Cinema do IMS Paulista, julho de 2023

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cinema jul.2023
Canção ao longe, de Clarissa Campolina (Brasil | 2022, 76’, DCP)

destaques de julho 2023

Arquivo audiovisual feminista situado em Paris, o Centro Audiovisual Simone de Beauvoir foi fundado em 1982 pelas militantes e realizadoras Delphine Seyrig, Carole Roussopoulos e Ioana Wieder. O foco era trabalhar na preservação e difusão do extenso material produzido pelos coletivos audiovisuais feministas desde o final da década de 1960 e atuar como produtora e distribuidora de filmes. Na maior retrospectiva do Centro já realizada no Brasil, o Cinema do IMS apresenta um apanhado histórico e contemporâneo dessa produção. Figura essencial do movimento de vanguarda americano, Yvonne Rainer acumula uma carreira de mais de cinco décadas na dança e no cinema com um trabalho artístico que enfatiza o minimalismo e experimentalismo, desafiando as formas convencionais para explorar temas políticos e sociais subversivos. Seu primeiro longa-metragem, A vida dos performers, será exibido em cópia restaurada na Sessão Cinética. Na programação em homenagem aos 90 anos de Eduardo Coutinho, três diferentes momentos da carreira do diretor em que os temas de religião, espiritualidade e crenças populares, todos muito caros ao cineasta, estiveram na centralidade de seus filmes. Como desdobramento da exposição Evandro Teixeira. Chile 1973, em cartaz no IMS Paulista, serão exibidos dois dos filmes seminais que documentaram e denunciaram esse período de brutal ruptura democrática na América Latina.

[imagem da capa]

A FHAR – Frente Homossexual de Ação

Revolucionária (Le FHAR – Front homosexuel d’action révolutionnaire), de Carole

Roussopoulos (França | 1971, 26', arquivo digital)

Santo

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Setembro chileno (Septembre chilien), de Bruno Muel, Théo Robichet e Valérie Mayoux (França, Espanha, Portugal | 1973, 39’, DCP) forte, de Eduardo Coutinho (Brasil | 1999, 90’, 35 mm) Delphine e Carole, insubmusas (Delphine et Carole, insoumuses), de Callisto McNulty (França, Suíça | 2018, 70’, DCP)

filmes em exibição

Filmes em cartaz

Sessão Cinética

Mato seco em chamas

Joana Pimenta e Adirley Queirós | DCP

Uýra − A retomada da floresta

Juliana Curi | DCP

Bem-vindos de novo

Marcos Yoshi | DCP

Medusa Deluxe

Thomas Hardiman | DCP

Canção ao longe

Clarissa Campolina | DCP

A praga

Pedro Junqueira, Matheus Sundfeld, Luis

Claudio Bonacura, Cédric Fanti e José

Mojica Marins | DCP

Luz nos trópicos

Paula Gaitán | DCP

Fogo-fátuo

João Pedro Rodrigues | DCP

Fantasma neon

Leonardo Martinelli | DCP

A vida dos performers (Lives of Performers)

Yvonne Rainer | DCP Seguido de debate com os críticos da revista

Sessão Mutual Films

Excepcionalmente, no mês de julho, não haverá exibição. Com curadoria e produção de Mariana Shellard e Aaron Cutler, a programação retorna em setembro.

Coutinho 90

Santo forte

Eduardo Coutinho | DCP

Filmes da exposição

Superstição

Eduardo Coutinho | Arquivo digital

Os romeiros do Padre Cícero

Eduardo Coutinho | Arquivo digital

curadoria Sergio Burgi

Setembro chileno (Septembre Chilien)

Bruno Muel, Théo Robichet e Valérie Mayoux | DCP

Brasil: relato sobre tortura

(Brazil: A Report on Torture)

Saul Landau e Haskell Wexler | Arquivo digital

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Arquivos,

vídeos e feminismos: o acervo do Centro Audiovisual Simone de Beauvoir

curadoria Barbara Rangel

A conferência sobre a mulher – Nairóbi 85

(La Conférence des femmes - Nairobi 85)

Françoise Dasques | Arquivo digital

Os racistas não são nossos camaradas, nem os estupradores (Les Racistes ne sont pas nos potes, les violeurs non plus) Anne Faisandier, Ioana Wieder e Claire Atherton | Arquivo digital

Maso e Miso vão de barco

(Maso et Miso vont en bateau)

Carole Roussopoulos, Ioana Wieder, Delphine Seyrig e Nadja Ringart | DCP

Seja bela e cale a boca!

(Sois belle et tais-toi!)

Delphine Seyrig | Arquivo digital

Flo Kennedy, retrato de uma feminista

americana (Flo Kennedy, portrait d’une féministe américaine)

Carole Roussopoulos e Ioana Wieder | Arquivo digital

A morte não quis saber de mim: retrato de Lotte Eisner (La Mort n’a pas voulu de moi: portrait de Lotte Eisner)

Carole Roussopoulos, Carène Varène, Michel Celemski | Arquivo digital

A FHAR – Frente Homossexual de Ação Revolucionária (Le FHAR – Front homosexuel d’action révolutionnaire)

Carole Roussopoulos | Arquivo digital

SCUM Manifesto (S.C.U.M. Manifesto)

Carole Roussopoulos e Delphine Seyrig | DCP

Delphine e Carole, insubmusas (Delphine et Carole, insoumuses)

Callisto McNulty

Carole Roussopoulos, uma mulher por trás das câmeras (Carole Roussopoulos, une femme à la caméra)

Emmanuelle de Riedmatten | DCP

Transformações… em Mondoubleau

(Ça bouge… à Mondoubleau)

Carole Roussopoulos e Catherine

Valabrègue | Arquivo digital

Os homens invisíveis

(Les Hommes invisibles)

Carole Roussopoulos | Arquivo digital

Profissão: ostreicultora

(Profession: conchylicultrice)

Carole Roussopoulos e Claude Vauclaire | Arquivo digital

As trabalhadoras do mar (Les Travailleuses de la mer)

Carole Roussopoulos | Arquivo digital

É só não trepar! (Y’à qu’à pas baiser!)

Carole Roussopoulos | DCP

Com a palavra, as prostitutas de Lyon

(Les Prostituées de Lyon parlent)

Carole Roussopoulos | Arquivo digital

Où est-ce qu’on se mai?

Lona Wieder, Delphine Seyrig | DCP

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16:00 Uýra – A retomada da floresta (70')

18:00 Medusa Deluxe (101')

20:00 Bem-vindos de novo (105')

16:00 Medusa Deluxe (101')

18:00 Bem-vindos de novo (105')

15:00 Uýra - A retomada da floresta (70')

16:30 A praga (70')

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16:00 Bem-vindos de novo (105')

18:00 A praga (70')

20:00 Canção ao longe (76') 18

16:00 Canção ao longe (76')

18:00 A praga (70')

20:00 Superstição + Os romeiros do Padre Cícero (80')

20:00 Uýra – A retomada da floresta (70') 12

16:00 Bem-vindos de novo (105')

18:00 A praga (70')

20:00 Canção ao longe (76')

18:00 Canção ao longe (76')

20:00 Setembro chileno (40')

seguido de conversa com Vladimir Safatle e Sergio Burgi

16:00 Bem-vindos de novo (105')

18:00 Canção ao longe (76')

20:00 Santo forte (80')

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16:00 Bem-vindos de novo (105')

18:00 A praga (70')

20:00 Canção ao longe (76') 26

16:00 Canção ao longe (76')

17:30 Fogo-fátuo + Fantasma neon (87')

19:30 A vida dos performers (90'), seguido de debate com os críticos da revista Cinética

16:00 Canção ao longe (76')

17:30 Luz nos trópicos (260')

16:00 Fogo-fátuo + Fantasma neon (87')

17:45 Canção ao longe (76')

19:30 A conferência sobre a mulher – Nairobi 85 + Os racistas não são nossos camaradas, nem os estupradores (83'), seguido de conversa com Barbara Rangel, Glênis

Cardoso e Rosane Borges

Programa sujeito a alterações. Eventuais mudanças serão informadas em ims.com.br.

16:00 Fogo-fátuo + Fantasma neon (87')

18:00 Où est-ce qu’on se mai? (55')

19:30 Maso e Miso vão de barco (55')

sessões apresentadas por Barbara Rangel

4 quarta quinta terça 4
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14:00 Bem-vindos de novo (105')

16:30 A praga (70')

18:00 Canção ao longe (76')

20:00 Brasil: relato sobre tortura (60') sessão apresentada por Jom Tob Azulay

22:00 A praga (70')

14

14:00 Uýra - A retomada da floresta (70')

16:00 Bem-vindos de novo (105')

18:00 A praga (70')

20:00 Canção ao longe (76')

22:00 A praga (70') 21

15:30 Canção ao longe (76')

17:00 Fogo-fátuo + Fantasma neon (87')

19:00 Luz nos trópicos (260')

15:00 Uýra – A retomada da floresta (70')

17:00 Medusa Deluxe (101')

19:00 Bem-vindos de novo (105')

21:00 Mato seco em chamas (153')

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14:00 Bem-vindos de novo (105')

16:30 A praga (70')

18:00 Uýra – A retomada da floresta (70')

20:00 Canção ao longe (76')

22:00 A praga (70')

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14:00 Uýra – A retomada da floresta (70')

16:00 Medusa Deluxe (101')

18:00 Bem-vindos de novo (105')

20:00 Medusa Deluxe (101')

9 15:00 Mato seco em chamas (153')

18:00 Canção ao longe (76')

20:00 A praga (70')

14:00 Luz nos trópicos (260')

18:45 Flo Kennedy, retrato de uma feminista

americana + A morte não quis saber de mim: retrato de Lotte Eisner (85'), sessão apresentada por Barbara Rangel

20:30 Delphine e Carole, insubmusas (68')

22:00 A praga (70')

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15:00 Mato seco em chamas (153')

18:00 Superstição + Os romeiros do Padre Cícero (80')

20:00 Canção ao longe (76')

22:00 A praga (70')

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15:00 Canção ao longe (76')

17:00 Santo forte (80')

19:00 Luz nos trópicos (260') 29

15:00 Carole Roussopoulos, uma mulher por trás das câmeras (76')

16:30 Transformações… em Mondoubleau + Os homens invisíveis (51')

18:00 Profissão: ostreicultora + As trabalhadoras do mar (60')

sessões de 16h30 e 18h apresentadas por Barbara Rangel

19:30 Seja bela e cale a boca! (115')

22:00 Fogo-fátuo + Fantasma neon (87')

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15:00 Mato seco em chamas (153')

18:00 Canção ao longe (76')

20:00 A praga (70')

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15:00 Luz nos trópicos (260')

20:00 A vida dos performers (90')

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18:00 A FHAR – Frente Homossexual de Ação Revolucionária + SCUM Manifesto (53')

19:30 É só não trepar! + Com a palavra, as prostitutas de Lyon (63')

5 sexta sábado
domingo
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Arquivos, vídeos e feminismos: o acervo do Centro Audiovisual Simone de Beauvoir

Nenhuma imagem da TELEVISÃO pode nos representar, é com o vídeo que nós contaremos nossas histórias. Presente nos créditos de fim de Maso e Miso vão de barco, realizado por Delphine Seyrig, Carole Roussopoulos, Ioana Wieder e Nadja Ringart em 1976, a frase exprime um desejo central dos coletivos feministas de vídeo na França ao longo dos anos 1970: a completa independência para registrar a própria história. A partir desse gesto emancipatório, que coincide com a emergência dos equipamentos de gravação de imagem e som portáteis em vídeo no final dos anos 1960, surgem alguns coletivos de realização, cujo objetivo era registrar os diversos movimentos sociais que marcaram o período, não apenas na França, mas em outros países. Essa mostra tem por objetivo exibir algumas dessas lutas, com um enfoque particular em vídeos sobre temáticas feministas, a partir do acervo do Centro Audiovisual Simone de Beauvoir em Paris (CaSdB). Arquivo audiovisual feminista situado em Paris, o CaSdB foi fundado em 1982 por três militantes e realizadoras: Delphine Seyrig, Carole Roussopoulos e Ioana Wieder. Em um contexto político favorável após a eleição de François Mitterrand à presidência do país e conscientes da fragilidade dos suportes em

vídeo e da importância de preservar o que haviam registrado na década anterior, elas resolveram lançar as bases de um arquivo, que atuaria também como produtora e distribuidora de filmes, além de organizar projeções periódicas. Fechado por razões financeiras em 1992, o CaSdB retomou suas atividades no início dos anos 2000, e, às suas missões já existentes, se juntaram a realização de ateliês e formações para sensibilização a estereótipos de gênero (o projeto Genrimages) e a organização de projeções seguidas de debate em casas de detenção, que também privilegiam filmes com personagens femininas proeminentes e homens que não correspondem a modelos binários. No final dos anos 1960, Roussopoulos foi uma das primeiras pessoas na França a adquirir um equipamento de vídeo portátil. Nos anos 1970, Delphine Seyrig, atriz conhecida por filmes como O ano passado em Marienbad e Muriel (ambos dirigidos por Alain Resnais), passa a se afastar paulatinamente desse papel de objeto do olhar masculino, escolhendo trabalhar com realizadoras como Chantal Akerman (Jeanne Dielman) ou Liliane de Kermadec (Aloïse).

A partir dessa década, ela se vale de sua notoriedade para publicizar debates, como a legalização do aborto ou a libertação de presas políticas, como quando realizou em

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1975 o filme Inês , a partir da história de Inês Etienne Romeu, militante de esquerda presa e torturada durante a ditadura militar brasileira. Ou ainda para registrar os depoimentos de atrizes americanas e francesas sobre experiências sexistas no ambiente de trabalho, em Seja bela e cale a boca!, que será apresentado em versão restaurada. Essas trajetórias se cruzaram quando, em 1974, Delphine Seyrig e Ioana Wieder tocaram à porta de Carole Roussopoulos, que ministrava ateliês de realização em vídeo, para se formarem na prática. Em pouco tempo, nasce o coletivo Les Insoumuses (um jogo de palavras em francês entre insubmissas e musas), no qual elas dissecam as mais variadas formas de misoginia televisionada, como no filme Maso e Miso andam de barco Serão também exibidos alguns filmes-chave do fundo histórico dos anos 1970, produzidos pelo coletivo Video Out, formado por Carole Roussopoulos e seu parceiro intelectual e companheiro Paul Roussopoulos, que mostram o interesse de ambos pelos mais diversos movimentos sociais que lhe são contemporâneos: o combate dos Panteras Negras (Genet parle d’Angela Davis) ou a emergência do movimento gay e lésbico na França (A FHAR – Frente Homossexual de Ação Revolucionária). E outros raros filmes

de Carole já produzidos nos anos 1980 e 90, que prolongam seu gesto de escuta atenta e receptiva aos diversos tipos de vivências, como Profissão: ostreicultora e As trabalhadoras do mar, ou ainda um sensível retrato de um hospital que acolhe e cuida de pessoas em situação de rua (Os homens invisíveis).

Nos filmes propostos, o registro de testemunhos e vivências é consciente de sua importância para a transmissão da luta e da história feministas. Seja através de práticas de contrainformação bem-humoradas ou de

vídeos institucionais, são obras que atuam como ponto de partida para o aprofundamento dos debates aos quais se propõem, não como um fim em si mesmas. A exibição dessas, que nada mais é do que uma continuidade da preservação dessas memórias, permite descobertas das intersecções com o tempo presente, sem perder de vista seu contexto histórico. Conservar, no entendimento do Centro Audiovisual Simone de Beauvoir, é um verbo vivo e emancipatório por excelência.

Gostaria de agradecer à programadora Andrea Cals, por ter organizado a mostra Século XXI: mulheres, ação, que trouxe em 2018 a arquivista e ativista feminista e LGBT Nicole Fernández Ferrer (então diretora do Centro Audiovisual Simone de Beauvoir e atualmente sua copresidente) e alguns dos filmes aqui propostos ao Brasil, incluindo uma passagem dessa programação pelo IMS Paulista. Para muitas, inclusive para mim, foi um primeiro encontro com essas obras e com as práticas desse arquivo, descoberta que foi fundamental para a realização desta mostra em 2023.

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(um melodrama)

A vida dos performers (1972), Yvonne Rainer

Em julho, a Sessão Cinética apresenta o primeiro longa-metragem de Yvonne Rainer, uma das figuras mais importantes da história da dança do século XX, que decidiu, no auge de sua carreira como coreógrafa, migrar para o campo do cinema, se tornando cineasta. A obra de Rainer ocupa um lugar verdadeiramente singular na história do cinema de vanguarda americano, marcado pelo exercício de uma forma de escrita autobiográfica, desenvolvida no curso da politização da vida privada levada a cabo pelo movimento feminista.

A trajetória de Rainer tem como ponto central a criação do Judson Dance Theater, coletivo de dançarinos e coreógrafos que teria um papel fundamental no desenvolvimento da dança pós-moderna. As proposições coreográficas de Rainer se desdobravam a partir de problemas partilhados por artistas de sua geração de diferentes campos, nos quais reconhecemos uma certa sensibilidade minimalista: a procura por um modo de composição capaz de recusar a forma dramática, centrado em modos de ordenação modulares e contínuos, e a ênfase dada à presença literal do corpo posto em cena, em oposição à sua codificação expressiva. As preocupações de Rainer são facilmente reconhecíveis em um conjunto de filmes realizados no período, que

costumamos chamar, por comodidade, de cinema estrutural. Os filmes de artistas como Michael Snow, Ernie Gehr, Hollis Frampton, Paul Sharits e Joyce Wieland realizados nos anos 1960 e 1970 também estavam à procura de uma forma capaz de recusar a composição dramática e expressiva, obtida por modulações contínuas e repetições modulares de seus materiais.

A incursão de Yvonne Rainer no cinema poderia ter sido apenas um desenvolvimento de suas preocupações iniciais na dança para um novo território. O cinema estrutural se encontrava, por ocasião de seu primeiro longa-metragem, consagrado pela crítica. Os primeiros filmes de Rainer, realizados para serem projetados durante seus espetáculos de dança, mostravam, sem dúvida, suas afinidades com a sensibilidade cinematográfica do momento: os seus primeiros experimentos são uma série de exercícios para e com a câmera, encarnados por gestos performáticos simples e literais e parâmetros cênicos definidos e declarados. O primeiro filme para cinema de Rainer é marcado, contudo, por um desejo de reintrodução da narrativa na tradição da vanguarda americana, que o cinema estrutural havia posto deliberadamente de lado. A vida dos performers é, como anuncia entre parêntesis a cartela inicial com o título do

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filme, um melodrama. A migração de Rainer para o campo do cinema foi motivada, diz a artista, pelo desejo de lidar com a “vida emocional”, de uma forma que não acreditava ser possível realizar na dança, campo do qual se manteria afastada por cerca de três décadas, período em que realizou os seus sete longas-metragens. O cinema de Rainer trata, contudo, a “vida emocional” menos como uma realidade interior a ser expressa do que um material a ser constantemente elaborado , por métodos de construção cênica e narrativa experimentais que desdobram sua orientação inicial minimalista.

A vida dos performers é composto de cerca de uma dúzia de segmentos, em que vemos um grupo de dançarinos conduzindo suas vidas sexuais e amorosas em meio a ensaios de dança. Os personagens possuem os mesmos nomes dos seus atores, que são performers colaboradores de Rainer. Ela própria pode ser vista e ouvida durante o filme. A vida dos performers pretende encenar uma certa coletividade, cujos gestos, coreografados ou não, são documentados atentamente pela fotografia sóbria e delicada do filme, assinada por Babette Mangolte. O melodrama se centra na história de duas mulheres, Shirley (Shirley Soffer) e Valda (Valda Setterfield), e de um homem que não consegue se decidir

entre elas, Fernando (Fernando Torm). Falar em centro aqui é, contudo, um pouco inadequado. O filme é, na verdade, uma colagem de segmentos heterogêneos e dispersos, que possuem individualmente sua própria lógica cênica. O retorno da narratividade não significa aqui o retorno da transparência fílmica. O melodrama de Rainer faz vista grossa para a maior parte das convenções que fundam a ficção cinematográfica como um mundo selado do espectador: a distinção entre ator e personagem; a sincronização entre som e imagem; a separação entre cenografia e set de filmagem; a construção naturalista e expressiva do trabalho de ator; a manutenção de um registro estilístico coerente entre o todo e as partes. A ficção melodramática se desenvolve precariamente sobre um material diverso, que aponta para muitas direções: documentação dos ensaios; encenação de performances; paródias de filmes da história do cinema; cartelas de intertítulos; falas improvisadas e roteirizadas; gargalhadas captadas no set; fragmentos reais e ficcionais de livros, memórias, sonho e carta.

O melodrama é o gênero em que historicamente a vida sentimental da classe média, com seus conflitos amorosos e familiares privados, é posta em cena. Os sentimentos banais da vida da classe média, que não

exibem a nobreza própria da tragédia nem a seriedade do drama, encontram no melodrama uma grandeza ostensivamente declarada, que aprendemos a classificar como teatral e excessiva. O melodrama é também o gênero cinematográfico em que tradicionalmente o sofrimento feminino é, ao mesmo tempo, elaborado e naturalizado. “O clichê”, diz uma cartela no começo do filme, é “a mais pura arte da inteligibilidade; ele nos tenta com a possibilidade de encerrar a vida dentro de fórmulas belamente inalteráveis”.

A vida dos performers adota uma postura ambivalente sobre os clichês do gênero. O melodrama é tomado como um conjunto de fórmulas sexistas a serem expostas e desarticuladas por meio de uma apropriação irônica; ao mesmo tempo, o melodramático é um modo privilegiado no qual a vida sentimental pode ganhar voz e legitimidade. O filme nutre um profundo interesse pela vida dos sentimentos, deseja deixá-los falar, fazê-los aparecer em suas próprias complicações e confusões internas, apostando que o ato de pôr em palavras o que se sente é parte do processo de subjetivação política. A representação da vida sentimental em Yvonne Rainer é sempre pessoal e íntima, sem ser, contudo, privada. A história de conflitos amorosos que o filme narra se desenvolve em um mundo social com suas

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normas de gênero e seus códigos emocionais definidos, no qual os personagens estão sempre em disputa sobre como o outro o vê e como desejam ser vistos. “Eu não sei como eu vim parar nessa categoria, mas estou presa em sua bela caixinha, rotulada de emocional, infantil, carente, chata, indisciplinada, inintelectual”, confessa uma das duas mulheres para a outra, em uma carta. “Você

aparentemente está em uma caixinha igualmente falsa, rotulada de madura, controlada, justa, disciplinada”, diz para ela. A “filha/mãe” e a “amiga/irmã”, completa, resumindo as figuras femininas a que são submetidas pelo olhar do homem com que ambas se relacionam. Os melodramas sempre souberam que as relações amorosas representam em nosso mundo a possibilidade de construir

uma vida verdadeiramente livre e, ao mesmo tempo, são um terreno em que não conseguimos deixar de acumular frustrações, que não cansamos de nos descobrir alienados em formas reificadas de relação, na qual não nos reconhecemos mais. A vida dos performers é um retrato delicado das angústias das relações heterossexuais no processo tortuoso de sua elaboração na linguagem.

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A praga

Pedro Junqueira, Matheus Sundfeld, Luis Claudio Bonacura, Cédric Fanti e José Mojica Marins | Brasil | 2021, 70’, DCP (Elo Studios)

A praga é o último filme inédito dirigido pelo mestre do horror José Mojica Marins, também conhecido como Zé do Caixão. No filme, o casal Marina e Juvenal passeia pelo campo e para em frente à casa de uma estranha idosa para tirar fotos. Irritada, a mulher se revela uma bruxa e joga uma maldição em Juvenal: uma perseguição psíquica horrorizante, provocando uma ferida que se abre em seu corpo de forma descontrolada. O ferimento leva Juvenal a uma fome insaciável por carne crua.

Inicialmente, A praga foi concebido como um episódio do programa Além, muito além do além, escrito por Rubens Francisco Lucchetti e exibido pela TV Bandeirantes entre 1967 e 1968. Essa primeira versão da história se perdeu em um incêndio na emissora e, em 1980, Mojica decidiu refilmá-la, mas não conseguiu concluir o trabalho. Após mais de 15 anos empenhado na recuperação das obras

de Mojica, Eugênio Puppo encontrou os rolos de filme originais do projeto, que eram considerados perdidos. Sabendo da grande afeição do mestre pela obra, o produtor trabalhou na correção de cores, remasterização sonora, trilha musical e até na inclusão de dublagem, já que as gravações das vozes originais não foram encontradas. A história desse processo de restauro em 4k foi registrada no curta-metragem documental A última praga de Mojica, que antecede a exibição do filme.

“Todo o cuidado que tivemos com a recuperação do filme foi importante para não deixar que ele se perdesse através da história”, conta Puppo em depoimento disponível no material de imprensa do filme. “Fizemos de tudo para manter a autenticidade, oferecer ao público algo muito próximo do que tínhamos encontrado, com a veracidade de um autêntico filme de Mojica. Quando me contava sobre os vários trabalhos que não conseguiu concluir, ele sempre fazia referências a A praga. Agora, finalmente, o filme terá um lançamento à altura de sua importância.”

Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia).

Bem-vindos de novo

Marcos Yoshi | Brasil | 2021, 105’, DCP (Embaúba Filmes)

Pais e filhos se reencontram depois de 13 anos separados. Esse é o ponto de partida de Bem-vindos de novo. O documentário acompanha o processo de reconstrução afetiva de uma família de descendentes de japoneses, afetada pelo fluxo de imigrações entre Japão e Brasil conhecido como fenômeno dekassegui. O longa de estreia de Marcos Yoshi, diretor e personagem, retrata a trajetória de imigrações de sua própria família, evidenciando o conflito entre o desejo de garantir o sustento da família e a impossibilidade de permanecerem juntos. Essa é uma dentre milhares de outras histórias de separação familiar causadas pela imigração, e lança luz sobre a presença japonesa no Brasil, lar da maior comunidade nipo-descendente do mundo.

Em entrevista ao portal Câmara Escura, o diretor Marcos Yoshi comenta: “O [cineasta] Adirley Queirós fala muito sobre essa ideia de produzir

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Em cartaz

arquivos. Então, pensando no filme, é como se houvesse duas camadas: os VHS, que o filme utiliza, e o próprio filme como arquivo, documento de seu próprio tempo, de uma localidade específica. A respeito dos VHS, é muito doido pensarmos que, provavelmente, era a primeira vez que os imigrantes que foram para o Japão, na década de 1990, tiveram acesso a essa tecnologia. Eles se deslocaram para o país que produziu essas câmeras. Então, tem uma própria reflexividade econômica e material desses arquivos feitos no Japão. [...] Já sobre o processo de construção de arquivo que é o próprio filme… O arquivamento desse momento da família partiu de um certo sentimento de que tudo o que minha família experienciou, aconteceu de forma semelhante em outras. Parecia tão doido não contar, não materializar aquilo. As pessoas que relatam sobre esses momentos parecem compartilhar uma espécie de dor. Tudo isso tem uma dimensão do absurdo. Acho que isso acontece muito dentro da imigração.”

[Íntegra da entrevista em: bit.ly/bemvyoshi]

Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia).

Canção ao longe

Clarissa Campolina | Brasil | 2022, 76’, DCP (Vitrine Filmes)

Vinda de uma família tradicional de Belo Horizonte, Jimena é uma jovem arquiteta, responsável pelo desenho técnico da nova sede da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais. Seu pai deixou o Brasil quando ela tinha só 4 anos, e, após um longo afastamento, eles voltam a se comunicar através de cartas. Filha de uma mãe branca e um pai negro, Jimena busca sua identidade enquanto lida com a inadequação de morar com uma família branca e se identificar com um homem negro que não vê há tempos.

Em entrevista ao blog Colab, da Faculdade de Comunicação e Artes da PUC Minas, a diretora Clarissa Campolina reflete: “Eu acho que todos os meus trabalhos têm uma transformação, algo em transformação, em movimento, às vezes mais ligados a esse cinema diário, cinema ensaísta e, às vezes, ligado ao cinema da paisagem, mas cada um com características particulares. De alguma

forma, os filmes buscam sempre um lugar para se estar e um jeito de se transformar.”

“Lá no Girimunho [2011, codirigido com Helvécio Marins Jr.], a Bastú começa em luto, e é o acompanhar da transformação dela, dessa passagem. No Canção, é a busca de uma jovem mulher que procura o lugar dela no mundo. Começou motivado pela questão da família, o que é a família. Eu estava grávida na época em que comecei a escrever, e fiquei me questionando: eu sou hétero, tenho meu companheiro, a gente está junto até hoje, já estávamos juntos há um tempo, e eu engravidei. Aí eu falei: ‘Cara, eu estou nesse modelo porque é um modelo ou por que eu quero?’. Na época, estava tendo aquelas enquetes no Senado sobre o que é família, é composto por um homem e uma mulher? Pode ser composto por duas mulheres? Tinham várias perguntas, e eu tinha certeza que família não é só isso que eu estava construindo, existiam outras possibilidades. Eu tenho uma amiga que os pais são separados, e ela se relaciona com o pai por cartas, ele mora em um país da América Latina, e eles não tinham se visto desde quando ele deixou o Brasil, quando ela tinha 7 anos. Aí, a partir desse desejo que eu tinha da história dessa minha amiga, eu comecei a desenvolver um argumento e um desejo de olhar um pouco para essas estruturas. Eu acho que o filme fala um pouco de raça, de classe, de gênero, a partir de um drama familiar.”

[Íntegra da entrevista em: bit.ly/cançãoao]

Ingressos: R$ 15 (inteira) e R$ 7,50 (meia).

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Fantasma neon

Leonardo Martinelli | Brasil | 2021, 20’, DCP (Vitrine Filmes)

Um entregador de aplicativo sonha em ter uma moto. Disseram a ele que tudo seria como um filme musical.

Fantasma neon, primeiro dos filmes do diretor que conseguiu ser viabilizado a partir da captação de recursos públicos, via Lei Aldir Blanc, estreou em 2021 na competição oficial do Festival Internacional de Cinema de Locarno, na Suíça, no qual recebeu o Leopardo de Ouro de Melhor

Curta-Metragem. De lá para cá, o filme reuniu exibições e prêmios ao redor do mundo. Em entrevistas concedidas respectivamente aos portais

Le Polyester e Le Monde Diplomatique, Leonardo declara: “Estou convencido de que é possível fazer um filme que trate de problemas realistas, políticos do mundo contemporâneo, mas com uma encenação estilizada. Com essa ideia em mente, eu e nosso diretor de fotografia, Felipe Quintelas, pensamos em como aproximar as ruas antigas do Rio

de Janeiro desses personagens que pertencem ao mundo moderno. Cada construção arquitetônica da cidade nos mostra uma justaposição de realidades.”

“O filme traz essa hibridez de um documentário, com um viés dramático e de fantasia, mas, ao mesmo tempo, também tem alguns elementos documentais, como os depoimentos no início, que são reais. Usamos o musical como uma plataforma de contraste narrativo, mas também espacial. Como contrastar o cinema mais fantasioso possível, o menos diegético, que é a fantasia musical, com as realidades mais duras de extinção de direitos trabalhistas que o Brasil enfrenta hoje? O curta-metragem Fantasma neon será exibido junto ao filme Fogo-fátuo, de João Pedro Rodrigues.

[Citações extraídas de bit.ly/fantasneon e //bit. ly/fantasmaneon , respectivamente em francês e português.]

Fogo-fátuo

João Pedro Rodrigues | Portugal, França | 2022, 67’, DCP (Vitrine Filmes)

2069, ano talvez erótico – logo veremos –, mas fatídico para um rei sem coroa. No seu leito de morte, uma canção antiga o faz rememorar árvores, um pinhal ardido e o tempo em que o desejo de ser bombeiro para libertar Portugal do flagelo dos incêndios foi também o despontar de outro desejo.

Neste filme, que se apresenta como uma fantasia musical, João Pedro Rodrigues tensiona, a partir de seu ponto de vista, visões de raça, classe e sexualidade, ao fabular o encontro amoroso entre Alfredo, um homem branco, um “príncipe” que não quer ser príncipe, e Afonso, aparentemente o único homem negro entre os bombeiros da corporação. Uma tensão que se coloca já em uma das primeiras imagens, na qual descendentes brancos da família real estão em primeiro plano e têm ao fundo uma pintura do fim do século XVIII realizada no seio do racismo colonial por-

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tuguês pelo pintor oficial do império. João Pedro Rodrigues fala sobre o quadro em algumas de suas entrevistas recentes:

“A pintura é do século XVIII e se chama O casamento da preta Rosa, de José Conrado Roza”, disse ao portal Film Comment. “Retrata uma cerimônia de casamento que uma das nossas rainhas fez para anões. Preta Rosa era a confidente da rainha. A pintura é uma representação relativamente diversa: tem um homem brasileiro, um indígena – todos anões. O quadro está agora no Musée du Nouveau Monde, em La Rochelle, na França, e é chamado de Mascarada nupcial. Acho que fala muito dos tempos que estamos vivendo. Não se pode chamar um quadro de O casamento da preta Rosa hoje, porque é considerado racista – e é claro que é, mas também era esse o título que o quadro tinha. O filme é sobre esse tipo de sutilezas – o que você pode dizer e o que não pode dizer.”

Ao mencionar o quadro em um debate após o filme no Cinema Nimas, em Lisboa, o diretor declara também: “É muito curioso que, na pintura, cada personagem tenha pintada, nas roupas, a sua história, o nome, quando veio, quando chegou à corte, quem o trouxe… Para mim, é como se toda a nossa história passada estivesse ali representada. No fundo, tratou-se de usar aquela obra como uma espécie de pano de fundo, como uma pintura que atravessa épocas. No filme, ela está na casa da família desde o início, e percebe-se que é uma espécie de herança de família que eventualmente será vendida no final.”

Fogo-fátuo foi exibido na Quinzena dos Realizadores, no Festival de Cannes, em 2022. Nos cinemas está sendo exibido junto ao curta

Fantasma neon, de Leonardo Martinelli.

[Citações de João Pedro Rodrigues extraídas do portal Film Comment, em inglês: www. filmcomment.com/blog/interview-joao-pedrorodrigues-on-will-o-the-wisp/ e À pala de Walsh, em português: bit.ly/fogofatuope]

Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia).

Luz nos trópicos

Paula Gaitán | Brasil | 2020, 260’, DCP (Descoloniza Filmes)

Em Luz nos trópicos, a cineasta e multiartista

Paula Gaitán tece uma densa estrutura de histórias e linhas do tempo, enredados por cosmogonias indígenas, cadernos de viagem e literatura antropológica. O filme é um tributo à abundante vegetação das Américas e às populações nativas do continente. Um rivermovie, filme de navegação, livre como um rio sinuoso.

“O filme foi se transformando ao longo de 15 anos, porque a primeira versão do roteiro foi de 2003 e o nome também é de 2003”, conta a cineasta em entrevista a Camila Macedo para o festival Olhar de Cinema. “Na realidade, quando eu comecei a fazer o filme ele estava muito mais ligado à própria ideia da fotografia, da história da fotografia. Muito inspirado pela história do Hercule Florence, que fez a descoberta isolada da fotografia no Brasil. Era uma ideia mais de pesquisa da própria imagem, que é um projeto que percorre todo

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o meu cinema. [...] Quando eu consegui materializar imagens e sons com essa equipe maravilhosa, eu já tinha colocado algumas das ideias do Luz em outros projetos. Então o roteiro também teve que ir se modificando. O roteiro também sofreu o processo da Paula amadurecendo como realizadora, do mundo se transformando. Não foi um roteiro que se congelou no tempo. Então meus interesses também foram se abrindo e também o Brasil foi… Não dá mais pra ter uma visão muito de observação. O Brasil também foi se transformando. Não é um cinema que pode se manter ligado apenas à questão da própria imagética. [...] Por isso que eu digo que é um filme que tá ainda em processo. É uma obra expandida. Tanto que outro dia eu sentei aqui pra começar a editar uma quarta parte. Eu não contei isso pro Vitor [Graize, produtor] pra ele não ficar nervoso. Eu senti essa necessidade vital. Não é gratuito.”

“É um filme brutal também. É um filme político, muito político. Ele não é exatamente político explícito, mas ao colocar na tela uma mulher Kuikuro, uma mulher indígena, a Kanu, uma das nossas protagonistas, fazendo um beiju na sua duração, é trazer de volta a importância dos gestos. Os primeiros gestos, aquilo que já foi esquecido. O tempo de produzir o alimento. No fundo, é um filme materialista dialético. Ele tem uma base não só no contemplativo, não é uma questão estética, é o tempo mesmo tanto da personagem da Kanu quanto da personagem da Maíra [Senise], que é a escultora. É o tempo do fazer as coisas, o tempo do objeto, da realização da própria vida.”

Luz nos trópicos teve sua première mundial na mostra Forum do Festival de Berlim em 2020. No Brasil, no mesmo ano, recebeu o prêmio de Melhor

Filme no 9º Olhar de Cinema. O elenco conta ainda com a participação dos artistas Paulo Nazareth e Arrigo Barnabé.

[Íntegra da entrevista ao Olhar de Cinema: bit.ly/ Luztró]

Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia).

Mato seco em chamas

Joana Pimenta e Adirley Queirós | Brasil, Portugal | 2022, 153’, DCP (Vitrine Filmes)

Léa conta a história das Gasolineiras de Kebradas, tal como ecoa pelas paredes da Colmeia, a prisão feminina de Brasília, Distrito Federal, Brasil.

A dupla Joana Pimenta e Adirley Queirós já havia trabalhado junta em Era uma vez Brasília (2017), ela como fotógrafa e ele como diretor. Neste novo filme, constroem, junto a talentoso elenco e reduzida equipe, um conto em torno de um grupo de mulheres que encontra petróleo e começa a produzir a própria gasolina num terreno em Sol Nascente, em Ceilândia. A partir de então, elas marcam seus nomes nos jogos de poder e na história da região.

Sobre a seleção do elenco, Joana Pimenta comenta em entrevista à crítica e pesquisadora

Lorenna Rocha: “Quando escolhemos as pessoas com quem vamos trabalhar, nós escolhemos porque temos uma grande curiosidade, um grande interesse em saber mais sobre elas. Talvez mais

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do que elas estarem ou não próximas do papel ou arquétipo que construímos, sabe? Porque filmamos sem roteiro, né? Então, escolhemos pessoas com quem nós queremos viver durante 18 meses. Com quem achamos que vamos estar muito interessados naquilo que elas têm para dizer. Então, essa curiosidade, a performance dessa curiosidade, do encontro da câmera e do corpo da atriz, torna-se essencial. Muitas vezes nós não sabemos o que elas vão falar, nem para onde vão se mexer. Nosso trabalho de direção e de direção de fotografia é quase fazer performance ao vivo. [...] Por isso acho também que quando a gente faz o trabalho de seleção das atrizes, pode até demorar muito, mas é imediato. Procuramos a personagem de Chitara durante seis meses. Mas, quando conversamos com a Chitara, foi tudo muito imediato. A sensação era que nós queríamos saber tudo sobre ela.”

“Não queríamos fazer um filme com a premissa do empoderamento”, declara Adirley em outro momento da mesma entrevista. “Nos primeiros roteiros, a personagem Chitara chamava-se Pantera. Essa coisa ‘clássica’ de querer empoderar. Mas, depois… Chitara vem de onde? Dos Thundercats, pô! A Chitara [interpretada por Joana D’Arc Furtado], quando era pequena, na roda de capoeira, era chamada de Chitara. Essa coincidência, muito espiritual, apareceu. Chitara e Léa propõem esse jogo da roda também, sabe? Porque, apesar de serem irmãs, elas se reencontraram no filme. Mato seco em chamas produz um elemento que é criar um mundo em que elas possam existir, que as lendas delas, que não são de derrota, possam existir.”

“O povo periférico quando tem 40, 50 anos, tem muito isso de esconder suas histórias, porque elas são sempre associadas a maloqueiros, puta, a tudo que é visto como pejorativo, não o contrário. O filme propõe que essas histórias que vão ser contadas por elas não sejam histórias de derrotadas. São lendas. Vocês [Léa, Andréia e Chitara] são lendas do cinema brasileiro, do cinema mundial. [...] O empoderamento aqui é no sentido de dizer: ‘Essa história é minha, sou dona dessa história, eu sei a lenda que existia nos anos 1980. Eu sei como vivi a cadeia. E a cadeia, apesar de ser pesada, a gente só sobrevive nela contando e recontando nossas aventuras, entendeu?’.”

[Íntegra da entrevista em: bit.ly/jamatoseco]

Ingressos: R$ 15 (inteira) e R$ 7,50 (meia).

Medusa Deluxe

Medusa Deluxe

Thomas Hardiman | Reino Unido | 2022, 101’, DCP (O2 Play)

Extravagância e excesso colidem quando um mistério de assassinato acontece numa competição de cabeleireiros. A morte de um dos seus incita a divisão dentro de uma comunidade cuja paixão por cabelos beira a obsessão.

“Os nomes e as trajetórias das personagens me vêm muito antes de tudo”, reflete Hardiman. “O mito da Medusa é interessante – obviamente Medusa representa cabelo –, e acerca dele historicamente há uma violência, e isso está no filme: é um mistério de assassinato sobre cabelos. Esse é o filme que me propus a fazer. [...] Eu também pensei que havia uma conexão em termos de questionar como esse mito surgiu, é um mito machista clássico – não existe essa viúva-bruxa com as cobras no lugar de cabelos –, e é sobre como desvendar esse mito, tal qual desvendar os meandros de um mistério. Eu queria colocá-lo

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em um mundo cuja centralidade estivesse na mulher, e esse era exatamente o mundo que eu queria escrever, meu desejo seria ir a um salão de cabeleireiro chamado Medusa Deluxe. Essa ideia canaliza o filme na medida certa, mas tem algo um pouco efêmero.”

“Tem uma referência a Robert Altman”, complementa o produtor Mike Elliot, “com a sensibilidade moderna de algo como Tangerina (Tangerine, 2015). É uma grande presunção pegar uma ideia de filme de gênero e ir além do gênero e torná-lo subserviente ao que o filme realmente trata. É um ótimo argumento um mistério de assassinato ambientado em uma competição regional de cabeleireiros. Como não amar?!”

[Depoimentos de Thomas Hardiman extraídos do material de imprensa do filme]

Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia).

Uýra − A retomada da floresta

Juliana Curi | Brasil, EUA | 2022, 70’, DCP (Olhar Distribuição)

Uýra, uma artista trans indígena, viaja pela Amazônia em uma jornada de autodescoberta, usando a arte performática para ensinar aos jovens indígenas que eles são os guardiões das mensagens ancestrais da Floresta Amazônica. Em um país que mata o maior número de jovens trans, indígenas e ambientalistas em todo o mundo, Uýra lidera um movimento crescente por meio das artes e da educação, ao mesmo tempo que promove a união e inspira os movimentos LGBTQIAP+ e ambientalistas no coração da Floresta Amazônica. As performances de Uýra se inspiram no ciclo ecológico que espelha as lutas sociais: a destruição do solo e a violência contra a vida, seguidas pelo ressurgimento de plantas jovens que germinam rapidamente e abrem caminho para um ecossistema renovado e mais forte.

“O diálogo, sincero e com respeito, é um caminho de cura para os mundos. Ou melhor, é a ponte para se construir outros mundos”, comenta Uýra em entrevista a Juliana Gusman. “O filme é um convite ao diálogo: apresenta as violências, forças e lutas em Brasil, para que o Brasil e os mundos conheçam de verdade as Amazônias. Eu poderia não querer diálogos, como já não quis. Há séculos os brancos adentram em nossos territórios e vidas, sem querer diálogo algum: só roubando, matando, nos escravizando ou apagando. Insisto no diálogo, quando também me autorizo a gravar o filme, e peço licença à minha gente pra isso, não para uma possível pacificação destes mundos. Eles continuarão em guerras. Precisamos de diálogos, com gentes dos mundões, para garantir a proteção das florestas e ecologias onde habitamos, a da Amazônia. Precisamos de diálogo para nos contar da forma correta, para além dos estereótipos racistas que existem sobre nós, pessoas indígenas e LGBTQI+. É por meio dos diálogos que também acessamos estes espaços de valor econômico e simbólico, de onde historicamente somos excluídos. São nesses diálogos que provocamos curas antigas e profundamente presentes no agora, onde redemarcamos nossos saberes, culturas e valores. Carregamos infinitas vozes, muitas que nem são de gente.”

[Íntegra da entrevista em: bit.ly/uyra]

Ingressos: terça, quarta e quinta: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia); sexta, sábado, domingo e feriados: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia).

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Sessão Cinética

A vida dos performers

Lives of Performers

Yvonne Rainer | EUA | 1972, 90’, restauração em DCP 4K (Zeitgeist Films)

A cartela inicial do primeiro longa-metragem da coreógrafa, bailarina e cineasta americana apresenta A vida dos performers como “(um melodrama)”. O filme, que conta com intérpretes do grupo de dança Grand Union, criado com a contribuição de Rainer, se debruça sobre o dilema de um homem que não consegue escolher entre duas mulheres e faz com que ambas sofram.

Em sua autobiografia, Feelings Are Facts (2006), publicada pela MIT Press, Rainer declara: “Os meus filmes podem ser descritos como ficções autobiográficas, confissões não verdadeiras, narrativas minadas, documentários minados, dissertações não acadêmicas, entretenimentos dialógicos. Embora o meu tema possa variar de filme para filme, também posso generalizar quanto à intenção e ao objetivo: representar a realidade social em todo o seu desenvolvimento desigual e

caber nos setores de ativismo, articulação e comportamento; criar arranjos cinematográficos que possam acomodar tanto a ambiguidade como a contradição, sem eliminar a possibilidade de tomar posições políticas específicas; registar a cumplicidade, o protesto, a aquiescência com e contra as forças sociais dominantes – por vezes num único plano ou cena –, de uma forma que não transmita uma mensagem de desespero; criar justaposições incongruentes de modos de abordagem e convenções que regem a coerência pictórica e narrativa, de modo a que o espectador tenha de extrair significado do filme em vez de se perder na experiência vicária ou em condensações autoritárias de o que é o quê.”

Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia).

Em 11 de maio deste ano, o cineasta Eduardo Coutinho, nome fundamental no cinema de não ficção no mundo, completaria 90 anos. Por onde passou, Coutinho tensionou os limites da representação e do assim chamado “documentário”. Em homenagem a sua trajetória, o Cinema do IMS exibirá uma seleção de obras do cineasta ao longo do ano. Neste mês de julho, nos debruçamos sobre um tema que perpassa toda a filmografia de Coutinho: religião, espiritualidade e crenças populares. Se todos os seus filmes têm algo a contribuir nessa conversa, selecionamos, aqui, três momentos bastante distintos de sua carreira em que esses temas são abordados frontalmente: Superstição é um dos episódios que Coutinho dirigiu para o programa de televisão Globo Repórter, anos antes de lançar seu grande sucesso Cabra marcado para morrer. Os romeiros do Padre Cícero é uma produção encomendada pelo canal de TV alemão ZDF e rejeitado por Coutinho, como um filme que não deu tão certo. Exibido em cópia 35 mm, Santo forte foi considerado pelo próprio cineasta como um ponto de virada em sua carreira, marco do momento em que assume em definitivo a proposta de que um filme, mais do que um tema, tem histórias. Histórias e as pessoas que as contam.

Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia).

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Coutinho 90

Superstição

Eduardo Coutinho | Brasil | 1976, 43’, Arquivo digital (Globo)

Em junho de 1976, Eduardo Coutinho e o repórter cinematográfico Mario Ferreira viajaram para o sertão nordestino para gravar o documentário Superstição O filme revelava os costumes, as lendas e as crenças do dos sertanejos. “A gente mostrava a superstição do povo, como é que essas pessoas viviam na seca, na miséria. Eles botavam uma planta chamada comigo-ninguém-pode na porta para se proteger. Então, a gente tinha uma forma de driblar a censura e falar de certos temas que o público brasileiro não estava acostumado a ver na televisão brasileira. Esse filme Superstição foi um deles”, conta Mario Ferreira.

Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia).

Os romeiros do Padre Cícero

Eduardo Coutinho | Brasil | 1994, 34’, Arquivo digital (CECIP)

Em 24 de março de 1994, comemoraram-se os 150 anos de nascimento do Padre Cícero Romão Batista, o patriarca de Juazeiro do Norte, no Ceará. O documentário acompanha um caminhão de romeiros em sua peregrinação de Fernandes, no município de Arapiraca, em Alagoas, até Juazeiro – uma viagem de 700 km, percorridos em 16 horas. Depoimentos de ex-romeiros e seus descendentes estabelecidos em Juazeiro, hoje um centro comercial de 180 mil habitantes, traçam o perfil histórico e lendário do Padre Cícero, um santo popular que morreu suspenso de suas ordens pela Igreja em 1934, e que representou, para a população empobrecida do Nordeste, o papel de advogado e conselheiro.

Em uma longa entrevista concedida a José Carlos Avellar e publicada no número 22 da revista Cinemais, em 2000, Coutinho comenta brevemente sua relação com o resultado do filme: “Já

fiz um troço sobre o Padre Cícero, acompanhei os romeiros… Não gosto do resultado. O filme que eu queria fazer era um filme antes e um depois, mas… chega em Alagoas, encontra quem pode, pego um grupo, tem uma senhora interessante, pego o grupo tomando o caminhão, sigo a viagem de Arapiraca a Juazeiro, filmo eles rezando… Não tem conversa, três, cinco pessoas rezando… Não funciona, porque elas rezam para a câmera ou a contracâmera. A câmera, aí, incomoda. É diferente a imagem quando você está conversando com uma pessoa: ela, claramente, está falando para você e para a câmera, você não engana ninguém. Não tem câmera escondida, não tem teleobjetiva… É fantástica a franqueza disso.”

Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia).

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Santo forte

Eduardo Coutinho | Brasil | 1999, 90’, 35 mm (CECIP)

Em 5 de outubro de 1997, durante a visita do papa João Paulo II, uma equipe de cinema visita a favela Vila Parque da Cidade, situada na Gávea, na Zona Sul do Rio de Janeiro. Os moradores assistem à missa celebrada pelo pontífice no aterro do Flamengo. Em dezembro, a equipe volta à favela para descobrir como seus moradores vivem a experiência religiosa. Católicos, umbandistas ou evangélicos, todos eles têm em comum a crença numa comunicação direta com o mundo espiritual através da intervenção, em seu cotidiano, de santos, orixás, guias ou do Espírito Santo.

Em uma entrevista a Valéria Macedo, originalmente publicada na revista Sexta Feira, em abril de 1998, Coutinho descreve o plano para o seu próximo filme. Mais tarde, Santo forte seria conhecido pelo diretor como um marco na sua carreira, um momento definidor do tipo de documentário pelos quais ficaria conhecido. Na entrevista de 1998,

Coutinho diz: “Para mim o que interessa é fazer filme de conversação. Minha vontade agora é fazer um filme que tenha uma hora e meia de duração, 100 horas filmadas em vídeo, sobre religião no Brasil. Vou pegar uma favela de 2.000 pessoas. Tem uma antropóloga que está fazendo uma pesquisa sobre esse tema numa favela do Rio. O que há no Brasil é uma luta de santos de que ninguém conhece a dimensão, pelo menos no cinema. Em cada momento da vida, está presente o mágico, cada ato tem significado. São histórias extraordinárias. Não me interessa filmar os rituais afros, os caras matando animais, só a fala me interessa, a narração das experiências. Falar de religião, você acaba entrelaçando histórias de família, sexo etc. E você descobre a coerência daquelas pessoas, elas não são loucas. E pessoas de religiões diferentes, você vai ver, são pai, filha. Só me interessa trabalhar no micro e ir até o fim. Se não, pode ficar uma coisa um pouco estéril e superficial:

‘O mosaico do Brasil’. E gosto de trabalhar no singular, não procurar o caso típico. Eu sou apaixonado por esse caráter obsessivo da fala, dos santos, e queria que fosse um filme tão obsessivo quanto é o pensamento deles."

Filmes da exposição

Poucos dias após o golpe militar de 11 de setembro de 1973 no Chile, Evandro Teixeira (Irajuba-BA, 1935) viajou para Santiago enviado pelo Jornal do Brasil Suas fotografias revelam uma cidade sitiada, ocupada pelas forças militares. O marco fundamental talvez tenha sido o registro que realizou logo após o falecimento do grande poeta chileno Pablo Neruda, perpassando pela clínica, pelo velório em sua residência depredada e pelo enterro, que teve grande participação popular, documentando a primeira grande manifestação contra o regime do general Augusto Pinochet. Esse plano-sequência construído do enterro de Neruda, associado às demais imagens que produziu na cidade, juntamente com o registro visual do regime militar no Brasil (1964 e 1968), compõem a estrutura central da exposição em cartaz no IMS Paulista, evidenciando a importância do fotojornalismo para a liberdade de expressão e testemunho da realidade. Esta dupla de filmes proposta pelo curador da exposição Sergio Burgi visa a desdobrar em sala de cinema as imagens e discussões propostas na galeria.

Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia).

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Brasil: relato sobre tortura, com os depoimentos dos banidos. Os diretores Haskell Wexler e Saul Landau registraram, logo depois da chegada do grupo ao Chile, a história das vítimas da ditadura militar no Brasil. Considerado persona non grata pelo governo da ditadura militar, o cineasta Haskell Wexler foi reabilitado em ato realizado no Consulado-Geral do Brasil em Nova York, em 7 de maio de 2014, no qual o governo brasileiro manifestou seu “reconhecimento por sua contribuição extremamente relevante para a luta pela justiça, a verdade e a memória no Brasil”.

Setembro chileno

Septembre chilien

Bruno Muel, Théo Robichet e Valérie Mayoux | França, Espanha, Portugal | 1973, 39’, DCP (Iskra)

Um relato quente dos dias que se seguiram ao golpe de Estado do general Pinochet. Em Santiago, o medo se lê no rosto das pessoas. Mesmo assim, os militantes da Unidade Popular ousam falar, esboçar explicações, contar ao mundo sua determinação. O funeral de Pablo Neruda dá origem à primeira manifestação contra o regime.

Brasil: relato sobre tortura

Brazil: A Report on Torture

Haskell Wexler e Saul Landau | EUA | 1971, 60’, Arquivo digital (Cinemateca Brasileira)

O ano é 1970. O Brasil vive o ápice de uma ditadura militar que durou 20 anos: perseguições, prisões, mortes, sequestros. Esse é o panorama em que se inscreve uma história de jovens que sonhavam mudar o mundo e entraram numa guerra. Em 7 de dezembro daquele ano, um grupo armado, ligado à Vanguarda Popular Revolucionária, sequestrou o embaixador suíço no Brasil. Começava o mais longo sequestro político da história do país. Giovanni Enrico Bucher ficou 40 dias no cativeiro. Os sequestradores queriam a liberdade de 70 presos políticos. Conseguiram. Os 70 saíram da prisão e foram expulsos do Brasil por decreto presidencial. Na noite de 13 para 14 de janeiro de 1971, foram embarcados num avião para o Chile. Dois dias depois, o embaixador foi libertado. Em Santiago, uma equipe de documentaristas americanos realizou o filme

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Arquivos, vídeos e feminismos: o acervo do Centro Audiovisual

Impulsionados pela emergência de equipamentos portáteis para captação de som e imagens no final da década de 1960, coletivos feministas franceses adotaram a produção de filmes e materiais audiovisuais como ferramenta de mobilização, difusão e aprofundamento de pautas. Fundado em 1982 pelas cineastas e militantes

Delphine Seyrig, Carole Roussopoulos e Ioana

Wieder, o Centro Audiovisual Simone de Beauvoir (CaSdB) é um arquivo audiovisual que reúne e preserva parte expressiva da produção realizada nesse contexto de ebulição social.

Nessa, que é a maior retrospectiva desse acervo já realizada no Brasil, serão apresentadas obras que buscaram registrar e intervir na realidade não apenas da França, mas de outros países, com uma seleção de filmes históricos e contemporâneos preservados no Centro. São imagens que apresentam conferências feministas, manifestos, greves e movimentos de trabalhadoras, reivindicações por diversidade sexual, retratos de personalidades, como Simone de Beauvoir, Angela Davis e Flo Kennedy, além de abordar temas densos e ainda urgentes, como guerra, democracia, estereótipos televisivos, aborto, abuso, prostituição.

Com curadoria de Barbara Rangel, ex-programadora do Cinema do IMS e atual diretora-geral do Centro, a mostra tem início em julho e agosto, com uma grande seleção de filmes, e segue até o fim de 2023, exibindo programas mensais.

Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia).

Les Racistes ne sont pas nos potes, les violeurs non plus Anne Faisandier, Ioana Wieder e Claire Atherton | França | 1986, 23’, Arquivo digital (CaSdB)

Após uma série de estupros cometidos em plena luz do dia em 1985, organiza-se uma manifestação em setembro. Os panfletos acusam “a corja criminosa dos imigrantes”. Imigrantes e muçulmanos são acusados. Oito feministas – Claire Atherton (montagem), Claire Auzias, Marie-Jo Dhavernas, Catherine Deudon, Anne Faisandier (imagem), Liliane Kandel, Nadja Ringart e Ioana Wieder – querem dar seu depoimento e lutar contra o sexismo, o estupro e o racismo, seja qual for sua origem e quaisquer que sejam seus perpetradores. Elas decidem fazer um documentário. Encontram Souad Benani e Malika Bennabi, ativistas do grupo Les Nanas Beurs, e depois Fatima e Rosa, ativistas do SOS Racisme. Encontram ainda três ativistas antirracistas, Harlem Désir, Adil Jazouli e Sami Naïr, para discutir o assunto.

A conferência sobre a mulher –Nairóbi 85

La Conférence des femmes – Nairobi 85 Françoise Dasques | França | 1985, 60’, Arquivo digital (CaSdB)

Depois do México, em 1975, e de Copenhague, em 1980, as Nações Unidas escolhem o continente africano para sediar a terceira Conferência Mundial sobre a Mulher. Em paralelo à Conferência Oficial dos Estados, ocorre o Fórum das Organizações Não Governamentais (ONGs), do qual participam 14.000 mulheres. Ao longo de dez dias, no campus da universidade, elas se reúnem para debater questões de política geral e feminista, como paz, desenvolvimento, apartheid, islã, lesbianismo, violências e mutilações sexuais e o conflito entre Israel e Palestina.

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Os racistas não são nossos camaradas, nem os estupradores

Où est-ce qu’on se mai?

Où est-ce qu’on se mai?

Iona Wieder, Delphine Seyrig | França | 1976, 55’, DCP (CaSdB)

Este documentário é dedicado às manifestações de Primeiro de Maio de 1976. Sequências que mostram o cortejo feminista se alternam às entrevistas com mulheres, que falam principalmente dos embates com a CGT (Confederação Geral do Trabalho). Além disso, Delphine Seyrig lê um artigo do jornal L’Humanité e uma carta da CGT.

O título do filme faz um trocadilho com duas palavras que, em francês, têm a mesma sonoridade: “mai”, que designa o mês de maio, e “met”, do verbo “mettre”, que pode ser traduzido como colocar, pôr, inserir. Uma tradução possível seria “Qual é o nosso lugar?” ou “Onde é que a gente se enfia?”.

Maso e Miso vão de barco

Maso et Miso vont en bateau

Carole Roussopoulos, Ioana Wieder, Delphine Seyrig e Nadja Ringart | França | 1976, 55’, restauração em DCP (CaSdB)

No dia 30 de dezembro de 1975, após assistirem, no canal Antenne 2, ao programa misógino de Bernard Pivot intitulado Mais um dia e o ano da mulher... Ufa! Acabou, que tinha como convidada Françoise Giroud, quatro feministas subvertem o programa por meio de intervenções humorísticas e irreverentes, chegando à conclusão de que “a Secretaria de Estado da Condição da Mulher é uma mistificação”. A secretaria em questão foi coordenada por Giraud entre 1974 e 76, durante o governo de Jacques Chirac.

Maso e Miso vão de barco foi restaurado pelo ZKM Karlsruhe, em parceria com o Centre Pompidou.

Flo Kennedy, retrato de uma feminista americana

Flo Kennedy, portrait d’une féministe américaine

Carole Roussopoulos e Ioana Wieder | França | 1982, 59’, Arquivo digital (CaSdB)

Margo Jefferson, professora de jornalismo em Nova York, e Ti-Grace Atkinson, escritora e teórica feminista, conversam com Flo Kennedy, advogada americana negra, sobre racismo, direito das minorias e sobre a ERA, Equal Rights Amendment (emenda constitucional para garantir os direitos das mulheres).

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A morte não quis saber de mim: retrato de Lotte Eisner

La Mort n’a pas voulu de moi: portrait de Lotte Eisner

Carole Roussopoulos, Carine Varène, Michel Celemski | França | 1983, 26’, Arquivo digital (CaSdB)

Crítica de cinema na Alemanha do entreguerras, Lotte Eisner se refugia na França após a chegada de Hitler ao poder e funda a Cinemateca Francesa junto com Henri Langlois e Georges Franju. O filme revela o regozijo profissional de uma mulher com olhar sensível e político. Em uma entrevista filmada alguns meses antes de sua morte, Lotte Eisner faz referência a Louise Brooks, Fritz Lang, Murnau, bem como ao jovem cinema alemão, de Herzog e Fassbinder.

Delphine e Carole, insubmusas

Delphine et Carole, insoumuses

Callisto McNulty | França, Suíça | 2018, 70’, DCP (Les Films de La Butte)

Como uma viagem ao âmago do “feminismo encantado” dos anos 1970, o filme narra o encontro entre a atriz Delphine Seyrig e a cineasta Carole Roussopoulos. Por trás de suas batalhas radicais, conduzidas com a câmera na mão, surge um tom impregnado de humor, insolência e intransigência.

Um documentário de Callisto McNulty, neta de Roussopoulos.

Carole Roussopoulos, uma mulher por trás das câmeras

Carole Roussopoulos, une femme à la caméra Emmanuelle de Riedmatten | Suíça | 2011, 76’, DCP (CaSdB)

O filme aborda a trajetória de vida de Carole de Kalbermatten, natural do cantão de Valais, na Suíça, que aos 21 anos chega a Paris, onde conhece Paul Roussopoulos.

O tema central é seu trabalho como pioneira na utilização de câmeras portáteis, e, como temas periféricos, surgem o casal, o amor como fonte de energia permanente, uma incessante cumplicidade criativa, a política, a descoberta dos primeiros equipamentos de vídeo, Jean Genet, a Palestina, a militância, a causa das mulheres e dos mais desamparados.

Alternam-se material de arquivo, depoimentos de pessoas próximas, trechos de seus filmes, testemunhos das lutas sociais e da emancipação das minorias.

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Transformações… em Mondoubleau

Ça bouge… à Mondoubleau

Carole Roussopoulos e Catherine Valabrègue | França | 1982, 17’, Arquivo digital (CaSdB)

A partir do trabalho de reflexão conduzido pelos alunos de ensino médio de uma escola em Mondoubleau sobre os papéis femininos e masculinos e sobre igualdade de gênero, acontece um debate entre os alunos e o professor. Eles abordam os estereótipos nos manuais escolares de aprendizagem de leitura, a divisão de tarefas no ambiente familiar, a escolha profissional (pouco tempo antes, havia duas listas de profissões: rosa para as meninas, azul para os meninos), a importância da educação sexual e a diferença de atitude dos pais em relação a meninos e meninas. A música “Résiste”, de France Gall, dá o ritmo da montagem.

Os homens invisíveis

Les Hommes invisibles

Carole Roussopoulos | França | 1993, 34’, Arquivo digital (CaSdB)

Sem-tetos, pessoas em situação de rua... Inúmeras pessoas vivem sem residência fixa, à margem dos dispositivos de acolhimento e de cuidados. O Centre d’Hébergement et d’Accueil pour les Sans Abri [Centro de Abrigo e Acolhimento para as Pessoas em Situação de Rua] do hospital de Nanterre é o primeiro centro, no serviço público, em meio hospitalar, a propor um serviço de acolhimento e cuidados para os mais desamparados.

Profissão: ostreicultora

Profession: conchylicultrice

Carole Roussopoulos e Claude Vauclaire | França | 1984, 34’, Arquivo digital (CaSdB)

Através do retrato de seis mulheres que cultivam ostras na bacia de Marennes-Oléron (Charente-Maritime), o filme aborda suas condições de vida e de trabalho, as dificuldades da profissão, a divisão de tarefas entre homens e mulheres e o status profissional das ostreicultoras. Um grupo de mulheres da bacia ostreícola se reuniu para criar uma associação profissional.

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As trabalhadoras do mar

Les Travailleuses de la mer

Carole Roussopoulos | França | 1985, 26’, Arquivo digital (CaSdB)

O documentário apresenta as condições de vida e de trabalho de duas categorias de mulheres que são funcionárias do porto de pesca de Lorient, na Bretanha. Quase 800 mulheres trabalham no porto, sob condições que praticamente não mudaram ao longo de 50 anos. Trabalham no frio, em meio à umidade, ao gelo, de pé e carregando cargas pesadas. À noite, são as que fazem a triagem dos peixes, de dia, as que os preparam para serem comercializados.

Seja bela e cale a boca!

Sois belle et tais-toi!

Delphine Seyrig | França | 1976, 115’, restauração em arquivo digital (CaSdB)

Delphine Seyrig entrevista 23 atrizes de várias nacionalidades sobre suas experiências profissionais enquanto mulheres, seus papéis dramáticos e relacionamentos com diretores e equipes técnicas. Um relatório coletivo bastante negativo em 1976 sobre uma profissão que permitia apenas personagens estereotipadas e alienadas. Entre as entrevistadas, estão Jane Fonda, Shirley MacLaine, Marie Dubois, Maria Schneider, Juliet Berto, Patti D’Arbanville, Anne Wiazemsky e Ellen Burstyn.

Restauração feita no Laboratório de Restauro Digital do Serviço Audiovisual da Biblioteca Nacional da França.

A FHAR – Frente Homossexual de Ação Revolucionária

Le FHAR – Front homosexuel d’action révolutionnaire

Carole Roussopoulos | França | 1971, 26’, Arquivo digital (CaSdB)

Documento sobre a primeira manifestação de rua gay e lésbica da França, em Paris. A manifestação da FHAR (Frente Homossexual de Ação Revolucionária) ocorre no âmbito da tradicional manifestação sindical de Primeiro de Maio e denuncia o racismo sexual.

Pela primeira vez se inserem nessa manifestação homens e mulheres que desfilam com alegria e orgulho, sem serviço de segurança, segurando simples bandeiras de tecido branco com a sigla FHAR. As vozes clamam: “Os gays estão na rua”.

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SCUM Manifesto

S.C.U.M. Manifesto

Carole Roussopoulos e Delphine Seyrig | França | 1976, 27’, restauração em DCP (CaSdB)

Uma leitura encenada de trechos do SCUM Manifesto, de Valerie Solanas, editado em 1967 e rapidamente esgotado em francês. Delphine Seyrig traduz algumas passagens para Carole Roussopoulos, que as digita na máquina de escrever. Ao fundo, uma televisão transmite imagens ao vivo do telejornal, no qual ouvimos, em certos momentos, notícias apocalípticas.

Assim como o livro, o filme é um panfleto contra a sociedade dominada pela imagem “masculina” e pela ação “viril”.

Restauração feita no Laboratório de Restauro

Digital do Serviço Audiovisual da Biblioteca Nacional da França.

É só não trepar!

Y’à qu’à pas baiser!

Carole Roussopoulos | França | 1971, 17’, DCP (CaSdB)

Produzido no início da década de 1970, quando o aborto ainda era ilegal na França, este vídeo militante documenta o debate sobre a questão, desde a propaganda antiaborto nos meios de comunicação até a primeira grande manifestação a favor do aborto e dos direitos reprodutivos em Paris, em 20 de novembro de 1971. As imagens mostram feministas realizando um aborto a partir do método Karman.

É só não trepar!, na altura um instrumento de luta e de transmissão de uma prática, é hoje um documento histórico essencial.

Com a palavra, as prostitutas de Lyon

Les Prostituées de Lyon parlent

Carole Roussopoulos | França | 1975, 46’, Arquivo digital (CaSdB)

Em junho de 1975, as prostitutas de Lyon ocupam a igreja de Saint-Nizier. Elas falam de sua história pessoal, de suas relações com a sociedade, das condições de trabalho e de suas reivindicações.

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Grey Gardens

Albert Maysles, David Maysles, Ellen Hovde, Muffie Meyer | EUA | 1975, 94’

As Beales de Grey Gardens

Albert Maysles e David Maysles | EUA | 2006, 91’)

Em 1973, um escândalo tomou as manchetes dos jornais americanos. Alegando falta de condições sanitárias, as autoridades de East Hampton, um balneário de luxo a 160 quilômetros de Nova York, tentaram expulsar as duas moradoras de uma mansão à beira-mar. Elas viviam isoladas ali, em Grey Gardens, há mais de 20 anos, entre guaxinins, sujeira e mato. Notícia banal, não fossem elas Edith Bouvier Beale e sua filha de 56 anos, Edie, respectivamente tia e prima de Jacqueline Kennedy Onassis. Dois anos depois, Big Edie e Little Edie abriram as portas de Grey Gardens a Albert Maysles e David Maysles. Eles registraram a personalidade e os conflitos de mãe e filha, mulheres inteligentes e excêntricas.

Esta edição em DVD duplo inclui ainda As Beales de Grey Gardens, em que, passadas três décadas do lançamento de seu filme, os irmãos Maysles revisitam e apresentam parte das sobras de montagem.

Extras:

- Faixa comentada por Albert Maysles, Ellen Hovde, Muffie Meyer e Susan Froemke

- Entrevista de Albert Maysles a João Moreira

Salles (2006)

- Livreto com depoimentos de Albert Maysles, Susan Froemke e Ellen Hovde

Criada em 2012 pelo então coordenador de cinema José Carlos Avellar (1936-2016), a coleção DVD | IMS já lançou diversos filmes, entre produções brasileiras e estrangeiras.

O futebol, de Sergio Oksman

O botão de pérola e Nostalgia da luz, de Patricio Guzmán

Photo: Os grandes movimentos fotográficos

Homem comum, de Carlos Nader

Vinicius de Moraes, um rapaz de família, de Susana Moraes

Últimas conversas e Cabra marcado para morrer, de Eduardo Coutinho

A viagem dos comediantes, de Theo Angelopoulos

Imagens do inconsciente e São Bernardo, de Leon Hirszman

Os dias com ele, de Maria Clara Escobar

A tristeza e a piedade, de Marcel Ophüls

Os três volumes da série Contatos: A grande tradição do fotojornalismo; A renovação da fotografia contemporânea; A fotografia conceitual

La Luna, de Bernardo Bertolucci

Cerimônia de casamento, de Robert Altman

Conterrâneos velhos de guerra, de Vladimir Carvalho

Vidas secas e Memórias do cárcere, de Nelson Pereira dos Santos

O emprego, de Ermanno Olmi

Iracema, de Jorge Bodanzky e Orlando Senna

Cerimônia secreta, de Joseph Losey

As praias de Agnès, de Agnès Varda

A pirâmide humana e Cocorico! Mr. Poulet, de Jean Rouch

Diário 1973-1983 e Diário revisitado 1990-1999, de David Perlov

Elena, de Petra Costa

A batalha de Argel, de Gillo Pontecorvo

Libertários, de Lauro Escorel, e Chapeleiros, de Adrian Cooper

Seis lições de desenho com William Kentridge

Sudoeste, de Eduardo Nunes

Shoah, de Claude Lanzmann

Memórias do subdesenvolvimento, de Tomás Gutiérrez Alea

E três edições voltadas à poesia: Poema sujo, dedicado a Ferreira Gullar; Vida e verso e Consideração do poema, dedicados a Carlos Drummond de Andrade

Os DVDs podem ser adquiridos nas livrarias especializadas, nas lojas dos nossos centros culturais e na loja online do IMS: bit.ly/imsdvd.

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coleção DVD | IMS

Instituto Moreira Salles

Cinema

Curador

Kleber Mendonça Filho

Programadora

Marcia Vaz

Programador adjunto

Thiago Gallego

Produtora de programação

Quesia do Carmo

Assistente de programação

Lucas Gonçalves de Souza

Projeção

Ana Clara da Costa

Revista de Cinema IMS

Produção de textos e edição

Thiago Gallego e Marcia Vaz

Diagramação

Marcela Souza e Taiane Brito

Revisão

Flávio Cintra do Amaral

Os filmes de julho

O programa do mês tem o apoio da Cinemateca Brasileira, do Centro Audiovisual Simone de Beauvoir, da Cinemateca do MAM, do CECIP, da Rede Globo, da revista Cinética, da produtora AEB Produções, das distribuidoras BF Distribution, Descoloniza Filmes, Elo Studios, Embaúba, Les Films de La Butte, Olhar Distribuição, Iskra, O2 Play, VideoFilmes, Vitrine Filmes, Zeitgeist Films e do projeto Sessão Vitrine.

Agradecemos a Barbara Rangel, Peggy Préau, Nicole Fernández Ferrer, Hermano Callou, José Quental, Hernani Heffner, Dinah Frotté, Claudius Ceccon, Rosemeire Rodrigues, Bianca Mandarino, Alessandra Coutinho, Sergio Burgi. Agradecemos

ainda a Debora Fleck, responsável pela tradução das sinopses da mostra Arquivos, vídeos e feminismos: o acervo do Centro Audiovisual Simone de Beauvoir.

Venda de ingressos

Ingressos à venda pelo site ingresso.com e na bilheteria do centro cultural, a partir das 12h, para sessões do mesmo dia. No ingresso.com, a venda é mensal, e os ingressos são liberados no primeiro dia do mês. Ingressos e senhas sujeitos à lotação da sala.

Capacidade da sala: 145 lugares.

Meia-entrada

Arquivos, vídeos e feminismos: o acervo do Centro Audiovisual

Simone de Beauvoir

apoio

Com apresentação de documentos comprobatórios para professores da rede pública, estudantes, crianças de 3 a 12 anos, pessoas com deficiência, portadores de Identidade Jovem, maiores de 60 anos e titulares do cartão Itaú (crédito ou débito).

Devolução de ingressos

Em casos de cancelamento de sessões por problemas técnicos e por falta de energia elétrica, os ingressos serão devolvidos. A devolução de entradas adquiridas pelo ingresso.com será feita pelo site. Programa sujeito a alterações. Eventuais mudanças serão informadas no site ims.com.br e no Instagram @imoreirasalles. Não é permitido o acesso com mochilas ou bolsas grandes, guarda-chuvas, bebidas ou alimentos. Use nosso guarda-volumes gratuito. Confira as classificações indicativas no site do IMS.

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Santo forte, de Eduardo Coutinho (Brasil | 1999, 90’, 35 mm)

(EUA

Terça a quinta, domingos e feriados sessões de cinema até as 20h; sextas e sábados, até as 22h.

Visitação, Biblioteca, Balaio IMS Café e Livraria da Travessa Terça a domingo, inclusive feriados das 10h às 20h.

Fechado às segundas.

Última admissão: 30 minutos antes do encerramento.

Entrada gratuita.

Avenida Paulista 2424

CEP 01310-300

Bela Vista – São Paulo

tel: (11) 2842-9120

imspaulista@ims.com.br

ims.com.br

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@imoreirasalles

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A vida dos performers (Lives of Performers), de Yvonne Rainer
| 1972, 90’, restauração em DCP 4K)

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