Revista de Educação - Musicoterapia

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REVISTA DE EDUCAÇÃO DA ESE DE FAFE

EDIÇÃO 007 00

“A musicoterapia usicoterapia pretende desenvolver potenciais e/ou restaurar funções do indivíduo para que ele possa alcançar melhor a integração interpessoal e, consequentemente, uma melhor qualidade de vida através da prevenção, reabilitação e tratamento.” tratamento.

007

EDUCAÇÃO ESPE ESPECIAL

A musicoterapia aplicada às crianças com perturbações perturba globais de desenvolvimento

Filipa Sofia Brito Pereira


007

EDUCAÇÃO ESPECIAL Filipa Sofia Brito Pereira

Revista de Educação da ESE de Fafe Número 007 ISSN 2182-2964 2015-2016 Janeiro Direção Dulce Noronha

Coordenação José Carlos Meneses


A musicoterapia aplicada às crianças com perturbações perturbações globais de desenvolvimento

Filipa Sofia Brito Pereira


Resumo

A música tem várias utilizações. Uma delas pode ser para fins terapêuticos. À utilização da

música para fins

terapêuticos

se

o

nome

de

musicoterapia. O presente estudo tem como objetivo a aplicação da musicoterapia a crianças com

Perturbações

Desenvolvimento apresentam

Resumo

Globais (PGD).

graves

comunicação,

Estas

lacunas

interação

comportamentos.

de

e

Pelo

na nos que

pretendemos averiguar em que medida os estímulos musicais produzidos em sessão de musicoterapia influenciam positivamente

a

comunicação

intencional e recíproca, a expressão de afetos, a aproximação e o contacto das crianças com PGD. Os

resultados

obtidos

permitiram

concluir que o tipo de comunicação preferencial foi a resposta verbal e nãoverbal, para que as crianças pudessem expressar a sua alegria, satisfação, conforto, e até, prazer durante a sessão. A

musicoterapia

não

tem

poder

curativo, mas ajuda a melhorar a qualidade

de

vida,

desenvolve

capacidades e minimiza dificuldades.


153 – Revista Científica A música está presente em todas as pessoas e em todos os grupos sociais. Ao trabalhar com a música deve-se considerar que ela é um meio de expressão

acessível

a

todos,

inclusivamente aos bebés, crianças, e aqueles que apresentam necessidades

A musicoterapia aplicada às crianças com perturbações globais de desenvolvimento

especiais. A linguagem musical é um excelente meio para o desenvolvimento da

expressão,

do

equilíbrio,

da

autoestima e autoconhecimento, além de poderoso meio de integração social. Apesar do interesse crescente pela

Metodologia Palavras-chave musicoterapia, música, comunicação, comportamentos, interação

música ainda existem poucos estudos, em Portugal que abordem a temática da Musicoterapia no desenvolvimento das

crianças

Educativas

com

Necessidades

Especiais.

A

palavra

Musicoterapia deixa claro que o seu

Filipa Sofia Brito Pereira

objetivo Pretende

Prof. de Educação. Musical/Especialização em Educação Especial

fundamental promover

é o

a

terapia.

crescimento

emocional, afetivo, relacional e social da pessoa, através da utilização de sons, movimentos e expressão corporal como meio de comunicação (verbal e não-verbal) e expressão.

A musicoterapia é, portanto, “um processo sistemático de intervenção em que o terapeuta ajuda o paciente a encontrar a saúde, utilizando experiências musicais (…) Tem intencionalidade, organização e regularidade (Bruscia, 1997: 43).


154 – Revista Científica

Através da aplicação de uma sessão

sentido, a segunda hipótese (é de

de musicoterapia a cinco crianças com

esperar

Perturbações

Globais

Perturbações

Desenvolvimento

e

de

que

as

crianças Globais

com de

consequente

Desenvolvimento demonstrem maior

observação dos seus comportamentos,

expressividade afetiva na presença de

pretendeu-se averiguar em que medida

estímulos

estes

musicoterapia)

se

mantêm

ou

alteram

na

presença de estímulos musicais. A pertinência do mesmo assenta na necessidade, não só de demonstrar e comprovar o quão importante é a música no desenvolvimento das áreas mais comprometidas dessas crianças, mas também procurar indícios de comunicação, socialização e interação. Como resultados verificámos que os nossos

sujeitos,

estímulos

na presença

musicais

musicoterapia

da

dos

sessão

de

utilizavam

a

comunicação, quer verbal, quer nãoverbal para comunicar com o terapeuta. O tipo de comunicação preferencial foi a resposta o que permitiu confirmar a nossa primeira hipótese (é de esperar que na presença de estímulos musicais na

sessão

de

musicoterapia

as

crianças com Perturbações Globais de Desenvolvimento

apresentem

uma

melhoria significativa na capacidade de comunicar

por

reciprocamente).

iniciativa Os

própria

e

estímulos

musicais serviram, também, para que as crianças pudessem expressar a sua alegria, satisfação, conforto, e até, prazer durante a sessão. Nesse

musicais

da

sessão

foi,

de

igualmente

confirmada. A aparente pouca recetividade das crianças (demonstrada nas respostas “raras vezes”, RV) e os resultados menos conseguidos na aproximação e contacto, quer físico, quer ocular, são facilmente explicáveis por ter sido a primeira vez que tiveram contacto com o terapeuta, levaram a que terceira hipótese

de

esperar

que

na

presença de estímulos musicais na sessão de musicoterapia as crianças com

Perturbações

Globais

de

Desenvolvimento demonstrem maior aproximação e contacto) não fosse confirmada.


155 – Revista Científica

Segundo o DSM-IV-TR (APA, 2002) as Perturbações

Perturbações globais de desenvolvimento

Globais

Desenvolvimento

de

(PGD)

são

caracterizadas por défices graves e perturbações

generalizadas

em

múltiplas áreas do desenvolvimento. Incluem-se deficiências na interação social, na comunicação e a presença de

comportamentos,

interesses

e

atividades estereotipadas. A síndrome padrão desta categoria é a “Perturbação

Autística”

2002).

outras

As

(Fauman, perturbações

específicas incluídas nesta categoria são: Perturbação de Rett, Perturbação Desintegrativa da Segunda Infância, Perturbação

de

Perturbação Desenvolvimento Especificação”.

Asperger

e

Global

de

Sem

Outra


156 – Revista Científica

Sintomatologia geral das Perturbações Globais de Desenvolvimento de acordo com o DSM-IV-TR (APA, 2002) e exemplos concretos/ observáveis da mesma (Ozonoff, Rogers & Henden, 2003)

Défices qualitativos na interação social Sintomas (DSM-IV-TR)

Exemplos

Acentuado défice no uso de múltiplos comportamentos nãoverbais (contacto ocular, expressão facial, postura corporal) e gestos reguladores da interação social.

Dificuldade em olhar os outros nos olhos, reduzido uso de gestos enquanto fala, expressões faciais reduzidas ou invulgares, dificuldade em saber quão próximo dos outros se deve manter, entoação ou qualidade da voz invulgares.

Incapacidade para desenvolver relações com os companheiros adequadas ao seu nível de desenvolvimento.

Poucos ou nenhuns amigos, relações apenas com pessoas muito mais velhas ou mais jovens do que a criança ou com membros da família; relacionamentos baseados primeiramente em interesses especiais, dificuldades em interagir em grupos e em respeitar regras de jogos em equipa.

Ausência da tendência espontânea para partilhar prazeres, objetivos ou interesses com os outros.

Aprecia as suas atividades favoritas, programas televisivos e brinquedos sozinho, sem tentar envolver outras pessoas; não tenta chamar a atenção dos outros para as suas atividades, objetivos ou interesses, reduzido interesse ou reação a manifestações de agrado.

Falta de reciprocidade social ou emocional.

Não responde aos outros, “parece surdo”; não se mostra consciente dos outros; “ausenta-se” da sua existência; não se apercebe quando os outros estão tristes ou perturbados; não oferece consolo.


157 – Revista Científica Padrões de comportamento, interesses ou atividades restritos, repetitivos e estereotipados Preocupação absorvente por um ou mais padrões de estereotipados e restritivos de interesses que resultam anormais, quer na intensidade quer no objetivo.

Preocupação muito forte por determinados assuntos com exclusão de outros; dificuldade em abandonar determinados assuntos ou atividades (ex. atrasa-se para refeições ou negligencia a sua higiene pessoal devido à preocupação com as atividades); interesse por assuntos invulgares (ex. sistemas antifogo, classificação de filmes, etc.); excelente memória para pormenores e interesses especiais.

Adesão, aparentemente inflexível a rotinas ou rituais específicos não funcionais.

Quer realizar certas atividades de forma exata (ex. fechar as portas dos automóveis segundo uma ordem determinada); facilmente perturbado por alterações mínimas na rotina (ex. percorrer um caminho diferente de escola para casa); necessidade de ser avisado antecipadamente de quaisquer alterações; fica altamente ansioso e preocupado se as rotinas e rituais não forem respeitados.

Maneirismos motores estereotipados e repetitivos.

Abana as mãos quando está excitado ou preocupado; estala os dedos em frente dos olhos; posturas ou movimentos invulgares com as mãos; roda ou balança o corpo durante longos períodos; caminha e/ou corre nas pontas dos pés.

Preocupação persistente com partes de objetos.

Usa objetos de formas não pretendidas (ex. faz mover os olhos das bonecas, abre e fecha repetidamente as portas de um automóvel de brincar); interesses pelas qualidades sensoriais dos objetos (ex. gosta de cheirar objetos ou olhar para eles de muito perto); gosta de objetos que se movem (ex. água a correr, rodas que giram); ligação a objetos invulgares (ex. cascas de laranja, cordéis).

Défices qualitativos na comunicação Atraso ou ausência total do desenvolvimento da linguagem oral (não acompanhada de tentativas para compensar através de modos alternativos de comunicação, tais como gestos ou mímica).

Não usa palavras para comunicar aos 2 anos de idade; não profere frases simples (ex. mais leite) aos 3 anos; depois de o discurso se desenvolver, a gramática é imatura ou dá erros repetidos.

Acentuada incapacidade na competência para iniciar ou manter uma conversação com os outros (quando existe discurso adaptado).

Dificuldade em saber quando iniciar, continuar e/ou terminar uma conversação; reduzida variação temática; pode fala sem parar num monólogo; incapacidade para responder às observações dos outros; responde apenas a perguntas diretas; dificuldades em conversar sobre assuntos que não sejam do seu especial interesse.

Uso estereotipado ou repetitivo da linguagem ou linguagem idiossincrática.

Repete aquilo que os outros lhe dizem (ecolália); repete palavras ou frases a partir de vídeos, livros ou anúncios publicitários em alturas inapropriadas ou fora do contexto; usa palavras ou frases criadas por si ou que têm significado apenas para si; estilo de discurso claramente formal.

Ausência de jogo realista espontâneo, variado, ou de jogo social imitativo adequado ao seu nível de desenvolvimento

Reduzidos jogos imitativos com brinquedos; raramente finge que um objeto é outra coisa (ex. uma banana é um telefone); prefere usar os brinquedos de forma concreta (ex. construção com blocos, dispor mobílias de bonecas) em vez de brincar com eles; reduzido interesse por jogos sociais (ex. jogo da apanha).

Quadro 1 - Simbologia e exemplos de comportamentos concretos e observáveis das crianças com Perturbações Globais de Desenvolvimento


158 – Revista Científica

Estas perturbações limitam a atividade e a participação do aluno no acesso ao currículo estabelecido pela escola, e exige o envolvimento dos professores e outros

profissionais

proporcionarem expressividade

para

canais e

de

de

comunicação

variados. Neste sentido, a aplicação da musicoterapia nestas crianças torna-se relevante, uma vez que a música pode tornar-se um objetivo intermediário, potencializando

capacidades

individuais através de vivências e relações

interpessoais

e

como

promotora das aprendizagens para a vida.


159 – Revista Científica A música está presente na nossa vida, antes mesmo de sairmos da barriga da nossa

mãe.

O

permanentemente

feto

recebe

informações

sensoriais do organismo da mãe e do mundo exterior. “O feto é um ser que ouve, compreende e sente. Este ser, vive

num

constituído

ambiente por

acústico

barulhos

rico,

internos

A importância da música no

ténues (cardíacos e digestivos) e por

desenvolvimento das crianças

barulhos externos, como sejam a voz da mãe e do pai (Pocinho, 2007: 52)”. É do senso comum a importância que a música tem na nossa vida, no nosso bem-estar físico, psíquico, emocional e social.

Desperta-nos

emoções

e

sentimentos. “A música expressa muito mais o que os seres humanos sentem, do que o que pensam. Sua linguagem é um esperanto de emoções em vez de ideias” (Reik, 1953, citando Rudd, 1990: 37).

A música desenvolve no indivíduo a criatividade, a autonomia, a socialização, o espírito crítico, a atenção, a concentração.


160 – Revista Científica Blasco (1999) afirma mesmo que a

cardíaco é mais ou menos acelerado

capacidade que a música tem em

consoante se a música que se ouve é

desenvolver a atenção é de suma

calma ou estimulante), na respiração

importância para a relação com a

(aqui

criança ou com o doente mental porque

contraditórias

fá-los regressar ou permanecer na

diminuição da respiração tem, também,

realidade. Ela ajuda, também, a criança

a ver com o tipo de música que se

a

ouve, outros afirmam que qualquer

transformar

o

seu

pensamento

eminentemente pré-lógico em lógico.

os

resultados -

o

são

também

aumento

ou

música tende a aumentar a respiração),

Muitos artistas e cientista inspiram-se na música. A música é capaz de criar

pode aumentar a resistência à dor, relaxar, etc. (Blasco, 1999).

um clima adequado para a criação. A

Deste

criatividade é uma qualidade exclusiva

características

do homem que todos possuímos em

desenvolvimento global das crianças e

maior ou menor grau. A audição

esta está em contacto permanente com

musical,

as mesmas desde o seu nascimento.

o

canto,

a

dança,

e

interpretação e a composição musical são meios eficazes e uma ajuda indispensável desenvolver componentes

na a

educação

criatividade. da

música

para Estas

ajudam,

também, a desenvolver a memória, pois ela tem que ser constantemente exercitada. Como agente socializador, o canto, a dança, a interpretação instrumental em grupo tende a unir os homens e expressar sentimentos comuns. Como efeito biológico, a música atua sobre a bioquímica

do

nosso

organismo,

positiva e negativamente segundo o tipo de música e fisiológico atua na pressão sanguínea (a velocidade muda segundo o tipo de música), no ritmo cardíaco e pulso (os resultados dos estudos são contraditórios, mas o ritmo

modo

a

música que

apresenta

ajudam

ao


161 – Revista Científica A palavra terapia vem do grego, e quer dizer: “parte da medicina que ensina os preceitos e remédios para o tratamento e cura das enfermidades”.

Então, pode-se afirmar, desde já,

A musicoterapia

que a musicoterapia tem como objetivo fundamental a terapia. Bruscia (1997), citando Benenzon, (1988: 11) esclarece que a terapia consiste em três fases: diagnóstico, tratamento e avaliação. O diagnóstico é um processo pelo qual o terapeuta estuda o cliente e a sua condição, formula objetivos e desenvolve um plano de tratamento. O tratamento é um processo pelo qual o terapeuta aplica os métodos e técnicas de intervenção. A avaliação é o processo pelo qual o terapeuta determina se o estado do seu paciente mudou verdadeiramente como resultado do tratamento.

A World Federation of Music Therapy (WFMT)

define

musicoterapia

da

seguinte maneira: “Musicoterapia é a utilização da música e dos seus elementos

(som,

ritmo,

melodia

e

harmonia) por um musicoterapeuta, qualificado com um cliente ou grupo, num processo designado para facilitar


162 – Revista Científica a comunicação, os relacionamentos, a

reclusos, adictos, etc. O terapeuta

mobilização,

a

estabelece objetivos, segue um curso

objetivos

de ação baseado nesses objetivos e

a

expressão,

organização

e

outros

terapêuticos

relevantes

a

funciona de acordo com um programa

satisfação física, emocional, mental,

planeado de sessões. Sempre que

social

possível o terapeuta implica o cliente

e

necessidades

para

cognitivas.

(Darnley – Smith & Patey, 2003:7)”.

na organização e planeamento da sessão de terapia, e em alguns casos podem inclusivamente estabelecer um

Musicoterapia pretende

contrato.

desenvolver potenciais e/ou

estipula

restaurar funções do indivíduo

O

contrato

objetivos

e

normalmente métodos

de

tratamento por um período de tempo...

para que ele possa alcançar

(Bruscia, 1997).

melhor a integração interpessoal e,

Para Benenzon (1988), existem cinco

consequentemente, uma

grandes alternativas de aplicação de

melhor qualidade de vida

Musicoterapia:

através da prevenção,

reabilitação e tratamento

Individual,

ou

determinada

(Darnley- Smith & Patey, 2003:

seja,

sobre

pessoa.

Aqui

encontram-se

7).

as

pessoas

autistas, hiperativas, deficientes mentais,

com

motoras, A musicoterapia é diversa. Utiliza-se nas

escolas,

nas

clínicas,

nos

etc.

A

população

vida

e

do

homem,

infância,

adolescência, juventude, idade

emocionalmente perturbadas, adultos alterações

A aplicação é em forma grupal e pode ser em qualquer etapa da

de

pacientes inclui autistas e crianças

com

deficiências

sensoriais.

hospitais, centros de dia, hospitais psiquiatras,

com

perturbações

adulta,

patologias

todas

psiquiátricas, crianças e adultos com

velhice. as

Compreende

patologias

acima

enumeradas.

deficiência intelectual, indivíduos com

Pode ser no grupo familiar

problemas

Institucional (hospitais, escolas,

no

domínio

sensorial

(cegueira e surdez), no domínio da comunicação

e

linguagem,

especialmente da fala, crianças com problemas

de

comportamento,

etc.)


163 – Revista Científica •

Psicoprofilática primeiro

(gravidez,

ano

de

vida

e

escolaridade. Os objetivos podem ser educacionais, recreativos, de reabilitação, preventivos e podem ser programados tendo em conta

as

necessidades

físicas,

emocionais, intelectuais ou espirituais do

paciente.

Os

métodos

de

tratamentos podem ser audição, a improvisação,

a

composição,

o

movimento, e experiencias adicionais de teatro, dança, poesia (Bruscia, 1997). Rudd

(1990)

musicoterapia

defende tem

que

quatro

a

funções

fundamentais: serve de estímulo para melhorar o desenvolvimento motor e cognitivo; favorece a expressão de sentimentos linguagem também

(e

uma

forma

não-verbal emocional);

de

considerada estimula

o

pensamento e a reflexão sobre a própria vida podendo, desta forma, levar à autorrealização pessoal; é um meio e forma de comunicação que estimula

as

habilidades

sócio

comunicativas e de interação. Em

suma,

a

musicoterapia

tem

objetivos diversificados e pode ser aplicada

em

diferentes

contextos,

individualmente ou em grupo. Poderá ser uma resposta eficaz para aquelas crianças que sofrem de handicaps, permitindo

ou

facilitando

integração na sociedade.

a

sua


164 – Revista Científica A nossa amostra foi constituída por 5 sujeitos, 3 rapazes e 2 raparigas, com idades compreendidas entre 8 e os 13 anos, estudantes do ensino básico, diagnosticados com uma das seguintes Perturbações

Globais

Desenvolvimento:

de

“Perturbação

Autística”; “Perturbação de Asperger” e

Metodologia

“Perturbação

Global

de

sem

Outra

Desenvolvimento Especificação”

Para a recolha de dados foi utilizada a “Grelha/Escala

de

observação

do

comportamento” (Viegas, 2007). Esta grelha/escala

foi

construída

para

colmatar a inexistência de instrumentos observáveis

adaptados

às

características

particulares

dos

indivíduos com Perturbações Globais de Desenvolvimento e especificidades da intervenção musicoterapêutica. Este instrumento centra-se na comunicação intencional

recíproca

integrados

um

onde

estão

conjunto

de

comportamentos que as descrições clínicas consideram característicos das mesmas.

Na

grelha/escala

estão

presentes os diferentes aspetos da comunicação

não-verbal;

as

sequências interativas mediadas pela música/som (segundo parâmetros de contingência, ritmo e sincronia); a comunicação

verbal

funcional;

as

estereotipias e as verbalizações fora do contexto;

o

evitamento

e

os

comportamentos agressivos. Devido à


165 – Revista Científica grande

multiplicidade

de

1

-

Evitamento,

rejeitar

relação,

comportamentos a observar, o autor

estereotipias

dividiu

associados ao não relacionamento -

a

grelha/escala

em

três

categorias e oito subcategorias.

evitamento

(comportamentos

e

rejeição

-

e

comportamentos estereotipados);

Categorias: - Iniciativa própria sujeito/cliente – abrange os

2

comportamentos (verbais e não-

(comportamentos

verbais) iniciados pelo sujeito sem que

relacionamentos,

houvesse um pedido, uma sugestão ou

investigador,

aproximação física do terapeuta;

comportamentos contingentes ou de

I. Resposta de sujeito/cliente – abrange

as

respostas

que

Aderir,

aproximação,

relação

associadas olhar

a

para

dar

a

o vez,

imitação tocar e depois olhar para o investigador, etc.);

surgiam na sequência de um

3 - Comportamentos agressivos (inclui

pedido (verbal e não-verbal),

autoagressão,

uma sugestão sonora/musical

agressão dirigida a objetos);

ou da aproximação física do terapeuta; II.

-

Repertório e contacto com os instrumentos

musicais

engloba a riqueza do repertório sonoro/musical,

4

-

hetera

Parar

agressão

e

comportamentos

(comportamento interrompido quando o investigador faz um pedido verbal ou não- verbal, sugestão ou aproximação física);

o

repertório

do

sujeito

5 - Não contingente (comportamentos

(preferências em relação ao

que poderiam até estar ligados ao do

tipo de instrumento, nº de

investigador,

instrumentos utilizados) e o

indicadores de contingência - timing,

modo de manipulação dos

intensidade, forma);

instrumental

mesmos

(sensorial,

mas

desprovidos

de

parcial, 6 - Não reagir;

estereotipada ou funcional). Subcategorias - divididas em oito

7 - Manipulação dos instrumentos

subcategorias

(modalidade

correspondem

uma

preferencial

de

categoria, uma ou mais letras na

manipulação de objetos sonoros, sendo

“grelha/escala

muito

de

observação

do

diferentes

a

manipulação

comportamento” e alguns tipos de

sensorial - levar a baqueta à boca,

comportamento. Assim, temos como

observar o brilho das partes metálicas

subcategorias:

de

um

instrumento,

manipulação

etc.

estereotipada

-

da girar


166 – Revista Científica repetidamente

o

instrumento

-

da

parcial - manipular as lâminas de um xilofone

ou

apenas

mexer

nas

baquetas - e da manipulação funcional dos instrumentos); 8 – Repertório (Repertório instrumental, variedade flexibilidade

e

preferências Vs.

rigidez

e da

a sua

produção sonora). Depois de anotadas as frequências dos comportamentos

na

grelha,

estas

fazem corresponder a um valor numa outra escala designada pelo autor de “Escala

de

Evolução

de

comportamentos”, ou seja, os dados registados

na

grelha

serão,

posteriormente, transferidos para a escala da seguinte maneira (Viegas, 2007):

“Grelha de observação do

Escala de evolução do comportamento”

comportamento” Frequência (cotação)

Valor

Designação

0

0

“Não fez” = NF

1; 9

1

“Raras vezes” = RV

10; 19

2

“Algumas vezes” = AV

20; 29

3

“Bastantes vezes” = BV

30

4

“Maior parte das vezes” = MP

Quadro 2 – Designação por frequência dos comportamentos


167 – Revista Científica Este

instrumento

próprio

é

utilizado

pelo

investigador

através

da

observação direta. Para a escolha dos instrumentos

musicais

tivemos

em

conta uma grande combinação dos mesmos

de

maneira

características

a

sonoras,

que

as

tácteis

e

visuais despertassem a atenção e curiosidade das crianças para potenciar a

sua

exploração.

Assim,

foram

utilizados a Guitarra, Teclado, Flauta de bisel, Caixa chinesa, Reco-reco, Xilofone, Bombo, Tamborim, Pratos, Triângulo, Pandeireta e Guizeira. Para a audição foi usado um leitor de CD “JVC – cd portable system RC-QW20”. A audição instrumental foi retirada do CD do livro “Audição Musical Ativa” de Jos Wuytack e Graça Boal Palheiros. A sessão foi planeada tendo em conta os

métodos

musicoterapia, métodos

utilizados

em

nomeadamente

os

ativos

através

da

improvisação e os métodos passivos, a audição

musical.

As

sessões

de

musicoterapia tiveram lugar numa sala de médias dimensões e duraram entre 20 a 30 minutos cada sessão. A “grelha de observação dos comportamentos” foi aplicada nos segundos 10 minutos da sessão.


168 – Revista Científica Concluídas

as

musicoterapia

e

grelhas/escalas

A musicoterapia aplicada às crianças com perturbações globais de desenvolvimento

sessões

de

preenchida

as

de

observação

verificámos que houve itens que não foram considerados para análise por não terem sido aplicados na sessão, itens que não foram considerados para análise por não serem relevantes, rel pois

Apresentação dos resultados

nenhum sujeito observado apresentava esse

tipo

de

comportamento

em

nenhuma ocasião e, finalmente itens que apresentaram uma ocorrência igual a zero, ou seja, que nenhum sujeito demonstrou

esse

durante

sessão.

a

comportamento Segue Segue-se

a

apresentação ntação dos itens com dados considerados relevantes para análise.

Gráfico 1 - Comunicação por iniciativa

Gráfico 2 - Tipos de comportamento

própria

Gráfico 3 - Produção sonora/musical

Gráfico 4 - Objeto sonoro


169 – Revista Científica O gráfico 1 mostra os itens que fazem

No

parte desta categoria e a reacção dos

sonora/musical os resultados foram:

nossos sujeitos a cada um. Os itens

produção sonora/musical – contingente

são:

(E8), produção sonora/musical – imitar

produção

(E9), produção sonora/musical – DV

musical/sonora – iniciar (B5), produção

(E10), produção sonora/musical – não

musical/sonora – iniciar - “dar a vez”

contingente

(B6), objecto sonoro – partilhar (B7),

sonora/musical – parar (G2), produção

objecto sonoro – manipular e depois

sonora/musical de terapeuta – parar

olhar para o terapeuta (B8), pedido

(D4) e produção sonora/musical do

não-verbal

terapeuta – sobrepor volume (F3).

comportamento

estereotipia

motor

(A1),

(B11),

associada

e

verbalização

um

pedido

(B12)

– e

verbalização – associada ao contexto (B13).

gráfico

3

para

(F2),

a

produção

produção

O objecto sonoro, presente no gráfico 4, refere-se aos instrumentos, onde podemos encontrar: objecto sonoro –

Devido à grande multiplicidade de

rejeitar o objecto ou rejeitar a sua

comportamentos dentro da categoria

partilha (D6), objecto sonoro –partilhar

“capacidade

(E11) e objecto sonoro – manipular e

de

comunicar

reciprocamente”, para a apresentação e discussão dos resultados, e na tentativa de melhor os percebermos, dividimos essa categoria em: Tipos de comportamentos, sonora/musical,

produção objecto

sonoro,

verbalização, não reagir. Para cada subcategoria corresponde um gráfico. No gráfico 2 como comportamentos a observar dentro desta subcategoria temos:

comportamento

estereotipia motor

(D1), tapar

motor

comportamento

os

ouvidos

(D2),

comportamento motor – imitar (E3), comportamento motor – alterar - não contingente

(F1)

motor – parar (G1).

e

comportamento

depois olhar para o terapeuta (E12).


170 – Revista Científica

Gráfico 6 - Não reagir

Gráfico 5 – Verbalização

Gráfico 7 - Contacto com os instrumentos musicais

Gráfico 8 – Repertório

Finalmente, dentro desta categoria, categor

Os dois quadros seguintes (gráficos 7

ainda, temos a verbalização (Gráfico

e 8) devem de ser enquadrados na

5).

capacidade de comunicar por iniciativa

Daqui

fazem

(verbalização ecolália,

parte –

os

fora do

verblização

itens

D7

contexto_

estereotipada,

etc.), E18 (verbalização – associada a um pedido) e E19 (verbalização – associada ao contexto). O gráfico 6 remonta para a “não resposta”, “não receptividade” por parte do sujeito e apenas contem um item (K1 – Não reagir).

própria ou após sugestão/pedido ou aproximação fisica do terapeuta e referem-se se às preferências quanto quant ao instrumento utilizado para comunicar (repertório) e maneira preferencial de o manipular. Os

itens

são:

instrumentos

manipulação

dos

sensorial

(L1),

manipulação dos instrumentos – parcial (L2) e manipulação dos instrumentos – funcional (L4).


171 – Revista Científica

No

gráfico

8

encontramos:

instrumentos

teclas

(M2),

instrumentos

sopro

(M3),

instrumentos

metal

(M5),

instrumentos – pele (M6), instrumentos – madeira (M8) e número de produções sonoras não repetidas (M12). O gráfico 9 é meramente informativo e refere-se se utilizados

ao

para

de

instrumentos

estabelecer

a

comunicação. O gráfico 10 refere-se se à expressão dos afetos e apenas integra dois itens: sorrir por iniciativa própria ou sorrir após pedido/ sugestão ou aproximação física do terapeuta.

Gráfico 9 - Número de instrumentos utilizados

Gráfico 10 - Expressão de afetos


172 – Revista Científica

Gráfico 11 - Aproximação por contacto e iniciativa

Gráfico 12 - Aproximação e contacto após pedido/sugestão e ou aproximação do terapeuta

Finalmente, os últimos gráficos (11 e 12) reportam o tipo de contacto. contacto Aqui

podemos

encontrar

os

itens

comportamento motor – distanciar-se fisicamente (A2), comportamento motor –

aproximar-se se

fisicamente

(B1),

comportamento motor – contacto físico (B2), olhar – terapeuta (B3), olhar – olhos do terapeuta (B4). Estes itens integram

o

contacto

por

inici iniciativa

própria. Os

itens

comportamento

distanciar-se se

motor

fisicamente

(D3),

comportamento motor – aproximar-se fisicamente (E1), comportamento motor – contacto físico (E2), olhar – objeto sonoro do terapeuta (E5), olhar – terapeuta (E6) e olhar – olhos do terapeuta (E7) pertencem à categoria contacto

após

pedido/sugestão

aproximação física do terapeuta.

ou


173 – Revista Científica Para a leitura dos gráficos é importante ter em conta que nem todas as frequências

“não

fez”

=

NF

são

negativas e, em contrapartida, nem

Discussão dos resultados

todas as frequências “maior parte das vezes” = MP são desejáveis. Tendo em conta as dificuldades que as crianças com

Perturbações

Globais

de

Desenvolvimento têm em estabelecer comunicação, contacto e interação, considerámos uma boa opção dar especial ênfase aos comportamentos que vão no sentido inverso, ou seja, aqueles que as crianças manifestam positivamente no que se refere a estes três níveis. O

primeiro

gráfico

menciona

a

capacidade de comunicar por iniciativa. Aqui,

à

exceção

do

item

A1

(comportamento motor - estereotipia), seria desejável obter resposta positiva em todos os outros itens. Este item refere-se

os

comportamentos

que

deveriam ser reduzidos ou substituídos (Viegas,

2007).

Da

gráfico

podemos

análise

deste

concluir

que

obtivemos respostas mais favoráveis nos itens B8 (objeto sonoro – manipular e depois olhar para o terapeuta) e B13 (verbalização – associada ao contexto). Em

alguns

momentos

da

sessão,

estabeleceu-se comunicação. Os quatros gráficos seguintes (tipos de comportamento, sonora/musical,

produção objeto

sonoro

e

verbalização) referem-se, igualmente, à


174 – Revista Científica capacidade de o sujeito comunicar,

imitação ou em que se dá a vez (com

mas desta vez, de forma recíproca, ou

ou sem imitação) esta é indicadora de

seja, após resposta/pedido ou sugestão

um

do terapeuta. No gráfico 2 “tipos de

intencional (Greenspan & Wieder, 2006

comportamentos” seria desejável obter

citados por Viegas, 2007). Os itens F2

resposta

(Produção

positiva

no

item

E3

nível

de

comunicação

sonora/musical

mais

não

(comportamento motor - imitar). Este

contingente)

item reporta-se à capacidade que o

sonora/musical – parar) referem-se à

sujeito tem em imitar o terapeuta. Ao

falta

fazê-lo

emocional. Em suma, a maior parte dos

está

comunicação.

a

reciprocidade

(Produção

social

ou

sujeitos que compõem a nossa amostra

itens, D1 (comportamento motor –

comunicaram com o terapeuta de

estereotipia),

alguma forma. Poder-se-ia ter obtido

restantes

G2

quatro

motor

Os

estabelecer

de

e

D2

(comportamento

tapar

os

ouvidos),

F1

melhores resultados, principalmente no

(comportamento motor – alterar - não

item E10 (produção sonora/musical –

contingente)

“dar a vez” DV).

e G1 (comportamento

motor – parar) referem-se à “não resposta” por parte do sujeito ao terapeuta. Da observação do gráfico, podemos

concluir

resposta

que

obtivemos

positiva

naquele

comportamento que seria desejável (E3 - comportamento motor - imitar) e no item D2 (comportamento motor – tapar os ouvidos), pois dos cinco sujeitos, apenas

um

demonstrou

esse

comportamento. No que se diz respeito ao gráfico 3 “produção sonora/ musical” este aponta para a maneira como o sujeito comunica. Aqui seria desejável obter resposta positiva nos itens E8 (Produção

sonora/musical

contingente), sonora/musical

E9 –

imitar)

-

(Produção e

E10

O

terceiro

quadro

da

categoria

“comunicar após resposta/pedido e/ou sugestão ” do terapeuta remonta para o objeto sonoro (instrumento musical) utilizado

para

estabelecer

comunicação.

Aqui

seria

desejável

obter recetividade nos itens E11 (objeto sonoro - partilha) e E12 (objeto sonoro – manipular e depois olhar para o terapeuta). Relativamente ao item D6 (objeto sonoro – rejeitar o objeto ou rejeitar a sua partilha) observámos resultados positivos visto que três dos sujeitos

não

revelaram

esse

comportamento. Em suma, em todos os itens desta categoria obtivemos bons resultados.

(Produção sonora/musical - “dar a

Finalmente, o ultimo gráfico desta

vez”). Estes dois últimos indicam que

categoria remonta para a verbalização.

durante a sequência em

Aqui, seria desejável obter resultados

que há


175 – Revista Científica positivos nos itens E18 (verbalização -

(1976), citados por Padilha (2008), que

associada

E19

afirmam que a musicoterapia pode

(verbalização – associada ao contexto).

facilitar a auto expressão e promover a

Da análise do gráfico 5 podemos

satisfação

concluir

sujeitos (incluindo o que nunca aderiu)

a

um

que

pedido)

obtivemos

e

resultados

positivos em todos eles. Todos

os

observados,

sujeitos

observados

reagiram/aderiram, à excepção de um que nunca reagiu. O

gráfico

7

“contacto

com

os

tipo de manipulação preferencial do sujeito. Embora nenhuma forma de

negativa, sujeitos

possa seria

mesmo

manifestaram

o

todos

os

discretamente,

seu

agrado

pela

sessão sorrindo, ora por iniciativa própria,

ou

como

resposta

ou

aproximação do terapeuta.

instrumentos musicais” refere-se ao

manipular

profissional,

ser

considerada

desejável

preferissem

o

que tipo

os de

manipulação funcional, ou seja, o real. Este foi, inclusivamente, o preferido por três sujeitos. De referir que, o mesmo sujeito, pode manipular o instrumento das três maneiras.

Os dois últimos gráficos remontam para uma das características mais marcadas da

nossa

população

(e

consequentemente, da nossa amostra) que

é

o

défice

acentuado

nas

interações sociais (APA, 2002). Aqui encontramos o contacto físico, ocular, aproximação contacto/

ou

distanciamento.

aproximação

pode

O ser

estabelecido por iniciativa do sujeito – primeiro gráfico desta categoria – ou como

resposta/

pedido

e/ou

O repertório refere-se ao instrumentos

aproximação do terapeuta – segundo

preferidos utilizados para comunicar.

gráfico desta categoria. Relativamente

Da análise do gráfico 8 podemos

ao primeiro gráfico desta categoria

concluir que o teclado foi o instrumento

seria desejável obter resposta positiva

preferido

Doze

em todos os itens à exceção do A2

instrumentos estavam à disposição dos

(comportamento motor – distanciar-se

sujeitos. Importa reforçar que são estes

fisicamente) e podemos concluir que os

os objetos que o sujeito tinha para

sujeitos preferiram o contacto ocular ao

estabelecer comunicação não-verbal. À

físico.

dos

sujeitos,

exceção de um sujeito, todos os indivíduos

observados

manipularem

pelo menos um instrumento. Citando alguns investigadores como Aldridge (1998), Cabrera (2005 & Ricketts,

No que concerne ao ultimo gráfico, aproximação

e

contacto

após

pedido/sugestão e/ou aproximação do terapeuta

seria

desejável

obter

resposta positiva em todos os itens à


176 – Revista Científica exceção do D3 (comportamento motor

Os

– distanciar-se fisicamente). A mesma

resposta

análise do gráfico anterior (gráfico 11)

comportamento motor – estereotipia;

pode ser feita para este (gráfico 12). Os

produção sonora musical – iniciar;

sujeitos preferiram o contacto ocular ao

produção sonora musical – “dar a vez”;

físico como resposta ao terapeuta.

objeto sonoro – partilhar; pedido não-

Fazendo

um

sumário

dos

comportamentos dos sujeitos, podemos concluir que os itens pelos quais seria desejável obter respostas positivas, facto que acabou por se verificar foram: objeto sonoro – manipular e depois olhar para o terapeuta; verbalização associada ao contexto; comportamento motor - imitar; produção sonora musical - contingente; produção sonora musical - imitar; produção sonora/musical – parar; objeto sonora - partilhar; objeto sonoro – manipular e depois olhar para o terapeuta; verbalização – associada a um pedido; verbalização – associada ao contexto; não reagir; manipulação dos instrumentos – funcional; sorrir; comportamento motor – aproximar-se fisicamente; olhar – terapeuta; olhar – olhos do terapeuta; comportamento motor – aproximar-se fisicamente; olhar – objeto sonoro de terapeuta; olhar – terapeuta.

itens

pelos

quais

obtivemos

negativa

foram:

verbal; verbalização – associada a um pedido; produção sonora musical – “dar a vez”; produção sonora musical – não contingente; comportamento motor – distanciar-se

fisicamente;

comportamento motor – contato físico; comportamento motor – distanciar-se fisicamente; comportamento motor – contato

físico;

olhar

olhos

de

terapeuta. Apesar de termos mais itens com

respostas

positivas

do

que

negativas, ainda existem itens em que se poderia obter melhores resultados. Se este estudo fosse longitudinal, ou seja, para um período mínimo de observação

de

provavelmente

6

verificávamos

meses, uma

evolução nesses itens e melhores resultados nos itens em que obtivemos respostas

negativas.

Assim,

poderemos afirmar que a primeira e a segunda hipótese foram confirmadas, enquanto

a

terceira

não.

Consideramos, também, que isso se

Os itens pelos quais seria desejável

deve ao facto de só ter existido uma

obter resposta negativa (categorizada

sessão.

com “não fez”, NF) e isso verificou-se foram: comportamento motor – tapar os ouvidos; objeto sonoro – rejeitar o objeto

ou

rejeitar

a sua

partilha;

verbalização – fora do contexto.

A musicoterapia aplicada às crianças com perturbações globais de desenvolvimento


177 – Revista Científica

As crianças com Perturbações Globais de Desenvolvimento reagem positivamente à música. Esta é um veículo para o alívio da tensão

Conclusões

emocional permitindo, assim, recuperar as dificuldades de linguagem e fala.

Pode até ser um meio de libertação dos afetos, como nos mostra este estudo. A música atua e estimula o cérebro exatamente onde as portadoras destas perturbações têm dificuldades. É nas experiências do dia-a-dia que a criança retira o seu conhecimento. Quanto maior for a variedade de estímulos que ela

receber,

melhor

desenvolve

intelectualmente. Neste contexto, a música pode ter um papel fundamental. A musicoterapia, utilização da música como fins terapêuticos, permite uma melhoria

na

atividade

auditiva

(audições), na participação ativa (tocar, tocar, cantar), nos relacionamentos (interpretação

em

grupo)

e

na

comunicação. Ao trabalharmos com os sons,

durante

musicoterapia,

as

sessões

permitimos

que

de os

sujeitos que compunham a nossa amostra pudessem comunicar, quer verbalmente ou não.


178 – Revista Científica

A presente investigação mostrou que os nossos sujeitos, na presença dos estímulos musicais da sessão de musicoterapia utilizavam a comunicação, quer verbal, quer não-verbal para comunicar com o terapeuta. O tipo de comunicação preferencial foi a resposta.

Os

estímulos

também,

musicais

para

que

serviram,

as

crianças

pudessem expressar a sua alegria, satisfação, conforto, e até, prazer durante a sessão. Finalmente,

torna-se

imprescindível

perceber que a musicoterapia não tem poder curativo, mas ajuda a melhorar a qualidade

de

capacidades dificuldades.

vida,

desenvolve

minimizando

as as


179 – Revista Científica

Referências Bibliográficas

AMERICAN

PSYCHIATRIC

ASSOCIATION.

(2002).

DSM-IV-TR:

Manual

de

diagnóstico e estatística das perturbações mentais (4ª Ed). Traduzido por José Nunes de Almeida. Lisboa: Climepsi Editores. BENENZON, R. (1988). Teoria da musicoterapia. Contribuição ao conhecimento do contexto não-verbal. São Paulo: Summus. BLASCO, S. (1999). Compêndio de musicoterapia I (2ª Ed.). Biblioteca de Psicologia. Textos Universitários. Barcelona: Helder. BRUSCIA, K. (1997). Definiendo musicoterapia. Salamanca: Amarú Ediciones. DARNLEY-SMITH, R. & PATEY, H. (2003). Music Therapy. Londres: SAGE Publications. FAUMAN, M. (2002). Guia de estudo para o DSM-IV-TR. Lisboa: Climepsi Editores. OZONOFF, S., ROGERS, S. & HENDEN, L. (2003). Perturbações do espectro do autismo-perspetivas da investigação atual. Lisboa: Climepsi Editores PADILHA, M. (2008). A musicoterapia no tratamento de crianças com Perturbação do Espectro do Autismo. Tese de mestrado integrado em Medicina. Universidade da Beira Interior. Faculdade de Ciências da Saúde. POCINHO, M. (2007). A música na relação mãe-bebé (2ª Ed). Lisboa: Instituto Piaget. RUUD, E. (1990). Caminhos da musicoterapia. São Paulo: Summus. VIEGAS, P. (2007). Construção de um esboço de uma “Grelha/Escala de observação de comportamentos” (adaptada a indivíduos com Perturbações Globais de Desenvolvimento). Master em musicoterapia. Universidade Lusíada de Lisboa.


180 – Revista Científica


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