Ano 40 • Número 218 • Agosto de 2022 • Belo Horizonte • MG Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo do UniBHZANTELLERFOTO:

Há 40 anos, o Jornal Impressão tem contado histórias e registrado momentos; mas quem são os colaboradores por trás das narrativas?
CAPA E REPORTAGEM CITADAS POR MARIANA GUALBERTO, SOBRE SWING. EDIÇÃO 198 DO JORNAL IMPRESSÃO, DE JUNHO DE 2015. FOTO: ARQUIVO IMPRESSÃO. 2 tivemos uma troca mui to enriquecedora com as demais equipes que estagiaram no Centro de Produção Multimídia, o CPM, da equipe de TV e rádio à turma do online”.
Wilson Albino Pereira, jornalista e fo tógrafo autônomo, tam bém é ex-estagiário do Jornal Impressão e conta que sua experiência foi incrível, pois tudo que aprendia em sala de aula era posto em prática no jornal. Dentre as histó rias interessantes das quais foi protagonista, há o desafio de ir a pé do UniBH, no antigo cam pus Lagoinha, até a cida de de Sabará.Eolha que nem se trata da reportagem que mais o marcou: “Na verdade, foi uma que se chamou ‘Reservas’. Era sobre amantes, e eu pre cisava encontrar mulhe res e homens dispostos a falar abertamente sobre o assunto. Aí, pintou de tudo, da garota de pro grama que havia se apai xonado por um cliente ao cara ousado, que fin gia ser irmão da aman te para dormir com ela, mesmo quando o marido estava em casa”.
Junho de 2022 Jornal Impressão 10 Anos HISTÓRIA SOBRE HISTÓRIAS
tóriascontamjornalistashisdedi ferentes formas e meios, e se adaptam ao cená rio. A curiosidade faz parte do ser humano, e despertar essa vontade de saber é nosso traba lho. Experimentar o que é ser um jornalista parece distante quando se está na faculdade. Não ter um diploma, muitas vezes, limita os projetos, mas, quando temos apoio e trabalhamos juntos, criam-se laços, famílias, e todos se apoiam, têm voz. A força e o incentivo se formam.OImpressão é o jornal que, a seu modo, fez de tudo para garantir a oportunidade, a todos que por ele passaram, de os estudantes deixarem sua marca. Neste espaço, ao recontar a “história sobre histórias”, buscamos, justamente, revelar alguns dos nomes por trás de tudo isso: aqueles que planejaram pautas, tiraram fotos e lideraram pessoas. Fo ram eles que, com pon tos de vista distintos, construíram, juntos, estes 40 anos de trajetória. O jornal se apresenta como labo ratório para os estu dantes dos cursos de Jornalismo, Publicidade e Propaganda, Design e Fotografia do Centro Universitário de Belo Horizonte -UniBH. A Co munidade de Aprendiza gem em Comunicação e Audiovisual - CACAU é a atual responsável pela produção do veículo. Ele é visto como uma porta de entrada para o mercado de trabalho, ao permitir que estagiários e colaboradores vivam a experiência e a rotina de uma redação jornalística. No dia a dia de qualquer profissão, estamos sempre em contato com as narrati vas, sejam histórias de trabalho, sejam conversas de casa ou de outros am bientes sociais. Somos todos espectadores e protagonistas de infinitas “prosas”. E foi contando histórias que o Impressão Aline Xavier Ana Clara Dias Leticia Sudan Rafael Lopes Raquel Gomes Os tem feito seu trabalho há 40 anos, em mais de duzentasParaedições.o jornal manter sua excelência no trabalho, sempre optou por funcionários e estagiários competentes, que contribuíram com ideias, pautas, matérias e reportagens de alta qualidade. Porém, quem são essas pessoas e quais são as suas histórias durante a passagem pelo Impressão?Diretor de Co municação Social (1987/1998), coor denador do curso de Comunicação Social (2003/2006) e pro fessor de Legislação e Ética em Jornalismo do UniBH até 2013, João Joaquim de Oliveira atuou como fundador do “Jornal Laboratorial Impressão”: “O Impres são deu seus primei ros passos em 1979, e adquiriu identidade como jornal laboratório a partir de 1982, quan do foi criada sua primei ra sala de redação. O curso de Comunicação ainda funcionava nas instalações da Faculda de de Filosofia de Belo Horizonte, a FafiBH, na avenida Antônio Carlos, desde 1975”.Em 2000, a coordenação do jornal teve mudança, devi do ao convite do então coordenador, Carlos Al berto de Carvalho, para que o professor Fabrício Marques assumisse a dis ciplina de Laboratórios de Edição, e, já no se gundo semestre, acei tou o convite e se tor nou coordenador do “Laboratório de Jorna lismo Impresso”, antigo nome da atual CACAU. Durante sua coordena ção, Fabrício conta que as experiências foram maravilhosas, e que teve a oportunidade de con tribuir para o contato en tre alunos e professores, tanto na hora de pensar as pautas quanto de produzir os conteúdos. A primeira fase do ano 2000 até 2007, segundo Fabrício Marques, foi o momento de ouro para crescimento no jornal e da proposta, contando com compra de novos equipamentos e a expan são do jornal. Desafios da Jornada Além das contri buições dos professores para o jornal, o Impressão sempre foi um espaço de aprendizado para os es tudantes e proporcionou a oportunidade de con tato entre os cursos de comunicação do UniBH. Exemplo disso está na lembrança da ex-esta giária Mariana Eleu tério Maia Gualberto, que, atualmente, traba lha como copywriter e produtora de conteú do: “Era incrível! Como eu estudava no turno da noite, meu es tágio era à tarde. Então, passei bastante tempo no campus, que, naquela época, ainda funcionava na Lagoinha. Além disso, Além das contri buições dos professores para o jornal, o Impres são sempre foi um espa ço de aprendizado para os estudantes e propor cionou a oportunidade de contato entre os cur sos de comunicação do UniBH. Exemplo disso está na lembrança da ex-estagiária Mariana Eleutério Maia Gualber to, que, atualmente, tra balha como copywriter e produtora de conteú do: “Era incrível! Como eu estudava no turno da noite, meu estágio era à tarde. Então, passei bastante tempo no cam pus, que, naquela épo ca, ainda funcionava na Lagoinha. Além disso, tivemos uma troca mui to enriquecedora com as demais equipes que estagiaram no Centro de Produção Multimídia, o CPM, da equipe de TV e rádio à turma do online”. O trabalho mais difícil de ser realizado, segundo a jornalista, ren de mil histórias! Em uma das edições do jornal, a proposta para o Caderno Do!s era fazer um dossiê sobre diversas formas de prazer. Ao dividirem as pautas, ela acabou fi cando com a temática do swing, e,Marianacomo não tinha fontes e não fazia ideia de como encontrar per sonagens para a matéria, a única saída foi apostar numa narrativa literária, para contar como era, de fato, o ambiente de uma casa de sexo livre. Para isso, a jornalista precisou ir até um desses ambien tes em Belo Horizonte, para observar e relatar “Lembrotudo. que, estando lá, observei as pessoas, as conversas, a decoração, o cheiro, a música. Enfim, todos os detalhes, para traduzir em texto o que eu estava vendo. Como resultado, consegui en tregar uma matéria de página dupla e explorar a narrativa literária em meio ao jornalismo. Foi desafiador, mas, certa mente, um trabalho mui to recompensador”, diz Mariana.


Junho de 2022 Jornal Impressão 20 Anos 30 Anos 40 Anos CAPA DA EDIÇÃO 195 DO JORNAL IMPRESSÃO, DE JULHO DE 2014, COM A SÉRIE DE REPORTAGENS INTITULADA RESERVAS, CITADA POR WILSON ALBINO PEREIRA. FOTO: ARQUIVO IMPRESSÃO. CAPA E REPORTAGEM DO DOSSIÊ INFÂNCIA, CITADO POR MARIANE FERNANDES NASCIMENTO. EDIÇÃO 209, DE SETEMBRO DE 2018, DO JORNAL IMPRESSÃO. FOTO: ARQUIVO IMPRESSÃO A jornalista mos trou muita gratidão a to dos que a acompanharam e por todo etruícarreira.pararamapelidadocio,mestresmuitoondequeprofissionalconhecimentoadquirido,aajudouachegarestáhoje:“TenhoaagradeceraosLeoeMaurícarinhosamentedeGoi,quefoeaindasãoespelhosessemeuiníciodeLádentro,consgrandesamizadesparcerias,alémde
3
O ex-estagiá rio sempre teve paixão por pautas desafiado ras, e compartilhou co nosco sua experiência de passar um plantão inteiro acompanhando uma equipe de covei ros. “Vi, naquele dia, trabalhadores entrando em covas repletas de ba ratas e escorpiões. Fala ram do preconceito que sofrem diariamente e um deles me contou que ninguém escolhe o ofício. Em outras palavras, é a profissão que escolhe a gente”, destaca Wilson. Mariane Fernan des Nascimento, atu almente assessora de comunicação da empre sa Complemento Comu nicação e Social Media, do jornal O Tempo, também foi estagiária do jornal, de 2017 a 2018. Ela destaca que teve a liberdade de construir e propor pautas, e também elogiou o ambiente agra dável criado pela equipe. “A experiên cia foi excelente! Tive a oportunidade de de senvolver meu texto, com linguagem própria, para o jornal impresso. Eu tinha total liberda de para propor toda e qualquer pauta, e com uma liberdade de cria ção imensa. Além disso, todo o ambiente era mui to tranquilo, e consegui melhorar meu trabalho em grupo, com a orienta ção dos professores Leo Cunha e Maurício Gui lherme”,Comodestacaex-estagi ária, Mariane fala dos bastidores do jornal, e de como toda a linha de produção era fei ta por alunos. Ela, por exemplo, atuou como redatora e editora, além de participar das reu niões de pauta junto aos demais estudan tes. Além de contribuir com as matérias, teve a oportunidade de fazer a diagramação (a dis tribuição de elementos gráficos nas páginas do jornal), junto aos estagiá rios de Design. “Toda a linha de produção era compos ta por estudantes, da pauta ao texto final. Os coordenadores deram muita liberdade para a gente pensar, propor e produzir as matérias. Até o estilo das fotos a gente escolhia para o pesso al da fotografia realizar! Era um espaço em que os estudantes (estagi ários e colaboradores) tinham voz”, frisa Maria ne Nascimento.Sobreapauta que mais a marcou durante seu tempo de Impressão, a jornalista revela um momento emocionante, que envolveu sua família, além de gerar reflexão, boas memórias e mui ta diversão durante o processo de desenvolvi mento da “‘Voltandoreportagem:para o futuro’ foi a pauta em que pensamos numa lherquandoincrível,chorei.alegres,relembrarquereflexãoleinfânciana,contei,nossaalgofato,deveríamos,retrospectiva:contarumumalembrança,queremetesseàinfância.Eeuemmeiapágipraticamenteminhainteira.Aquefoiummomentodeparamim,empudepararparadefatos,tristes,emqueatéUmaexperiênciaprincipalmente,tivequeescoumafotoparailus
trar a reportagem. Lem bro que sentamos eu, minha mãe e meu irmão para escolher, e ficamos vendo mil fotos antigas, relembrando casos, e rin do à beça. Foi a oportu nidade de me reconectar comigo mesma”, garante.


Junho de 2022 Jornal Impressão enorme maturidade profissional. É realmente, um laboratório de muito aprendizado, e acho que todos deveriam ter a oportunidade de estagiar, conhecer e colaborar. Sou muito grata por tudo que vivi lá dentro e tenho cer teza de que ter essa expe riência me ajudou a che gar aonde estou hoje!”, comenta.Durante seis anos, o professor Maurício Gui lherme Silva Jr. foi res ponsável pela coordena ção do Impressão, junto ao colega Leo Cunha, auxiliando alunos e colaboradores no proces so de escolha de pautas e de criação de conteúdos para o jornal. Segundo ele, a primeira grande experiência se refere a pensar a estruturação e a reestruturação de seções e a produção visual. Era preciso inovar e manter a qualidade que o jornal sempreEteve.quais as melho res pautas, na visão de Maurício? Ele nos con ta de uma experiência muito interessante: “Três alunas, estudantes de jor nalismo, receberam quan tias de dinheiro (pouco, mais ou menos e muito), para viajar a algum ponto do país, fazer um relato sobre a viagem e o gas to do dinheiro”. No dia da viagem, na rodoviária, realizou-se o sorteio para distribuir os valores (R$ 600, R$ 300 e R$ 150). Com o dinheiro, elas viajaram à Vitória, Santa Bárbara e São João Del Rey. Joana Suarez, re pórter e ex-estagiária, também relembrou seus tempos no Impressão. Foi sua primeira experiência com jornal impresso, e o pontapé para trabalhar com o jornalismo escrito: “Tinha os editores e pro fessores que nos orienta vam no caminho, e, ali, já fui tendo ideia do poder de síntese, do jornalismo escrito, de ser simples e acessível na linguagem, na narrativa. E de as histórias terem fontes ofi ciais, mas, também, vozes da cidade”.O ex-estagiá rio Danilo Silveira, aos 30 anos, trabalha como analista de prevenção a fraudes em um banco de investimentos. Mesmo que o ofício seja com pletamente diferente do jornalismo, ele tenta, ao máximo, usar muita coisa dade, no dia a dia como perito, principalmen te no que se refere ao jornalismo investigativo. De 2015 e 2016, como estagiário do Im pressão, ele ficava a cargo de tudo um pou co, da criação de pautas à distribuição do Jornal Impressão no campus da faculdade. Além disso, FOTO DE DANILO SILVEIRA NA REVISTA MÚLTIPLA, DE NOVEMBRO DE 2015. FOTO: ARQUIVO IMPRESSÃO.
Danilo descre ve sua experiência no como libertadora: afi nal, participava, com sua criatividade, da criação de pautas e da produ ção do Jornal. E pôde descobrir, com a ajuda dos professores, seu talento jornalístico: “Cara, o Impressão era um jornal diferenciado. Tanto o Leo quanto o Maurice davam chance de os es tagiários e colaboradores testarem. Era incrível ir numa reunião de pauta e sair de lá com um dossiê fotográfico para fazer; ficava a cargo da nossa imaginação e habilidade testar cenas, edições etc.”. Danilo diz que o deram motivo de se orgulhar do próprio talen to jornalístico. “Antes de colaborar no Impressão, eu tinha engessado minhas práticas numa assessoria de comunica ção; não que tivesse sido CAPA E REPORTAGEM SOBRE CABINES ERÓTICAS, CITADA POR DANILO SILVEIRA. EDIÇÃO 197, DE ABRIL DE 2015, DO JORNAL IMPRESSÃO. FOTO: ARQUIVO IMPRESSÃO MANUAL POLITICAMENTE INCORRETO DO PROFESSOR DE GRADUAÇÃO. EDIÇÃO 198, DE JUNHO DE 2015. FOTO: ARQUIVO IMPRESSÃO participava como fotógra fo e cuidava da qualida de das imagens do jornal. “Bem, como bom esta giário, eu ficava a cargo de tudo, de organizar as ideias da reunião de pau ta em quadro a distribuir jornais no campus; de editar e revisar as repor tagens dos colaboradores a ficar até tarde com o pessoal do Design para fechar a diagramação”, conta. No Laboratório de Jornalismo Impres so, suas funções não se limitavam ao Impressão. Havia, na ocasião, a re vista Multipla, que reunia o texto dos alunos pres tes a se formar. “Tive a honra de colaborar, com fotografias, na última edi ção impressa da revista. Era recorrente que as imagens das reportagens de outros colaboradores não estivessem numa qualidade tão boa assim. Quando acontecia, eu entrava em ação. Fiz isso tanto no jornal quanto na revista”, relembra. ruim, mas nunca podia ser criativo e inventivo. Em que momento, sendo estagiário da assessoria de comunicação da prefeitura, eu poderia testar, junto ao Willian Araújo, a realização de uma história em quadri nhos?”
4
Ele menciona que tudo o que fez du rante sua passagem pelo Impressão o marcou: “Era uma época em que a revista Piauí era a minha bíblia. Queria reproduzir um pouco do que lia lá no Impressão. Meu primeiro texto, com meus amigos Igor Lucas Guilherme e Mirianne Torres, foi sobre as cabines eróticas do baixo Centro de BH. Isso era assunto de utilida de pública para mim: as pessoas tinham que saber daquilo”, afirma.




5 Continue
Danilo confessa que nem sempre as ideias vinham à cabeça, e que produziu pautas de ideias vindas dos professores, mas, mesmo assim, teve uma experiência marcan te: “Às vezes, os profes sores davam a ideia e eu produzia a pauta. Mas já teve uma oportunidade em que saímos, Wilson Albino e eu, ao acaso. Durante o trajeto que fazíamos, da Lagoinha (onde era o antigo cam pus do UniBH) até o cen tro histórico de Sabará, tudo a pé. Comentávamos sobre a forma que escre veríamos a reportagem. Nesse texto, a quatro mãos (“De BH a Sabará a pé”), existem caracterís ticas narrativas dos dois. Dividimos a matéria em pequenas crônicas. As sim, ficou mais fácil or ganizar essa experiência sem planejamento. Por que andamos 20 km a pé? Pergunte ao Leo Cunha Entretanto,(risos)”. foi essa experiência que os apro ximou dos professores. “Eles não eram profes sores intocáveis, como víamos anteriormente. Eram legais! Se diver tiam com a gente, até nos levavam para almoçar de pois das reuniões de pau ta (saudade disso, inclu sive). Com aquela pauta, a gente mostrou que éra mos pau pra toda obra, e que podiam confiar na gente”, Danilodiz. finaliza com uma história curio sa, envolvendo ele e seu amigo Wilson, que foram a pé da Lagoinha a Saba rá, ao percorrer quilôme REPORTAGEM DE DANILO SILVEIRA E WILSON ALBINO PARA A EDIÇÃO 199 DO JORNAL IMPRESSÃO, DE OUTUBRO DE 2015. FOTO: ARQUIVO IMPRESSÃO.
Junho de 2022 Jornal Impressão
São 40 anos de muitas histórias, amizades, su lendo!
peração e muito compro metimento com o próprio jornal. Histórias de pesso as que dedicaram parte da vida a contribuir com o desenvolvimento de matérias e reportagens, para que outras também pudessem ter acesso à informação. O Impressão marcou a vida de muitos estudantes, que puderam experimentar o que é ser jornalista.
tros que fortaleceram a amizade: “O fato de ter ido a pé da Lagoinha a Sa bará já é a história. Quem, em sã consciência, faria isso hoje? Wilson e eu quase morremos: pela es trada, os carros passavam colados na gente, sem contar que, num trecho de pouco acostamento, resolvemos pegar atalho na linha do trem que es tava ao lado. Ainda bem que a locomotiva passou por lá dez minutos de pois. O ouvido do Wilson nunca funcionava, mas, naquele dia, ele escutou um assobio ao longe; por medo, corremos até voltarmos à estra da. Naquele dia, a nossa amizade ficou mais forte. Sabia que poderia contar com ele para qualquer coisa. Eu, que sempre fui muito ressabiado, ganhei mais um amigo, mas esse, de verdade.
Acesse o QR code e acompanhe mais sobre esse conteúdo Ele desenvolveu, ainda, pautas no estilo Capricho de fazer repor tagens (o “Manual poli ticamente incorreto do professor universitário”), uma crônica sobre uma mulher que tinha como hobby trair (“Disque L para trair”), e por aí vai. “Na produção dessas pautas, tive a oportunida de de conhecer o escritor e jornalista Humberto Werneck (autor de O de satino da rapaziada), fã de Gay Talese assim como eu. Com ele, tive uma aula sobre perrengues jornalís ticos: nunca confie 100% nos gravadores ou nos garranchos do bloquinho de anotações. Não quero me gabar, mas, depois da minha conversa com o Humberto, corri para casa e escrevi tudo sem preci sar de ler anotações ou escutar a gravação, algo meio Truman Capote (se nunca leu nada dele, não marca bobeira e leia A sangue frio)”, conta.


CD CLUBE DA ESQUINA, DE MILTON NASCIMENTO E LÔ BORGES. Loureiro Luis Otávio Peçanha Marcos Soares
Junho de 2022 Jornal Impressão E SONHOS NÃO ENVELHECEM…
Clube esquinada Clube esquinada Ao que vai nascer As relações de Milton Nascimento com a família Borges não se iniciaram com a amizade entre o compositor e Lô. Muito antes do álbum Clube da Esquina, Bituca já conhecia e tinha afinidades próximas com os irmãos mais velhos do clã, Marilton e Marilton,Márcio.nos anos 1960, adotou o piano como o principal instrumento, e foi o primeiro da família a tocar com Bituca. O mais velho dos irmãos Borges também abriu as por tas da casa da família para Milton, que, então, conheceu o mais novo, Márcio, e acabou criando raízes para o que viria a se tornar o pilar do disco. Grande letrista, Márcio era fã de cinema e literatura, assim como Milton, e essas paixões acabam se tornando o ponto de partida para os ritmos e melodias que viriam a ser lançados no Clube da Esquina. Filmes como Jules et Jim, dirigi do por François Truffaut, mexeram com o imagi nário dos amigos e in fluenciaram bastante a produção do disco. LÔ BORGES, DEZ ANOS MAIS JO VEM QUE MILTON NASCIMENTO MILTON NASCIMENTO, CONHECIDO COMO BITUCA Tudo que você podia ser Após conhecer os dois irmãos mais velhos da família Borges, Milton Nascimento, intérprete e letrista já conhecido na cionalmente, enfim cria laços com o jovem Lô Borges, dez anos mais novo. O adolescente já tocava violão na esquina das ruas Paraisópolis e Di vinópolis, no bairro Santa Tereza, em Belo Horizon te, e vinha de uma onda beatlemaníaca, e da veia do rock dos anos 1970. Milton banca a participação de Lô Bor ges no disco, como intér prete e compositor de di versas canções do álbum, indo contra todos os pro dutores, que achavam aquele adolescente muito inexperiente para gravar com um ícone nacional, e o tratavam com certo desprezo e desdém. En tretanto, a história de Lô após a gravação do disco prova que Bituca estava completamente certo em sua escolha de parceria. Para Ivan Vilela, violeiro, compositor, ar ranjador e pesquisador, há mais de uma década, do Clube da Esquina, o encontro de Milton e Lô no disco trouxe algo novo e inusitado para a época. “Foi um encontro mui to feliz, porque, por um lado, o Lô trouxe frescor para essa música, uma linguagem mais jovial, e, por outro, o Milton traz uma série de informações como a África do conga do, uma África mineira. Ele constrói a ponte da MPB com a música an dina, mais do Cone Sul mesmo”, comenta Vilela, ao destacar, ainda, que havia uma ponte com a música latina americana do Caribe, de Cuba, des de a época do samba can ção. “Outra ponte é cons truída, por Milton, com o calipso, a rumba, o tcha tcha tcha, o mambo e o bolero”.
6 André
PauloMarianaAbrahãoReisHenrique
Após 50 anos do lançamento do disco Clube da Esquina, a obra segue atual De encontros casuais entre jovens, em um dos bairros da capital mineira, ao lança mento de um dos discos mais cultuados pela crí tica musical brasileira. Eis, resumidamente, a história de amiza de que desencadeou o lançamento do disco Clube da Esquina, considerado, em 2007, pela revista Rolling Stones Brasil, como o sétimo maior disco de todos os tempos no país. O disco, que, mais tarde, culmi naria em algo muito maior e mais complexo, segundo especialistas, completa, em 2022, exatos 50 anos. Trata-se do cinquentenário de um dos álbuns mais determinantes e in fluentes da música bra sileira. A data é não só emblemática, como segue repercutindo entre os mú sicos e Brasileira.paracaminhosonopresente,aquilopreocupaçãoeteêmiosumniamoshomenageiaOinstrumentistas.nomedaobraolocalondejovensmúsicossereu–SantaTereza,dosbairrosmaisbodeBeloHorizon–,paratocarviolãocantar,semmuitacomoquedesencadearianoemuitomenosfuturo.ExatamentediscoquetraçoudeterminantesaMúsicaPopular




Trem de doido Com uma miscelâ nea de sons e instrumen tos intercalando melodias e letras, o arranjo musical do disco foi ignorado pela crítica musical na época do lançamento e vene rado com o passar dos anos. A dicotomia se dá pelo impacto da ruptu ra do estilo cultuado em 1972 pelos críticos. Ivan Vilela faz um pequeno paralelo entre a Bossa Nova e o Clube da Esqui na, e crava que o Clube trouxe mais inovações para a MPB em relação a qualquer outro movimen to musical.“A Bossa Nova teve um momento de ex trema importância pelo contexto da música que existia e o que ela trou xe de inovação, mas, em termos de quantidade de inovações, o Clube ganha nesse sentido. Ele é mais musical, ao trazer mais novidades incorporadas de diversos músicos do mundo inteiro, e nunca ninguém atribuiu a ma ternidade dessas criações. Então, a relação é deter minante na MPB de não apenas um caminho, mas de muitos”, analisa Vilela. Com um frescor tão grande, o disco Clu be da Esquina acabou A ESQUINA ONDE NASCEU O CLUBE pouco estudado e menos ainda como destaque na época. A mistura de rit mos e harmonias não era bem vista pelos críticos, acostumados com uma música mais “padrão”. Ou seja: foi um verdadeiro trem de doido para os mi neiros. Mas seriam doidos os críticos que não enten deram a importância do disco ou os músicos e ins trumentistas que tiveram a audácia de produzir algo com tamanha inova ção? Hoje, sabemos a resposta, e a trajetória de influência do disco que determinou caminhos da musicalidade brasileira ainda pode ser vista e ou vida por meio de outros artistas peloespalhadospaís.Djavan, Ivan Lins, Guilherme Arantes, Gonzaguinha… Todos se veem influencia dos pelo disco e por Mil ton Nascimento. Quando se escuta o disco pela pri meira vez, mesmo hoje, não se consegue especifi car o tipo de ritmo ouvi do. Santê: boemia e música O bairro de San ta Tereza, localizado na região Leste de Belo Ho rizonte, ainda preserva características da década de 1960, e possui mais de 300 imóveis tomba dos pelo Conselho Deli berativo do Patrimônio Cultural. O bairro de BH é conhecido pela vida bo êmia e por ser o berço do cenário musical mineiro do Skank, e do Sepultura, além do Clube da Esqui na. O músico e com positor Manoel Pádua, que hoje tem 73 anos, lembra com nostalgia de sua juventude, embalada pelo som que os irmãos Borges faziam com Mil ton Nascimento, dois quarteirões acima da rua onde ele morava: “Eles ficavam sentados na cal çada, na esquina da Divi nópolis com a Paraisópo lis. Naquele tempo, havia liberdade e os jovens fi cavam até tarde da noite nas ruas, sem nenhum perigo. Muitos vizinhos se juntavam para contem plar a música que eles fa ziam. Aquela esquina era parte do meu trajeto, e eu os via sempre. Ficava só à espreita, mas perce bia que aquele som tinha potencial para ir muito além”.
Continue lendo!
7
Junho de 2022 Jornal Impressão Nada será como antes Lançado em um perío do sombrio da história brasileira, a ditadura mi litar, o disco Clube da Esquina surge também em um período de plena efervescência musical e de afirmação da música como grande potência mundial. Segundo Vilela, nos anos de 1971, 72 e 73, há discos com mui tas coisas boas, feitos por Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Mil ton Nascimento, Jorge Ben, Elis Regina, Fagner e João Bosco. Além disso, comemorava-se, à época, os 50 anos da Semana de Arte Moderna, que trazia a evocação dos valores da brasilidade.No período mais sanguinário da ditadu ra brasileira, durante o governo Médici, que torturou, exilou e assas sinou diversas pessoas contrárias ao sistema, os compositores mineiros utilizaram o recurso de mensagens cifradas para driblar o crivo dos cen sores militares. O uso de metáforas está presente na maior parte das músi cas do disco, e deixa cla ro o posicionamento do grupo quanto à ditadu ra. Uma das canções do álbum não passou pelos censores: justamente, a que dá o nome ao álbum. A canção Clube da Esqui na foi incluída na obra, mas só com vocais e ins trumental.Apartir de uma linguagem poética, ficam nítidas algumas angústias e esperanças do período, criando uma contraposi ção entre o que acontecia e a espera por um futuro melhor. Muito além da es quina, a palavra “estrada” é metaforizada e está pre sente em algumas letras. Nas primeiras estrofes da canção “Tudo que podia ser”, fica claro esse jogo de palavras: “Com sol e chuva você sonhava/ que ia ser melhor depois/ você queria ser o grande herói das estradas/ tudo que você queria ser/ Sei um segredo/ Você tem medo/ Não fala mais na bota e no anelde Zapata” – a referência a Zapata, um dos responsáveis pela queda do regime ditato rial mexicano em 1911, demostra uma angústia grande pela revolução que não aconteceu em territórioEmbrasileiro.“Nada será como antes”, a palavra estrada também se faz presente: “Eu já estou com o pé nessa estrada/ qualquer dia a gente se vê/ sei que nada será como antes, amanhã”. Em um período de cons tantes mudanças, exílio e desaparecimentos pelo regime, a estrada aparece como uma continuidade ao futuro. Algo que fica claro na próxima estrofe da música: “que notícias me dão dos amigos/ que notícias me dão de você”. O endurecimento do regi me militar cerceou direi tos e poucas eram as notí cias que circulavam sobre os presosAlgunspolíticos.dosartistas mais famosos e conceitu ados da época decidiram se autoexilar por teme rem represálias do siste ma instaurado no Brasil. Porém, Milton decidiu ficar no país e batalhar contra a ordem imposta pelos militares, mesmo que isso significasse um alto custo para a vida do compositor carioca. (Sim, Milton nasceu no Rio de Janeiro, mas se considera mineiro de coração.)
Acesse o QR code e acompanhe mais sobre esse conteúdo
CD CLUBE DA ESQUINA DE MILTON NASCIMENTO E LÔ BORGES.




Junho de 2022 Jornal Impressão
Exercício Fotográfico realizado por Eller Zant, do 7° período do curso de Publicidade e Pro paganda do UniBH.
ENTRE O ASFALTO E A POEIRA CORRE UM RIO
8
Já se perguntaram como BH era antes de todo esse asfalto, poeira e poluição? Pois bem, a artista Isabela Prado de senvolveu a obra “Sobre o Rio”, que através de um projeto de Lei Muni cipal de Incentivo à Cul tura em 2018, foi criando forma. Mas só em 2020 se tornou uma interven ção urbana permanente. O complexo dessas artes integra uma pesquisa da artista sobre presença hi drográfica na cidade, com uma visão crítica que nos faz refletir com olhos su gestivos a respeito da ini ciativa hídrica e hidrográ fica emABH.intervenção nos retira a venda dos olhos, nos fazendo enxergar um cenário que esteve invisí vel por vários anos. Atra vés de placas de sinaliza ção entre ruas e avenidas que antigamente dava lu gar a rios e córregos traz a nostalgia e a memória, fazendo com que sua presença se torne natural para osOmoradores.JornalImpres são fez um mini tour por alguns pontos em que encontramos essa inter venção pela cidade, que você pode acompanhar através do registro foto gráfico a Umseguir.dos pontos fotografados foi o Córre go Acaba Mundo, situ ado na Avenida Afonso Pena com Avenida Brasil (Praça Tiradentes). Ou tro ponto registrado foi o Córrego do Mendonça, na Avenida do Contorno com Rua Levindo Lopes. Há também um encontro com o Córrego do Leitão, na Avenida do Contorno com Rua Marilia de Dir ceu. Outros pontos imageticamente retra tados aqui são as inter venções na Rua dos Goi tacazes com Rua Mato Grosso, que abre espaço para o Córrego do Barro Preto. E podemos encon trar também, na Rua Rio de Janeiro com Rua To más Gonzaga, o Córrego do Zoológico.Eaí?Vamos olhar com outros olhos e re pensar sobre o cenário hidrográfico de BH? Aqui fica o meu convite para conhecer essas obras que estão espalhadas por nos sa cidade!

Junho de 2022 Jornal Impressão9




MINAS GERAIS
Já com tantas receitas tidas como tradi cionais, há controvérsias. Pode-se usar polvilho doce ou azedo, água ou leite, óleo ou manteiga, e diversos tipos de queijo, como meia cura, canastra ou parmesão. Essa mistura, em conjunto à quantidade variada dos ingredientes e ao modo de preparo, dá o toque especial de cada família, restaurante ou chef de cozinha encarregado do preparo.Bem… Mas por que o pão de queijo é con siderado uma obra-prima de Minas Gerais? Ainda de acordo com a Deli massa Alimentos, a igua ria só se tornou mais co nhecida em meados da década de 1950. A his tória do pão de queijo se confunde com a trajetória da culinária mineira: primeiro, foi produzida a goma, proveniente da mandioca. Depois, veio a banha de porco, o sal e os ovos, além de leite, nata e manteiga. Por último, temos a produção de queijo, insumo incorporado ao biscoito de goma, que dá origem ao pão de queijo como o conhecemos. O mundo é nosso! Tradicional em Minas, adorado no Brasil e muito desejado em mais de 50 países ao redor do mundo, a receita, hoje, é mais fácil e acessível. Além disso, tornou-se produto de grande pro dução eAexportação.empresaForno de Minas tem mais de 30 anos de história e já é reconhecida no Brasil. Para além das fronteiras do país, a marca chegou, em 2021, a países da América latina, Europa, Emirados Ára bes, China e aos Esta dos Unidos, devido ao processo de expansão da empresa, tornando -se, assim, a companhia pioneira na comerciali zação do pão de queijo congelado, ao chegar à maior rede de varejista do mundo, o SegundoWalmart.aem presa, a iguaria, que tem conquistado os países pelo sabor, pela textu ra, pela praticidade e pela saudabilidade (glú ten free, sem aditivo e assado), estará disponível em 200 lojas do Walmart em vários pontos dos Es
MACIO POR DENTRO E CROCANTE POR FOTOFORA.TIRADA POR: NAYLAN SANTOS tados Unidos, como Cali fórnia, Colorado, Flórida, Idaho, Montana, Nevada, Oregon, Texas e Utah. A versão comercializa da pela Forno de Minas, nos pontos de venda, é referência em inovação. Trata-se do pão de queijo assado congelado. Já pronto para o consumo, o produto precisa apenas ser aquecido, por cinco minutos, no forno. Macio por dentro, dourado e crocante por fora, o pão de queijo saiu das co zinhas mineiras. Um habi tante raiz diria que não foi por acaso que o pãozinho ganhou as cozinhas de todo o mundo. Sua popularização, aliás, ocorreu a partir da dé cada de 1960. Falando a verdade, é que a origem vem de Minas Gerais, mas a iguaria ultrapassou as barreiras geográficas e ganhou o mundo. Mesmo podendo ser encontrado em vários países, é possí vel entender que há dife rentes tipos de produtos, com características bem distintas e não tão sabo rosas.
10
A jornada de um alimento que conquistou corações e virou símbolo de um estado Bárbara Kristina Carolina Cunha Gabrielle Rocha
Junho de 2022 Jornal Impressão O SABOROSO PÃO DE QUEIJO DAS
Leila Mariana Pereira Crocante por fora, macio por dentro, e com um cheiro inconfundí vel. Assim é conhecido o pão de queijo mais famoso do mundo, o de Minas Gerais. A história dessa deliciosa receita se inicia com o chamado Ciclo do Ouro, e alguns estudos apontam que, em meados do século XVIII, quando a farinha de tri go não se revelava tão boa, o ingrediente era substituído por polvilho, trazido, ao estado, pelos portugueses.Segundo o site da Delimassa Alimentos, a receita original era composta por “sobras de queijo que haviam endurecido, ovos e leite que, graças à expansão da pecuária, eram ingredientes de fácil acesso. A massa enrolada e assada daria início à his tória do pão de queijo.”



11
Junho de 2022 Jornal Impressão Na boca do povo! Pesquisa especial, feita nesta reportagem, pela repórter Gabrielle Rocha, ouviu 30 pessoas entre 15 e 58 anos so bre os significados do pão de queijo. Houve, até mesmo, uma respos ta inesperada, de uma estrangeira que, atual mente, reside no Japão. Midori Takahashi, 23, diz: “O pão de quei jo representa minha infância, me diz sobre onde vim. Hoje em dia, não consumo muito, pois, aqui no Japão, não o encontro com facilida de. Quando vejo, sempre compro, mas nada se compara ao de Minas”. Por meio da pesquisa, foi possível iden tificar a maneira como a representatividade do pão de queijo mineiro é forte em diferentes estados. Afinal, 100% das respos tas disseram que amam pão de queijo. Uma curiosidade surpreenden te foi perceber que 80% consomem o pãozinho de 3 a 4 vezes por semana e, melhor, comentaram o quanto esse cheirinho traz lembranças. Tudo isso confirma ainda mais o que o CEO da Forno de Minas, Helder Mendonça, diz a respeito de um bom pão de queijo mineiro: a qualidade e a tradição andam juntas. Tradição transcende gerações Muita gente sabe que o pão de queijo é um fenômeno em Minas Ge rais. Todavia, não foi ape nas seu sabor incrível que conquistou os corações dos mineiros. A iguaria tem muita importância para as famílias, fruto de lembranças compartilha das sobre o alimento, do preparo ao consumo. As receitas passam de mãe para filho. Porém, por mais que, com o passar dos anos, as pessoas modi fiquem as fórmulas, não há como negar que as fortes li gações familiares continuam intactas. Segundo Luiza Marillac, aposentada de 77 anos, “toda vez que ia mexer com quitanda, o pão de queijo saía na frente. Lá em casa, fazia para a semana inteira”, conta. Para além do consumo das famílias, a delícia mineira tam bém virou fonte de ren da, como recorda Carlos Lucindo Junior, vendedor de pão de queijo: “Sua li gação com minha família vem do trabalho de fazê -lo, já que é com ele que pagamos as contas”. O tradicional pão zinho está ligado às lem branças dos mineiros: “Quando tinha reunião à tarde, na varanda da casa, sempre apareciam pães de queijo com café de rapadura”, relembra Luiza Marillac.Opão de queijo virou, portanto, um sím bolo importante para a família mineira, já que, como disse Carlos Lucin do Junior, “não pode faltar na mesa do mineiro, uai!”
Industrialização e mercado Com a populari zação do pão de queijo em Minas Gerais, não demorou muito para que percebessem seu poten cial. Assim, surgiram os primeiros comerciantes que, usando um processo artesanal, produziam pe quenas quantidades para vender em suas Contudo,regiões.com a invenção do pão de quei jo congelado, o sucesso do alimento cresceu em grande escala, visto que, ao gelificar a iguaria, au mentou a durabilidade e facilitou o transporte e o armazenamento.Surge,assim, um terreno fértil para a in dustrialização em larga escala. Ao aumentar o volume de produção, as fábricas ampliaram as vendas, ao oferecer o artigo a outros estados e países. Naquele instante, Minas Gerais não era o único a consumir pão de queijo. Ele virou um pra to típico brasileiro. Hoje, temos mais de 500 em presas mineiras no ramo, que produzem cerca de oito mil toneladas de pães de queijo por mês e movimentam mais de R$ 200 milhões por ano. Trata-se de um mercado em expansão, capaz de mostrar que o alimento é mais do que simples pra to culinário. Turismo e pão de queijo Cidade turística, Paracatu (MG) é reconhe cida pela qualidade de seu pão de queijo. O mu nicípio se localiza na re gião Noroeste do estado. Para explicar a história dessa tradição, Igor Araú jo Diniz, secretário muni cipal de Cultura e Turis mo de Paracatu, destaca as quitandas da região. Em 2015, o se cretário desenvolveu um projeto para realizar o levantamento das mes tras e mestres quitandei ros da cidade, com rela ção direta à produção de pão de queijo. O trabalho também investiu na con fecção de livros que con tam a história de cada quitanda. A cidade, segundo Igor Diniz, “tornou-se a capital do pão de quei jo, devido à grande de manda pelo produto. O de Paracatu acaba sendo diferente de outros luga res, devido ao seu modo fazer”. Pesquisa feita com as 12 fábricas de pão de queijo da cidade mostra que, em Paracatu, vende -se cerca de 17 mil unida des por dia. “Comerciali zamos mais pão de queijo do que pão francês”, com pleta Igor, ao explicar, ainda, que, para manter a tradição, a cidade tem “resgatado a história e va lorizado as vidas por trás das receitas e de cada quitandeira”. Hoje, o pão de queijo de Paracatu é patrimônio imaterial, tombado individualmen te. E quanto às varie dades de produção? Igor destaca que, entre o pão de queijo comum e o re cheado, a cidade prefe re o tradicional. Porém, quando as pessoas que rem diversificar um pou co, escolhem o recheio entre opções saborosas: SAINDO DO FORNO. FOTO TIRADA POR: NAYLAN SANTOS DE GERAÇÃO EM GERAÇÃO. FOTO TIRADA POR: NAYLAN SANTOS Continue lendo! Acesse o QR code e acompanhe mais sobre esse conteúdo carne seca, frango com catupiry, palmito ou, até mesmo, pizza de pão de queijo. Além de ser, hoje, a capital do pão de quei jo, Paracatu se destaca por seu núcleo histórico, pelas cachoeiras, pela his tória e pelas quitandas. “Assim como pelas pesso as de nossa cidade, pois cada história de supera ção aquece o coração”. E o segredo da iguaria de Paracatu? “Nosso pão de queijo é feito de massa fria, leite frio e, principalmente, muito queijo”.




Os desafios psicológicos e os bastidores das batalhas de rimas Bárbara Veloso Gabriel SelenRafaelLeandroQueirozEngrácioPalheirosBrandão
OLHAR ALÉM DAS PALAVRAS
Para muitos, elas são vistas apenas como hobbie, mas essa ideia está muito aquém da realidade, visto que artis tas, atualmente, ficaram famosos por meio, jus tamente, das batalhas de rimas. É o caso de Fabio Brazza, MD Che fe e Meno Tody, alguns dos exemplos de rappers que começaram assim e, hoje, são conhecidos em todo o país. A partir de tal ascensão, as batalhas têm crescido ainda mais. Contudo, quem pensa que elas são apenas uma disputa poética, com insultos e desrespeito, se engana. Afinal, existem regras e disciplina para que se Ebatalhe.como fun ciona tudo isso? Bem, antigamente, quando começou, um grupo de pessoas levava caixas de som e microfones às ruas, para determinado local, e começava a ri mar. Desse modo, aos poucos, aparecem pes soas identificadas com o rap e, também, mui tos curiosos. Forma-se uma roda. No meio, fi cam o apresentador e os dois primeiros MCs, que iniciarão a rinha de rap. Cada um tem 30 segundos para improvisar. O público é quem define o vencedor que passará à próxima fase. Há dois tipos de batalha de rap: a do co nhecimento e a de sangue. Na primeira, os MCs têm que desenvolver as rimas a partir de temas que po dem ser pré-estabelecidos pelos organizadores ou escolhidos pela plateia, no momento do evento. Já na segunda, os MCs de vem atacar verbalmente seu adversário. Ambas são duelos de improvisação. Respeito e oportunidades Guilherme Dias, MC com enorme por tfólio de batalhas de ri mas, carrega no peito medalhas que conquis tou ao longo dos anos, sendo uma delas o ouro no Campeonato Esta dual de Minas Gerais. Dias comenta temas fundamentais para o bom entendimento do que é o que muitos desconhecem e é poucoSobredivulgado.aforma de se apresentar duran te os eventos, o cam peão mineiro conta que, em locais onde não é habituado a batalhar, ou em outra cidade, ele sempre preza pelo res peito aos que ali estão. As expectativas mudam quando a batalha é para um público que o conhe ce, e o artista se sente à vontade e mais motivado. Afinal, os ouvintes an seiam por uma boa apre sentação e Dias não quer decepcionar vidaasbatalhasaberdeliseciacarta,osaberumbatalhasdotemrima,doarima.çãonadeefazemlógico.espetáculo:roquedaasurpresassideraçãoLevandoninguém.emconasdiversasquepodemviracontecernodecorrerbatalha,GuilhermedizhásempreumprepaimportanteantesdovocalepsicoAstarefasemcasapartedesuarotina,envolvemtreinamentopalavrasqueterminammesmasílaba,entonadevoz,velocidadedaPerguntadosobreexistênciadeumestudosparticipantesdaoMCcontaquenãocomofazerumestuantecedente,poisasacontecemapóssorteio,enãosepodequalcandidatoseráadversário.Elenãodesporém,aimportândefazerumapré-anádocandidato,afimconhecê-lomelhoresuadinâmica.Cadaéumtreinoparapróximasquevirão:“Aéumpreparo”.
fundamental para o equi líbrio mental. Antes de cada batalha, Dias pas sa um momento com a família e com os amigos, come o que gosta e, o principal de todos, tira momentos para si. O treinamento psicológico permite que o MC desen volva confiança e motiva ção, aprenda a controlar a tensão e a ansiedade, adapte-se às mudanças e pressões comuns em um ambiente de competição e, assim, administre as emoções, com sabedoria e responsabilidade.McDrizzy, 22 anos, que representou Belo Horizonte (MG) no Duelo de MCs Nacional em 2017, foi finalista da edição. Ele conta que, desde então, tem gran des chances e possibili DRIZZY SE PREPARANDO PARA UM SHOW. FOTO: WILLYS ARAUJO / REPRODUÇÃO INSTAGRAM @DRIZZY.SKNJ. outras cidades, inclusive em outros estados, para duelar, o que fez com que sentisse cada vez mais tranquilidade antes de começar. Afinal, a visibilidade permite que mais pessoas se identifi quem com suas palavras. O artista diz que, em cada batalha, existem muitos detalhes, e a forma como o MC se apresenta não tem muito a ver, ne cessariamente, pois cada oponente é sorteado. Isso gera surpresa no públi co, no momento em que o mestre de cerimônias apresenta os “batalhado res”. Cada batalha pode chegar até três rounds, e não dá para imaginar a proporção que tudo leva rá. Às vezes, o confronto se torna mais tranquilo; em outras ocasiões, mais os participantes sejam co nhecidos entre si. “Eu me sinto completamente gra to pelas portas que me fo ram abertas nesse univer so. Isso faz com que eu consiga novos trabalhos, principalmente voltados ao rap”, comenta. Mente sã Como entender a preparação dos MCs para uma batalha de rima? Neste sentido, os psicólogos podem expli car a melhor maneira de trabalhar a mente para ocasiões em que o MC deve ignorar a possível rejeição da plateia, as ofensas do adversário e, tudo e se manter bem na Segundobatalha. a psicóloga Juliana Parreira de Al meida, é realmente muito importante preparar bem a estrutura psicológica para esses situações.chaveautoconhecimentoelamatemJuliana,esseemcancelamentodivulgados,osdia,teia.respeitoprincipalmentemomentos,noquedizàrejeiçãodaplaAlémdisso,hojeemcomasredessociaisevídeosdasbatalhastãotambémháodopúblicogeral,queconsomeconteúdo.Paraaopiniãoexternaavercomautoestievalidação.Porisso,defendeabuscaporcomoparalidarcomtais
Junho de 2022 Jornal Impressão
12


PARTICIPANTES RED BULL FRANCAMENTE 2022. FOTO: NELSON AVELAR. No palco No dia 14 de abril de 2022, foi realizado o Francamente, da Red RED BULL FRANCAMENTE 2022 - SELETIVA BELO HORIZONTE. FOTO: NELSON AVELAR. mos. As situações que favorecem o estresse pro longado, como discussões frequentes em casa, também podem levar à depressão e a crises de ansiedade. Afinal, tais componentes fazem com que a pessoa desenvolva sentimento de culpa, perda da confiança em si mesmo e nos outros, além de baixaDouglasautoestima.expli ca, ainda, que, em casos de perda na batalha de rima, o mais importante é não deixar se abalar com a situação: “O su cesso de uma competi ção é conseguir aprovei tar ou colher benefícios da sua participação em um jogo ou evento. Este sucesso requer habilida des mentais, como saber lidar com as pessoas e com suas emoções de um jeito eficiente. Falar sobre a derrota com amigos, familiares, colegas de equipe, com o técnico ou qualquer pessoa que queira ouvir é uma forma saudável de assumir o que está sentindo depois de uma competição e de reforçar seu comprome timento com o jogo em si. Se está triste porque perdeu, fazer algo para se agradar é uma ótima for ma de melhorar o humor e reconhecer seu mérito”.
FINALISTAS DO RED BULL FRANCAMENTE 2022. FOTO: NELSON AVELAR. 13 Continue lendo! Acesse o QR code e acompanhe mais sobre esse conteúdo Um canal famoso é o da Batalha da Aldeia, que conta com 3,7 milhões de inscritos e mais de 5 mil vídeos postados. Ali, pode-se encontrar vários duelos épicos, como Krawk X Guinho, Salvador da Rima X Kant, Ravena X Marie, dentre outros. Para quem tiver a curiosidade de ir ver pessoalmente a batalha, ela ocorre no centro de Barueri, na Praça dos Estudantes, às segundas, de 19h às 22h, ao ar livre. Há bom espaço para animais e crianças, e são estritamente proibidos o uso de drogas e o consumo de álcool, por ser um ambiente que conta com famílias e de apoio à cultura do freestyle.
Bull, que reuniu alguns dos mais talentosos ar tistas de Minas Gerais em uma espécie de “rin gue lírico”. O evento foi dedicado a batalhas de rima e afins, adaptado com exclusividade à lín gua portuguesa. A com petição chega à terceira edição no Brasil e foi inspirada no Red Bull Batalla, expoente do rap no mundo, que promove batalhas entre países de língua espanhola, e que já reuniu um público de mais de 14 mil pessoas. No último ano, a ver são nacional apresentou novidades aos brasilei ros, como um formato mais digital e a criação de um aplicativo exclusi vo, que funciona como a rede social dos rappers e possibilita que artistas de diferentes localidades se conectem, interajam e, claro, batalhem.Parao músico, dançarino e atuante na área das rimas, Samora MC, que participou do “Francamente”, é pre ciso preparar-se psico logicamente para todas as batalhas. E ele segue um ritual! “Tento estar sempre por dentro de todos assuntos que estão acontecendo atualmente. Uma coisa que me ajuda bastante é a constante leitura de livros. Acredi to que nossa dicção fica muito melhor, e isso é bastante importante em Samora estuda todos os candidatos antes e assiste a batalhas antigas. Não há um “padrão” para batalhar, mas cada um tem uma peça-chave diferente. Além disso, deve-se sempre estar preparado para o próxi mo ataque.“No começo, tive dificuldades para batalhar. De início, sem pre tem certo pavor, pois não sabemos lidar com a situação, por não saber como se apresentar. É como fazer um trabalho de escola tendo vergonha. Comecei a treinar o meu lado psicológico, a buscar mais conhecimentos e a melhorar os encaixes de palavras com terminações iguais. Fui evoluindo e, hoje, tenho melhor interação com o público e maior tranquilidade no momento da batalha. O rap contribui, também, para o meu dia a dia, com questões sociais que envolvem o Portanto,diálogo”.batalhas de rimas são, realmente, mais do que um simples hobbie. Elas abrem portas para os artistas mostrarem seus talen tos ao mundo. No You Tube, atualmente, exis tem canais que gravam e divulgam as batalhas.
Junho de 2022 Jornal Impressão Não é de hoje que se tem falado sobre a saúde mental. Dados de 2021, obtidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS), mostram que 5,8% da população brasileira sofre com de pressão. No que se refere ao funcionamento de uma batalha de rima, os desafios também dizem respeito à mente e à vida fora das batalhas. Na entrevista concedida por Guilherme Dias, pudemos ver a importância, para os MCs, dos momentos de lazer e reflexão com familiares e amigos. E qual a impor tância de dar priorida de à saúde mental? O psicólogo clínico, Dou glas Batista, explica que a busca por mentes estáveis aumentou depois da pandemia. “Imagino que esses artistas tinham um hábito de realizar batalhas diariamente e, de repente, tudo muda... Mudar uma rotina repen tinamente, como acon teceu com os brasileiros, gera grande impacto na saúde mental, em diferentes áreas da vida”, Douglas alerta, também, para a importância de procurar ajuda de um es pecialista.O fato de tentar demonstrar ser um ser humano forte nos limita a reconhecer que precisa mos poupar tempo para cuidarmos de nós mes
uma batalha: conseguir expressar o que se sente e falar tudo certinho.”




OscarLivrariaNicolai Fundada na Avenida Afonso Pena. SarLivrariaaiva Fundada
14 OliveirLivrariaa Costa Fundada na avenida Afonso Pena. FrLivrariaancisco alves Fundada na Rua da
Junho de 2022 Jornal Impressão
18861910 19141940As Livrarias de Belo Horizonte deu,
PRIMEIRAS PÁGINAS DA HISTÓRIA DAS LIVRARIAS DE MG
Sendo destaque pela quantidade de leitores e por ser palco de importantes nomes da literatura brasileira, Mi nas encarou altos e baixos com as primeiras livrarias do país Ana Clara Parreiras João NaiaraMyleneKeyllaCadavidGracielleAlvesAlmeida
Carlos Drum mond de Andrade, Darcy Ribeiro, João Guimarães Rosa, Carolina Maria de Jesus e Adélia Prado, além de serem grandes nomes da literatura bra sileira, têm outra forte característica em comum: a origem. Todos são da terra do queijo e do café, Minas Gerais, e retratam a riqueza da cultura e as belezas das paisagens mineiras em seus livros, contos e poemas. A história dos livros pelas ruas de Minas Gerais, contudo, come çou antes! O ano era 1750, na cidade das ruas íngremes e de arquitetura barroca, Ouro Preto, com o capitão Manuel Ribei ro dos Santos, dono de livraria, “talvez a primei ra das Minas e uma das primeiras do Brasil. A loja negociava com produtos da terra e importados de Portugal: roupas, chapéus, botas, velas, cera, cobertores”, relata o escritor e pesquisador UbiratanComMachado.opassar do tempo, pequenos pon tos de vendas de livros foram se multiplicando. E, até meados do sécu lo XX, a capital mineira contou com as seguintes livrarias: Oliveira Costa, fundada em 1886, na avenida Afonso Pena; Francisco Alves, filial da MINAS ENCAROU ALTOS E BAIXOS COM AS PRIMEIRAS LIVRARIAS DO PAÍS De acordo com o jornalista Humberto ção Suplemento. Situada numa galeria da rua Espírito Santo, esquina com Tupis, lá era o lugar de reverenciar visitantes ilustres, como Clarice Lis pector”, diz acervosmododeimportante,livrariasteouBrasil,cenárioriadoresGrandesHumberto.histoecronistasdointelectualdodeMinasGeraisdeBeloHorizondescrevemqueascumpriampapelcomopontovendadelivros,deaajudaracomporimportantes.
livraria instalada no Rio de Janeiro, inaugura da em 1910, na rua da Bahia; Oscar Nicolai, fun dada em 1940, na ave nida Afonso Pena; Ama As grandes A chegada das grandes livrarias em BH trouxe uma revolução à aquisição de livros. Uma das mais famosas do Brasil teve início na capital mi neira. Trata-se da Leitu ra, inaugurada em 1967, na Galeria Ouvidor, para venda de livros novos e usados. Ela foi uma das primeiras no país no formato megastore, com lojas acima de mil m². Além das gran des variedades de li vros, a Leitura tem produtos de cultura, entretenimento, materiais escolares, brinquedos e decoração. Após um tempo de consolidação, ela se tornou a maior livraria do Brasil. Atual mente, a rede tem mais de 90 lojas distribuídas em 21 estados, e, com a expansão nacional, a empresa tem investido em treinamentos para os funcionários.Além da Leitu ra, a Saraiva foi uma das maiores livrarias de BH. Sua história teve início em 1914, quando Joaquim Ignácio de Fon seca Saraiva, imigran te português, fundou, no Largo do Ouvidor, em São Paulo, um pequeno ensinodiversaslivrosempresadaSaraivaempresalivroscomolivrariaDevidoprofessoresAcadêmica”conhecidarerdeximafatoriadedestinadoestabelecimentoaocomérciolivrosusados.Alivrafezsucessodevidoaodeaunidadeserpróaumauniversidadedireito.Comodecordotempo,tornou-secomo“Livrariapeloseestudantes.aesseepisódio,aficouconhecidaespecializadaemjurídicos.Em1947,aemsetransformousociedadeanônima,S.A.Nofinaldécadade1970,apassouaeditarparadidáticosededisciplinasdofundamental.Em Bahia. no Largo do Ouvidor em São Paulo de 1948, na rua dos Tamoios; Rex, no final da década de 1940, na Praça Sete; Morais, fins dos anos 1940, na rua Espírito Santo, e Itatiaia, de 1952, que ficava no edifício Dantés, na aveni da Amazonas. Werneck, no final dos anos 1950, a Livraria Oscar Nicolai se tornou um importante ponto de encontro entre es critores mineiros e do cenário nacional. “Che ga a vez da Livraria do Estudante, nos anos 1960, especialmente para o grupo chamado Gera

























Junho de 2022 Jornal Impressão FUNDADA EM BELO HORIZONTE, EM 1967, A LIVRARIA LEITURA ESTÁ EM 21 ESTADOS Mundo digital A leitura é um cos tume de longa data, que passou por diversas mu danças em sua execução, a começar pela escrita nas pedras e nas paredes, passando por tábuas, per gaminhos e papéis. Hoje, ela chega também ao mundo digital, que tem invadido nossas vidas. Ao transformar a maneira como os tex tos são organizados e o modo de ler das pesso as, algumas ferramentas compõem essa gama de inovações, a exemplo do Kindle, que permite aos leitores criar uma biblio teca própria, com muitas possibilidades em um só aparelho.A escritora do li vro O cérebro no mun do digital, Maryanne Wolf, lembra que, com as crianças, ainda é mui to importante que haja experiências táteis du rante a leitura, que são proporcionadas pelo livro físico. Algumas análises apontam, inclusive, que a inclusão digital criou um novo “mundo” na mente dos pequenos. Antes, eles lidavam com o real e o imaginário; agora, ainda existe o plus do terceiro mundo, o digital. As tecnologias, por um lado, podem ser positivas, considerando a existência de ferramentas capazes de estimular a leitura, além da possibili dade, maior e mais rápi 15 Nicolai enida LeiturLivrariaa Fundada na Galeria do Ouvidor. Livr Itatiaiaaria Dantes, AV. Amazonas. AmadeLivrariau Fundada na Rua dos Tamo ios. 1940194819521967 da, de compartilhar expe riências literárias. Cria-se, assim, um incentivo cole tivo. Sob outra pers pectiva, Maryanne Wolf diz que, por proporcionar uma leitura mais rápida, apenas com o passar dos olhos, a era digital pode contribuir para o “atrofia mento” da habilidade de entender e construir ar gumentos complexos. Ao buscar saber como as diferentes pro postas tecnológicas afe tam os leitores, conver samos com Ana Luísa Rodrigues, amante dos livros desde criança. Ela prefere os livros físicos, com o sonho de ter sua biblioteca pessoal. “Mas enxergo a leitura digital sob vários pontos positi vos. Carregar um Kind le, por exemplo, é muito mais fácil do que segurar um livro de 600 páginas. E não se pode esquecer os valores. Livros são, em média, caros. Porém, baixá-los em algumas pla taformas pode sair pela metade do preço, ou até mais barato”, conclui. Além disso, a era digital pode ter afetado a leitura não só dos pro dutos literários, mas, tam bém, de entretenimento que, hoje, ocupa grande parte do tempo antes dedicado, pelas pessoas, aos livros. “Séries e fil mes também têm espaço especial no meu coração. Em muitos momentos, fi quei meses longe de uma leitura para passar o dia maratonando”, conta Ana Luísa. Morte e renascimento As livrarias físicas já passaram pela era de ouro no Brasil. O encer ramento das atividades de grandes redes, e, até mesmo, de estabeleci mentos locais, já estava premeditado, mesmo an tes da pandemia. Saraiva e Cultura, por exemplo, decidiram fechar suas unidades, mesmo com anos de funcionamento em shoppings e centros de consumo.Experiências vi vidas nesses lugares, histórias, sentimentos... Nada disso conta em um mercado que valoriza o lucro. A livraria Cultura, em 2018, acumulou dí vida de R$ 285 milhões e entrou com pedido de recuperação judicial. Em seguida, fechou cerca de 7 lojas. As grandes livra rias puseram toda a culpa na pandemia, na prática de preços baixos da Ama zon e, até mesmo, na falta de hábito da leitura dos brasileiros.Em fevereiro de 2022, a livraria Ouvidor, localizada no coração da LIVRARIAS INCLUEM FALTA DE HÁBITO DA LEITURA EN TRE OS BRASILEIROS NAS JUSTIFICATIVAS PARA EN CERRAMENTO DE ATIVIDADES.
Savassi, em Belo Hori zonte, anunciou seu fe chamento, após mais de quatro décadas de funcio namento. “Ao longo des ses 48 anos, escrevemos uma linda história, com muito amor, dedicação e trabalho. Sempre gratos a todos os nossos clien tes e amigos, que tanto nos prestigiaram ao longo desses anos, mas compre endemos que é chegada a hora de encerrarmos um ciclo”, disse, em nota, a livraria. Em 2016, mes mo antes da pandemia, a Van Damme, mais antiga livraria de BH, também havia fechado as portas. Outras, como Mineiriana e Status, também encer raram suas atividades. O poder público tenta ajudar, com ações para valorizar escritores independentes e livra rias locais. A Câmara de Belo Horizonte instituiu, inclusive, a “Rua da Lite ratura”, proposta do ve reador Arnaldo Godoy (PT), em que o primei ro sábado de todo mês, na Rua Fernandes Tou rinho, na Savassi, se transforma em momen to para convivência en tre leitores e escritores. A conciliação Olhando para a história da humani dade e, também, de Belo Horizonte, retirar as livrarias deixaria um buraco. Muitos apren dizados passaram por esses lugares e as me mórias presentes por lá podem ser essenciais para os que ainda hão de vir. Porém, é neces sário aceitar as evolu ções tecnológicas e li dar com as adaptações, buscando uma maneira de conciliar o melhor dos dois mundos.
Continue lendo! Acesse o QR code e acompanhe mais sobre esse conteúdo 1998, a livraria concluiu a aquisição da Editora Atual e começou a vender por meio do site, um dos primeiros ambientes de e-commerce do Brasil. Atualmente, é uma das maiores do país, mas vive momento de crise, e teve que fechar diversas uni dades, inclusive em BH.































Junho de 2022 Jornal Impressão Crash” JORNAL I M P RESSÃO 16






























