O computador é um mero espelho do teu input criativo.

Idiot - E quando pões música ao vivo, o que gostas de usar? Alex - Se te referes ao facto de passar música (formato dj), posso utilizar 2 ou 3 CDJ 2000, uma mixer (Xone92 ou DJM900), 1 Maschine e 2 processadores de efeitos externos. Vou sempre munido de backups do Rekordbox (pois é, não uso nenhum dos softwares dj), de modo a que apenas uma falha eléctrica possa ser responsável por alguma paragem. Headphones de eleição: Sennheiser HD-25 ou Audio-Technica ATH M-50. Para tocar ao vivo, o setup já se torna mais complexo, mas passa por um laptop com sessões “desmontadas” dos meus temas em 16 pistas no Ableton, comandadas por 2 Launchpad. As pistas têm saídas individuais através de 2 interfaces áudio FireWire agregados em modo bridge. Daí é tudo enviado para uma mesa de mistura de 26 inputs com 2 processadores de efeitos externos nos auxiliares (não uso efeitos virtuais ao vivo, pelo menos no que diz respeito a reverbs e delays). As misturas são feitas em directo. Levo ainda um Pad Kontrol para disparar samples, um teclado controlador para tocar basslines ou pads (conforme os temas) e ainda me faço acompanhar de um pequeno sintetizador para improvisos. Idiot - E para finalizar, qual é a tua opinião acerca do projecto Idiot Mag, como revista e movimento de cultura urbana? Alex - É bastante positiva. Toda a forma de manifestação artística, por mais pequena que seja, é necessária. Marasmo artístico já temos de sobra; há que agitar! Parabéns por tal. keep it up, keep it alive! // Bernardo Alves

52 // www.IDIOTMAG.com


PUBLICIDADE

CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 53


Lígia Claro . Foi com muito gosto que aceitei o convite do Nuno Dias e do João Cabral para fotografar a primeira exposição urbana no centro de Cedofeita. Lembro-me como se fosse ontem, os balões amarelos de hélio sobrevoavam as ruas e as pessoas paravam na rua e estendiam a mão para os receber. Os idiotas distribuíam boa disposição e convidavam as pessoas para passar na recheada galeria de Cedofeita. Eu fotografava como se não houvesse amanhã, com vontade que aquele dia não tivesse fim. A partir daí o amor e a amizade por estes idiotas foi crescendo e o cordão umbilical tornou-se cada vez mais sólido. É fácil trabalhar nesta equipa pois o coração dita as regras e a vontade de trabalhar ergue fronteiras novas a cada dia que passa. Só me resta agradecer por todos os bons momentos com vocês e desejar que a Idiot Mag seja também ela um balão amarelo de hélio, pois “o céu é o limite”. E com vocês a viagem ainda agora começou. Estamos juntos! 54 // www.IDIOTMAG.com

Patrícia da Alcova. Quando me convidaram ao escritório ainda não tinha saído a primeira edição, o projecto já estava em marcha, mas julgo ter sido uma das primeiras a quem falaram. Lembro estarmos na esplanada a ver o que seria, como poderia participar. Na altura tinha iniciado um novo trabalho, onde atendia linhas eróticas e respondia pelo nome de Tita. Falei-lhes nisso e em escrever um texto onde explorava o que me ia acontecendo. Rapidamente a Alcova se tornou num folhetim da minha vida sexual, entre o real e a ficção, os factos e o desejado. Durante estes dois anos muita coisa aconteceu. Mudei de lugares, de trabalhos, apaixonei-me e parti o coração umas quantas vezes, emergi em períodos intensos de trabalho e outros de diversão. Uma coisa nunca mudou, todos os meses, sem excepção, uma alcova seguiu até às mãos do Nuno Dias, às vezes com grandes atrasos para seu desespero... A alcova passou a fazer parte da minha vida, reflexo de experiências e emoções, refúgio de musos e musas, partilhado, sem vergonha e com orgulho, na Idiot Mag. Vi estes “putos” abraçarem este projecto cheios de freima e abracei-o com eles. Vi o staff crescer, ilustradores brutais passarem, artigos com cada vez mais interesse e irreverência. Mais anos, Idiot, aos mesmos passos largos que até agora foram dados. Obrigada, João Cabral e Nuno Dias, por terem desde o início contado comigo para esta aventura. <3 Idiot MAg


Tiago Moura: É difícil interiorizar que já faço parte deste projeto há quase 18 meses. É difícil, porque é sempre uma tarefa ingrata olhar para trás e percebermos como mudamos, mas eu lembro-me perfeitamente de sair da minha primeira reunião e ligar à Kiki e falar-lhe do modo como o João e o Nuno vibravam com ideias para a revista. Mais que entusiasmante, era contagiante o modo como eles riscavam no quadro as suas ideias e escreviam as ideias dos outros com igual entusiasmo. É essa a minha qualidade preferida deste projeto: a ambição através da inclusão e sentimento de liberdade. Desde que faço parte deste projeto, vi-o crescer de distribuir cartões pela rua a fazer a curadoria de um enorme certame na Alfândega e agora esta semana na Exponor, sempre com esse mesmo espírito de inclusão. O João e o Nuno tanto ficam entusiasmados com a possibilidade que lhes é dada a eles em arquitetar um evento como pelo espaço que vão oferecer aos seus convidados. Eles entendem que tudo o que os criadores precisam é de uma plataforma para serem ouvidos e eles, mesmo que não seja algo da sua área de conforto, são os primeiros a dizer Força e isso é o mais impressionante deste projeto e é algo que não vejo desaparecer tão rapidamente das suas páginas: físicas ou virtuais.

Rui Ozorio: Passaram já dois anos desde a altura em que o João Cabral e o Nuno Dias me convidaram para, periodicamente (uma vez ao mês), ser um idiota. E isto de ser idiota 12 vezes ao ano tem que se lhe diga. Quando entrei, pediram-me para ser responsável por uma secção que teria de criar e que, depois de muitas ideias, dá por nome de Provoc’arte! – o que nunca me impediu de me lançar em esfera alheia com mais algumas ideias, umas mais idiotas que outras, e escrever sobre o que quer que fosse em que a minha vontade se debruçasse, quer gregos gostem quer troianos repilam (conjugação atrevida do verbo repelir). E a Idiot Mag é isto mesmo, é não ter linha editorial absolutista, é respeitar as diferenças de opinião, é relevar todas as posições, é dinamizar as artes, a cultura e o mundo da irresponsabilidade responsável, da mensagem, do manifesto, da contestação ou da concordância, é revelar o que se passa no ritmo acelerado dos meios urbanos… mas acima de tudo, mostrar que há um grupo de Idiotas que não anda a dormir e que partilha essa insónia com milhares de leitores todos os meses! Obrigado Nuno e João por trabalhar convosco e com uma equipa tão Idiota… mas obrigado, em especial, a todos os Idiotas e a ti, em particular, que me lês agora! CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 55


Mariana Vaz. É preciso um idiota para reconhecer outro idiota? Neste caso sim...Apesar de ser um fenómeno recente, a minha colaboração na Idiot Mag remonta ao colorido passado académico que temos em comum. Frequentámos as mesmas salas de aula, vimos os mesmos concertos, fomos às mesmas festas, tivemos os mesmos amigos, mas quis o destino que nunca antes de 2013 nos houvéssemos cruzado. A semente da idiotice contudo germinava já forte dentro de mim, bem adubada por um passado ligado ao design, à arte urbana, e à dita cultura de rua. Tal como num mau episódio de Os Imortais, quando a revista saiu em 2012, o meu sexto sentido disparou ao sentir a proximidade da sua contra parte, ainda que apenas em formato bi-dimensional. Vitimizou então a minha curiosidade que foi automaticamente arrastada até às páginas da publicação... Lá encontrei um sem número de caras conhecidas, locais familiares e ideias e eventos partilhados – estava em casa. Podia tudo ter ficado por aí; podia nem ter ligado o computador naquele dia, podia ter ido mais cedo de férias; podia nem ter o meu disco externo comigo, mas a verdade é que quando em Agosto o acaso me colocou diante dos olhos o pedido de colaboradores provocou em mim a derrocada instantânea de uma década de parvoíce reprimida. Esta veio a materializar–se no envio de um mítico pdf ao estilo best-of. A partir daí eu e a Idiot Mag temos vindo a coexistir salutarmente com apoio e dedicação mútuos mostrando ao mundo que a farinha do mesmo saco só unida é que faz pão. Agradeço ao João e Nuno pela compreensão, paciência, motivação, exultação, agastamento, curiosidade e interesse que tiveram para comigo e é com gosto que vejo a publicação expandir-se muito para além do papel e ecrã. Que esta edição de aniversário seja apenas o começo do começo! Parabéns 56 // www.IDIOTMAG.com

Carolina Hardcandy. O meu primeiro texto na Idiot Mag foi publicado em julho de 2013, quando um dos colaboradores convidou-me para escrever sobre a Marcha do Orgulho LGBT do Porto. Alguns dias depois, os editores propuseram-me que assumisse o “Homogéneo”. Encontrei na Idiot um espaço onde posso expressar as minhas opiniões e debruçar-me sobre os temas que despertam o meu interesse, sem para isso ter de me censurar ou ser censurada. Trata-se de um grupo de idiotas que, como o nome indica, têm as cabeças a fervilhar com ideias e partilham-nas, mensalmente, com os seus leitores. Não posso dizer, em boa verdade, que assino por baixo de tudo o que aqui se escreve: não somos uma manada, temos por vezes ideias divergentes e esse talvez seja o segredo do sucesso. Não seguimos uma partitura, não fazemos consensos nem filtramos argumentos e é por isso que tenho, durante os últimos oito meses, participado deste grito coletivo onde cada uma das nossas vozes pode ser ouvida. “Porque há o direito ao grito. Então eu grito.”


Ana Anderson: A primeira vez que ouvi falar de algo que acabou por se tornar na Idiot Mag, era só mais uma noite, daquelas com muita bebida, parvalheira, música, mais bebida! Mas já nessas palavras verdes se sentia a agitação do João e do Nuno cheios de ideias com vontade de realmente passar à acção e partilhar a sua visão. Entretanto, lançaram a edição 00 e como nestas coisas o crescimento é rápido, já estavam à procura de mais redactores para alargar os temas da revista, eu propus-me a uma experiência e lá fiquei a tratar da parte de moda. Foi aqui que nasceu o Idiota de Rua, que como sabem se trata de uma reportagem onde fotografamos pessoas nas ruas do Porto com um estilo próprio e jovem e já lá vão quase 2 anos que o 1º Idiota de Rua foi fotografado (ainda me lembro, o Mário, na Alfandega). Com dois anos repletos de histórias, Idiot Mags, Idiot Arts, Concursos, Passatempos, só me resta desejar a todos os idiotas e não idiotas (pelo menos ainda) muitos parabéns pela idiotice e que venham mais anos com muito sucesso e a “idiotificar” a malta.

Pedro Pimenta. Quando conheci este projeto defini-o como: uma boa ideia. Realmente era uma criação interessante que poderia fazer-se ouvir e ao mesmo tempo divertir. O conceito de Idiota, como criador de ideias, era algo excêntrico que me suscitava enorme curiosidade e ao mesmo tempo dúvidas; não era que não confiasse na equipa de profissionais que estava por detrás desta obra-de-arte mas sim pela falta de adaptação das pessoas ao que não é habitual. Acompanhei de perto a evolução deste projeto e cheguei mesmo a trabalhar bons velhos tempos o conceito de Idiota. Dia após dia apercebia-me da dedicação e força de vontade deste grupo de jovens, que ao contrário da generalidade, não se queixava de falta de emprego ou de trabalho, mas sim de falta de tempo para trabalhar. Constatei que afinal de contas um Idiota não era apenas um criador de ideias, era sim um profissional dedicado, que lhe corria nas veias a ambição de singrar na vida, de querer a sua própria cidade vangloriada e, acima de tudo, faminto por trabalho. A Idiot deixou de ser unicamente uma ideia. A Idiot passou a ser um projeto empreendedor com um passado ambicioso, um presente de guerreiro e um futuro de glória! Afinal de contas… A Idiot ainda vai à lua! CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 57


Catarina Ramalho: Costumam dizer que a partir dos “-intes” o tempo passa a correr e, a verdade é que, há já um ano que estou nesta família de Idiotas. Sempre fui uma rapariga que via na escrita um refúgio e, quando o Tiago me falou que na Idiot estavam à procura de mais idiotas… Nem hesitei. Vinha de um projeto que tinha falhado e mal podia esperar para pôr as mãos numa massa nova. E a bem dizer… todos sabemos que idiotas são aqueles que têm as melhores ideias. Acho que esta foi uma das melhores que tive. E a Idiot Mag deu-me isso: a liberdade para escrever. E nestes dois anos que passam, nestes 365 dias em que fiz parte, vi esta revista crescer a cada passo que dá e fico satisfeita, aliás, satisfeitíssima, com os resultados. Acho que todos o merecemos, principalmente o Nuno e o João que recebem todos de braços abertos e têm ideias que mais ninguém tem. Parabéns, então, Idiot: por estes dois anos de criatividade, recheados de projetos fantásticos e cheios de sucesso. Que venham mais!

Tish. A Idiot já tinha um ano quando me juntei à equipa. Era das poucas publicações online que me enchiam os olhos: as fotografias incríveis da Aline, a cobertura fotográfica do graffiti numa altura que este viu um boom surpreendente na cidade - a par da “censura” do anterior executivo - e o aspecto gráfico da revista. Apaixonada por fotografia, literatura, cinema, música (ai os beats), arte e, claro está, a urbana, vi na Idiot uma segunda casa. Juntos, acrescentámos rúbricas à revista, reforçámos a equipa e todos os meses (tentamos muito, muito, ser pontuais, mas às vezes a vida é madrasta) parimos mais uma edição. E parir não é pêra doce. A Idiot é uma mãe solteira, independente e sem preconceitos. E isso… faz confusão a muita gente. Eu vou continuar por aqui a sugerir bons domingos chuvosos e a entrevistar músicos, writers e ilustradores fantásticos sempre que posso. Não vejo outra forma de fazer a coisa. Parabéns a nós.


Ana Meira O meu testemunho deverá ser o mais recente como colaboradora Idiota, mas já bastante antigo como seguidora Idiota. Juntei-me agora ao projeto da Idiot e reconheço que o meu primeiro texto como Idiota deu-me um grande gozo a escrever. Graças ao João Cabral e ao Nuno Dias, oficialmente, tenho o crachá de Idiota ao peito. Agradeço por isso. A Idiot será espelho do que aconteceu nos últimos dois anos, um projeto de pesquisa e sinceridade permanentes. A veracidade por entre os meandros dos textos fabulosos que estes Idiotas escrevem são frutos de pesquisa e escrutínio da imensa informação que nos vem parar à mão a todos os minutos do dia. Espero fazer parte deste projeto pelos conteúdos realmente interessantes e enriquecedores que este grupo de pessoas consegue cozinhar até sair uma revista com tanto para oferecer. Daqui a dois anos, espero ter contribuído para colecionar bons artigos desta publicação. A todos os Idiotas: keep on going!

Ricardo Branco. Fui muito bem recebido pela idiot como redactor há bastante pouco tempo e ainda assim sinto-me já parte de algo grande e bonito. O ambiente acolhedor e familiar reflectese em toda a equipa e em todo o trabalho desenvolvido por esta publicação. Queria dar os meus parabéns a todos os idiotas pelo segundo aniversário da Idiot Mag e agradecer por poder sentir eu também, em tão pouco tempo, que posso celebrar convosco. Parabéns e muito sucesso.

Molli. A Idiot significa muito pra mim. Comecei a ser idiota quando surgiu a ideia do documentário de um ano da Idiot mag. Fazer esse documentário foi uma experiência muito boa, passamos por bons momentos, sem duvida! Além do documentário, a Idiot proporcionou-me outras experiências incriveis, sempre ligadas à cultura claro, e que me marcaram bastante. Felizmente agora estou afastada por bons motivos, mas por muito longe que esteja tenho a Idiot sempre aqui comigo. Torço muito pra que cada vez tenha mais sucesso e claro que quando voltar vou lutar por isso com vocês <3.


Open Walls, Baltimore, EUA fotografia: Smart Bastard

60 // www.IDIOTMAG.com


CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 61


*aviso antes de ler, a pedido do editor, nesta crónica pululam obscenidades e relatos para maiores de 18… tabuísmos… “felicidade [filisidadi]. s.f. (Do lat. felicitas, -atis). 1. Estado de plena satisfação íntima , de bem estar, no qual se encontram satisfeitas todas as aspirações do ser humano; estado de que é feliz. ≠ INFELICIDADE “Eu sim tinha nascido para gozar as doçuras da pás e da felicidade doméstica” (GARRET, Viagens, p. 432) (…) 2. Sorte favorável; acontecimento feliz ou venturoso ≈ VENTURA ≠ AZAR, INFELICIDADE. Teve a feliciade de o encontrar. Foi uma felicidade haver alfuém ali perto para a socorrer. “faziam-me sonhar a posse dessa adorável criaturinha como uma felicidade que eu não merecia.” (J. RÉGIO, Vestido, p.16) Ter a + de. 3. Us. pl. Bom resultado ou sucesso de uma acção, empreendimento… ≈ ÊXITO, PROSPERIDADE.(…)” in Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, Academia das Ciências de Lisboa, Verbo, 2001 62 // www.IDIOTMAG.com


Da foda e da fuga Patrícia sabia muito. Da dor que corre na alma e da absoluta cura de um corpo disponível para devorar ou ser devorado, do processo de tirar a dor por meio do prazer, nisso desde há muito era mestra. Sabia que a melhor forma de tirar o aperto da garganta e do coração era através de suor e quando sofria reconhecia nela o desejo voraz e animal de foder alguém. Com S. aprendia outras moedas, outros motores de desejo, a S. desejava quando estava feliz, com ele queria partilhar o que de bom sentia com o corpo nu e os peitos eriçados de encontro ao peito dele. O primeiro indício tinha sido num início, quando a história dos dois se começava a desenhar de formas pouco prováveis e se tornavam mais amigos e companheiros do que algum dia julgariam. Feliz, depois de uma primeira noite com um amante que tanto demorava a concretizar-se, chegou a casa, a cheirar ao gel de banho orgânico de boutique francesa, a comboio e metro e a despedidas bem dadas. Não passava muito das sete da manhã e correu para o quarto dele, a avisar que tinha chegado, que estava bem e inteira. Naquele momento trazia afecto no corpo todo, e ao vê-lo na cama, mergulhou e beijou-lhe a cara tantas vezes quanto as que tinha sido beijada, ria, abraçava-o e contava-lhe o quão feliz tinha sido. Cada boa notícia que tinha era um salto em direcção ao corpo dele que dava, um gesto de ternura que os aproximava. E o tempo era de prosperidade, contra tudo o previsto, de concretizações que há muito esperava. Houve um dia de sorte, em que acordou com notícias prósperas e com outras se tinha deitado. Ao cruzar-se com ele, a comer cereais, enquanto ela fazia um chá para acordar, não resistiu a chegar-se perto e braços pendurados no seu pescoço, sorria e contava-lhe as boas novas, de calças de pijama e um pedaço de pano velho, em tempos uma t-shirt, a cobrir-lhe o corpo, Abraçou-o uma, duas vezes mais e no fim de um abraço a pele da

cara roçou-lhe a barba enquanto lhe sentia o cheiro. Os dois tremeram e nasceu um beijo. As mãos dele, já enlaçadas à volta da cintura, apertaram um pouco mais e correram-lhe a linha, parando por momentos nas cicatrizes que Patrícia tinha na anca. Outro beijo, pausado, doce, e Patrícia, em silêncio, pela mão, conduziu-o ao quarto dele. Meigos, beijaram-se, as mãos no emaranhado que era o cabelo dele, a boca dele enterrada no ombro, a sorver-lhe a pele. Ainda de pé, ela já nua e ele só de jeans, baixou-lhe as calças enquanto mergulhava a boca de encontro a ele, primeiro a língua estendida a correr toda a extensão de um pau que era lindo, as mãos a acariciarem-lhe o ventre, uma a ir-lhe buscar a dele para que lhe segurasse o cabelo. O nariz a cheirar-lhe a virilha e a boca a ir subindo até engolir a cabeça, com o polegar parado no freio, um novo mergulhar e toda ela estava dentro de Patrícia, uma delícia de babar, enquanto sentia a pressão na garganta. E S. com uma cara de prazer, a dizer “calma, não vou aguentar muito mais”. Subiu, beijou-o com ganas e de quatro, na cama dele, olhou para traz procurando-lhe os olhos para lhe sussurrar: “Fode-me, que estou tão feliz!”. No emaranhado de suor em que rebolaram, Patrícia lembrou, que da mesma forma que se fode a dor para fora, se convida a felicidade para dentro. E a cada investida, com doçura, tesão e contentamento, se adivinhavam novas venturas entre os dois corpos, empreendimentos de valor com espaço para sortes diferentes, e uma partilha, de felicidade, imensa. // Da vossa, que sabe que o que importa é ser feliz,

CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 63


GALERIA DE STREET ART DE CEDOFEITA BY:

RUA DE CEDOFEITA 455, PORTO DAS 10H ÀS 22H 64 // www.IDIOTMAG.com


PUBLICIDADE

Em exposição: Hazul | Fedor | Mots | Alma | Go Mes | Virus | Mr.Dheo | Youth One | Eime | Draw | Maniaks | Third | Laro Lagosta | Eky One

Galeria Street Art Cedofeita by Idiot Mag “Uma mostra permanente de arte urbana com alguns dos melhores criadores nacionais” in Time Out fev.14

http://www.youtube.com/watch?v=cZBS-OYcztw VÊ O VÍDEO AQUI:

CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 65


Vhils in Shanghai 2012 fotografia: Jo達o Moreira 66 // www.IDIOTMAG.com


CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 67


68 // www.IDIOTMAG.com


A PRAXE ACADÉMICA TEM SIDO ALVO DAS MAIS DIVERSAS CRÍTICAS E DAS MAIS FORTES REPREENSÕES SOCIAIS NOS ÚLTIMOS TEMPOS. A CAUSA DISTO TUDO DEVESE AO FACTO DE TEREM MORRIDO, INFELIZMENTE, SEIS JOVENS NA PRAIA DO MECO, ESPECULA-SE QUE DURANTE UMA SESSÃO DE PRAXE! E tudo começou como? Os jornalistas empenhados na procura da verdade ou na venda de mais notícias (o factor concorrencial é cada vez maior), decidem fazer papel de detectives e comentam as possibilidades em causa, coisa que os investigadores não fazem enquanto não apuram a verdade. A coisa ganha uma dimensão viral, com a ajuda de todos os motores que sempre foram “politicamente” contra as tradições académicas e das redes sociais (que mais não são do que propulsores da estupidez geral) e o caos fica instalado: Há notícia para cerca de três meses!

Aparecem uns senhores muito inteligentes, muito intelectuais, muito donos de toda a verdade que dizem tudo o que lhes apetece sobre a praxe, pessoas que nunca andaram nas faculdades também são honoris causa do assunto, porque o importante, nos dias que correm, é que toda a gente tenha de ter uma opinião, mesmo que não fundamentada, sobre o que quer que seja. O Pacheco Pereira (peço perdão, Excelentíssimo senhor Professor Doutor) escreve um texto em que mistura trajes com Padres e Padres com Praxes, e mistura a coisa de tal modo que até parece verdade… mas vai-se a ver e não percebe absolutamente nada (deixe-me dizer-lhe que o traje académico serve para não haver distinções sociais entre os alunos e não para estes andarem a praxar). De repente, a praxe é o mal de todas as coisas ou a coisa de todos os males. Até penso que temos a dívida que temos por causa da praxe, que quem dá peidos mal cheirosos na via pública faz parte da praxe, que quem é mal-educado é da praxe, que todos os presos estiveram na praxe, que a falta de dinheiro nas carteiras se CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 69


deve ao facto das praxes terem ido à conta sem pedir! Outro dia, um cãozinho fez um cocó que eu ia jurar que tinha mão da praxe! E assim, a praxe serve para tudo! Agora, os mais acalorados devem estar a pensar que até eu sou desses movimentos com rituais secreto-académicos, tais são as barbaridades que eu escrevo. E em verdade vos digo (citação de Cristo que, julgo, também andou na praxe) que estudei na Universidade, fui praxado e praxei. Hoje há quem tenha medo de dizer que é da praxe, porque há logo uma centena de intelectuais de trazer por casa a fazer terrorismo psicológico (isto leia-se praxe anti-praxística) … mas eu não tenho medo de assumir publicamente que andei nas praxes e que fiz uns anos de carreira na coisa, com muito sucesso (devo dizer). Quando fui praxado andei de quatro, rastejei na lama, andei nu no meio da rua, fiz trinta por uma linha e nunca me senti ultrajado ou diminuído, sempre andei de sorriso na cara e a divertir-me como uma criança… e que saudades já eu tinha de quando era criança (esta é para lembrar o Tony Carreira, que também ele, possivelmente, andou na praxe). Uma vez senti-me humilhado (sim é normal termos estas coisas), mas essa

70 // www.IDIOTMAG.com

humilhação foi no trabalho (já depois de me licenciar), mas essas praxes constantes são sempre desculpadas (é a vida… tens de te habituar)! Quando foi a minha vez de praxar, a coisa não mudou muito… nunca gostei de ver caloiros de quatro (sempre lhes ensinei a andar erguidos), nunca obriguei


ninguém a olhar para o chão para conhecer apenas a cor dos sapatos (porque já se sabia que eram pretos e porque a minha mãe sempre me ensinou a olhar nos olhos das pessoas enquanto estas me dirigiam palavras), sempre disse que, juntos, seriamos uma comunidade de gente inteligente, de diamantes em bruto, uma milícia capaz de derrubar governos e políticos e tudo! Porque praxar é isso… é ensinar, é ajudar, é dizer: vocês unidos jamais serão vencidos! As pessoas que fazem o contrário e humilham… essas não dignificam a comunidade estudantil e devem ser chamadas à perna! É certo que a maior parte dos movimentos praxísticos das faculdades brinca aos jogos de poder e infelizmente não praxa! Como ouvi há uns dias… são Praxenetas da coisa! (Os exemplos de quem manda no país, desde há 100, anos também não ajuda!). Mas a par desta situação de emergência, fomo-nos esquecendo que seis pessoas morreram num acidente, que todos especulamos ser culpa da praxe! E já nem queremos bem saber se eles morreram ou se as famílias estão a sofrer, porque o importante é culpar a pra-

xe, que é uma pessoa má! Ou não podendo humanizar a mesma, culpar a sua personificação no sobrevivente, e fazer um linchamento público (em jeito inquisitório) de alguém que perdeu seis amigos num fim-de-semana (com ou sem praxe), que enfrentou a morte dos seus companheiros e que, possivelmente, estará a culpabilizar-se por estar vivo (mas aqui estou também eu a especular como todos o fazem, o que não quero). As pessoas esqueceram-se de ter piedade, de ajudar, de amar, de proteger… para assumirem espelhos ou reflexos de raiva, ódio, desamor e de perversão. Hoje, estão todos assim, culpados por uma sociedade que incrimina e não ajuda… Se calhar a culpa também é da praxe e neste caso, este tipo de gente que aponta e quer mal, este tipo de gente que especula porque sim e porque não… são os grandes doutores da praxe, aqueles que na faculdade apelidamos de Doutores de Merda (literalmente e com alguma experiência)! Abusos existem e devem ser prevenidos, encontrados e punidos com seriedade… mas quem vê só para um lado, é porque só olha para o seu umbigo descerebrado como um caloiro que obedece à corrente, e se humilha nessa praxe que é dizer parvoeiras com ares de Doutor! A realidade é dura mas é a realidade! // Rui de Noronha Ozorio

CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 71


72 // www.IDIOTMAG.com


HÁ DUAS PALAVRAS QUE ME TÊM ASSOMBRADO NESTAS ÚLTIMAS SEMANAS: “PRAXE” E “REFERENDO”. NÃO SEI SE VOCÊS JÁ SOFRERAM DESTE MAL (TENHO A CERTEZA QUE MUITOS ANDARÃO A PADECER DO MESMO), MAS PARECEME VERDADEIRAMENTE FASCINANTE O QUANTO DUAS PALAVRINHAS TÊM O DOM DE ESTRAGAR O DIA DE UMA PESSOA. TENTAMOS NÃO PENSAR NELAS, QUEREMOS FAZER A NOSSA VIDA SOSSEGADOS E DE REPENTE, VINDAS DE TODOS OS LADOS, LÁ SURGEM DE NOVO. E SE ESCONDER A CABEÇA DEBAIXO DOS COBERTORES NÃO NOS LIVRA DAS ASSOMBRAÇÕES (E, CONSEQUENTEMENTE, DE EXPERIMENTAR AQUELA SENSAÇÃO QUE ESTÁ ENTRE O MEDO E O VÓMITO), FALAR DO ASSUNTO TAMBÉM NÃO COSTUMA AJUDAR. É DAQUELAS COISAS NAS QUAIS NEM QUEREMOS MEXER PARA NÃO CHEIRAREM PIOR. MAS COMO FECHAR OS OLHOS E DIZER AMEN ÁQUILO QUE É, PARA NÓS, UMA VERDADEIRA ATROCIDADE? Carolina Hardcandy CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 73


Bem sei que os dois assuntos não estão minimamente relacionados, mas ultimamente aparecem de mãos dadas na minha cabeça. É que, para mim, este referendo continua a assemelhar-se a uma espécie de jogo de crueldade. Senão vejamos: o projeto de lei relativo à coadoção por casais do mesmo sexo foi aprovado em maio de 2013, tendo sido travado pela proposta de referendo apenas em outubro do mesmo ano. Durante meses a fio, as famílias homoparentais portuguesas acreditaram que os seus direitos seriam finalmente reconhecidos e, às portas da votação final, veio a JSD pregar-lhes uma rasteira. E eu olho para isto e pergunto-me: estaremos a ser praxados? Teremos mesmo de ser postos à prova e fazer corridas de obstáculos sem sentido para conseguirmos aquilo que merecemos á priori? A analogia ganha força quando relembro que a medida foi aprovada na Assembleia da República com os votos a favor apenas do PSD, que instituiu a disciplina de voto para esta matéria. 74 // www.IDIOTMAG.com

Depois da votação, vários deputados do partido manifestaram o seu descontentamento, sublinhando que não haviam expressado aquilo em que realmente acreditam (desculpem-me se estou a extrapolar, mas tudo o que me ocorre é “peer pressure”). Após a decisão da Assembleia da República, coube a Cavaco Silva dizer de sua justiça, podendo vetar ou promulgar a ação; optou, no entanto, por manter-se mudo e quedo, remetendo-a para o Tribunal Constitucional, a fim de fiscalizar a legalidade e a constitucionalidade da mesma. Até a data em que escrevo este texto (dia 5 de fevereiro) não foi ainda anunciado nenhum veredito, mas a resposta parece óbvia até para um leigo. Para a obtermos, basta abrirmos a Constituição da República Portuguesa, cujo Artigo 13º determina, desde 2004, a proibição da discriminação fundada na orientação sexual. A constitucionalidade não parece ser, no entanto, um entrave para Hugo Soares, líder da Juventude Social Democrata e formado


fotografia: Horta do Rosario, Marcha LGBT Porto 2012

em Direito, que declarou a plenos pulmões, no debate transmitido pela TVI24: “Todos os direitos das pessoas podem ser referendados”. Esta frase, talvez pelo seu caráter sui generis, lembra-me uma outra que tem sido amplamente partilhada nas redes sociais: a de um defensor da praxe que afirmou, num debate sobre o tema, que “temos o direito de ser humilhados”. E isto põe-me a pensar: vivemos mesmo num país onde os direitos fundamentais são uma coisa discutível, mas onde se defende com unhas e dentes o direito à humilhação? E este simples pensamento, não é já humilhante que chegue? E já que estou a fazer perguntas, onde está o meu direito em não ter de ouvir e pactuar com a homofobia mascarada de intenções democráticas? Hugo Soares defende que o referendo é necessário porque é preciso ouvir o que as pessoas têm a dizer sobre o assunto; mas será que sofre de uma surdez momentânea? É que desde a aprovação desta medida, são

incontáveis as vozes que se levantaram para condená-la. No dia 18 de janeiro quando esteve em Braga, cidade que o elegeu, não terá ouvido a manifestação que o esperava? Pior: não conseguirá já ouvir a sua própria voz no vídeo que protagonizou para a campanha Tudo Vai Melhorar, onde afirma que “Vale a pena acreditar que tudo vai ser diferente. Vale a pena ter esperança”? Ainda a propósito, a campanha Dislike Bullying Homofóbico, promovida pelo Governo Português e pela Comissão pela Cidadania e Igualdade de Género, aconselha aqueles que vivem ou testemunham episódios deste tipo a denunciá-los. Tendo isto em conta, quem é que hei-de denunciar primeiro? Como nota final, e ainda neste meu monólogo interior, ocorre-me que será talvez injusto comparar as palavrinhas aberrantes que me assombram: é que na Academia, a praxe é para quem lá aparece, mas em Portugal para sermos “praxados” basta existirmos. // CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 75


Aline Fournier

www.lafouinographe.com

76 // www.IDIOTMAG.com


Brighton UK January 2014

CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 77


78 // www.IDIOTMAG.com


CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 79


Tuesday Sakura

https://www.facebook.com/tuesdaysakura

80 // www.IDIOTMAG.com


CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 81


82 // www.IDIOTMAG.com


CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 83


fotografia: Horta do Rosรกrio 84 // www.IDIOTMAG.com


ERA UMA VEZ A SOCIEDADE! Por Rui de Noronha Ozorio

“A MELHOR MANEIRA DE FAZER AS CRIANÇAS BOAS, É FAZÊ-LAS FELIZES” Oscar Wilde.

ERA UMA VEZ UMA SOCIEDADE QUE SE ESQUECEU DE SER FELIZ! ERA UMA VEZ UMA ESPÉCIE QUE APAGOU, DE TODA A MEMÓRIA, O CAMINHO DA FELICIDADE! OS QUE AINDA LEMBRAVAM ERAM SOMENTE OS SAUDOSISTAS SOLITÁRIOS… Será que queremos uma sociedade assim? Será que conseguiríamos existir sem a meta da felicidade? Será que já assim vivemos? Será que somos felizes? Será que estamos a deixar que os outros nos ditem a liberdade de ser feliz? A felicidade não é um direito que se possa questionar, a felicidade nem sequer é um direito… mas uma liberdade que deve ser sempre sonhada, conquistada, garantida e espelhada… No máximo, a felicidade será um Dever fundamental de cada um de nós, pelo que deverá ser um motor de contami-

nação e não um poço de invejas, ou um recreio de manadas bem ordenadas onde todos falam a mesma língua. O ano, que começou há um mês e pouco, nasceu infeliz! Não falo da crise económica porque o Euro só traz problemas e nem sequer o pedimos! Falo desta conversa que anda à volta da Co adopção por casais homossexuais e dessa decisão ter sido proposta para Referendo, depois de já ter sido aprovada em sede parlamentar! É, sem dúvida, um assunto muito infeliz das duas partes, porque carregado de segundas linhas, de obscuridade e perversidade. Antes que haja qualquer tipo de confusão no que toca à leitura do meu pensamento, devo dizer que defendo que as crianças para adopção, deveriam ser adoptadas por famílias que as pudessem amar e educar no seu superior interesse, sejam elas famílias tradicionais, monoparentais, homoparentais (isso é o que menos interessa)… CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 85


Na realidade, uma criança quer ser feliz, simplesmente feliz! As crianças têm uma simplicidade no afecto que, nós adultos, fazemos sempre o favor de esquecer! Tudo seria tão mais belo e decente se as crianças, cuja família é o Estado, fossem o centro das preocupações de quem propõe este tipo de acções políticas! Ora não é o caso. E deixemo-nos de rodeios! A esquerda fala em direitos de minorias, como se os homossexuais tivessem de ter direito a adoptar! Pois não têm nem têm de ter! Nem Homossexuais nem Heterossexuais! A adopção é um direito da Criança! Mas a esquerda gosta de vincar as diferenças e, sem se aperceber, motiva o preconceito! Mas fá-lo porque enriquece os boletins de voto, apoiada por um lobby cada vez mais poderoso, mas que não passa disso mesmo (dum lobby) e que nem representa sequer a comunidade homossexual, mas a perversão da igualdade! Com

86 // www.IDIOTMAG.com

a Co adopção passa-se exactamente a mesma coisa… Não deveria interessar se o companheiro é homem ou mulher… é já pai e mãe e isso é o que conta! Enquanto estivermos a discutir se determinada orientação deverá fazer parte dos requisitos para a concretização da adopção, estamos a deixar as crianças no meio campo do jogo! De um lado, a esquerda tenta marcar, do outro a direita tenta derrubar… e a criança fica ali abandonada sem ninguém que pegue nela e a defenda dos remates mais violentos! A direita, mais conservadora e numa atitude bem mais salazarenta, não quer ganhar o jogo, mas tem outro campeonato a decorrer: a Austeridade! E, como tal, precisa de desviar as atenções e arranjar um “faits divers” para distrair a populaça enquanto lhes vai ao bolso! Um tonto distraído é sempre mais fácil de enganar! Para isso, arranjaram maneira de gastar milhões de euros para referendar uma matéria já aprovada


pelo Parlamento: a Co adopção! O CDS, que também está metido até ao pescoço no campeonato austero, decide dar uma de Pilatos e lavar as mãos de toda esta história dizendo que “Não inviabilizaremos o referendo mas o PSD está sozinho nesta matéria”, o que é o mesmo que dizer…. “Oh pá vocês dão a cara e a gente ajuda, mas ficamos bem no quadro”. Propor um referendo sobre esta matéria é tão perigoso como fazer um sobre a pena de morte! É um atentado aos direitos das crianças, é um atentado terrorista à construção da felicidade! Ninguém tem o direito de o fazer! É que já nem me refiro aos milhões que se gastam num referendo, mas à intimidade de cada família! Não se iludam! Isto é um jogo político, por mais que venham dizer que não o é e que estão muito preocupados com o assunto! Uns preocupam-se em festejar com bandeiras coloridas, outros com bandeiras “Troikadas”. Mas já dizia o outro que “o que é preciso é animar a malta”. Se quisessem fazer as coisas de forma séria, poderiam fazê-lo tão mais

facilmente! A esquerda e a direita se estivessem, de facto, interessadas em proteger as crianças… propunham leis que as defendessem. A Constituição da República Portuguesa prevê que ninguém pode ser privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever, por razões de orientação sexual (art. 13º nr2), ou seja, uma criança pode ser adoptada por qualquer tipo de família (tradicional ou homoparental), porque não é a orientação sexual dos pais que vai interferir no assunto! Alterem as leis da adopção, mas não as transformem num carnaval perverso e oportunista! Nem vou entrar na discussão da influência sexual dos pais sobre os filhos, porque isso já se percebeu que não existe, senão nem haveria homossexuais com os exemplos que têm em casa! Hoje, falo do direito à liberdade de ser feliz! Invertamos o rumo desta infelicidade que se iniciou este ano, para não deixarmos que um dia mais tarde… as avozinhas não contem aos netos aquela história da sociedade que se esqueceu de ser feliz! //

CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 87


Crónica: Tiago Moura SADNESS IS MY BOYFRIEND:

Eu estou sozinho há dois anos e alguns meses. Reparem que digo sozinho e não solteiro. Sim, é fevereiro e eu vou falar disto. Durante grande parte destes dois anos, tentei sempre convencer-me que era uma opção minha e não falta de sorte – o que no final das contas é a verdade. Quando começou, começou porque eu sentia-me perdido num ciclo de relações emocionalmente desequilibradas. Tinha acabado o meu mestrado e qualquer objetivo que eu idealizara para mim próprio desaparecera. Quando começou, fiz o que alguns fazem quando algo acaba: explorei. Nessa altura, sentia-me fresco e não tinha medo de me atirar para mais que um projeto ao mesmo tempo e acabei crescendo mais nesses 3 ou 4 meses iniciais que nos 5 anos que passei na faculdade a estudar. De um dia para o outro acordei e sentia-me diferente; sentia que aquele era o momento para fazer, não - para concretizar aqueles sonhos que outrora me pareceram ridículos. E de uma Lua para o Sol fiquei parvo. Fiquei adulto, também, porque cronologicamente o sou, mas fiquei parvo e, como parvo que ficara, não demorei a apaixonar-me por tudo e por qualquer coisa. É um traço meu de que gosto particularmente e que não desejo perder tão rapidamente: maravilho-me facilmente com o mundo e com muitos dos seus detalhes (afinal de contas, está a escrever a pessoa que deitou uma lágrima a primeira vez que viu a árvore de Natal, da Avenida dos Aliados, iluminada). Confesso que, nesses tempos, tomei algumas decisões erradas ou menos moralmente corretas, mas na altura apeteceu-me ceder aos convites que a vida me fazia. Sabia-me tão bem acordar na manhã seguinte (ou tarde seguinte) e não sentir 88 // www.IDIOTMAG.com

culpa. É, de facto, um sentimento incrível, sentir que as nossas ações não deixam marcas ou causam consequências. Mesmo que elas acabem por aparecer, eventualmente.. Quando começou, eu planeei voltar a fazer coisas com que me identificava, ao invés de estar constantemente a gastar metade da minha energia em preocupar-me com o que o outro está a fazer e a sentir. Novamente, na altura, foi o que queria fazer e foi um sentimento libertador e tentei tomar proveito dessa sensação – da minha própria maneira. Para mim, isso traduziu-se, também, em participar em cursos e em mais projetos que me interessassem (parêntesis curvo: a minha própria presença nesta revista advém dessa altura). E, quase como aconteceria no segundo ato de uma comédia romântica, eu estava a voltar a sentir aquele sentimento nunca melhor representado que numa cena do filme As horas, em que a personagem de Meryl Streep compara o seu maior momento de felicidade ao sentimento de oportunidade experienciado uma manhã. Eu sentia isso: tudo estava a um palmo de distância de acontecer e eram os meus dedos que mediam a distância. E nessa altura, o prospeto de uma relação parecia-me impossível. O egoísmo daquele momento, que nunca tinha expresso tão abertamente, foi a melhor decisão que podia ter tomado e não estava pronto para dividir a minha atenção. E, de repente, deslizei. Quer dizer, olhando para trás com o benefício de alguma objetividade, não foi um deslize, porque deslize remete para um acidente e não o foi. Mas naquele impasse temporal não sabia como lidar com aqueles sentimentos e o entrave que eles representavam, por isso acabava por escorregar em todas as esquinas do caminho. E, nessa altura, fresco desse sentimento livre de culpas, canalizei os meus sentimentos para o único modo que conhecia como meu: escrevi. Escrevi uma peça e entreguei-a e encenei-a, literalmente, para ele. Ignoremos, em conjunto, a ironia melodramática do ato, porque o que importa são as conclusões que retiro, agora, desse momento: 1) sempre estive pronto para dividir o meu tempo com alguém e 2) tinha pouco interesse na resolução concreta das situações criadas pelos meus sentimentos. Nessa altura, ouvia o álbum dos Daughter e escrevia, porque ambas as coisas eram processos que tinha de suportar (suportar é um verbo tão católico) para atingir o que eu achava que seria alguma espécie de epifania que, por definição, não acontece por tentativas. Havia-me tornado cínico em relação a qualquer tipo de relacionamento ao


PUBLICIDADE

mesmo tempo que achava que era tempo de me dedicar a alguém e se acham incrível ou impossível a existência em dois pólos opostos: a) admiro o vosso poder de resolução emocional; b) são extremamente ocos a um nível emocional. Nessa altura, em que começou, vivia constantemente com a compreensão que queria e não necessitava de uma relação, ao mesmo tempo que não queria saber se ela estava para acontecer. Agora, dois anos e alguns meses depois de ter começado, tenho 25 anos e as coisas sentem-se mais empiricamente do que através de um filtro estilo cor de rosa que turva a nossa visão. O próximo já não é o príncipe encantado e a certeza de passar mais um dia de S. Valentim sozinho parece ser mais um dogma que uma simples e inocente constatação. E isto é sobre isso. Sobre a certeza de passar mais um dia 14 sozinho. Parece ridículo e outras coisas juvenis, e contra esses argumentos não me poderei defender, mas, em minha defesa, nós criamos a partir daquilo que nos falta. E agora que, dois anos e uns meses depois de ter começado, já não me faço falta, estou a escrever nas entrelinhas que me faz falta outra pessoa. Consegui criar um significado novo para mim próprio e conquistar novos objetivos e isso é importante, porque todas as personagens precisam de intenção e, atualmente, algumas delas começam a ficar bem delineadas e acho-me capaz de dividir isso com alguém. O que eu quero, em último caso dizer, é que talvez 2014 não seja o ano em que passe o 14 de fevereiro devidamente acompanhado, mas isso não quer dizer que deva ficar em posição fetal na cama a ouvir Adele (sim, estou a olhar para vocês que ainda ouvem a Someone like you e a Make you feel my love em vez da Rolling in the deep e da Hometown glory). Por muito instável que esta altura da minha vida esteja a ser (às vezes, o meu espírito egoísta faz-me questionar o porquê desta enorme crise ter acontecido neste momento da minha vida), sinto-me extremamente grato por voltar a saber quem eu sou e quem quero ser. E esse é um romance tão difícil de manter, não é? – fim de interrogação alimentada por recordações da Carrie Bradshaw. E como a Rita costuma afirmar: «há diferentes tipos de amor», ao que eu acrescento que só temos de ser capazes de os aceitar. Feliz dia dos namorados. //

CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 89


www.IDIOTMAG.com 90 // www.IDIOTMAG.com


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.