Transição para a vida ativa

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REVISTA DE EDUCAÇÃO DA ESE DE FAFE

EDIÇÃO 008 00

008

“É É fundamental perceber o percurso até à vida póspós escolar, como um processo que abarca todos os aspetos e dimensões da vida humana, no domínio das capacidades individuais, sociais e profissionais dos alunos” alunos

EDUCAÇÃO ESPE ESPECIAL

Transição para a vida ativa de jovens com Necessidades Educativas Especiais – Estudo de Caso Rosa Maria de Freitas Nogueira


008

EDUCAÇÃO ESPECIAL

Revista de Educação da ESE de Fafe Número 008 ISSN 2182-2964 2015-2016 Janeiro Direção Dulce Noronha

Coordenação José Carlos Meneses


Transição para a vida ativa de jovens com Necessidades Educativas Especiais – Estudo de Caso

Rosa Maria de Freitas Nogueira m



181 – Revista Científica

O

estudo

visa

apresentar

o

resultado de reflexões sobre os Planos de Transição para a Vida Ativa

(PTVA)

de

jovens

com

Necessidades Educativas Especiais com deficiência mental. Realçamos

que

a

escola

tem

modificado a sua atuação, de forma a responder de modo adequado às necessidades dos alunos, mas a não poderá ser a única responsável

Resumo

por todo o processo. A articulação entre

a

escola,

família

e

comunidade revela-se fundamental, daí que as respostas educativas devem ser diferenciadas de modo a responder às necessidades dos alunos. Utilizando

uma

metodologia

qualitativa de análise de conteúdos aos dados recolhidos através de entrevistas, escola

concluímos

compete

a

que

à

formação

académica adequada ao mesmo tempo que o jovem enceta a sua preparação

profissional.

Esta

preparação, expressa no Plano de Transição para a Vida Ativa pode ser

implementados

pela

própria

escola, através da execução de pequenas tarefas nos seus serviços, ou

através

de

parcerias,


182 – Revista Científica

nomeadamente, com empresas e instituições exteriores existentes na comunidade.


183 – Revista Científica

O tema do trabalho incidiu sobre a problemática da Transição para a

Transição para a vida ativa de jovens com Necessidades Educativas Especiais – Estudo de Caso

Vida Ativa (TVA), de um aluno com Currículo Específico Individual (CEI) numa escola do Ensino Básico. Um dos problemas que a sociedade se debate, ainda nos dias de hoje, é a

integração

de

cidadãos

com

necessidades educativas especiais

Metodologia Palavras-chave Transição para Vida Ativa; Deficiência Mental; Plano Individual de Transição

(NEE) na vida ativa. Os jovens com NEE precisam de ser apoiados nas escolas para fazerem uma transição eficaz

para

a

vida

ativa.

É

necessário dar-lhes alguma garantia que os anos passados nas escolas

Rosa Maria de Freitas Nogueira IESFafe

constituem

uma

etapa

na

construção do seu futuro, dotandoos de competências profissionais.

A implementação dos processos para TVA nas nossas escolas já são uma realidade, no entanto é necessário que este processo se desenvolva no sentido de se adaptar às frequentes mudanças a nível global, preparar para a inserção no mercado de trabalho, criar condições de desenvolvimento nos jovens com potencial para serem integrados, tendo em conta as suas características pessoais e profissionais.


184 – Revista Científica E assim, tentar adequar as respostas

mesmos respeitam as necessidades

possíveis ao que cada aluno pretende:

do aluno com CEI e PIT.

o seu sonho, interesses, necessidades

A TVA é um período fulcral para

e motivações, bem como às pretensões

qualquer jovem com NEE, logo deve

das famílias.

ser

pensada

e

Com a publicação do Decreto-Lei

atendendo

n.º 3/2008, de 7 de janeiro, a

aspirações dos mesmos e da sua

elaboração dos Planos Individuais

família, preparado e pensado pela

de

escola em colaboração com os

Transição

(PIT)

é

uma

aos

preparada, desejos

e

obrigatoriedade três anos antes do

técnicos, os pais e o próprio aluno.

fim

Neste sentido, o estudo incide num

da

escolaridade

obrigatória.

Assim sendo, perguntamos: Quais

aluno

são as necessidades dos jovens

pertencente ao Agrupamento de

com CEI para o desenvolvimento de

Escolas Professor Carlos Teixeira e

estratégias no processo de Planos

nos

Individuais

envolvidos

de

Transição?

São

a

desenvolver

intervenientes no

PIT,

educativos

processo

de

criadas condições organizacionais

transição: equipa de coordenadores

nomeadamente

do PIT, monitor do Centro de

pela

disponibilização humanos

e

de

materiais

recursos para

Recursos para a Inclusão (CRI).

a

implementação adequada dos PIT? Que tipo de relação deve ocorrer

No contexto da problemática do

para que haja envolvimento dos

nosso estudo, pretendemos atingir

responsáveis no processo de TVA,

os seguintes objetivos como:

visando a inclusão escolar e social

Nomear necessidades dos jovens com CEI; Identificar os recursos

dos jovens com CEI? Dado a relevância que o processo de

TVA

adquire

desenvolvimento portadores

de

para

de deficiência,

o

jovens este

estudo de caso pretende investigar a articulação de todos agentes envolvidos no desenvolvimento dos planos de TVA pós-escolar e se os

existentes para a implementação do PIT e Perceber o tipo de relações que devem prevalecer entre os coordenadores do PIT e as parcerias com a comunidade.


185 – Revista Científica

Após a fase da revisão da literatura abordando

o

processo

TVA,

desenvolvemos a parte empírica do estudo, no âmbito da investigação qualitativa onde os entrevistados confirmam

a

importância

do

processo de TVA para o futuro e prosseguimento de estudo do jovem e realçam para a importância no desenvolvimento competências.

de

outras


186 – Revista Científica

Nos últimos anos a escola tem vindo a mudar a forma de agir no processo educativo, tendo em vista a diversidade de alunos e dar

Transição para a vida ativa de jovens com Necessidades Educativas Especiais – Estudo de Caso

respostas

às

necessidades educativas dos seus alunos. É função das escolas e instituições, nos últimos anos de escolaridade, estabelecer ligações entre a vida escolar protegida e a vida

A mudança do processo educativo

adequadas

independente

no

mundo

exterior (Unesco, 1994). A escola deve

dar

respostas

e

aplicar

projetos de TVA, investindo no apoio e formação profissional dos jovens com NEE. Atualmente o processo de TVA ainda é visto como um problema para as escolas, que atinge todos os

indivíduos

deficiência

com

(Martins,

ou 2001).

sem É

fundamental, especialmente para os alunos transições

com para

NEE,

promover

situações

de

integração na vida profissional e social, durante os seus percurso escolar, criando condições para que estes jovens tenham oportunidades de acesso ou êxito académico e/ou na formação. Torna-se importante a construção de um projeto de vida inclusivo para os alunos com NEE, contemplado e contextualizado no projeto educativo de cada escola.


187 – Revista Científica

Sendo assim, faz sentido, falar em Currículos Funcionais (Brown, 1989; Costa et al, 1996; Vieira & Pereira, 1996; Rodrigues, 2001, 2003) e em Planos Individuais de Transição para a vida Pós-Escolar (Soriano,

da educação funcional e do processo de transição, sendo de realçar a falta de formação dos profissionais envolvidos, a falta de meios humanos e materiais, a falta

2006). Na investigação realizada por Costa et.

vários obstáculos à implementação

al.

(2004a),

nas

escolas

nacionais, denominada educação e transição para a vida pós-escolar de alunos com deficiência intelectual acentuada,

concluiu-se

processo

de

que

transição

o era

desenvolvido de forma regular e sistemático. Mas ainda existia uma percentagem

considerável

estabelecimentos ainda

que

algumas

admitiam

fragilidades

desenvolvimento

de

desse

no

de articulação entre as escolas e os restantes serviços, a falta de apoio por parte do IEFP, a dificuldade na aceitação dos estágios por parte das empresas, os reduzidos incentivos ao emprego de pessoas com deficiência, a falta de Centros de Formação e Centros de Emprego, as dificuldades de transporte para os alunos e educadores e as carências de ordem legislativa (Costa et. al., 2004b: 79).

processo

(TVA). Segundo

este

estudo

as

dificuldades na transição de alunos

Com a entrada em vigor do Decreto-

para

Lei n.º 3/2008, de 7 de janeiro,

a

vida

ativa

pós-escolar

prendem-se com a dificuldade de

introduziu-se

encontrar emprego e aceitação de

implementação do processo de TVA

estágios

mas

e, a obrigatoriedade da elaboração

também à inexistência de legislação

dos PIT durante a escolaridade

favorável e à não aplicação da

obrigatória, para todo o aluno com

existente. Também menciona, na

necessidades educativas especiais

pesquisa de Costa et. al. (2004b)

de carácter permanente que não

muitas das escolas referiram haver:

consiga adquirir as aprendizagens e

em

empresas,

competências currículo.

uma

delineadas Cabe

à

nova

no escola


188 – Revista Científica

complementar o PEI com um PIT de

Também no Manual de Apoio à

forma a encetar a transição para a

Prática publicado pela define o PIT

vida pós-escolar e possibilitar o

como um documento que:

desempenho

de

uma

atividade

profissional e a sua integração social, familiar ou numa instituição. Alguns países utilizam o termo PIT, porém há outros que é usado o Programa Educativo Individual ou

Educativo,

Plano

de

Intervenção Individualizada, Plano de Carreira Individual, etc. Apesar das

diversas

terminologias

verificam-se ligeiras diferenças nos conceitos, todos os países referem a necessidade e a importância da elaboração deste instrumento de trabalho, no qual são registados os desejos

e

os

progressos

na

educação e na formação do jovem.

Soriano (2006) define o PIT como uma ferramenta, sob a forma de documento, no qual é registado o passado, o presente e o futuro desejado dos jovens. O PIT deve incluir informação sobre o universo vida

do

sociedade com adequada inserção social e familiar ou numa instituição

carácter ocupacional e, sempre que possível, para o exercício de uma actividade profissional; • Perspetiva um processo dinâmico, a curto, médio e longo prazo, com o de promover a capacitação e a aquisição de competências sociais necessárias à inserção familiar e comunitária; • deve ser flexível, para responder a mudanças de valores e experiências;

(Soriano, 2006).

da

de vida do aluno, para uma vida em

que desenvolva atividades de

Projeto de Integração Individual, Plano

•… consubstancia o projeto

jovem:

condições

familiares, história médica, tempos livres, valores e background cultural, e ainda informação sobre a sua educação e formação.

• deve responder às expectativas dos pais sobre o futuro do filho e aos desejos, interesses, aspirações e competências do jovem; (...) • não deve duplicar a informação constante no PEI, mas sim acrescentar informação específica relativa ao processo de transição; • é elaborado pela equipa responsável pelo PEI, em conjunto com o jovem, a família e outros profissionais, nomeadamente das


189 – Revista Científica

áreas da segurança social e serviços de emprego e formação profissional; • deve ser datado e assinado por todos os profissionais que participam na sua elaboração, bem como pelos pais ou encarregado de educação e, sempre que possível, pelo próprio aluno (DGIDC, 2008: 30).

Assim,

os

jovens

com

CEI

necessitam de um PIT, onde devem ter

programas

curriculares

com

específicas

áreas que

permitam aumentar os seus talentos e ativar a sua inserção na vida adulta, pois, só assim se podem proporcionar novas perspetivas de futuro na capacitação e a aquisição de

competências

sociais

necessárias à inserção familiar e comunitária onde estão inseridos.


190 – Revista Científica

A articulação e o respeito pelas necessidades dos alunos por todos os

agentes

envolvidos

desenvolvimento

dos

no planos

individuais de transição para a vida ativa pós-escolar exige respostas pelo que colocamos as seguintes e

Transição para a vida ativa de jovens com Necessidades Educativas Especiais – Estudo de Caso Metodologia

às quais vamos dar resposta. Questão

1:

Quais

são

as

necessidades dos jovens com CEI para

o

desenvolvimento

de

estratégias no processo de Planos Individuais de Transição? Questão 2: Estão criadas condições organizacionais

nomeadamente

pela disponibilização de recursos humanos

e

implementação

materiais

para

adequada

a dos

Planos Individuais de Transição? Questão 3: Que tipo de relação deve

ocorrer

para

que

haja

envolvimento dos responsáveis no processo

de

TVA,

visando

a

inclusão escolar e social dos jovens com CEI.

A nossa investigação trata-se de um Estudo de Caso, por entendermos que nos permite estudar uma situação concreta, que obedece a uma metodologia qualitativa.


191 – Revista Científica

A seleção desta metodologia deve-

Para

se ao tratar-se do estudo de caso

recolhida,

de um aluno com 16 anos de idade

tratamento dos dados pela análise

a frequentar a escola pública, com

de

diagnóstico de deficiência mental

categorização

moderada em processo de transição

palavras narradas como parâmetros

para a vida ativa a frequentar o 8º

de

ano de escolaridade. O PIT está a

Hurtado, 2006). Trata-se de uma

ser desenvolvido no Centro de

análise qualitativa em que nos

Recursos

devemos

para

a

Inclusão,

da

a

informação

procedemos

conteúdos,

evidência

e

ao

utilizando

a

salientando

as

(Serrano,

preocupar

1994;

com

a

compreensão ampla do fenómeno

CERCIFAF. A

analisar

seleção

deveu-se

conhecimento

prévio

ao

em estudo. Domínios e Categorias

dessa

realidade, pelo recolhemos dados através da observação direta do aluno em causa e as entrevistas aos intervenientes envolvidos

a

Categorias

educativos no

processo

de

transição, tais como: o próprio aluno,

Domínio

coordenadora

do

Opinião acerca da atividade Entrevista ao aluno

PIT

simultaneamente coordenadora do grupo

da

professora

Educação

Especial,

especializada

nos

domínios cognitivo e motor e ao monitor

do

CRI

na

área

Entrevista

ao

Oportunidades de escolha e decisão da atividade Tarefas exercidas, aprendizagens adquiridas Importância do estágio no CRI para uma profissão futura Atividades desenvolvidas no processo de TVA

coordenador do PIT

de

mecânica. Para obter os dados

Avaliação dos alunos para integrarem a TVA Parcerias estabelecidas com protocolos

necessários

Dificuldades/necessidades

foram

construídos

Futuro e prosseguimento de estudos

instrumentos de recolha de dados os

guiões

de

Aspetos a melhorar no processo TVA

entrevistas

Pontualidade e assiduidade do jovem

semiestruturadas, através de um

Entrevista

guião

monitor do CRI

algumas

onde

se

encontravam

questões

gerais

direcionadas, com a duração de 30 minutos e gravadas em áudio.

ao

Perceção do empenho na execução das tarefas Opinião, relativa à capacidade no desempenho desta atividade como futura profissão Quadro 1- Distribuição dos domínios e categorias.


192 – Revista Científica

Este

quadro

apresenta-nos

as

categorias para os três domínios das entrevistas aos intervenientes: jovem,

coordenador

formador.

do

PIT

e


193 – Revista Científica

Seguidamente

analisamos

as

entrevistas realizadas de acordo com

Transição para a vida ativa de jovens com Necessidades Educativas Especiais – Estudo de Caso Apresentação dos resultados

evidências,

segundo

as

categorias supra estabelecidas. Da entrevista efetuada ao aluno, elaborámos o quadro 2 com as categorias e respetivas evidências (opiniões do entrevistado).

Entrevista ao aluno com NEE Categorias

Parâmetros de evidência

Atividades de TVA

“lavo autocarros, carrinhas e carros; mudo óleo ” “ e gosto”

Oportunidade de escolha

“Podia escolher entre jardinagem, mecânica e outras (...) eu gostei mais de mecânica.” “Já é o segundo ano que estou aqui.”

Tarefas exercidas, aprendizagens adquiridas

Importância da formação no CRI para uma profissão futura

“ aprendi a lavar pneus, mudar pneus e óleo; quais os detergentes a usar e mais coisas .”

“ sim, gostaria trabalhar numa oficina.”

Quadro 2 - Evidências da entrevista ao aluno

A

partir

dos

dados

recolhidos

constatamos que o aluno tem uma opinião positiva em relação às atividades de TVA: “gosto” e permite realizar aprendizagens significativas


194 – Revista Científica

que

poderão

ser

úteis

para

obtenção de uma profissão. Teve outra

oportunidade

de

escolha,

oferecida pela escola e desenvolve competências

nas

tarefas

desempenhadas durante o estágio, na oficina de mecânica, em contexto real de trabalho de acordo com as competências delineadas no seu PIT, ou seja, futura de trabalho numa oficina… Da

entrevista

representante

realizada da

à

equipa

coordenação do PIT, passamos destacar os seguintes parâmetros de evidências.


195 – Revista Científica

Entrevista ao representante dos Coordenadores do PIT Categorias

Processo de TVA

Avaliação do aluno

Rede de parcerias

Dificuldades/necessidades

Futuro e prosseguimento de estudos

Aspetos a melhorar

Parâmetros de evidência “ são proporcionadas diversas experiências de carácter prático para uma melhor integração na vida activa de encontro aos seus interesses, motivações, sonhos e ambições, dependendo das suas opções e de acordo com o despiste vocacional .” “ experiências reais de trabalho, no contexto físico e humano em que se desenvolvem, adquirindo competências ao nível no relacionamento interpessoal, social e de tarefas especificas da respetiva área de trabalho ”. “Estas experiências são desenvolvidas em cooperação com a Cercifaf, no CRI.” “o processo é realizado em equipa, desenvolvido por todos os intervenientes, professoras da educação especial, coordenadora do Centro de Recursos para a Inclusão e monitor, encarregado de Educação, docentes do ensino regular, conselho de turma,” “ todos os que intervêm junto do aluno em questão contribuem na sua avaliação (…) ele próprio é o principal interessado.” “ o processo de TVA é desenvolvido em cooperação com Cercifaf, no CRI em diversas áreas: oficina de mecânica, jardinagem, carpintaria, trabalhos manuais e outras (…) realizam formação/estágios em empresas ou instituições contactadas pela Cercifaf ou pelos professores coordenadores do PIT.” “ no caso deste jovem é desenvolvido no CRI na área de mecânica”. “não se verificam dificuldades na implementação do PIT, deste jovem . É um caso de sucesso, este já é o seu segundo ano de frequência”. “a parceria com a Cercifaf facilita este processo a nível da formação no CRI, pois proporciona diversas atividades práticas”. “ esta atividade é muito importante para a vida futura deste aluno. A formação no CRI permite um contacto com uma profissão e com o trabalho, num contexto semelhante ao que poderá encontrar na vida pósescolar, também possibilita o aluno desenvolver outras competências: regras sociais, autonomia, desenvolver a autoestima. Possibilita testar a sua apetência para o desempenho de determinada tarefa ou profissão.” “ seria benéfico um maior envolvimento e participação dos docentes da turma no processo.”

Quadro 3 - Evidências da entrevista representante dos Coordenadores do PIT


196 – Revista Científica No que respeita às informações

a importância no desenvolvimento

obtidas sobre a categoria do “

de outras competências. Aponta

processo de TVA”, as atividades

como aspetos a melhorar, um maior

são

contexto

aumento e participação de todos os

de

docentes da turma no processo de

desenvolvidas

extraescolar,

em

através

experiências reais de trabalho, em

TVA.

cooperação com a Cercifaf, no CRI

Passamos a realçar os parâmetros

focando a necessidade de respeito

de evidências relativos à entrevista

pelos

interesses,

efetuada ao monitor da atividade

sonhos

e

motivações,

ambições

do

aluno

prática do CRI.

dependendo das suas opções e Entrevista ao monitor

despiste vocacional e a avaliação

Categorias

do mesmo é realizada em equipa,

de evidência

todos colaboram no sentido de responder

às

necessidades

e

interesses do aluno. É de salientar a que a parceria com o CRI permite dar respostas mais eficazes no processo de TVA, pois tem como objetivo

apoiar

a

inclusão

das

crianças e jovens com deficiências e incapacidade, em parceria com as estruturas da comunidade, no que se prende com o acesso ao ensino, à formação, ao trabalho, ao lazer, à participação

social

e

à

vida

autónoma, promovendo o máximo potencial de cada indivíduo. O entrevistado afirma que na escola não se verificam dificuldades na

Parâmetros

“ é pontual, vem no autocarro da cercifaf, falta algumas vezes Pontualidade/assiduidade por motivos de saúde mas, são faltas justificadas pelo Encarregado de Educação ”. “ desempenha as tarefas pedidas com Perceção do empenho do muito empenho e com aluno habilidade, querendo sempre aprender mais tarefas que sejam práticas”. Capacidade numa futura “ acho que tem capacidade para que profissão no final dos 3 anos de formação possa exercer tarefas numa oficina, profissionalmente, como as que já faz aqui, por exemplo trabalhar numa bomba de combustível.” Quadro 4- Evidências da entrevista ao monitor.

implementação do PIT e confirma a importância do processo de TVA

Em

relação

às

evidências

para o futuro e prosseguimento de

apresentadas verificamos que o

estudo do jovem sublinhando ainda,

formador a perceção do empenho


197 – Revista Científica

do jovem porque cumpre as tarefas solicitadas com habilidade e quer sempre

aprender

mais

é

de

salientar que também é assíduo e pontual, entende ainda, que o jovem tem capacidade para futuramente exercer

esta

atividade

como

profissão e desempenhar tarefas, numa oficina, semelhante aquela que desempenha nesta formação.


198 – Revista Científica

Em todos os depoimentos prestados foi

visível

condições

que

a

escola

favoráveis

cria

para

o

desenvolvimento do processo de

Transição para a vida ativa de jovens com Necessidades Educativas Especiais – Estudo de Caso Discussão dos Resultados

TVA. De facto o aluno desenvolve competências

funcionais

(Brown,

1989; Costa et al., 1996; Morato et al. 1996; Vieira & Pereira, 1996; Rodrigues, 2001,2003), cujo intuito é posto em ação em contextos reais de trabalho, fora da escola, como é defendido pela UNESCO (1994).

Os entrevistados referem que o processo de TVA proporciona “experiências reais de trabalho, no contexto físico e humano em que se desenvolvem, adquirindo competências ao nível no relacionamento interpessoal e social” e “não devem ser vistas como experiências exteriores ao currículo do aluno (Pereira, 2002: 28)”.

A preocupação de ir promovendo “transições”

para

contextos

inclusivos e para o ambiente social através

do

processo

de

TVA

parece-nos visível. A publicação do Decreto-Lei n.º 3/2008, de 7 de Janeiro, considerada um facilitador enquanto medida política (Soriano, 2006),

esta

questão

está


199 – Revista Científica

ultrapassada em termos teóricos,

foram tidos em conta as motivações

pois no n.º 2, do Artigo 14.º é

e interesses do aluno, “ todos os

referido que: “sempre que o aluno

que intervêm junto do aluno em

apresente necessidades (…) que o

questão

impeçam

as

avaliação (…) ele próprio é o

competências

principal interessado.” De facto na

definidas no currículo deve a escola

entrevista, o aluno demonstra o seu

complementar

envolvimento

de

aprendizagens

adquirir e

o

programa

contribuem

na

na

sua

escolha

da

educativo individual com um plano

atividade, ao referir que foi ele que

individual de transição”.

selecionou e está a desenvolver

Relativamente à avaliação do aluno

atividades de TVA que lhe permitem

para a inclusão da TVA, todos os

realizar aprendizagens significativas

intervenientes colaboram no sentido

que

de responder às necessidades e

obtenção

interesses do aluno. É de salientar

referindo que “ aprendi a lavar

que a parceria com o CRI, permite

carros, a mudar pneus e óleo; quais

dar respostas mais eficazes no

os detergentes a usar e mais

processo de TVA bem como um

coisas.”

envolvimento/participação

Depreendemos

dos

poderão

ser

de

úteis

uma

para

profissão

através

diferentes intervenientes, a rede

entrevista,

existente em termos de parcerias, a

envolvido neste processo, sabe o

coordenação e monitorização da

nome

TVA.

monitor, o aluno desempenha as

A Orientação Vocacional implica

tarefas solicitadas com empenho,

uma

motivação

avaliação

levantamento seguindo-se

em de

um

termos

de

interesses, processo

de

despiste ou confirmação desses interesses para que o jovem seja integrado

num

programa

de

formação depois do conhecimento real das necessidades, capacidades e exigências de trabalho. Parecenos através das entrevistas que

do

que

o

monitor.

e

falta

motivos de doença.

aluno

da está

Segundo

apenas

o

por


200 – Revista Científica

com NEE. A escola proporciona a Ao nível dos processos de

formação académica ao mesmo

transição, a cooperação parceria

tempo que o jovem enceta a sua

ampliam as possibilidades aos

formação profissional na instituição

agrupamentos de fornecer uma

parceira

responsável,

maior qualidade e eficiência

posteriormente

relativamente às respostas a

profissionalmente e acompanhado

desenvolver para os alunos com

respetivamente na sua colocação

necessidades educativas especiais

profissional.

integrado

É

de

salientar

a

de carácter permanente, desde o

importância destes programas na

momento da referenciação até à

vida

futura

dos

jovens

com

limitações quer a nível profissional

conclusão da escolaridade,

quer a nível de socialização.

facilitando a sua integração em áreas relacionadas com o emprego

Como aspetos a melhorar é a

ou atividades ocupacionais

apontado um maior aumento e participação de todos os docentes

(Soriano, 2002).

da turma no processo de TVA mas que “não se verificam dificuldades Os programas de TVA podem ser

na implementação do PIT, do aluno

implementados pela própria escola,

com CEI.”

sem qualquer tipo de parcerias, em

A relevância do TVA para o futuro é

que a par da formação académica,

destacada por proporcionar adquirir

proporciona aos alunos as primeiras

aprendizagens e facilite obtenção

experiências

formação

de uma profissão. O aluno admitiu a

profissional, através da execução de

perspetiva futura de exercer uma

pequenas tarefas nos seus serviços,

atividade profissional na área. O

uma espécie de estágio. Também

formador é da opinião que o jovem

podem ser implementados através

tem capacidade para futuramente

de

ter uma profissão e desempenhar

de

parcerias

exteriores, Educação

com

instituições

nomeadamente Especial,

Cercis

de

tarefas, numa oficina, semelhantes

ou

aquelas que desempenha nesta

Associações, como é o caso do

formação.

aluno em estudo, que asseguram a

Então passamos a responder a

formação profissional dos alunos

questões colocadas neste estudo:


201 – Revista Científica

1 - Quais são as necessidades

inclusão escolar e social dos

dos jovens com CEI para o

jovens com CEI? No nosso estudo,

desenvolvimento de estratégias

verificamos que a cooperação entre

no

Planos

os vários intervenientes do processo

Individuais de Transição? Pelos

de transição é fulcral para dar

dados recolhidos entendemos que o

respostas

aluno com CEI necessita que lhe

necessidades

seja

coordenadora

processo

dada

a

de

oportunidade

de

adequadas dos

alunos. do

às A CRI

realizar atividades

conjuntamente com a equipa de

funcionais para as quais tenha

coordenação do PIT da escola é

aptidão,

fundamental para a efetiva transição

escolha

para

receber

ingressar

formação

futuramente

para numa

profissão.. 2

-

Estão

criadas

organizacionais

condições

nomeadamente

pela disponibilização de recursos humanos

e

materiais

implementação

para

adequada

a

dos

Planos Individuais de Transição? A

escola

criou

condições

adequadas para implementação do PIT ao estabelecer parceria com Cercifaf que é uma mais-valia no processo de TVA, pois possibilita a formação extraescola na atividade prática

escolhida

pelo

jovem,

acompanhado por monitor da área de mecânica. Na escola o aluno recebe a formação académica de acordo com o seu programa. 3 - Que tipo de relação deve ocorrer

para

que

haja

envolvimento dos responsáveis no processo de TVA, visando a

de sucesso.


202 – Revista Científica

Faz todo o sentido que, no decorrer do percurso escolar dos alunos, nomeadamente dos alunos com NEE nos domínios cognitivo e motor, ir promovendo transições

Conclusão

para contextos inclusivos e sociais. Proporcionar a estes oportunidades de igualdade em termos de acesso e sucesso educacionais e formativas. É função da escola preparar a passagem para a TVA, entendendoa como um dos períodos fulcrais, que implica uma organização prévia e atempada, associada a um trabalho de cooperação e articulação entre todos os intervenientes envolvidos.

Consideramos que é fundamental perceber o percurso até à vida pósescolar, como um processo que abarca

todos

os

aspetos

e

dimensões da vida humana, no domínio

das

capacidades

individuais, sociais e profissionais dos

alunos,

sendo

assim

um

complemento do PEI (Costa et al, 1996; Fernández, 1999). Assim, o PIT do aluno deve ser baseado nas suas

motivações

contendo presentes

as e

e

sonhos,

competências a

adquirir,

as


203 – Revista Científica

qualificações

a

obter,

as

possibilidades de trabalho e as perspetivas de futuro a considerar. De acordo com recomendações da European Agency for Development in

Special

Needs

Education,

(Soriano, 2006). O nosso estudo de caso ao ser restrito

aquele

permite

aluno,

tirar

generalizáveis.

não

nos

conclusões A

bibliografia

existente sobre a transição é muito limitada e dificulta a comparação. Ainda que algumas das informações resultantes do relatório da European Agency for Development in Special Needs Education, (Soriano, 2002), indicam-nos que a nível escolar existe uma elevada percentagem de abandono no ensino secundário, registando-se um grande número de alunos com NEE que não atinge os objetivos previstos. Esta temática TVA necessita de continuidade de estudos ainda que esta seja uma área defendida na Declaração

de

Salamanca

(UNESCO, 1994). Mais estudos, no futuro,

nesta

área

permite-nos

verificar e comparar a evolução e a forma como estes processos são implementados em termos práticos, nas diferentes realidades escolares.


204 – Revista Científica

Referências Bibliográficas

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206 – Revista Científica

REVISTA EVISTA DE EDUCAÇÃO DA ESE DE FAFE

“É necessário dar-lhes lhes alguma garantia que os anos passados nas escolas constituem uma etapa na construção do seu futuro, dotando-os os de competências profissionais.”

EDIÇÃO 008


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