8 EDITORIAL Let´s Live For Today 16 ATUALIDADE O Sangue Do Norte 22 PHOTOREPORT Street Art no Edifício Axa
12 VROTEIRO + VER, OUVIRE LER 20 CINEMA Crítica 32 IDIOTA DE RUA
34 PHOTOREPORT Pacha Ofir Openning 2014
40 ARTISTA DE CAPA Eky One
48 INTERVENÇÃO Putrica 2014
52 INTERVENÇÃO Art Inna Park
54 LA FOUINOGRAPHE Went to Porto
60 NEWSLETTER Idiotices no Pacha
64 PROVOC’ARTE É Urgente Ouvir O Corpo
2 // www.IDIOTMAG.com
67 GUIA De Um Jovem....
Direcção: João Cabral // Nuno Dias Textos: Ana Meira Ana Catarina Ramalho Bernardo Alves Bruno Manso Carolina HardCandy Mariana Vaz Nuno Dias Nuno Di Rosso Ricardo Branco Rui de Noronha Ozório Tiago Moura Tish Estagiarios: Diogo Moreira Elinga Noreikaite Gonçalo Ribeiro Rui Castro Design: João Cabral // Nuno Dias IDIOT, Gabinete de Design® Capa: Eky One Fotografia: Aline Fournier Lígia Claro Video: CTRL N Rita Laranjeira Todos os conteúdos são da responsabilidade de: IDIOT, Gabinete de Design ®
Cada redactor tem a liberdade de adoptar, ou não, o novo acordo ortográfico (*) NENHUMA ÁRVORE FOI SACRIFICADA NA IMPRESSÃO DESTA MAGAZINE!
www.IDIOTMAG.com IDIOT@IDIOTMAG.COM CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 3
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Nuno Dias
LET’S LIVE FOR TODAY UM DIA VAGUEAVA PELA INTERNET SEM NADA QUE FAZER E DEPAREI-ME COM ESTA FRASE. “É MELHOR SER DETESTADO PELO QUE ÉS, DO QUE SER AMADO PELO QUE NÃO ÉS”, NO BOM PORTUGUÊS. NUNCA UMA FRASE CONSEGUIU IR AO ENCONTRO A ALGO QUE EU SENTIA NO MOMENTO, ALGO QUE EU ESTAVA A PASSAR. À CONVERSA COM UMA AMIGA, ELA DISSE: “ESSA FRASE É MUITO FORTE E EXPLICA MUITA COISA”. TANTA COISA. NÃO SÓ O QUE EU SINTO, MAS TUDO O QUE SE PASSA. AS PESSOAS FAZEM-SE PASSAR PELO QUE NÃO SÃO, INDEPENDENTEMENTE DOS SENTIMENTOS DOS OUTROS, MOVIDOS POR INTERESSES PRÓPRIOS. SE CALHAR SOU EU, NÓS, QUE VIVEMOS NUMA UTOPIA, NUM MUNDO QUE NÃO PASSA APENAS DO FRUTO DA NOSSA FÉRTIL IMAGINAÇÃO E DO TURBILHÃO DE EMOÇÕES POR QUE SOMOS ASSOLADOS TODOS OS DIAS. NUMA ANÁLISE MAIS PROFUNDA, APERCEBO-ME QUE ESSA UTOPIA (LATIM TARDIO UTOPIA, PALAVRA FORJADA POR THOMAS MORE PARA NOMEAR UMA ILHA IDEAL EM A UTOPIA, DO GREGO OU-, NÃO + GREGO TÓPOS, OU LUGAR) É AQUELA SOCIEDADE QUE INICIAMOS FAZ MAIS DE UM ANO, A IDIOCRACIA, A SOCIEDADE DE IDIOTAS PARA IDIOTAS, O CRIADOR DE IDEIAS, QUE JÁ NÃO PRODUZ APENAS IDEIAS. CRIA SONHOS, FANTASIAS, DESEJOS, E TUDO DE BOM QUE PODE CABER NO NOSSO CORAÇÃO. É ASSIM QUE LANÇAMOS MAIS UMA IDIOT, SEMPRE COM AQUELE CARINHO QUE TENTAMOS QUE NOS SEJA CARACTERÍSTICO. ESTA É A PRIMEIRA VEZ QUE LANÇAMOS A IDIOT DE JULHO, MAS QUE VALE POR AGOSTO TAMBÉM! PORQUÊ? DOIS MOTIVOS: A EDIÇÃO DE AGOSTO É SEMPRE A MENOS LIDA (AS DUAS EDIÇÕES DE AGOSTO ANTERIORES TÊM APENAS UMA MÉDIA DE 2 MIL LEITURAS CADA) - E TÃO BOM CONTEÚDO NÃO SE PODE DESPERDIÇAR - E ESTAMOS NUMA AZÁFAMA: TRABALHAMOS PARA REALIZAR O NOSSO SONHO! ESTAMOS A REUNIR SUBSCRIÇÕES SEMESTRAIS. PARA QUÊ? IMPRIMIR A IDIOT MAG! JÁ IMAGINASTE TERES NAS TUAS MÃOS, TODOS EM MESES NO CONFORTO DA TUA CASA, UMA IDIOT MAG - LINDA DE CAPA DURA, BRILHANTE, COM UMA ILUSTRAÇÃO QUE ENOBRECE OS OLHOS, DE TAMANHO A5, AQUELE TAMANHO QUE CONSEGUE TORNAR ESTA PUBLICAÇÃO EM ALGO MAIS QUE UMA REVISTA, QUE A TORNA NUMA FANZINE, NUM OBJECTO COLECIONAVÉL, QUE PODES LEVAR NO BOLSO, CARTEIRO OU MOCHILA PARA TODO O LADO. LÊ-LA NO AUTOCARRO, NO METRO, EM CASA ANTES DE IR DORMIR, NUMA ESPLANADA AO SOL, OU MESMO NA PRAIA, PORQUE É ISSO QUE O TEMPO SUGERE AGORA. SÃO SÓ VANTAGENS NÃO SÃO? MAS AINDA NÃO ACABARAM: CADA EDIÇÃO CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 9 TEM UM VALOR SIMBÓLICO: 1 EURO + PORTES DE ENVIO. COMO É POSSIVEL? //
Ana Catarina Ramalho
L’imaginaire d’après nature, de Henri Cartier-Bresson estará patente de 27 de junho a 31 de agosto no Edifício AXA. Trata-se de um ciclo de fotografia que nos traz reflexões sobre a fotografia contemporânea. 12 // www.IDIOTMAG.com
De 11 a 13 de julho as Comédias do Minho ocupam os três palcos portuenses (TNSJ, TECA e MSBV), apresentando cinco espetáculos em estreia absoluta, de forma a comemorar o seu aniversário. De 16 a 18 de julho, no Mosteiro São Bento da Vitória, os alunos finalistas da ESAP apresentarão a peça O Jogo do Amor e do Acaso, de Marivaux, com a encenação de Roberto Merino.
O Cultura dos Sabores abriu as portas na rua de Ceuta. É um restaurante vegetariano, ideal para se poder degustar de uma qualquer refeição, em qualquer parte do dia. Neste local é de notar a particularidade de nos podermos sentar num baloiço, enquanto comemos. É uma quase viagem de volta à infância enquanto provamos o nosso prato, cujo chefe promete reinventar, também, alguns dos mais conhecidos pratos da gastronomia portuguesa.
De 17 a 19 de julho é a vez do MEO Marés Vivas, em Vila Nova de Gaia, que traz nomes sonantes à cidade. Já confirmados estão The Prodigy, Skrillex, James, Portishead, Joss Stone, entre outros.
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FILME: Minha alma por ti Liberta. Frédi cura os outros através das mãos, “herança dom” de sua mãe. A tarefa altruísta fá-lo viver num dilema entre a sua obrigação e aquilo que realmente queria para si. Até que descobre a sua própria cura. Drama de François Dupeyron, protagonizado por Grégory Gadebois (nomeado para o César de Melhor Actor).
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7SEVEN T H I R T Y. T H E PROBLEM é o fresco álbum produzido por Gensu Dean pelas mãos da Mello Music, a sair este mês. Diz ele que que por exemplo a faixa “Stacks & Body Bags” é para abanar as coisas entre o flow do 7seven e a produção nasty do Gensu. Confirma-se. Tudo a abanar para estes lados.
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A MORTE SEM MESTRE. O mais recente livro de poesia de Herberto Helder, escrito em 2013 e integralmente inédito, inclui CD com cinco poemas lidos pelo próprio. “Tudo quanto neste livro possa parecer acidental é de facto intencional (…), peço por isso que um qualquer erro de ortografia ou sentido / seja um grão de sal aberto na boca do bom leitor impuro.» diz o autor. // Tish
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Ana Meira
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AS CIDADES CONCEBEM-SE DE MUITAS TRAMAS. O ESPAÇO AGUENTA-SE PELA VIDA QUE EXISTE DENTRO DELE, O NOME DEPENDE DA REPUTAÇÃO, MAS A “CIDADE”, A “CIDADE” É FEITA PELAS PESSOAS E PELAS SUAS IDEIAS. DE PLANOS E ESTRATÉGIAS SE FAZEM AS GUERRAS, AS VITÓRIAS E AS DERROTAS, OS HERÓIS E AS MEMÓRIAS, OS PROJETOS E OS MOMENTOS. DE COISA POUCA SE FAZ A BEM-AVENTURANÇA. DAS BOLAS DO NATÁRIO À MONTANHA QUE ALBERGA A CITÂNIA SE FAZ UM NOME. DE PESSOAS CRIATIVAS E COM FORÇA NO “FAZER” SE FAZ UMA CIDADE. VIANA DO CASTELO ABRAÇA SERES ORIGINAIS E PITORESCOS, PESSOAS IMPULSIONADAS PELO RESULTADO, PELO RESULTADO DO SABER FAZER E DO SABER FAZER BEM. MOVEM IDEIAS, RODOPIAM EM VOLTA DA MÚSICA, PINTAM AO SOM DO VENTO, FOTOGRAFAM COM A LEALDADE DO MAR, ESCREVEM COM A GARRA DE NIETZSCHE. CRIAM COM VONTADE DE CRIAR E DE TORNAR UMA CIDADE EM MAIS DO QUE UM LUGAR, UM SER VIVO.
É deste sangue que surge a “Spot - Interface Criativo”, uma associação sem fins lucrativos com o objetivo de criar uma simbiose entre várias pessoas com uma bagagem intelectual e ideológica que arquiteta um todo em prol do individual. Entre várias atividades este mês, pelo segundo ano consecutivo, surge o festival de promoção de Bateria e Percussão, “Viana Stroke Roll”. Festival que faz jus à tradição musical da cidade e pretende reunir diversos talentos da percussão durante dois dias, para que possam dar ao público um pouco dos seus sentimentos, das suas emoções, do seu talento e da sua afirmação como criadores de uma arte em ebulição. Tendo o ritmo como cadência, este é um evento inovador no Alto Minho, que conta com arruadas, workshops, audições de escolas de música, concertos, performances de rua, concursos e ainda atividades de turismo e lazer realizadas em locais emblemáticos do Centro Histórico de Viana do Castelo. CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 17
Derrubem-se as armas e ergam-se as baquetas, as armas efémeras de ideias, as baquetas duras de perseverança. O Norte veio para ficar. Tal como as suas pessoas. Os jovens e os velhos, os deleitados e os ilusionistas, fazem do mal e do bem uma arte. Fazem do crescer e do viver o “criar”. Esperançosos e fervilhantes, a execução é tão importante como a executada, por isso façam-se coisas, façam-se dias e horas. Iremos guerrilhar para encontrar mais, explorar mais, criar mais, ser mais, pensar mais, viver mais, informar mais, embelezar mais, dar mais. Queremos ser “mais” tudo, incondicionalmente. Homens e mulheres de garras de ferro com flores na ponta. A sensibilidade equilibra-se com o grito de uma salvaguarda. Somos Idiotas acima de tudo. Vamos lá. A música é a banda sonora de um sonho material e onírico. //
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CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 19
TOM NA QUINTA
Crítica por:
de Xavier Dolan (2013)
Ricardo Branco
Diz-se que o a folha do milho corta melhor na época do Outono: a face manchada de sangue, o olhar assustado enquanto o corpo se deixa encantar, a mente afunila – entramos numa espiral de insanidade. Xavier Dolan desconstrui-se como realizador, saiu da sua zona de conforto e amadureceu: talvez estejamos perante um Dolan que atingiu o ponto de rebuçado e começa a demonstrar de que matéria é feita o seu imaginário. Nunca causando duvidas sobre o seu talento, no seu novo filme Dolan estava menos preocupado com moda e mais com estética, criando um universo de suspense e thriller que nos contamina com belos planos e um trabalho de som fabuloso. O tempo é húmido e cinzento, um lamaçal e um campo de milho demasiado intrigante – a desconstrução de Dolan é também física e como actor – valeu a pena deixar as cores e o pastiche
habitual para se lançar nesta adaptação de uma peça do seu conterrâneo Michel Marc Bouchard. Dolan escreve, realiza e protagoniza mais uma vez em Tom na Quinta que é provavelmente um dos melhores filmes que surgiu este ano: uma surpreendente evolução no cinema do canadiano de 25 anos que recentemente conquistou o prémio de júri em Cannes com o seu próximo filme que estreará por volta do final deste ano (prémio esse que partilhou com Jean-Luc Godard). Tom na Quinta lida com a sexualidade (tema recorrente na obra de Dolan) de uma forma refrescante e desprovida de clichés: é novo, bem conseguido e ainda assustador; destaca-se Pierres-Yves Cardinal pelo seu bonito desempenho neste seu primeiro papel. Xavier Dolan prova assim que não é mais um adolescente, mas sim um jovem adulto com um olhar de artista pouco comum.
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OBEDIÊNCIA
Vítor Gonçalves (2013)
Um homem preso numa vida que procura o seu sentido, vagueando por espaços pouco iluminados e vagos – estamos na sua mente e ele procura um amor antigo enquanto o seu chefe e mentor se prolonga muito após a sua morte. Vítor Gonçalves regressa à realização após cerca de trinta anos: o seu último e único testemunho foi Uma Rapariga no Verão de 1986 e A Vida Invisível aparece-nos assim como um filme mítico que esteve a “cozer” durante quase três décadas e que demanda uma contextualização imponente e resolutória. O guião denuncia um pouco a condição da obra – soa a algo esquecido numa gaveta durante os anos 80 e que sofreu as suas adaptações e adequações: a técnica e os espaços também parecem ter estancado nessa década da vida do cineasta (estamos no constante limbo e reminiscência entre o presente e o passado). A intenção foi compreendi-
da, as entrevistas foram lidas e a lição estudada: mas e se não fosse? Até que ponto é este um filme que se explica a si mesmo ou que se sustenta nos seus próprios pilares? Estamos perante um filme tão pessoal e tão íntimo que se torna por vezes cerrado em si mesmo e se alimenta da especulação e da metáfora que estabelece diretamente com a vida do realizador. O trabalho de actores não foi de todo o mais cuidado e Maria João Pinho revela as suas falhas como actriz ao longo de todo o filme – tal como Vítor Gonçalves revela algumas lacunas no trabalho que desenvolve com a câmara – talvez por ser exilado tanto tempo da sua condição de realizador; tal como o protagonista que não consegue esquecer o seu mentor e um amor mais jovem que lhe fugiu; as imagens em super 8 continuam a deambular e a surgir na tela como um pensamento, desta vida que é tão invisível como o seu filme. //
CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 21
Third, DNT
fotografia: Idiot Mag
STREET ART NO EDIFÍCIO:
Mais Menos
Hazul 24 // www.IDIOTMAG.com
Transa
Doc Costa CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 25
26 // www.IDIOTMAG.com
Okuba
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Alma do Coletivo RUA
God Mess + SEM 28 // www.IDIOTMAG.com
Draw do Coletivo RUA
CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 29
Reportagem IDIOT + CTRL N brevemente....
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Mr. Dheo
CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 31
Encontrámos a Eva Pereira na Avenida dos Aliados. Tem 22 anos e passa maior parte do seu tempo enfiada no quarto a fazer música. Começou a gostar de fazer música quando tinha 17/18 anos. Decidiu criar um alter ego, chamado Rarareruri e juntar algumas das suas criações musicais num EP intitulado de Weak Ankles.A nossa idiota deixou-nos o seu Soundcloud e o seu contacto. // Bruno Manso
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CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 33
05 - 07 - 2014
Olavo Bilac 34 // www.IDIOTMAG.com
https://www.facebook.com/ligia.claro.photography fotografia: Lígia Claro
Pista principal cheia do inicio ao fim da noite CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 35
Carla Nery e Bรกrbara Taborda
Kika Vieira e os Idiotas
Até o Olavo e a sua banda já só queriam idiotices
Lewis Fautzi no Club 3
Área Latina
Club 3 38 // www.IDIOTMAG.com
Demo na àrea Groupie
Até a nossa fotografa já tira selfies! CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 39
O GRAFFITI DO “SPRAY ANTIGO”
Mariana Vaz DO BOM E VELHO VANDALISMO À COSMOPOLITA ARTE DE RUA, O GRAFFITI COMO O CONHECÍAMOS ESTÁ A FICAR DIFERENTE. ESTÁ MAIS ABERTO E ACESSÍVEL MAS NEM ASSIM MELHOR COMPREENDIDO. CONTINUA A TER O DOM DA CONTROVÉRSIA, COLOCANDO-SE EM PRAÇA PÚBLICA ENTRE O HERÓI E O VILÃO. PARA EKY A QUESTÃO É SIMPLES. FIEL AO “OLDSCHOOL”, VEM DESENVOLVENDO O SEU ESTILO PESSOAL DESDE 98, SEM POR ISSO DEIXAR DE USUFRUIR DO MELHOR QUE A TÉCNICA MODERNA TEM PARA OFERECER. DE LISBOA PARA O PORTO, AS VIAGENS DE EKY NÃO FICAM SÓ PELA QUILOMETRAGEM. 40 // www.IDIOTMAG.com
Um percurso longo e acidentado trá-lo até nós através das diversas variantes do “graf”. Writer, graffiteiro, pintor, artista… as designações variam conforme o tipo, estilo, suporte e ocasião do trabalho. “Trabalho”? Sim, trabalho. Porque fazer o que se gosta é bom, mas ser bom no que se faz dá trabalho. Ainda em Lisboa, Eky inicia-se pelo “bomb”, desenhos rápidos e simples com letras garrafais e poucas cores . Aos poucos, a experiência puxa pela complexidade e assim, de rolo e escadote em punho, inicia-se nas grandes paredes legais do “hall of fame”. “Comecei a pintar em 98 em Lisboa. Na altura, eu e o Nark fundámos a CPKrew. Começámos pelo “street bomb” na rua, nas linhas do combóio, em paredes e estradas...” Mas este não é trabalho para lobos solitários. Não se faz graffiti sozinho. Mais do que uma peça na parede, o graffiti são as pessoas e os momentos que permeiam a sua cultura. Assim, e apesar da proximidade que
Eky mantém com o Porto, era Lisboa que na época se oferecia como maior centro nevrálgico desta nova actividade. O tamanho e densidade da capital levou a que o fenómeno lá deflagrasse muito mais cedo e com maior voracidade do que em qualquer outro ponto do país. “A diferença entre Lisboa e Porto é sobretudo a dimensão. Em Lisboa é tudo mais agressivo. É maior e há muito mais gente a praticar qualquer uma das vertentes do graffiti. Dantes vinha ao Porto e não ouvia falar muito de “graf”, era mais música e dança. Isto já é muito diferente do que se está a passar agora.” Hoje, sediado na Invicta e acolhido como membro da crew Gatos do Beko, Eky vai fazendo “um pouco de tudo” dentro do graffiti muito embora a maior parte do seu tempo seja dedicada a eventos e trabalhos sob a alçada da lei. Com diversas participações em eventos nacionais e internacionais, Eky vai dando cada vez mais nas vistas; no CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 41
entanto, é do reconhecimento do colectivo da “crew” que retira a melhor parte da missão. “Pintar com a CPKrew é o meu forte. Sempre trabalhamos juntos. O trabalho é sempre em crew…sempre... gosto mais de fazer trabalho em grupo que individual. Mesmo com os Gatos do Beko é a mesma coisa, funciono muito em função deles, eles fazem a música e trabalham as coisas à maneira deles… eu faço o resto… “ O Step in arena em Eindhoven e Meeting of Styles em Lisboa são dois momentos marcantes para Eky e a CPKrew “Na Holanda conseguimos criar uma imagem muito forte e no Seixal, no Meeting of Styles, fizemos o mesmo mas com uma mensagem crítica Neste caso foi ao uso de peles de animais... A crítica resultou muito bem, as pessoas gostaram e apoiaram e a peça ficou naquela parede ainda alguns anos depois disso. Procuro aproveitar sempre estas oportunidades ao máximo e explorar o melhor possível, quer ao nível da técnica, do estilo, quer ao da mensagem. Em tudo...” Puxando por vezes aqui e ali para a crítica política e social, Eky desfaz as ilusões de quem vê o graffiti como revolucionário muito à sombra do 42 // www.IDIOTMAG.com
mural de Abril. “Sempre se passou a mensagem de que o graffiti é de intervenção social, e de certa forma é verdade, mas ele também gira muito em função de “nós”, sou “eu”, “eu” e “eu” por isso é que escrevemos o nome em todo o lado” Muita gente ainda não consegue distinguir se é vandalismo ou é arte, e realmente nunca se viu uma resposta concreta.. O vandalismo foi por onde começou,” tags” e “bombing”; a parte artística era sempre no Hall of fame. Esta era a única coisa que nos dividia mas, no fundo, eram as mesmas pessoas que faziam uma e outra parte.” Usando sempre o Spray e a caneta, Eky poderia ser considerado um purista… Apaixonado pelo lettering e numa relação inquebrável com o aerossol utiliza os meios mais “clássicos” nos seus trabalhos. “Sou um pouco “pro-graff”, o spray antigo! O que eu gosto mesmo de fazer é Hall of fame. Não sou muito dado ao realismo, letras é o que gosto acima de tudo, considero que isso é que é mesmo “o graffiti.” A entropia aumenta com o recente boom da “street art”. Agora, separar o trigo do joio, aos olhos de um leigo, torna-se cada vez mais uma tarefa obscu-
ra a ser desvendada apenas por quem pertence ao meio. “Antigamente os conceitos estavam divididos. Havia duas vertentes : o graffiti e a street art que era o stencil, os stickers, os cartazes... Agora estão a querer meter no mesmo saco tudo o que é da rua. Supostamente, éramos uma cultura, embora hoje já muita gente misture estilos no que faz. “ Eventos como o mural da Lionesa, em Leça do Balio, e a exposição de Street Art no edifício da Axa, em pleno coração do Porto, trouxeram à cidade uma nova apreciação por este tipo de arte erudita, deixando o graffiti uma vez mais numa posição desconfortável, à margem de uma área moralmente cinzenta. Se por um lado a promoção da arte urbana face ao grande público está a proporcionar um ambiente mais aberto e criativo, a factura acaba por ser paga através da absorção e estandardização do próprio movimento. “Eles não estão a libertar espaços, estão sim a criar zonas fechadas para meter as pessoas lá dentro e assim acabam por saber quem é quem...Primeiro criminalizaram, e depois, em 2 ou 3 meses ,comercializam logo tudo. A diferença é que agora sabem que pode haver muito dinheiro envolvido
nestes trabalhos. Abrem concursos de rua em que se queres concorrer com um projecto, pagas; se queres pintar numa parede, pagas; para te aprovarem, pagas.. Estão sim é a controlar-nos. No evento da Axa, por exemplo, podia ter-se posto mais gente lá a pintar, mas não quiseram... Assim,acabam por ser sempre as mesmas pessoas. Havia muitas salas e espaço suficiente para dar abertura a iniciantes.” O graffiti está em tudo ligado à liberdade. Contornar a lei desta forma é um requisito necessário que, de uma maneira suave, nos previne de esquecermos que as regras são abstractas e os limites apenas imposições. Esta é também a nossa última esperança numa comunicação crua e não filtrada pelos média. Desta forma taxar a liberdade é então o mesmo que negar o próprio conceito. Confiante de que o graffiti puro irá sempre existir, Eki segue o seu estilo pessoal sempre tendo em mente que fazer graffiti não se trata de arte mas sim de uma forma de vida complexa em que elementos como a adrenalina, a liberdade, audácia e o respeito são tão essenciais como a tinta e a parede. // CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 43
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A BRINCAR DIZEM-SE AS VERDADES texto: Tiago Moura fotografia: Putrica ®
O MAPA GEOCULTURAL EMERGENTE ESBATE A DICOTOMIA PERIFERIA VS CENTRO. A ATIVIDADE CULTURAL E ARTÍSTICA É HOJE UMA AÇÃO, EM OPOSIÇÃO À MASSIFICAÇÃO. GERMINA EM QUALQUER PARTE DO GLOBO E RESULTA NUM UNIVERSO FLUIDO QUE ULTRAPASSA NOÇÕES CONVENCIONAIS DE FRONTEIRA, NACIONALIDADE, ETNIA, DISCIPLINA, SUPORTE OU EXPRESSÃO. [Retirado Da Página Do Walk & Talk]
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Pela segunda vez, e como parte das Festas Sebastianas, Frederico Draw, arquiteto de 25 anos, traz a Freamunde o festival de arte urbana Putrica - Propostas Urbanas Temporárias de Reabilitação e de Intervenção Cultural e Artística. Baseada num conceito de ocupação artística de edifícios da zona de Freamunde, através da sua reabilitação imagética, i certame pretende a sensibilização para a integração da arte pública no espaço urbano. O seu manifesto afirma, também, o desejo de transformar a rua numa galeria aberta. A organização do certame explica que um dos objetivos do festival é despertar o interesse da comunidade pela arte contemporânea, mais precisamente, na
arte urbana e, igualmente importante, criar um roteiro de arte urbana, um objetivo ambicioso, mas que vai de acordo com as ramificações do projeto inicial. Esta vontade de democratizar a arte urbana parece transversal a diferentes iniciativas do género: se tal fosse o caso para fazer a comparação esta seria a segunda vaga do Feminino. A arte urbana reclama o seu espaço e a sua diferença natural e exalta-a como argumento a favor da sua valorização e significado. A problematização do termo público, relacionado com a Arte, parece ainda mais evidenciado neste projeto, onde a sua organização dependeu e depende da participação do seu público e a quem é ocasionalmente solicitado auxílio.
MrDheo e Kissmywalls
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Mais Menos
Coletivo Rua
Da Covilhã com as intervenções do projeto Wool, a Ponta Delgada com as parcerias enormes do Walk & Talk e até no Porto, onde os diferentes eventos da Idiot têm juntado um maior número de estadores, a comunidade cada vez se abre mais a esta corrente artístisca, mas segundo Draw, as comunidades mais pequenas são mais receptivas e disponíveis em colaborar com as organizações deste género de iniciativas, afirmando que as autarquias se mostram mais cooperativas em ceder espaços e fornecer autorizações. Estas facilidades marcam o pesado contraste com a situação pintada nas maiores cidades do país, onde os entraves são cada vez maiores.
50 // www.IDIOTMAG.com
PUTRICA SIGNIFICA UMA CAMBALHOTA, UMA BRINCADEIRA QUE, TAL COMO A CURIOSIDADE, CAIU EM DESUSO, MAS A ORGANIZAÇÃO DO EVENTO, QUE TRAZ PROJECTOS DE DRAW, GOD MESS E HAZUL, PRETENDER SER MAIS QUE SIMPLES UMA ATIVIDADE LÚDICA. MAIS QUE UM EVENTO DESPROVIDO DE QUALQUER SIGNIFICADO E SIMPLESMENTE SUPERFICIAL, O PUTRICA PRETENDE IMBUIR A PAISAGEM URBANA DEVOLUTA DE NOVOS CONCEITOS E IDEIAS. //
Moradavaga CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 51
Youth One
fotografia: Marta Cunha https://www.facebook.com/MartaCunhaFotografia (edição 2013) 52 // www.IDIOTMAG.com
A Rua de Camões vai ser palco de mais uma edição do Art inna Park. Pelo seAore & Mars gundo ano consecutivo, e desta vez com a colaboração aqui dos Idiotas, a Invicta acolhe esta Jam urbana onde se mistura a música com o graffiti, com a presença de alguns dos melhores writers portugueses, que irão pintar ao som dos concertos ao vivo. Artistas como Dirty Cop, Ekyone e os Colectivo Rua, Draw, Oker, Fedor e Alma, e muitos outros, vão praticar live painting ao som de vários live Alma e acts e dj’s sets de músicos como BFedor -Ragga, Celebration Sound e Jah Fumega, e muitos mais. No meio de tanta animação ainda vai haver espaço para um workshop dado pelo Youth One com um custo de 20
euros, e uma área para crianças para os pais curtirem à vontade. Trata-se de um projecto sem fins lucrativos e a entrada custa 2 euros, que reverterá para pagar o material usado (tintas, latas) e assegurar as condições necessárias para uma grande festa. Pela noite dentro, o after party. A partir das 23.30, a festa passa para o Armazém do Chá, que abre portas a esta grande fusão artística para uma noite com muita música, bom ambiente e muita pintura. Com o hip-hop, o drum and bass e o reagge a marcar presença, a noite promete dar continuidade a um dia espectacular. No dia 19 de Julho a arte vem para as ruas do Porto. E tu? Apareces? // Diogo Moreira, Gonçalo Ribeiro
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WENT TO OPORTO Aline Fournier
www.lafouinographe.com
Kyle Cassel
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https://www.facebook.com/zombieuterus?fref=ts Von Khaos
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Catarina Albano, Ligia Claro e Ana Luisa Alves
CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 57
http://www.monikaarijaodob Ari https://www.facebook.com/
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Von Khaos
basic.com/ /ari.odobasic?fref=ts
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Cereja “constelação.
Este ano a Idiot Mag foi convidada para ser responsável pela comunicação do Pacha Ofir. Aceitamos com todo o carinho. Vejam algumas idiotices que já estavam presentes na primeira noite, pela objectiva, mais uma vez, da Lígia Claro
Apresentação da equipa “ Famiglia Pacha”
#selfiepacha
Convidamos o artista FEDOR a interpretar as cerejas do Pacha na zona vip
“ Famiglia Pacha”
Fotomaton entrada Vip
Sinalética WC’s
IDIOTS @ PACHA: -Conceito verão 2014 “Pacha Superstars” - Conceito e sessão fotográfica de apresentação da equipa “La Famiglia Pacha” - Flyers, Mupis, outdoors, acess cards, cardápios - Decoração em vinil, esquemas cromáticos das áreas - Logótipos das áreas - Acções de marketing - Agenciamento de artistas urbanos - Gestão de Redes Sociais
É URGENTE OUVIR O CORPO!
Por Rui de Noronha Ozorio
O CORPO É UM INSTRUMENTO DA ALMA, BEM ARTICULADO, PERFEITAMENTE CAPAZ DE SER LIVRE E DESINIBIDO. NO ENTANTO, O CORPO É SISTEMATICAMENTE VIOLADO POR REGRAS DE CONDUTA, POR VERGONHAS, POR CORRENTES QUE, PRIMEIRAMENTE SUFOCAM A ALMA, E QUE SEGUIDAMENTE SE REVELAM NO MOVIMENTO. A cultura judaico-cristã incutiu, desde os seus primórdios, desde os 10 mandamentos que Moisés alcançou na fuga do Egipto, uma série de regras de conduta que, basicamente, se resumiam a um Não elevado a uma dezena de liberdades (ou permissividades, como queiram chamar). A isto, a esta prisão, chamaram os doutos cleros: Moral! E a moral vinha escrita numa tábua de madeira, supostamente criada por mão divina com o desígnio, também ele divino, de controlar a conduta, de criar medos, ou de indicar a morada da perfeição. O poder, supostamente também divino, alastrou-se de tal forma que todo o ocidente cristão, religioso ou laico, tomou as condicionantes da liberdade como um bem, uma bem-aventurança a seguir. Tudo um engano! Deus, penso que preocupado com o andar da carruagem e das tábuas, até enviou à terra o seu filho Jesus para que se percebesse a ideia de amor e liberdade, de amoralidade. Ao invés disso, o poder contratualista decidiu manter o Não e com isso, fazer crescer a moralidade e, claro está, a imoralidade. Já se sabe que quando se proíbe, um oposto acontece por reacção e sem qualquer tipo de equilíbrio. Assim, o intuito do controlo gera, naturalmente, o des-
controlo, o caos e o Estado a que isto chegou! E Jesus tentou, de facto, mostrar que não deveríamos condenar ninguém. Que atire a primeira pedra quem nunca pecou, disse ele. E a realidade, é que o pecado foi dito por Cristo, não porque o fosse, mas para que as gentes pudessem entender. Na verdade, o que ele quis mostrar foi que ninguém deveria descriminar quem quer que fosse, que ninguém é perfeito e que deveríamos respeitar as diferenças, mesmo que a tradição as condenasse por puro controlo de conduta, despido de verdade e de bondade! O homem, sempre apoiado nas tábuas de outro seu semelhante, decidiu borrifar-se nos ensinamentos de Jesus e continuou a ceifar a liberdade e a promover o Mal (mesmo que achando que era o bem – pura ignorância em alguns casos, verdadeira maldade noutros tantos). Hoje, somos o resultado de uma soma de séculos intermináveis de ditadura da alma. A educação define-se mais como domesticação ou adestração, do que propriamente como elevação ou evolução. Desde que nascemos, neste ocidente amestrado, ouvimos coisas como: “não jogues à bola que partes
alguma coisa, não andes assim que pareces desleixado, costas direitas, peito para fora, barriga para dentro” e lá vai o sargento, desde pequenino a enrijecer o pepino. Quando crescemos, somos garfos hirtos e complexados, preocupados com as aparências e com o julgamento alheio. Depois, reparamos que nem todos somos assim. Que basta atravessar o oceano para as áfricas, como fez Vasco da Gama (já com o propósito de mandar e tentar impingir as regras), e ficamos admirados com a liberdade com que os negros mexem o corpo, com o ritmo ao som da música, ao som da fé, com aquelas vozes intermináveis que se apresentam sem limites, sem freios e sem maldade.
Lá podemos jogar à bola com a imensidão da natureza, podemos dançar com todas as articulações que a anatomia pôs à disposição. E ficamos roídos de inveja, mas nunca percebemos porque a liberdade corre tão livremente naquelas veias queimadas ao sol. Nesses confins de civilização respira-se ar puro e contemplam-se as estrelas. Neste lado civilizado respiram-se horários e contemplam-se as contas bancárias. Do outro lado podemos ser quem quisermos, deste podemos ser quem os outros querem que sejamos. Quando pensarmos em felicidade, lembremo-nos sempre duma coisa: quando o corpo pede, é melhor ouvi-lo, porque ele é um instrumento da alma… e essa Nasceu livre! //
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UM GUIA DE UM JOVEM FRACASSO PARA SE TORNAR NUM ADULTO EXCELENTE Crónica: Tiago Moura
HOW TO FLY THE NEST: Assinei contrato esta
semana. É oficial, vou ficar a trabalhar aqui - pelo menos por agora. Quando os primeiros rascunhos desta ideia foram rabiscados (noutra plataforma online), um dos passos que tinha definido para poder considerar-me um adulto de sucesso era conseguir um emprego abrir aspas seguro fechar aspas e, doze meses depois, o meu nome no fim de uma folha certifica que estou um passo mais perto de atingir esse objetivo. Um ano atrás, estava a começar um estágio, esperançoso que conseguiria agarrar a oportunidade e transformá-la numa alavanca para outra fase da minha vida (na altura, estava a dividir-me em três empregos e, apesar de estar feliz, não estava mais perto ou mais longe de dar os passos necessários para crescer).
AVISO: De nenhum modo deve o leitor interpretar
as minhas afirmações anteriores ou as que se seguem como indicação que eu defino sucesso, na idade adulta, como um emprego das 9h às 18h, um apartamento pequeno e uma rotina quebrada por um hobbie menor qualquer, que existe pelo único propósito de evitar a realização que caímos na rotina.
DUAS SEMANAS DEPOIS I’m coming down. É como descreveria o meu estado de espírito, atualmente. Depois daqueles dias após assinar contrato, em que sentia o mundo na minha mão e cada dedo era uma possibilidade de o conquistar, a rotina voltou a cair e o meu corpo está a ajustar-se às diferentes realidades que, até uma assinatura atrás, tinham um prazo de expiração e agora têm uma duração indeterminada. Sim, sinto uma maior confiança nas minhas capacidades dentro do meu local de trabalho e até reconheço o espaço que me estão a oferecer para crescer e isso até turva um pouco aquela visão de que os meus dias serão extremamente repetitivos de agora em diante. É uma constatação estranha, porque se por um lado não me sinto a ceder às pressões estruturais do nosso mundo de ter um emprego regular e um salário fixo e tudo o resto que vem com trabalhar num escritório, por outro temo que todas aquelas histórias que tenho para contar nunca vão ver a luz do dia. Quando penso nisso, a minha barriga dói. Todas aquelas parolices que as grandes personalidades e mentes afirmam em entrevistas como testes para a nossa verdadeira vocação, o meu resultado é sempre o mesmo: escrever. Eu acordo a querer escrever e deito-me a querer escrever. O problema é que durantes esses dois momentos eu raramente tenho tempo para escrever. Eu existo em dois planos: o do Real e o Fabricado. Cada vez reconheço que raros são os momentos em que eu estou presente que não esteja, simultaneamente, a analisar o cenário, as falas, as perspetivas das personagens. Não sei se isso me torna falso, por estar extremamente consciente dos meus atos, gestos e falas, mas a simples verdade que isto é tão natural para mim como respirar deve querer sublinhar algo sobre a minha vocação. E é isso que eu tenho medo. Muito medo se vos sou demasiado honesto. Há uma fala no texto Closer, do Patrick Marber, em que uma das personagens afirma que todos somos constituídos de milhares de histórias. E se eu nunca tiver tempo para as contar? Se eu nunca conseguir concretizar em papel um princípio, um meio e um fim que já existe na minha mente? É irónico que eu esteja a admitir que o meu maior receio é não conseguir agarrar uma oportunidade, numa altura da minha vida em que me devia sentir afortunado pelas que me estão a chover.
Até muito recentemente, eu vivia com um medo que estava atrasado em relação ao resto das pessoas da minha idade e cada dia, mês e ano que passava só afirmava essa derrota. Foi preciso um heart 2 heart com a minha Mãe para entender que estava a colocar demasiada importância no que não tinha e não estava a conseguir ver o que já tinha realizado. Foi preciso essa chapada verbal para entender que, na verdade, eu não estava nada atrasado - estava bem. Convém ressalvar que parte da atitude da minha Mãe vinha com água no bico, uma vez que ela não tem qualquer interesse em que eu saia de casa já e todo em que eu saia de casa já com companhia, mas a probabilidade de tal acontecer é muito limitada (tal como o meu interesse nessa opção). E agora, mais que nunca, eu sinto com todas as fibras do meu ser que esta é a altura. Esta vai ser Mas se não fosse complicado eu não gostava desa minha Época Dourada, o meu Verão de 69! ta história. //
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