Jornal do Laboratório do Curso de Comunicação Social do UniB H Ano 40 I N˚ 218 Belo Horizonte I MG Agosto I 2022 DISTRIBUIÇÃO GRATUITA JORNAL I M P RESSÃO Com a mão no gatilho, todo mundo vi ra herói: No momento em que os ânimos estão à flor da pele, aumenta o acesso às armas de fogo pela população civil CAD ERNO DO !S: Há 40 anos, o Jornal Impressão tem contado histórias e registrado momentos; mas quem são os colaboradores por trás das narrativas? Páginas 08 a 09 CADERNO DO!S Jornal impressão
HUMOR
ASSISTENTE Lucas Wilker COLABORADORESPROFESSORES Carla Maia João MaurícioLorenaCarvalhoTárciaGuilherme Silva Jr DIAGRAMAÇÃO Bianca DanielleVictóriaAkie PROJETO GRÁFICO LEGRA – Laboratório de Experimentações Gráficas ESTAGIÁRIAS Amanda Alves Carolina Cunha Giullia VirgíniaRebecaGurgelNichollsPedrosa INFOGRÁFICOS Bianca
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REITOR Rafael Ciccarini DIRETOR DO CAMPUS BURITIS Eduardo França COORDENADORA DO CURSO DE JORNALISMO Fernanda Gomes LABORATÓRIO DE EDITORAJORNALISMO Dandara Andrade EDITOR Victória e Danielle akie ALUNOS QUE ESCREVERAM PARA ESSA EDIÇÃO: Amanda Alves Arthur Camarano Beatriz Fernandes Bruno OVirgíniaThiagoThaisRebecaMelissaMatheusMarianaMarcelloManuelaLucasLeandroLauraJoãoJeovanaIrisGuilhermeGiulliaGabrielGabrielDenysCarolinaBragaCunhaLacerdaHenriqueRibeiroGurgelReisAguiarOliveiraPedroAndradaSouzaColomboMaiaLinsPereiraCostaGarciaCarvalhoNichollsMoreiraLuizPedrosaJornalIMPRESSÃO é um espaço prática,de experimentação e apren emdizagemJornalismo, coordenado pela CACAU –Comunidade de Aprendiza gem em Comunicação e Audiovisual do MesmoUniBH.como projeto do curso de Jornalismo, o jornal está aberto a colaborações de alunos e profes sores de outros cursos do Centro ParticipeUniversitário.doJORNAL IMPRES SÃO e faça contato com nossa Av.equipe:Mário Werneck, 1685jornal.impressao@unibh.brCEP:BH/MG31110-320
PRESIManosSÃO
uma pergunta provocati va: jovens estão antena dos ou Nodesinteressados?CadernoDo!s, cujo projeto editorial é repercutir a cultura, os resultados também são potentes, já que optamos por dar voz àqueles e àquelas que produziram e editaram versões anterio res do jornal. Os relatos, sem dúvidas, são inspira dores, e também muito inusitados. São jornalistas que escreveram a história deste espaço que agora comemora 4 décadas de existência.No texto “Primei ras páginas da história das livrarias de MG”, conhe cemos melhor as livrarias de um estado que foi pal co de inúmeros escritores marcantes da literatura mineira, como Carlos Drummond de Andrade, Darcy Ribeiro, João Gui marães Rosa, Carolina Maria de Jesus e Adélia Prado. As páginas deste jornal tentam emular o gosto da mineiridade, pois aqui contamos a história de um alimento que con quistou corações e virou símbolo de Minas Gerais: o pão de queijo. E se, há 50 anos, no bairro Santa Tereza, em Belo Horizonte, o Clu be da Esquina surgiu para mudar os rumos da músi ca brasileira, o Impressão fez questão de separar um espaço para que o som do grupo continue ressoando em nossos corações. A partir de agora, nada será como antes, pois você, leitor(a), já está com pé na estrada!
Junho de 2022 Jornal Impressão EDITORIALLucasWilker
Escrever é sabore ar a vida duas vezes. Pelo menos foi o que disse a escritora francesa Anais Nin. E de uma forma ou de outra, quase um sécu lo depois, essa frase ecoa aqui, no Jornal Impressão, mesmo que os sabores das narrativas sejam do ces, amargos ou azedos. Em 2022, recons truímos 40 anos de histó ria: impressas em páginas, diagramadas em versões digitais, veiculadas na web, com visuais diversos. E também com formas e formatos que caminha ram juntos das evoluções do nosso tempo. À luz do conceito de historicidade mediada, a proposta do Dossiê 40 anos, no Caderno Um do nosso jornal laboratório, neste semestre, é atualizar conteúdos de outras edi ções e apresentar o que mudou, seja de maneira negativa ou positiva. As ideias cami nham pelo contraste entre opiniões, como o caso da reportagem “Com a mão no gatilho, todo mundo vira herói”, em que prós e contras sobre o armamen to da população são trazi dos ao debate de maneira plural e multifacetada. Ou também por uma análise cuidadosa sobre o futebol como elemento catalisa dor de nuances sociais, políticas e que, na junção de tantas possibilidades, acaba por transformar ce nários eEpessoas.se,num ano de eleições, cidadãos e ci dadãs se movimentam em torno de discussões e debates sobre o futuro do país, fazemos também
JORNAL
MÍDIA INDEPENDENTE E A LUTA ENTRE COOPTAÇÃO E LIBERDADE
Junho de 2022 Jornal Impressão
No entanto, existe algo importan te a ser apontado. Nes sa diversidade estão presentes também pontos de vista que partem da in tolerância e da violência do discurso. O que salien to é que, na complexidade da formação da sociedade, encontramos também su jeitos identificados com os mecanismos da censura, da perspectiva de elimi nação de grupos e indiví duos, e seu alijamento do tecido social como solução para os problemas desta mesma Associedade.manifestações de 2013, ao mesmo tempo em que fortaleceram a diversidade da produ ção midiática, deram voz e fortaleceram seg mentos intolerantes pre sentes na nossa popula ção. Esses grupos, antes pulverizados e dispersos, se organizaram e se en gajaram em novos con glomerados que foram cooptados pelos interesses neoliberais e da extrema direita, fechando um ciclo perverso de transferência de poder, através de fi nanciamentos pouco transparentes de canais no YouTube e Deve-seblogs.privilegiar a diversidade de opiniões na imprensa e na mídia independente? Certamen te, mas cabe uma impor tante exceção. Não é pos sível tolerar a intolerância, pois assim corremos o risco de colapsar toda a estrutura democrática social. A intolerância e o desejo de obliterar grupos inteiros da sociedade não podem encontrar espaço no debate contemporâ neo. É o que foi diagnos ticado pelo filósofo Karl Popper, em 1945, ao ana lisar a escalada dos mo vimentos totalitários na Europa. Esse deve ser o limite do que chamamos de liberdade de expres são, aspecto essencial para o florescimento da mídia independente brasileira.
OCUPAÇÃO CONGRESSO NACIONAL - BRASÍLIA (DF) EM JUNHO DE 2013. FOTO: MÍDIA NINJA
Uma vertente do jornalismo que foi posta em xeque num momento de convulsão social Por Amanda Alves A história da imprensa brasileira inicia com a chegada da corte portuguesa, em 1808. No entanto, é com a abolição da censura régia, em 1821, que de fato a proliferação dos jornais começa a dar personali dade e multiplicidade às publicações brasileiras. Em 1922 é feita a primeira transmissão radiofônica. Nesse período, as trans missões eram realizadas a partir de clubes restritos, que reuniam somente a elite do país, certamente pelos custos envolvidos na produção.Acensura, a regulamentação e o acesso aos meios de produção influem di retamente nas possibi lidades de expansão e diversidade das mídias existentes. O que quero enfatizar é que, quanto menos regulamentação e quanto mais fácil é o acesso aos equipamentos de produção e distribui ção da informação, maior o número de produtos midiáticos. Assim como maior é a pulverização de conteúdos, cada vez mais específicos e direcionados a um grupo determinado de indivíduos.Ahistória da mídia independente no Brasil está diretamente ligada a estes fatores, ou seja: para observar seu crescimento numérico e a sofisticação das produções é necessário acompanhar as oscilações das regulamentações estatais e os avanços tec nológicos que implicam em acessibilidade.Aprimeira página jornalística online foi lançada no Brasil em maio de 1995. No entanto, é só a partir de 2003 que se pode observar uma trans formação na circulação de notícias na internet, com a chegada da nova onda de serviços e comu nidades digitais, também chamada de Web 2.0. A estruturação desse novo modelo de comunicação já incor pora uma proposta de construção da notícia que não mais trata seu público consumidor como passivo, mas sim como participan te da geração dos conte údos. A velocidade de compartilhamento e de resposta a estas notícias veiculadas online mo difica o direcionamento do jornalista na procura por informações. Os profissionais têm de aten der a um público cada vez mais conectado e abaste cido de ferramentas para manifestar suas opiniões. Algo significati vo para o fortalecimento da imprensa indepen dente foi a veiculação de conteúdos gerados nas manifestações de 2013, que começaram com uma pauta de reinvindicações voltadas para a revogação do aumento das passagens de ônibus e abriram espaço para múltiplos e massivos protestos. A mí dia jornalística tradicional, composta pelos grandes conglomerados, no iní cio se posicionou con tra os protestos. Com a proliferação de vídeos produzidos pelos partici pantes das manifestações, a cobertura oficial foi con frontada.De acordo com Ignácio Ramonet, jorna lista e sociólogo: “o cha mado “quarto poder” ou “contrapoder” trai a sua origem e passa a ope rar como um “partido da globalização neoliberal” [...] A democracia vira um mero jogo cênico, em que vários debates públicos são interditados aos cidadãos”.Oque Ramonet diagnostica é a cooptação exercida pelos detentores do poder econômico na sociedade dos meios de produção midiática, o que produz um efeito de interdição dos conteúdos desfavoráveis a este grupo, ou pelo menos sua flexibilização na direção de orientar ao público determinada leitura dos conteúdos publicados. Assim, passo a compreender a im portância da mídia para os mídiaAlémtotalitáriosregimeseparaoneoliberalismo.daimportânciadojornalismoedaproduçãodaindependen-teparacombateraplanificaçãodosdiscursose
privilegiar quepontosdiversidadeumadedevista,seaproximamdaconcepçãodanossarealidadesocial.
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JORNAL IMPRESSÃO, JUNHO DE 2001. “A ÁGUA POR UM FIO”
A água é o recurso natural mais abundan te e importante para a sobrevivência de todos os seres vivos do planeta Terra. Apesar disso, nem toda água disponível na natureza é própria para consumo. 97% da água disponível no planeta é sal gada, e 2 dos 3% que cor respondem a água doce estão em lugares de difícil acesso, como geleiras e aquíferos. A água que re almente é própria para o consumo humano e é de fácil extração representa apenas 0,007% do total das reservas do planeta, que corresponde aos rios, lagos e Segundopântanos. artigo publicado por pesquisado res do Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães, Fiocruz (PE), o Brasil possui cerca de 2,8% da população mundial e 12% da água doce do planeta. Mas, infelizmente, a poluição e a má administração desse recurso abundante tam bém são uma realidade. ÁGUA COM REJEITOS Em 2015, Minas Gerais encarou o primeiro grande desastre rela cionado à mineração: o rompimento da Barragem de Mariana. Foram 34 milhões de m³ de rejeitos de minério jogados ao meio ambiente. Esses rejeitos atingiram, primei ramente, os rios Gualaxo do Norte e Carmo, depois seguiram o curso dos rios até chegarem ao rio Doce, afluente do rio São Francisco, o que fez a contaminação chegar até o litoral do Espírito San to. A tragédia causada pela mineradora Samar co deixou um rastro de destruição que combina perda de vidas humanas e devastação ambiental. Um segundo desastre aconteceu em Brumadinho, no ano de 2019, com o rompimento da barragem de rejeitos de mineração da Mina de Córrego do Feijão, e impactou de forma deter minante várias áreas da vida social e econômica na região e muito além dela. O rompimen to liberou cerca de 12 milhões de m³ de rejei tos que contaminaram o rio Paraopeba, deixando a água imprópria para o consumo em pelo me nos 20 municípios. De acordo com o artigo “Rompimento da barra gem da Vale em Bruma dinho: impactos socioam bientais na Bacia do Rio Paraopeba”, publicado na revista Ciência e Cultura, pela Universidade Estadu al de Campinas, em junho de 2020, escrito por Mar cus Vinícius Polignano, coordenador do Proje to Manuelzão e Rodrigo Lemos, coordenador de análise ambiental do Ins tituto Guaicuy, um dos mais importantes efeitos em toda a extensão do rio foi a restrição do uso da água em decorrência da constatação de metais pe sados acima dos valores permitidos para um rio de classe II (rios cujas águas são destinadas, por exem plo, ao abastecimento para consumo humano, após tratamento simpli ficado). A concentração de metais pesados, como o manganês, tinha marca dores cerca de 736 vezes acima do recomendável para o consumo da água. A última medi ção, realizada em mar ço de 2022, apontou redução importante nos níveis de metais pesados. No entanto, de acordo com o boletim informa tivo publicado na mes 736x Metais pesados ma data pelo Instituto Mineiro de Gestão das Águas (IGAM), desde o desastre do rompimento da barragem, ainda é mantida a recomenda ção de não utilização da água bruta do rio Paraopeba para qualquer fim, como medida pre ventiva, no trecho que abrange os municípios de Brumadinho até aproximadamente 250 km de distância do rompimento. MAIS DESASTRES À VISTA? A contaminação dos rios pela mineração traz à tona reflexões sobre quem são os verdadeiros vilões da crise hídrica. Re centemente, foi aprovado pela Prefeitura de Nova Lima, na região metropo litana de Belo Horizonte, um empreendimento que pretende se alocar na Serra do Curral. A apro vação foi realizada sem a consulta de municípios vizinhos e da população. E, de acordo com publi cação veiculada no site do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil, o empreendimento apre senta sério risco para a re gião. Segundo a entidade, o projeto da Tamisa prevê duas etapas que serão im plementadas durante 13 anos, nos quais serão la
HÍDRICA:
CRISE PASSADO E PRESENTE
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SERRA DO CURRAL. BELO HORIZONTE, MG.
Amanda Alves Rebeca Nicholls Durante seus 40 anos de atividade, o Jor nal Impressão acumulou diversos prêmios. Entre eles, duas edições do Prê mio Docol de Jornalismo na categoria jornal labora tório. Na coleção de suas reportagens premiadas estão: “A água por um fio” (junho de 2001) e “O planeta água busca um fu turo” (outubro de 2002). Essas reportagens tinham enfoque no desperdício hídrico por parte da po pulação e das companhias de água. Apontavam como principais causas do apagão ocorrido em 2001, a escassez de chu va, alta dependência das hidrelétricas, desperdício por parte da população e ausência de umdricadiscussãoremosanosemfeitanascentes.doraqueramdesastrescompresente,trataproblemadesperdíciogovernamental.planejamentoApesardeoserumquandosedepouparágua,nonosdeparamosumanovarealidade:recentesrevelaopotencialdestruidoraatividademinerapodecausararioseNestamatéria,paraaediçãoespecialcomemoraçãoaos40doImpressão,traumaretomadadasobreacrisehíemMinasGeraisporpontodevistaatual.
JORNAL IMPRESSÃO, OUTUBRO DE 2002. “O PLANETA ÁGUA BUS CA UM FUTURO”
Preservação e consumo sustentável da água em Minas Gerais
CRISE HÍDRICA, JORNAL IMPRESSÃO 4 JI: Acredita que as campanhas de cons cientização da popula ção, governamentais e institucionais, causam impacto positivo na preservação dos recur sos hídricos? TC: Toda campanha edu cativa, quando bem ela borada e executada, é um instrumento poderoso de informação e mobilização da sociedade em prol da preservação dos nossos ecossistemas de água doce e dos serviços por eles prestados. Infelizmente, a maioria das pessoas ainda ignora o enorme benefí cio para suas vidas dos serviços prestados pelos ambientes de água doce, restringindo-os apenas ao abastecimento de água. Esses ambientes nos for necem alimentos, contro lam doenças, enchentes e poluição, além de serem locais, por nós adotados, para ecoturismo e lazer, vide: rios, lagoas e praias, portanto, há muita coisa ainda por se fazer nesse campo. JI: Na entrevista concedida ao jornal Im pressão em 2002, você fez uma declaração im portante: “o espírito so cial será o diferencial competitivo para o pró ximo século”. O senhor ainda crê que essa afir mação se aplica no que diz respeito aos recur sos hídricos atualmen TC:te? Sim, no sentido de estarmos competindo por um mundo melhor, onde nossas ações refletem essa realidade. Hoje, ainda, em todo mundo, milhões de pessoas não têm acesso à água tratada e bilhões não possuem saneamento adequado. É nosso dever ético e moral a supera ção desse triste quadro, bem como da miséria, da fome, do analfabe tismo, do racismo, da violência…O planeta Terra – na verdade co berto por ¾ de água –, nos foi concedido como um lar, nele nada falta e sua beleza é divina; por tanto, façamos valer a pena nossa experiência passageira nesse mundo de Deus. TELSON CRESPO
Junho de 2022 Jornal Impressão vradas 34 milhões de to neladas de minério de fer ro e itabirito friável rico e prevê, também, a instala ção de unidade de trata mento, pilhas de rejeito, estradas internas, bacias de contenção e estrutura física administrativa.Deacordo com a superintendente da Associação Mineira de Defesa do Ambiente (AMDA), Dalce Ricas, “embora a atividade mine radora não seja a princi pal vilã no que diz respei to aos danos aos recursos hídricos, a atividade mi nerária é desmatamentos”.indústrias,mineração,econômicasmaspolíticagoverno,mentetalbemcomodossemlicenciamentodenteacordoregião.contraTamisanovoAMDA,tasimpactandodatambémtriaspansãojuntaporém,tecimento.sequentementeprejudicaráEntão,armazenamentoesponja“aCurral,mineradoraliberaçãomoção,eproteçãoprejuízoslizaçãopossibilidadeszaçãosuacazgulamentaçãoimportânciaapontatemcomosociedademineraçãonãodebém.nasponsável.exercidaclusiveçõesprincipalmenteresponsávelporalteraemcursosd’água.Inpoluindo-os,sefordeformairresOminérioestáserraseaáguatamDaíanecessidadedefinirondepodeepodeminerar.(...)Aéessencialàhumana,mas,outrasatividades,deterlimites”.OqueDalcedizrespeitoàdeumareclaraeefinoquedizrespeitoàaplicação.Arelatividasnormasesuasdeflexibipodemacarretaremrelaçãoàdosmananciaisdasáreasdepreservaessenciaisaoconsuhídricosustentável.NocasodadaatividadenaSerradoDalceexplicaque:serraéumagrandedeabsorçãoedeágua.qualquerimpactoaáguaeconoabasImportante,lembrarqueseàmineraçãoaexurbana,indúseincêndiosquesãograndesvilõesdegradaçãodaserra,osolo,floresemananciais”.Aposturadamedianteesteempreendimentodaé,segundoDalce,aexploraçãodaIssoporque,decomasuperintendaassociação,“ofoipontual,estudoseavaliaçãoimpactosnaserraumtodo.Elaéumculturaleambieneistonãofoidevidaconsideradopeloquenãotemparaprotegê-la,autorizaatividadescomoacondomínios,loteamentos, EDUCAÇÃO AINDA É A CHAVE A crise hídrica é um problema que enfren tamos há muito tempo: as matérias produzidas pelo Jornal Impressão no início dos anos 2000 já mos travam isso. Infelizmente, apesar de antigo, ainda precisamos fazer muito para superar tal desafio. Em sua edição 122, de junho de 2001, o Jornal Impressão entre vistou o biólogo e mestre em educação ambiental, Telson Crespo, sobre a importância da educação ambiental para a preser vação dos recursos hídri cos. Agora, o especialista volta para fazer uma aná lise da conjuntura atual. Jornal Impres são: O que o levou a atuar na área da pes quisa e da prática da educação ambiental? Telson Crespo: Primei ramente, meu grande amor pela natureza e, consequentemente, pela vida. Amor esse nascido das minhas vivências em campos, florestas, rios, mares... Da minha infân cia, juventude, e que me levaram a ser um biólogo. Mas, principalmente, pela convicção de que sem a educação não haverá transformação para um mundo Concluindo,melhor.a educação ambiental é fundamen tal para nossa compreen são do metabolismo dos ecossistemas naturais dos quais fazemos parte, é através dela que podemos entender como a natureza opera. JI: Consegue perceber, na sua atua ção como pesquisador e professor, mudanças significativas na consci ência da utilização sus tentável dos recursos hídricos desde sua pri meira entrevista para o Jornal Impressão, há 20 anos? Se sim, quais mu danças são essas? TC: Certamente, hoje a sociedade, especialmen te, as crianças e jovens, tem demonstrado, clara mente, esta consciência, através da sua cobrança às autoridades responsá veis e da sua participação em ações, que visam a proteção e a recuperação de mananciais, contra a poluição - não só a das águas -, o desperdício de água, a preservação das áreas protegidas, entre outras. Gostaria, ainda, de destacar o papel de um novo tipo de consumidor, mais engajado e conscien te das suas escolhas e do impacto socioambiental por elas causado, o que tem refletido nas posturas e políticas empresariais em relação às questões ambientais. Finalmente, temos também um eleitor mais verde, preocupado com suas escolhas políti cas e as ações desses go vernantes em relação a essa temática.
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NÚMERO DE IDOSOS CRESCEU MAIS DE 50% NAS ÚLTIMAS DUAS DÉCADAS. FOTO: UNSPLASH A população mun dial está envelhecendo, é o que diz a Organiza ção Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísti ca (IBGE) apontam que 14,6% da população do país tem 60 anos ou mais, o que equivale a 30,3 milhões de pessoas. O Estatuto do Idoso, criado em 2003, prevê leis e garantias reservadas às pessoas idosas, algumas destas bem conhecidas pela so ciedade, como o direito ao assento preferencial em transportes públicos e filas preferenciais em estabelecimentos. Mas quais são os reais direitos de pessoas idosas dentro de uma sociedade que muitas vezes as deixa de lado? A pandemia do novo coronavírus abriu os olhos daqueles que deve riam proteger e cuidar? Algumas das maiores diferenças e contradições encontradas nesse espaço temporal é o corte de projetos e verbas direcionadas a essas pesso as. No ano de 2002, Belo Horizonte contava com o disque-denúncia idoso, telefone próprio para de núncia anônima sobre a violência contra pessoas da terceira idade. No en tanto, atualmente o pro grama está incorporado ao disque denúncia de direitos humanos, voltado à violência contra pessoas com deficiência, crianças e adolescentes e agora, também, ao Gercinaidosode Deus, de 88 anos, é professora aposentada e conta a sua te não querem ajudar. O transporte público, além de demorado, é pratica mente inacessível, com escadas e rampas gigan tescas. Já o transporte pri vado, como o Uber, são caros, e é necessário o uso da internet para solicitá -los, não sei usar esses celulares “chiques” e nem mexer na internet, e com isso voltamos ao primeiro problema que é dentro de casa.”
O envelhecimento costuma trazer diversos impactos à saúde, como redução de mobilida de e doenças crônicas, como diabetes e hiper tensão. Portanto, para que isso não ocorra e as pessoas dessa faixa etá ria envelheçam de forma saudável, é preciso que se adote uma postura pre ventiva desde a juventu de. Os direitos dos idosos estão garantidos na Constituição Federal que, em seu artigo 230, defi ne que família, sociedade e Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando a sua partici pação na comunidade, de fendendo sua dignidade, promovendo seu bem-es tar e garantindo o direito à vida. Outro instrumento para garantia dos direitos dessa população é o Esta tuto do Idoso. Criado em 2003, ele assegura, de forma permanente, direi tos fundamentais, medi das de proteção, política de atendimento, acesso à justiça e proteção judi cial. De acordo com uma projeção do IBGE, a po pulação idosa no Brasil irá chegar na casa dos 76 milhões de pessoas em 2050, algo em torno de 29% da população total. Portanto, é necessária a adoção e fiscalização de medidas educativas em torno da questão do en velhecimento saudável, mobilizando tanto indivi dual quanto a sociedade. Outros71% Idosos29% Porcentagem de idosos em 2050 Violência cresce No Brasil, as denúncias de violações contra pessoas idosas vêm aumentando. Apenas nos primeiros meses de 2021, 33,6 mil casos de violên cia contra pessoas idosas foram registrados no Dis que 100, plataforma do Governo Federal que re cebe denúncias de vio lações contra os direitos humanos. No início da pandemia, entre março e junho de 2020, o número de denúncias já tinha cres cido 59%. Foram 25.533 no total deste período.
IDOSOS AINDA PEDEM POR RESPEITO
Segundo Rosane Pilar Diegues, coordena dora do Núcleo de Aten ção à Pessoa Idosa em Situação de Violência (NAI) do Instituto Ânima, negligência, violência psi cológica e abuso financei ro estão entre os tipos de violência mais praticados contra essas pessoas. “É importante a gente dizer que nenhuma das violências andam so zinhas. O que se vê é que a negligência atravessa todas as outras violências. Porque na medida em que a pessoa faz uma violên visão de como é ser uma pessoa idosa no Brasil: “Conheço por alto o Esta tuto do Idoso, não são to dos os direitos que ficam claros para nós. É muito difícil ser uma pessoa de idade em um país como o Brasil, estamos abandonados tanto pelos governantes quanto pelos nossos familiares. Não te mos acesso a absolutamen te nada, e a ajuda que nos é necessária é completamente negada. Acredito que antes mesmo de sairmos de casa já encontramos dificuldades. Eu, por exemplo, não consigo sair sozinha, mas não encon tro ninguém que possa me acompanhar, meus netos trabalham e estudam, e meus filhos simplesmen
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Há exatos 20 anos, o Jornal Impressão publicava matéria sobre a violência contra pessoas idosas Giullia VirgíniaGurgelPedrosa
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Acesse o QR code e acompanhe mais sobre esse conteúdo A matéria não acaba aqui. Para saber mais sobre o assunto, continue lendo no Portal Da Cacau e confira a entrevista com o advogado, especializado em Direi to idososHarlleyPrevidenciário,Freitas.Eleexplicaquaissãoasmaioresrecla-mações,dúvidasequestõessobreatualmente.
SÓ EM 2021, FORAM 37 MIL NOTIFICAÇÕES DE VIOLÊNCIA CONTRA OS IDOSOS, 29 MIL DELAS SOBRE VIOLÊNCIA FÍSICA. FOTO: PIXABAY. jam. Ferir, provocar dor, incapacidade ou, em ca sos extremos, chegar à morte são outras nuances dessa violação.Easexual, quando a pessoa idosa é incluída em ato ou jogo sexual homo ou heterorrelacio nal, com objetivo de obter excitação, relação sexual ou práticas eróticas por meio de aliciamento, vio lência física ou ameaças. A psicológica ou emocional inclui, sobretu do, comportamentos que prejudicam a autoestima ou o bem-estar do idoso, entre eles xingamentos, sustos, turadesehoje,sApp.100%cursostemosquemcadadiversasjetosprogramaAtivoApoioordenadorapatrimoniais.recursosnãoilegalploraçãoouavejamoudestruiçãoconstrangimento,depropriedadeimpedimentodequeamigosefamiliares.Porúltimo,háviolênciafinanceiramaterial,queéaeximprópriaoudosidososouousoconsentidodeseusfinanceiroseÉricaOliveira,codaRededeaoEnvelhecimentodoInstitutoÂnima,quetemproeprofissionaisdeáreasemprolpessoaidosa,explicomooprojetoajudasofreviolência.“Nessemomentooferecidováriosdecurtaduração,online,viaWhatEntão,osidososporexemplo,podemmatricularnumcursoespanholbásico,culearte,nutriçãopara
pessoa idosa, saúde e bem-estar e espiritualida de e autoconhecimento. Além dos cursos, temos também o NAI, que é o Núcleo de Atenção à Pes soa Idosa em Situação de Violência. Nesse núcleo a gente tem um apoio multidisciplinar, de vários profissionais nas áreas do serviço social, da psicolo gia e do direito. Se o idoso está sofrendo algum tipo de violência, tendo seus direitos violados, ele pode entrar em contato conos co por telefone e aí então essa equipe vai fazer esse atendimento telefônico e, conforme a situação, a gente tem alguns casos que precisaram acionar a justiça. Então, a gente tem a nossa equipe de advoga dos que faz esse acompa nhamento e tem também a equipe de psicologia que faz esse acolhimento com a pessoa idosa”, ex plica a Atualmente,especialista. o pro jeto acolhe mais de 600 casos. Segundo a coor denadora do projeto, as melhoras são vistas ra pidamente na vida das pessoas“Osidosas.idosos que estão conosco melhoram muito na questão da socia lização, porque ali eles es tão com pares. Então, eles estão em grupos que têm outras pessoas da mes ma faixa etária que eles, com a mesma linguagem. Assim eles conseguem interagir melhor, além de contar as lembranças, das memórias afetivas, da contação de histórias, dos casos que fizeram parte de alguma forma da vida de cada um deles. Por isso essa interação social é muito importante para a pessoa idosa e a gente percebe que nesses es paços, mesmo que ainda no digital, o quanto isso contribui positivamente na vida deles”, destaca Érica Oliveira.Emterritório na cional, o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMF DH) lançou a Campanha Nacional de Enfrenta mento à Violência Contra a Pessoa Idosa, com o ob jetivo de abordar medidas para prevenir e identificar situações de violência, negligência e abuso con tra os idosos. Experiên cias e boas práticas serão compartilhadas, com contribuições para uma proposta de protocolo de atenção.Idosos com aspec to descuidado, que apre sentem marcas no corpo mal explicadas ou sinais de quedas frequentes e que tenham familiares ou cuidadores indiferentes a eles, podem estar sendo vítimas de domicariscoMilitar,nos)cardeemorientaçãoDeve-seviolência.procuraroudenunciarunidadesmunicipaissaúde,delegacias,dis100(DireitosHumaou190paraPolíciaparasituaçõesdeiminente.ViolênciaeconôDuranteapandemianovocoronavírus,os preços de alimentos e re médios aumentaram dia após dia. Indiferentemen te do esperado, o valor do salário e da aposentado ria dada àqueles que já por tanto tempo trabalha ram e cooperaram com a economia do país não seguiram a mesma linha. Com mais de 21 milhões de pessoas aposentadas e voltando a ficar abaixo da linha da pobreza, os cida dãos permanecem mais aflitos e angustiados en quanto retiram produtos do carrinho de compras e das cestas das farmácias.
Junho de 2022 Jornal Impressão cia financeira patrimonial, ela acaba negligenciando a pessoa idosa. Por quê? Porque a pessoa idosa fica com uma renda menor e aí dificulta ainda mais a qualidade de vida dela, já que fica difícil prover suas necessidades, inclusi ve necessidades básicas”, destaca a Deespecialista.acordocom dados divulgados pelo Governo Federal, desde 2020, a negligência é o tipo de violência mais co mum contra o idoso, re presentando 41% do total das denúncias. Em segui da, as principais violações sofridas por idosos são: violência psicológica, com 24% das denúncias; abu so financeiro, com 20%; violência física, com 12%, e violência institucional, com 2%.Negligência, por definição, é quando os responsáveis pelo idoso deixam de oferecer cuida dos básicos, como higiene, saúde, medicamentos, proteção contra frio ou calor. O abandono vem em seguida, e é conside rado uma forma extrema de negligência. Aconte ce quando há ausência ou omissão dos fami liares ou fazeremparasoaslênciaprecisasocorrotucionais,governamentaisresponsáveis,ouinstideprestaremaumidosoquedeproteção.Há,ainda,aviofísica,quandopesseutilizamdaforçaobrigarosidososaoquenãodese
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COM A MÃO NO GATILHO, TODO MUNDO VIRA HERÓI
No momento em que os ânimos estão à flor da pele, aumenta o acesso às armas de fogo pela população civil Uma porta de vi dro. Em seguida, uma ou tra com grades brancas. Elas dão acesso a um espaço com quatro mesas amplas. Do lado direito, uma máquina de café e água. No lado oposto, uma televisão. À fren te, um balcão, com uma atendente. O clima é fres co e silencioso, contrasta com o calor e o barulho que fazem do lado de fora. Se não fosse pelas armas expostas nas vitri nes e no balcão, o lugar poderia ser facilmente reconhecido como um café ou um ponto de en contro de Masamigos.éum clube de tiros. Mais precisamen te, o Clube Comandos, localizado na Avenida dos Andradas, próximo à Praça da Estação, no Centro de Belo Horizon te. Um dos proprietários é o empresário Rafael Vasconcelos, de 33 anos. O estabelecimento abriu as portas em 2018. Uma RAFAEL VASCONCELOS, SÓCIO DO CLUBE DE TIRO COMANDOS, EM BELO HORIZONTE, POSA EM FRENTE A UM DOS ESTANDES DO LOCAL. FOTO: GUILHERME REIS. amostra da tendência que cresce não só em Mi nas Gerais, mas em todo Brasil: a compra de armas e a prática de tiros. “Tinha três ou quatro clubes. Com o Bol sonaro ganhando a elei ção, em 2018, a questão do armamento começou a ser mais divulgada, mais falada. O pessoal co meçou a procurar mais. Começaram a adquirir mais armas para a defesa pessoal, para ter na resi dência. Residência rural também, porque fica mui to isolada. Começou essa demanda por ter arma em casa. Mas elas [as pessoas] precisam treinar, para estarem aptas a usar essa arma.” Desde que o pre sidente Jair Bolsonaro (PL) tomou posse, em janeiro de 2019, o go verno federal já publicou 31 alterações na política de acesso a armas e mu nições no Brasil. São, ao todo, 14 decretos, 14 por tarias de ministérios ou órgãos do governo, dois projetos de lei, que ainda não foram aprovados, e uma resolução.Deacordo com o Governo Federal, as altera ções servem para “desbu rocratizar procedimentos” e “aumentar a clareza das normas que regem a pos se e porte de armas de fogo e a atividade dos co lecionadores, atiradores e caçadores”.“Oque ele [Bolso naro] melhorou foi a pos se. A regra para o porte continua a mesma. Até 2017, era arbitrário. Ti nha critérios objetivos que deveriam ser cumpridos, mas a Polícia Federal ana lisava de acordo com o in teresse dela”, diz Rafael. A posse permi te ao cidadão manter a arma exclusivamente na sua residência ou local de trabalho. Já o porte autoriza a circulação com armamento fora de casa ou do trabalho. Segundo Rafael, ainda é necessário comprovar uma efetiva necessidade para o uso da arma, mas cada delegado analisava os pedidos con forme a sua interpretação da norma.“O Bolsonaro só mudou essa questão. Os documentos continu am os mesmos, mas não há mais a subjetividade. Hoje, se a pessoa cum prir os critérios exigidos por lei, a posse da arma é liberada”, completa. Os critérios exigi dos são: teste psicológi co, teste de tiro, além de documentação que in clui certidões negativas. A pessoa não pode, por exemplo, estar respon dendo a um inquérito ou processo criminal. Segurança pelas próprias mãos A professora do Departamento de Ciên cias Aplicadas à Educação da Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG e pesquisadora do Centro de Estudos de Criminali dade e Segurança Pública (Crisp), Valéria Oliveira, afirma que a demanda pelo acesso a armas é an tiga no Brasil, e a eleição do atual presidente é uma consequência desse movi mento armamentista. Os indicadores da crimi nalidade brasileira come çaram a subir em meados da década de 1980. Des de então, é perceptível um avanço nos números de crimes violentos, de patrimônio - latrocínio, homicídios - além de um crescimento e uma orga nização maior do comér cio ilegal de armas e de drogas. “Eu acho que par te da defesa da arma de fogo como uma forma de proteger o cidadão, a sua família, a sua proprieda de, tem algo dessa sen sação de que se o Estado não é capaz de prover segurança pública para mim, eu posso garantir essa segurança da forma como eu consigo indivi dualmente, por meio do acesso à arma de fogo”, afirma Valéria.Aprincípio, pare ce contraditório que uma parcela da população se sinta mais segura com mais armas em circulação nas mãos de civis já que, a longo prazo, as relações sociais podem se tornar mais violentas. Mas, se gundo Valéria, essa situ ação é esperada, porque a nossa tomada de deci são não é bem orientada quando nos sentimos in seguros.“Quanto mais medo, mais eu vou tentar me proteger de alguma forma. Mesmo que essa tentativa de proteção pro mova, no agregado, mais risco.”, explica Valéria. Rafael é crítico do Estatuto do Desarmamen to, norma aprovada em 2003 que limitou o aces so à aquisição e comercia lização de armas e muni ções. Para ele, enquanto os bandidos continuaram armados, a legislação de sarmou os “cidadãos de bem”. “A gente tem que ter a polícia, tem que me lhorar, que crescer efeti vo, melhorar armamento, treinamento, mas quem defende primeiro a mi nha família ou a minha vida sou eu. Nos últimos anos, foi criada uma ideia de que a arma é ruim. É uma coisa de bandido, uma coisa pra fazer mal. Ou é bandido ou é polícia que temOarma.”empresário afir ma que possui armamen tos, mas assegura que os usa apenas para garantir a sua segurança e a de sua família. “Eu quero me de fender. [Em uma troca de balas] eu estou correndo o risco de tomar um tiro e morrer. E hoje eu tenho esposa, tenho filho e não [quero] correr esse risco.” Apesar de sentir -se mais seguro armado, Rafael afirma ser o mais
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colecionador, a arma fica na casa da pessoa, ela inclusive não pode nem estar em funcionamento”, explica ORafael.quemudou com o governo Bolsonaro é a possibilidade dos CAC’s adquirirem uma quan tidade maior de armas. Um atirador desportivo pode adquirir sessenta armas, sendo trinta de ca libre restrito (submetidas à maior controle do Esta do) e outras trinta de cali bre permitido. O caçador pode adquirir trinta armas para caçar com o mesmo critério do atirador. Para o colecionador, em regra, não existe limite, mas ele só pode ter uma arma de cada modelo.Umdos decretos aumenta de quatro para seis o número de armas de fogo que o cidadão co mum pode adquirir. Esse limite sobe para oito no caso de policiais, agentes prisionais, membros do Ministério Público e de tribunais. O governo tam bém passou a permitir o porte simultâneo de duas armas. Antes, a regra di zia que o porte deveria ser válido apenas para a arma nele especificada, mas não mencionava a quantidade.Valéria afirma que a mudança feita pelos decretos do presidente tem como objetivo, aos poucos, destruir ou des construir o Estatuto do Desarmamento. “Todo o arcabouço normativo que foi aprovado desde janei ro de 2019 até aqui quer tornar o Estatuto do De sarmamento, que é uma legislação, algo que aos poucos vai virando uma grande colcha de retalhos com alterações propostas por outros decretos. Todo esse movimento tem um objetivo: flexibilizar o acesso a armas de fogo e munição no Segundopaís”.a profes sora, os reflexos dessa fle xibilização devem ser per cebidos a médio e longo prazo. “Um cidadão, um policial reformado, que briga, que saca a arma, o outro que atira na mulher, assim, a gente vê umas coisas pontuais”.Elalembrou ain da, da morte da jovem Isabele Guimarães, de 14 anos, baleada no ros to pela amiga de 15 anos, em um condomínio de luxo de Cuiabá, em julho de 2020. A amiga de Isa bele praticava tiro espor tivo com os irmãos e os pais. Mesmo que um eventual novo governo revogue parte das flexibi lizações levantadas pelo governo Bolsonaro, Valé ria acredita que a deman da pelo acesso a armas vai continuar existindo em parte da sociedade. “Não é difícil estimar quanto pode crescer de ocorrên cias, de homicídios, de crimes violentos com o uso de arma de fogo, a partir do crescimento que observamos nos últimos anos. Esses equipamen tos circulam por muito tempo, então vamos ter os desdobramentos sendo experimentados ainda por bastanteAlémtempo”.disso, ela ressalta que o perfil das vítimas das armas tem se diversificado. “Já tem as mulheres também. O feminicídio aumenta mui to e dá visibilidade para uma série de eventos que antes aconteciam e que não çasgrandenomicídiovítimasaindaHomenscontabilizávamos.negrosejovenssãomaioriaentreeautoresdehocomarmadefogopaís.Mastemosumaparceladecrianeadolescentes”.
Junho de 2022 Jornal Impressão discreto possível em re lação a isso. “Não fico mostrando [as armas] e a finalidade delas é defesa. Em certos casos, se for patrimônio, você até dei xa levar carro e moto. Às vezes, é melhor nem en trar em conflito. Se o cara não está ameaçando sua vida, deixa levar. Usar [a arma é em último caso. É um mecanismo de defesa, mas a pessoa que usa a arma pode gerar um gran de estrago na vida dela.” A professora Va léria demonstra preocu pação com o aumento do armamento da população com as recentes flexibili zações no acesso a armas no país. Para a professora, a sociedade vive um am biente de animosidade e tensão e a pandemia deixa os nervos “à flor da pele”. Esse cenário, so mado ao acesso facilitado à arma de fogo, pode tor nar as relações ainda mais violentas.“Vivemos um mo mento de irritação, de agressividade. Esses fenô menos que envolvem um tipo de crime que não é necessariamente o cri me organizado, ou com motivações econômicas, também têm crescido. E uma vez que as pesso as tenham mais acesso a arma de fogo, é natural que façam o uso dessa ferramenta diante de in tensa emoção, numa ten tativa de legítima defesa”, argumenta Valéria. Flexibilização para o acesso a armas No Brasil, há duas fomas de adquirir armas: RAFAEL VASCONCELOS, SÓCIO DO CLUBE DE TIRO COMANDOS, EM BELO HORIZONTE, TAMBÉM PRATICA O USO DE ARMAS NO LOCAL - ELE POSSUI ARMAMENTO PRÓPRIO, MAS GARANTE QUE OS USA APENAS PARA SE DEFENDER. FOTO: GUILHERME REIS. pela Polícia Federal (PF) ou pelo Exército. O que muda é a finalidade. Pela PF, o cidadão pode adqui rir uma arma para defesa, mas ela deve ficar na sua casa ou deparatraparaarma“Separalarantepodeouparacomcolecionadores)(caçadores,decitorentementeestaroaporumanamento,clubequisercomercial.estabelecimentoSeapessoalevá-laaalgumdetiroparatreiéprecisopedirautorização,válidaumdiaapenas,paraPolíciaFederal.Durantetrajeto,aarmaprecisasemmunição.DifedaPF,oExérdáumapermissãotrêsanosparaoCACatiradoresetransitaraarmadasuacasalocaldetreinamentocompetiçãoeaarmaestarmuniciadaduotrajeto.OExércitoreguaaquisiçãodearmasoschamadosCAC’s.vocêforcaçador,essasópodeserusadacaçarenãoparaoucoisa.Comoatirador,treinarouparticiparcompetições.Ecomo
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PANDEMIA E O HISTÓRICO DA DEPRESSÃO EM CRIANÇAS
Pandemia e depressão infantil Segundo dados do UNICEF (Fundo das Nações Unidas para In fância), pelo menos uma a cada sete crianças foi di retamente afetada por lo ckdowns, durante a pan demia, em todo o mundo. Por conta dos protocolos de segurança sanitária, o público infantil precisou passar mais tempo com os pais, não pôde ir à es cola, fazer amigos e nem passear. Os resultados do estudo do UNICEF apon taram para um aumento de 27% no diagnóstico de depressão em crianças durante o período. De acordo com a psiquiatra Jaqueline Bi fano, especialista em psi quiatria e psicoterapia da infância e adolescência, este aumento é provocado não só pelo isolamento social, mas pelos próprios sentimentos provocados por ele, como o medo e a insegurança.“Ascrianças, não só os adultos, passaram por esse momento estres sante, de medo, insegu rança, sem saber como será o amanhã, medo da doença. E isso, mais o afastamento da sua ro tina diária, afastamento dos colegas, da escola, fez com que as crianças ficas sem deprimidas, irritadas. Com isso, os sintomas de
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Casos da doença aumentaram 27% no período, segundo UNICEF Bruno ManuelaLucasLeandroIrisGiulliaGabrielBragaRibeiroGurgelAguiarColomboMaiaLins
O ISOLAMENTO DA DEPRESSÃO. FOTO: FREEPIK. Em meio à pande mia, Tiago*, de 12 anos, começou a manifestar alta irritabilidade, falta de apetite e não sentia vontade alguma de sair do seu quarto. Flávia*, sua mãe, viu a necessi dade de cercar algumas ações do filho. Celular foi checado: conteúdos sobre suicídio e músi cas melancólicas foram encontradas. Observado o comportamento incomum na criança, com a ajuda de profissionais, veio o diagnóstico: depressão infantil.Ser criança é pas sar por diversas fases desse processo que se chama crescer. Nele, o pe queno ser tem que enfren tar os saltos do desenvol vimento, aprender novas habilidades e lidar com as pessoas ao seu redor, que podem trazer sen sações boas ou ruins. Na fase sempre associada à alegria, parecia quase im pensável que uma doença que atinge majoritaria mente os adultos pudesse fazer parte também da vida de uma criança. Mas o problema da síndrome depressiva na infância é real, não pode mais ser tratado como um tabu na nossa sociedade, ou até mes mo como um ‘mimimi’ ou algo para ‘chamar a atenção’. Essa doença, que provoca efeitosseusnoenderdada,sidocomportamentais,mudançastemcadavezmaisestuafimdecompreasuamanifestaçãogrupoinfantilequaissintomasepossíveisnafaseadulta. É preciso estudar Segundo o Mi nistério da Saúde, a depressão é um distúrbio afetivo que acompanha a humanidade ao lon go de sua existência e que evidencia alterações químicas no cérebro do indivíduo afetado, relacio nada principalmente aos neurotransmissores. A do ença pode se apresentar de diferentes maneiras em cada pessoa e variar de acordo com a idade. A síndrome de pressiva na infância tem sido alvo de investiga ções na literatura es trangeira, entretanto, no Brasil, tais estudos ainda são escassos Essa doen ça, segundo a World He alth Organization, é co mum em todo o mundo, com uma estimativa de 3,8% da população afeta da, incluindo 5,0% entre adultos e 5,7% entre adultos com mais de 60 anos. Aproximadamente 280 milhões de pessoas no mundo têm depressão. De acordo com novo trabalho publica do no periódico JAMA Pediatrics, pesquisadores da Universidade de Cal gary, no Canadá, avalia ram dados de 29 estudos com crianças e adolescen tes em diversos países e chegaram a números alar mantes: um em cada qua tro sofre de depressão, en quanto um a cada cinco está lutando contra a an siedade, que em muitos casos pode evoluir para a depressão, caso não con trolada e acompanhada por profissionais da área. De onde vem a depressão? O primeiro regis tro de que se tem infor mação acerca dos estudos sobre a depressão infantil data de 1621, quando o autor Robert Burton, em LINHA DO TEMPO DOS ESTUDOS MAIS IMPORTANTES SOBRE A DEPRESSÃO INFANTIL. FONTE: PAULO BRASIL, PROFESSOR DE PSIQUIATRIA INFANTIL NA UFMG. seu livro “A Anatomia da Melancolia”, disserta so bre o assunto. Existem, ao longo do tempo, esparsos sobre o tema, como em 1907, quando surge mais uma referência clássica no livro de um professor da Universidade de Bar celona, que descreve e reconhece a síndrome da depressão na infância. Além disso, a Es cola Psicanalítica, com seus diversos estudiosos, começa, também, a estu dar mais sobre a depres são infantil. No século pas sado, há certa divergência em saber se a depressão infantil seria ou não uma entidadeEmclínica.meados dos anos setenta, estudos sis temáticos concluem que sim, a depressão infantil deveria fazer parte dos diagnósticos empendentedepressãoreforçando,meçamedestamundialmente.psiquiátricosApartirconclusão,provasavaliaçõesobjetivascoaserutilizadas,ainda,queainfantiléindedaencontradaadultos.
Junho de 2022 Jornal Impressão depressão surgiram”, pon tua a especialista.Outroestudo, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), apontou que uma em cada qua tro crianças e adolescen tes ouvidos pela pesquisa apresentou ansiedade e depressão durante a pan demia a níveis clínicosou seja, com necessidade de intervenção de espe cialistas. No consultório de Jaqueline, pode-se ob servar como este dado é real e explica um aumen to expressivo na quantida de de crianças com sinto mas de “Aumentoudepressão. mui to o número de ca sos no consultório. Do consultório eu consegui perceber que as crian ças ficaram muito aflitas com essa doença, com a pandemia. (...) A criança começou a ficar ansiosa, triste, e os pais percebe ram. Por isso a procura por tratamento psiquiátri co foi bem maior”, explica a psiquiatra.Em um contexto atual, de flexibilização do isolamento social e re torno às atividades, tam bém é preciso observar quais comportamentos podem provocar trans formações emocionais, e consequentemente de pressão nas crianças. A psiquiatra ressalta que, neste momento, a figura do professor é importan te para fazer o primeiro diagnóstico perceptivo de depressão e também auxi liar as crianças na recupe ração emocional.“Acriança vê na fi gura do professor alguém da família. É uma pessoa muito importante, então o professor tem que mos trar que está com a crian ça. (É importante) Tomar cuidado se a criança se queixa muito de sintomas físicos, como dor de ca beça, dor de barriga, que são sinais de alerta. Os professores têm um papel crucial na escola, porque eles estão mais pertodas crianças, eles podem per ceber esses sintomas mais rápido. Mantendo sempre um diálogo aberto entre as crianças”, ressalta Ja quelinePortanto,Bifano. é essen cial a atenção dos pais e responsáveis para que, a partir das informações e dicas apresentadas, en tendam e consigam aju dar seus filhos, que po dem estar sofrendo de depressão infantil. O seu filho está depres sivo? Dificilmente, no nosso imaginário, as sociamos depressão à criança. Por ser uma doença com sintomas que levam à introspec ção, a síndrome depres siva parece distante da fase lúdica infantil, em que brincar com amigos, conversar e se divertir parecem ser as únicas preocupações. Mas além de atingir a fase infantil, a síndrome depressiva é também“Nãocomplexa.épossível deixar de ser depressivo de um dia para o outro”. Segundo Saint-Clair Bahls, especialista em psiquiatria pela Associação Brasileira de Psiquiatria e mestre em psicologia da infância e adolescência, a depres são é uma doença que não se trata a curto prazo, deve ser compreendida como um estado clínico. De acordo com o autor, se não tratada, pode se refle tir na adolescência, com a queda do rendimento escolar, e até ocasionar o uso de substâncias como álcool e“Comeceidrogas. a per ceber irritabilidade, mui to sono, e para tirá-lo de dentro do quarto era difí cil. Ele não queria comer, se não ganhava no jogo fica extremamente nervo so, se a comida não esta va como ele queria ficava nervoso e, mesmo dor mindo muito, ainda per manecia com o semblante cansado”, relata Flávia*, que viu o filho viver a de pressão na pandemia. “Foi um processo começar a perceber os sintomas até começar a monitorá-lo e levá-lo ao psiquiatra”, explica a mãe, que ainda conta que com o monitoramento perce beu que o filho estava assistindo conteúdos sui cidas, ouvindo músicas melancólicas e fazendo declarações no status de redes sociais que “queria que tudo acabasse”. Atenção ao comporta mento O que diferencia a depressão das tristezas do dia a dia são a inten sidade, a persistência e as mudanças em hábitos normais das atividades da criança. Apesar do consenso entre profis sionais da saúde quanto ao reconhecimento dos sintomas depressivos na infância e na adolescên cia, seu diagnóstico ainda apresenta dificuldades, sendo mais complexo, por vezes, do que a percepção em adultos.“Nas crianças, a depressão não vem com o quadro ‘básico’ de tristeza ou choro fácil”, explica Ja queline Bifano, psiquiatra da infância e adolescência. A médica esclarece que a Irri ta bili ade Irritabilidade Sono/ Cansaço Sintomas comuns de depressão em crianças Choro fácil depressão infantil ocorre pela mudança de com portamento que é notada na criança, podendo ser, muitas vezes, confundida como birra ou malcriação, por que a criança muitas vezes fica mais irritada. “Ela, a criança, muda o comportamento. Se era uma criança mais ativa passa a ficar mais quietinha, se era uma criança mais quietinha, ela passa a ficar mais agitada, mais irritada”. Os sintomas na criança podem vir de diversas formas, atingindo tanto o físico como emocional, gerando um quadro que a criança precisa enfrentar e que deve ser observado pelos responsáveis como indicadores que a ajuda é necessária.Jaqueline Bifano elucida alguns sintomas principais que podem fa zer parte da apresentação da doença nas crianças. “A irritabilidade, a ansie dade, o medo são sinto mas. A criança começa a apresentar sintomas físi cos como dor de barriga, dor de cabeça. A criança tem alteração do apetite, passando a comer muito se comia pouco ou pouco se comia muito. Ocorre também a alteração do sono, em que a criança passa a ter dificuldade para iniciar o sono à noi te e durante o dia passa a ficar mais sonolenta”, ex põe a médica.Aoprimeiro sinal de depressão, os pais de vem acolher a criança e encaminhá-la a um profis sional o mais rápido possí vel. Na maioria das vezes, o apoio da família e a psi coterapia são suficientes. Entretanto, acreditar que uma criança tem depres são é difícil para os pais, uma vez que essa fase é pouco associada a doen ças mentais.“É muito difícil para os pais acreditarem que criança tem depres são, muitos acham quase impossível”, conta a mé dica psiquiatra. Jaqueline ainda argumenta que 2% das crianças no Brasil têm depressão, sendo que as meninas são mais afetadas que os meninos. “No iní cio, os pais sentem aquele baque inicial, mas após uma conversa explicando os sintomas e as caracte rísticas que a criança está apresentando eles passam a acreditar”, complemen ta Jaqueline Bifano. Após o diagnós tico, muitos pais não sa bem como lidar com a situação, sentem-se per didos em um momento que lhes requer atenção. “Os pais devem acolher a criança, dar muito amor e carinho. A criança preci sa ser aceita e saber que os pais estão ali para elas e por elas, que nada de ruim vai acontecer com elas, elas precisam dessa segurança. É importante também ter um diálogo, e muitas vezes os adultos não dão voz às crianças, então o diálogo é impor tante para ouvir a crian ça e tentar entender o que está levando àquele quadro depressivo. In centivar a criança a vol tar para suas atividades e brincar com a criança é muito importante”, acon selha a “Quandopsiquiatra.eu des cobri, eu quase fui junto. Estava saindo de um bur nout e senti que não es tava fazendo o suficiente. Foi muito difícil. Minha médica me ajudou a en tender meu filho, falando para escutá-lo mais e dei xá-lo no quarto se ele qui sesse. Me senti mal, mas como mãe tive uma força que nem sei de onde veio. Tive uma conversa muito franca com ele para que ele entendesse todo o processo”, conta Flávia* sobre seus sentimentos ao lidar com a depressão in fantil do*Osfilho.nomes Flávia e Tiago são meramente ilustrativos para não ex por a criança e a mãe. 11
Diante destes re latos, poderíamos pensar que a população jovem enfrenta uma desafeição política que explicaria o decréscimo de sua partici pação eleitoral neste ano. Mas Manoel Santos alerta sobre esse raciocínio, pre sente no senso comum: “Quem pensa as sim, não conhece a juven tude. Essa é uma visão distorcida e até mesmo preconceituosa. Na verda de, tem dois fatores que podem ter influência nes sa diminuição dos jovens participativos na eleição deste ano. O primeiro fa curiosidade e vontade de fazer parte. Mas vemos que esse entusiasmo tem mudado nessa nova ge ração. Por isso, esta re portagem busca entender os principais aspectos da participação dos jovens no contexto político atu al, para os adolescentes entre 16 e 17 anos. Qual a sensação que essa par te da população sente em relação à participação eleitoral? Existe um desinteresse pela políti ca, por parte dos jovens e adolescentes? Em todas as nos sas conversas com os jovens, percebemos um tom generalista, tanto em relação à opinião dos adolescentes entrevista dos sobre a importância do voto, quanto seus co nhecimentos sobre políti ca. Foi possível perceber TSE entre os dias 14 e 18 de março de 2022. tor é o desinteresse por política. A desafeição po lítica, na minha opinião, não é só de jovens, e sim da população em geral. O segundo fator é a falta de comunicação política dire cionada para esse grupo.”
Junho de 2022 Jornal Impressão12 ANTENADOS OU DESINTERESSADOS?
ANA CAROLINA MOREIRA CHAVES APROVEITOU A CAMPANHA DO TSE, VOLTADADA PARA O ELEITORADO JOVEM, E TIROU O TÍTULO PELA INTERNET.
Além disso, o ce nário eleitoral e político atual difere dos anteriores com a crise econômica, forte insatisfação política e o contexto de pande mia. Soma-se também a falta de representativida de na política, que acaba por afastar jovens que po deriam começar a partici par do contexto político. Agora, tente se lembrar de sua primeira participação como eleitor. Você se lembra do cená rio político e quais eram os candidatos? Quantos anos você tinha quando decidiu votar? Você dis cutia entre amigos sobre política da mesma forma que conversavam sobre futebol e Emreligião?nossa época, por exemplo, a sensação de ter a possibilidade de votar era semelhante à sensação de fazer 18 anos: estamos nos tor nando responsáveis por nossas escolhas. Ouvir o barulho característico da confirmação do voto na urna pela primeira vez era um marco de nossa participação social em algo grande.Votar fazia parte daquelas coisas de “gente grande”, que causavam (In)decisão (Des)afeição
Conforme os da dos do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o número de jovens que tiraram o título de eleitor esse ano foi menor que nas elei ções passadas. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), dos quase 6 mi lhões de jovens aptos a participarem das eleições de 2022, pouco mais de 800 mil tiraram o título de eleitor.Com isso, teve início uma campanha de conscientização, promo vida pelo Governo Fede ral e apoiada pela classe artística e influenciadores digitais brasileiros, para aumentar a média de no vos eleitores. Além disso, foram emitidos 96.425 novos títulos para jovens entre 15 e 18 anos, resul tado da Semana do Jovem Eleitor, promovida pelo “Não acho que seja legal tirar meu título de eleitor agora, porque, na minha visão, eu votaria praticamente nulo, pois não vejo ninguém merecedor do meu voto”, relata a estudante. Apesar de não ter tirado o título de eleitor, a jovem entende a im portância do voto. “É a sua opinião que você está dando sobre o que você pensa, o que você defen de e o que você quer para o seu futuro, porque você vai eleger uma pessoa que vai mudar o seu futuro e o futuro do país em que você vive”, mento,comunicaresforçociarcomotânciaUFMG,toSantos,jovenssobreFernanda.sobremaisatençãoquecontextoseguirgram,deaparecerdosteciparemafluenciaramcomoElatirarderiaIzabelaeleitor.atambémsuavotandosaberaobrigatório.necessário,votosistema,aomesma17LeonardoAlémfinaliza.deIzabela,Dornelas,deanos,compartilhadavisãoemrelaçãovoto.“DevidoaonossoeuachoqueoéextremamentealémdeserTemqueterdevidaimportânciasim,emquemvocêestáedefendendoideia.”Contudo,eleoptouporadiaremissãodotítulodeAocontráriodeeLeonardo,MaFernanda,estudante17anos,optouporotítulodeeleitor.contouàreportagemasredessociaisinsuadecisãoedeseusamigosdepartidaseleiçõesdesano.“Temasrelacionaàpolíticacostumampramimnaaba‘explorar’doInstaetambémcostumoalgumaspáginasdesobrepolítica,despertaramminhaparaconhecereteralgumanoçãooassunto”,explicaParaentendermaisoengajamentodosnapolítica,ManoeldoDepartamendeCiênciaPolíticadaexplicaaimpordasredessociaisformadeinfluenajuventude:“alémdodospartidosemessechamaoenvolvimentoda sociedade na mobilização eleitoral é fundamental. E óbvio, hoje não se fala em comunicação social se não for nas redes sociais”, relata oManoelprofessor. Santos explicou, ainda, que a participação massiva dos jovens nas eleições é essencial para que o corpo político se atente para essa parcela da po pulação em termos de po líticas públicas.“Agente não tem dados sobre as preferên cias eleitorais dos jovens de 16 a 18 anos, mas sem dúvida nenhuma eles po dem ser relevantes e, em última análise, até decisi vos no processo eleitoral, e não só para presidente. Quando o jovem se incor pora ao eleitorado, ele co meça a se preocupar em quem vai votar. E isso se torna muito importante para a educação política desses jovens”, relata o cientistaCompolítico.isso, a par tir do momento em que a juventude começa a se articular e ter uma parti cipação maior nas discus sões, além de buscar estar representada nos espa ços políticos, os políticos passam a pensar nas suas necessidades e em como se comunicar com este eleitor. Sobre isto, Manoel explica: “O político olha para o eleitorado para dizer o que pretende fazer. Se os jovens não estão inscritos, ele não falará para esses jovens.”
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Mesmo com a polarização e o engajamento político que permeia os ambientes digitais e espaços públicos, o número de jovens eleitores tem queda histórica nas eleições de 2022 Beatriz ThaisMarcelloLauraJeovanaFernandesOliveiraSouzaPereiraMoreira
ALISTAMENTO DE JOVENS DE 15 A 17 ANOS PODE SER FEITO 100% ONLINE. direito ao voto. Como ex plicou Manoel Santos, é sobre o direito de votar e ser votado. Para o cientis ta social, ainda há muito o que avançar sobre a di versidade no corpo polí tico brasileiro, que ainda reflete uma pequena par cela da sociedade. “Percebemos que o parlamento não reflete a real distribuição de gru pos sociais nos se tores da sociedade. O parlamento é coisa de homem branco, e isso não me pare ce positivo porque a presença feminina, dos negros e dos jo vens é o que vai ga rantir que pautas di recionadas a esses grupos ganhem con sequências”, finaliza Manoel. Dessa forma, é preciso atentar para esse decréscimo da população jovem no cenário eleito ral, por saber que ela não diz respeito somente a um momento eleitoral especí fico e sazonal. Esse desin teresse reflete em deci sões futuras que serão ou não tomadas, em políticas públicas que serão ou não formuladas.Épreciso incenti var a participação dos jo vens nas eleições a partir dessa perspectiva. E, as sim, transmitir para essa parcela da população que a sua importância vai além da computação de um voto isolado, e abarca to das as esferas de decisões políticas de uma nação CAMPANHA DO TSE INCENTIVA A PARTICIPAÇÃO DE JOVENS ELEITORES NAS ELEIÇÕES, COM O INTUITO DE EXERCER A CIDADANIA E FORTALECER A DEMOCRACIA.
Junho de 2022 Jornal Impressão13 Avanço necessário
Será que a vida política e suas temáticas deveriam ser um dos as suntos “intocáveis”, como a religião e futebol? Afi nal, diferentemente des ses outros assuntos, a de cisão política influencia para além da esfera indi vidual. E a vida política vai além do exercício do também que há um senso comum de que conhecer sobre política demanda um estudo muito aprofun dado e Serádedicado.queas pesso as seriam mais familiari zadas com o estudo e de bate político se a temática não se apresentasse tão afastada da nossa vida co tidiana? Não são apenas jovens e adolescentes que sentem essa barreira ao tentarem entender o ce nário da política nacional. Talvez você também já tenha pensado dessa ma neira. Mas a vida é políti ca. Por isso é importante democratizá-la de manei ra que todos não só consi gam, mas tenham interes se de debater, participar e transformar o cenário políticoAnanacional.Paula, tam bém de 17 anos, por exemplo, expôs o seu in cômodo sobre a forma como a política é debatida atualmente. “Quem discu te política é só quem tem a mesma opinião. Eu qua se nunca pego uma pes soa e falo ‘vem cá você, que tem um lado total mente diferente do meu, e vamos discutir, vamos falar sobre tais coisas’. Eu já fico sem paciência, a pessoa fica sem paciên cia.”
Enxergar as relações do futebol com a sociedade ajuda a entender que o esporte transcende o aspecto do jogo A frase “não é só um jogo” está enraizada no imaginário popular brasileiro. Definitivamen te, o futebol não é só um jogo, nunca foi. O espetá culo da partida não termi na quando os torcedores deixam o estádio, os acon tecimentos vividos dentro das quatro linhas não se desenvolvem à parte do mundo exterior. Pelo con trário, o futebol é uma extensão daquilo que so mos enquanto sociedade. Em termos estruturais, as marcas da misoginia, do capitalismo avançado e das precárias políticas pú blicas aparecem de modo visível no esporte. A “cul tura das multidões”, como o sociólogo Maurício Mu rad define o esporte, é um dos maiores e mais impor tantes eventos da nossa cultura de massa. Em artigo para a Universidade Salgado de Oliveira, Murad crava que “o futebol é um fato social total, porque sintetiza os traços culturais dominan tes de sua sociedade”. Ele também explicita o dever de contextualizar o futebol na realidade bra sileira. O quadro de vio lência suscita desordem e práticas de brutalidade. Indo mais a fundo, o nos so histórico inclui a abo lição tardia da escravidão e constantes exclusões sociais, o que condena o presente a uma democra cia insuficiente.Viverem um Es tado que não estende a mão a quem precisa é limitador. Com uma la mentável marca de 11 mi lhões de analfabetos e 61 mil homicídios por ano, o Brasil é um país em que a educação e a segurança são privilégios e em que perspectivas de futuro fi cam distantes do horizon te. Seria um alento se ao menos o lazer fizesse par te das políticas públicas, mas levantamentos feitos pelo IBGE mostram, por exemplo, que 44% dos pretos e pardos vivem em cidades sem cinemas. Diante de tanto revés, um fenômeno persiste em se manter indissociável da vida do brasileiro: o fu tebol. Face à ausência do Estado, esse esporte atua como válvula de escape para grande parte da po pulação.O torcedor Rafael Bolívar, diante da pergun ta “o que você faria se não fosse torcedor do Galo?”, solta uma risada autoex plicativa, seguida de “não tem como imaginar isso”. Para o seu bisavô, a ideia de ter 13 filhos porque “13 é Galo” soa tão na tural quanto nomeá-los de Maria ou João. Valdir “Virjão”, dono do canal “Cruzoeiro” e colunista na Rádio Liberdade FM, faz alusão à religião para definir a paixão envolvi da. “Só quem vive esse sentimento sabe como é”, ele declara, assertivo. Tal como a religião, tentar ex O desfecho custou a vida de Rodrigo e serviu como um necessário lembrete da truculência que ainda permeia o futebol. É importante salientar que no contexto de um país violento, a violência se manifesta em vários ambientes, incluindo o futebol. A jornalista e es critora Milly Lacombe se apoia sobre essa visão dizendo que “não existe você viver no país que o Brasil é hoje, com esses índices de fome, de desi gualdade, de falta de mo radia, sem testemunhar o aumento da violência”. Contudo, há hoje uma distorção desse cenário por parte do Estado e da mídia, que tende a sim plificar a questão, gene ralizando os autores dos conflitos. Nesse sentido, a aprovação da proposta feita pela Comissão de Constituição e Justiça do Senado, que prevê ações como penas mais rígidas para integrantes de torci das envolvidas em confli tos, revela o objetivo de criminalização. A torcida é um componente im portante do espetáculo e ações como essa destoam da resolução do problema da violência. Além disso, contribui para o acirra mento entre agentes de segurança e torcedores, como mostrou o jornalis ta Breiller Pires na maté ria “A sina dos torcedores mortos por policiais”, para o El País.A violência física costuma ter maior des taque na mídia por ser mais explícito reconhe cê-la. Porém, o conceito social de violência simbó O início de 2022 foi marcado por uma es calada da violência no futebol brasileiro, foram 15 casos, segundo levan tamento feito pelo Portal R7 Esportes. Dentro da estatística. está Rodrigo Marlon Caetano, mor to durante uma briga de torcidas organizadas. O cruzeirense tinha apenas 25 anos quando faleceu, e sua adesão à organiza ção era contestada pelos pais. Rodrigo escolheu ser um torcedor mais ativo, assim como Rafael Bolí var, mas diferente do atle ticano, a decisão não lhe rendeu bons frutos. De acordo com o pai de Ro drigo, Ademar Eustáquio, em entrevista ao jornal O Tempo, “ele estava mui to rebelde, chegava em casa alterado, quando o time perdia, saía bravo”.
PaixãoBOLÍVAR.acentuada O reduto masculino
Vitória Von Bent zeen é uma torcedora aguerrida do Galo desde os 4 anos de idade. A pri meira palavra que saiu de sua boca foi um xinga mento que ela ouviu do pai enquanto assistia a um jogo com ela no colo. O interesse pelo futebol não está inerentemente reser vado a nenhum gênero e esse relato é uma peque na amostra disso. Porém, a paixão das mulheres pelo esporte é contestada devido à hostilidade pro veniente de uma cultura misógina. Como aponta a antropóloga Mariana Mandelli, “o futebol é um ambiente de homens, vol tado paraParahomens”.51,3% da população, composta por mulheres, o simples ato de vestir a camisa do time e se deslocar até o está dio configura um desafio, haja vista a possibilidade de ser assediada. Para Vitória, ir aos jogos desa companhada não é uma opção; ir sozinha comprar uma cerveja exige redo brar a atenção, porque ela pode ser indelicada mente lembrada que está frequentando um espaço que não lhe pertence. Não existe uma fórmula certa para ser tor cedor. Para muitos, basta vestir a camisa, ir ao es tádio, participar da festa e voltar para casa. Outros buscam viver a experiên cia mais intensamente, seja agitando os bandei rões ou tocando as bate rias. Rafael aponta que, muitas vezes, “o pessoal plicar suas atitudes decor rentes da devoção pode não significar muita coisa para quem está de fora. Isso fica mais claro quan do ele compartilha conos co a história de quando precisou dormir no ae roporto para economizar dinheiro para assistir um jogo do Cruzeiro. “Não ia conseguir nem tomar o café da manhã do hotel, então dormi no aeropor to”, recorda.Osenso de coleti vidade é uma constante no meio futebolístico. Ra fael conta que a torcida organizada da qual faz parte distribuiu cerca de 200 ovos de Páscoa em uma comunidade no dia do feriado. “A gente faz campanha de ação social justamente para tentar diminuir essa visão ruim das torcidas. Tentamos fazer pelo menos de dois em dois meses”, comple ta. Em outro caso recen te, um grupo de amigos influenciadores digitais, dentre eles o Virjão, pro moveram um jogo benefi cente em Belo Horizonte, em prol de famílias caren tes. Para milhares como Rafael, seu avô ou Virjão, o futebol é o fio que ainda os mantêm presos às suas comunidades. vê a festa no estádio, mas não sabe o que ocorre por trás, pra tudo aquilo acon tecer. E é muito gratifican te falar que eu faço parte dessa festa.” Em 2016, essa foi a decisão do Rafa el. Ele entrou para a Fúria Alvinegra, torcida organi zada do Atlético Mineiro. Ele relata que, antes da decisão, carregava consi go uma dose de precon ceito em relação às orga nizadas, tão comumente associadas à violência. Foi na sua primeira cara vana com a torcida que a imagem desses grupos provou ser injusta. “Assim que eu entrei no ônibus, vi as pessoas jogando tru co, fazendo churrasco e tomando cerveja”, conta com entusiasmo. lica, criado pelo sociólogo Pierre Bourdieu, joga luz à outras manifestações violentas. Ele aborda um tipo de violência “invisí vel”, que se apoia no re conhecimento de uma im posição determinada, seja esta econômica, social, cultural, etc. Seus efeitos causam danos morais e psicológicos e legitimam a cultura dominante.
Arthur MelissaMatheusdradaJoãoGabrielCamaranoHenriquePedroAnGarciaCarvalho
FOTO: ARQUIVO PESSOAL -RAFAEL BOLÍVAR
FUTEBOL: A METÁFORA DA VIDA
FOTO: ARQUIVO PESSOAL - RAFAEL
Junho de 2022 Jornal Impressão14
Rodrigo e o alerta que se acende “TORCIDA FÚRIA ALVINEGRA EM CLÁSSICO CONTRA O CRUZEIRO, NO DIA 2 DE ABRIL, NO MINEIRÃO”
Junho de 2022 Jornal Impressão15 Lógica de mercado “PANFLETO ENTREGUE NO MINEIRÃO EM CAMPANHA DO INSTITUTO GALO A FAVOR DAS MULHERES, NO DIA 6 DE MARÇO, NO CLÁSSICO ATLÉTICO X CRUZEIRO”
ta o panorama atual dos clubes e federações de futebol.Sobre isso, o jor nalista esportivo e repór ter da TV Globo, Rodrigo Franco, esclarece: “são várias questões, mas um ponto de partida é o pró prio desenvolvimento do mercado do futebol, no qual jogadores são mais valorizados e passam a receber salários maiores, logo, os clubes passam a ter custos maiores para manter ou contratar esses jogadores”. Ou seja, no fu tebol moderno, o cálculo é feito para autogerir o processo de valorização de jogadores e marcas. É mero detalhe se esse cál culo afasta as camadas populares do espetáculo. Além disso, gran des eventos, como a Copa do Mundo, deixaram como legado arenas e estádios padronizados e com capacidade reduzida. Para a realização de tais eventos, foi necessária a retirada de espaços desti nados ao chamado povão. A antiga “geral” do Minei rão, por exemplo, hoje, deu lugar ao setor infe rior do estádio, de visão privilegiada e preços mais caros. Ao mencionar que “ir ao estádio hoje já não é aquele mero lazer, como ir tomar um sorvete”, Ro drigo indica o processo de transformação do jogo em produto de entretenimen to e dos torcedores em meros consumidores.
Outro tipo de vio lência simbólica passa pela questão de classe, e tem como vítima o pró prio torcedor. Estamos falando do encarecimento dos ingressos, que promo ve a elitização do esporte e exclui uma grande par cela de pessoas. Uma sé rie de fatores constituem esse fenômeno e fazem o futebol deixar de servir ao torcedor apaixonado e objetivar unicamente o lucro, algo tão inerente ao capitalismo. Em geral, este se torna um processo inevitável, tendo em vis E a violência de gênero não se limita aos casos de assédio. Ela faz parte de uma natureza ex cludente mais ampla, em que a própria organização do evento desconsidera as torcedoras. Vitória nos conta que, em um jogo recente no Mineirão, de vido ao recorde de públi co, o banheiro feminino foi arbitrariamente trans formado em masculino. “Colocaram dois banhei ros químicos para mulher, sem pia e sem papel, sem nada”. Felizmente, há ca minhos para alterar esse cenário. Vitória aponta também que ações, como a criação de times intei ramente compostos por mulheres, a exemplo do Galo Feminino, são mui to bem-vindas e podem servir como um propulsor para mudanças de menta lidade da população. Ela afirma que o ambiente nesses jogos diverge mui to dos tradicionais, sendo um espaço mais plural e receptivo para todas as tribos sociais.
FOTO INTERNA DO ESTÁDIO MINEIRÃO, EM JOGO ENTRE ATLÉTICO X INTERNACIONAL, VÁLIDO PELA PRIMEIRA RODADA DO CAMPEONATO BRASILEIRO DE 2022, EM 10 DE ABRIL”
todo mundo. Além da fro ta, a cidade tem uma to pografia complicada, com muitas montanhas e vales, para criar um sistema viá rio mais abrangente e ágil. Por esse motivo, a cidade precisa ter como priorida de o serviço de transporte coletivo por ônibus”, ob serva oMassindicato.o entrave maior para os problemas do serviço é econômico. “O sistema de transpor te possui diversos custos, em que se inclui a manu tenção (pneus, mecânica, entre outros). A receita do sistema é proveniente
licitações e reclamações referentes ao transporte coletivo municipal no por tal de serviços da Prefei tura de Belo Horizonte ou no PBH APP”, lembra, em nota, a Segundoinstituição.o Setra, atualmente existe uma fro ta de 2.400 ônibus dispo níveis, dos quais cerca de 96% operam, enquanto o restante permanece como reserva no caso de quebra ou acidente de um carro em operação. “Belo Ho rizonte tem hoje a maior frota de veículos do Brasil em relação a sua popula ção. Não há espaço para ram como subsídio R$ 207 milhões para solução dos problemas enfrenta dos atualmente.Emcontrapartida, o poder público estabe leceu também algumas condições, como aumen to no número de viagens diárias e a retomada da prestação do serviço de transporte em horário no turno aos níveis da média da programação realiza da no último trimestre pré-pandemia.
Junho de 2022 Jornal Impressão16 ANOS DEPOIS, OS MESMOS PROBLEMAS
Crise no transporte público de BH rem onta longo histórico de impasses
Carolina Cunha Lucas Wilker Em um cenário ideal, muita coisa seria diferente. A exaustão não seria intensificada a cada quarteirão percorri do, a correria ficaria em segundo plano, somente em caso de real necessi dade; os preços seriam menores, mesmo porque a oferta parece estar lon ge do ideal; e o tempo de espera? De acordo com a demanda, que de uns tempos para cá se mostra cada vezEssemaior.desenho, qua se utópico, quem faz são moradores de Belo Hori zonte ao descreverem a experiência com o trans porte público da cidade. Mesmo com rotinas dife rentes, histórias únicas e lares distantes um do ou tro, o diagnóstico é o mes mo: o município precisa de melhorias na mobilida de urbana. Amanda Mota (23), moradora do bair ro Monte Azul; Rodrigo Sarmento (66), do bairro Grajaú; Daniel Andrade (23), do bairro Jardim Fi ladélfia; e Renata Souza (43), do bairro Mantiquei ra, todos usam linhas de ônibus distintas, mas par tilham um igual sentimen to de indignação.Essas reivindi cações, porém, não são novas. No ano de 2005, o Jornal Impressão pu blicou uma reportagem que já relatava inúmeras reclamações da popula ção em relação à situação do transporte em BH. Os desafios que os usuários enfrentavam, à época, se assemelham muito aos vi vidos hoje: falta de manu tenção de veículos, bancos quebrados, desconforto durante a viagem, veícu los comEmsuperlotação.2022,no en tanto, outros fatores as sombram as entidades responsáveis pelo funcio namento do ecossistema: o aumento do diesel e o fato de que o transporte coletivo ainda não recupe rou totalmente a deman da que transportava em 2019, antes da pandemia, e isso em grande parte das cidades brasileiras. É o que ressalta Luís Castilho, doutorando em geografia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com pesquisa sobre mobi lidade urbana. “É um reflexo da neces sidade de melhoria do serviço. Alguns avanços ocorreram de 2005 pra cá, como a implantação do MOVE, mas é essen cial, para melhoria do sistema, a implantação de políticas de modicidade tarifária, que representa a inserção de dinheiro público para reduzir as ta rifas pagas pelos usuários, combinada com a melho ria do serviço e com o fortalecimento da gestão e fiscalização pública. As cidades referências no mundo todo possuem po líticas de subsídio tarifá rio”, realça o especialista.
NA ESTAÇÃO VILARINHO, REGIÃO NORTE DE BH, PASSAGEIROS AGUARDAM, EM LONGAS FILAS, A LINHA 65, QUE LEVA O PÚBLICO AO CENTRO DA CIDADE. BHTrans x Setra x PBH A organização do transporte em Belo Hori zonte é feita de maneira coletiva. A Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) é o poder concedente, que as sinou um contrato de con cessão com os consórcios operadores. A BHTrans figura como autarquia responsável pelas ques tões operacionais e de fiscalização e o Sindicato das Empresas de Trans porte de Passageiros (SE TRA), por sua vez, atua como ente patronal, ao representar os consórcios e as empresas operadoras. “A interlocução e comunicação entre os en tes é algo que deve ocor rer com fluidez, celerida de e objetividade, visando aprimorar a prestação do serviço”, reforça Luís Cas tilho. A BHTrans pondera que é dever das conces sionárias cumprir o qua dro de horários determi nados para as linhas. Do contrário, o órgão tem o dever de notificar as em presas ao constatar irregu laridades na operação do transporte coletivo. “Por isso é importante que os usuários registrem as so da tarifa que o usuário paga. Portanto, é uma re lação econômica como to das as empresas: receitas e custos. Se os custos do sistema não são atendidos pelas receitas, há a viabili dade do reajuste da tarifa, que usa índices econômi cos”, afirma a BHTrans. Com uma crise cada vez mais acentuada no cenário belo-horizonti no, a PBH e a Câmara de Vereadores se reuniram com o Setra, em maio des te ano, para definir os ru mos do transporte público na cidade. Como propos ta, as entidades oferece
EldoradoCidadeIndustrialVilaOesteGameleiraCalafateCarlosPratesLagoinhaCentral
SantaTerezaHorto
SantaInêsJoséCândidodaSilveiraMinasShoppingSãoGabrielPrimeirodeMaioWaldomiroLoboFloramarVilarinho
FONTE DA PESQUISA: SINDICATO DAS EMPRESAS DE TRANSPORTE DE PASSAGEIROS (SETRA)