Idiot Mag nº23 JAN.14

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6 EDITORIAL Como Gostamos 16 PHOTOREPORT Galeria de Street Art de Cedofeita 30 ILUSTRADOR Zana 40 IDIOTAS AO PALCO 50 ELETRÓNICA Remotion 62 INTERVENÇÃO Video Kill The Radio Star 70 LA FOUINOGRAPHE Studio Sessions 80 CRÓNICA Guia de Um Jovem...

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08 VROTEIRO + VER, OUVIRE LER 24 ATUALIDADE Santa Cecilia 38 CINEMA 42 PHOTOREPORT Synospys @ Gare Porto 56 TABU? A Alcova de Patricia 66 HOMOGENEO 1/360 e os Arco Iris Em Lisboa 76 PROVOC’ARTE Don’t Be Easly Defined 81 O ANTI-IDIOTA Batman Vai ao Cinema


Direcção: João Cabral // Nuno Dias Textos: Ana Catarina Ramalho Ana Luísa Carvalho Bernardo Alves Bruno Manso Carmo Pereira Carolina HardCandy Flora Neves Mariana Vaz Nuno Dias Patrícia (Pseudónimo) Rui de Noronha Ozório Tiago Moura Tish Design: João Cabral // Nuno Dias IDIOT, Gabinete de Design® Capa: Zana Ilustração: Zana Fotografia: Aline Fournier Lígia Claro Video: Rita Laranjeira

Todos os conteúdos são da responsabilidade de: IDIOT, Gabinete de Design ® www.idiocracydesign.com Info@Idiocracydesign.com

Cada redactor tem a liberdade de adoptar, ou não, o novo acordo ortográfico (*) NENHUMA ÁRVORE FOI SACRIFICADA NA IMPRESSÃO DESTA MAGAZINE!

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// Nuno Dias


COMO GOSTAMOS COMEÇAMOS 2014 COMO GOSTAMOS: COM ARTE. FRESQUINHA, PERTINENTE E COM MUITA COR. É A 23ª - 24ª SE CONTARMOS COM A VERSÃO #00 - E AINDA HOJE, SENTIMOS AQUELE MURMURINHO NA BARRIGA NO MOMENTO DE A PÔR ONLINE, POIS NÃO É SEMPRE QUE ALGUÉM CONSEGUE PÔR CÁ PARA FORA TUDO QUE SENTE COM TANTA CONFIANÇA. E NÓS SOMOS, SEM DÚVIDA POSSÍVEL, PRIVILEGIADOS EM FAZÊ-LO TODOS OS MESES. MAS ENGANA-SE QUEM PENSA QUE O CONSEGUIMOS FAZER SOZINHOS. DE MANEIRA NENHUMA, E ESTA É A ALTURA DE LHES AGRADECERMOS. UM MUITO OBRIGADO ESPECIAL E O MAIS SENTIDO QUE ALGUÉM CONSIGA SENTIR-SE SENTIDO. OBRIGADO CARMO PEREIRA, MARIANA RIBEIRO, RUI OZORIO, MELANIE, TISH, TIAGO MOURA, BERNARDO ALVES, CATARINA RAMALHO, ANA LUÍSA, CAROLINA HARDCANDY, BRUNO MANSO, FLORA, RITA LARANJEIRA, LÍGIA CLARO, MARIANA OLIVEIRA, MARIANA VAZ, ANDRÉ QUEIRÓS E TELMO FERNANDES. POR MAIS QUE AGRADEÇAMOS A OUTROS, SÃO VOCÊS A QUEM TEMOS REALMENTE QUE AGRADECER A IDIOT MAG SER O QUE É. JÁ NÃO VOS LARGAMOS, NUNCA MAIS. E SÃO ESTES OS CULPADOS DO COSTUME QUE ENTREGAM MAIS UMA EDIÇÃO, ONDE PODERÃO VER UM POUCO DO QUE SE PASSOU ESTE MÊS. TEMOS UMA PEQUENA AMOSTRA DO QUE ANDAMOS A FAZER PELO TRINTENÁRIO CENTRO COMERCIAL DE CEDOFEITA, ONDE ESTAMOS A EXPOR ARTE NOS CANTOS MAIS INÓSPITOS. TEMOS CINEMA, TEATRO, SUGESTÕES PARA SAIR, TEMOS MÚSICA, CRÍTICA E AINDA TEMOS ESPAÇO PARA FESTAS. PARA QUÊ DIVAGAR PELA INTERNET COM TANTO PARA CONHECER? // NUNO DIAS CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 7


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Ana Catarina Ramalho

Até 26 de janeiro está patente, em Serralves, uma exposição do artista brasileiro Cildo Meireles (na foto) que interage com o espetador.

9 a 19 de janeiro À Espera de Godot – Teatro Nacional São João ( de Samuel Beckett com encenação de Carlos Pimenta, duração 2h10 – de quarta a sábado às 21.30h, domingo às 16h00) 10 // www.IDIOTMAG.com

9 a 26 de janeiro A Manhã, a Tarde e a Noite – Cine Teatro Constantino Nery (de Luís Mestre, com encenação de António Durães. De quarta a sábado às 21.30h e domingo às 16 h.)

9 a 18 de janeiro Já Gastamos as Palavras – TUP (direção de Victor Hugo Pontes. De terça a domingo às 22.00h) 10 a 26 de janeiro O Último a Sair Apague a Luz –Rivoli Teatro Municipal (Pequeno Auditório) - Óscar Branco. De terça a sábado às 21.30h, domingo às 16.30h) 16 a 26 de Janeiro Terra do Desejo – Mosteiro São Bento da Vitória (de W.B. Yeats com encenação de João Pedro Vaz. De quarta a sábado às 21.30h e domingo às 16 h) 22 de janeiro a 2 de fevereiro Actor Imperfeito – Teatro Carlos Alberto (texto de Luísa Costa Gomes a partir dos sonetos de William Shakespeare, com encenação de António Pires. De quarta a sábado às 21.30 e domingos às 16 h). 30 e 31 de janeiro Gisberta – Rivoli Teatro Municipal – (Encenação de Eduardo Gaspar e Interpretação de Rita Ribeiro). 23 de janeiro Quintas de Leitura – Teatro Campo Alegre, às 22.00h As Quintas de Leitura iniciam-se, em 2014, à volta do livro de poemas de Nuno Júdice Navegação de Acaso. A leitura ficará a cargo do poeta, de Teresa Coutinho e João Paulo Costa. Nuno Júdice ainda estará à conversa com o jornalista Nicolau Santos.


Mercado Porto Belo (na foto) – todos os sábados do mês das 11.00h às 17.00h, na praça Carlos Alberto. Inspirado no famoso mercado de Portobello Market, em Londres. Berdinho – Mercado Rural – todos os sábados das 12.00h às 19.00h, no pátio do centro comercial Bombarda. Um novo mercado de produtos frescos e locais para que o moradores da Invicta possam fazer as suas compras semanais.

Baixa Burguer (na foto) – Com um menu com uma grande variedade de hambúrgueres e um molho delicioso da casa, é sempre bom para (não) começar o ano a manter a forma. Na rua da Picaria,n-º89. Moustache – Espaço que inspira ao convívio entre amigos quer pelo design e arquitetura, quer pelos produtos tradicionais e cultura que acolhe. Perto da praça Carlos Alberto, decerto não passa despercebido a ninguém e é ideal para iniciar uma boa noite de saída.

15 de janeiro Dream Theater (na foto) – Coliseu do Porto às 21.30h O grupo americano aposta no nosso país para iniciar a sua digressão europeia. O concerto será dedicado ao seu último álbum, mas revisitarão alguns dos seus clássicos. 28 de janeiro Após ter cancelado o concerto em outubro, a cantora brasileira Mallu Magalhães irá apresentar, na Casa da Música, o seu álbum Pitanga. Às 21.30h, na Sala Suggia. // CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 11


Tish

CINEMA: A propósito de Llewyn Davis. Um cantor folk à procura de uma oportunidade nos anos 60 em NY. Sem dinheiro e apenas tocando num clube local que promove alguns artistas improváveis (e não só, Bob Dylan também por lá passa) vai dormindo em casa de amigos nas noites mais geladas. Um dia, consegue uma boleia para Chicago (uma das melhores cenas do filme) para conhecer um agente importante, mas as coisas não correm como esperava. O cru realismo (ou pessimismo se atendermos à época em questão) dos irmãos Coen e o seu perverso humor. Com Oscar Isaac, Carey Mulligan, Justin Timberlake e John Goodman. Nymphomaniac .Lars Von Trier regressa em 2014 e como seria de esperar não vem de ânimo leve. Dividido em duas partes, Nymphomaniac traz-nos de volta a fantástica Charlotte Gainsbourg, Stellan Skarsgard e Willem Dafoe, entre outros. Polémico? Certamente. TV: Mob City. Máfia, good cops e bad cops no fim dos anos 40. Uma criação de Frank Darabont com um elenco de luxo: Jon Bernthal, Milo Ventimiglia, Neal McDonough, Alexa Davalos, Robert Knepper e Jeffrey DeMunn , entre outros. Mais uma grande série a não perder. No canal TNT. 12 // www.IDIOTMAG.com


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A Piada Infinita. David Foster Wallace.“A obra prima de Wallace, uma comédia colossal, brilhante, sobre a procura da felicidade e todos os males do nosso tempo.” In Bertrand

Childlish Gambino Because the Internet. O último trabalho de Donald McKinley Gloveractor, escritor e músico norte- americano é o destaque da nossa primeira edição do ano.

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Inserida nas comemorações dos 35 anos do Centro Comercial de Cedofeita, a Idiot Mag traz até uma das mais antigas galerias comerciais do Porto uma exposição que pretende revitalizar através das artes, com alguns dos mais caracteristicos artistas da nova geração tripeira. Com a sede de revitalizar um espaço onde a movida da cidade bate mais forte, convidamos artistas a mostrarem que, mesmo nos sitios mais inóspitos, a arte pode nascer, crescer, transformar um sitio outrora devoluto, numa galeria de arte tão cheia de vida personalidade onde a cultura é a principal personagem.

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Fedor Preparação de uma das salas de exposições com: Eime, MrDheo e Laro Lagosta

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Sala de exposições com: Colectivo Rua e Go Mes Mots

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OS CHARUTOS DE

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Já lá dizia Freud: “às vezes um charuto é apenas um charuto”, mas uma caixa deles é um caso totalmente diferente. As “cigarbox guitars”, guitarras artesanais feitas a partir de velhas caixas de charutos descartadas, são disso mesmo testemunha. Mariana Vaz

A ideia não é inédita e muito menos recente. Resgatar antigas caixas de charutos do caixote do lixo com propósitos musicais, remonta já a meados do século XIX, altura em que o consumo de charutos nos Estados Unidos disparou em flecha e eles passaram a ser convenientemente disponibilizados ao consumidor final em caixas de 25 e 50 unidades, em vez da compra avulso. Imediatamente os músicos de blues, inicialmente motivados mais por motivos económicos do que pelo mero “McGiverismo”, começaram a montar os seus próprios instrumentos com elas dando origem a um novo movimento de culto durante o período da Grande Depressão, a chamada “Cigarbox Nation” que perdura até hoje. São instrumentos simples e rudimentares mas com inúmeras possibilidades. Não é preciso saber tocar guitarra para produzir os ritmos mais contagiantes com o diddley bow de uma corda, ou apenas com uma stomp box. Muitas das primeiras cigarbox guitars foram até construídas por crianças cuja vontade, inspirada pelos blues e pela música country, espicaçava o engenho. A assegurar a perenidade deste movimento há cerca de 4 anos está Emanuel Santos que tem vindo a ressuscitar todas estas almas sonoras através da escolha personalizada e cuidada de antigas cai-

xas de charutos e sua reconversão em algo menos cancerígeno mas tanto ou mais viciante. Santa Cecília, santa padroeira dos músicos, empresta o nome e dá bênçãos à sua nova marca de alaúdes artesanais. Cenógrafo de profissão mas sempre em contacto com a música, Emanuel apaixonou-se pela arte das guitarras de caixa de charutos em 2010 quando entra em contacto mais estreito com o mundo dos blues e do cancioneiro popular americano ao integrar a produção do musical “Alan”, organizado pelo Teatro Universitário do Porto, sobre a vida e obra do músico Tom Waits. A sua primogénita guitarra nasce assim. Feita a partir de uma boa dose de dedicação e de autodidáctica, apesar de imperfeita aos olhos do criador, salta para as luzes da ribalta, integra o espectáculo e faz as atenções da peça. “A primeira guitarra saiu muito mal, nunca tinha construído nenhum instrumento musical. Era só tocador de guitarra. Construí-a porque há muitos tutoriais online, depois nem consegui encontrar caixas de charutos, fiz com uma espécie de guarda-jóias. Propus-me a construi-la; falhei o que tinha a falhar logo na primeira, mas a partir daí, começaram logo a surgir outras”, diz. Quatro, três, uma ou nenhuma corda, a guitarra vai-se formando a partir CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 25


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da caixa. “...É a caixa que me vai dizendo o tamanho, o braço, o número de cordas... É tudo de instinto, quase. Não tenho pretensão que isto seja um instrumento musical espectacular. Na verdade isto é mais uma brincadeira, aproveitando lixo na realidade, não é?” O lixo de uns é o tesouro de outros e Santa Cecília tem andado bastante ocupada, depois da primeira experiência com a guitarra construída para o musical do TUP, Emanuel tem-se dedicado a aperfeiçoar mais e mais as suas novas criações, apostando não só na sonoridade mas também na estética. “Elas não vão cumprir exactamente o mesmo que uma guitarra comum, mas também não é isso que é suposto; para isso tocas com uma normal... Não é só pela estética; é a estética aliada ao som particular, à construção... As caixas têm proveniências variadas - feiras de velharias, ofertas de amigos, recordações de viagens etc.. Cada caixa é um caso, cada uma canta a sua história na sua própria voz. Caixas de charutos antigas, usadas e gastas, têm sempre prioridade na hora da escolha de um novo projecto, mas como a procura é cada vez mais difícil de saciar, é necessário recorrer a mais tenras criações.

“ Às vezes, encontro nas feiras caixas antigas das quais já não existem muitas por aí. Elas têm um aspecto mais gasto e usado, têm mais história para contar”, diz Emanuel. Felizmente, santos da casa por vezes fazem milagres e Santa Cecília não é excepção. Com as suas melodias encanta já patrocinadores representantes de marcas de charutos que entusiasmados abdicam das suas caixas usadas em prol do movimento.

“É sempre um objecto único. O som até pode ser parecido quando as caixas são semelhantes, mas cada uma tem um som diferente, não há duas guitarras iguais.” O preço de cada guitarra varia entre os 150 a 300€ conforme o tipo de instrumento, dimensão, electrónica, madeiras. Todas são amplificadas com piezo e seguem-se para breve novos modelos com pick up. Ainda que sem pretensões de ocupar o lugar de uma guitarra eléctrica normal. “Os preços que pratico são semelhantes a guitarras eléctricas baratas. Uma guitarra feita na China ou Coreia montada por 500 pessoas não tem aquela preocupação, não desenvolve a relação afectiva com o instrumento, nem sequer pode ser comparável a nível de som. Há pessoal que gosta disto só pelo objecto em si...” “Estas guitarras têm muito mais potencial do que aparentam. Tem muito a ver com o que se quer tirar delas, mas as potencialidades são infinitas. A vantagem é não haver aquela ideia pré determinada do que é uma guitarra eléctrica ou do que é uma guitarra acústica. “ A cigarbox nation começa aos poucos a invadir Portugal. Quer pelo espírito de improviso quer motivados pelos blues, são cada vez mais os construtores individuais que através da internet e de projectos como Santa Cecília vão tomando contacto com o som e técnicas de construção dos instrumentos. Emanuel Santos não é o primeiro nem único a construir e comercializar mas, através das suas guitarras e apresentações com sessão aberta, tem conquistado cada vez mais curiosos e entusiastas desta cultura. //

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A PRIMEIRA ILUSTRADORA DA IDIOT DO ANO NASCEU EM LISBOA HÁ 28 ANOS E TALVEZ POR ISSO PINTE TANTO SOBRE A NATUREZA E COISAS QUE “NUNCA VIU”. ZANA DE CAMPOS MORAES É MESTRADA EM DESIGN DE CULTURA VISUAL NO IADE, TRABALHA EM DESIGN MAS ASSUME QUE A SUA PAIXÃO ESTÁ NA PONTA DOS DEDOS, A PINTAR. Tish CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 31


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Idiot- A primeira ilustradora do ano, ena… Zana - É melhor que entrar com o pé direito, é um mortal encarpado! Idiot – E como chegaste aqui? Na tua infância já eras artista? Zana - Quando era pequena, a minha mãe tinha uma escola de artes e tecnologias, foi onde passei os meus dias, rodeada pelos artistas, alunos e professores dessa escola. Os meus primos e eu frequentámos aulas de canto, música, dança, tocávamos piano como instrumento principal, e fazíamos muitas actividades de artes plásticas. Era claro para mim, que iria seguir o percurso das artes. Sempre pintei, desde pequena, mas quando o comecei a fazer com consciência e propósito foi no final da faculdade. Quando assumi a ilustração a tempo inteiro, os limites desapareceram: comecei a pintar quadros, a fazer ilustrações, experimentei as latas e pintar na rua, desenhei para tatuagens, t-shirts. Hoje em dia continuo a fazer design com imenso gozo, mas é óbvio que nada me dá mais prazer que pintar. Continuo a fazer trabalhos de ilustração e sempre que posso, tento pintar na rua.

pinta só no papel… Zana - O facebook veio dar um enorme impulso à profissão de ilustrador. Começaram a surgir os perfis de óptimos artistas e ilustradores, alguns da minha geração e escola, outros não. O “ser ilustrador” rompeu as barreiras do mundo literário e passou a ser associado a um estilo, um modo de estar na vida, uma persona ou um alter-ego. Agora, o ilustrador pinta não só nos livros mas nas galerias, nas empenas dos edifícios ou na pele das pessoas. Idiot – E quem te atrai mais nesse modo de estar na vida? Segues alguém em especial? Zana - Sou mais atraída por trabalhos com pendor surrealista, como Interesni Kazki, Etam Cru ou Aryz, quanto ao exemplo português, gosto muito das personagens do Mar.

Idiot – E pessoalmente, consegues definir um estilo? Zana - Tenho dificuldade em caracterizar o meu estilo, nem sei se o tenho. De qualquer forma, sei que pinto com muitas cores fortes, tenho elementos que se vão repetindo e todos eles estão presentes na natureza. As folhas, as escamas, os peixes ou bichos que são misturas de Idiot – Porque o ilustrador já não outros. O tema da transforma-

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ção e mutação é algo muito presente no meu trabalho. Creio que estou em constante evolução e às vezes (des)evolução e que daqui a 30 anos vou pintar de forma muito diferente. Por vezes é bastante contraditório, o meu trabalho é muito introspectivo, fechado dentro de mim: pinto sozinha, numa divisão fechada, por vezes demasiado tempo. Mas pinto sempre sobre algo que está lá fora, onde estão as árvores, as cores e toda a vida exterior. Estive durante um ano praticamente a pintar apenas, rostos de pessoas que existiram que me acompanharam, outros que deveriam ter existido... Depois desse marco – a minha exposição A Morte da Princesa – larguei os rostos e até agora tenho apenas pintado animais. Agora vejo que, no início, por vezes pintava aquilo que achava que as pessoas queriam ver…mas com o amadurecimento e a tal transformação sempre necessária, consigo cada vez mais pintar para mim e apenas deixar que os outros vejam.

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Idiot- Que experiência te marcou mais até hoje? Zana - Talvez o que me tenha marcado mais foi o processo – cerca de 9 meses - e a inauguração da minha exposição na Fábrica do Braço de Prata, em Fevereiro de 2013 – a Morte da Princesa. Foi um projecto muito pessoal e introspectivo e também muito gratificante. Aconteceu uma mudança e uma transformação, foi a morte da princesa e o nascimento da rainha. Idiot - E a experiência da Idiot? Zana - Esta experiência foi suficientemente idiota, que é assim mesmo que se quer. É óptimo termos a oportunidade de não só ilustrar uma capa como poder dar continuidade às páginas seguintes. A equipa confia de olhos fechados no trabalho do artista e isto dá-nos uma liberdade imensa. Obrigada!


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Idiot – E daqui para a frente quais são os teus objectivos? Zana - Há uns meses deixei o meu país e a minha cidade natal, para vir experienciar outro país (Suíça), outra cultura e com o grande objectivo de evoluir profissionalmente com esta mudança. Não querendo cair num lugar-comum, sei que crio e que pinto porque preciso, porque não consigo fazer outra coisa e que nada me dá mais prazer que isto. Como nada disto paga contas, tenho também como objectivo um dia conseguir subsistir fazendo aquilo que gosto. // CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 37


Crítica por:

Ricardo Branco

O DESCONHECIDO DO LAGO De Alain Guiraudie

Um assassino surge no lago como um peixe-gato de dez metros. Franck é um protagonista avisado do perigo que o lago representa, mas isso é aquilo que o atrai e fascina. O Desconhecido do Lago de Alain Guiraudie é uma pedra no charco do cinema de 2013: o cenário é perfeito e propício a um filme de terror e talvez isso faça deste filme um assustador, asfixiante e assombroso drama. É o seu tom mis-

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terioso e provocativo que interpela o espectador, além da pureza e naturalidade das suas imagens. Mais do que filmar o sexo, aqui filma-se todo um universo que vai sendo explorado de diferentes perspectivas, ora por personagens, ora por figurantes que marcam o areal. Uma praia de nudismo é o cenário ideal para Franck desenvolver a sua paixão obsessiva e deixar-se levar por aquilo que se assemelha a um acto de sodomia: temos a certeza que o medo o perturba, mas também percebemos que é exactamente esse o catalisador da sua paixão. As imagens são explícitas, mas nunca vãs e os actos sexuais são tão labirínticos como os encontros. Questiona-se o amor e a amizade - o sexo parece sempre inerente e acima de tudo: obrigatório. Franck espera sempre pelo anoitecer antes de abandonar a praia e esse é o mote principal neste que poderá ser um dos filmes mais perturbadores dos últimos tempos. O voyeurismo surge como denominador máximo desta equação, mas que outra coisa poderia ser esperada num filme tão erótico? Talvez o diálogo com o espectador seja ainda maior que aquele que era já esperado.


O PASSADO

De Asghar Farhadi

Marie Anne deveria ter decidido que queria deixar o passado para trás antes de armar dentro de sua casa uma bomba relógio em contagem decrescente para um explodir dramático em todas as direcções; uma estória de desamores, mal entendidos e intrigas familiares que esconde um segredo até aos minutos finais e dúbios da obra. O Passado ganhou o prémio de melhor actriz em Cannes para Bérénice Bejo (que tão bem ficou conhecida no galardoado O Artista) e ainda contava com uma nomeação a Palma de Ouro – assim se instalou o mediatismo em torno deste filme. Asghar Farhadi já havia conquistado anteriormente algum respeito com o seu filme A Separação de 2011 e aqui volta a levar o espectador para um universo de dramas familiares de-

senvolvidos em paralelo e explorados exaustivamente. Há qualquer coisa de cansativo no argumento que ainda que se desenvolva a uma velocidade média, vai-se anulando constantemente e tentando a todo custo surpreender sempre. Já dizia Hemingway que “por vezes menos é mais” e é precisamente aí que este filme falha: os twists constantes e exagerados confundem e enjoam o espectador até o deixar exausto e gastar toda a narrativa. O Passado parece assim uma novela muito bem filmada que foi comprimida em 130 minutos de longa-metragem. As prestações dos actores são boas, a referência à França multicultural do séc. XXI é sempre bem-vinda e o desenlace e o plano final da obra são ainda memoráveis – o que talvez compense a narrativa que ainda que cheia de potencial, não foi de todo explorada de forma correcta. //

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Novo ano, novas peças à nossa espera. O programa cultural oferecido pelo Teatro Nacional de São João deixa-nos salivar pelas peças que poderemos ver em cena, porém mostro-vos o que nos espera, no Porto, agora em janeiro.

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De 9 a 19 de janeiro À Espera de Godot de Samuel Beckett será recebido no palco do TNSJ numa encenação de Carlos Pimenta. Dois sem-abrigo estão à espera de algo, alguém, em todo e nenhum lado. Ao longo de dois dias entretêm-se falando, discutindo, brincando, mas acima de tudo eles esperam. No fundo, todas as personagens são uma representação da variedade que existe dentro da humanidade e o espetador espera com eles, sem saber muito bem o quê. Embora seja uma peça não racional, a verdade é que muitas mensagens estão escondidas num dos melhores textos beckettianos. Continuando pelo quotidiano irlandês, de 16 a 26 de janeiro será no Mosteiro de S. Bento da Vitória que a peça Terra do Desejo de W. B. Yeats, com a ence-

nação de João Pedro Vaz, terá lugar. As Comédias do Minho e a ASSéDIO trazem-nos uma atmosfera irlandesa que nos envolve devido à sua mística celta. A 22 de janeiro e até dia 2 de fevereiro será a vez do Teatro Carlos Alberto receber a peça bilíngue Actor Imperfeito de Luísa Costa Gomes, com a encenação de António Pires. Usando sonetos daquele que foi o autor responsável por grande parte das palavras da língua inglesa, Luísa Costa Gomes tece um enredo que junta algumas personagens de outras peças shakesperianas, conseguindo referir o problema de tradução de algumas peças e de como este muda quer seja no corpo do ator ou no espaço. As Leituras no Mosteiro também voltam de 14 até 25 de março no Centro de Documentação do TNSJ. Nos dias 30 e 31 de janeiro, Rita Ribeiro sobe ao palco do Rivoli onde interpretará um monólogo sobre Gisberta, a transsexual assassinada, no Porto, em 2006. // Ana Catarina Ramalho

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3º ANIVERSÁRIO SYNOPSYS PROD @ GARE PORTO

28 de dezembro foi dia de soprar as velas ao som de uma chuva de talentos emergentes do mundo do techno e da house music. Há três anos que a história da Synopsys Prod se escreve assim: na vanguarda. Jeroen Search foi o homem da noite que veio acompanhar os já conhecidos meninos da produtora. No melhor túnel de sempre, a estreia entusiasmante de Pedro Vasconcelos no Gare abriu para o techno de João Ferraz que antecipou a já reconhecida dupla Sepypes e Bruno Tinoco. O set da noite protagonizou o produtor holandês Jeroen Search que veio provar por que razão o seu live foi eleito um dos melhores de 2013. Nuno Whyzen, Double Trouble, Backbone e Maganinho dividiam o ânimo da festa. No Traçadinho as pulsações batiam ao ritmo mais pacífico mas não menos estonteante da house music. A noite fechou com Umbra e a apresentação do mais recente EP “Oroboros”. Pelo terceiro ano consecutivo a Synopsys Prod está de parabéns. O trabalho da produtora fez, novamente, eco no cenário mais underground da Invicta. texto: Filipa Nascimento fotografia: Filipa Nascimento & João Ribeiro

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Idiot - Contem-nos como começou a vossa carreira. Remotion - Conhecemos-nos na Escola Soares dos Reis entre 2009/2010 e após um ano fomos morar juntos, por motivos académicos. Foi nessa altura que começámos a despender mais tempo com a produção. Começámos por fazer umas faixas de Drum’n’Bass, por ser o estilo no qual nos sentíamos mais a vontade. Nessa altura já íamos a algumas festas de Techno com amigos. Uma coisa levou à outra e começamos a levar a produção mais a sério, decidindo então focar-nos no Techno. Mais recentemente tivemos o convite da L!VE para fazer parte da equipa e foi aí que surgiu o projecto Remotion. Desde então que tivemos uma exposição bastante maior e a oportunidade de actuar nas melhores casas do país, juntamente com grandes nomes da cena Techno tais como Adam Beyer, Ben Sims, Joseph Capriati, Monika Kruse, Pan-Pot, entre outros. 50 // www.IDIOTMAG.com

Idiot - Vocês têm uma editora juntamente com outros artistas chamada Sync Forward. Como é que tudo começou? Remotion - A Sync Forward nasce da vontade de participar activamente na cena Techno/House e de criar uma plataforma para expor o nosso trabalho. Começou, juntamente com o Fredy e com o D’Joseph, como um show de livestream transmitido através do nosso website e mais tarde, uma serie de podcasts. Tornar a Sync Forward uma editora sempre foi um dos nossos objectivos que conseguimos atingir este ano. A editora abriu em Maio e temos tido o apoio de grandes artistas da cena mundial, contribuindo para a sua divulgação e para o sucesso dos nossos mais recentes lançamentos.


Idiot - Que equipamentos usam para fazer música? Remotion - Usamos um Macbook Pro, um teclado m-audio axiom 61, um controlador novation remotezero sl, uma akai apc 40 e uns monitores Yamaha HS-80.

Idiot - Que projectos têm para o futuro? Remotion - Estamos a trabalhar em várias colaborações com artistas portugueses, avizinha-se um EP com o Re:Axis e outro com o Madson Scaut, o projecto novo de um produtor de Barcelos que editou recentemente na nossa editora. Vamos também conIdiot - E quando actuam ao vivo, o que tinuar a trabalhar com o D’Joseph e costumam usar? o Fredy e estamos a preparar um EP Remotion - Ao vivo fazemos uma jun- para a Monocline Records que vai sair ção de live com dj set. Utilizamos um no início do próximo ano. Macbook com akai APC 40 e um iPad para controlar o Ableton Live e outro Idiot - Qual a vossa opinião sobre a revismac com 2 Kontrol X1 para o Traktor. ta de cultura urbana Idiot Mag? Remotion - A Idiot Mag é uma grande iniciativa de apoio à cultura nacional, temos acompanhado não só a revista mas também os eventos nos quais intervêm. Esperamos que continuem o excelente trabalho que tem vindo a desenvolver na promoção e divulgação da cultura urbana. // Bernardo Alves

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*aviso antes de ler, a pedido do editor, nesta periência; sabedoria de mestre. ≈ SABEDORIA. (...) 2. Grande cade resolução de problemas ou situações; habilidade crónica pululam obscenidades e relatos para pacidade de mestre. ≈ AGILIDADE, DESTREZA, PERÍCIA. (...) 3. Habilidade manual caracterizada pela precisão e pela rapidez (...)” maiores de 18… tabuísmos… “mão [maw]. s.f. (Do lat. manus). 1. Anat. Extremidade do braço, terminada por cinco dedos, dos quais o polegar se opõe aos restantes, que constitui o orgão do tacto e da preensão. (…) mão firme. 1. A que não treme. 2. A que segura bem as rédeas. 3. A que dirige, governa, orienta, educa com firmeza, sem hesitações. mãos postas, posição das mãos erguidas palma contra palma, para rezar ou suplicar. (…) 5. Poder, posse. ≈ CONTROLO, DOMÍNIO. (…) mão de ensino 1. Castigo. 2. Reprimenda. mão de rédea. 1. Maneira como se governa um cavalo pelo freio. 2. Modo de gerir, de governar bem as coisas. (…) 7. Destreza, mestria no manuseamento ou na feitura de alguma coisa. ≈ JEITO (…) mão de mestre, habilidade de quem é perito, de quem é conhecedor. (…) 10. Quantidade que pode caber numa mão ≈ MANCHEIA, MÃO-CHEIA, PUNHADO. (…) 22. Faculdade de ser o primeiro a fazer alguma coisa. Ter a +. (…) mão amiga, pessoa que cuida, protege. ≈ BENFEITOR. (…)” mestria [me∫tría]. s. f. (Do it. maestria) 1. Conhecimento profundo de qualquer matéria, adquirido pelo estudo ou pela ex56 // www.IDIOTMAG.com

in Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, Academia das Ciências de Lisboa, Verbo, 2001

Tinha os olhos rasgados e um ar de rapaz que nunca mudaria. Na roupa uns quantos rasgões também. Era estranho. Era bonito. No primeiro café, entremeado por amigos comuns, não lhe tirou os olhos das mãos. Alvas, dedos finos, compridos, uma palma grande para segurar toda a habilidade. Era um daqueles poucos que sabia construir uma cama com as próprias mãos, a quem nunca faltaria onde se deitar, mesmo que sozinho. A voz era tão meiga quanto o toque e naquele dia na pista de dança, sem intenções nem progressos,


sem que as duas peles se misturassem, ficando os dois numa temperatura em que tudo tremia, menos as mãos, sempre firmes. Deitou-a, desabotoou-lhe a saia, sempre de olhos nos olhos nela, fez-lhe escorregar as meias, a tanga. O corpo de Patrícia nu e ele subindo para a cama, já sem meias também, apenas as calças e o cinto. Beijou-lhe a cara, o pescoço, os ombros, demorou os lábios entre o colo e o peito dela enquanto as mãos de Patrícia desenhavam caracóis no cabelo dele. Colocou as coxas entre as dela, criando espaço para o corpo dele entre as suas pernas. As mãos apoiadas no colchão para os peitos distantes, a cabeça a baixar para pequenos beijos. Os dedos com jeito de Patrícia a abrirem o cinto, desabotoarem a ganga. O pé a subir para lhe tirar as calças, fazendo-as, num movimento nunca demorado, mas lento, saírem pelas pernas. E era a pele das coxas de ambos que se tocava, era um contínuo abraço dos dois corpos benfeitores. Estendeu-lhe o preservativo e, depois de posto, sentiu a glande proeminente a abrir-lhe os lábios vaginais, a despertar o clitóris e a entrar, milímetro a milímetro desejado, para dentro da vagina. E tudo, toda a cara, peito e corpo contíguo, sempre muito beijado. Os braços dela pendurados no pescoço dele, entretidos a acompanhar um vaivém lento e cuidado, como se fossem crianças medrosas a experimentar um baloiço. A fazê-la sentir cada avanço e pequena retirada do seu pénis, a entrar até ao fundo enquanto os dois narizes se tocavam e nasciam sorrisos e ainda mais atentos olhares. Ambos traziam mais que uma mão cheia de ternura, mais que um punhado de amor. E à medida que o ritmo da respiração aumentava, os corpos ofegantes tinham mais mão um no outro. Veio-se e entrou em contínuo prazer que a cada beijo e investida aumentava. Ele, em cima dela, continuava, e de cada vez que as mamas dela se encostavam, misturando-se cada vez mais cheiros e suores, oscilava entre o gosto profundo e a tesão do voltar a uma terra que sempre foi casa. Quando ele se veio, o sémen dele, branco como as mãos e a pele, ornamentou a morena barriga dela, em mais uma prova de perícia conquistada. //

tudo o que lhe dizia eram afectos. Demorou para um encontro que não fosse fortuito. Assim como demorou a mão passar de rédea, controlada e firme, para não despertar nenhum cio, a mãos livres, que saíam das mãos um do outro e passavam para o peito. Admiravam-se a mestria, a dele com o mundo, a dela com o amor. A maneira como resolviam casos mundanos e sagrados com uma destreza rara de quem sabe o que realmente tem valor. Mas a admiração não os despia. Um dia, no quarto dela, com uma solução de engenharia, tocou-lhe a face com as costas da mão fria. Ela tremeu, quente, não pela temperatura mas pela ternura. Habituava-se a ter ela o domínio, e não que com ele o perdesse, mas era um fluir de mão partilhada. Os dois tinham mão na coisa e os dois viam que crescia. Na mão fria dele tocaram os lábios quentes dela, num virar ligeiro de cara, lábios de encontro ao encontro. E a mão dela também avançou, de encontro à cara, com o polegar de encosto ao osso saliente debaixo do olho, uma festa com ternura e o indicador a tocar-lhe os lábios. Não foi preciso pedir beijo, e tudo avançou a um ritmo lento, dos dois lados bem recebido. Tocaram-se os lábios, sentados na cama lado a lado. As mãos de ambos na cintura um do outro, os polegares dele a desenharem-lhe a linha das ancas, os dedos dela perdidos na cintura das calças. Mais que uma perdição, uma entrega. Em que apenas o tempo era comedido, cada minuto a dar espaço aos corpos que reduziam pausadamente cada camada de distância entre os dois. A roupa foi saindo, etérea, como se se desfizesse no ar, Da vossa, de mãos abertas com mestria a receenquanto a tiravam mutuamente. Ela a tirar-lhe a ber amor, malha que o cobria, ele a subir a camisola, barriga, peitos, levantando-lhe os braços, as mãos sempre em contacto, ombros, pescoço e as costas nuas, a peça no chão. Um abraço, longo, como se quises-

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Tiago Moura

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EU VEJO MÚSICA, DECLARA BEYONCÉ NA PRIMEIRA PARTE DE UM VÍDEO QUE RELATA A PRODUÇÃO DO SEU NOVO ÁLBUM HOMÓNIMO. O LANÇAMENTO DO MESMO ACONTECE 10 MESES APÓS A BILLBOARD E A NIELSEN SOUNDSCAN ANUNCIAREM QUE IRIAM COMEÇAR A INCORPORAR AS VISUALIZAÇÕES DO YOUTUBE PARA A SUA TABELA MAIS IMPORTANTE: O HOT 100, QUE IDENTIFICA AS MAIORES MÚSICAS DO MOMENTO. A DECISÃO, QUE POSSIBILITOU A SUBIDA AO LUGAR CIMEIRO DA RESPETIVA TABELA DE HARLEM SHAKE DE BAUUER, NA ALTURA UM ENORME ÊXITO VIRAL, ENFURECEU AQUELES QUE ARGUMENTAM QUE O NOVO SISTEMA CRIARÁ UM CICLO DE NÚMEROS 1 QUALITATIVAMENTE INFERIORES, DITADOS POR UMA MODA EFERVESCENTE.

O poder da inclusão das visualizações do Youtube nunca pareceu mais notório do que quando, dado o frenesim gerado em torno do seu vídeo, Wrecking ball de Miley Cyrus estreou na primeira posição da mais importante tabela musical americana. 2013 cimentou, então, a importância que hoje em dia damos ao aspeto visual de uma música; o que não é de todo um conceito inovador, já que vivemos numa era pós-Mtv. Contudo, cada vez mais a programação do canal se tem afastado das suas raízes e,

nesse sentido, o Youtube ocupou essa falha no mercado e, por isso, faz sentido que seja utilizado como um barómetro para a popularidade de uma música. Apercebendo-se da mudança, Beyoncé teve um golpe de génio no modo como construiu e editou o seu novo trabalho discográfico. Intitulado pela mesma como um álbum de visuais, o álbum já vendeu mais de 1.3 milhões de cópias graças a um negócio exclusivo com o iTunes, em que o consumidor era obrigado a comprar o disco na ínCULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 63


“CHEGAMOS, ENTÃO, A ESTE CRUZAMENTO: SE O VÍDEO É CAPAZ DE MUDAR A NOSSA OPINIÃO SOBRE UMA MÚSICA, , SENDO ESTE MAIS IMPORTANTE NUMA EXPERIÊNCIA QUE SE PRESSUPUNHA AUDITIVA, O QUE VEM PRIMEIRO?”

tegra e os 17 vídeos que acompanham as suas faixas. O mais fascinante aspeto deste trabalho é o modo como sublinha a atual ligação que existe entre a música e a imagem. Várias foram as críticas que declaravam que a verdadeira excelência do novo disco da cantora estava no modo como os seus vídeos eram um portal e uma ponte para as fronteiras das músicas. Uma, em particular, afirmava o modo como só depois de ver os vídeos várias vezes é que começou a gostar do álbum, ao ponto em que não conseguia separar o som da XO da imagem mental de Beyoncé numa montanha russa. Chegamos, então, a este cruzamento: se o vídeo é capaz de mudar a nossa opinião sobre uma música, sendo este mais importante numa experiência que se pressupunha auditiva, o que vem primeiro? Não se tratando isto de um comentário sobre os diferentes usos e narrativas do vídeo musical, mas sim uma questão sobre o modo como encaramos, hoje em dia, a indústria discográfica e os seus artistas, como é que os maiores artistas musicais da atualidade criam? Com que objetivo? O que hoje em dia torna um artista num sucesso não é tanto o seu talento, mas a sua história e o modo como a vende. E o que temos assistido, principalmente, no universo Pop, é que a maioria dos artistas investe toda a sua narrati64 // www.IDIOTMAG.com

va e marketing no primeiro single e no seu vídeo. Exemplo: Katy Perry e o seu novo álbum Prism. A narrativa que ela vendeu ao promover o seu novo álbum foi a de superar os tempos difíceis do seu divórcio e a viagem interior que isso significou para ela. Contudo, tirando o primeiro single Roar, com a sua mensagem positiva e vídeo que ecoa o universo do Tarzan, o álbum é maioritariamente uma coletânea de músicas pop sem grande polpa. Mas apesar de o álbum já ter sido editado há algum tempo, essa continua a ser a história que ela prefere vender. E tal como ela, Miley Cyrus continua a vender uma his-


“SERÁ INTERESSANTE VER O MODO COMO O NOVO TRABALHO DE BEYONCÉ (E, MAIS IMPORTANTE, A SUA ANTI-CAMPANHA PUBLICITÁRIA) TERÁ UM EFEITO NA INDÚSTRIA, PRINCIPALMENTE NO MODO COMO OS ARTISTAS SE DECIDEM EXPOR”

tória de rebeldia com um álbum muito convencional, tentando ganhar pontos com os seus vídeos. Ou seja, a música deixou de suportar a imagem. A música, na maioria dos casos, vive separada da imagem, sendo possível consumir o vídeo para a We can’t stop, da Miley Cyrus, e não precisarmos de ouvir a música. Sem dispersar muito, a dissolução do conceito de álbum em prol de uma coletânea de músicas é a maior justificação para este acontecimento: a ideia de unidade e coerência presente num trabalho como o 21 da Adele é difícil de encontrar nos dias que correm. Atualmente, é

esperado que os artistas ataquem diferentes sonoridades no mesmo álbum e diferentes imagens. Nenhuma artista engloba esta ideia melhor que Rihanna cujas transformações sónicas, muitas vezes dentro do mesmo trabalho, parecem andar sempre de mão dada com as suas alterações de visual. Beyoncé, por sua vez, fez o contrário. Mostrou tudo e depois ligou os pontos da sua narrativa criando um trabalho coeso e alicerçado, de facto, nos visuais. Apesar da estratégia inicial de lançamento, o novo álbum de Beyoncé tem agora dois singles: Drunk in love, com uma aparição do seu marido, e XO; evidenciando que os meios a que estamos acostumados continuam relevantes - mas cada vez menos. A rádio, antigamente o principalmente meio de dispersão de novos talentos, limita-se, atualmente, a tocar os maiores êxitos do momento, ou seja, ela não faz sucessos, ela passa-os. E nesse sentido, atualmente, o Youtube substituiu muitos desses elementos acessórios com uma relação mais direta com os espetadores. Será interessante ver o modo como o novo trabalho de Beyoncé (e, mais importante, a sua anti-campanha publicitária) terá um efeito na indústria, principalmente no modo como os artistas se decidem expor e no papel que os visuais continuam a ter nessa estratégia, mas não podemos escapar ao facto que um novo território foi descoberto. // CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 65


1/365 E OS ARCO-ÍRIS DE LISBOA “2014 começou e durante os seus primeiros catorze dias, todos aqueles que caminham pelas ruas de Lisboa vão poder conhecer um pouco do quotidiano de oito famílias homoparentais.”

texto:

Carolina HardCandy Ilustração:

Tamara Alves fotografía:

Horta do Rosário 66 // www.IDIOTMAG.com

Esta coisa da passagem de ano não tem muito que saber: no dia 31 de dezembro caprichamos na fatiota, contamos as doze badaladas, comemoramos a meia-noite e entramos no primeiro dia de janeiro. Até aqui parece-me que estamos todos no mesmo barco mas é na forma como chegamos ao novo ano que as atitudes diferem. Se há quem faça questão de cumprir religiosamente as tradições do Reveillon (comer as doze passas, beber champagne, saltar no pé direito, etc) tentando atrair a sorte para os meses que se seguem, há também quem desvalorize a data, encarando-a como uma mera celebração da passagem do tempo ou simplesmente como um dia igual aos outros. Compreendo os argumentos, mas não consigo deixar-me contagiar pela sensação de “mais do mesmo”. Não é que faça grandes resoluções ou planos elaborados a esse respeito, mas o início de cada ano surge-me sempre como uma espécie de promessa, um mar de possibilidades no qual temos o privilégio de mergulhar outra vez. Demos mais uma volta ao

Sol e, perdoem-me os céticos, parece-me um motivo bastante válido para celebrar. É importante chegarmos a janeiro de cara e alma lavadas. E se 2013 foi agridoce para as lutas LGBT, 2014 começa numa nota positiva. Em maio foi aprovado na generalidade o projeto-lei que previa a co-adoção de crianças por casais homossexuais; embora se tratasse de uma medida que deixava ainda muito a desejar no que diz respeito às igualdades, era já um primeiro passo para o reconhecimento legal de algumas famílias homoparentais. Dias antes da votação final, foi apresentada uma proposta de referendo que, a meu ver, é apenas uma forma de atrasar e dificultar o processo; e nós, mais uma vez, não conseguimos sair do sítio. 2014 vem mostrar que não cruzamos os braços e as ruas de Lisboa são prova disso: de 1 a 14 de janeiro, a capital é uma exposição de retratos da parentalidade LGBT. O projeto “famílias, aqui”, criado em 2011 pela fo-


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tógrafa Ana Nunes da Silva e a jornalista Ana Clotilde Correia com o apoio da ILGA Portugal, pretende dar a conhecer oito histórias de casais gays e lésbicos que têm filhos, fotografando as suas famílias em momentos do quotidiano. O resultado do seu trabalho pode agora ser visto nos mupis da Câmara Municipal, bem como nos ecrãs da Associação de Turismo de Lisboa. Portugal continua a não reconhecer, do ponto de vista jurídico, a existência destas famílias. São muitos, aliás, os obstáculos que surgem no caminho de um casal de pessoas do mesmo sexo que pretendem ter filhos: a reprodução medicamente assistida, nomeadamente a inseminação artificial, não é permitida a mulheres solteiras ou que estejam numa relação lésbica e a adoção só é acessível a um homossexual que se candidate individualmente, sendo proibida àqueles que estão casados ou vivem em uniões de fato. Apesar disto, as famílias homoparentais continuam a formar-se no nosso país

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e a enfrentar uma completa desproteção legal. O projeto “famílias, aqui” vem lembrar-nos disso mesmo; cada uma das fotografias vem acompanhada pela respetiva legenda, mas em todos os cartazes uma frase se repete: “À margem de um ordenamento jurídico que as devia proteger, nascem e crescem famílias com duas mães, dois pais, uma mãe, um pai”. Numa entrevista ao P3, em 2012, Ana Clotilde Correia afirmou, a propósito do projeto: “Nestes casos a visibilidade é muito importante. As pessoas partem do princípio de que este tipo de famílias não existe. E nem sequer o estão a fazer de uma forma preconceituosa. É mais uma questão de desconhecimento. Em contacto com a realidade, a esmagadora maioria muda por completo de opinião”. 2014

começou e durante os seus primeiros catorze dias, todos aqueles que caminham pelas ruas de Lisboa vão poder conhecer um pouco do quotidiano de oito famílias homoparentais. Talvez eu esteja ainda contagiada pelo espírito do ano novo, mas isto dá-me esperança. É que se nós nem sempre reservamos tempo para olharmos uns para os outros, temos sempre alguns segundos para ver os anúncios com os quais nos vamos cruzando. O ano que chegou promete ser conturbado naquilo que toca aos direitos LGBT, mas eu gosto de acreditar que começamos com o pé direito. //


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DESDE CEDO, A NOSSA EVOLUÇÃO NOS PROPÔS A ESCOLHA, E ESSA ESCOLHA PRESSUPUNHA TERMOS DE OPTAR ENTRE UMA COISA OU OUTRA… SEMPRE ME FEZ IMPRESSÃO NÃO FICAR COM AS DUAS! POR QUE RAIO TENHO EU DE PERDER PARA PODER GANHAR? SE NA NATUREZA EXISTEM 10 OPÇÕES, PORQUE NÃO OPTAR PELAS 10 SEM PERDER UMA SEQUER? POIS A VIDA QUE NOS É ENSINADA OBRIGA-NOS A VIVER APENAS METADE DA VIDA… E QUANDO A MORTE CHEGA MORREMOS MEIO MORTOS, PORQUE VIVOS MEIO VIVOS. Outra das coisas que a tradicional vida humana nos oferece é o objectivo de nos definirmos, de nos procurarmos, de fazermos viagens e odisseias mentais para nos afunilarmos, para chegar apenas a uma identidade, a uma unidade, quando poderíamos ser outras tantas, mas claro, isso provocaria o caos nas repartições públicas, nos tribunais e no pagamento dos impostos, o que não convém absolutamente nada para a construção daquilo a que a civilização decidiu chamar globalização e que não é mais do que um sinónimo de marionetização do indivíduo, de robotização das vontades, formatação do todo para um controlo duma outra sociedade que nos vigia, à maneira do Orwell, vinte e cinco horas por dia! A Felicidade, que poderia ser apenas mais um nome de uma rapariga do interior que nasceu no mesmo dia que a Santa do mesmo nome, é, no entanto, uma ditadura universalizada, propagandeada, receitada em injecções de publicidade, consumida em modo instantâneo como sendo o alcance final da vida! Mas a minha vida não acabou ainda e eu já sou feliz, não o sendo

todos os dias! E quando a minha vida acabar, provavelmente, pensarei que passei ao lado dos sonhos proibidos, das vontades pouco ortodoxas semanalmente reprimidas… e então já será tarde e a minha felicidade soube a um cativeiro, a uma trincheira de onde o fiel soldado nunca sai amedrontado pelo desconhecido! Ah a felicidade… que bom seria se fosse apenas o segundo nome da Maria do rés-do-chão que, devo dizer, tem uns acabamentos muito pouco felizes! Depois a ordem! Porra! Isto já é demais! A ordem é uma palavra que me faz lembrar carneiros e ovelhas e cabras do Gerês! Andam todas ordenadas por alguém que usa um pau e um cão que ladra por não ter mais nada para fazer! Onde está a liberdade de fazer a desordem? Ah e tal é anarquista, pensarão os mais ordenados! Mas eu quero que o alfabeto seja o CBA e os números o 3,2,1! Porque não pode ser assim? Ah porque não nos iremos entender no caos! Ah e eu reflicto então: que engraçado, é que com a ordem também não parece que nos entendamos muito bem! Cada um com a sua mania! CULTURA E TENDÊNCIAS URBANAS // 77


O Amor é outra palavra corrompida pela evolução civilizacional que nos trespassa a espinha e nos arrepia os pelos dos braços! Hoje queria tanto casar com a lua, mas o luar não entra nos registos! Amanhã quero pedir o divórcio ao sol, mas os raios ultravioleta não entram nos registos! Mas se me quiser envolver com a água, essa já entra, mas nas finanças com uma factura todos os meses! A Água acaba por ser uma espécie de prostituta semipública, o que lhe retira toda e qualquer conotação amorosa! A humanização do sonho faz da realidade uma concretização do entediante… é aí que o homem perde a imaginação e a vontade de pintar ou de escrever um poema na tinta das nuvens! Chega de me queixar! Mas antes disso queria só finalizar com o que mais me irrita nesta sociedade humana que estranho ao dobrar da esquina: O Relógio! Este instrumento de pulso é a

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maior das prisões terrestres! Inventaram esta porcaria para ver se te impunham rotinas, para te controlar a líbido, para escravizarem o organismo ao som insuportável do tic-tac que, mesmo quando dormimos, nos acompanha em compasso durante o sonho e nos faz despertar para mais um dia igual ao anterior! Exactamente igual! E andamos todos assim, a cumprir horários, a cumprir metas que decidem por nós! O ponteiro ganha vida e fica embutido nas nossas pupilas, naquele gotejar de segundos ensurdecedores! Bem, chega! Como disse o Osho: “Eu quero criar o caos em ti, porque do caos é que nascem as estrelas”. Espero que tenham optado em não ler nada disto, para serem felizes, ordenados, pontuais, amados e assim se poderem facilmente definir… caso tenham chegado até aqui, já sabem: Don’t be so easily defined! (o Inglês é só para dar o ar). //


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SO THIS IS THE NEW YEAR: (Na verdade,

les quilos para o ginásio já ou se tão cedo não vamos fazer aquela compra ou aquela mudança. Roma não se fez num dia e Deus demorou alguns a fazer tudo o resto, mas aposto que antes de colocarem a primeira pedra tiveram de imaginar o produto final (e se pensarmos bem, o projeto de Deus também começou como fogo de artifício só que não.). Eu tenho as minhas resoluções para 2014, mas não tenho pressa para as cumprir. Tirando aprender a nadar, porque do modo que tem caído águas das nuvens suspeito que vai dar jeito ter esse talento. Mais, não sei quando é que o apocalipse zombie irá começar, por isso dá jeito saber nadar, porque todos nós sabemos que eles não o conseguem fazer. Ou ser eleito para participar no Hunger Games - o do segundo filme começou na água e eu tinha ficado por aí mesmo. Por isso relaxemos, irmãos e irmãs, e não sejamos possuídos pelo demónio do cinismo que ocupa os corpos daqueles que são fracos demais para sonhar. Ninguém peca em sonhar no dia 31 que o ano vai ser melhor. E eu, que acabo este texto já em 2014 (não me julguem por demorar pelo menos duas semanas a escrever isto, porque só os meus editores já o fizeram), digo-vos que há tempo. Exerçam o vosso direito de procrastinar é a lei do novo milénio e a solução para grande parte dos vossos problemas. Ano novo, enche a galinha o papo. E se a excelente série Downton Abbey nos ensinou alguma coisa é que as coisas parecem melhores depois de uma noite de sono. E quem somos nós para discordar da televisão? Exatamente, ninguém. Ámen. //

estou a escrever isto a três semanas do dia 1, por isso ainda não sei exatamente qual é o sentimento de ter os dois pés em 2014) Há umas noites estava a ver o mais recente filme da Sarah Polley, Stories we tell (parêntesis: recomendo vivamente) e um dos seus irmãos declara que odeia as quartas, porque é a noite de colocar o lixo na rua. Não era o ato em si que ele não gostava, mas a repetição do mesmo, já que o relembrava constantemente da passagem do tempo. Num contexto maior, é assim que eu acho que olhamos para esta época e para aquele segundo mágico em que o calendário muda. Naquele único momento atiramos o lixo todo que colecionamos durante os anteriores doze meses para o cosmos e esperamos pelo melhor. Contudo, na maioria das vezes a gravidade encarrega-se de resolver essa situação. A verdade é que os cínicos têm razão quando argumentam que o 31 de dezembro é mais um dia, mas isso não significa que o momento perca o seu significado. Por esta altura, já todos desistimos de 65% das nossas resoluções, porque a rotina voltou-se a instalar, algo que não deve ser razão de surpresa. O Ano Novo é sinónimo de mudança ou pelo menos o desejo que essa mudança aconteça. A concretização não faz parte da magia da data. O trabalho laboral não acontece no dia 31 de dezembro, acontece nos outros dias, mas isso não nos impede de sonhar. Isso é o dia 31 para mim. Crónica: Tiago Moura Por isso não importa se não vamos perder aque80 // www.IDIOTMAG.com


Gosto tanto de ir ao cinema. À última sessão e à semana para não apanhar muita gente. Não gosto de gente no cinema. O público, na maioria, é chato, mal-educado e faz muito barulho. Eww. Putos idiotas a falar alto e a bater com os pés nas cadeiras enquanto mastigam as pipocas de boca aberta e chupam, chupam, chupam a coca-cola. Remexem os sacos, comentam o filme, riem-se da publicidade da Red Bull como se estivessem a testemunhar a piada do século. Os gajos avisam: desligue o telemóvel, como se isso fosse o mais irritante. Nem por sombras. Na outra noite, fui ver um Palma de Ouro em Cannes. Público restrito, alunos de cinema, artistas da área, dois ou três casais. Ah, público mais educado e sensível, poder-se-ia pensar. Hmm, nem por isso. Está institucionalizada a falta de educação nas salas de cinema. Como tal, desisti de ir ao cinema e vejo os filmes em casa. Por ora.

Aqui ficam algumas dicas de etiqueta que podem vir a valer dinheiro em 2014. - Faz menos barulho a beber a coca-cola e a remexer as pipocas. Ninguém precisa de saber que és um porquinho no escuro a chafurdar na lama. - Tens as pernas compridas, levanta o cagueiro do assento antes de as cruzares. Quem está à frente não tem culpa do teu crescimento desproporcional. - Não faças comentários sobre o filme à plateia toda. Tens muito jeito para fazer review de cinema mas é em casa. E sozinho. - Sobretudo, vê o filme. Para que vais ao cinema se estás a falar de outra coisa qualquer com o namorado (a)? - Não te rias alto nas cenas de sexo. Guarda para quando chegares a casa e te vires nu ao espelho. - Quando está a passar os trailers, tipo… já é cinema, ok? Está caladinho. Bons filmes. E bom 2014. // Batman

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