FOTO: ELLER ZANT
Jornal do Laboratório do Curso de Comunicação Social do UniBH Ano 39 - Número 217 - Dezembro de 2021 - Belo Horizonte - MG
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O MAPA CULTURAL QUE NOS TRANSPORTA PARA FORA DA BOLHA Podendo retornar às atividades culturais na capital mineira, o Caderno Do!s do Jornal Impressão servirá como guia para diversos espaços alternativos Por Emannuelly Gomes Depois de quase dois anos daquilo que seriam apenas 15 dias de quarentena, isolados, para nos prevenir contra o novo coronavírus, finalmente, começamos a ter uma perspectiva de voltar ao normal. Durante esse período, foi necessário que as pessoas se isolassem em suas casas e evitassem ambientes movimentados para não causar aglomerações e, assim, espalhar o vírus. Como forma de manter o controle, as prefeituras de todo Brasil decretaram o fechamento de todo e qualquer lugar e/ou evento que pudesse motivar a concentração de pessoas, até que boa parte delas estivessem vacinadas. Até o momento em que este texto foi escrito, mais de 55% da população brasileira já estava totalmente vacinada. Em Belo Horizonte, segundo a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais, mais de 70% das pessoas já se imunizaram por completo. As vacinas atuam na prevenção, reduzindo a possibilidade de infecção e, se por acaso ocorrer a contaminação, a vacina pode evitar que o vírus evolua para quadros mais graves e até mesmo a morte. A propósito, se você, leitor, ainda não se imunizou, em respeito à sua vida e à vida daqueles que você ama, vacine-se! Mas, por que estou falando de vacina? Porque graças à eficácia das vacinas e ao número de pessoas imunes, podemos respirar velhos e novos ares, ir ao barzinho com os amigos e frequentar eventos. Ainda não podemos sair sem máscara, no entanto, os bares e restaurantes da capital mineira já podem funcionar com capacidade total e não será mais exigida distância mínima. Além disso, agora, a presença de público em eventos e nos estádios de futebol é de 100% da capacidade. Essas medidas são músicas para os ouvidos do belorizontino consciente e consumidor de cultura e lazer, que passou tanto tempo confinado em casa. Confesso que, para mim, o início do isolamento social foi bem difícil pela falta de perspectiva do futuro. Conforme os meses foram passando, o choque de realidade e as crises me fizeram perceber que era além do que sen-
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tia. Entendi que não havia aproveitado minha vida como realmente gostaria e, se porventura tivesse me infectado e me entregado ao vírus, não teria feito diversas coisas, nem conhecido lugares que tenho vontade. Com isso, decidi fazer uma lista de desejos com tudo que espero fazer depois que o isolamento social acabar. E, para ter um guia bem completo preciso, claro, estudar o máximo de espaços que correspondam aos meus interesses. Recentemente, tomei conhecimento do Mapa Cultural BH, um site colaborativo, mantido pela Prefeitura de Belo Horizonte, que tem informações oficiais e da população, que pode se cadastrar e divulgar suas propostas. De maneira geral, a plataforma tem informações sobre eventos, espaços, agentes e projetos culturais de toda região de BH, com o objetivo de gerar informações confiáveis e atualizadas, de maneira acessível.
Mapa Cultural BH tem informações sobre eventos, espaços, agentes e projetos culturais de toda a região. Imagem: reprodução.
A página é bem intuitiva, cada seção possui um mapeamento que destaca o local exato do evento ou espaço e, ao clicar, a pessoa tem acesso aos detalhes. Ainda é possível refinar a busca de acordo com seus interesses. Nos eventos, por exemplo, dá para filtrar pela linguagem e pela classificação. É impressionante a riqueza de dados concentrados na página. Porém, o mais interessante é que ela nos leva para além do tradicional. Certamente, é uma ferramenta que vai me ajudar daqui em diante. Quis falar dessa plataforma porque ela nos coloca em um lugar de inquietude, desbravando o desconhecido. E fugindo do comum, surge a edição 217 do Caderno Do!s do Jornal Impressão. Este dossiê de cultura vai elencar diversos pontos e atividades culturais alternativos de BH, mostrando locais e grupos que poucos conhecem. Preciso dizer que minha lista de desejos agradece. Estou ansiosa para poder visitar todos os bares temáticos da nossa capital, também quero muito passear pelas áreas verdes abertas ao público e, quem sabe, fazer um piquenique. Nunca fiz, acho que até vou adicionar às metas.
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Enfim, não tinha momento melhor para esta edição. As próximas páginas são como pílulas de revigor, após tudo que nos ocorreu, temos a esperança de poder viver novamente e não apenas sobreviver. Todas as coisas que passam por nós deixam cicatrizes, não vai ser possível apagar da memória os momentos de tensão vividos durante o isolamento social. Podemos, entretanto, aproveitar a vida, o agora. Fazer listas de desejos e realizá-las, ou não. O importante mesmo é reconhecer aquilo que gostamos, mas não se limitar a isso, sair das bolhas em que nos colocamos e conhecer coisas, lugares, pessoas e culturas novas.
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TOUR TEMÁTICO PELA CAPITAL MINEIRA Convide os amigos, baixe um app de transporte e vamos passear pela capital mineira para tomar uns goró, conhecer lugares diferentes e jogar conversa fora Por Dryelle Scarlet e Queren Ballarini Como dizia o cantor Alexandre Peixe, em 2008, “já que Minas não tem mar, eu vou pro bar”. Em 2021, a música ainda é um slogan para a terra mineira. A capital, Belo Horizonte, é reconhecida por muitos como a capital dos bares. Segundo dados do registro de atividades econômicas da prefeitura de Belo Horizonte (PBH), classificados com base no Cadastro Nacional de Atividades Econômicas, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a capital tem, atualmente, mais de 9,5 mil estabelecimentos cadastrados. O setor de Geoprocessamento da Prodabel, responsável por gerar as informações espaciais da cidade, revela os bairros que concentram o maior número de estabelecimentos.
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BAIRROS ONDE SE CONCENTRAM O MAIOR NÚMERO DE BARES NA CAPITAL MINEIRA
REGIÃO CENTRAL 704 SAVASSI 235 SANTA EFIGÊNIA 192 BARRO PRETO 169 LOURDES 157 BARREIRO 142 SAGRADA FAMÍLIA 138 PRADO 132
Bairros que concentram o maior número de bares em BH. Dados: PBH. Arte: Bianca Victória
Com tantos bares assim, não é FLORESTA 132
PADRE EUSTÁQUIO 13O
difícil botecar pela cidade. Se pedir dicas a um belorizontino sobre as principais atrações da capital, é bem capaz de ouvir como resposta, logo atrás do Circuito Cultural da Praça da Liberdade, os nomes de alguns bares. Dentre
cacau
os 9,5 mil estabelecimentos cadastrados, encontram-se os bares temáticos, como The House
Food & Fun, localizado na Av. do Contorno — Funcionários, uma casa de dois andares com decoração de diferentes temas da cultura pop. No primeiro andar, um dos principais cenários temáticos é da série Friends, com o clássico sofá laranja do Central Perk, seguido do carrinho de bagagem do Harry Potter, em referência à Plataforma 9 ¾. No toalete unissex, há itens de acessibilidade PNE (pessoa com necessidades especiais), e tem objetos relacionados ao mundo bruxo, como os cartazes de procurado, além de transmitir música temática. Por todos os ambientes do The House Food & Fun há referências à personagens, filmes, cantores, atores, desenhos e séries de sucesso, através de quadros, imagens e objetos, dentre eles estão os Simpsons, Pokémon, Chaves e Elvis Presley.
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Decoração do The House Food & Fun traz referências a inúmeros produtos culturais. Foto: divulgação.
Já na varanda do edifício Maletta, na Av. Augusto de Lima — Centro, tem o Gráffica Bar, um estabelecimento que, durante o dia, funciona como uma gráfica e, à noite, um bar. A decoração conta com mesas feitas de materiais antigos, ligados ao universo gráfico, como uma guilhotina, uma máquina (offset) e gavetas tipográficas. Além de uma máquina tipográfica Heidelberg, tem também uma luminária feita de espiral, quadros de chapas, bistrô feito de suporte de papel e uma pequena exposição de peças usadas. Após passear pelo Funcionários e pelo Centro, vamos fazer uma parada no Trip Food - Comida Mochileira, que conta com dois estabelecimentos, um localizado no bairro Floresta e outro no bairro União. Tamara Lacerda, de 25 anos, e Lucas Meireles, de 27, mudaram as suas vidas após fazer um mochilão por diversos países. Juntos, apostaram na ideia de trazer exatamente o clima de viagem que tanto adoram, não apenas nos sabores, mas também no ambiente. Assim, os sócios transformaram a paixão por conhecer culturas e sabores diferentes em uma oportunidade de negócio. Os jovens empreendedores decidiram começar o restaurante Trip Food, que conta com um cardápio variado com diferentes comidas de rua de vários países. Neste clima de viagem, junte a sua turma e bora fazer uma parada no México. Mas calma, para este local não é preciso de passaporte, pois o The Mexican Gastro Pub fica no bairro Sagrada Família, na Avenida Silviano Brandão. La Casa Más Caliente Del Mundo! Com estilo rústico e artesa-
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nal, composto por estampas e cores vibrantes, o ambiente traz ao público a ideia de estar no México. Entre guacamoles e tequilas, a Mexican é uma das principais casas especializadas em cultura e gastronomia mexicana na região de Belo Horizonte. O local conta com dois andares, duas pistas de dança, dois espaços com serviço completo de bar, além de estrutura de palco, luz e som para receber os djs e bandas de destaque regional.
The Mexican Gastro Pub é uma das principais casas especializadas em cultura e gastronomia mexicana na região de Belo Horizonte. Imagem: divulgação.
E AÍ? JÁ CURTIU ALGUM LUGAR? ENTÃO SEGUE VIAGEM, QUE TEMOS MAIS UM CADINHO PARA MOSTRAR. O nosso próximo ponto de encontro é ligado a jogos. Se você é daqueles que adora uma competição, comida temática e bons drinks, apresento o Funtasy Bar e Jogos, localizado na rua Tomé de Souza, bairro Savassi. Com a proposta de ser um lugar de diversão, o local conta com mais de 700 opções de jogos de tabuleiros, e você pode escolher jogar no local ou alugar para se divertir em casa, além disso, o espaço conta com explicadores de jogos que ajudam na escolha do jogo e ensinam a jogar. Mas, caso o Funtasy esteja cheio, não fique triste. Ali pertinho, no bairro Santo Antônio, na rua Antônio Dias, está o LudoCafé, também um espaço de tabuleria. A cafeteria une a diversão dos jogos com um ambiente aconchegante e intimista. “Escolhemos esse imóvel porque ele nos permite criar várias salas”, diz o sócio-proprietário Renato Oliveira. “Assim, podemos abrigar tanto grupos maiores e mais barulhentos, quanto casais a procura de uma noite a dois.” Cada jogador paga 10 reais pelo aluguel dos jogos e
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pode escolher qualquer uma das 130 opções disponíveis. O local também conta com explicadores. Mas não só de cerveja vivem os mineiros, por trás de cada bar existe uma história e, aqui, apresento o Fundos da Floresta, um espaço mágico! Com a temática de fadas, bruxas, duendes e gnomos, no meio do Santa Tereza, na rua Paraisópolis. Desde a adolescência, Humberto Gonçalves de Souza, de 53 anos, graduado em Ciências Biológicas, tinha o desejo de ter um bar, mas algumas tentativas não vingaram. Foi com seus 38 anos, sentado no quintal de sua nova residência, observando os cogumelos que nasciam, ao ouvir no rádio a música “O vira”, dos Secos e Molhados - que falava de sacis, fadas e uma noite na floresta que decidiu criar o seu novo bar. O nome veio de uma reportagem feita por um jornalista do bairro. “No final do século XIX, o pessoal chamava o Santa Tereza de fundos da floresta, era um apelido, pois ainda não tinha constituição de bairro. Eram algumas casas espalhadas ao fundo do bairro Floresta, por isso eu achei muito romântico e muito bonito”, relata Humberto. Humberto se associou ao seu marido, Marcio Odier, que ficou responsável pela cozinha, já que tinha habilidades culinárias. As ideias dos pratos remetem ao período medieval. Na época, ao montar um banquete, não havia o conceito de entrada, prato principal e sobremesa, isso passou a sobressair em um período mais moderno, com a culinária francesa. Antes, a comida era um misto entre doce e salgada nas mesas, e as pessoas se serviam. “Assistimos a programas gastronômicos e fomos elaborando os dois carros-chefes da casa, o Feitiço da Lua e o Doce Veneno. Ambos são pratos que fazem essa mistura”. A cada prato que os empreendedores montavam, convidavam os amigos para degustar e opinar, assim os pratos foram surgindo em um ambiente familiar. Os nomes das iguarias surgiam na medida em que os pratos eram elaborados, Humberto e Marcio buscavam, no vocabulário do bruxismo, termos que coincidiam com aquilo que estavam criando. Um exemplo é o prato Doce Veneno, um nome que remete à poção mágica, que traz na receita a combinação de uma costelinha de porco assada no suco de laranja e depois cozida no molho agridoce (açúcar mascavo e vinagre), servido com a mandioca refogada na manteiga de garrafa. O bar iniciou pequeno, ao fundo da casa de Humberto, e com o crescimento da clientela, se mudou e passou a usar partes da casa, tornando-se um ambiente dividido e, em cada área, há uma decoração específica. Na entrada do bar tem o convém das bruxas, um ambiente decorado com bruxinhas e a madrasta da Branca de Neve. Já na parte de cima, ao fundo, o ambiente conta com uma fonte no formato de fada. “Nós pintamos essa fada de cor morena, com a pele bem miscigenada, bem brasileira, para diferir das fadas europeias, batizada de Narizinho em homenagem ao Sítio do Pica-Pau Amarelo.” O local é chamado Reino das Águas Claras. Na área principal, embaixo das escadas, está esculpida uma
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floresta encantada, a parede do ambiente ao lado está decorado com temas dos contos de fadas. Com 12 anos no mercado, o estabelecimento conta com rock and roll ao vivo e, por conta da temática, são tocadas no fundo, músicas celtas. O funcionamento é sexta e sábado, a partir das 19 horas.
Fundos da Floresta traz temáticas de fadas, bruxas, duendes e gnomos. Imagem: divulgação.
MAS UAI, CADÊ O RESTO DOS BARES? Calma sô, que lá vem mais uma leva de lugares para apreciar em BH. Voltando para a Savassi, encontramos, na rua Antônio de Albuquerque, o Café com Letras e a Livraria de Rua, ambos estabelecimentos trazem um ambiente recheado de livros, jazz ao vivo, comidas deliciosas, drinks e, claro, diferentes categorias de café. Além disso, a capital mineira tem bar para todos os estilos, por isso, se você gosta de algo mais punk, apresento o Santeria Bar, que traz, em sua temática e cardápio, elementos influenciados pelos mexicanos. Sua decoração é inspirada no candomblé, com caveiras e santos espalhados pelas paredes. Essa influência também é visível no nome de pratos, como o carro-chefe O Ebó de Frango, e os drinks Vodoo e Mula Mexicana. O bar está rua Fernandes Tourinho, também na Savassi. Se essa não é sua praia, na mesma rua do Santeria encontra-se o Redentor Bar, uma união inusitada entre a cultura carioca e o espírito mineiro. A combinação não fica apenas nas paredes da casa, pois o cardápio também traduz a mistura entre Rio de Janeiro e Belo Horizonte. O estabelecimento serve diversas alternativas de chopps e drinks temáticos para acompanhar os pratos e petiscos sugeridos no menu. Além da boa comida, o ambiente traz músicas ao vivo, como bossa nova, samba e bossa jazz. E assim fechamos o tour temático da capital mineira, pois não importa o nome, bar, boteco, bitaca, bodega, pub, o certo é que o “butiquim” marca presença na agenda dos belorizontinos, seja dia ou noite, o que não falta é opção para curtir.
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O TEATRO ESTÁ ONDE O ARTISTA VAI Como ficaram grupos e espaços teatrais alternativos da capital mineira durante a pandemia Por Íris Aguiar O teatro é uma manifestação cultural antiga. Existem teorias de que suas primeiras aparições se deram nas sociedades primitivas, que acreditavam e realizavam danças imitativas em rituais. No século IX a.C., o teatro também aparece na Grécia Antiga, onde os espetáculos possuíam características diferentes das que conhecemos atualmente, sendo normalmente endereçados a Dionísio, o deus do vinho e da alegria. Segundo a professora Lucilene dos Santos, especialista em dança, história da arte, interpretação, teatro e formada em Desenho e Artes Plásticas, o teatro não é um tipo de representação artística que nasce na Grécia, mas que é anterior a este período e faz parte de diversas culturas. “Desde que a humanidade se percebe como humanidade, o sujeito vem no processo de trabalhar as artes cênicas, mesmo que a gente tenha o referencial de grandes obras que tenham chegado até nós, como as obras gregas, existem outras culturas que têm o teatro como uma arte extremamente forte. Existem, no teatro, elementos que vieram de países africanos e de origem muçulmana”, responde. A evolução desta manifestação cultural se deu ao longo dos anos, em que o teatro foi ganhando novas características, formas de apresentação e novos públicos. A professora explica que o teatro está sempre em um processo de aprimoramento, assim como o próprio ser humano, considerando que essa arte faz parte da cultura humana, estamos em uma evolução constante. “O teatro sempre esteve como uma forma de falar dos mais variados assuntos ou de fazer ações com os mais variados assuntos”, afirma Lucilene. O teatro contemporâneo, por exemplo, apresenta-se muito com a proposta de trazer textos que iniciem discussões e incitem o público a pensar, além de manter características como a presença de personagens, literatura, imitação e entretenimento. Entretanto, não é apenas este papel que cabe a esta manifestação artística, é parte da cultura humana e não se prende a um dever de estimular sentimentos na audiência. “Mesmo que, como todo elemento artístico, a gente ache que conseguimos viver sem arte, é uma coisa que faz falta para a nossa psique, para os nossos desejos. É uma maneira de conseguirmos viver em meio a realidade dura da vida, e até mesmo percebê-la. A importância do teatro para o cená-
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rio cultural é a mesma coisa que dizer qual a importância da cultura para a humanidade. Todos somos produtos da cultura do meio onde nós vivemos, a cultura do lugar de onde venho fala de quem eu sou, dos meus desejos, fala até dos meus medos e anseios. O teatro é cultura, um produto humano, e sem cultura nós não temos muito o que dizer como seres humanos”.
ONDE ESTÁ O TEATRO? A palavra teatro, no entanto, não diz respeito somente à arte, mas também se refere ao espaço físico em que manifestações artísticas acontecem. Alguns dos primeiros espaços, normalmente, seguiam um padrão arquitetônico, ao ar livre, com palco e plateia em construções semicirculares ou como o palco italiano. Os teatros contemporâneos que estão presentes no cenário clássico cultural também seguem padrões arquitetônicos de definição de palco e plateia, entretanto, espaços culturais afastados da cena cultural tradicional se mostram como espaços teatrais alternativos, que são utilizados para a apresentação de peças teatrais e outras manifestações culturais. Fazer teatro fora do espaço convencional também faz parte da história do teatro, e as peças realizadas dentro de um espaço cultural reconhecido de Belo Horizonte, como o Palácio das Artes, são tão importantes para a cultura quanto os espetáculos feitos em praças, escolas ou outros espaços. “O teatro é onde o artista vai. Ele pode acontecer em qualquer lugar e em qualquer perspectiva. Não existe uma convencionalidade no espaço teatral, é aquele espaço da construção de um coletivo, que tem a ver com o que o grupo quer passar. Não existe absolutamente nada que diferencia um teatro que acontece na rua ou dentro de um espaço físico, o que vale é a intenção do coletivo, dos atores”, reflete Lucilene. O teatro, muitas vezes, resgata elementos ou aspectos culturais que de alguma forma foram esquecidos pelo tempo ou fazem parte de um contexto contemporâneo ao espetáculo. A cultura carrega grande carga de tradição e história de um povo, sendo assim, ele é um importante precursor nesse âmbito, já que através do conjunto de expressões artísticas, literatura e artes cênicas, é possível contar narrativas e entreter. As manifestações culturais, artísticas, sociais e políticas realizadas são também uma forma de ensinar e agregar aos cidadãos conhecimentos essenciais que envolvem cultura, sociedade, política e economia, e através da interpretação de personagens e situações, os sujeitos podem se identificar, pensar e entender mais sobre o contexto em que vivem. O teatro no cenário cultural de Belo Horizonte vai além dos espaços reconhecidos na capital, tanto como espaço, quanto como arte cênica, essa manifestação artística se mostra presente em locais pouco conhecidos pela população geral.
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TEATRO ESPANCA, VIOLÊNCIA POÉTICA E DOCE A capital mineira tem diversos espaços reconhecidos na cena cultural teatral, como o Palácio das Artes, o Teatro Francisco Nunes e o Teatro Marília, além de outros auditórios de escolas privadas, onde ocorrem apresentações de diversos grupos teatrais. Mas para além deles, existem locais que estão abertos ao público e que buscam abrir portas para as manifestações culturais de qualquer tipo, saindo deste espaço já conhecido pela massa belo-horizontina. Um destes espaços é o Teatro Espanca, localizado na rua Aarão Reis, no Centro de Belo Horizonte. O grupo surgiu, primeiramente, com um grupo de teatro, em 2004. Um dos atuais coordenadores do espaço, Alexandre de Sena, contou um pouco da história do grupo e deste espaço que, hoje, é usado para apresentações de teatro e outras manifestações culturais.
Teatro Espanca, entrada principal na Rua Aarão Reis. Imagem: Pablo Bernardo.
“O grupo surge em 2004, com a realização de uma cena curta chamada Por Elise, no Festival de Cenas Curtas, no Galpão Cine Horto, Região Leste de Belo Horizonte. Era uma cena de 15 minutos e que teve muito sucesso em sua apresentação. Então, as pessoas envolvidas na apresentação decidiram montar um grupo devido a esse êxito. Assim, esse grupo montou um espetáculo chamado Por Elise, que viajou o país realizando apresentações”. Durante a montagem do espetáculo, Alexandre conta que foi o momento em que se pensou o nome do grupo. No enredo do espetáculo, tinha uma senhora que morava em uma região periférica e, em sua casa, havia um quintal com um pé de abacate grande. Os abacates caíam dessa árvore e acabavam acertando a cabeça de algumas pessoas. A senhora, então, espalhava colchões para amortecer a queda dos abacates e dizia que existiam coisas na vida que espancam, mas que espancam doce.
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“A peça espancava de uma forma muito doce, até pela dicotomia do que temos pela visualização de espancamento e do que é doce. Então o grupo passou a se chamar Espanca. A partir desse momento, o grupo passou a estudar mais sobre poética da violência e o que é violento e, ao mesmo tempo, tão poético, que nos mobiliza a ter pensamentos em cursos de mudança”. O Grupo Espanca, após esta peça, passou a montar outros espetáculos que traduziam essa perspectiva da violência da poesia. Com estas outras peças, o grupo sentiu a necessidade de ter um lugar para ensaiar, sendo este o momento em que nasceu o Teatro Espanca. Na época em que o espaço começou a funcionar nesse local, por volta de 2010, a rua era bastante movimentada e havia uma efervescência cultural jovem muito grande, segundo o coordenador. O Teatro Espanca foi um ponto com relação à rua e à cultura do Baixo Centro de Belo Horizonte, e com a cultura que ali acontecia, como as ocupações, forma como eram chamados os eventos que aconteciam debaixo do Viaduto Santa Tereza. O Espanca, além de um espaço cultural, participava de um cenário também político e movimentado que manteve o espaço vivo. O espaço sempre acompanhou o cenário cultural do Baixo Centro, onde ocorria uma movimentação multilinguagem, com manifestações artísticas que envolviam desde os MC’s de batalhas de rap a eventos e mostras de rua. Em 2018, o grupo de teatro se afastou e entrou em uma pausa, mantendo ativo o espaço teatral. Este espaço começou a tentar abarcar as pessoas negras da cidade, fazedores(as) de cultura, que Alexandre considera que, “devido à realidade do país, são em sua maioria marginalizadas”. “É um espaço que fomos pensando e, agora, cada vez mais, tentando construir junto com as pessoas que frequentam, tentando tirar, inclusive, um pouco da ideia de propriedade. Queremos tirar a ideia de que alguém representa o espaço, porque entendemos que é necessário que várias pessoas se sintam confortáveis e pertencentes àquele espaço”, afirma o Alexandre. O Teatro Espanca é um lugar que pode ser utilizado para o ensaio de outros grupos de teatro mediante conversas e trocas, sejam financeiras ou não. Por ser um espaço independente, o coordenador explica que isso é necessário para que as contas possam ser pagas. Na pandemia, a receita paralisou devido ao fechamento do espaço. Alexandre de Sena informa que, mesmo fechados presencialmente, ainda existiam atividades online, como lives de apresentações de músicas e palestras. “No começo da pandemia fizemos algumas lives de aprendizagem, pois estávamos começando a aprender. Depois, com a Lei Aldir Blanc, recebemos uma verba e, assim, achamos justo convidar algumas pessoas que tinham e têm a ver com o que o espaço quer para a cidade, que é priorizar manifestações artísticas pretas. Assim, contratamos algumas pessoas para apresentar lives”, conta.
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O coordenador do Espanca relata que as lives realizadas no espaço chegaram a atingir um público de milhares de pessoas, mantendo assim o número do público presencial e tendo um alcance de números e localidades muito maiores no território da internet, e afirma, ainda, que investir no híbrido pode ser uma opção. “Talvez não vamos fazer lives na mesma frequência porque agora o público pode ir ao teatro, e nele se faz a presença, e a sociedade está carente de presença, carinho, afeto e abraço. Mas, no ambiente virtual, também existe carinho, apesar de não ter abraço. Então, iremos medir o que é bom fazer presencialmente e o que não é, o que desejamos receber e o que será feito melhor online para atingir um público maior. Realizar atividades híbridas é algo que parece ser uma tendência, porque por mais que a internet exista desde os anos 90 no Brasil, eu acho que a cultura da linguagem teatral e das coisas que acontecem dentro de um teatro nunca ocuparam o território virtual com tanta intensidade, e abrir mão desse local conquistado também pode ser um equívoco”, finaliza Alexandre de Sena, coordenador do Teatro Espanca.
CADÊ OS ARTISTAS? As artes cênicas são produções performáticas realizadas em locais determinados e onde exista um público. Essa linguagem é uma das presentes no teatro, que conta também com a dança, música, interpretação e literatura.Os coletivos de teatro são importantes para o cenário cultural da capital mineira na medida em que é por meio deles que essa manifestação artística pode ser transmitida e realizada com tamanha riqueza social, política e cultural. Em Belo Horizonte, existem muitos grupos teatrais com propostas performáticas, objetivos e valores diferentes. Muitos deles não são grupos muito conhecidos pela população, mas realizam trabalhos importantes, que promovem o pensamento crítico e instigam a busca por novos conhecimentos e experiências. O Grupo Encruzilhada, que surgiu em 2019, faz parte dessa cena teatral da cidade. O coletivo surgiu com os membros Ronaldo Marques - músico, Marcos Matheus - músico percussionista, compositor e ator, Rodrigo Correa - dramaturgo e ator e Chica Reis - atriz, contadora de histórias, professora de teatro e pesquisadora de teatro e tradição afro-brasileira. “Eu e Marcos Matheus desenvolvemos um trabalho que se chamava Encruzilhada de Mulheres, uma contação de histórias sobre mulheres negras. Começamos a trabalhar juntos e conheci o Rodrigo, que estudava com o Marcos e o Ronaldo, um amigo em comum, começamos então a nos aproximar a partir desse espetáculo. Passamos a frequentar teatros e shows de músicas juntos. Depois das apresentações, conversamos sobre o que víamos e o que tínhamos vontade de fazer. Um dia surgiu a ideia de coleti-
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var, já que tínhamos desejos e ideias em comum e vontade de criar”, conta Chica Reis.
Cena de ENCRUZILHADA DE MULHERES. Produção Coletivo Encruzilhar. Imagem: divulgação.
A partir de então, o coletivo começou a pensar sobre as ideias e sobre o corpo do grupo e o nome, o Coletivo Encruzilhar. Esse nome vem do espetáculo Encruzilhada de Mulheres, mas o encruzilhar também é pensado a partir da ideia de encruzilhada, que Chica Reis explica ser um lugar de potência, realização, escolhas, criação, e é o território de Exu, o “senhor da encruzilhada” das ruas e que conecta a terra ao céu. “É um lugar muito importante para a gente, pois acreditamos que foi em uma dessas encruzilhadas que nossos caminhos se cruzaram e que surgiu o coletivo”. O grupo trouxe a história Encruzilhada de Mulheres como seu primeiro espetáculo, a peça narra a história de 5 mulheres negras que, em determinado momento da vida, têm que fazer escolhas que muitas vezes as mulheres negras precisam que fazer. O espetáculo fala sobre isso, sobre as mulheres potências que sofrem tanto a violência doméstica quanto uma violência epistemológica, de se perder quem é, nessa negritude trazida. O grupo apresenta, após esse espetáculo, uma dramaturgia do Digo Correa, Ao Telefone, que também traz mulheres negras, cis, trans e homossexuais, e a relação delas no amor. Além de espetáculos teatrais, o Coletivo Encruzilhar também produziu o PreTV, uma série audiovisual, que se passa em uma TV, em que os protagonistas são negros. O grupo traz questões para pensar homens e mulheres negros na televisão e de que forma isso vem se apresentando na
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sociedade. O grupo também está no processo de pesquisa para produção de outro espetáculo. O teatro também possui este lugar de educar, não só com as peças, mas também com os projetos realizados com o público. O Coletivo Encruzilhar criou o Grupo de Estudos em Dramaturgias Negras, em que o objetivo é trazer autores e autoras de peças teatrais negros, avivando essa memória, esses textos e esses questionamentos. Esse grupo resultou em três curtas produzidos pelos participantes no final do estudo, além da produção de um artigo para a revista RevuloZine.
Com a pandemia, Chica Reis conta que o trabalho de grupo foi intensificado, por mais que estivesse difícil. “Nós tivemos um desejo de estar juntos nesse momento pandêmico, nós entendemos desde sempre que parar não era uma alternativa. No início, online, foi muito difícil conseguir, toda semana, produzir, encontrar, falar, ler textos. A pandemia deu um novo direcionamento para as formas como já trabalhávamos. Ficou muito claro que se nós não produzíssemos, nós não resistiríamos. Produzir na pandemia era resistir, não só à pandemia, mas também ao sucateamento da política do país”, afirma Chica. O Coletivo se apresentou online e conCena do espetáculo “AO TELEFONE”. Dramaturgia de Digo Correa, direção de Chica Reis. Produção Coletivo Encruzilhar. Imagem: divulgação.
ta que ocorreram debates com o público após as apresentações. “Apresentar diretamente para o público, mesmo que
você faça uma temporada, cada dia é um dia diferente, porque você não é o mesmo e as pessoas não são as mesmas, cada uma está vindo de algum lugar, do trabalho, de casa, de algum acontecimento diário da sua vida e você também está vindo de algum lugar com alguma percepção daquele dia. A gente sente isso, existe uma troca com o público que é para além do ensaiado, que só é possível nesse momento entre ator e plateia, na troca de olhares, na troca deste calor humano. No online, eu confesso que as primeiras tentativas foram meio desconfortáveis”, fala Chica. Chica Reis também relata que, quando se vem de uma experiência de teatro, de um fazer teatral, o corpo acorda para aquilo mesmo que seja online. É como se houvesse uma virada de chave e o ator soubesse que do outro lado existem pessoas, como uma plateia invisível que não está com os atores, mas está em espaços diferentes, vivenciando a apresentação no mesmo tempo que eles. Então, existe uma conexão no momento da ação teatral.
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“Dos espetáculos que nós fizemos online, a ação do público, a resposta, os comentários e a procura em nossas redes sociais mostraram que, apesar de diferente, o teatro resistiu aos tempos de pandemia”, finaliza Chica Reis. O teatro está presente em nossa sociedade há milênios e integra parte de nossa cultura. Apresentando diferentes formas de manifestação, o teatro vem tecendo relações importantes no panorama sociocultural belo-horizontino, com papel importante na produção de cultura e conhecimento.
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CIRCUITO GASTRONÔMICO DE FAVELAS GANHA ESPAÇO NA CULTURA DA CIDADE “Rango na Favela”, iniciativa do festival, promete receitas afetuosas e atrações festivas pelas comunidades da capital mineira Por Rafael Lopes e Raquel Gomes Cidade conhecida por sediar festivais, mostras e exposições, Belo Horizonte é referência quando se trata de movimentações artísticas e pontos turísticos de grande valor cultural. É a capital brasileira com o maior número de Patrimônios Mundiais reconhecidos pela UNESCO, com os melhores índices de consumo cultural e frequência em atividades culturais, segundo pesquisa do Instituto Datafolha.
Praça da Liberdade, local conhecido pelo circuito cultural em seu entorno. Foto: acervo Belotur.
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Um patrimônio da cidade é o Circuito Liberdade. Maior complexo cultural da América Latina em seu gênero, conta com 17 instituições localizadas no entorno da centenária Praça da Liberdade, com equipamentos de música, literatura, artes plásticas, cinema, mineralogia, ciências, astronomia, empreendedorismo e gastronomia. Movimenta o final de semana dos mineiros, se tornando um ótimo lugar para se divertir com a família e adquirir conhecimento. Outro tradicional espaço da cidade é o Cine Theatro Brasil Vallourec, um prédio da década de 1930, que resgata o estilo francês art déco, visível em figuras geométricas nos vitrais da fachada e nas pinturas das paredes internas do teatro. Além da Praça da Estação, que está ligada à construção de Belo Horizonte, fundada em 1897, para ser a nova capital de Minas Gerais, em substituição a Ouro Preto. Um dos locais preferidos para grandes eventos e encontros culturais. BH também é a terceira cidade do Brasil com o maior número de profissionais trabalhando em atividades criativas. E entre as diversas possibilidades de se consumir cultura, Belo Horizonte destaca-se também como um centro nacional da gastronomia.
ALÉM DO TRADICIONAL Ao longo dos anos, vários festivais e espaços novos foram tomando grandes proporções, devido ao grande número populacional da cidade. Entre os espaços que vão além do tradicional, se destacam os centros culturais dentro dos aglomerados, como no Aglomerado da Serra, que abriga mais de 50 mil moradores e é, certamente, o maior complexo de favelas de Minas Gerais. O Baile na Serra das Quebradas é um dos bailes mais conhecidos do aglomerado, com mais de 16 anos de existência, um importante criador de renda e um dos escapes culturais para a comunidade. De acordo com Cristiane Pereira (Kika), organizadora do evento, muitas das vezes, os jovens da comunidade não têm acesso a outro tipo de diversão, então o baile se torna o lazer. Nesse sentido, fica claro que não apenas nos ambientes habituais na cidade de Belo Horizonte se consiga aproveitar de cultura. Pelo contrário, a cidade é majestosamente dominada por expressões culturais, onde é possível comer bem e se divertir em vários lugares, podendo se surpreender com as maravilhas que estão fora do Circuito Liberdade. Diversos eventos e iniciativas tornaram a capital de Minas uma das cidades mais deliciosamente divertidas quando se trata de música e comida mineira, bares, festivais, circuitos e eventos. Um prato cheio para quem gosta de se divertir e ter seu paladar satisfeito, com muito tempero e histórias recheadas de emoções e conhecimento.
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CIRCUITO GASTRONÔMICO DE FAVELAS Em 2017, foi realizada a primeira edição do Circuito Gastronômico de Favelas, um projeto que coloca em evidência cozinheiros habilidosos e com muito talento para expor e compartilhar seus deliciosos pratos. “Quando pensei no Circuito, minha intenção era ressaltar essa identidade, promover o intercâmbio e, por meio de parcerias, oferecer ferramentas de empoderamento, como cursos de capacitação”, explica Danusa Carvalho, idealizadora do projeto. Os participantes do Circuito apresentam seus pratos e temperos para o público e disponibilizam essa integração cultural e gastronômica por meio de mostruário, com barraquinhas em algumas comunidades da cidade. “O mais interessante dessa liberdade é que chegamos a um evento bastante espontâneo, em todos os sentidos. Do primeiro ano para cá, percebemos como os participantes estão entusiasmados, com receitas inventivas, tanto na elaboração quanto nos nomes. Eu me sinto muito feliz em fazer parte desse momento porque são pessoas fortes, são sobreviventes”, exclama Danusa. Para participar do Circuito não é necessário usar um tipo específico de tempero ou ingrediente, os participantes oferecem o que fazem de melhor, mostrando suas habilidades, se conectando às pessoas através dos sabores.
Comida de Rua é o forte do Circuito Gastronômico de Favelas. Foto: Julia Lanari - divulgação.
Com exposições dos pratos, barracas de artesanato e muitas apresentações musicais, o público consegue aproveitar de perto, e com muita liberdade, o espaço preparado para o evento, criando memórias que são únicas e, de maneira geral, significativas para todo o processo cultural.
RANGO NA FAVELA Dentro do Circuito Gastronômico de Favelas, foi criada a iniciativa online #RangonaFavela, lançada nas comunidades da capital mineira. A hashtag é
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conhecida por mostrar receitas e atrações turísticas pelos becos e vielas das comunidades. Com a proposta de ajudar na renda dos microempreendedores das comunidades, o Circuito e a ação Rango na Favela têm incentivo de um programa cultural do governo do estado, o +Gastronomia. Inicialmente, o Circuito passou por desafios, como o circular entre comunidades e, atualmente, com a pandemia, ainda precisou reorganizar as edições de forma online e com temas especiais. Para o ano de 2021, a abordagem também foi de forma remota, sobre momentos afetivos, narrando as memórias e sabores da infância e reproduzindo os pratos e seus sabores. O Rango Na Favela possibilita a interação de moradores e não moradores, conhecendo negócios e novos sabores que antes eram desconhecidos e tornando cada vez mais presente a troca de conhecimento e experiências entre os participantes. Para Dona Dirce, uma das cozinheiras e participantes da edição de 2020, a melhor comida feita em BH está nos aglomerados. “Projetos como esse são ótimos, incentivam a gente. A gente precisa crescer e ter oportunidade para isso”.
A final da competição conta com evento em praça, onde barracas são montadas para cada participante comercializar suas iguarias. Foto: Julia Lanari - divulgação.
Danusa Carvalho, coordenadora e organizadora do Circuito Gastronômico de Favelas, conta que a prefeitura de Belo Horizonte ajuda na iniciativa através da Lei Municipal de Incentivo à Cultura e que, desde a criação do projeto, foram feitas várias mudanças, com pratos diversificados, melhor dinâmica entre os participantes e a formação de equipe.
MEMÓRIA GUSTATIVA O projeto, mesmo online, não se limita à comida. As lives de 2021 abordam um pouco da história de cada comunidade, mostram artistas que moram ali e ações locais, como hortas comunitárias. O impacto que o projeto oferece para as comunidades é muito além do que apenas econômico, divulgando talentos que muitas vezes não são conhecidos pela grande população.
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Com diversidade nos pratos e nas trocas oferecidas, a beleza da iniciativa é valorizada cada vez mais entre o público e todos envolvidos, tornando cada vez mais reconhecida a iniciativa e mostrando que Belo Horizonte é rica em sabores e histórias que merecem ser contadas e admiradas. Um dos gatilhos que tornam o evento mais atrativo é a memória gustativa que é comum entre as pessoas, pois têm alimentos que aguçam nossas melhores sensações e lembranças. Segundo alguns nutricionistas, é uma sensação involuntária que faz com que as pessoas tenham uma lembrança de um alimento consumido no passado. Um exemplo é quando passamos em frente à uma padaria que está assando pão de queijo e, logo, aquele aroma remete à época em que se frequentava a casa da avó, ou seja, o gosto e a imagem ficam guardados. Alguns dos objetivos primordiais do evento são valorizar, consolidar e difundir a identidade gastronômica como patrimônio das comunidades brasileiras, através das trocas de histórias, conhecimentos e sabores que prometem oferecer uma experiência única, criando integração entre as comunidades e construindo um vínculo imprescindível para o bem comum. Entre as lives, estão disponíveis cursos de preparo de pratos, utilização de temperos e novas maneiras de contar histórias através dos pratos ensinados. Em 2022, há a expectativa de que o evento possa novamente acontecer de maneira presencial.
BHÉLINDIMAIS
EXERCÍCIO FOTOGRÁFICO
Exercício Fotográfico realizado por Eller Zant, do 6° período do curso de Publicidade e Propaganda do UniBH, sob orientação da professora Lili Batista e do fotógrafo Maykel Souza Por Eller Zant BH é uma cidade de se encher os olhos, riquíssima culturalmente. Com a Covid-19, a ocupação de espaços culturais acabou se enfraquecendo. É de suma importância que esses espaços sejam reconhecidos e valorizados não apenas por turistas, mas também por moradores, que muitas vezes não conhecem nem sua existência. O setor de arte sofreu muito na pandemia, visto que, no Brasil, já é desvalorizado e tão pouco reconhecido. Artistas tiveram que se recriar para lutar contra essa situação. Muitos criaram vaquinhas online e rifas. A arte é uma maneira de se enxergar a vida, uma maneira de se expressar e manifestar, uma maneira de colorir dias cinzas. A arte, em poucas palavras, é muito mais complexa do que imaginamos e está em tudo, desde a música
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que ouvimos em uma rádio, no nosso aplicativo favorito, e até mesmo nas paredes de nossa cidade. Arte e conhecimento nunca são demais para nós. E aí? Consegui te convencer a dar um rolê por BH com outros olhos? Lembre-se de sempre usar a máscara e levar seu álcool em gel e, claro, vacine-se!
Centro Cultural do Banco do Brasil
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Galeria BDMG Cultural
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Mercado Central
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Palácio das Artes
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Palácio das Artes
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NOTA DEZ EM EDUCAÇÃO E HUMANIDADE A Biblioteca Comunitária Graça Rios é exemplo em solidariedade e no incentivo à prática de leitura entre jovens de Belo Horizonte Por Ivan Ribeiro e Herculles Barcellos A Biblioteca Comunitária Graça Rios é um espaço dedicado à expansão do aprendizado e da cultura entre jovens de classes mais baixas da região da Pampulha, na capital mineira. A maneira como suas ações são exercidas, “sempre priorizando a assistência pedagógica e a demonstração do afeto em irmandade”, já conquistou reconhecimento nacional. Na origem, o projeto se definiria como um local apropriado especificamente para atender às necessidades de determinado indivíduo que se interessasse pela busca da informação e do conhecimento. Depois disso, ao longo dos
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anos, desenvolveu a viabilidade de conseguir conectar pessoas que apresentam dificuldades de acesso com inúmeros tópicos relacionados à cultura, história, questões sociais e às demais diversidades presentes no ensino. Atualmente, dentro da instituição, estão disponibilizados aos jovens o acesso a aulas de reforço, salas de informática, aulas de inglês, aulas de violão, aulas de pilates, casas de família especializadas para o ensinamento dos alunos, dança de salão, aulas personalizadas para dança, reforço priorizado para ensino escolar e para jovens que estão em preparação para vestibulares, além de assistência médica com consultórios e profissionais qualificados para o atendimento quando necessário.
Sala de informática para aulas de reforço. Foto: Ivan Ribeiro.
A HISTÓRIA DAS BIBLIOTECAS COMUNITÁRIAS Segundo a projeção de Oswaldo Francisco de Almeida Júnior, “Biblioteca Pública: Avaliação de Serviços”, as bibliotecas comunitárias se iniciaram no Brasil entre os 1928 e 1930. Entretanto, somente em 1978 foi efetuada alguma publicação dissertando o termo “Bibliotecas Comunitárias” exposto em algum documento, essencialmente como publicação da literatura especializada da área de biblioteconomia naquele período. Esse conceito pode ser interpretado como forma de agregação, onde são aproximados os contextos de “público e comunitário”. Assim, buscando se popularizar de maneira a ser melhor reconhecida dentro da comunidade sem que ocorram modificações na constituição. Por seguinte, destacando uma oportunidade para contribuir no combate à exclusão social.
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A sua abundante representatividade no meio social é enquadrada na condição de promover melhorias em cima de um problema que é recorrente em deliberada regionalidade, disponibilizando um material educativo adequado para que se possa ter a finalidade de incentivar o aprendizado através dos estudos. Por sua vez, a principal preeminência é a obtenção de livros em sua sede e a preocupação com o próximo em pontos relevantes à informação. Entretanto, conseguir esses objetos não é simples no Brasil. A diferença exorbitante entre seus preços, “comparados ao ganho populacional mensal”, interfere severamente, impedindo, em grandes casos, a aquisição dos exemplares. Dessa forma, é papel da biblioteca comunitária se prevenir para que a compra dentro do orçamento proposto apresente quantidade e qualidade suficiente para viabilizar a leitura e um reforço estudantil oportuno entre os seus usuários.
A CRIAÇÃO DA GRAÇA RIOS Vanilda de Jesus Pereira, de 58 anos, sempre foi uma mulher incessantemente apaixonada pela leitura. Começou a adquirir o gosto pessoal pela literatura ainda em sua adolescência, quando iniciou a leitura dos primeiros livros e percebeu a importância que essa prática tinha na construção da educação de todos os jovens no mundo. Natural de Confins, município localizado na Região Metropolitana de Belo Horizonte, saiu da cidade natal em direção à capital aos 14 anos, em busca de trabalho em casas de família. Certa tarefa, dentro desse trabalho em “casa de família”, era cuidar da orientação escolar da filha de sua patroa. Um dia, resolveu ler para a menina o famoso romance de Bernardo Guimarães, Escrava Isaura. Com isso, começou a se interessar bastante pelo conteúdo da obra e decidiu lê-lo em seu quarto ao anoitecer dos dias. Numa ocasião, a chefe foi solicitar auxílio para cuidar da filha que, na época, se encontrava bastante doente, e a pegou lendo um de seus exemplares. Consequentemente, foi demitida, pois, de acordo com a contratante, ela não estava sendo paga para ficar lendo. Porém, essa data é considerada muito importante na vida de Vanilda, já que a partir desse momento ela decidiu criar algo que beneficiasse a vontade de ensinar. No início, ela passou por constantes necessidades e chegou a catar papéis nas ruas. Muitas vezes, encontrou muitos livros jogados no lixo e os levou consigo. Nesse mesmo período, Vanilda deixava separado parte de seu salário em doações à sua igreja. Daí em diante, passou a utilizar essa mesma quantia na compra de livros e iniciar o seu sonho de possuir a própria instituição. “Eu fui mandada embora tarde da noite, eu estava na casa da minha patroa, aí eu fiquei desesperada e, no impulso, falei que, um dia, eu emprestaria os livros. Ela confirmou, falou algumas besteiras, mas eu sou de cumprir o que eu falo desde criança. Eu comecei em 1977, quando eu recebia o meu pagamento, eu comprava um livro e o guardava em uma caixa, porque eu só
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queria um espaço próprio em que eu pudesse guardar meus livros. Com o tempo, foi crescendo e surgiu a oportunidade de criar uma biblioteca”. Vanilda também explica a origem do nome da fundação como homenagem à escritora e professora de literatura da Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG, Graça Rios, com quem conseguiu estabelecer um forte laço de amizade. “Eu conheci a Graça Rios, ela é uma pessoa muito gente boa. Sou grande fã dela. Outro dia ela passou aqui para recitar poesia, dar aula para o pessoal e tocar música clássica. Nos tornamos grandes amigas. Vale muito a pena conhecê-la”. No final dos anos 80, passou a receber doações de livros e utilizá-los no intuito de auxiliar as crianças do bairro São Francisco, onde morava, com as atividades escolares. Vanilda e alguns outros moradores da região foram desapropriados do local em que viviam para que a prefeitura pudesse ampliar uma avenida próxima ao lugar. Ela se mudou para o bairro Céu Azul, onde viveu até receber do governo a indenização pela expropriação. Mas, mesmo obtendo boa quantia, optou por priorizar a bondade e compartilhar o que recebeu com a comunidade, ao comprar um lugar que suportasse sua casa, um espaço da biblioteca e um lote, a fim de efetivar a construção de uma futura casa que pudesse aproximar idosos e crianças. Hoje, existem cerca de 22 mil publicações em seu estabelecimento. No decorrer do tempo, a biblioteca foi se expandindo e foram desenvolvidas muitas bibliotecas comunitárias em que a colaboração de Vanilda no planejamento esteve presente. Em seguida, aconteceu o que mudaria totalmente a sua vida. O apresentador Luciano Huck descobriu toda a história e, no seu programa, procurou Vanilda e a ajudou com seu sonho: construiu a Casa do Grande Coração, na rua Gláuber Rocha, no bairro Vila Paquetá. Dessa forma, as atividades foram se amplificando com a presença de voluntários na moradia.
Vanilda recebe prêmio de Luciano Huck. Imagem: reprodução Globo.
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A IMPORTÂNCIA DE UMA BIBLIOTECA COMUNITÁRIA O acervo do acesso à educação nas comunidades sempre foi um contratempo que presenciou momentos de bastante desigualdade e ineficácia. A acessibilidade de indivíduos vindos das periferias se encontra absolutamente precária com relação às bibliotecas públicas, o que promove a escassez de serviços sociais básicos e prejudica a formação intelectual das pessoas do local. Segundo um levantamento de dados proposto pela edição 2020 do Retratos da Leitura no Brasil, as pessoas consideradas de renda carente possuem mais dificuldades para utilizar uma biblioteca. 67% dos leitores no Brasil são considerados de classe A, 63% de classe B, 53% de classe C e apenas 38% de classes D ou E. É a partir de tudo isso que as bibliotecas comunitárias se destacam, devido a forma de buscar essa aproximação e querer excetuar todo esse processo. No dia 29 de outubro de 2021, a Rede Nacional de Bibliotecas Comunitárias (RNBC) efetuou uma pesquisa sobre a atuação das bibliotecas comunitárias dentro das favelas brasileiras. 86,7% das bibliotecas comunitárias em 15 estados, mais o Distrito Federal, estão situadas em regiões de intensa pobreza. Além disso, 66,5% dessas instituições são formadas por membros moradores do subúrbio. Vanilda conta que todas essas atuações possuem vasta importância cultural e social neste ambiente, esclarecendo também como funciona todo o procedimento de retirada dos materiais. “O nosso compromisso é promover cultura e educação para quem não consegue alcançar. A comunitária possui um acesso mais vivo que a central. Na outra você tem horário, precisa ter comprovante de residência e identidade na mão. Para retirar um livro na nossa, você não precisa ter nada disso. Você só precisa querer. É só me passar o nome do livro e o nome do autor que eu já deixo separado e depois é só vir pegar. Não temos exigência nenhuma”.
COMO ESTÁ A GRAÇA RIOS ATUALMENTE? Hoje, na Graça Rios, as atividades frequentes são os eventos beneficentes organizados com o propósito de promover qualquer ação social. Mas, Vanilda tenta coordenar o funcionamento se baseando na mesma proposta e intensidade que proporcionou desde o início, sempre priorizando o próximo.
Espaço de lazer para crianças e jovens. Foto: Ivan Ribeiro.
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"Eu vou vivendo dia a dia. Uma pessoa vem até mim dizendo que quer um livro, eu vou atrás e procuro. Eu descubro que tem alguém querendo fazer um curso, mas não consegue por que tem dificuldade, eu vou tentar amenizar a situação. Outro dia, uma criança não estava conseguindo fazer o trabalho de casa porque estava com muita fome. A partir desse dia, eu comecei a dar lanche antes das crianças fazerem os deveres como forma de amenizar aquela situação. Depois eu descobri que algumas crianças têm déficit de atenção. Aí eu comecei a procurar por médicos e psicólogos para tentar amenizar essas situações e ajudar da melhor forma. A gente sempre tenta chamar alguns escritores, alguma pessoa que venha para dar palestra. Se tratando das crianças, a gente chama essas pessoas para ter um acompanhamento e se envolver em mais conversas para que possa ocorrer alguma mudança. Dois sargentos da Polícia Militar também vêm aqui e contam histórias, dão aulas de leitura, aula de desenho, aula de redação. E isso acaba ajudando muito". A crise econômica provocada pela pandemia do novo coronavírus afetou drasticamente o funcionamento. Devido às medidas de segurança, que obrigatoriamente tiveram que ser providenciadas, muitas práticas que eram feitas diariamente tiveram que ser interrompidas. "Primeiro, a coisa que mais sentimos foi a falta de colaborações e voluntários. Eu não pude fazer nenhum evento, e isso, financeiramente, foi muito ruim. Também tivemos que suspender algumas atividades que fazemos. Para nós, tudo isso foi muito negativo. Se você não pode sair para trabalhar, você não pode conseguir o seu rendimento e não pode fazer a doação. Nem todo mundo tinha reserva". Contudo, nada disso foi suficiente para que ela desistisse de dar continuidade em tudo que ama fazer. A maior gratidão era ver o quanto essa colaboração contribui beneficamente para a consagração de alguém que esteve presente na formação desde o primórdio. "Quando eu vejo alguém que estudou e conseguiu eu me realizo. Como eu não estudei, eu penso que fui eu. O mérito é todo da pessoa, mas eu sinto que tem alguém que vai estar me representando lá na frente, fazendo uma coisa que eu não consegui. Isso me fortalece e me incentiva a continuar fazendo tudo que eu faço. Quando eu vejo uma dessas pessoas trabalhando ou com o diploma na mão eu choro todinha, por que eu sinto como se eu fosse mãe daquela pessoa". A história de Vanilda é certamente um exemplo de bondade, superação e principalmente inspiração. Foram exatamente todos os contratempos que vivenciou em sua vida que cada vez mais a incentivaram a transformar o seu sonho em realidade. Pois, conforme ela mesma costuma sempre dizer, a sua missão é sempre sorrir simultaneamente ao sorriso das pessoas que ama ao seu redor.
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A IMPORTÂNCIA DA PRESERVAÇÃO DOS SEBOS Com décadas de história, pequenos acervos e livrarias protegem a memória editorial do país Por Rafael Alef Livros raros e antigos, cds, dvds, vinis, revistas e gibis clássicos. Todos esses artigos são facilmente encontrados em um bom sebo ou alfarrabista. Em sua maioria espalhadas pelas cidades, as pequenas livrarias carregam histórias que ultrapassam as páginas de seus exemplares - seu principal produto - e, diferente da percepção de parte da sociedade, prezam pelo zelo e são importantes contribuintes para manter aquecido o mercado literário. Popularizado na década de 60, o termo sebo rendeu, ao longo dos anos, diversas teorias sobre sua real origem. Para alguns, o nome foi dado pela utilização de velas como auxílio para iluminação durante o processo de leitura, antes da energia elétrica e que, com o tempo, ao derreterem e caírem sobre as páginas, deixavam os livros ensebados. Para outros, a origem da palavra vem do estado de conservação dos livros seminovos e que, por serem constantemente manuseados por diferentes leitores, ficavam ensebados com o suor das mãos. Seja qual for a verdadeira história de seu nome, tais acervos se tornaram importantes pilares no mundo literário e são constantemente referenciados por facilitarem e incentivarem o acesso à leitura, além de preservarem diversos exemplares físicos que já não são produzidos e estão fora de circulação no mercado editorial.
A SINGULARIDADE DA EXPERIÊNCIA Os benefícios proporcionados pelos sebos são muitos, e a sua preservação torna-se importante, em especial, para aqueles que ainda apreciam a leitura de um bom livro físico. Durante a busca por novas histórias, leitores encontram dedicatórias antigas, marcações com pensamentos de antigos donos sobre cada passagem lida e até mesmo autógrafos de autores e leitores famosos. São memórias que vão além do tempo e do espaço. O hábito de deixar anotações especiais em cada livro é uma das principais características dos apreciadores de um bom acervo. Durante a venda ou troca de títulos literários, os comentários breves e trechos demarcados durante a leitura criam uma história paralela no ritual de passagem dos exem-
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plares. Em 2012, a mineira Mariana Gogu criou o projeto “Eu te dedico”, no Instagram e no Tumblr, e desde então compartilha, frequentemente, com os quase 30 mil seguidores, as dedicatórias encontradas em livros espalhados pelos sebos da cidade. Semelhante ao projeto, a jornalista e gestora de comunicação e marketing mineira, Giulia Staar Ghignone, moradora do bairro Sagrada Família, em Belo Horizonte, criou o hábito de escrever dedicatórias sempre que presenteia alguém com um novo livro. Pensando em futuros leitores que podem encontrar os exemplares de livros que já passaram por suas mãos, Giulia espera que um dia aquela breve anotação deixe uma marca especial para um leitor desconhecido. “É uma coisa mágica pegar um livro e se deparar com uma obra cheia de anotações esquecidas e dedicatórias poéticas. Os livros encontrados nos sebos são mais do que as histórias que eles contam por si só. Envolvem as histórias de seus antigos donos também”, explica. Cliente assídua desde a infância, a jornalista sempre frequentou os sebos da capital mineira e, ao lado da mãe, transformava as visitas em uma verdadeira caça ao tesouro. Em busca de livros clássicos com a capa dura, encadernamento mais resistente feito com papelão e design específicos, passou a contribuir para a rotatividade de exemplares, importante para a preservação do segmento. “Hoje, não troco tantos [livros], mas quando era mais nova, minha mãe e eu passamos a vender ou doar alguns dos livros de nossa biblioteca pessoal que já não queríamos mais”, relembra Giulia. O processo de troca ou venda de exemplares já lidos, ou que estão parados na estante de casa, enriquece ainda mais a experiência e a preservação de um sebo. Os visitantes, muitas vezes, sequer sabem o que procuram, mas durante as passagens por esses locais, deixam e coletam histórias, são submetidos a experiências imersivas e atribuem a isso a grande motivação para não deixar de conferir os espaços espalhados pelas cidades.
“No sebo, mesmo com algumas divisões para organização, o ambiente te convida a explorar”, afirma o professor José Francisco. Imagem: Freepik.
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Para o professor da Escola de Ciência e Informação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), José Francisco Guelfi Campos, as grandes livrarias tradicionais já podem ser associadas a pontos turísticos, em que os visitantes são verdadeiramente atraídos por cafés e pequenos restaurantes, e não pelos livros vendidos por ali. Por outro lado, o professor acredita que o diferencial dos sebos é oferecer uma experiência mais acolhedora e aconchegante para o seu público consumidor, em que as grandes estruturas e projetos arquitetônicos não são a prioridade. “No sebo, mesmo com algumas divisões para organização, o ambiente te convida a explorar. Não sinto essa coisa do garimpo em livrarias mais tradicionais. É uma proposta diferente e mais estimulante”, pondera o professor. A bibliotecária Lorena Jeanne Nolasco Demétrio, moradora do bairro Bom Jesus, na Região Noroeste de Belo Horizonte, passou a visitar os sebos da capital mineira ainda nos tempos de estudante. Ela procurava por um exemplar do livro Iracema, escrito por José de Alencar e publicado pela editora Typ. de Viana & Filhos em 1865. “Precisava de um exemplar para um trabalho na escola e o número de livros disponíveis na biblioteca não era suficiente para a quantidade de alunos”, recorda.
MIGRAÇÃO PARA O MERCADO DIGITAL Em meio às evoluções tecnológicas e, recentemente, ao isolamento social imposto em decorrência da pandemia da Covid-19, grande parte dos sebos e pequenas livrarias espalhados pelo país precisaram investir em presença digital, com atendimentos realizados através de redes sociais ou WhatsApp, para se manterem vivos mesmo com as portas fechadas. No Estante Virtual, portal brasileiro com um acervo de cerca de 2.600 sebos e livrarias de todo o Brasil, são cerca de 20 milhões de exemplares à venda para os quase 6 milhões de leitores cadastrados. De acordo com um estudo divulgado pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL) em 2021, dados levantados pela Nielsen BookScan apontam um crescimento de 39,9% no faturamento de exemplares quando comparado ao ano anterior. Somente no primeiro semestre de 2021 foram quase 30 milhões de livros vendidos. Mas quem é adepto da compra e troca de exemplares não abre mão da boa e velha aquisição física. Além da oportunidade de apoiar os pequenos empreendedores do segmento e conversar pessoalmente com quem sabe muito sobre a diversidade de materiais, quem frequenta esses espaços tem acesso a preços mais acessíveis para a compra de livros seminovos e em bom estado de conservação. Ao longo dos anos, a bibliotecária Lorena Jeanne não perdeu o gosto pela busca por novas obras e, mesmo sendo defensora do contato tátil durante a compra, também não abriu mão das facilidades oferecidas pela compra digital. Lorena relembra que, através do site Estante Virtual, encontrou, de-
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pois de uma busca incessante, um exemplar do livro Love Letters of Great Men (em tradução literal, Cartas de Amor de Grandes Homens) em um sebo na cidade de São Paulo. “Me lembro de ficar muito curiosa depois de ouvir sobre o livro enquanto assistia o filme Sex and the City, lançado em 2008, mas não encontrei nenhum exemplar para compra”, explica Lorena. Para a jornalista Giulia Staar Ghignone, as duas formas de compra, online e presencial, são interessantes e variam muito do tipo de leitor e do que ele busca. A agilidade e a praticidade presentes na compra digital deixam o processo mais solitário, mas cumprem o objetivo de adquirir uma nova obra em tempo hábil. Já no processo de uma compra presencial, a visita a um sebo pode render encontros com os outros leitores apaixonados por livros e ser um programa de lazer que vai além da simples aquisição. “Cada obra que existe ali [nos sebos] já passou pela mão de alguém e carrega uma história consigo. Gosto de sebos justamente porque eles me proporcionam a oportunidade de me conectar com outros leitores, até mesmo aqueles que existem em tempos e espaços diferentes dos meus”, explica a jornalista.
Apesar dos 30 milhões de livros vendidos de maneira online no Brasil, a preferência pela experiência da compra presencial ainda atrai os apaixonados por leitura. Imagem: Freepik.
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A PRESERVAÇÃO DOS SEBOS ASSOCIADA À LEITURA Paralelamente à imersão proporcionada pelo espaço, os sebos cumprem um importante papel na democratização da leitura e no consumo sustentável responsável. Contudo, a falta de um hábito ou interesse pela leitura em massa por parte da população brasileira, muitas vezes, desconsidera os benefícios encontrados em espaços como esses. Segundo pesquisa da Opinion Box, voltada para a compreensão do comportamento de leitores no Brasil, somente 44% dos brasileiros leem por gosto pela literatura. Para o professor José Francisco, existe um baixo interesse pela leitura até mesmo em alunos de graduação e pós-graduação. Segundo ele, muitos se limitam somente às leituras obrigatórias e perdem a oportunidade de expandir vocabulários, aprimorar a escrita e ter uma visão de mundo mais ampla. “Me questiono sobre o quanto as ações de lugares como os sebos, com livros mais baratos e possibilidades de atrair uma parcela significativa da população, podem ser efetivas com essa grande falta de interesse pela leitura”, pondera o professor. Essa variação nos hábitos de leitura também impacta a preservação dos acervos literários. Se menos pessoas leem, menos pessoas compram ou trocam exemplares nesse espaço, que apesar da grande carga de afetividade, memória e significado simbólico, ainda é um negócio. Para o professor José Francisco, a melhor forma de contribuir para a manutenção e proteção dos sebos é incentivar o consumo e desmistificar pensamentos preconceituosos de quem ainda acredita que só é bom se for algo novo. “Acredito que a preservação dos sebos está diretamente ligada ao incentivo à compra de artigos no local, para que, em meio às transformações naturais da sociedade, seja transformada a forma que ele oferta e não o que ele representa”, reflete
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VIDA REAL X REALITY SHOW “Aja naturalmente, você não está sendo filmado”. A cada dia torna-se mais comum abandonarmos nossa humanidade em prol de uma aceitação coletiva Por Luis Otávio Lima Peçanha
Os realities são uma representação do que é a nossa vida. Imagem: Pexels.
Os reality shows fazem parte do entretenimento de grande parte da população brasileira. De acordo com um estudo feito pelo blog MindMiners, com 1000 pessoas, cerca de 89% dos respondentes já assistiram, pelo menos uma vez, a um reality show. Hoje em dia, existem várias opções diferentes para os adeptos, como realities de culinária profissional e amadora, de maquiagem, de música e os queridinhos da sociedade, os de vida cotidiana. No mesmo estudo citado acima, cerca de 35% dos participantes consideram o Big Brother Brasil como programa favorito do gênero. O conteúdo é licenciado pela Rede Globo de Televisão e já está na sua 22ª temporada. O BBB, de fato, movimenta um grande número de telespectadores, que anseiam por acompanhar de perto cada ponto do jogo. As “tretas”, as provas, os romances, seu brother preferido(a), as eliminações, as festas e o ganhador da edição. Um prato cheio para quem ama tal tipo de entretenimento e conta os dias para a chegada da próxima edição. Porém, você já se questionou o motivo desse conteúdo prender tanto a atenção e mobilizar tantas pessoas?
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OPINIÃO
ESTIGMA BRASILEIRO “Brasileiro tem mania de cuidar da vida dos outros”. Você muito provavelmente já escutou alguém dizer isso, ou até mesmo ouviu alguém falar que não cuida da vida alheia, apenas faz uma “fofoquinha do bem”, que seria contar uma fofoca que não prejudica a ninguém, só pelo prazer de conversar sobre este assunto com outra pessoa. Tais atitudes podem ser derivadas da sociedade em que estamos inseridos hoje, que reside primordialmente em redes sociais, em plataformas que as pessoas usam quase que como diários, compartilhando suas vidas, porém, nem sempre de maneira tão honesta. É comum encontrarmos pessoas falando que as mídias sociais se transformaram em vitrines, em que as pessoas compartilham apenas aquilo que consideram interessante, que exiba o lado belo da vida, que possa chamar atenção de quem acompanha seu perfil e gere engajamento. É difícil encontrar publicações de usuários falando que estão desempregados, que estão em um dia ruim, que não se sentem felizes com a função que exercem ou que precisam de ajuda. Muito disso se deve à necessidade de aprovação e medo dos julgamentos que acontecem frequentemente nestas redes sociais. A internet se tornou um ambiente hostil para qualquer pessoa que queira ser ativa em qualquer plataforma. Pessoas se mascaram atrás de perfis que têm o único objetivo de disseminar ódio gratuito, fazendo comentários ofensivos, julgando e ridicularizando qualquer tipo de publicação. Isso fez com que muitas pessoas passassem a se moldar dentro destes ambientes, pisando em ovos com cada caractere digitado, pensando e repensando inúmeras vezes antes de apertar o botão “publicar”. “Mas, o que vão pensar de mim?” “E se eu virar alvo de piadas?” “Isso pode acabar com a minha vida.” Ansiedade, medo, angústia, insegurança. Efeitos de um ambiente extremamente perigoso para quem usa, chamado de redes sociais. Elas representam apenas a ponta do iceberg nesta discussão, mas vocês vão entender o porquê de tocar neste assunto.
INFLUÊNCIA FORA DAS TELAS Como já foi dito anteriormente, plataformas como Instagram, Twitter, Facebook e TikTok são extremamente responsáveis por moldar o comportamento das pessoas, e isso, muitas vezes, se expande para fora das telas dos smartphones. Já não basta mais se apresentar de uma maneira “aceitável” dentro destas plataformas, quase que cumprindo um papel, agora se faz necessário se comportar da mesma maneira no “mundo lá fora”. A necessidade de buscar aceitação, fugir de julgamentos e chamar atenção se tornou algo rotineiro para as pessoas nos dias atuais.
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As pessoas passaram a se comportar quase como robôs, ou como alguém que vive sendo observado e julgado por milhares de pessoas a cada passo que dá, cada palavra que fala e cada ação que realiza. Assim como acontece nos reality shows.
REALIDADE NUA E CRUA Os realities são uma representação do que é a nossa vida, mesmo que dentro de um ambiente controlado e televisionado, quem compõe o show sejam pessoas comuns, famosas ou não, são seres humanos, com suas fraquezas, defeitos, qualidades e características específicas que definem e diferenciam cada um. Este é um dos principais motivos do sucesso desse conteúdo no país e no mundo, pois sempre será possível se identificar com alguém do jogo, isso gera simpatia, vontade de acompanhar, torcer e votar pela permanência do mesmo. Você, ou quem estiver assistindo, se sente representado lá dentro, como se aquela pessoa fosse alguém que você conhece ou até você mesmo. “Eu faria a mesma coisa”, “eu compartilho desse mesmo pensamento”, “eu agiria da mesma forma”. Essa identificação acontece quase que de forma instantânea e prende o telespectador. Um dos grandes problemas desse tipo de conteúdo é que, além de evidenciar muito bem as qualidades e as características de cada um, as câmeras são capazes de exibir claramente as principais falhas de cada um, e isso, como já foi dito anteriormente, vai de encontro à necessidade das pessoas se mostrarem quase que perfeitas, buscando agradar a todos. Porém, não é possível agradar a todos, não é saudável buscar isso. Tais programas exibem isso de maneira clara quando os jogadores têm crises de ansiedade, choram com saudade de casa, chegam a um burnout por estarem vivendo rodeados de câmeras assistidas por pessoas que decidem a permanência de cada um por um voto em um computador ou celular, para, futuramente, criticar e julgar cada passo do ex-participante em alguma rede social. E, por se tratar de um programa exibido em rede nacional, visto por milhões de pessoas, estes momentos humanos, chocam, viralizam, assustam e podem até ser motivo de alguém mudar sua “torcida”. O momento em que cai a máscara de uma pessoa que, aparentemente, não tinha fraquezas, medos ou qualquer tipo de emoção “frágil”, faz com que o público a veja de outra forma.
O MEDO DE SER HUMANO A perfeição é inalcançável, isso já é de conhecimento geral, porém, a todo instante, parece que somos motivados a viver em uma posição que não nos pertence, que não é real e que nos afasta da nossa humanidade. As pesso-
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as passaram a se importar cada vez mais com o que o outro pensa, e cada vez menos com ser real consigo mesmo, e não tá tudo bem. A partir de que ponto passou a ser considerado comum alguém não poder ser ela mesma, não ter liberdade para agir da maneira que considera correta (desde que não desrespeite ninguém, é claro) e viver apenas com o que lhe faz feliz? Por que ser aceito e bem visto pelos outros é considerado algo importante a ponto de moldar e mudar a nossa forma de pensar e ser? Parece que, a cada dia, somos convidados a mergulhar cada vez mais nessa vida de reality show, rodeados de câmeras, com pessoas acompanhando cada passo que damos e tendo a necessidade de agradar a todos para garantir nossa sobrevivência no jogo. E você, tem vivido ou feito parte deste “jogo da vida”?