CALINADAS - O vírus da Língua Portuguesa

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Oficina de Escrita Docente: Professor Doutor João Ferreira Licenciatura em Educação Básica Ano letivo 2020/2021

CALINADAS - o vírus da Língua Portuguesa -

Alunos do 1º. Ano da unidade curricular: Oficina da Escrita

Fafe, junho 2021



CALINADAS: - o vírus da Língua Portuguesa-


Alunos do 1.º ano de Licenciatura em Educação Básica

CALINADAS: - o vírus da Língua Portuguesa-

Oficina de Escrita Docente: Professor Doutor João Ferreira Licenciatura em Educação Básica Ano letivo 2020/2021

Instituto de Estudos Superiores de Fafe Escola Superior de Educação

Fafe – 2021


Alunos do 1º ano de Licenciatura em Educação Básica

CALINADAS: - o vírus da Língua Portuguesa-

Este trabalho foi elaborado no âmbito da disciplina de Oficina da Escrita, pelos alunos do primeiro ano da licenciatura de Educação Básica. Teve por tema as calinadas na língua portuguesa encontradas publicamente, com o objetivo de analisar a origem das palavras e identificar o porquê de se escreverem mal, ou seja, o estudo e discussão de resultados.

Orientador: Professor Doutor João Ferreira

Fafe, junho 2021


Coautores: Ana Beatriz Primo Ana Catarina Sousa Ana Isabel Costa Ana Luísa Sousa Ana Margarida Mendes Ana Rita Martins Ana Sofia Leal Andreia Guimarães Carina Costa Cátia Daniela Teixeira Cátia Sofia Freitas Cátia Sofia Correia Flávia Soares Francisca Oliveira Helena Fernandes Helena Freitas João Paulo Coelho Liliana Sá Lurdes Costa Maria Cristina Leite Marina Costa Mónica Carvalho Rita Oliveira Sofia Teixeira Tânia Leite Tânia Lopes

Coordenador: Professor Doutor João Ferreira


Em grata homenagem

Ao Prof. Doutor João Ferreira pela partilha do seu saber, pela confiança que em nós depositou, pela disponibilidade permanente, tantas vezes em horas que deveriam ser suas, pela releitura, sem reservas, do trabalho que em fases diferenciadas do seu desenvolvimento cada aluno lhe ia enviando, anotando o que ainda deveria ser limado até chegarmos à parte final, pelo nosso entusiasmo sempre crescente, fruto da motivação que sempre nos soube transmitir, porque também assim se sentia, pela indicação de bibliografia aconselhável, por vezes permitindo a consulta de livros da sua própria biblioteca, pela prática e útil tarefa que nos proporcionou, enfim, por tudo o que fez um profundo agradecimento. Valeu a pena!

Às nossas colegas Ana Catarina Sousa e Tânia Isabel Lopes, porque, devendo a fase final ser confiada a um grupo muito reduzido de participantes, sempre que necessário em contacto com todos, prontamente se disponibilizaram, tal como outras, e às duas foi confiada a reorganização de todo o trabalho no respeito pelas normas da APA, sob o parecer e a aprovação do orientador, e ainda porque ao longo do trabalho sempre estiveram em contacto connosco para esclarecimento e ajuda no que lhes apresentávamos, prova de modelo de espírito de equipa a prosseguir, aqui deixamos também o nosso merecido muito obrigado.

As alunas e o aluno do 1.º ano, 2020/2021, de Oficina de Escrita


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Índice Resumo ....................................................................................................................... 11 Abstract ...................................................................................................................... 11 Introdução................................................................................................................... 12 1. Calinadas ................................................................................................................ 14 1.1. À ...................................................................................................................... 14 1.2. Agrícula ........................................................................................................... 16 1.3. Arros ................................................................................................................ 19 1.4. Bacalhão .......................................................................................................... 21 1.5. Caligre ............................................................................................................. 24 1.6. Camaram .......................................................................................................... 27 1.7. Cartulinas ......................................................................................................... 30 1.8. Casácos e Camisólas ........................................................................................ 32 1.9. Cerviço............................................................................................................. 34 1.10. Cevolas .......................................................................................................... 36 1.11. Disponibelidade.............................................................................................. 38 1.12. Egienizado...................................................................................................... 40 1.13. Encustar ......................................................................................................... 42 1.14. Experimentas-te.............................................................................................. 44 1.15. Fasso .............................................................................................................. 46 1.16. Garajem.......................................................................................................... 47 1.17. Guardas-Chuvas ............................................................................................. 50 1.18. Guimaráis e Famalicáo ................................................................................... 52 1.19. Já provas-te? ................................................................................................... 56


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1.20. Muscolos ........................................................................................................ 58 1.21. Orgente .......................................................................................................... 60 1.22. Passasse.......................................................................................................... 62 1.23. Poribido.......................................................................................................... 64 1.24. Puder .............................................................................................................. 66 1.25. Tanjerina ........................................................................................................ 68 1.26. Vendesse ........................................................................................................ 70 2. Considerações finais.............................................................................................. 73 3. Bibliografia/Webgrafia .......................................................................................... 75 Índice de figuras Figura 1 – Menu de um restaurante – calinada À ......................................................... 14 Figura 2 – Erro no noticiário da SIC – calinada Agrícula............................................. 16 Figura 3 – Lista de compras – calinada Arros .............................................................. 19 Figura 4 – Lista de compras – calinada Bacalhão ........................................................ 21 Figura 5 – Mercado de fruta – calinada Caligre ........................................................... 24 Figura 6 – Lista de compras – calinada Camaram ........................................................ 27 Figura 7 – Venda de produto no Chineses Glamour Shopping – calinada Cartulinas.... 30 Figura 8 – Feira – calinada Casácos e Camisólas ......................................................... 32 Figura 9 – Computador avariado – calinada Cerviço ................................................... 34 Figura 10 – Mercado – calinada Cevolas ..................................................................... 36 Figura 11 – Oferta de serviço – calinada Disponibelidade ........................................... 38 Figura 12 – Aviso – calinada Egienizado..................................................................... 40 Figura 13 – Pedido – calinada Encustar ....................................................................... 42


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Figura 14 – Publicidade: Cartaz Olá – calinada Experimentas-te ................................. 44 Figura 15 – Prestação de serviços – calinada Fasso ..................................................... 46 Figura 16 – Placar de hipermercado – calinada Garajem ............................................. 47 Figura 17 – Cartaz numa montra – calinada Guardas-chuvas ....................................... 50 Figura 18 – Placa de orientação – calinada Guimaráis e Famalicáo ............................. 52 Figura 19 – Anúncio publicitário – calinada Já provas-te? ........................................... 56 Figura 20 – Caixa de medicamentos – calinada Muscolos ........................................... 58 Figura 21 – Anúncio numa vitrine de procura/oferta de emprego – calinada Orgente... 60 Figura 22 – Publicidade – calinada Passasse ................................................................ 62 Figura 23 – Cartaz em esplanada – calinada Poribido .................................................. 64 Figura 24 – Protesto – calinada Puder ......................................................................... 66 Figura 25 – Preço da Tangerina na frutaria – calinada Tanjerina.................................. 68 Figura 26 – Cartaz informativo – calinada Vendesse ................................................... 70 Índice de tabelas Tabela 1 - Calibre mínimo dos citrinos ........................................................................ 25 Tabela 2 – Escala de calibres dos citrinos .................................................................... 25 Índice de quadros Quadro 1 - Uso do hífen na afirmativa e negativa ........................................................ 71


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Resumo Pelas muitas calinadas cometidas a nível de ortografia e afixadas em estabelecimentos e espaços públicos, como mercearias, mercados, feiras, restaurantes e cafés, e em documentos e textos de fácil acesso, como revistas, jornais, anúncios, recados ou anotações, verifica-se que a língua portuguesa se encontra, em alguns desses meios, em estado doentio. Através do estudo da origem etimológica e evolução dessas palavras, verifica-se a razão ou razões da sua escrita correta e conclui-se que podem ser várias as causas das calinadas tão despreocupadamente cometidas: falta do hábito de leitura e escrita, com exceção para uma escrita abreviada e rápida nos SMS da internet, poucos anos de escolaridade frequentados, longos anos sem formação e atualização de conhecimentos, escrita que permite, de qualquer forma, uma correspondência com a pronúncia, e falta de consciência linguística.

Palavras-chave Ortografia, Erros Ortográficos, Língua Portuguesa

Abstract For the many big misspellings committed at the level of spelling and posted in establishments and public spaces, such as grocery stores, markets, fairs, restaurants and cafes, and in documents and texts of easy access, such as magazines, newspapers, advertisements, scraps or notes, it turns out that the Portuguese language is, in some of these media, in a sick state. Through the study of the etymological origin and evolution of these words, the reason or reasons for their correct writing are verified and it is concluded that there may be several causes of the spelling errors so carefreely committed: lack of the habit of reading and writing, except for a short and fast writing in the SMS of the Internet, few years of schooling attended, long years without training and updating of knowledge, writing that allows, in any case, a correspondence with pronunciation, and lack of linguistic awareness.

Key words

Spelling, Spelling Errors, Portuguese Language


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Introdução É sempre com agrado que escrevemos sobre um trabalho que, merecedor da nossa atenção, desperta curiosidade e interesse nos mais e até menos aficionados por questões linguísticas. Torna-se interessante como, para além de metodologia pouco comum, mas salutar, este trabalho se debruça sobre um aspeto deveras cativante da Língua Portuguesa – aprender com o erro e pelo erro. Assistimos a uma pesquisa que, perante tantas e tão diferenciadas estratégias de possível aplicação, seguiu aquelas que, pelas suas características peculiares, mantiveram ativos e motivados os que, em situação difícil provocada pela pandemia, partiram, em segurança, à descoberta daquilo que tantas vezes nos passa despercebido. Porque é um estudo verdadeiramente interessante pela particularidade da pesquisa, pelo valor que contém a nível linguístico, e por ser realizado por jovens estudantes do ensino superior, estamos certos de que contribuirá para fazer (re)acender a curiosidade e o interesse de outros jovens e menos jovens na consulta de documentos como “Calinadas – o vírus na Língua Portuguesa”. Acreditamos que são muitos os que, atualmente, procuram conhecer o estado rigorosamente fundamentado em que se encontra o idioma que os identifica, porque também para eles é válida e viva a frase de Fernando Pessoa – a minha Pátria é a Língua Portuguesa. Podemos e apraz-nos afirmar que o caminho aqui trilhado foi o mais apropriado e eficaz para os principais objetivos propostos: ensino e aprendizagem a partir do erro. É louvável o entusiasmo que todos os participantes dedicaram a este projeto no âmbito da unidade curricular abrangente Oficina de Escrita. Com efeito, foi a forma mais natural e motivadora para passarem a reparar no que à nossa frente está errado e publicamente exposto, mas não vemos ou fingimos não ver, para falarem com estes executantes sobre a forma de escrever, para refletirem e indicarem causas do erro, para


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sugerirem propostas conducentes a possíveis e desejáveis correções. Graças ao recurso a estratégias, meios e materiais devidamente visíveis no trabalho que estes alunos pretenderam e conseguiram levar a bom termo, podemos afirmar que deixam um documento que contribuirá, seguramente, para a elaboração de novos e variáveis materiais didáticos que, tal como este, produto de séria investigação, serão muito bem recebidos e úteis em futuras atividades. Estamos certos de que, realizado com intuito meramente construtivo, “Calinadas – o vírus na Língua Portuguesa” é digno de nota e, por isso, merecedor dos nossos parabéns, extensivos às alunas e ao aluno que, nesta equipa do 1.º ano da Licenciatura em Educação Básica – 2020/2021, deram muito do seu tempo para fazerem o trabalho de campo indispensável, refletirem e produzirem o resultado do estudo da atual situação da Língua Portuguesa na sua vertente escrita. Que este trabalho possa despertar nos demais jovens e na população em geral o interesse pela linguística, e que seja, particularmente, fonte de motivação para outras atividades em prol da Língua Portuguesa.

João Ferreira


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1. Calinadas 1.1 À

Figura 1. Menu de um restaurante. Fonte: Tânia Lopes

À em vez Há À em vez de Há, é um dos erros ortográficos mais comuns de se encontrar na língua portuguesa, e os seus falantes, ainda demonstram imensa dificuldade em saber quando aplicar “à” ou “há”. Vejamos: “à” é a contração da preposição “a” com o determinante artigo definido no feminino do singular “a”, ou seja, a + a = à, e que se escreve com o acento grave (Mateus et al, 2006), verificando-se também por vezes o erro na colocação do acento. Tendo o acento grave uma utilização muito restrita, surge apenas em sete palavras, em à, às, àquele, àqueles, àquela; àquelas e àquilo. A utilização de à pode indicar um lugar, na qual a contração antecede sempre uma palavra feminina, por exemplo, “Vou à discoteca.”; pode também introduzir um objeto


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indireto, p.ex. “Eu emprestei um livro à Ana.” (Sardinha, e Oliveira, 2010); ou pode ainda ser usado como locução adverbiaL, p.ex. “A árvore fica à esquerda da casa.”. Uma técnica para saber quando colocar corretamente o “à” é substituí-lo por “a uma” ou “para uma”, e se a frase ficar correta podemos colocar “à”. Vejamos o exemplo seguinte: “Vou à praia.” e “Vou para uma praia.”. nesta substituição a frase fica igualmente correta, pelo que o “à”, está bem aplicado. E se a dúvida persistir, substituir o nome feminino por um masculino, e ver se este “à” passa a “ao”, como no exemplo: “Vou à loja local” passa a “Vou ao comércio local.”. Quanto ao “há”, este é a forma conjugada do verbo haver na 3.ª pessoa do singular do presente do indicativo, e poderá indicar tempo passado, “Há muito tempo atrás.”, ou significando existir, “Há muitas vagas de emprego.”. Deve ser usado quando se apresentar como um verbo impessoal, ou seja, sem sujeito. Sempre na 3ª pessoa do singular, independentemente do nome ou expressão nominal estar no singular ou plural, p. ex.: “Há uma criança a correr no jardim.” e “Há crianças a correr no jardim.”. Uma boa forma para sabermos quando se deve aplicar corretamente o “há”, é dizermos a frase com o verbo haver noutro tempo verbal. “Hoje há aulas.” ficaria “Ontem houve aulas.”, concluindo-se assim, que o “há” está corretamente colocado. O “há” também se utiliza quando falamos em expressões de tempo, como por exemplo, “Ele já não vem há uma semana.” ou “Ela foi ao cinema há dias.”. Em suma, neste menu do restaurante, deveria estar escrito: “Hoje há…” em vez de “Hoje à..”. O erro poderá derivar da pronúncia das duas palavras ser igual e a instrução ter sido insuficiente.


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1.2 Agrícula

Figura 2. Erro no noticiário da SIC. Fonte: Ana Beatriz Primo

Agrícula em vez de Agrícola Nesta imagem, a palavra “agrícola”, referente a uma instituição bancária, “crédito agrícola”, aparece escrita de forma incorreta. Realizando uma pequena análise, verificamos que a palavra “agrícola” é elemento da família de palavras de “agricultura” e caracteriza-se morfologicamente como adjetivo. Esta palavra resultou da associação de duas formas de base, neste caso dois radicais latinos agr- + -cola, separados pela vogal de ligação –i-, resultando, assim: agr-i-cola – agrícola. Ora porque agr- significa “campo” e –cola quer dizer “que cultiva ou habita”, o significado da palavra traduz-se em “que cultiva ou habita o campo”, referindo-se, portanto, à “população agrícola”. Porque é formada por dois radicais em que o elemento da esquerda modifica o valor semântico do elemento da direita, diremos que faz parte das palavras compostas morfológicas subordinadas na gramática da língua portuguesa. Ora, se o radical “agr-“ está presente nos compostos “agricultura” e “agrónomo”, ou em derivados por sufixação como “agrário”, o radical “-cola” aparece em


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“arborícola”, “vinícola” ou “silvícola”, e sempre com “o”, porque o “o” é parte integrante do radical. Em nenhum caso ou contexto esta palavra se escreve ”agrícula”, o que é completamente impossível, pois não existe radical –“-cula”. A que se deverá, então, este erro ortográfico? A utilização de ”u” em vez de ”o” pode ter ocorrido devido à semelhança fonética na execução destas duas vogais em casos como, por exemplo, “água” e “mágoa”. No entanto, existem regras para a utilização do “o” e do “u”. Não é porque pronunciamos “u” que podemos escrever “u” ou “o”. Se assim fosse, escreveríamos arbitrariamente as formas “poder” (infinitivo verbal e nome) e “puder” (futuro do conjuntivo), dizendo que é à nossa escolha, já que o som das vogais “o” e “u” é o mesmo nos dois exemplos referidos. Se fosse à livre vontade do “escritor”, então poderíamos deparar com a (não)frase: “Se eu poder mandar na empresa, terei o puder nas minhas mãos” Não podemos escrever como queremos, embora, infelizmente, estejamos a verificar cada vez mais esta terrível tendência. E não é culpa do Acordo Ortográfico, como muitos tentam justificar. O Acordo de 1990 não manda escrever mal. Não façamos dele o réu das barbaridades cometidas (e a cometer). (Cf. Ferreira, 2011) Embora queiramos acreditar, com algum esforço, que esta calinada poderá ter sido cometida por falta de atenção, pois trata-se de uma pessoa que trabalha na televisão, certamente com estudos, não podemos deixar de pensar, simultaneamente, que o erro poderá ser fruto do desconhecimento da origem e formação da palavra (agr-i-cola) e talvez devido ainda à falta do hábito e da prática de escrita. Consideramos um erro grave, não só porque se relaciona com o nome de uma instituição, mas indesculpável sobretudo por isso.


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Como última nota, impõe-se-nos registar que a escrita está, atualmente, muito limitada ao computador, que, sem nos dizer, corrige os erros que cometemos, ou assinalaos para que nós, seus súbditos incondicionais, mudemos de imediato, a letra errada sem pensarmos na sua causa.


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1.3 Arros

Figura 3. Lista de compras. Fonte: Flávia Soares

Arros em vez de Arroz Apesar de não haver unanimidade entre as fontes, quase todas vão no mesmo sentido, afirmando que a palavra arroz deriva do árabe ar-ruz Etimologia (origem da palavra orizícola = Relativo à cultura do arroz). Do latim oryza, "arroz" + colere.” cultivar”. A troca de letras é um problema frequente que está na origem de inúmeros erros de português e que são cometidos diariamente. As parecenças na sonoridade de algumas palavras podem originar confusões. No caso de arros em vez de arroz, o erro cometido no termo referido está associado ao desconhecimento da diferença pronuncia de duas palavras: a inventada “arros” que seria, grave, e o nome concreto “arroz” (aguda), pronunciada como “carro”, e por isso com a silaba tónica em “rroz”, semelhante a “impôs”.


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Perante o desconhecimento a dúvida e a confusão da escrita entre a escolha de s ou z o sujeito em vez de escrever arroz trocou a ultima letra por s “arros”, sendo para ele indiferente uma forma ou outra forma. Faz isto lembrar o passado medieval Galaico Português (Período em que os escritores tentavam representar foneticamente os sons das palavras que escreviam). (Ferreira, 2014) Mesmo que estejamos perante uma lista de compras a efetuar, é lamentável o cometimento de três calinadas no mesmo documento, o que prova que deve tratar-se de um falante com um nível muito baixo, ou mínimo, de escolaridade. O aumento dos erros ortográficos deve-se a inúmeros motivos entre eles a incorreta aplicação de vocábulos e a falta da prática da escrita, cada vez se dedica menos tempo no “estudo da língua e da sua gramática”, abrindo, assim, um caminho ao erro. Não esqueçamos, que os SMS e a linguagem aí utilizada são também fatores para a propagação do erro. Segundo o Manual Prático de Ortografia de José Pinto: “A terminar em -oz e -uz existem, além de outras palavras, muitas do árabe começadas por -al (algeroz, almofariz) e outras relacionadas, com palavras com c, como por exemplo em capaz – capacíssimo (voz – vociferar – lucidez, etc)” Com -oz temos o exemplo arroz


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1.4 Bacalhão

Figura 4. Lista de compras. Fonte: Flávia Soares

Bacalhão em vez de Bacalhau A palavra portuguesa bacalhau tem origem pouco clara. Teria sido proveniente do baixo alemão e do escandinavo “bakkeljaus”? Ou será que, tal como o gascão “cabilhau” e o francês antigo “cabellau”, também poderá ter resultado da evolução de “cabellauw”, forma alatinada do neerlandês “kabeljauw”, derivado este do neerlandês antigo “bakeljauw”? De acordo com o Dicionário de Língua Portuguesa 2011, da Porto Editora, p.200, Bacalhau tem origem no neerlandês cabbeliau. É do neerlandês, segundo esta fonte, que surge esta palavra portuguesa. Assim, hesitando no termo indicado por este dicionário, decidimos consultar o Google tradutor” que nos informa que em neerlandês “bacalhau” se diz “kabeljauw”. E é a partir daqui que vamos ver toda a evolução de “kabeljauw” para “bacalhau” Assim temos: •

a apócope do w – kabeljauw> kabeljau


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a palatização do lj (li)- kabeljau>kabelhau

a metátese (transposição de fonema ou sílaba dentro da mesma palavra) kabelhau>bakelhau

a assimilação progressiva completa de uma vogal por outra- bakelhau>bakalhau

e naturalmente a substituição do k por c, pois que o k só entrou recentemente no abecedário da Língua Portuguesa.

kabeljauw>kabeliau>kabelhau>bakelhau>bakalhau>bacalhau Ora o que podemos verificar é que, nos termos atrás indicados para “a pouco clara”

a origem da palavra portuguesa bacalhau, em todos eles a última sílaba termina sempre no ditongo oral “au” e nunca em “ao”, pelo que, quando alguém escreve “bacalhao”, comete erro, desviando-se, sem razão, do seu étimo. Por outro lado, as palavras portuguesas terminadas neste som oral fazem-no sempre em “au”, exceto “caos” (do grego “khaós”), “iao” (língua falada pelos povos do grupo étnico Ajauas, nomeadamente no Alto Niassa, em Moçambique) e “lao” (língua oficial do Laos). Destas exceções a que comummente se usa em português é “caos”. Perante um tão vasto número de palavras portuguesas terminadas em “au” (carapau, mau, nau, Nicolau, varapau…), só por ignorância alguém pode escrever “bacalhao”. Acrescentamos que, porque o novo acordo ortográfico é favorável à pronúncia sobre a origem, muitos outros erros deste tipo poderão e irão, certamente, aparecer. Estamos certos de que, infelizmente, muitos dirão que, escrever “bacalhao” em vez de “bacalhau” não é grave, pois pronunciam-se da mesma maneira. E assim anda a língua portuguesa!


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Quando alguém escreve “bacalhão” em vez de “bacalhau” o caso é ainda mais grave que o anterior. Na verdade, verificando-se tudo o que anteriormente dissemos a respeito da escrita errada de “bacalhao” em vez de “bacalhau”, será que, para além disso, ao escrever “bacalhão” fazem-no porque não entendem que se escreve “bacalhau”, mesmo sabendo que (quase) todas as palavras portuguesas terminadas com a+u são ditongos orais (au)? Até poderiam ter razão nesta última parte, se não fossem portugueses e não conhecessem, por isso, a pronúncia correta da palavra. Assim não sendo, verifica-se erro em cima de erro. Perante tal facto, só uma conclusão nos ocorre, e para a qual nem o acordo ortográfico serve de desculpa: houve aprendizagem das letras do alfabeto, mas não houve aprendizagem da função e uso dos sinais acessórios da escrita, chamados “Anotações Léxicas”, tais como o til. Estamos, neste caso e para aplicarmos um eufemismo, em presença de semianalfabetos. Propomos uma forte motivação por parte dos responsáveis, extensiva a todos os que denotam estas e outras dificuldades na escrita da Língua, possibilitando a frequência de ações voluntárias de formação a todos os que delas necessitem.


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1.5 Calibre

Figura 5. Mercado de fruta. Fonte: Tânia Lopes

Caligre em vez de Calibre A palavra calibre tem origem no árabe, “qalib”, significando forma, molde. Atualmente, define-se calibre pelo volume e tamanho de um objeto e, no sentido figurado, significa qualidade, classe, importância. Esta fotografia foi tirada no mercado. “Caligre” deveria ser calibre, indicando o calibre da fruta, neste caso, o calibre da Laranja Nova do Algarve. Segundo a Autoridade de Segurança Alimentar e Económica, os comerciantes de frutas e legumes são obrigados, por lei, a cumprir normas de comercialização e rotulagem. Essas normas obrigam a cumprir determinadas características relativas à qualidade, calibre, apresentação e disposição dos produtos comercializados, de forma a garantir ao consumidor qualidade no que vende. As frutas e os legumes podem ser calibrados por peso, dimensão, cor e textura. Para termos uma noção de como é feita a calibragem quanto à dimensão destes produtos, apresentamos as tabelas abaixo. A tabela 1 apresenta o calibre mínimo que os citrinos


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devem ter. Caso não correspondam às dimensões indicadas, os frutos serão excluídos. A tabela 2 apresenta a escala de calibres dos citrinos.

Tabela 1

Calibre mínimo dos citrinos

Limões Laranjas Satsumas, tangerinas, wilkings, outras mandarinas e seus híbridos… Clementinas e Monreals

45 mm para as categorias “Extra” I e II 53 mm 45 mm 35mm

Tabela 2

Escala de calibres dos citrinos

Passando ao erro ortográfico que encontramos, “caligre”, a troca do “b” por “g” não foi descuido ou distração a escrever. A comerciante destas laranjas escreveu como


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pronuncia a palavra. Para perceber se a senhora tinha noção do erro, perguntámos, subtilmente, o que era o “caligre” da fruta. A senhora respondeu: - O “caligre” é o tamanho da fruta, o tipo de qualidade. Como falou incorretamente a palavra, concluímos que o erro foi cometido porque a senhora entende que ao dizer “caligre” está a falar corretamente. Mais uma vez, verificamos que se erra na grafia porque se pronuncia mal a palavra.


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1.6. Camaram

Figura 6. Lista de compras. Fonte: Flávia Soares

Camaram em vez de Camarão Na imagem encontra-se representada uma calinada na palavra “camarão”. A palavra camarão deriva do grego “Kámmarus”, proveniente do latim “cammāru”, e significa caranguejo do mar, camarão. Esta imagem diz respeito a uma lista de compras, como anteriormente classificámos. Um “camarão (nome masculino) é um pequeno crustáceo decápode, macruro, comestível, muito frequente junto à costa marítima portuguesa, rias e embocaduras dos rios.” (Priberam) Nesta lista de compras, a palavra deveria ter sido escrita com “ão” no final. No entanto, erradamente grafada com “am”, mostra um erro muito frequente na Língua Portuguesa, ocorrendo quando o indivíduo utiliza o modo de falar como referência para a escrita. Embora “-am” e “-ão”, numa leitura isolada, tenham pronúncia muito próxima, não é verdade que inseridos numa palavra se pronunciem de igual forma. Exemplo: cantarão e cantaram. Assim, enquanto “-ão” só aparece em final de palavra – verbo, nome, adjetivo ou advérbio - e é sempre aguda (oxítona) – foguetão, mandrião, farão,


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dirão, dão, senão -, “-am” surge também em final de verbos, mas apenas em palavras graves (paroxítonas) – andam, cantam, fizeram (modo indicativo) ou façam, digam, riam (modo conjuntivo) - e no interior das palavras – expandem, engrandecem, cantor, espantoso. . . Ora porque camarão é um nome e é oxítono só poderá ser grafado –ão Entre as mais frequentes dúvidas na escrita da Língua Portuguesa encontram-se as terminações “-am” e “-ão”. Em virtude da semelhança sonora que há entre as duas formas, ocorre um significativo equívoco quanto à utilização destas terminações. Vejamos separadamente o uso de cada uma: •

Usa-se a terminação “-am” se a palavra: §: For verbo (independente de ser passado ou presente) e for paroxítona Ex.s: Todos falam ao mesmo tempo Todos falaram (disseram, ouviram) ao mesmo tempo

Usa-se a terminação “-ão” se a palavra:

1. a) For monossílabo tónico (verbo ou nome)

Ex.s: Dão (verbo e monossílabo tónico) Cão (nome monossilábico) b) For verbo no futuro, e por isso formas oxítonas, com duas ou mais sílabas, Ex.s: Dirão, sentirão, ouvirão… (verbo e oxítona) c) For substantivo, adjetivo ou advérbio e oxítona Ex.s: corrimão, saguão, sabichão, senão d) For substantivo e paroxítona Ex.s: órgão, órfão, Cristóvão e) Se ao nome terminado em –ão se acrescentar um sufixo Ex.s: irmãozinho, coraçãozinho


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Infelizmente, este tipo de erro é muito frequente devido à confusão entre as terminações atrás referidas, verificando-se que a sua maioria ocorre na população com um reduzido conhecimento na linguagem escrita, que tenta escrever da forma como pronuncia a palavra. Normalmente, acontece com as pessoas mais idosas. Para que estas e outras dúvidas possam diminuir, propomos a abertura de aulas voluntárias em locais variados. Assim, pessoas com vontade de aprender um pouco mais terão acesso à aquisição do elementar da língua que escrevem.


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1.7. Cartulinas

Figura 7. Venda de produto no Chineses Glamour Shopping. Fonte: Diana Lima

Cartulinas em vez de Cartolinas A palavra “cartolinas” corresponde ao plural de cartolina. Cartolina [kɐrtuˈlinɐ] é um substantivo feminino, que deriva do Latim “charta”, do Grego “khartes”, “folha de papel” e do italiano “cartolina”, “cartão”, sendo que representa uma espécie de cartão liso e fino, de cor variada. Apresenta quatro sílabas. Tem sílaba tónica na penúltima sílaba “li”, sendo por isso uma palavra paroxítona (grave) (Escola Virtual, 2021; Origem da Palavra, 2021). A palavra cartolina pertence à família lexical de carta, pois parte de um radical comum (o radical carta) e a sua etimologia mostra que a palavra apresenta a seguinte construção: carta + sufixo -olina (Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, 2021). Prestando atenção à origem latina, à grega, ou à palavra italiana donde ela veio para o português, e ainda ao seu significado – cartão fino – bem como ao sufixo que entra


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na sua formação, nada nos permite escrevê-la com “u”. E se apoiássemos “cartolina” em palavras igualmente relacionadas com “cartão – cartonagem e cartola – continuaríamos a verificar que o “o” está sempre presente na sua grafia, mesmo que a sua pronúncia seja [u] ou [ɔ]. O erro ortográfico encontrado nesta superfície comercial -“cartulinas”- é a troca da vogal “o” pela “u”. Desta forma, é efetuada uma troca fonema-grafema, uma vez que ao reconhecer o som, a pessoa não fez corretamente a associação à letra. Por ser uma superfície comercial explorada por pessoas que têm o Português como Língua Não Materna, esta capacidade para identificar os fonemas nas palavras ditas ou ouvidas e fazer a sua conversão em grafemas está altamente dependente da aprendizagem formal da leitura (Morais, 1997), ou seja, a seleção de unidades codificadas para a escrita (nem sempre de correspondência unívoca, uma vez que ao mesmo grafema podem corresponder vários fonemas e ao mesmo fonema mais do que um grafema) é diversa da efetuada para a articulação verbal e pressupõe o domínio de operações mentais de inclusão de classe (vogais, consoantes...), de classificação múltipla, de seriação, de ordenação e de conservação, necessárias para a aprendizagem das características do código gráfico (Baptista, Viana, & Barbeiro, 2011), que se encontra comprometida neste caso. Embora se verifique e, nestas circunstâncias, se aceite o erro, parece-nos necessário que os responsáveis deem apoio linguístico aos imigrantes, para que a nossa língua preserve a sua unidade na sua variedade numa escrita que se quer correta.


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1.8. Casácos e Camisólas

Figura 8. Feira. Fonte: Cátia Teixeira

Casácos e Camisólas em vez de Casacos e Camisolas Nesta imagem retirada de um contexto de feira, as palavras “camisolas” e “casacos” aparecem acentuadas de forma incorreta: “camisólas” e “casácos”. Quanto à acentuação classificam-se como palavras graves, situando-se a sílaba tónica na penúltima sílaba. De acordo com as regras de acentuação da Língua Portuguesa (Alves, 2016), a maior parte das palavras são graves (como no galego), e quando terminam em “a”, “e” ou “o” (seguidas ou não de “s”) não são graficamente acentuadas, como é o caso de “camisolas” e “casacos” Obtida a imagem no espaço atrás referido, os erros cometidos explicam, à partida, o desconhecimento das regras de acentuação pelo seu autor. Com efeito, os erros na


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ortografia são muito comuns, principalmente por pessoas menos instruídas, como acontece, por norma e sem desprestígio, com alguns feirantes. Muitas vezes ocorre o erro porque não existe uma correspondência direta entre todos os grafemas e fonemas da língua portuguesa, ou seja, entre todas as letras e os sons que podem representar. Na verdade, o som pode ser representado por várias letras e uma letra pode representar diferentes sons, como vemos, por exemplo, na palavra “cadeado”, que se escreve com “e”, mas pronuncia-se como se fosse um “i”; também o caso das palavras “passagem” e “pajem”, escritas respetivamente com “g” e “j”, mas lidas com o som “j” nos dois casos. Se estes exemplos provam que diferentes letras podem representar o mesmo som, vemos a mesma letra com pronúncia diferente nas seguintes expressões: “Não avances! Para aí! – e -- “Eu vou para casa” Quanto à formação da palavra camisolas, temos camisa + ola). Camisola é um substantivo feminino que significa antiga blusa masculina, de mangas compridas, muito em voga nos séculos XVI e XVII, que era usada como roupa de dormir pelas mulheres. Quanto à etimologia da palavra casaco, esta teve origem na palavra “casaca”, que veio da expressão italiana “veste cossaca”, “roupa cossaca”. E “cossaco” vem do Russo kozak, do Turco qaz, “andar sem destino”, que era coisa que eles aparentemente gostavam de fazer. Porque estes tipos de erros demonstram falta de conhecimento da escrita da língua, mas também, simultaneamente, uma tentativa de escrever bem, seria de propor ações de formação em zonas mais interiores do país onde o acesso à cultura é, em muitos casos, diminuto.


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1.9. Cerviço

Figura 9. Computador avariado. Fonte: Ana Leal

Cerviço em vez de Serviço

Serviço é um substantivo masculino singular. A palavra deriva do latim servitium, que significa servidão, escravidão e que, por sua vez, deriva da palavra “servus” possivelmente de origem etrusca. A palavra “serviço” gerou também o substantivo “servo”, o adjetivo “servil” e o verbo “servir”. Nos seus diferentes significados encontramos ainda: Ato de servir, de atender os clientes; Condição ou trabalho de um serviçal; Suprimento público regular de algo, como por exemplo de transportes; Celebração de atos religiosos, tais como o serviço dominical; Linguagem técnica em certos jogos, que se refere ao batimento na bola que inicia ou reinicia o jogo; Departamento governamental ou de trabalhos públicos, tal como o Serviço Nacional de Saúde; Conjunto de pratos, talheres, ou outro tipo de loiça usada nas refeições; Trabalho de curta duração; Exercício e desempenho de determinada atividade.

Apresenta como sinónimos as palavras: afazeres, atendimento, alfaia, argentaria, baixela, benefício, cargo, copa, disponibilidade, disposição, emprego, encargo, favor,


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feitura, função, missão, obséquio, obra, ocupação, ofício, passadiço, passagem, préstimo, profissão, serventia, tarefa, trabalho, uso, utilidade. E antónimos: Inutilidade, insersível, ineficácia.

A possível causa do erro ortográfico pode ser a confusão entre palavras que se iniciam com a letra “s” e a letra “c”, pois estas possuem uma fonética muitas vezes semelhante e, por isso, são facilmente confundidas. Por vezes, a causa deste tipo de erros ortográficos pode ser devida a transtornos que afetam habilidades básicas de leitura e linguagem, como a dislexia.

Para que venha a desaparecer este erro é necessário: Fomentar o hábito de leitura, para reter a palavra visual da palavra escrita; Criar estratégias que permitam associar uma determinada forma escrita à forma oral correspondente, usando para isso certas formas artísticas como o desenho e o canto; Estimular o ver e escutar atentamente, de modo a que se preste atenção aos movimentos da mão quando se escreve e aos movimentos da boca quando fala.


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1.10. Cevolas

Figura 10. Mercado. Fonte: Cátia Correia

Cevolas em vez de Cebolas

Cebolas designa-se como planta herbácea, hortícola, da família das liliáceas, de folhas longas e cilíndricas e flores brancas em umbelas (tipo de inflorescência ou de infrutescência em que os pedúnculos nascem todos à mesma altura), que produz um bolbo carnudo, comestível, de cheiro forte e picante. É proveniente do latim “caepula”, e é um substantivo feminino que se encontra no plural. Esta palavra sofreu algumas transformações desde a sua origem latina até à palavra portuguesa, assim: caepula ►cepula ►cebola •

O “ae” latim corresponde ao “e” português;

O “p” passa a “b” por sonorização;

O “u” passa a “o” por assimilação regressiva incompleta do “a” final sobre o “u”. O Galego é uma língua “irmã” do português, têm um passado comum. A Língua

Portuguesa encontra a sua origem nos dialetos de origem latina, que se desenvolveram a norte do rio douro território que no período romano constituía a província da Galécia com


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capital em Braga. A Galécia abrangia as regiões portuguesas, Minho, Douro e Trás-osMontes, assim como a atual Galiza e Astúrias no norte de Espanha. A região norte de Portugal serve-se da forte influência dessa altura pois os Galegos não fazem distinção da pronúncia dos V´s e dos B´s. Exemplo: Escreve-se Vaca, mas lêse Baca. É muito usual nos falantes da Galiza e do Norte de Portugal, pois tivemos uma fase (período) do galego-português. É muito comum, na zona norte de Portugal, a confusão dos B’s com os V’s pois apresentam uma fonia semelhante. Este erro é normalmente dado pelas pessoas mais idosas ou com pouco nível de escolaridade. Atualmente alguns habitantes do Norte, na tentativa de falar bem, escrevem e falam mal. É bem possível que se assim escrevem, também assim tentem, geralmente, falar, pensando que se apresentam como bons falantes. Esta pronúncia foi também alvo de algum escarnio por parte da população de outras regiões do país, que diziam ser “parolo” trocar os V´s pelos B´s. Desta forma também podemos dizer que esta calinada pode ocorrer da necessidade de quem a escreveu tentar ser bom falante descorando assim o correto que é escrever cebolas, na tentativa de parecer bem para os outros e escrever mal. Lindley Cintra citado por João R. Ferreira no livro “Do dialeto interamnense aos traços fonéticos especiais do falar de Fafe-isoglossas e variações diatópicas” diz: “porque não existem dialetos melhores ou piores do que o outro é tão legítimo dizer-se binte à moda do Norte como vinte à moda do centro/Sul.” Se repararmos na natural evolução do ético latino até à palavra portuguesa, nada nos permite ver um “V” onde só o “B” (por sonorização ou abrandamento) pode existir.


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1.11. Disponibelidade

Figura 11. Oferta de serviço. Fonte: Helena Fernandes

Disponibelidade em vez de Disponibilidade A palavra disponibilidade deriva do latim “disponibĭle” - disponível+i+dade. Segundo o dicionário Língua Portuguesa a etimologia a palavra disponibilidade é um nome feminino e significa qualidade do que está disponível, qualidade de quem está aberto a novas influências, contactos ou ideias, podendo ser utilizado numa situação de economia como, por exemplo, na indicação dos bens de que se pode dispor. O erro ortográfico afixado no hipermercado “disponibelidade” está no uso errado da vogal “e” invés de “i”. Deve-se á sua semelhança na pronúncia, embora não haja correspondência entre fonema e grafema. Segundo Sousa (1999), podemos classificar este erro da Classe II. “Palavras foneticamente corretas, mas graficamente incorretas. Estes erros são resultantes da não correspondência unívoca entre fonema e grafema”


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Sendo muito variadas as condições etimológicas e histórico-fonéticas em que se fixam graficamente “e” e “i”, é evidente que só a consulta dos prontuários ou dicionários pode indicar, muitas vezes, se deve empregar-se “e” ou “i”. Segundo Sardinha há, todavia, alguns casos em que o uso dessas vogais pode ser facilmente sistematizado. Escrevem-se com “e”, e não com “i”, antes da sílaba tónica os substantivos e adjetivos que procedem de substantivos terminados em “-eio” e “-eia”, ou com eles estão em relação direta, por exemplo areosa- areia, cadeado-cadeia e arela por areeiro. Reparando no étimo latino “disponibile” verifica se a presença do “i” em “bi” que deve ser respeitado na língua portuguesa. este erro e igualmente comum em “previlégio”, que aparece escrito em vez do correto “privilégio”. Parece nos conveniente que a frequência de ações curtas de formação tornar-se-ia muito útil para aquisição de uma escrita correta.


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1.12. Egienizado

Figura 12. Aviso. Fonte: Flávia Soares

Egienizado em vez de Higienizado A palavra representada na imagem “higienizado” tem origem na palavra grego hygieiné, que significa “saúde”. A base adjetival juntou-se ao sufixo verbal -izar, originando a palavra “higienizar” O erro ortográfico representado na imagem encontra-se associado à falta da utilização da letra “h”, ou seja, a omissão de uma consoante. Isto encontra-se relacionado ao facto da letra “h” não representar nenhum fonema sonoro. Para além disso, o indivíduo devido à proximidade na pronúncia existente entre a vogal “i” e a vogal “e”, ficou confuso e, consequentemente, trocou o “i” da palavra “higienizado” pelo “e”, escrevendo a calinada “egienizado”. O erro ortográfico foi cometido pela gerência da empresa, o que torna esta calinada ainda mais grave, pois trata-se de uma entidade com formação. Tendo sido cometido, certamente, por alguém que desconhece a verdadeira origem e da sua evolução da formação da palavra em questão na língua portuguesa. Se conhecessem a origem da palavra, nem o “h” teria desaparecido, nem o “i” teria sido substituído pela letra “e”.


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Atualmente, a falta de cultura linguística tem vindo a aumentar devido a inúmeras razões, nomeadamente o uso de telemóveis ou computadores por parte dos adolescentes e adultos, na qual os erros ortográficos cometidos são automaticamente corrigidos pelo corretor sem que deles se deem conta. Se a escrita manual voltasse, e se tornasse um hábito para toda a população em alguns casos substituíssem as tecnologias, havia uma maior consciência na forma de como produzimos as frases, e, consequentemente, uma diminuição dos erros ortográficos.


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1.13. Encustar

Figura 13. Pedido. Fonte: Ana Leal

Encustar em vez de Encostar Nesta imagem, a palavra “encostar” aparece escrita de forma errada “encustar”. Esta palavra é um verbo transitivo direto e indireto, e pronominal, formada por dois afixos en- e -ar e o radical -costa-, e da junção dos elementos resulta a palavra encostar. O radical –costa- vem do latim – costa – e assim é em aragonês, asturiano, catalão, corso, espanhol, galego, italiano e português, e dele deriva “encosta”, “encostar” ou “costado”. A utilização de “u” quando deveria ser “o”, tal como se verifica na escrita e oralidade de todos estes falares, pode ter acontecido devido à semelhança da realização fonética na execução das duas vogais na língua portuguesa, como acontece, por exemplo, nas palavras “cozer” e “água” ou “mágoa” e “tábua”. Mas existem regras que têm de ser respeitadas, pois não é por pronunciarmos /u/ que devemos escrever “u”. As palavras que têm o “o” na sua forma de base têm de o manter nas diferentes palavras, como, por


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exemplo, porta/porteiro, acontecendo, da mesma forma, a permanência do “u” na grafia das palavras que o apresentam na sua base, como podemos ver em chuva/chuviscar. Os verbos terminados em -oar distinguem-se praticamente dos verbos terminados em -uar pela sua conjugação nas formas rizotónicas (Cunha, & Cintra, 2005, p. 384), ou seja, que têm “o” na sílaba tónica, situada no radical, como, por exemplo: de abençoar abençoo, abençoas, etc.; de destoar - destoo, destoas, etc.; mas de acentuar, com u, acentuo, acentuas. Nunca se deve trocar “o” por “u” em palavras escritas com “o” mas que na pronúncia parecem ser escritas com “u”. Por isso, e porque esta dúvida e consequente erro são muito frequentes, devemos, sempre que possível, tentar a frequência de ações complementares de formação, para que essas e outras dúvidas sejam dissipadas e, assim, possamos escrever com maior certeza a língua que falamos.


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1.14. Experimentas-te

Figura 14. Anúncio publicitário. Fonte: Diana Catarina Lima

Experimentas-te em vez de Experimentaste '«Já "experimentas-te" os chocolates Olá?» é uma frase (não frase) que se pode ler num cartaz da Olá* produzido especialmente por aquela marca para o Dia Mundial da Criança de 2014. Experimentas-te (presente do indicativo de experimentar) aparece em vez de experimentaste (pretérito perfeito do indicativo de «experimentar»). Trata-se de uma confusão (!!!), infelizmente comum, entre certas formas verbais e as formas pronominais reflexas de diversos verbos, como, por exemplo, acontece com: conhecesse/conhece-se, encontrasse/encontra-se, entre muitos outros. Este erro recorrente deve-se em grande parte ao desconhecimento da gramática, que dita as regras da língua pelas quais devemos regular o ato de falar e escrever. Tendencialmente, cedemos ao erro, achando que está certo porque o vimos escrito vezes e vezes sem conta… e assim prolifera, apoderando-se inadvertidamente de uma língua que, aos poucos, vai ficando “enferma” pelas “asneiras/calinadas” que se cometem. E assim ganha força o ditado popular: “primeiro estranha-se, mas depois entrenha-se.”


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Em caso de dúvida no ato de escrita, é quase infalível reformular a frase na negativa, forçando a colocação do pronome antes do verbo, como vamos fazer com a (não) frase deste anúncio: «Já experimentas-te os chocolates Olá?»/«Não te experimentas os chocolates Olá?» e «Já experimentaste os chocolates Olá?»/«Ainda não experimentaste os chocolates Olá?».' Confundir um presente pronominal reflexo com um pretérito perfeito e não conseguir ver a agramaticalidade do que se escreve é, na verdade, lamentável, exigindo urgente ação conducente à aprendizagem da língua. Estes erros são recorrentes em pessoas de baixa escolaridade e jovens estudantes, sobretudo por falta de consciência fonológica e do desconhecimento das regras de ortografia que ajudam em muito a redução dos erros e mostram as diferentes formas de escrever os mesmos sons. Os erros são bons porque aprendemos com eles. Mau é continuar a escrevê-los. Assim, é necessário encontrar estratégias para acabar com eles. A primeira dica, e talvez a mais óbvia, é ler e escrever muito. A leitura permite ter um contacto com a ortografia correta das palavras e indiretamente memorizá-las. A fase seguinte é escrever e usar no contexto as palavras aprendidas. Depois de escrever, é necessário rever e analisar os eventuais erros para percebê-los e eliminá-los. Todo este processo deve ser feito regularmente para se tornar automático e melhorar a produção escrita.


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1.15. Fasso

Figura 15. Prestação de serviços. Fonte: Ana Leal

Fasso em vez de Faço A forma correta de escrita da palavra é “faço”, com “ç” e não fasso com “ss” . Este verbo tem origem na palavra latina facere e pode significar o ato de criar, fazer, realizar, produzir, entre outros. O verbo fazer é um verbo irregular, isto é, não se encaixa nos modelos fixos da conjunção verbal, possuindo assim alterações no seu radical - faç e faz. Assim a palavra “faço” é conjugada com o radical irregular “faç”. Este radical aparece nas formas verbais do presente do conjuntivo e do imperativo. Em nenhum tempo verbal este verbo apresenta radical “s” ou “ss”. O “ç” tem um som de [s] antes de vogais, e por isso, é muitas vezes confundido com o [s] ou [ss]. Estas parecenças de sons fazem com que pessoas menos preparadas linguisticamente escrevam de forma errada, pensando que estão a escrever corretamente, pois escrevem de acordo com o que dizem verbalmente. Para que este tipo de erros possam ser evitados as pessoas com baixo nível linguístico devem participar em ações de formação linguística.


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1.16. Garajem

Figura 16. Placar de hipermercado. Fonte: Helena Fernandes

Garajem em vez de Garagem Garagem é um aportuguesamento do termo oriundo do francês garage. Note-se que em francês o termo garage é do género masculino – le garage, enquanto no português o empréstimo é feminino (a garagem). (Rodrigo Sá Nogueira) Os substantivos comuns terminados em -agem são realmente quase todos do género feminino em português. São exceções o arabismo almargem, «prado», que pode ser usado nos dois géneros, e certos compostos como porta-bagagem. Também são usados nos dois géneros os adjetivos selvagem e abencerragem (variante de abencerrage, «relativo à linhagem moura dos abencerrages, que dominou Granada, em Espanha). Na diacronia deste sufixo convergem duas terminações diferentes: a) a do francês -age, evolução do latim -atĭcu-, que ocorria em palavras do género masculino: passaticu- > passage (francês, masculino) > pasaje (espanhol, masculino), mas passagem (português, feminino);


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b) -agĭne (imagine- > imagem), que é do género feminino em várias línguas românicas (francês image, espanhol imagen). Em francês e espanhol manteve-se o género masculino nas palavras cujas terminações remontavam a -atĭcu-; em português, pelo contrário, a terminação -agem (<age), de origem francesa, confundiu-se com -agem (< -agĭne), generalizando-se o género feminino. É um fenómeno bastante antigo, porque, considerando que a separação entre português e galego se terá verificado no século XV, a generalização do feminino está documentada nesses ramos contemporâneos do antigo sistema galaico-português. As palavras que têm “g” com valor de “j” são de origem latina ou de línguas modernas que usam a letra “g” valendo como “j”. A ortografia da língua portuguesa não é apenas fonética. Respeita também a etimologia e a tradição. As palavras que se vão formando dentro da língua portuguesa sem influência da língua latina ou da língua grega clássica ou das línguas modernas preferem “z” e “j” às formas com “s” e “g”, que surgem sobretudo por razões históricas e etimológicas. A palavra garagem é um substantivo e diz respeito a um lugar próprio para se estacionar e guardar veículos. Para representar o fonema “j” na forma escrita, a grafia considerada correta é aquela que ocorre da origem da palavra. Sendo assim, atentemos nas seguintes regras sobre a utilização do “g” ou “j”, (Lúcia Vaz Pedro 2014) Emprega-se o G: Escrevem-se com "g" as palavras com os sufixos -agem, -ugem e os seus derivados, assim como as formas verbais em -ger e -gir: estalagem; (mas estalajadeiro);


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viagem (mas viajar); viageiro (mas viajante); rabugem; rabugento; penugem; penugento; proteger; convergir. Também se escrevem com "g" as palavras: ágil, alfageme, alforge, algeroz, algibeira, angina, auge, beringela, bugiganga, geringonça, tangerina, tigela; vigília. Também as palavras derivadas de outras se escrevem com “g” (gesso – engessar; massagem – massagista). Emprega-se o J: Antes do ditongo "ei", o “j” em cerejeira; jeira; viajei; queijeiro; beijo. No entanto, deve escrever-se estrangeiro, ligeiro, passageiro, portageiro. O "j" mantém-se em todas as formas dos verbos terminados em -jar: trajar (trajo, trajes, traje, trajamos, trajais, trajam); viajar (viajaste, viajou), arejar (arejo, arejais, arejam); bocejar (bocejo, bocejamos, bocejam). Além disso, escrevem-se com "j" as palavras ginjinha, gorjeta, igrejinha, jiboia pajem, rejeição, rijeza, sabujice, ultraje. Este erro sucede com alguma regularidade e será de uma pessoa que troca as consoantes, neste caso a consoante “g” por “j”, facto que poderá dever-se a uma influência da oralidade na escrita. Uma das dificuldades com a qual determinadas pessoas se confrontam é a difícil desvinculação entre a oralidade e a grafia das palavras. O contexto económico-social em que a pessoa se insere, também é relevante para o desenvolvimento da língua portuguesa, oral e escrita, se desde tenra idade contactar diretamente com livros e tiver hábitos de leitura. A melhor forma de adquirir ou melhorar as competências da escrita será a de praticá-la nas suas diferentes modalidades.


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1.17. Guardas-chuvas

Figura 17. Cartaz numa montra. Fonte: Lurdes Costa

Guardas-chuvas em vez de Guarda-chuvas “Guarda-chuva” é uma palavra composta morfossintática de reanálise, porque existe associação de um verbo a um nome. E tal como dita a regra geral, neste processo de formação de palavras, o verbo está na 3ª pessoa do singular do presente do indicativo. “Guarda” é uma forma do verbo “guardar”, palavra que provém do germânico wardôn, que significa olhar, guardar, proteger de, pelo latim tardio guardāre. (Porto Editora. n.d.; Dicionário infopédia da Língua Portuguesa) A principal regra de formação do plural é pelo acréscimo da consoante “-s” à palavra. Por exemplo a palavra “chapéu”, no plural fica “chapéus”, acrescentando-se apenas o “-s”. No caso dos substantivos compostos, existem diversas regras para a formação do plural (Em Português Correto, 2007). Quando a palavra é formada por dois nomes ou nome mais adjetivo, ocorre flexão dos dois elementos, como é o caso de “guarda-florestal” (nome + adjetivo), cujo plural é “guardas-florestais”. Quando estamos perante uma palavra cujo segundo elemento é um nome com função de determinante, dáse a flexão apenas do primeiro elemento que forma a palavra. Podemos verificar isso na palavra “navio-escola”, com o plural “navios-escola”. Em casos onde a primeira palavra


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é um verbo e a segundo um nome, como na palavra aqui em análise, a flexão é apenas no segundo elemento que forma a palavra. Então, o plural de “guarda-chuva” é “guardachuvas”, tal como “beija-flor” / “beija-flores”. A falta de conhecimento da língua e de hábitos de leitura, fatores que demonstram pouca cultura linguística, originam erros como estes que, para algumas pessoas mais desatentas, até passam despercebidos. Sendo de fácil correção, somos de opinião que uns encontros linguísticos, intitulados, por exemplo, “Café Linguístico” poderiam colmatar este e outros erros semelhantes que tão frequentemente são cometidos.


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1.18. Guimaráis e Famalicáo

Figura 18. Placa de orientação. Fonte: Ana Beatriz Primo

Guimaráis em vez de Guimarães e Famalicáo em vez de Famalicão A imagem acima apresentada mostra uma placa de orientação com as seguintes cidades “Guimarães”, “Braga” e “Famalicão”. Ao analisar a palavra Guimarães, verifica-se que é um topónimo e a sua origem é germânica Vimara ou Guimara. A palavra vem de wigmar “cavalo (marah) de combate (wig)”. No passado, Guimarães era uma villa chamada Vimaranis, palavra que se julga derivada do nome de um dos donos da terra. As pessoas que vivem em Guimarães chamam-se vimaranenses, como se nota a partir do então nome da terra - Vimaranis. Guimarães é também o sobrenome de muitos portugueses. Como aparece o ditongo nasal -ães? Vimaranis > vimarãis> vimarães Tivemos a nasalação do do –a- pelo -n- intervocálico e, depois, a assimilação regressiva incompleta do “i” pelo “a”. Porque na Língua Portuguesa não existem ditongos nasais finais “ãis”, só poderia aparecer, por assimilação incompleta como dissemos, o ditongo nasal “ães”


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Na imagem, a palavra Guimarães está escrita com acento agudo (´) em vez do til (~) na letra “a”. Isto quer dizer que a pessoa errou na escrita do ditongo nasal decrescente (ãe). Provavelmente, este erro ter-se-á devido à igual pronúncia do som da vogal “e” com “i” em várias palavras da língua portuguesa como Espanha e Ismael, e no caso de Guimaráis e Guimarães talvez porque, quando falamos, devido à semelhança dos sons, muitas vezes nem todos conseguem distinguir a utilização de um ou de outro ditongo, como acontece em postais e mães. Apesar de tudo o que dissemos, nada justifica a escrita errada desta palavra, porque os portugueses, em oposição a franceses e até espanhóis que têm muita dificuldade na pronúncia do som/ditongo nasal, usam diariamente na oralidade e na escrita ditongos orais e ditongos nasais sem qualquer dificuldade. Pelo que se vê, só uma pessoa estrangeira ou portuguesa com muito deficiente alfabetização poderiam cometer este erro, inaceitável em qualquer situação. Deveras inaceitável porque faz parte de uma placa toponímica que poderá levar muitos transeuntes a duvidar da sua escrita correta, podendo mesmo passar a escrever como tantas vezes veem. A palavra Famalicão, segundo os alunos da escola básica e secundária Camilo Castelo Branco, é de origem desconhecida. No entanto, a população acredita que o nome advém de um pseudo-personagem histórico chamado “Famelião” que terá aberto uma taberna com o nome “Venda Nova de Famelião". Em 1527, surge a referência a "Vila Nova de Famyliquam". Em 1835, a Rainha D. Maria II colocou o nome de Vila, pela luta e vontade do seu povo, na revolução liberal. Porque em Português o ditongo nasal “am” em final de palavras só existe em terminações verbais de 3ª pessoa do plural do indicativo e conjuntivo - falam, faziam,


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fariam, fizeram, vejam, riam, ponham -, Famalicão teria de seguir a regra de escrita para os nomes e adjetivos —feijão, cão, bonitão, charlatão. Na imagem, a palavra Famalicão está escrita com acento agudo (´) em vez do til (~) na letra” a”, tal como aconteceu com “Guimaráis” A pessoa que a escreveu, errou o seu ditongo nasal decrescente (ão). Analisando bem, podemos ver que a pessoa que escreveu estas duas palavras não pode ter grau de escolaridade muito elevado, pois não consegue de todo escrever os ditongos nasais, escrevendo talvez apenas como fala e pronuncia. Se esta pessoa tivesse, por exemplo, de escrever a palavra cartão, provavelmente escrevê-la-ia assim: cartáo. O autor que fez esta placa poderá ter feito confusão, visto que muitos destes erros são baseados na parafonia e na homofonia, isto é, as pessoas por vezes têm alterações na voz ao dizer estas palavras, fazendo com que se confundam com a sua pronúncia e com a semelhança dos sons emitidos. Estes erros podem ter sido cometidos pelo descuido ou irresponsabilidade, tanto da pessoa que o fez, como da pessoa que a colocou naquele lugar e até da pessoa-chefe dos serviços. Estas calinadas são vergonhosas, pelo facto de levarem ao engano transeuntes com poucos conhecimentos da língua. Uma pessoa que passe diária ou frequentemente por esta placa pode, mais tarde, e devido à sua memória visual, começar a escrever estes erros, convencida de que está a escrever bem. Uma última hipótese, já referida na primeira parte a respeito do erro” Guimaráis”: terá a placa sido encomendada a uma empresa estrangeira, da França ou outra? E, se assim foi, não houve nenhum responsável português para verificar o trabalho executado? E, em todo o tempo em que a placa está colocada, ainda não houve ocasião para as indispensáveis correções? Porque está incorretamente escrita, assim deverá


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continuar como marco histórico de uma língua pura e inocente, que, por culpa de alguém, se apresenta doente?


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1.19. Já provas-te?

Figura 19. Anúncio publicitário. Fonte: João Paulo Coelho

Já provas-te? em vez de Já provaste? O verbo provar deriva do latim probo, -are, e pode ter vários significados como julgar, apreciar, estimar, aprovar, demonstrar e fazer reconhecer. É um verbo transitivo com o sentido de: 1. estabelecer a verdade de; 2. indicar, dar provas de; 3. submeter a prova; 4. padecer; 5. comer ou beber em pequena quantidade; 6. experimentar (uma peça de vestuário) antes de o alfaiate a concluir, para que este lhe corrija os defeitos. Na imagem podemos observar que o verbo “provar” está mal conjugado, pois na mesma o “Já provas-te?” refere-se a provar-se a si mesmo quando devia estar escrito “Já provaste?”. As duas formas - provaste e provas-te - existem na Língua Portuguesa, ou seja, ambas as expressões estão corretas e são formas verbais do verbo “provar”, mas utilizadas em diferentes situações. Provaste é a segunda pessoa do singular do pretérito perfeito do modo indicativo do verbo - tu [ provaste ]. A forma provas-te é uma conjugação pronominal (acompanhado do pronome oblíquo “te”) do verbo – neste caso, no presente do indicativo. O pronome é usado para


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indicar ações relativas ao sujeito que as pratica (tu). É uma flexão raramente usada, tratando-se de uma referência de «ti para tu», como por exemplo, “provas-te bastante valente em batalha”. Mais comum é a flexão prova-se (referente a ele, ela, você), como em “A arte prova-se por si, brilha com seu próprio esplendor”. Este erro é dos mais comuns em Portugal. Palavras que devíamos ter aprendido a escrever corretamente durante a escola primária transformam-se em quebra-cabeças para muitos portugueses. Isto porque, quando não sabem escrever a forma verbal correta, tanto faz pô-la com ou sem hífen, pensando que se lê da mesma maneira. No entanto, isso não é verdade, pois ter hífen ou não ter faz toda a diferença na leitura da própria palavra. De facto, este erro resulta do fraco conhecimento que as pessoas têm acerca da conjugação dos verbos e da gramática. Um truque infalível que resulta sempre é colocar a frase na negativa, isto é, acrescentar um “não” antes do verbo. Caso faça sentido o se/te aparecer antes do verbo em vez de depois, então é separado, usando-se, por isso, hífen. Se não dá para separar a palavra, é porque é tudo junto. Exemplo: "Hoje fala-se pouco sobre língua portuguesa" // "Hoje não se fala muito sobre a Língua Portuguesa". Neste caso, faz sentido colocar o “se” antes do verbo, então, podemos afirmar que o “se” é separado. Porque é separado, tal como verificámos, não se pode dizer "Hoje falasse pouco sobre a Língua Portuguesa", pois tudo junto é passado!


58 Calinadas - o vírus na Língua Portuguesa

1.20. Muscolos

Figura 20: Caixa de medicamentos. Fonte: Tânia Lopes

Muscolos em vez de Músculos A palavra músculo, do plural músculos, tem a seguinte separação silábica: múscu- lo. A palavra é então composta por sete letras, duas vogais – o e u – e quatro consoantes – c, l, m, s. A nível gramatical, a palavra é um nome comum, concreto, masculino e contável. No seu significado, distinguimos a anotomia (é um órgão formado de fibras excitáveis e contáveis, que asseguram os movimentos) e o sentido figurado (relacionado com o sistema muscular do corpo e a musculatura “nada de inteligência, só musculo”). A palavra músculos deriva do latim musculus, um diminutivo de mus que quer dizer rato. Esta associação foi feita pelos antigos romanos. Ao observarem o movimento dos músculos, dos braços e das pernas especificamente, consideraram esse movimento semelhante ao caminhar de um rato movendo-se de um lado para o outro, originando assim a palavra musculus. A pessoa que escreveu esta calinada apenas tem o quarto ano de escolaridade básica e não gostava de ir à escola. Por esta razão, este erro mostra a reduzidíssima prática


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da escrita e de leitura. Ao ter deixado a escola cedo, o uso da escrita ficou quase nulo e apenas recorrente para fazer assinaturas ou escrever recados. A palavra “muscolos” está incorretamente escrita com “o” no interior da palavra. Segundo as regras, nos termos latinos terminados em -ulus, como é o caso de musculus, o “u” passa a “o”, mas só passa o “u” que está no final da palavra, ou seja, na passagem para o português mantém-se o “u” tónico, acentuado por ser uma palavra esdrúxula, e o “u” antes do “l” (-ulus), ficando músculo (Pinto, 1987 e Porto Editora, 2010). Acreditamos que este erro tenha sido cometido pelo facto de existirem algumas palavras da Língua Portuguesa que se leem com o som da letra “u”, escrevendo-se, no entanto, com “o”, como, por exemplo, a palavra “tomada”, escrita com “o” e pronunciada com o som de “u”. Por último, a falta do acento no primeiro “u” também leva à falta da escrita e consequentemente, a uma leitura errada. Com efeito, sem o acento sobre o “u” deixaria de ser esdrúxula (proparoxítona), passando a ser palavra grave (paroxítona). A silabada tónica já não seria “mus”, mas a sílaba “-co-”, erradamente escrita, e que obrigaria a uma leitura semelhante à da palavra “tijolo”. Ora, muscolo nem sequer existe na Língua Portuguesa! Conclui-se que quanto mais lemos menos erros cometemos, pois para além de ouvirmos o que pronunciamos, através da memória visual tendemos a reter a forma como se deve escrever corretamente.


60 Calinadas - o vírus na Língua Portuguesa

1.21. Orgente

Figura 21. Anúncio numa vitrine de procura/oferta de emprego. Fonte: Cátia Teixeira

Orgente em vez de Urgente A palavra “urgente” encontra-se escrita de forma errada- “orgente”. Esta imagem foi recolhida de uma montra de publicidade presente num hipermercado local, onde as pessoas são livres para colocarem as informações que acham pertinentes, e onde não há uma supervisão de alguém sobre o que lá é exposto. Aqui verifica-se grande falta de conhecimento, pois, sendo comum algumas pessoas escreverem como falam, neste caso nem isso se verifica, já que ninguém diz “orgente”. Certamente escrita por alguém com um nível de escolaridade muito baixo e com reduzidos (ou nenhuns) hábitos de leitura. Infelizmente é um erro muito usual pois existe muita gente a trocar o “u” pelo “o”, e o “o” pelo “u”. Normalmente o som “u” átono escreve-se "o" no final da palavra, como é o caso de "castanho", "ovo", "carro", mas para se ler “u” no início da palavra terá mesmo de ser escrito com o “u”. Se a palavra tiver dois sons “u”, frequentemente o primeiro escreve-se com "o" e o segundo com "u". Vejamos os seguintes exemplos: introdução,


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oportunidade, produção. São exceções a esta regra as seguintes palavras: rodopiar, socorrer, cotovelo, sussurro, gulodice. A palavra “urgente” é um adjetivo que significa atuar de imediato, prestar rápida atenção. “Tem origem no Latim urgens, -entis, particípio presente de urgeo, -ere, apertar, oprimir, perseguir, acossar, impelir, apressar, insistir, persistir.” (” Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha],” 2008) —urgeoere, urgensentis ˃ urgente. Para colmatar este erro seria talvez razoável umas ações de formação para pessoas mais carentes linguisticamente.


62 Calinadas - o vírus na Língua Portuguesa

1.22. Passasse

Figura 22. Publicidade. Fonte: Maria Cristina Leite

Passasse em vez de Passa-se No cartaz acima, conseguimos observar que a palavra ‘’passasse’’ está escrita de forma errada, sendo a correta ‘’passa-se’’. O verbo ‘’passar’’ vem do latim ‘’passare’’,(dicionário Priberam, consultado a Abril de 2021). Neste caso, ele está a ser utilizado como forma de publicidade para vender algo, substituindo ‘’vender’’ por ‘’passar’’, sem utilizar a primeira expressão uma vez que não é permitido por lei. No entanto, na imagem apresentada o verbo ‘’passasse’’ está conjugado no pretérito imperfeito do conjuntivo quando, na realidade deveria estar no presente do indicativo, na terceira pessoa do singular, ou seja, ‘’passar’’, seguido do pronome apassivante ‘’se’’. É, infelizmente, bastante comum na língua portuguesa cometer este tipo de erro relativamente ao uso do hífen na conjugação dos verbos. Isto deve-se ao facto de Portugal possuir ainda um índice de baixa escolaridade acentuado e com falta de hábitos de leitura. Conjugando estes dois fatores deparamo-nos muitas vezes com o uso incorreto ou errado de termos ou expressões na escrita.


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Uma alternativa para conseguirmos perceber e corrigir estes erros será colocar a frase na negativa e observar se o ‘’se’’ altera a sua posição. Tomemos como exemplo as seguintes expressões ‘’Passa-se alguma coisa com a Leonor’’ e ‘’Se passasse na passadeira, tinha sido visto’’. Em ambas é utilizado o verbo ‘’passar’’, no entanto o hífen é usado apenas numa. Utilizando então o método acima referido, isto é, colocando a primeira frase na negativa, ficamos com ‘’Não se passa nada com a Leonor’’, e com a segunda obtemos ‘’Se não passasse na passadeira, não tinha sido visto’’. Concluímos que posta a frase na negativa o ‘’se’’ muda de lugar na primeira frase, mas mantém-se na segunda. Seguindo a regra, na primeira situação será, portanto, necessária a utilização do hífen na positiva, mas na segunda não. Este processo permite diminuir a probabilidade de erros nestas situações de dúvidas. Concluímos que, mesmo sem grandes conhecimentos gramaticais, é fácil saber quando escrever com hífen ou tudo junto, ou seja, com dois ‘’ss’’. Como corrigir este erro? Não só por esta habilidade prática, mas também, e sobretudo, pela frequência de ações curtas de formação para todos, essencialmente para os que possuem apenas escolaridade básica.


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1.23. Poribido

Figura 23. Cartaz em esplanada. Fonte: Maria Cristina Leite

Poribido em vez de Proibido A palavra “proibido” é um adjetivo, que significa algo que se proíbe, que não é consentido. É também o particípio passado de “proibir”, verbo transitivo com origem do latim prohibēre. (Porto Editora. n.d.; Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa) No cartaz, esta palavra está escrita de forma incorreta, pois a vogal “o” está antes da consoante “r”. A razão que consideramos ter levado a este erro é a pronúncia da mesma, ou seja, o autor escreveu tal como pronuncia. Uma pronúncia errada pode provocar, tal como aconteceu neste caso, grafia errada. Nota-se que é um deficiente executante da Língua, tanto na oralidade como na escrita, e que, produto de uma alfabetização muito débil e/ou, associada a esta, devido talvez à integração num grupo social também linguisticamente pobre, fala e escreve como pronuncia, isto é, incorretamente. Estamos, por isso, na presença de um semianalfabeto, e, porque é responsável por este espaço, como dono e/ou gerente, -- “A gerência” - deixa notar a sua indiferença em saber se está bem ou mal o que escreve.


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Posto isto, há questões que se colocam: como reabilitar esta camada social? Não seria aconselhável abrir aulas voluntárias, talvez duas vezes por semana, nos meios cujos habitantes apresentam mais dificuldades? Outra dúvida que por vezes surge, embora este não seja o caso, na escrita desta palavra é a sua acentuação. Devemos escrever “proibido” ou “proibído”. Vejamos a regra: As palavras graves terminadas em “-a”, “-e”, “-o”, seguidas ou não de “-s” não se acentuam graficamente – mata, facto, desfile -, exceto em casos como, por exemplo, saída ou caímos, ou graves terminadas em ditongo crescente – vitória, mágoas. Ou seja, a palavra “proibido” não leva acento gráfico, já que termina com a vogal “-o”. (Porto Editora. n.d.; Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa).


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1.24. Puder

Figura 24. Protesto. Fonte: Cátia Correia

Puder em vez de Poder Nesta frase podemos observar a confusão de “Puder” com “Poder”. Enquanto Poder é um nome comum, abstrato, não contável não massivo, que transmite domínio/posse, ou o verbo Poder no infinitivo, que vem do latim potere, e representa a capacidade de exercer soberania sobre algo ou alguém, Puder é a forma verbal do futuro do conjuntivo do verbo poder na primeiro ou terceira pessoa do singular e transmite a possibilidade ou ocasião de poder fazer alguma coisa. Exemplos: Tenho o poder para admitir ou despedir quem eu quiser Poder concluir os meus planos é muito bom Se eu puder concluir os meus planos, ficarei feliz Quando eu puder, farei o que me pediste Embora ambos os termos tenham significados semelhantes, a sua leitura é diferente: “Poder” lê-se com um “e” fechado /ê/ e é, normalmente, utilizado enquanto nome como, por exemplo: “Tenho o poder de mandar em ti!”. “Puder” lê-se com um “e” aberto e é utilizado como verbo apenas: “Se ele puder, que venha à praia.”


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Quanto à origem da palavra, o Homem vive, há já vários séculos, em busca de algo invisível: o Poder. Todas as guerras e lutas ao longo dos anos existiram com um simples objetivo: alcançar o poder político, social, conquistar terras ou multidões, basicamente controlar algo ou alguém. O termo poder deixou “muitos descendentes” como, por exemplo, posse, poderoso e potencial. A palavra tem origem no termo IndoEuropeu poti, que era o nome dado aos chefes de família. Deste termo derivou a palavra grega pótis que significa “marido” e despotés que se aplicava aos tiranos. Mais tarde surgiu potis, vindo do latim, que significa poder ou poderoso, e potere, que significa poder (verbo). A que se deve o erro? A calinada apresentada na imagem remete a um protesto realizado em Lisboa contra o uso de máscaras em espaços abertos. Embora não tenhamos conhecimento próximo da pessoa que deu o erro, acreditamos que este se deva a pouca escolaridade, pois a senhora que segurava o cartaz aparentava ter já uma certa idade. Porque no passado havia pessoas, essencialmente do género feminino, que frequentavam a escola apenas por pouco tempo, ficando muitas vezes com a antiga 3.ªclasse, existe uma grande probabilidade do seu nível de escolaridade ter sido muito limitado. Conscientes da nossa repetição, continuamos a defender a realização de ações de formação, para que pessoas com dificuldades na escrita recorram, voluntariamente, a quem as possa ensinar.


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1.25. Tanjerina

Figura 25. Preço da tangerina na frutaria. Fonte: Lurdes Costa

Tanjerina em vez de Tangerina Tangerina, e não tanjerina, é uma palavra com quatro sílabas, tan-ge-ri-na, e consubstancia um substantivo feminino. Pode também ser utilizada como um adjetivo – laranja tangerina. Usamos o nome feminino tangerina sempre que queremos referir o fruto da tangerineira, e, por vezes, a própria árvore que dá as tangerinas. Tangerina é também o feminino de tangerino, relativo ao natural de Tânger. A palavra resulta da substantivação de um adjetivo – laranja tangerina -, pois que

com o decorrer do tempo passou a designar-se simplesmente por tangerina, por eliminação/apagamento do nome laranja, que a acompanhava inicialmente (Porto Editora, 2003-2021). Assim, da denominação inicial “laranja de Tânger” (cidade de Marrocos) passou a chamar-se “laranja tangerina” e depois, tal como atualmente, apenas “tangerina” No que concerne à sua escrita, diremos que, apenas pelo conhecimento da sua origem e consequente significado (laranja de Tânger), desfaríamos qualquer dúvida que nos surgisse quanto à utilização de “g” ou “j” na palavra. E isto sem recorrer à gramática da Língua Portuguesa. Uma questão, no entanto, se nos coloca: E se o seu executante nunca


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ouviu falar de Tânger, nem sequer viu esta palavra escrita? Nesse caso, deveria ter recorrido à regra da gramática portuguesa quanto à diferente utilização do “g” e do “j” como fonema /ʒ/ Diz, claramente, a gramática, bem como qualquer prontuário, que um “g” antes de um “-e” e de um “-i” produz-se no fonema /ʒ/ Ora, sabemos que a troca entre g e j é um erro muito comum na língua portuguesa. Este erro surge provavelmente pela igual fonética na leitura de palavras com uso de “g” e de “j” como, por exemplo, em: janela/gelo, jovem/giro, estejam/estalagem, girassol/janota. É verdade que, tanto numas como noutras, o fonema realizado é, como dissemos, igual para “g” e “j” -- /ʒ/ (Cintra & Cunha, 2005). Mas se repararmos nos exemplos, verificamos facilmente que, como fonema /ʒ/ em contexto de escrita, o “g” só aparece antes das vogais “e” e “i”, enquanto o “j” precede “a” e “o”. Dar este erro não só mostra que não se associa a palavra à sua origem (Tânger), mas demonstra também desconhecimento das regras de escrita da gramática da Língua Portuguesa. Infelizmente, tal como este vendedor de fruta, muitas outras pessoas cometem este erro, pelo que propomos um “voltar à escola”, claro que em moldes diferentes, em regime de voluntariado, resultante de motivação prévia, contínua e forte dos mais diretos responsáveis pelo projeto. Assim, passaríamos a ter melhores, mais conscientes e mais interessados executantes da língua na sua vertente escrita.


70 Calinadas - o vírus na Língua Portuguesa

1.26. Vendesse

Figura 26. Cartaz informativo. Fonte: Cátia Correia

Vendesse em vez de Vende-se Vende-se em vez de Vendem-se Vender é um verbo regular, transitivo, e significa transferir a propriedade de bem ou mercadoria em troca de pagamento convencionado e fazer

comércio.

Vendesse e Vendem-se são duas formas do verbo vender, com utilização e pronúncia diferentes: •

Vendesse – é uma forma do pretérito imperfeito do conjuntivo. É uma palavra grave, ou seja, com acento tónico na penúltima sílaba (-de-). O conjuntivo é o modo usado em construções que exprimem vontade, desejo. Exemplo: “O meu patrão não queria que eu vendesse as máscaras.”

Vende-se – é a terceira pessoa do singular do presente do indicativo, seguido do pronome apassivante “se”. Usa-se esta construção em frases como, por exemplo: “Vende-se máscara.” Neste exemplo, o “se” do verbo “vender” funciona como pronome apassivador,

indicando que a frase está na voz passiva sintética. Para comprovar, podemos colocar a frase na voz passiva analítica - “Vendem-se máscaras.” (As máscaras são vendidas.)


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Vende-se em vez de Vendem-se Uma dúvida bastante comum é a seguinte: “vende-se” ou “vendem-se”? Com o objeto no singular (máscara) o verbo deverá estar no singular (vende-se), mas se o objeto estiver no plural (máscaras) também o verbo terá de ser no plural (vendem-se). No painel deparamo-nos com dois erros. O primeiro reside no desconhecimento do diferente emprego de “vendesse” e “vende-se”. É um erro grave e frequente na escrita de muitos portugueses que, desprovidos de conhecimento da língua, o cometem cientes de que estão a escrever bem. Esta ocorrência é ainda lamentável porque se verifica em jovens estudantes, por vezes de grau avançado. Para estes casos, mesmo que nos estejamos a repetir, bastará colocar a frase na negativa e verificar se o ”se” passa para posição anterior ao verbo. Se isso acontecer, é porque na afirmativa se escreve com hífen – vende-se. Caso continue fixo ao verbo, é porque se escreve com dois “ss” – “vendesse”. Isto é válido para qualquer verbo, como veremos no quadro seguinte:

Quadro 1 Uso do hífen na afirmativa e negativa

Afirmativa

Negativa

Ele encontra-se doente

Ele não se encontra doente

Se ele encontrasse o telemóvel, telefonar- Se ele não encontrasse o telemóvel, não te-ia

poderia telefonar-te

O segundo erro está na utilização do verbo na 3ª pessoa do singular, sendo o nome plural. Vende-se flores (errado) em vez de Vendem-se flores (correto)


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Poderíamos concluir que o erro assinalado no painel é fruto de insuficiente cultura linguística sobretudo em indivíduos de idade, mas isso só seria possível se os nossos estudantes não o cometessem com alguma frequência. Insistimos, por isso, na necessidade de ações práticas de formação para todos, tentando, assim, colmatar estes e outros erros básicos.


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2. Considerações finais

Foi este trabalho muito proveitoso para todos nós, pois deu-nos conhecimento da má execução escrita da Língua Portuguesa. Foi logo na pesquisa dos documentos que começámos a perceber que o idioma que nos identifica estava em estado doentio no que à escrita se refere. Na verdade, ao seguirmos as pistas apontadas pelo orientador na procura das calinadas indispensáveis aos passos seguintes – correção do erro, suas causas, camada social que mais facilmente os comete e indicação sugestiva de atividades que, a nosso ver, poderão contribuir para colmatar conscientemente essas falhas – foi na primeira fase que deparámos com uma escrita muito mais deficiente do que imaginávamos. Aquando do levantamento que nos levou, em certos momentos, ao contacto pedagógico, e nunca crítico, com algumas das pessoas, - lembremos, por exemplo, a questão formulada à feirante de frutos sobre o que era o “caligre” dos limões, tendo ela, lisonjeada, explicado o significado da palavra “caligre” – assim repetia o que no cartaz tinha escrito -, convicta de que estava a ensinar a uma jovem algo que esta desconhecia – verificámos que muitos dos erros não são senão tradução escrita daquilo que no meio frequentado se diz, ou, noutros casos, provocados pelos diferentes valores que algumas letras do alfabeto, vogais e consoantes, possuem em Português. Por exemplo, se dizemos “cerveja” e vemos frequentemente esta palavra escrita na televisão ou na própria garrafa que compramos, qual será a razão por que não podemos escrever “cerviço” igualmente com “c”? Quando escrevemos com “o” aquilo que deveria ser com “u”, como vimos na anotação manuscrita da embalagem do medicamento, pergunta-se o senhor que cometeu esta falta se “múscolo” e “músculo” não se leem de igual forma. E concluímos, assim, que muitos dos erros são fruto desta equivalência na leitura da palavra e resultantes de


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alfabetização muito incompleta, ausência de hábitos de leitura e de escrita, ou de verdadeiro desconhecimento da gramática da língua (provas-te em vez de provaste; passasse em vez de passa-se). Foi na busca de explicação para os erros encontrados nos mais diversos lugares e meios, alguns mais graves do que outros, se atendermos à fonte do documento – gerência de instituição, placas de informação toponímica –, que tivemos de consultar dicionários, prontuários, gramáticas e outros documentos, aprofundando e solidificando assim os nossos conhecimentos a partir dos erros dos outros. Foi motivador vermos em cima da nossa secretária três ou mais livros para uma explicação que procurávamos, o que tão raramente acontece. Esta forma prática de, consciente e responsavelmente, trabalharmos foi algo que precisávamos de sentir e que sentimos verdadeiramente. Se o primeiro passo, o da pesquisa, foi interessantíssimo, o segundo, o da explicação e correção do erro, não foi menos motivador, porque a ânsia de tentar explicar através de documento fiável como se escreve em português deu-nos, como dissemos, a possibilidade de relembrarmos, ou aprendermos, por exemplo, fenómenos de evolução da palavra desde o seu étimo latino até à sua forma correta de escrita; deu-nos a sensação de nos sentirmos no papel do futuro professor que necessita diariamente de lançar mão de estratégias variadas para tornar explícito para todos o que por uma só explicação nem todos entendem. Não pudemos deixar de apontar pistas para que os responsáveis dediquem algum tempo à reflexão, e para que não esqueçam que a nossa identidade deve e tem de ser preservada, sendo a língua o verdadeiro caminho para a conseguir – “a minha pátria é a Língua Portuguesa”.

Alunas e aluno de Oficina de Escrita, 1.º ano, Licenciatura em Educação Básica – ESEF


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3. Bibliografia/Webgrafia

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79 1º. Ano – Licenciatura em Educação Básica - 2021


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