Por Lucas Wilker
Atada a convenções tipicamente reducionistas, por vezes até vazias, a política, como um elemento essencial à vida em sociedade, precisa encontrar território fértil para debates profícuos e atentos ao futuro.
Mesmo com essa importância intrínseca, o que vemos na prática, tantas vezes, são pessoas que intentam esvaziar o seu sentido, com discursos que olham para despolitização como forma de vencer os desafios do presente.
Na contramão desse pensamento, a proposta desta edição do Jornal Impressão, que condensou eventos marcantes do 2º semestre de 2022, é tomar para si a responsabilidade de tornar o debate político uma pauta independente de editorias: aqui entendemos que essa discussão pode existir do esporte até o alimento que chega em nossas mesas todos os dias.
No Caderno l, a maior competição de futebol do mundo também ganha contornos acerca das problemáticas sobre o país onde foi realizada, o Catar. Nessa mesma seara esportiva, a inclusão ganha espaço para reforçar a sua importância como agente provocador de mudanças estruturais no que tange às pessoas com deficiência.
Longe de esgotar o debate sobre um assunto ainda tratado com certo tabu – e informações equivocadas –, o Movimento Sem Terra torna-se uma pauta sobre alimentação saudável e sustentabilidade.
No Caderno Dois, dedicado à cultura, celebramos o cinema mineiro a partir do sucesso de Marte 1, filme ganhador de inúmeros prêmios e que emocionou inúmeros brasileiros pelo país.
Uma reflexão importantíssima sobre jornalismo literário e true crime é abordada em artigo opinativo, assim como um necessário diálogo sobre os festivais de música no Brasil reacende um questionamento fundamental no contexto de expansão de gêneros dentro desses espaços.
No ensaio fotográfico da vez, a Virada Cultural de Belo Horizonte aparece sob lentes focadas em explorar a diversidade de um evento rico em forma e conteúdo.
Histórias potentes se reúnem em mais uma edição do Jornal Impressão para realçar o que de melhor temos no jornalismo: a capacidade de lançar luz sobre aquilo que muitas vezes está escondido.
REITOR
Prof. Rafael Ciccarini
DIRETOR DO CAMPUS BURITIS
Prof. Eduardo França
COORDENADORA DO CURSO DE JORNALISMO
Prof. Fernanda Gomes
LABORATÓRIO DE JORNALISMO
EDITOR
Lucas Wilker
DIAGRAMAÇÃO
Maria Luiza Gomes
PROJETO GRÁFICO
Laboratório de Experimentações Gráficas (LEGRA)
ESTAGIÁRIOS
Amanda Alves
Eller Zant
Gabriel Pimenta
Manoela Lins Sampaio
Maria Luiza Gomes
Rebeca Nicholls Mendes
ILUSTRAÇÃO
Diogo Ávila
Ryan Sena
ALUNOS QUE ESCREVERAM
PARA ESSA EDIÇÃO
Clara Pedrosa
Diego Schubert
Laura Zarattini
Lincol Rafael
Lucas de Souza
Luiza Borges
O Jornal IMPRESSÃO é um espaço de prática, experimentação e aprendizagem em Jornalismo, coordenado pela CACAU – Comunidade de Aprendizagem em Comunicação e Audiovisual do UniBH. Mesmo como projeto do curso de Jornalismo, o jornal está aberto a colaborações de alunos e professores de outros cursos do Centro Universitário.
Participe do JORNAL IMPRESSÃO e faça contato com nossa equipe:
Av. Mário Werneck, 1685 - BH/MG
CEP: 31110-320 jornal.impressao@unibh.br
EXPEDIENTE
EDITORIAL PRIMEIRAS PALAVRAS 2 Dezembro 2022 Jornal Impressão
JORNALISMO POLÍTICO E A SUA IMPORTÂNCIA PARA TORNAR ACESSÍVEL O DEBATE NO BRASIL
Meu bisavô ensinou minha avó, que também me ensinou, que política não se discute, então, perguntei para ela o motivo, mas ela não soube me dizer
Por Lincol Rafael
Quando falamos de política, logo pensamos nos títulos presidente, senador, governador. Mas, não podemos esquecer que a política não fica somente nessa toada: ela está em nossas escolhas, em nossas convicções e independe de estarmos num período eleitoral.
“Meu pai me ensinou que política e religião não se discutem!”. Essa frase, em particular, foi dita por diversas pessoas ao meu redor e nunca entendi porque era tão repetida. Ninguém nunca soube me responder.
Meus pais diziam que, quando eu era mais novo, perguntava demais e que muitas vezes nem sabiam como poderiam me responder. Mas eu sempre fui muito curioso para não perguntar. Então, cresci sem saber muitas respostas, incluindo o porquê não se discute política e, por um bom tempo, nem procurei saber.
Às vezes, colocam coisas na nossa cabeça e aceitamos, mesmo sem entender. Entretanto, quando eu comecei a ter uma afeição maior pela leitura, comecei a perguntar mais coisas, só que agora eu sabia onde poderia achar as respostas, e duas das minhas ferramentas foram a filosofia e o jornalismo político. Em ambos, temos respostas, das mais variadas formas, da mais simples à mais complexa, a que você quer ouvir e a que você não quer ouvir.
Quanto mais eu lia, mais eu entendia as origens, a razão e o motivo de não saber o porquê não se “deve” discutir política. Hoje estou no primeiro período de jornalismo e, pelas minhas leituras passadas, tive capacidade de saber o que quero. De construir perguntas e de nunca aceitar um “porque sim” de cabeça baixa.
O QUE É POLÍTICA E POR QUE NÃO FALAMOS
DE POLÍTICA?
Na Grécia antiga, os gregos viviam na polis, mais conhecida como cidades-Estados. Nessa sociedade eles criaram a palavra “Política”, para que pudessem discutir sobre
3 Julho de 2020 Jornal Impressão OPINIÃO
Dezembro 2022 Jornal Impressão
a vida nessa sociedade. Hoje em dia, no imaginário popular, essa tal política é mais conhecida como “quem os cidadãos irão eleger para representar e administrar o país?”. Entretanto, a política não é apenas o voto em um possível representante.
Para os gregos, a política foi feita para ser discutida e para que pudessem se posicionar e resolver assuntos que temos da vida em coletividade. Portanto, através desse conceito de política, vemos que política é feita, desde o início, para ser discutida. Mas por que evitamos falar sobre o assunto?
Um dos vários motivos pelos quais as pessoas não discutem política é por desconhecer as nuances do assunto. Dessa forma, o jornalismo político surge como importante agente para ajudar a descomplexificar o debate e para fazer com que as pessoas tenham contato diário com a pauta. E assim possam construir um pensamento crítico e entender como funciona e qual é o nosso papel como cidadãos. E foi isso que o jornalismo fez comigo: me ensinou a ver e a perguntar cada vez mais o porquê.
O PODER DO JORNALISMO POLÍTICO E OPINATIVO
No século XXI, temos um poder na mão: o celular. Com ele todos nós começamos a espalhar notícias e/ou informação. Contudo, o que me encanta no jornalismo é que ele constrói uma narrativa e apresenta um ponto de vista crítico. Sem ele, muitos de nós não veremos o que está acontecendo em nosso mundo. Os jornalistas, por meio de seus pontos de vista e de uma base sólida, conseguem formar opiniões políticas. Sem os artigos de opinião, sem as crônicas jornalísticas, sem as reportagens, entre outros, não saberíamos o que está acontecendo no mundo, no país, no estado ou até mesmo nas cidades e nos bairros. Por esse motivo, por essa capacidade do jornalismo, duas coisas importantes ocorreram em minha vida. A primeira foi
4 Julho de 2020 Jornal Impressão OPINIÃO
Dezembro 2022 Jornal Impressão
FOTO: DIOGO ÁVILA E RYAN SENA
ter conseguido evoluir como cidadão e como pessoa, com a ajuda de textos que me proporcionaram questionamentos, perguntas e pontos de vista diferentes. Já a segunda foi poder descobrir qual seria a minha formação no ensino superior.
Portanto, partindo disso, podemos pensar qual é a importância do jornalismo político para que o debate sobre política se torne acessível, e a minha resposta é bem simples: para que apresente formas de pensar e novas perspectivas, apresentando todos os lados, com notícias reais e a consequente desconstrução de fake news. Assim, o jornalismo pode ajudar e incentivar o debate com informações potentes e construir conhecimento.
A COPA FORA DAS QUATRO LINHAS
Privação da liberdade, homofobia e clima extremo: detalhes sobre o Catar que foram muito além do futebol
Por Gabriel Pimenta e Luiza Borges
Ao ver Lionel Messi levantar a gloriosa taça dourada em meio a uma multidão de torcedores pintados de azul e branco podemos afirmar, a Copa do Mundo de 2022 foi finalizada em grande estilo. O maior evento esportivo do Planeta Terra terminou mais uma edição com um triste fim para os brasileiros, mas muito feliz para nossos vizinhos sul-americanos. A até então bicampeã do Mundial começou sua campanha rumo ao tri de forma inesperada. Uma derrota amarga para a “inofensiva” Arábia Saudita na estreia do torneio não fez com que os Hermanos se abalassem e o sonho de ver o maior ídolo de sua história ganhar a copa se manteve vivo. Superando o também campeão mundial Diego Armando Maradona, o Argentino de 1,69 metros de altura e uma canhota incrível carregou a Albiceleste de encontro a França no estádio Lusail no Catar.
De um lado o jovem Kylian Mbappé, e do outro o veterano Lionel Messi, ambos com o mesmo sonho, levantar o troféu de ouro e serem eternizados na história com a glória eterna. O francês de 23 anos foi o grande protagonista da final, marcando três gols e acertando a cobrança na disputa de pênaltis, sendo o artilheiro do torneio. Apesar disso, o baixinho de 35 anos que chegou a marcar dois gols no jogo levou o prêmio de melhor jogador do torneio.
Enquanto de um lado da América do Sul houve muita comemoração, do outro ficou o sentimento de que poderia ter sido feito mais. A campanha brasileira foi abaixo das expectativas, com três vitórias em cinco jogos, a maior campeã do Mundial caiu nas quartas de final contra a seleção croata. Após um empate em tempo
5 Julho de 2020 Jornal Impressão ESPORTE
Dezembro 2022
Jornal Impressão
normal, Dominik Livakovi, o herói croata pegou a primeira cobrança de pênalti da seleção canarinho e, após o capitão Marquinhos chutar para fora, foi decretada a eliminação da nossa seleção. Apesar da eliminação precoce, houve coisas boas na campanha, como o gol de voleio do camisa nove, Richarlison, que venceu o prêmio de gol mais bonito do campeonato. Além disso, chegou ao fim o ciclo do técnico Tite e sua comissão dentro da seleção brasileira. O treinador já havia anunciado que deixaria o comando técnico da canarinho após a Copa do Mundo, com isso, os dirigentes da CBF passaram a procurar novos técnicos no mercado.
Importante ressaltar a campanha de seleções menores, como foi o caso da seleção do Marrocos. Os africanos foram a maior surpresa do campeonato, passando por grandes seleções. Bélgica, Espanha e Portugal foram algumas das vítimas da seleção marroquina, que também venceu Canadá e arrancou um empate da Croácia. Tudo isso levou Hakimi, Ziyech e outros bons jogadores a enfrentar a finalista França na semifinal, onde acabaram por ser eliminados. Outras seleções que também surpreenderam bastante foram Austrália, Senegal, Japão, Estados Unidos e Coréia do Sul, que alcançaram a fase de oitavas de final.
Além dos prêmios de melhor jogador do campeonato e gol mais bonito, distribuídos para Messi e Richarlison, respectivamente, A FIFA premiou a revelação do torneio e o melhor goleiro. O meia argentino Enzo Fernández levou o prêmio de revelação, enquanto o também argentino, Emiliano Martínez, levou para casa a luva dourada de melhor guarda-redes da Copa do Mundo do Catar.
O CATAR
Um país com 11.571 km² (quilômetros quadrados) de extensão territorial, o que representa metade do território do Sergipe. Cerca de três milhões de habitantes e um sistema político de monarquia absolutista desde meados do século XIX, o Catar será palco do maior evento esportivo do globo. A Copa do Mundo de 2022 foi definida para acontecer no país ainda em 2010, em cerimônia realizada na sede da FIFA em Zurique.
A grande comemoração por parte dos líderes cataris ao saber que o país havia sido votado escondia polêmicas relacionadas à escolha do Catar como país-sede. A justiça dos Estados Unidos afirmou que Rússia e Catar subornaram cartolas para sediar a Copa, conforme divulgado no portal de notícias ‘Trivela’. Escândalos de violação dos direitos humanos também são frequentes no território árabe.
A escolha do país-sede para a Copa de 2022 foi realizada em conjunto com a da Copa de 2018, da Rússia, e foi feita por meio de votação do Comitê Executivo da FIFA. Atualmente denominado Conselho da FIFA, é composto de um representante por país-membro, eleitos por meio do congresso da FIFA. Atualmente o Conselho é presidido pelo camaronês Issa Hayotou, devido ao banimento do ex-presidente Joseph Blatter por conflito de interesses e por aceitar benefícios. Em 2014, uma investigação concluiu que houve compra de votos no processo de escolha do Catar como sede do Mundial.
Haveria até um brasileiro envolvido, Ricardo Teixeira, ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), que votou a favor do país do Oriente Médio.
O Catar possui denúncias por ferir os direitos humanos. Por se tratar de um país com um governo autoritário e machista, as mulheres demoraram a ter direitos humanos básicos, como ler e escrever, que só foram adquiridos com a luta de grupos de mulheres, por uma igualdade de gênero, como explica a doutoranda e professora de Relações Internacionais, Rafaela Sanches.
“Podemos entender que é um governo (do Catar) extremamente conservador no que diz respeito à liberdade das mulheres, com limitação de algumas liberdades… A gente pode pensar que elas (as mulheres) têm um grau de liberdade sim, dentro dos pressupostos culturais dos costumes do país, porque do ponto de vista ocidental há sim uma rigidez muito grande na questão das mulheres, principalmente porque existem muitas proibições”, pontua.
Não apenas mulheres sofrem discriminação no país. A homossexualidade é criminalizada no Catar e pode ser punida com até três anos de prisão. Fato que levou o Comitê Organizador a anunciar que acolherá torcedores LGBTQIAP+ que estarão presentes na Copa. Mesmo assim, uma cautela deve ser adotada por parte dos torcedores. “Dentro do alcorão (livro sagrado islâmico), algumas interpretações direcionam para que a homossexualidade não seja algo aceito na religião, porém o alcorão fala que o indivíduo tem a capacidade de escolher o que ele faz com a vida, com o corpo dele, e que com isso vai sofrer as consequências. Não é um fenômeno exclusivo do islamismo, a bíblia e outros textos religiosos seguem essa mesma linha”, explica Rafaela Sanches.
Já no âmbito esportivo, a partir de 1998 foram introduzidas competições que permitiam a participação de mulheres no país árabe, já que o esporte era raramente praticado por elas antes do século 21. Em 2020, o Catar encaminhou a criação de uma seleção feminina de futebol e de uma liga nacional de futebol feminino para o país. Já em 2022 foram realizados amistosos pela recém-criada seleção em plenos estádios construídos para a Copa do Mundo desse ano.
Todos os avanços jurídicos e sociais que cresceram a partir de 1990, na questão de igualdade de gênero, partiram de mulheres, que lutaram e buscaram seu espaço
ESPORTE 6 Dezembro 2022 Jornal Impressão
FOTO: MAYKEL DOUGLAS
em meio a uma sociedade extremamente machista. Sheikha Mozah, mãe do atual emir do Catar (chefe de estado do país) e grande influência no Oriente Médio na busca de mulheres árabes para ter os mesmos direitos que homens foi por muito tempo uma voz ativa nas questões femininas, apoiando oportunidades no ensino superior e a criação de um cargo de gabinete no governo dedicado às preocupações das mulheres. Como resultado, mulheres no Catar possuem cada vez mais oportunidades de carreira, incluindo posições de liderança, em educação, bancos, saúde e até diplomacia.
COMO O CLIMA MUDOU A COPA DO MUNDO?
Fatores climáticos foram decisivos na mudança de data da Copa. O evento, que normalmente ocorre entre os meses de junho e julho, teve seu período alterado para novembro, pois o verão catarense pode atingir temperaturas de até 40°. Mesmo assim, em novembro o país também atinge altas temperaturas, por isso não apenas os shoppings do país, mas os estádios construídos também possuem altas tecnologias de climatização, utilizando painéis solares como fonte de energia.
O processo de construção dos estádios que sediaram os jogos foi repleto de polêmicas. Em fevereiro, o jornal britânico ‘The Guardian’ revelou que mais de 6.500 trabalhadores migrantes morreram no Catar, desde a escolha da FIFA, em 2010, para o país ser sede da Copa do Mundo de 2022. Graves denúncias de trabalhadores em condições análogas à escravidão foram pauta até mesmo entre os jogadores, como acusou o jogador do Real Madrid e da seleção alemã, Toni Kroos: “os imigrantes são submetidos a jornadas de trabalho contínuas, sob temperaturas de 50ºC, não são alimentados de forma digna e não têm acesso a água potável.”, afirmou o atleta alemão, em um podcast conjunto com seu irmão, Félix Kroos.
Seguindo o mesmo caminho, no dia 24 de março de 2022, jogadores da seleção da Noruega, em partida válida pelas eliminatórias do mundial, usaram camisetas com a frase “direitos humanos dentro e fora de campo”, para denunciarem a situação dos migrantes que trabalham no Catar. Um dia depois, a própria Alemanha de Toni Kroos repetiu o gesto contra a Islândia.
ESPORTE E INCLUSÃO SOCIAL
Iniciativas que promovem a inclusão social de crianças e adolescentes em práticas esportivas
Por Diego Schubert
O esporte sempre foi tido como possibilidade de ascensão e, principalmente, de inclusão social, no sentido de poder abrir diversas portas às pessoas das classes
7 Julho de 2020 Jornal Impressão ESPORTE
Dezembro 2022 Jornal Impressão
mais “baixas” da sociedade. Estabelecer exemplos dessa possibilidade é até uma tarefa difícil.
Por meio de regulamentação e leis, no século XIX, a educação física passou a ser ministrada como matéria obrigatória nas salas de aulas das escolas públicas e particulares do Brasil, já que antes era restrita e, às vezes, inacessível, à maioria da população.
Em meio a situações instáveis, como também de abandono, e entre aqueles que viam e veem o esporte como mero entretenimento, a prática permanece, até hoje, ancorada no cotidiano de grande parte dos brasileiros, mesmo daqueles que não o praticam ou não pretendem caminhar de forma profissional.
Sabe-se que o impacto do esporte no Brasil é significativo, tanto que, de acordo com levantamento produzido pelo Ministério da Saúde, por exemplo, nos últimos 11 anos o número de praticantes de atividade física aumentou em 24%.
Assim, pode-se compreender que a consolidação do esporte no Brasil foi a conquista de um espaço importante na vida das pessoas e na promoção de práticas saudáveis, mas outro aspecto do esporte também merece atenção: seu grande potencial como ferramenta de inclusão social.
A lei nº 13.146, de 06/07/2015, por exemplo, dispõe sobre a inclusão de pessoas com deficiência física, mental, espiritual e sensorial, o chamado “Estatuto do Indivíduo com Deficiência”, que garante e promove os direitos dessas pessoas na sociedade, no sentido de incluir acessibilidade, acesso à informação, participação na vida pública e política, dentre outros.
A baixa aceitação da sociedade em relação às pessoas com deficiência pode ser um elemento dificultador, apesar de não impossibilitar a realização de quaisquer atividades por essas pessoas. No entanto, existem outras formas que possibilitam criar conexões com o meio social, por exemplo, por meio das práticas desportivas.
Jeferson Cristiano Machado, profissional de Educação Física, especialista em Esporte e Atividade Física para pessoas com deficiência, pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), destaca os benefícios do esporte no âmbito da socialização desse público, e os ambientes em que ocorrem as conexões:
“Além dos benefícios já conhecidos para a saúde dos praticantes, o esporte colabora para a socialização desse público com os demais alunos, permitindo construir laços de amizade, abrindo portas para novas oportunidades. Sabemos que, na maioria das vezes, o único ambiente que possibilita essa conexão, ocorre em escolas ou projetos esportivos, criando interações”, pondera.
Praticar uma atividade física proporciona a liberação do estresse, de energia, e conexão e socialização entre as pessoas, no sentido de que esse elemento pode
8 Julho de 2020 Jornal Impressão INCLUSÃO
Dezembro 2022 Jornal Impressão
ser visto como um facilitador para o estreitamento das relações. O esporte e a atividade física, em geral, podem proporcionar uma cadeia de benefícios, desde a manutenção da saúde mental, até o desenvolvimento do intelecto e das aptidões motoras.
INCLUSÃO COMO POSSIBILIDADE DE MUDANÇA
Quando se fala em inclusão social, o esporte vem à mente de muitas pessoas, pois a prática de esportes é considerada como algo muito mais importante do que somente uma atividade física ou algo essencial para a qualidade de vida. O esporte pode unir as diferenças entre os povos e cooperar no processo de inclusão social.
Prova disso são os inúmeros projetos sociais e esportivos desenvolvidos no Brasil ao longo do tempo. Um deles já com mais de vinte e sete anos de história e com 16 modalidades esportivas e ocupacionais.
O Programa Superar, criado pela Prefeitura Municipal de Belo Horizonte, promove a inclusão social das pessoas com deficiências por meio da prática de atividades físicas, culturais e do esporte educacional ou de rendimento.
As modalidades oferecidas são atletismo, basquetebol, bocha regular, bocha paralímpica, dança, futsal, goalball, judô, natação, patinação, rúgbi em cadeira de rodas, tênis de mesa, voleibol sentado, parataekwondo, funcional e percussão.
Dessa maneira, buscando destacar projetos sociais desenvolvidos no Brasil, chamou atenção uma modalidade ainda pouco conhecida entre os brasileiros: o
9 Julho de 2020 Jornal Impressão INCLUSÃO
Piscina Coberta, após reforma, da Principal sede do programa Superar PBH – O Centro de Referência Esportiva para a Pessoa com Deficiência, no bairro Carlos Prates, região Noroeste de Belo Horizonte
Dezembro 2022 Jornal Impressão
FOTO: MARCELO MACHADO
slackline, esporte que colabora para aumentar a resistência, a força, a agilidade e a elasticidade.
O desporto iniciou-se nos anos 1980, nos campos de escalada do Vale de Yosemite, EUA. Os escaladores passavam semanas acampando em busca de novas vias de escalada e nos tempos vagos esticavam as suas fitas de escalada, através de equipamentos, para equilibrar-se e caminhar. No Brasil, o esporte popularizou-se nas praias do Rio de Janeiro em 2010, espalhando-se por todo o Brasil.
Alisson Ferreira de Oliveira (30), natural de Ribeirão das Neves, é um atleta profissional de slackline, e atualmente coordena um projeto social denominado “Neves na Fita”, que visa popularizar o esporte em sua cidade natal. O atleta destaca como surgiu o projeto:
“A ideia e o espaço surgiram depois que consegui realizar o primeiro campeonato nacional de slackline, em agosto de 2017, e a instituição (Cidade dos Meninos –Ribeirão das Neves) cedeu o espaço para realização desse campeonato”.
Em 2018, Alisson Ferreira fundou um centro de treinamento em Ribeirão das Neves em parceria com a Cidade dos Meninos. A estrutura é considerada uma das maiores do mundo, e o local recebe muitos visitantes do Brasil e do mundo.
10 Julho de 2020 Jornal Impressão INCLUSÃO
Fachada do Centro de Treinamento de SlackLine na Cidade dos Meninos em Ribeirão das Neves
2022 Jornal Impressão
Foto: Diego Schubert
Dezembro
A competição foi o maior evento que aconteceu a nível nacional, reunindo 95 atletas de todas as partes do Brasil. Após a realização, a repercussão foi extremamente positiva, tendo cobertura de alguns meios de comunicação, o que acabou despertando no atleta a vontade de viabilizar a construção de um centro de treinamento.
Alisson conta que apresentou um projeto para a diretoria da Cidade dos Meninos, e a aceitação foi imediata. “Já existiam vários galpões que estavam sem uso, e fechei a parceria para que cedessem o espaço para montagem do centro de treinamento”, afirma.
A inauguração foi em 22/12/2017, e as atividades se iniciaram em 2018, e o espaço passou a ser utilizado para oferecer treinamentos aos jovens da instituição”.
Atualmente, o projeto beneficia cerca de 100 alunos, que utilizam a estrutura para treinamentos e prática da modalidade. Desse total, 60 são crianças e adolescentes alunos da Cidade dos Meninos, em Ribeirão das Neves.
A falta de incentivos financeiros é o principal fator que colabora para que a modalidade não seja tão conhecida e explorada. Alisson destaca que os investimentos públicos ou privados são fundamentais para fomentar a continuidade do projeto, principalmente para a aquisição de equipamentos:
“Hoje não temos aporte financeiro. Toda estrutura é em parceria com a instituição. Quando a instituição tem algum equipamento para utilização, ela cede, e o restante são equipamentos próprios. O restante é feito entre a gente mesmo, através de vaquinhas”.
Como toda atividade física, o slackline traz uma série de benefícios para o corpo e a mente. Alisson, que é o primeiro campeão sul-americano de slackline (Chile/2013), também bicampeão brasileiro (Brasília/2014 e São Paulo/2015), campeão mundial
11 Julho de 2020 Jornal Impressão INCLUSÃO
Centro de Treinamento de SlackLine na Cidade dos Meninos em Ribeirão das Neves
Dezembro 2022 Jornal Impressão
Foto: Diego Schubert
(Brasil/2015) e tricampeão estadual (2014/2015/2016), destaca a eficiência do esporte para a melhor qualidade de vida:
“Destaco o desenvolvimento físico e motor, além da concentração e equilíbrio mental. Hoje, muitos dos nossos jovens não possuem foco, e o slackline trabalha muito essa questão do objetivo. Vencer os obstáculos da vida é uma excelente forma de superação”, reforça.
Os esportes estão cada vez mais presentes na sociedade. A prática esportiva e a atividade física são fundamentais para o desenvolvimento social e pessoal de cada ser humano.
A fim de destacar o potencial social e pedagógico destas práticas e a sua contribuição para a formação de diversas habilidades físicas e cognitivas, conversamos com a Professora do curso de Educação Física do Centro Universitário de Belo Horizonte (UniBH), Daniela Sanches Machado.
Ao ser questionada sobre como a prática de esportes na escola contribui para a formação do aluno com deficiência, e quais habilidades são desenvolvidas, Daniela destaca que em uma aula de Educação Física, sentidos e significados têm um potencial de transformação social.
“Estamos falando do que chamamos de “cultura corporal do movimento”, termo que faz referência a uma visão que não se restringe apenas ao corpo no seu aspecto físico, mas que vê a pessoa como pertencente à uma cultura”, explica a professora.
Daniela Sanches também possui experiência na área de Educação Física Adaptada, e conta que o esporte tem um papel muito relevante no contexto da pessoa com deficiência. Historicamente ele representa uma mudança na forma como a pessoa com deficiência se vê e, por consequência, na maneira como a sociedade a enxerga. Para corroborar a tese, a professora exemplifica:
“Os Jogos Paralímpicos e as Olimpíadas Especiais são conhecidos exemplos disso. Através do esporte, o foco passa a ser o ser humano e as suas potencialidades, não seus laudos, diagnósticos e limitações”.
Na busca de enfrentarem o desafio da inclusão em sociedade, a família se torna a principal base para a criança. É nesse pensamento que se destaca a importância da família para a formação e a construção do desenvolvimento e da autonomia dessa criança perante as suas limitações.
Para o educador físico Jeferson Cristiano Machado, que também trabalha em um projeto social voltado para atender crianças e adolescentes com deficiência, as famílias devem abraçar os projetos e as atividades desenvolvidas, e não colocar os filhos em uma “bolha”. Ele explica:
“Muitas vezes observamos que algumas famílias vivem com o aluno dentro de uma bolha de segurança, e que em alguns momentos acabam atrapalhando o processo de desenvolvimento, e é necessário que o aluno tenha uma independência maior. Mas a família é fundamental em toda etapa”.
Para a Professora Daniela Sanches Machado, o papel da família neste processo deve ser de incentivar a vida ativa e participativa, dar suporte, e principalmente ser a fonte de amor.
“A família pode se engajar em todo o processo de incentivo a uma vida saudável, que inclui exercícios físicos, sejam na escola ou fora dela. Isso amplia o universo de possibilidades da pessoa com deficiência, como também pode promover o contato e conhecimento com outras pessoas e famílias que podem se servir mutuamente como uma rede de apoio, lutas e conquistas”, realça.
O BRASIL É O PAÍS DO FUTEBOL... MASCULINO
Por Gabriel Pimenta e Luiza Borges
É importante começarmos a contar a história do futebol feminino no Brasil a partir da sua proibição, em 1941, quando se instituiu um decreto-lei que dizia que mulheres não deveriam praticar esportes que não fossem adequados à sua natureza. A proibição só teve fim em 1979 e, durante esse tempo, houve diversas denúncias de mulheres praticando o esporte de forma clandestina. Foi apenas em 1983 que a modalidade foi regulamentada, permitindo que as mulheres pudessem, além de competir, criar calendários e utilizar estádios. Esse fato também abriu espaço para que o esporte fosse ensinado e praticado nas escolas.
Apesar de todo o avanço e conquista que as mulheres conseguiram para ter o direito de praticar o esporte que move milhões de brasileiros, ainda existe muito preconceito sobre a modalidade. Esse fator está ligado ao machismo estrutural e enraizado da nossa sociedade, que perdura até hoje no futebol, como explica a psicóloga e autora do artigo “Percepção das atletas do futebol feminino em relação à prática da modalidade no Brasil”, Heloise Aparecida Secco.
“Acredito que o problema do baixo consumo do futebol feminino esteja interligado com o machismo da nossa sociedade, que assola o futebol desde suas primeiras aparições no cenário brasileiro. A criação de maiores competições, equiparação salarial e maiores campanhas publicitárias envolvendo o futebol feminino ajudariam bastante no aumento do consumo, uma vez que, também, o futebol feminino ainda é visto como espetáculo de humor na comparação ridícula com a categoria masculina (que são bastante diferentes). Portanto, acredito que se houver uma quebra da imagem de que para jogar futebol você tenha que ser exclusivamente homem e, principalmente, másculo, o futebol feminino consiga caminhar mais tranquilamente”, explica.
Mesmo com as dificuldades enfrentadas pelas atletas, o futebol feminino, no último século, tem se desenvolvido de uma forma promissora, mesmo que lentamente. Muitas
12 Dezembro 2022 Jornal Impressão INCLUSÃO
O crescimento e os desafios do futebol feminino no território nacional
meninas viram grandes nomes do futebol feminino jogar, como Marta, Formiga e Cristiane na seleção brasileira, fazendo com que criem interesse para praticar o esporte. Os times de futebol têm captado jovens talentos para o futebol profissional, isso com ajuda de olheiros e auxílio das categorias de base do clube, que é um grande investimento das instituições.
Para a psicóloga Heloise Secco, o futebol brasileiro tem jovens promissoras que podem se tornar referência no cenário futebolístico, só que um dos problemas é a falta de maiores investimentos por meio das marcas, principalmente nas categorias de base. É importante apontar que alguns times do futebol só existem por uma obrigação imposta pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF). A partir do ano de 2019 começou a valer a regra de que para disputar o Campeonato Brasileiro e a Copa Libertadores da América (maior competição do futebol sul-americano), ambos da categoria masculina, os clubes deveriam criar um time feminino e uma comissão técnica, além de pagar salários.
MARTA E O FUTURO DA SELEÇÃO BRASILEIRA
Aos 36 anos de idade, a maior jogadora da história da seleção brasileira feminina de futebol, Marta, chega ao final de sua carreira nos gramados. Mesmo sem comentar sobre a situação, muitos torcedores dão como certa a aposentadoria da camisa 10 da seleção. A atacante recentemente sofreu uma lesão que a deixou de fora das últimas convocações da técnica Pia Sundhage, o que faz muitos torcedores
13 Julho de 2020 Jornal Impressão ESPORTE
Assessoria do Atlético-MG. Treinamento das Vingadoras.
Dezembro 2022 Jornal Impressão
questionarem as questões físicas e técnicas da craque brasileira.
A iminente aposentadoria da seis vezes vencedora do prêmio de melhor jogadora do mundo traz o questionamento sobre as futuras craques brasileiras e se teremos alguém preparada suficiente para assumir a camisa 10. “Nós temos uma série de atletas que podem se tornar referência no cenário futebolístico. O que falta hoje são maiores investimentos principalmente em categorias de base, levando em consideração que há pouquíssimas atletas que praticam o futebol de maneira organizada alocada em uma categoria de formação. E, claro, melhores condições para a prática, como boas competições, fornecimento adequado de materiais, alojamentos e viagens adequadas, entre outras coisas”, explica Heloise Secco.
Gerente de futebol das Vingadoras (nome usado para se referir ao time feminino do Clube Atletico Mineiro), Carol Melo reitera que Marta é uma atleta fora de série, mas não dá para comparar atletas. “Vejo muito atletas que se estão sendo trabalhadas na base e lá na frente darão muitas alegrias aos torcedores”, realça, com uma visão mais otimista sobre o futuro.
É evidente que a aposentadoria de Marta gera um questionamento sobre o investimento no futebol feminino. Será que as marcas e clubes investem o suficiente ao ponto de conseguirem dar suporte as atletas, para que atinjam um nível parecido ou tão bom quanto a grande craque brasileira?
FUTEBOL EUROPEU E EXPECTATIVAS PARA A PRÓXIMA COPA DO MUNDO
A primeira Copa do Mundo Feminina aconteceu no ano de 1991. Tendo os Estados Unidos como grande vencedor da final, o país que viria a ser tetracampeão em 2019 é coincidentemente um dos países onde a categoria gera mais interesse, seguido de vários países europeus. O nível de investimento nas atletas em economias tão grandes como a América do Norte e Europa mostra a disparidade entre esses países e países sul-americanos, que por sua vez nunca conseguiram vencer o grande torneio, sendo o Brasil o único país a disputar uma final da competição, perdendo para a seleção alemã.
O perfil oficial da FIFA Women’s World Cup divulgou, em dezembro de 2022, através das redes sociais, o ranking do futebol feminino da federação. O Brasil se manteve no top 10, a equipe ocupa a 9° posição do ranking, que é a mesma posição desde a última atualização da lista, que ocorreu em outubro de 2022.
A liderança do ranking, continua com os Estados Unidos, que ocupam o primeiro lugar desde 2017. Por outro lado, a seleção da Alemanha é uma forte concorrente para alcançar o primeiro lugar, já que, desde a última atualização, subiu uma posição e chegou ao segundo lugar.
Segundo informações do ranking, a Suécia caiu uma posição, e atualmente está no terceiro lugar. A equipe não está em uma boa fase desde outubro de 2022 e não apresenta bons números. A seleção vem de uma série de empates e derrotas,
14 Julho de 2020 Jornal Impressão ESPORTE
Dezembro 2022 Jornal Impressão
2022 Jornal Impressão
tendo perdido por 4x0 para a equipe da Austrália.
Em quarto e quinto lugar, Inglaterra e França se mantiveram nas posições desde a última atualização. O que surpreendeu muitos críticos foi o sexto lugar com a seleção do Canadá, que ultrapassou a “temida” Espanha, que atualmente ocupa o sétimo lugar.
Não há muitas novidades no restante da tabela. A seleção da Holanda, atual vice-campeã mundial, ocupa o oitavo lugar do ranking. A seleção Holandesa garantiu vaga na copa do mundo de futebol feminino de 2023, após um jogo dramático: Esmee Brugts marcou aos 48 minutos do segundo tempo o gol da vitória por 1 a 0 sobre a Islândia.
Brasil e Coreia se mantiveram nas posições nono e décimo lugar. No restante da tabela, a seleção da Itália perdeu três posições e aparece em 17°. Além disso, Portugal e Irlanda alcançaram suas melhores posições da história. Portugal em 22° lugar e Irlanda em 23°.
CRIANÇAS NO FUTEBOL FEMININO
Durante uma entrevista em uma escola de futebol, que fica no bairro Serra Verde, região norte de Belo Horizonte, crianças de 5 a 10 anos formam um time de futebol e sonham com um futuro na profissão.
Durante a conversa, a pequena Sabrina, de 8 anos, diz que sempre gostou de acompanhar o esporte. Além disso, ela afirma que se inspira nos jogos de futebol feminino da sua cidade, para poderem se tornar uma grande profissional.
A treinadora da escolinha, Elisa Oliveira, diz que há muitas jovens talentosas na
15 Julho de 2020 Jornal Impressão ESPORTE
Dezembro
Foto: Ryan Sena
unidade e conta que as garotas acompanham os campeonatos femininos e têm sido incentivadas a todo momento, para acreditarem que podem chegar até lá.
Proprietários da escola de futebol acreditam que falta o devido investimento na escolinha, tendo em vista que o valor arrecadado para o futebol masculino é maior do que para o feminino. A unidade conta com dois times de futebol feminino. A gerente, Eduarda Moreira, conta que muitas crianças já desistiram do esporte por não acreditarem que possam ter um futuro na profissão. “´É muito triste ver talentos do futebol feminino desistindo do esporte por falta de incentivo. A nossa escola incentiva a todo momento, porém não há dinheiro o suficiente investir nas garotas”, lamenta.
A unidade, que conta com 15 voluntários e 8 funcionários, investe cerca de R$17 mil mensais em gastos como água, luz, internet e folha de pagamento.
Em dezembro e janeiro, acontece o torneio “QG”, um campeonato interno da escola onde as meninas do time de futebol mostram todo o seu talento. A jovem Maria, de 9 anos, diz estar focada no campeonato deste ano (2022).
16 Julho de 2020 Jornal Impressão ESPORTE
2022
Impressão
Dezembro
Jornal
BOA NOITE, BATMAN!
O sensacionalismo que esvazia sentidos e não se aprofunda no real sentido dos acontecimentos
Mulher é assassinada a sangue frio pelo companheiro, criança é estuprada pelos pais, assaltante é amarrado a poste. Você, assim como eu, já deve ter ouvido e lido esse tipo de matéria mais de um milhão de vezes, esse que tão comumente é chamado de jornalismo, é apenas uma das várias formas de vender, futilidades e medo.
Como pessoa, posso dizer que, infelizmente, sou uma das diversas consumidoras desse produto e, que de certa forma, ser plateia de um problema que não é seu pode até ser divertido; até porque, pimenta nos olhos dos outros é refresco, certo? Mas como profissional do jornalismo, posso afirmar que há uma diferença enorme entre notícias e publicidade do caos.
Um dos casos que podem ser citados como de maior repercussão do jornalismo sensacionalista, foi um apresentador de determinada rede de televisão, informar a
17 Julho de 2020 Jornal Impressão OPINIÃO
Por Clara Pedrosa
Dezembro 2022 Jornal Impressão
Pixabay
mãe de uma mulher desaparecida que a filha teria sido encontrada morta, informação essa, passada ao vivo e sem nenhum tipo de filtro para preservar não só a vítima mas seus familiares, que inocentemente pedem a ajuda de meios de comunicação para auxílio de seus pesares.
No filme “Tropa de Elite”, jornais como estes são retratados de uma forma em que mostram como a disseminação do medo pode ser muito bem utilizada a bel-prazer por aqueles que querem entrar na cabeça das massas. Trazendo essa pauta para a não ficção, candidatos que defendem o extermínio de bandidos (pretos e pobres) são cada dia mais vistas nas assembleias e bancadas governamentais. O medo e o ódio contra minorias são inseridos na cabeça de cada um dos telespectadores como sendo normal e corriqueiro.
E a questão que realmente fica é: bandido bom é bandido morto, mas isso vale apenas para o pobre que rouba para comer, e o preto que estava correndo para alcançar o ônibus e tomou 6 tiros de aviso nas costas, ou também vale para o empresário que sonega impostos ou o presidente que além de recusar medicamentos para toda uma nação em meio a uma pandemia, tenta superfaturar cada uma das doses da vacina enquanto milhares de pessoas sufocam por falta de oxigênio em macas estacionadas nos corredores de hospitais completamente abandonados pela gestão pública?
Mais uma das questões levantadas dentro do contexto do jornalismo sensacionalista é a forma com que os envolvidos nos casos são tratados, dentro de uma redação, por mais que estejamos próximos a pessoas de escolaridade igual ou parecido com o nosso, vez ou outra é possível escutar comentários vindo daqueles que mais deveriam preservar as vítimas, críticas e acusações são ridiculamente expostas, e que sinceramente não mudam em absolutamente nada na resolução ou na transcrição do fato.
O último caso que acompanhei e que posso usar de exemplo, foi o assassinato de uma menor de idade em uma cidade metropolitana daqui de Belo Horizonte. O caso em questão aconteceu durante um baile funk em uma comunidade, a menina foi jogada dentro de um carro, sequestrada, abusada, torturada e morta por aqueles que diziam ser seus amigos. Um dos profissionais citou com bastante imparcialidade e julgamento, algumas das postagens feitas pela menor em suas redes sociais, e disse em tom de julgamento, que devido a esta pequena parte exposta da vida da vítima, isso já era previsível.
Acredito, que como pessoa física, o julgamento e o preconceito já estão enraizados em nós, mas que como seres humanos pensantes, a evolução e a censura de nossos próprios pensamentos, ou pelo menos de nossas palavras, deveria ser considerada sempre, ainda mais, quando a profissão que escolhemos é aquela de trazer a verdade independente de concordarmos com ela ou não. Independente da história pregressa da menina, das suas postagens em redes sociais ou do envolvimento dela com este ou aquele, a vítima de todo o ocorrido, foi ela, juntamente àqueles que a amavam e que sempre sentirão sua falta.
Particularmente, acho que a violência desde quando o mundo se tornou mundo, faz parte do ser humano assim como respirar, comer e dormir; por outro lado, penso que a disseminação deliberada de sangue sem nenhum tipo de real informação ou estudo sobre os acontecidos, não passa de barbárie e degustação do sofrimento alheio.
Como dito no começo deste texto, o jornalismo sensacionalista não é feito para informar, e sim divertir (entenda que divertir não é somente rir e passar um bom tempo), de nada mudará sua vida saber que um animal foi abandonado e atropelado diversas vezes na estrada que passa do outro lado do mundo, ou que fulana de tal foi assassinada pelo marido após uma noite de bebedeira.
O jornalismo, o real jornalismo, foi desenhado, criado e esculpido para o progresso, trazer notícias realmente relevantes que façam aqueles que o consomem pensar sobre, a partir do momento em que transformamos nossos meios de comunicação em repetição de ideias que de maneira alguma trarão um bem maior ao mundo em que vivemos, ou aos seres vivos que aqui ocupam, transformamos aquilo em que deveríamos confiar em manipulação e lavagem cerebral para os ignorantes que se
18 Julho de 2020 Jornal Impressão SOCIEDADE
Dezembro 2022 Jornal Impressão
sentam em frente aos seus televisores no final de cada dia acreditando estarem bem informados.
PRODUTOS DA TERRA: A NATUREZA EM DESTAQUE COM O MST
Desde 1984, o movimento atua, principalmente, na busca por uma reforma agrária popular
Por Rebeca Nicholls
O Movimento Sem Terra (MST) existe desde 1984 e tem como princípios a luta pela terra, a luta por reforma agrária popular e a busca por transformações sociais. Em busca da realização desses pilares, desapropria latifúndios que não estão cumprindo a sua função social para a produção de alimentos. Mas será que é possível afirmar que a atuação do movimento contribui para a produção de alimentos saudáveis e sustentáveis e, ao fim, contribui para uma sociedade mais justa?
REFORMA AGRÁRIA POPULAR: COMO FUNCIONA?
O Brasil possui uma história muito turbulenta, não só no que tange à posse de terras, mas em vários outros aspectos. É um país que foi construído através de genocídio dos povos tradicionais, sequestro e exploração de pessoas dos mais diversos lugares da África. E que mesmo após o fim da escravidão e inúmeros documentos que declaravam não só o trabalho forçado de negros e indígenas, mas também o preconceito com essas populações algo inaceitável e criminoso, a situação para os descendentes dessas pessoas não melhorou muito.
A realidade é que enquanto negros e indígenas eram explorados, os que exploravam viviam do trabalho deles em terras que haviam recebido ao entrar no país junto com os outros portugueses. E mesmo com o passar do tempo, muitos dos descendentes dessas pessoas ainda possuem essas mesmas terras. Voltando um pouco no passado, é possível identificar que o fim da escravidão não emancipou os negros que haviam sido explorados, mas sim os deixou a margem da sociedade, sem terras ou posses.
É de extrema importância conhecer o passado de um país para entendê-lo e, no caso do Brasil, não é diferente. Quando se fala de reforma agrária popular, é preciso refletir sobre quem tem a posse das terras rurais brasileiras e o mais importante: se essas terras são produtivas. O Movimento Sem Terra (MST) trabalha principalmente por essa reforma e tem a busca por uma reforma agrária popular como um dos seus principais pilares.
O conceito de reforma agrária popular pode ser definido por uma redistribuição justa das terras. Mas essa reforma vai muito além disso, principalmente quando se
19 Julho de 2020 Jornal Impressão SOCIEDADE
2022 Jornal Impressão
Dezembro
Feira com produtos da terra
Por Agatha Azevedo
trata da reforma agrária que o MST busca. Isso pois o trabalho desse movimento é buscar essa reforma de forma ativa, através de um processo que envolve a desapropriação de terras que não estão cumprindo sua função social. Agatha Azevedo, participante do coletivo de direção regional do MST na região metropolitana de Belo Horizonte, explica como a reforma agrária se relaciona com os pilares do movimento.
“O movimento funciona reivindicando a terra e distribuindo para as famílias que produzem alimentos saudáveis para o campo e para a cidade. Para fazer isso o movimento se baseia na constituição brasileira que diz sobre a função social da terra, então se a terra não está sendo usada, ela pode ser desapropriada para fins de reforma agrária. O princípio do nosso movimento é lutar por terra. As pessoas precisam de um pedaço de terra para plantar, depois lutar pela reforma agrária, que é esse contexto mais amplo, não é só a terra, mas é também saúde, educação, cultura, ter acesso à escola do campo, conseguir ir para uma faculdade e, por último, transformações sociais, porque a gente quer essa mudança para o MST, mas a gente também quer uma mudança para a sociedade.”
COMO SE FORMA UM ASSENTAMENTO DO MST?
Colheita
Desde suas origens, o Movimento Sem Terra é alvo de diversas críticas que, muitas vezes, são embasadas em informações falsas sobre o seu funcionamento. Grande parte do trabalho do MST envolve a formação de assentamentos e é justamente nesse contexto em que estão a maior parte das informações inverídicas que são divulgadas sobre o movimento.
Os trabalhos do MST são baseados na própria constituição, isso pois dentre os direitos que foram estabelecidos através da constituição promulgada em 1988 está o direito à propriedade, mas com algumas ressalvas. Toda propriedade tem que cumprir a sua função social, caso contrário pode ser desapropriada. Além disso, ao executar a desapropriação da terra, a União paga uma indenização ao antigo dono.
Agatha Azevedo explica como funciona o processo de escolha e desapropriação de terras:
“O movimento ocupa locais que não cumprem sua função social da terra, ou seja, são lugares que estão improdutivos, vazios e parados, são terras devolutas da união que também estão paradas, são terras com degradação ambientais ou com registros de trabalho escravo e são terras de latifúndios, não são pequenos sítios, são lugares enormes explorados pelo capital financeiro e que não estão cumprindo a sua função. Então não é a chácara de uma pessoa de classe média, não é uma fazenda produtiva, não é algo aleatório.”
A partir do momento em que o movimento ocupa uma terra que não está cumprindo a sua função social, essa terra se torna um acampamento do MST. As famílias passam a viver no local e se iniciam as plantações. Nesse momento o estado também é acionado para que o terreno seja desapropriado e, assim que a desapropriação é efetivada, o terreno se torna um assentamento. Atualmente o MST possui 450 mil famílias assentadas.
No campo, o movimento também busca construir escolas, tendo a educação como área prioritária. Pois o movimento entende que o ensino é parte do processo de reforma agrária. Pensando nisso, atualmente, o MST possui mais de 2 mil escolas construídas em acampamentos e assentamentos.
20 Julho de 2020 Jornal Impressão SOCIEDADE
Dezembro 2022 Jornal Impressão
Por Agatha Azevedo
Por Agatha Azevedo
MEIO AMBIENTE E AGRICULTURA: O QUE É A AGROECOLOGIA E COMO O MST A UTILIZA EM SEUS ASSENTAMENTOS?
O MST é atualmente o maior produtor de arroz orgânico do Brasil e isso diz muito sobre como funciona a produção dos alimentos nos seus acampamentos e assentamentos. Procurando pensar no impacto ambiental, o movimento produz sem a utilização de agrotóxicos. Além disso, os trabalhadores sem-terra buscam utilizar ideias agroecológicas em todos os processos envolvidos na produção.
Antes de entender como o movimento utiliza a agroecologia em seus acampamentos e assentamentos é preciso entender o que é agroecologia. Esse termo vem sendo muito utilizado atualmente e traz consigo algumas particularidades. A engenheira agrônoma,pesquisadora da área de agroecologia e professora no Instituto de Ciências Agrárias da UFMG, Márcia Martins, explica sobre o conceito.
“A definição de Agroecologia está em constante construção, em movimento como devemos realmente pensar esse conceito. Ou seja, a Agroecologia é uma ciência em formação que tem o foco na prática ecológica e não se distancia do movimento político-social. Os princípios da Agroecologia orientam a agricultura rumo a sustentabilidade em todas as suas dimensões: Econômica (acesso aos mercados; geração de trabalho e renda); Ecológica (interações ecológicas nos ecossistemas; preservação dos recursos naturais); Social (inclusão das populações menos favorecidas; segurança e soberania alimentar); Cultural (respeito às tradições); Política (Organização; gestão participativa); Ética (valores morais transcendentes/ verdade, arte, bondade/ciência, cultura, religião).”
A pesquisadora explica também que a agroecologia é uma ciência ainda em formação que inclui diversas técnicas de manejo que contribuem para uma agricultura
21 Dezembro 2022 Jornal Impressão SOCIEDADE
Plantação com técnicas de agroecologia
ecológica. A Agroecologia traz princípios/fundamentos que orientam uma forma de produzir que esteja próxima das multidimensões da Sustentabilidade. Esses diferentes tipos de “Agriculturas” de base ecológica possuem técnicas de manejo e de tratos culturais que podem culminar em uma agricultura de base sustentável. Algumas “Agriculturas” de base ecológica: Agricultura Orgânica; Agricultura Biodinâmica; Agricultura Natural; Sistemas Agroflorestais; Agricultura Sintrópica; entre outras. São essas diferentes formas de produzir que disponibilizam técnicas distintas”, explica.
Em seus acampamentos e assentamentos, o MST atende a lógica da agrofloresta. Em entrevista, Agatha Azevedo explica um pouco sobre esse processo.
“A gente utiliza técnicas da agroecologia nos acampamentos e assentamentos, a gente utiliza muitas caudas, plantio com solo coberto, na lógica das agroflorestas que é remontar o que a natureza construiu, aquele ciclo de abastecimento, cuidado e nutrição do solo e das plantas, tal qual era antes da terra se tornar agricultável, antes do ser humano colocar trabalho em cima dela. Então a maioria dos nossos territórios são agroecológicos e tendem a lógica da agrofloresta. A gente faz cursos de tempos em tempos de formação e a gente também tem convênios com universidades e institutos federais para que os acampados e famílias assentadas aprendam a dominar essa técnica”, ressalta.
Os Sistemas Agroflorestais (SAFs) são uma das formas de agricultura de base ecológica que fazem parte da agroecologia. Esse sistema pode ser dividido em alguns tipos, e dentre eles está a chamada “Agrofloresta”.
“Os Sistemas Agroflorestais (SAFs) e a Agricultura Sintrópica, fundamentados na Agroecologia, podem ser adotados como estratégias de reflorestamento (e produção de alimentos). SAFs são implantados de uma vez. Na Agricultura Sintrópica respeita-se a sucessão natural, ou seja, a implantação ocorre em várias etapas (como acontece em ecossistemas naturais)”, explica Márcia Martins.
A pesquisadora ressalta ainda que as SAFs são classificados em:
Sistemas Agropastoris (agricultura + pecuária)
Sistemas Silvipastoris (floresta + pecuária)
Sistemas Agrossilviculturais, a agrofloresta propriamente dita (agricultura + floresta)
Sistemas Agrossilvipastoris (agricultura + floresta + pecuária)”
Um fator muito importante para a produção de alimentos que estejam de acordo com os ideais da agroecologia é a produção de alimentos sem a utilização de agrotóxicos ou qualquer tipo de toxina que possa prejudicar não só a qualidade do solo como também a do alimento. Esse fator é também parte importante da
22 Julho de 2020 Jornal Impressão SOCIEDADE Dezembro 2022 Jornal Impressão
produção de alimentos nos acampamentos e assentamentos do MST. Agatha Azevedo fala sobre a importância de uma produção que busque não utilizar agrotóxicos em seus processos:
“A gente preza pelo que a gente chama de saúde coletiva. A gente fala que saúde é a capacidade de lutar contra tudo aquilo que nos oprime, então a gente produz sem agrotóxico, mas não apenas sem agrotóxicos, sem qualquer outra forma de violência, a gente produz com base na agroecologia e não existe agroecologia sem respeito às crianças, sem respeitos as mulheres e aos iguais e ao ser humano. Então dentro dos nossos territórios todos os plantios são feitos de maneira agroecológica, provando que é possível sim produzir alimento saudável sem o uso de agrotóxicos”, justifica.
PRODUTOS DA REFORMA AGRÁRIA: O QUE É O ARMAZÉM DO CAMPO?
O MST trabalha envolvendo várias pessoas, tendo para além dos seus assentamentos e acampamentos, suas agroindústrias, cooperativas, associações, escolas itinerarias, escolas do campo e redes do Armazém do Campo. Os produtos produzidos pelo MST têm um pouquinho de cada um desses lugares. Sendo o Armazém do Campo o destino, para onde os alimentos vão após todo o processo de produção. Agatha Azevedo também explica sobre esse processo.
“Os alimentos produzidos pelo MST são enviados para as feiras locais.A gente tem algumas na região metropolitana de Belo Horizonte, mas também no interior e a gente tem as redes do Armazém do Campo que hoje é presente em diversos estados e em Minas Gerais não fica apenas em Belo Horizonte, mas em outros locais. A gente vai inaugurar um em Juiz de Fora, e temos outra filial em Montes Claros e no Jequitinhonha. Nós estamos nos estruturando para chegar em todas as regiões. O armazém do campo, tal qual todas as estruturas do movimento, participa do todo da organização. Então a militância que hoje trabalha no armazém do campo também constrói o nosso movimento, também pensa em agroecologia,
23 Julho de 2020 Jornal Impressão SOCIEDADE Dezembro 2022 Jornal Impressão
Sem terras trabalhando na terra Por Beto Hektor
alguns são filhos de acampados ou assentados, outros são acampados ou assentados, outros entraram de outras formas na luta, mas é tudo muito integrado, então há uma participação geral em todos os espaços”, ressalta.
A NATUREZA EM DESTAQUE
O mundo está em um momento em que é preciso pensar no impacto ao meio ambiente em tudo o que o ser humano faz. E com a agricultura não é diferente. O último relatório do Painel Intergovernamental Sobre Mudanças Climáticas (IPCC) indicou que as emissões nocivas de carbono de 2010 a 2019 foram as mais altas da história. Além disso, o desmatamento da Amazônia no período de agosto de 2021 a julho de 2022 aumentou 3% em relação ao ano anterior, chegando a 10.781 km² de floresta derrubada. Dados como esse indicam a necessidade do uso de técnicas que unem a produção de alimentos com a preservação ambiental.
A agroecologia traz consigo pensamentos e técnicas que trazem alternativas à agricultura convencional. Marcia Martins explica um pouco sobre o surgimento da agricultura convencional.
“A Agricultura Convencional surgiu com a Revolução Verde. Ganhou forças, no Brasil, na década 60/70. Teve apoio das Instituições de ensino, pesquisa, extensão e assistência técnica e, também, dos bancos. Os bancos liberavam os créditos rurais mediante a apresentação de um projeto com o emprego dos pacotes tecnológicos da Revolução Verde (o uso era checado em campo). Esses pacotes tecnológicos, referenciados como ‘modernos’, eram compostos por: agrotóxicos, adubos altamente solúveis, máquinas e implementos, sementes híbridas (atualmente, sementes transgênicas também). Essa forma “moderna” de produzir gerou dependência de insumos externos à propriedade e, também, endividamento de muitos produtores (inclusive com perda de suas propriedades para pagamento de dívidas com o banco)”, explica.
Já a agroecologia traz consigo técnicas que, por serem realizadas sem o uso de agrotóxico, também pensam na preservação da flora nativa, ao dar prioridade principalmente para a produção frutas e legumes nativos. Ao produzir agroecologicamente, o MST dá um passo para uma agricultura saudável e que traz a preservação da natureza para um lugar de destaque.
PERSONAGENS DA REGIÃO OESTE: UMA HISTÓRIA DE SUCESSO E COLABORAÇÃO NO BAIRRO BURITIS
O trabalho inspirador da moradora do Buritis, Márcia Machado e a sua experiência na criação e coordenação do Projeto Amor de Mãe
Arquivo pessoal
Por Amanda Alves
A história de Márcia Machado no bairro Buritis começou há cinco anos, quando se mudou para a região na companhia do então namorado. Atraídos pela estrutura que o condomínio para onde se mudaram e o bairro ofereciam, de acordo com a entrevistada, as vantagens que o bairro proporciona aos moradores são muitas. A facilidade de acesso a serviços como escolas, supermercados e posto de saúde são algumas delas.
Embora identifique o trânsito como uma das desvantagens em relação ao bairro, Márcia diz que essa questão não interfere muito no seu dia a dia pela localização do condomínio onde mora.
JORNAL DAQUI (BURITIS E REGIÃO) 24 Jornal Impressão Dezembro 2022
O COMEÇO DO AMOR DE MÃE, UMA BUSCA PELA REDE DE APOIO MATERNA
A caminhada profissional de Márcia passa pela concepção e coordenação de um projeto de sucesso na capital mineira. O projeto Amor de Mãe nasceu de uma rede de apoio entre mães, que se reuniam para compartilhar experiências sobre a maternidade no sentido de retomar um princípio de coletividade, atualmente perdido no que diz respeito à criação e acolhimento das mães e das crianças.
“A gente queria devolver a coletividade para a maternidade, que a gente entende hoje como solitária. A maternidade não é comunitária como era na época das nossas mães e avós, quando criavam seus filhos perto das cunhadas, da sogra. Hoje em dia é cada mãe dentro do seu apartamento, com um filho, no máximo dois”, explica.
Márcia também aponta que o projeto surgiu para devolver essa experiência de colaboração entre mães na criação dos filhos.
MULHERES CHEFES DE FAMÍLIA E EMPREENDEDORAS
De acordo com estudo da consultoria IDados, baseado em dados fornecidos pelo IBGE, produzido em 2020, cerca de 47,5% dos lares brasileiros eram chefiados por mulheres. Isso dá uma noção da mudança social que aconteceu nas últimas décadas, quando as mulheres passaram de coadjuvantes a protagonistas, no que diz respeito à provisão financeira dos lares.
Dentro desse panorama destaca-se a quantidade de mulheres empreendedoras que, de acordo com dados do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) em parceria com o Global Entrepreneurship Monitor 2020, [correspondem a 46% dos empreendedores iniciais (com até 3,5 anos de empresa) segundo relatório GEM, 2020.
Esse grande número de mulheres que se aventuram no empreendedorismo aponta para a importância de iniciativas que busquem apoiar e profissionalizar a atuação da mulher empreendedora, especialmente as que constituem parte das micro e pequenas empresas. Importante salientar que, muitas vezes, essa é a única saída para as mães solo, que precisam estar em casa para cuidar de seus filhos mas precisam produzir renda para manter a família.
AMOR DE MÃE, UMA EXPERIÊNCIA DE PARCERIA ENTRE MULHERES
Márcia Machado, empresária e coordenadora do Grupo Amor de Mãe Fonte: Arquivo pessoal
No decorrer de 9 anos de trabalho no projeto, Márcia destaca que o grupo de mães começou a ocupar uma função de fomento à renda dessas mulheres participantes. O grupo entendeu, através da interação, que o principal problema enfrentado por essas mulheres dizia respeito à escassez ou mesmo à falta total de renda.
“Quando a gente entendeu que a maioria dos problemas das mulheres estava ligado à falta de renda ou a pouca renda que elas têm, a gente criou uma série de iniciativas de fomento, que vão muito além da loja colaborativa, que ficou muito famosa e que foi o que acabou dando um destaque pro grupo de mães que ele não tinha”, realça.
25 Julho de 2020 Jornal Impressão JORNAL DAQUI (BURITIS E REGIÃO)
Jornal Impressão Dezembro 2022
Márcia Machado, empresária e coordenadora do Grupo Amor de Mãe
Fonte: Arquivo pessoal
As iniciativas de fomento, segundo Márcia, passam por postagens orientando para o consumo consciente na página do grupo, o que estimula que que uma mãe compre produtos de outra mãe, criando uma rede colaborativa de circulação de produtos artesanais e serviços.
De acordo com Márcia, o grupo surgiu de uma reunião de empreendedoras, que se tornou uma feira que comercializava a produção destas empreendedoras, até culminar nas lojas colaborativas que hoje são o Amor de Mãe. As mães que ingressam no projeto passam por um processo de profissionalização no ramo do empreendedorismo, o que ultrapassa a experiência de compor o grupo.
Como Márcia aponta: “essa mãe aprende precificação, visual merchandising, tirar foto (dos produtos), postar na rede social. Aprende como “oficializar” o seu negócio, porque a mãe que vai vender seus produtos no shopping tem que emitir nota, aceitar cartão…então ela se torna uma profissional muito mais gabaritada, mesmo que não continue na loja”, afirma.
Hoje o projeto Amor de Mãe tem cerca de 5000 empreendedoras cadastradas e a loja conta com 40 estandes de venda de produtos artesanais, produzidos pelas integrantes. Você pode conhecer o trabalho visitando a loja que está localizada no 1ª piso do Shopping Del Rey (Av. Presidente Carlos Luz, 3001 – Pampulha/BH). Vale a pena conferir.
Siga o perfil no instagram do projeto: @grupoamordemaebh.
26 Julho de 2020 Jornal Impressão JORNAL DAQUI (BURITIS E REGIÃO)
Dezembro 2022 Jornal Impressão