Edição 184 - Caderno 2

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Jornal Laboratório do Curso de Comunicação Social Social do Uni-BH Ano 29 • número 184 • Junho de 2011 • Belo Horizonte/MG

divulgação

Com que roupa eu vou?

Freuza Zechmeister relembra os principais figurinos criados para o grupo Corpo Páginas 4 e 5


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Belo HorIzonte, junHo De 2011

mídia

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Música nas Gerais as dificuldades, percalços e também os prazeres em se fazer jornalismo musical em Minas Juliana vallim William alves 6ªPERÍODO EDIÇÃO: LUIZ LADEIRA

As revistas inglesas Melody Maker, New Musical Express e, principalmente, a norteamericana Rolling Stone foram as responsáveis pela reviravolta na cobertura musical. Dialogando com questões além da música, como, entre uma outra série de assuntos, a política mundial, elas influenciaram (e revigoraram) todo o jornalismo cultural que veio a ser praticado depois do lançamento delas. Essa explosão da cultura pop a partir dos anos 60 do século passado alcançou muita gente também na América do Sul. Belo-horizontinos incluídos nessa mistura, é claro. Rodrigo James, 38 anos, é colaborador do Alto-Falante (exibido pela Rede Minas), o principal programa televisivo exibido na cidade e dedicado à música. No ar desde 1997, o programa é apresentado por Terence Machado. “Mesmo que hoje o programa seja talvez reconhecido como ‘bastião da cena independente’ ou algo do tipo, essa nunca foi a nossa única intenção”, conta James. “A gente só queria fazer um programa para mostrar as bandas de que a gente gosta, sejam do Brasil ou do mundo”. Para Bernardo Biagioni e Gregório Kuwada, que fundaram, em 2008, o site colaborativo Odisco (bancado por eles e outros amigos), há um vácuo cultural na imprensa mineira. “Quando a gente começou, muito entusiasmados, queríamos preencher uma lacuna”, admite. “O nosso projeto começou mega-

lomaníaco. Queríamos ter colaboradores do Brasil todo, como o Lucio Ribeiro (jornalista da Folha de S. Paulo) e o Alexandre Mathias (do Estado de S. Paulo),

JuliaNa valliM

que a gente admira. Não conseguimos, mas continuamos produzindo nossas coisas”. Kuwada ficou responsável por outra parte: “nessa época lemos muito, lemos de tudo, muita coisa de jornalismo colaborativo, jornalistas como o Alex Primo”. No entanto, como o site era mais direcionado ao público indie (contração para independent, ou seja, os apreciadores da música alternativa), acabou estagnando em 2010. “Recebíamos muitos textos que não tinham nada a ver com o site”, Biagioni confessa, entre risos. “A gente recebia texto até de disco do Black Eyed Peas!”. Hoje, eles estão com um novo projeto virtual, o I -Love Bubble, um híbrido de rádio, veículo informativo e agenda cultural. Rodrigo Ortega é um dos editores do Pílula Pop, outro conhecido ponto virtual mineiro. Como os colegas d’Odisco, ele também não esconde que o seu projeto iniciou com inevitáveis aspirações de grandeza. “A proposta era cobrir tudo, desde a cena local até a mundial. Cobrimos show do Felipe Dylon e dos Libertines com a mesma atenção. Fazíamos perfis do Bob Dylan e do É o Tchan.” Sobre o cenário atual da imprensa musical mineira, os profissionais denotam certo desânimo. Ortega: “Quando a gente surgiu, o jornalismo aqui era como hoje: quase inexistente. Agora tem muita gente com vontade e boas ideias (como o site Meiodesligado, o Coletivo Pegada, responsável por iniciativas culturais, o Odisco, novos blogueiros em geral), coberturas de jornais muito limitadas e algumas iniciativas isola-

das de mercado (Revista Ragga, Alto-Falante, Oi FM), mas ainda muito restritas”. James recomenda novas abordagens para os interessados em seguir

rodrigo James, colaborador do alto-Falante, mostrou as bandas que gosta e virou referência

na área: “Eu não suporto mais ler resenhas de álbuns, que é o que mais pipoca por aí. Se tivesse que dar um conselho aos novos jornalistas, eu diria que se dediquem a matérias mais abrangentes. Pois os consumidores do jornalismo musical já são muito poucos e menos pessoas ainda estão interessadas em resenhas de novos álbuns”. Hoje a internet é um trunfo maior que o próprio jornalismo impresso, vez ou outra suscitando, inclusive, discussões sobre o

seu suposto fim. “Cara, se alguém conseguir emplacar algo impresso em Belo Horizonte, ficarei muito feliz. É muito, muito trampo. Ninguém mais vê graça em abrir um jornal para ler, principalmente se você for mais jovem. As formas de interações são

outras”, afirma Biagioni. Ortega é enfático em sua opinião: “recomendo desistir dos jornais e meios tradicionais e fazer algum projeto legal na internet, conversar com pessoas de Belo Horizonte e de outros lugares, parar de ver o jornalismo musical apenas como redação e replicação de notícias, aprender sobre vídeo, fotografia, programação, eventos, etc, e não ter medo de se mudar se rolar alguma oportunidade”. O próprio Ortega agora mora

n o Rio de Janeiro, sendo um exemplo daqueles jornalistas que se mudam para os outros estados, principalmente São Paulo, em busca de oportunidades concretas. Mesmo com todos os ossos do ofício, todos eles se divertiram em pelo menos algum momento da profissão, justificando as adversidades

por que passaram. James entrevistou, na Inglaterra (e por mais de uma hora), o editorchefe da revista Uncut, referência fortíssima no jornalismo cultural. “Apenas liguei para o número que constava na revista. E não é que ele atendeu?”. Bernardo e Kuwada cobriram o festival Eletrônika, realizado em 2008, em Belo Horizonte, conseguindo o credenciamento necessário

apenas poucos momentos antes do início do espetáculo. Já Ortega relata um show do cantor Felipe Dylon em 2006, em que Rodrigo Freire e Bráulio Lorentz, repórteres do Pílula, escaparam muito pouco de um arrastão promovido por alguns rapazes que também estavam no show .

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liliaNE CallEgari

entrevista

O “atalho” paulista não é tão fácil assim Como a maioria das revistas culturais brasileiras está sediada no estado de São Paulo, é natural o grande fluxo de jornalistas de outros estados que acabam se bandeando para lá, principalmente para a capital, para buscar um lugar dentro da área de cultura. Rolling Stone, Piauí, Billboard, Vice, todas essas revistas tem como base a capital paulista. Marcelo Costa, que também viveu essa migração para a “Terra da garoa”, edita o site Scream & Yell e relata as dificuldades e a rotina de um jornalista, mais especificamente daquele que busca trazer as informações culturais para a população na maior metrópole do país. Chegada “Eu cheguei no primeiro levante da internet, em 2000, então estavam caçando jornalistas na rua (risos), mas até hoje não me fixei como jornalista cultural na cidade. Passei por economia, esportes, cidades e até fui subeditor de Diversão e Cultura (no portal Terra), mas grande parte da minha história profissional em São Paulo foi dedicada à edição de capa do portal iG. Ocupação Oportunamente escrevo tanto para a Billboard quanto para a Rolling Stone, mas são trabalhos que necessariamente não necessitam da minha estadia em São Paulo.” Scream & Yell “Paralelamente, porém, o site que edito (Scream & Yell) ganhou bastante respeito nos últimos anos permitindo uma

parceria com a MTV e uma busca por um maior cuidado editorial. Ou seja: eu fui aceitando os trabalhos que surgiam enquanto tocava o meu lado de jornalista cultural no Scream & Yell. Talvez eu devesse ter me dedicado mais a procurar vagas nesta área (o que sempre gerou em mim uma dúvida: se eu escrever de música em um grande jornal, como vou tocar o site pra frente?), mas deixei que as oportunidades me levassem” Recomendações “Tente se aproximar das áreas que você mais quer trabalhar. Se você começa em economia invariavelmente vão pintar vagas em economia para você. Não é de forma alguma impossível mudar de área (pelo contrário), mas é bom focar seus desejos logo no começo. Espaços no Mercado Espaços existem, e embora exista pouca rotatividade nos grandes veículos, sempre surgem oportunidades.” Vida na metrópole “O importante é chegar na cidade sabendo que São Paulo tem um custo de vida alto, quer dizer, não lhe dá muito tempo para ficar procurando aquilo que você deseja. Quando você menos espera tem aluguel, conta de luz, água e telefone chegando, e lá estará você mandando o currículo para aquela vaga de assessoria de imprensa que você havia prometido nunca tentar. O importante é não desistir e arranjar alguma forma de mostrar o seu trabalho. Nem que seja em um blog.”

Marcelo Costa, Editor do scream & Yell, se divide entre o portal, Billboard e Rolling Stone

Jornalismo musical O jornalismo musical recentemente se tornou algo bicentenário. Os primeiros registros de crítica musical datam de 1798, com a criação do periódico alemão Allgemeine musikalische Zeitung (Jornal de música em geral). Em 1834, o renomado pianista e compositor erudito Robert Schumann também fundou a sua revista, chamada Neue Zeitschrift für Musik (Novo jornal de música). Essas publicações primevas se dedicavam a destrinchar o mundo da música erudita: traziam biografias de músicos como Joseph Haydn e resenhas

de Franz Liszt e Ludwig van Beethoven. O Allgemeine teve vida longa, durando até 1882, enquanto o Neue sobrevive, inacreditavelmente, até hoje. Com o reflexo do passar dos tempos, não é só a música clássica que permeia a publicação, que hoje também abre espaço para o rock, o jazz e a música contemporânea em geral. Com a explosão do rock ’n’ roll em 1954, com o hit “Rock Around the Clock” de Bill Haley & His Comets, as publicações musicais começaram a abraçar a música popular, desviando o foco do sisudo mercado da música erudita.


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Dança

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A roupa do corpo Freuza Zechmeister, figurinista: “eu tenho um olho e uma memória fotográfica incrível” Erica soares Kátia regina rafael sandim 7º PERÍODO Edição: luiz ladeira

Em meio a movimentos de braços, pernas, cabeças e mãos, a imaginação de uma mulher, sentada na platéia, solitária, começa a costurar lembranças, imagens vistas em filmes, viagens e sonhos, para transformá-las em roupas. É pelos olhos da arquiteta Freuza Zechmeister que os figurinos vistos no corpo do Corpo ganham vida. A história de Freuza com o Grupo começou em 1978, quando ela viajou com a equipe que apresentava o espetáculo Maria Maria. Deste ano em diante, passou a criar os figurinos do Grupo por “hobby e pela amizade com o coreógrafo Rodrigo Pederneiras”. Durante nossa conversa, Freuza traçou uma linha, não do tempo, mas dos figurinos marcantes e de onde, na rede da memória, ela puxou os retalhos para transformar em roupa. Não precisei de muitas perguntas, na verdade, fiz duas ou três. Ela falou sobre tudo, detalhes que parecem não ficar esquecidos ou parados em

sua mente. Enquanto ela relembrava cenas e de onde vinha a inspiração para vestir os bailarinos, seus olhos fitavam de forma fixa meus brincos de strass. Me lembrei que, ao telefone, ela disse: “Quando te ver vou reparar na sua roupa. Se eu não gostar faço na minha cabeça

uma roupa nova para você”. Não sei se ela quis me vestir de outro jeito, mas sei que as pedrinhas brilhantes do meu brinco distraíram seus olhos. A confecção O primeiro figurino, que ela contou como se tivesse feito no dia anterior da nossa conversa, foi do espetáculo Lecuona. Composto por valsas e tangos do músico Ernesto Lecuona, a apresentação fez Freuza retornar ao tempo da juventude quando ia em bailes para dançar, mas, por causa da época, não podia ousar nos decotes e fendas. Para criar o figurino, Freuza não escuta as música dos espetáculos para ter inspiração. A tecnica utilizada é assistir aos ensaios: “Eu não funciono com música”. Após assistir os preparativos para Lecuona, a artista foi para seu escritório de arquitetura, comprou sete manequins e convidou algumas amigas para ajudar na costura.

“Lembro que liguei para uma amiga que é médica e perguntei: você sabe costurar? Ela disse que sabia fazer sutura. Então, fiz o convite para ela me ajudar”. Freuza conta em pé enquanto se movimenta, como se estivesse acontecendo naquele momento toda a situação. Ela vestiu os colãs nos manequins e costurou os pa-

nos na roupa para fazer os babados. No fim, pediu para a costureira fazer os arremates. Outro detalhe importante são os sapatos dos bailarinos em Lecuona. “Se eu colocasse uma sapatilha de balé nos bailarinos ia estragar a minha criação”, ela conta. Então, ela pesquisou na internet e encontrou, em Nova York, uma loja que fazia sapatos de salto próprios para balé, porque sapato de bailarino tem que permitir fazer o movimento com os pés chamado ponta, onde a pessoa se apoia apenas na ponta dos pés. Sapatos encontrados, desejo de Freuza real-

izado. Agora, todos os movimentos das danças serão valorizados com os panos esvoaçantes e a sensualidade explorada com os decotes no peito, nas costas e o detalhe dos sapatos nos pés. História Outro figurino que fez Freuza lembrar de sua

própria história foi o do espetáculo Missa do Orfanato. Quando viu o ensaio, ela voltou no tempo e foi às décadas de 1930 e 1940, quando, ainda pequena, já se via encantada com as roupas da mãe e da avó. “Eu senti um peso, eu chorava. Me vi mexendo no baú da minha avó”, lembra a arquiteta.

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Dança

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e formas são as características mais presentes nos modelos. Depois é a vez das roupas ganharem movimento junto ao corpo dos dançarinos. “Freuza é minimalista, ela faz jus ao nome do grupo. Os vestuários mostram muito bem as coreografias. Não sobra tecido. Nada encobre os passos. Ela pensa no grupo como um conjunto”, elogia Janaina. A resposta é unânime quando a pergunta é feita a respeito dos modelos que Freuza produz para o grupo. Em uma só voz, como se houvessem ensaiado, Felipe e Janaina respondem a questão: “Maravilhosos!”. “É muito bom saber que a gente só precisa preocupar com o trabalho de bailarino. Temos certeza que ela terá tudo no dia e do jeito certo. Ela é muito competente”, ressalta Felipe.

Opinião dos mestres

Montagem de 1993 homenageia compositor Ernesto Nazareth

Trabalhos além dos figurinos Ela vestiu os homens com calça preta e blusa de botão fechada até o pescoço. As mulheres com vestidos abaixo dos joelhos bem fechados e de cores escuras. O cabelo também fez parte da composição, todos bem desgrenhados e a maquiagem bem pálida. A escolha de Freuza lhe rendeu uma opinião negativa de um crítico cujo nome ela preferiu não citar. “Um crítico de cultura me disse: você acabou com o balé do Rodrigo”. Segundo a figurinista, até mesmo Rodrigo ficou tenso, mas, no fim, deu tudo certo. Quando começou a fazer as roupas para o grupo, Freuza já trabalhava como arquiteta e design de interiores. Um de seus trabalhos é a criação de lojas de roupas, que permitiu que ela estivesse mais perto

do mundo da moda e das últimas novidades nas passarelas internacionais. “Muita coisa que eu trazia para o Corpo nem tinha chegado no Brasil, era novidade para todo mundo”. E foi fazendo o design para uma loja de moda praia que Freuza teve contato com a malha usada pelo Grupo Corpo, só que a arquiteta costuma comprar os tecidos e mandar tingir, já que no mercado não existem todas as variações de cores. E quem tinge é uma amiga que ela chama de bruxa, pois é em um caldeirão que ela mistura tinta de tecido para chegar na cor que Freuza encomenda. A escolha pela malha é simples: “O balé do Rodrigo é de muito movimento e contato por isso eu precisava de algo que ficasse bonito e

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Fotos: divulgação

Freuza e os bailarinos Ouve-se ao fundo da sala gritos de entusiasmo: “Vamos, pessoal!”. Os alaridos que interrompem o ensaio de um dos principais grupos de dança do Brasil não são do coreógrafo, mas da figurinista. Freuza Zechmeister desperta risos entre os bailarinos. É sempre assim quando a figurinista do Grupo Corpo decide acompanhar os ensaios. “Ela é alto astral. É animadíssima. Consegue deixar todo mundo para cima”, diz a bailarina Janaina Castro. O bailarino Felipe Brushi dança há mais de dez anos no grupo e confessa que, antes de entrar na equipe, um de seus sonhos era vestir os modelos de Freuza. “Era louco para vestir as roupas que ela faz. Assistia aos espetáculos e me imaginava nas peças dela”, conta. Grafismos, cores, malhas

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permitisse que os bailarinos se movimentassem” explica Freuza. A arquitetura, seu trabalho diário e principal, também ganha os palcos com o Corpo. Em “Sete ou Oito Peças para um Balett” ela usa, na cabeça dos bailarinos, uma estrutura de capacete de mestre de obras. Já no espetáculo Nazareth, ela colocou um arame na borda da saia das bailarinas de forma que a saia amassasse e desamassasse sem interferir na dança ou machucar os bailarinos. E não é só de figurinos que se faz o Corpo, a maquiagem e os acessórios também fazem parte da produção artística de Freuza, que cria histórias em sua mente para explicar os movimentos em cena, que ganham tonalidades e arran-

jos diferentes. No espetáculo Sete ou Oito Peças para um Balé, por exemplo, as roupas e maquiagem foram iguais para todos os bailarinos. O objetivo era fazer com que todos tivessem apenas um rosto e que o espectador não fosse capaz de saber diferenciar os homens e as mulheres. O que se pode afirmar é que Freuza busca em experiências pessoais a inspiração para costurar os figurinos que completam os movimentos do Grupo Corpo. Talvez porque ponto, cor e pintura têm um pouco da marca de Freuza, que não gosta de aparecer em fotos, mas dá para entender, já que a história dela está ali atrelada àquele corpo. “A minha história me levou ali”, ela fala sobre a criação e semelhança.

Breu, montagem de 2007, é uma tradução poética da barbárie em que vivemos atualmente, segundo o portal do próprio grupo

Assim como os espectadores, que sentam e assistem aos espetáculos, os alunos de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) sentam e aprendem sobre dança. Além de explicar sobre o trabalho do Grupo Corpo, as professoras Kátia Moreira e Isabel Coimbra, da UFMG, explicam a importância da dança na cultura. Para Moreira, o grupo possui uma qualidade imensa na “identidade e personalidade”. E um dos trunfos do Corpo é conseguir influenciar a dança não só no Brasil, mas também no exterior. No país, o cenário da dança está em crescimento. A diversidade cultural propicia que o Brasil possa reconhecer dança como um traço importante da diversidade cultural do nosso país. Mesmo que muitos prefiram ir ao cinema ou ao teatro, espetáculos famosos como os do Grupo Corpo chamam a atenção e geram o interesse no público. Ainda que haja crescimento, Kátia Moreira acredita que seja necessário popularizar a prática da dança dentro e fora das escolas de educação básica. “Nos colégios, por meio das aulas de Educação Física e fora deles com festivais populares”. Para Isabel Coimbra, a principal característica do Corpo é inovação. Reconhecido internacionalmente, o Grupo traz em suas coreografias traços da cultura mineira e brasileira, o que permite uma maior valorização de Minas e do país. Ao longo dos anos a linha de pesquisa se desenvolve por meio da identidade dos líderes do próprio grupo e na problemática da corporeidade do brasileiro. Outra qualidade lembrada por Coimbra é a excelência do trabalho coletivo, união de coreografia, luz, cenário, figurino, trilha sonora e corpo de baile. Tal sincronia é capaz de tornar o Grupo reconhecido pela qualidade admirável. Sobre o aumento de público nas atrações, a professora revela que isso acontece devido às campanhas de popularização da dança. As professoras acreditam que a educação é o melhor meio para tornar a dança mais acessível a todos. “Aos poucos acontecem trabalhos sérios e obstinados. Nos Parâmetros Nacionais Curriculares, PCNs, a dança está vinculada à área da Educação Física Escolar”.


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Ensaio

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LAB Texto e fotos: Leopoldo Mangnus 5° período

Ao realizar este ensaio, percebi que há muito mais trabalhadores autônomos do que imaginamos em Belo Horizonte. Diversas imagens foram clicadas e as mais curiosas estão aqui. Pessoas de diferentes idades e gêneros ilustram estas páginas com muito fervor para trabalhar colocando à mostra sua arte, irreverência, ou seu próprio suor (de forma literal). Comerciantes, “toreros”, catadores de papel e artistas de rua. Cada um com seus desafios, responsabilidades, anseios e sonhos.


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teatro

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As crianças perdem a vez

Peças de teatro infantil estão cada vez mais carentes de patrocínio em Belo Horizonte

Estefânia Pires assíria Mirra 7º PERÍODO

Edição: ana Flávia tornelli

No universo mirim sobram imaginações, delírios e êxito quando o príncipe beija a princesa. As peças de teatro infantil representam o encantamento do mundo imaginado por uma criança e interpretado por pessoas reais, que apesar de não estarem em um universo fictício, são capazes de fazer com que os pequenos acreditem que tudo aquilo é verdade. A crise nesse segmento existe desde 1990. Para amenizar a situação, na mesma época, a empresa Coca-Cola resolveu criar prêmios e patrocinar várias peças de teatro infantil. Com essa iniciativa, o segmento viveu, durante um tempo, uma ótima fase, conseguindo atingir grande público nos espetáculos. Porém, ao final do século, por uma série de motivos, a empresa optou por parar de patrocinar as peças e o segmento, novamente, entrou em crise. É comum encontrar nos currículos dos artistas brasileiros de teatro, algumas peças infantis, mesmo porque, é através dessas peças que, geralmente, acontece o primeiro contato com os

palcos. Mas devido ao preconceito e pouco reconhecimento, a grande maioria destes profissionais acaba deixando o ramo e partindo para as peças adultas, onde sabem que serão mais valorizados. O ator, diretor e produtor de peças teatrais Fernando Gomes, iniciou sua carreira em 1995 com a peça infantil “Branca de Neve e os sete anões”. Para o diretor, existem peças muito boas e peças muito ruins, na mesma proporção. Ele acredita que o teatro como um todo sofre com a falta de público. Patrocínio Os teatros considerados adultos recebem bem mais investimentos dos patrocinadores em comparação com as peças infantis. Percebe-se que não existe esse tipo de dificuldade em países desenvolvidos, onde geralmente são liberadas verbas bastante significativas. Na maioria das vezes, os teatros infantis não contam com grandes celebridades, fator extremamente importante para

a publicidade e o investimento. Também não são vistos como peças intelectuais e sérias. Para a funcionária pública e diretora do grupo de teatro Faos, Joselma Luchini Chaves, que trabalha com teatro infantil/educativo, o artista de teatro infantil não é valorizado. “Pensam que quem faz teatro infantil é porque não sabe fazer adulto”, diz Joselma. Já para Fernando Gomes, no meio artístico não há preconceito, mas sim uma resistência. Os artistas preferem fazer

“Pensam que quem faz teatro infantil é porque não sabe fazer adulto” Joselma Chaves

peças adultas pelo prestígio. O diretor cita ainda a questão do horário. “As peças infantis acontecem normalmente no sábado ou domingo à tarde e os pais não têm tempo disponível para levar os filhos ao teatro”, afirma o produtor. Apenas uma peça de Joselma foi patrocinada ao longo de sua carreira: “Jojo e Palito em: O Descobrimento do Brasil”. Para as outras, ela utilizou o próprio dinheiro ou do grupo do qual faz parte. Os financiadores muitas vezes ficam receosos em investir nas peças. Para Joselma, o principal motivo é que a mídia, de forma geral, não divulga da mesma forma os espetáculos infantis, optando por enfatizar as peças

adultas. O ator e produtor cultural Fernando Bustamante, envolvido com o meio teatral há 21 anos e re s p o n s á ve l pela Cyntilante Produções, fala que produzir artes cênicas em Belo Horizonte é muito trabalhoso. Na maioria das vezes a Lei de Incentivo não beneficia todos os artistas, então a saída é investir do próprio bolso, acumular funções e criar projetos que permitam que o espetáculo se sustente. No caso das peças infantis, uma estratégia é investir em apresentações nas escolas. Público Curitiba é uma cidade que, desde 1980, estuda, debate e admira o teatro infantil. Justamente por isso, é a capital que mais investe nessa categoria. Para Luquini, o teatro infantil em Belo Horizonte está sem público. “Antes as escolas se interessavam por um bom espetáculo e levavam seus alunos. Hoje em dia elas buscam espetáculos que cobram ingressos mais baratos, não


Teatro

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FOTOS: LEOPOLDO mAGNUS

se preocupam em apresentar peças que além de divertir, educam”. A peça infantil “Aladdin e a Lâmpada Mágica”, adaptada no Rio de Janeiro, enfrentou dificuldades ao ser trazida para BH no segundo semestre do ano passado pelo produtor Emerson Ricardo. Segundo Emerson, fatores como divulgação e preço do ingresso foram cruciais para o ruim desempenho da peça. O produtor acredita que para conseguir um bom público é necessário um alto investimento na divulgação do espetáculo, além disso, os ingressos precisam estar a um preço acessível, de modo que caiba no orçamento das famílias. “Trabalhar com o público infantil é uma experiência excelente, mas em qualquer lugar sinto algumas dificuldades em relação a colocar o espetáculo em cartaz. Os pais normalmente acham o ingresso caro, já que tem que pagar para eles próprios e para os filhos”, afirma. O espetáculo, que ficou dois dias em cartaz no colégio Dom Silvério, foi assistido por pouco mais de 100 pessoas, um número bem menor do que o esperado pelo produtor, visto que o ambiente disponibiliza cerca de 350 lugares. Cenográfa, produtora e também integrante do grupo Cyntilante Produções, Cynthia Dias ressalta que 1/3 de todos os projetos apresentados pelo grupo foram aprovados no processo seletivo da Lei de Incentivo. Mas apenas metade desse número conseguiu efetivar o patrocínio. São vários os motivos que contribuem para a decadência do teatro infantil. A qualidade das peças atuais, a falta de informação e principalmente a violência na cidade, fazem os pais refletirem se é melhor sair de casa para levar os filhos ao teatro, ou se é preferível mantê-los em casa seguros. Joselma acredita que os pais preferem sempre levar os filhos para assistir os clássicos. “Se um grupo monta um clássico e oferece uma nova leitura, corre o risco de não agradar. Se conseguimos adaptar e mesmo assim manter a história clássica fica mais fácil para fazer sucesso.” Um estudo feito por psicólogos da USP mostrou que as crianças de hoje preferem cenas rápidas e vibrantes, mas que no final a moral seja a mesma, mesmo que essa moral fique nas “entre linhas”. É importante que os diretores criem formas de fascinar as crianças e os adultos ao mesmo tempo, convencendo a todos que é possível assistir peças infantis de qualidade.

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Leia a reportagem na íntegra no site: www.jornalimpressao.com.br

Cena da peça infantil Aladdin e a lâmpada mágica, adaptada no Rio de Janeiro e trazida a BH pelo produtor Emerson Ricardo

´ ˜ SE APRESENTAR NOS PROXIMOS PEÇAS INFANTIS QUE IRAO DIAS EM BH: Apesar da crise enfrentada pelo segmento do teatro infantil, com a constante dificuldade em conseguir patrocínio para os espetáculos, em Belo Horizonte, no mês de junho, três peças se apresentarão, segundo o site agendabh.com. Confira informações sobre essas peças

Alice ao Avesso Data: Dias 27, 28 e 29 de maio; 03, 04, 05, 10, 11, 12, 17, 18 e 19 de junho Horário: Sexta-feira e sábado às 21h, domingo às 19h Palácio das Artes R$ 30 inteira / R$ 15 meia

Barba Azul e outras Histórias Data: Dias 11 e 12 de junho Horário: Sábado e domingo às 16h Local: Chevrolet Hall R$ 10 inteira / R$ 5 meia

Chapeuzinho Vermelho Data: Dias 18 e 19 de junho Horário: Sábado e domingo às 16h Local: Teatro Dom Silvério Endereço: Av. Nossa Senhora do Carmo, 230 - Savassi R$ 10 inteira / R$ 5 meia

Um processo lento

Wilson Ferreira é um dos atores que participa da montagem

Diante da falta de apoio e financiamento, a Lei de Incentivo à Cultura pode ser uma alternativa. Porém, para conseguir inscrever um projeto na lei é necessário passar por um processo bem enraizado na cultura dos brasileiros, o burocrático. É preciso passar pelo processo de seleção para entrar no rol dos projetos que estão captando dinheiro. Este processo dá permissão para os inscritos enviar por correio, junto com toda a documentação, o material que exemplifique e ajude a mostrar a qualidade do seu projeto. É de suma importância para a comissão de julgamento que as planilhas com todos os gastos estejam devidamente preenchidas, isso conta muito ponto. A Diretoria da Lei de Incentivo à Cultura-DLIC/SEC procederá à pré-análise dos

projetos, com o objetivo de verificar todos os requisitos básicos exigidos para o enquadramento das propostas. Os projetos artístico-culturais apresentados à Comissão Técnica de Análise de Projetos (CTAP) serão analisados obedecendo à ordem de protocolo e baseado nos critérios pré-estabelecidos. Depois de selecionados, A CTAP publicará no Diário Oficial do Estado, no prazo de 100 (cem) dias após o término das inscrições, a relação de todos os projetos aprovados, com os nomes dos Empreendedores, municípios de origem e os valores aprovados. Os proponentes de projetos não aprovados terão até 15 (quinze) dias úteis após a divulgação, para contestação. Os pedidos serão avaliados e respondidos pelo Colegiado da CTAP.


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música

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O cu$to

de um di$co

Consumidores questionam altos preços do Cd, mas não levam em conta valor gasto para produzi-lo ana Borges isadora soares Nathalia Faria 7º Período

Edição: ana Flávia tornelli Um dos dilemas do momento em que vivemos é o valor que as pessoas atribuem às músicas. Desde que a tecnologia permitiu baixar os álbuns de suas bandas preferidas na internet, inaugurou-se o fim do império das gravadoras. Se por um lado, para o consumidor é sempre “interessante” ouvir música e não pagar nada por isso, por outro, o artista deixa de ganhar com a venda de seus discos e precisa pensar novas formas de obter lucro. Segundo Silvio Pietroluongo, diretor de rankings da revista Billboard, “o consumo de música nunca esteve em um patamar tão alto, só é necessário transformar isso em receita”. No Brasil, por exemplo, as pessoas ainda não estão acostumadas a comprar músicas e esse é um costume que precisa ser ensinado aos

consumidores. Os preços dos CDs, entre R$20 e R$30, há muito tempo são questionados. Mas é raro alguém pensar o quanto custou produzir aquela obra. Para sabermos o valor pelo qual um disco pode ser vendido, através de faixas na internet ou o cd físico, precisamos entender o que é gasto nas etapas de produção. A cantora Beatriz Rodarte lançou seu disco Circo de Ilusões no final de 2009. Ela conta que demorou três anos e meio para produzi-lo, entre seleção das músicas, seleção de equipe de profissionais, produção de arranjos, gravação dos instrumentos, gravações de vozes, mixagem, produção de capa, processos fonográficos e lançamento.

realidade musical e financeira. “Uma produção de disco não é barata, então não aceita investimentos errados; isso pode causar um atraso ou talvez até um abandono de projeto” completa a cantora. Para Beatriz, outra dificuldade é a gestão das pessoas envolvidas, pois é necessário tornar o ambiente de trabalho um local agradável e de muita criatividade para que a produção seja fidedigna. “Criar um planejamento de datas e metas é a forma mais prática de organizar o processo”, afirma. De acordo com o produtor musical Sérgio Giffoni, para gravar um disco é necessário passar por cinco etapas básicas: pré- produção, gravação, mixagem, masterização e duplicação industrial.

Equipe Beatriz enfatiza que a primeira dificuldade é selecionar uma equipe competente e compatível com sua

Etapas de produção O processo de préprodução é um dos mais importantes. É o momento onde a banda, juntamente com o produtor musical, de-

fine o repertório a ser gravado e faz os ajustes necessários nos arranjos das músicas, para que, quando forem gravadas, soem o me-lhor possível. “É neste momento que se corrigem os problemas de harmonia e ritmos. É o tempo que a banda e o produtor têm para deixar as músicas realmente prontas para serem gravadas e virarem um disco coeso”, explica o produtor. A gravação é o registro da captação dos instrumentos, que é feita por microfones e cabos, passando por equalizadores, pré-amplificadores, compressores e posteriormente armazenada em uma plataforma digital (computador) ou em gravador analógico (gravador de fita). A mixagem é a etapa do processo da criação de uma faixa de áudio na qual o material registrado é trabalhado,

baseando-se no balance (a relação de volume entre os elementos musicais), faixa de freqüência, distribuição dos elementos musicais dentro do estéreo e sua coerência em mono (panorama), adição de ambiência e profundidade à música (dimensão), adequação do volume entre as partes da música (controle dinâmico) e aqueles “detalhezinhos” que fazem a pessoa querer ouvir a música de novo. A masterização diz respeito à preparação do material mixado em estúdio para a fase seguinte, a duplicação industrial. Porém, na prática, é muito mais do que isso. É nesta fase que as diversas músicas, às vezes gravadas e mixadas em diferentes estúdios e por diferentes engenheiros, são equalizadas, balanceadas em volume e faixa dinâmica, checadas contra ruídos e imperfeições e, por fim, seqüenciadas de maneira a tornar o que antes era apenas uma coleção de músicas, em uma obra coerente e homogênea. (TAMBÉM PARTICIPOU RAFAEL SOUZA)


Música

Impressão

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Belo Horizonte, junho de 2011

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Feito com as próprias mãos Visando diminuir os gastos para produzir um CD, alguns musicos tem optado por abrir mao dos estudios. Segundo o técnico Fabrício Galvani, para um projeto básico de um cd há uma previsão de 16 horas por música, incluindo gravação, mixagem e masterização. Ou seja, um disco com 12 faixas, custaria, em média, R$10,5 mil. A produção musical é paga à parte e deve ser combinada diretamente com o produtor musical. Cada profissional estipula seu preço, mas a média cobrada gira em torno de cinco a 10 mil reais. Já, as cópias do disco são feitas por empresas especializadas (Sonopress, por exemplo) e 1000 cópias saem aproximadamente por R$3,6 mil. Os artistas fazem um investimento e esperam um retorno com a venda de discos. “Claro que hoje precisamos entender os novos caminhos da música. Já produzimos imaginando que o lucro virá de outras formas e não ne-

cessariamente através de vendas do CD físico”, enfatiza Beatriz. Para abaixar o custo de produção e ainda proporcionar maior liberdade aos envolvidos, muitas bandas e cantores passaram a produzir seus discos em casa. Foi o que fez o músico Cabeto em seu micro “homestudio”, onde tudo é gravado direto no computador, através de programas como Sonar e o Sound Forge. Defendendo a produção no estúdio, Galvani destaca que a tecnologia nunca substituiu a criatividade. “No processo em estúdio, temos os músicos, o produtor musical, o engenheiro de gravação, o designer gráfico, o produtor executivo, dentre outros. Cada uma destas pessoas tem a criatividade e a competência necessárias para tornar um apanhado de músicas em um bom disco.” Para Beatriz, “na era tecnológica que vivemos hoje, é facílimo gravar um disco em casa, mas para produzir um

lEOPOLDO MAGNUS

disco de qualidade, é preciso possuir bons equipamentos e saber operá-los com excelência. Tem o lado positivo da praticidade de se fazer um disco em casa e fugir dos processos burocráticos de um grande estúdio, mas existe também o lado negativo do aumento de ‘não profissionais’ no mercado vendendo ‘gato por lebre’”. Alternativa Na última página do encarte do seu novo disco está o aviso: “Este CD é um disco urbano. Urbano porque nele você encontra sons de portão batendo, carros passando, ônibus buzinando, telefone tocando, a Layla latindo... Mas tá valendo.” É assim, com muito bom humor, que o músico Cabeto avisa aos ouvintes que seu disco contém algumas falhas técnicas, mas, antes de tudo, é um registro de sua obra. Nascido em Caratinga, interior de Minas Gerais, Cabeto mora na capital há mais de trinta anos. Músico desde

A mesa de som é utilizada na masterização do áudio

a adolescência, cursou jornalismo e hoje divide seu tempo entre suas duas paixões: as letras e a guitarra. “Cadê o Trem?” é o título do seu terceiro disco. Por questões financeiras, optou por fazer todo o trabalho dentro de sua própria casa. “Tenho um micro estúdio ou um pseudo-estúdio, pois não há isolamento acústico nem aparelhagem para som. Tudo é gravado direto no computador, usando Sonar

e o Sound Forge.” Cabeto não nega que em um estúdio profissional a questão do áudio é muito mais elaborada, devido ao isolamento acústico e uso de equipamentos modernos, porém tudo isso é inútil se os profissionais do estúdio não souberem realizar a tarefa. “Grandes discos foram gravados em casa, como o Exile on main street, dos Stones, ou o último do David Gilmour, que foi gravado num barco.

Críticas

Divas contemporâneas Camila França 5º período

O parque Municipal brilhou, literalmente, no segundo dia da edição do Conexão Vivo, no final de maio. Vestida com um macacão dourado, Karina Buhr cintilava, cantava e exibia sua performance interpretativa no palco do evento musical que transforma a cidade. Doce e excêntrica, duas palavras apenas descrevem uma artista multitalentosa. Performática e com um sotaque marcante, a baiana/ pernambucana mostrou o som experimental e as letras pra lá de inusitadas do álbum “Eu menti pra você”. Ver Karina em cena é incrível e diferente. A cantora foge do regionalismo, usa e abusa do espaço físico que encontra e provoca estranheza e encantamento na plateia, que se diverte com as suas loucuras no palco. Outra musa moderna que esteve estonteante no mesmo dia foi Tulipa Ruiz. Com sua voz suave, a cantora apresentou “Efêmera”, seu primeiro disco, do início ao fim. Além de curtir o frio e a natureza, quem estava no parque cantou e se deliciou com a delicadeza de suas composições e com seu

Longe de acabar fOTOS: DIVULGAÇão

ritmo singular. A surpresa ficou para o final do show. Tulipa conseguiu arrancar risos e emoção na plateia quando levou Karina Buhr e seu modelito brilhante para interpretar a canção “Brocal Dourado”. Enquanto as duas mostravam intimidade e irreverência, a cena foi vista sob aplausos e diversão. Nada efêmeras, as duas novas promessas da musica atual foram um destaque do festival. As originais divas da contemporaneidade já mostraram na estreia que vieram pra ficar: o público e a música brasileira agradecem.

Rodrigo Espeschit 7º período

Banda Skank completa 20 anos de estrada e sucesso

Karina Buhr (esquerda) e Tulipa Ruiz (direita) formam a nova cara da música brasileira

O show celebrou os vinte anos da consolidada carreira construída pelos belo-horizontinos do Skank. Sucesso em todo o Brasil, os rapazes pareciam aqueles mesmos da época do Pitágoras, quando se conheceram. O cenário era parecido: uma universidade, um público formado por estudantes famintos por boa música e quatro caras querendo fazê-la. No dia 29 de maio, o Skank trouxe ao Campus Estoril do UniBH clássicos do pop rock nacional, com uma pitada de ska e reggae, que todos sabiam de cor. Músicas como Garota Nacional, Pacato Cidadão, É uma Partida de Futebol, Jack Tequila e É Proibido Fumar faziam o público relembrar os primórdios da banda. E não foi só a nostalgia que permeou o show: o som era mesclado com músicas de trabalhos recentes do quarteto que animavam as milhares de pessoas presente. Com mais de cinco milhões de CDs vendidos em toda a carreira, a impressão que eles deixaram foi que o som está longe de acabar e que a estrada ainda tem muito chão pela frente. Sorte a nossa!


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Crônicas

Belo Horizonte, junho de 2011

Impressão

Mortalha engelhada Lucas Oliveira 7º período

Era um fim de tarde triste, e o cheiro de morte, hospedeiro permanente de um necrotério comum, agora era acompanhado de um outro qualquer, mais forte, visceral, cortante. Investia àquela casa de azul triste e desbotado o encargo de mais um criminoso impiedoso. Rompendo o silêncio de um dos corredores da ala central, o cadáver ganhava abrigo temporário. Ouvia-se, não muito longe dali, dois homens trajados de um branco amarelado cochicharem sobre o novo morador. As rodas do carrinho de metal invadiam o piso frio com certa velocidade, e o corpo deixava uma sala ampla para ganhar espaço entre os mortos mais antigos, condôminos de um quarto bem mais gélido e inóspito. Passava das cem horas de estadia e nenhum membro da família dera notícia. Era preciso identificar, preparar e encaminhar o defunto ao enterro, onde receberia uma lápide e as honras da ocasião, como uma pessoa qualquer. A bala que atravessara o crânio do rapaz já havia sido extraída e o rosto agora apresentava um aspecto ainda mais melancólico, tosco, carrancudo. O peso das doze mortes talvez tivesse abatido o semblante do algoz, mas ele parecia não se importar com o esquecimento dos parentes ou a possibilidade de vir a ser indigente. No saguão do necrotério, um dos médicos apreciava a companhia de um cigarro, quando visualizou o encar-

Fotos: divulgação

regado daquele turno caminhando em sua direção. Tragou profundamente e arremessou a guimba longe prevendo o diálogo iminente. - Não veio ninguém? – indagou o responsável. - Ainda não. E receio que não por agora. – respondeu o médico mirando o infinito do corredor escuro com esperteza. - É...essa imprensa podia dar sossego pra gente. Qualquer dia invadem aqui, aí eu quero ver! – advertiu-o. O médico demonstrou cansaço e respondeu com os olhos. Procurou outro cigarro no bolso esquerdo do jaleco surrado, e deu de ombros ao supervisor. Este, impávido, insistiu: - Imagina só a família desse cara. De repente até querem vir aqui buscá-lo, mas o medo de retaliações e o assédio da imprensa.... – ia concluindo, quando o doutor o interrompeu. - É um ser humano. Com defeitos ou não, é humano. – declarou encerrando a conversa num tom seco. O encarregado sumiu no corredor, deixando o ruído de seu calçado repetindo na cabeça do médico, que degustava outro cigarro e tentava não pensar na atrocidade daquele caso. Se deteve diante de um pensamento infeliz. Queria poder assistir à cena, encarar o rosto desesperado das crianças, entender o ódio que tomara o rapaz naquela fatídica manhã. Balançou a cabeça, afastou aquela recomposição. Voltou ao trabalho, e transferiu o jovem para uma câmara ainda mais gelada. Ele ia precisar.

Tique-Taque Marcos Vinícius Pereira 6º Período

Tique-taque... Tique-taque... O relógio inunda a sala com seu tiquetaquear incessante. Oito da noite. Logo ela virá. A mesa já está posta. Dois lugares prontos, dois pratos postos, dois cálices preparados para receber o vinho. Dois lugares vazios... Olho para o relógio que continua com aquele tiquetaquear contínuo... Tique-taque... Tiquetaque... Olho pela janela os carros a passar pela rua, quem sabe num deles ela estará, não, ela não virá de carro, mora perto, virá a pé, são poucas quadras, mas parece tão distante... tiquetaque... tique-taque... o tempo passa, o tempo não para, tiquetaque... oito e meia, como ela

demora, a comida vai esfriar, espaguete ao molho sugo, seu prato predileto, tique-taque, tique-taque, olho o relógio, quando ela chegará? Do outro lado da rua a campainha toca, será que ela vai tocar a campainha ou entrará com a sua cópia da chave? Não sei, só sei que o relógio continua a me torturar com o seu tiquetaque, tique-taque... o que vou dizer quando chegar? “Oi, tudo bem?”, “oi”, “sente-se”, “obrigada”, “você está linda”, “oh! obrigada”, “quer um pouco de vinho?”, “sim, obrigada”, “é um Château Haura”, “oh!”, talvez houvesse um oh!, talvez dois, quem sabe... tique-taque... tique-taque... “vamos comer”, “tudo bem”, “fiz seu prato preferido”, tique-taque... tiquetaque... “está maravilhoso”... tique-taque... “obrigado”...

tique-taque... “um brinde a nós”... tim-tim... tique-taque... tim-tim... tique-taque... olho para o relógio, continua a tiquetaquear, continua a me torturar sem parar, o tempo não pára, eu não paro, quando ela vai chegar? Tique-taque... tuque-tique... téque-taque... tique-taque... tique-taque... a campainha toca... blém... tique-taque... é ela... blém... tique-taque... ela chegou... tique-taque... finalmente o sofrimento acabou... tique-taque... tique-taque... tique-taque...


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