ESTACA ZERO Relatório da curta-metragem
Docente: Professora Auxiliar Carla Cruz Discentes: Alexandre Cruz, nº. 223688 Ana Carolina Epifânio, nº. 223727 Cláudio Nogueira, nº. 223718 Inês Castro e Barôa, nº. 221529 Maria Inês Fragoso, nº. 223753
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Índice Introdução ............................................................................................................ 3 1. Enquadramento teórico.................................................................................... 4 1.1. Logos .......................................................................................................... 4 1.2. Ethos .......................................................................................................... 4 1.3. Pathos ........................................................................................................ 5 1.4. Stoyline ...................................................................................................... 5 1.5. Ideia ........................................................................................................... 5 1.6. Pequena Sinopse ....................................................................................... 6 1.7. Elementos da Narrativa ........................................................................... 7 1.7.1. Ação .................................................................................................... 7 1.7.2. Personagens ....................................................................................... 8 1.7.3. Simbologia .......................................................................................... 9 1.7.4. Narrador .......................................................................................... 11 1.7.5. Espaço............................................................................................... 11 1.7.6. Diálogos ............................................................................................ 12 1.7.7. Tempo ............................................................................................... 13 2. Desenvolvimento das etapas de produção do projeto .................................... 14 2.1. Pré-produção .......................................................................................... 14 2.2. Produção ................................................................................................. 15 2.3. Pós-produção .......................................................................................... 20 Conclusão ........................................................................................................... 22 Referências ......................................................................................................... 23 Apêndices ............................................................................................................ 24 Apêndice 1 – Guião ........................................................................................ 24 Apêndice 2 – Tabela com nomes das músicas ............................................... 31 Apêndice 3 – Tabela com as funções do relatório......................................... 31
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Introdução Muitos capítulos das nossas vidas são caracterizados pelos fins. Quer seja um fim mais literal ou metafórico, todos nós chegamos a uma altura em que precisamos de recomeçar, de forma a superar certas dores. Toda a gente, em determinada altura, precisa de chegar à “Estaca Zero”. A curta-metragem apresentada assenta sobre isso mesmo. Dentro de um grupo de amigos, onde tudo parecia correr bem, algo de inesperado acontece: Vasco, irmão de Madalena, sofre um acidente invulgar e falece. Simultaneamente, Camila recebe uma proposta para sair do país, colocando-se o dilema “amor versus sonho” - parte numa nova aventura, contribuindo para a sua autorealização, ou fica por Pedro, o seu companheiro, e pela melhor amiga, que tem dificuldade em superar o luto do irmão? Essa e outras questões são colocadas no decorrer do filme, sendo também apresentado, de forma menos direta, o medo inerente ao fim da licenciatura, etapa pela qual muitos jovens passam. Este projeto tratou de refletir vários cenários que representam vários fins - o fim de um curso, o fim de uma rotina, o fim de uma vida. O nome atribuído, “Estaca Zero”, pretende remeter ao reinício, bem como aos receios que o próprio acresce. No relatório realizado, seguir-se-ão todas as fases intrínsecas à curta-metragem, divididas pelo enquadramento teórico – no qual estará o logos, o ethos, o pathos, a storyline e uma pequena sinopse –, pelos elementos da narrativa – ação, personagens, elementos simbólicos, narrador, espaço, diálogos e tempo –, pelas etapas da produção do projeto – pré-produção, produção e pós-produção –, finalizando com uma conclusão sobre todo o trabalho executado. Uma vez que se trata de um filme que se foca na instrospeção, todos os elementos descritivos estão incorporados nos elementos da narrativa, dado que se complementam entre si.
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1. Enquadramento teórico 1.1. Logos O termo logos refere-se à clareza e integridade do argumento (Holt e MacPherson, 2010), sendo que enfatiza a lógica e o apelo à razão (Aho, 1985; Green, 2004). Uma vez que invoca a racionalidade, as técnicas utilizadas para destacar o logos são a argumentação, a lógica, explicações, reivindicações, dados factuais e exemplos (Higgins e Walker, 2012). Em “Estaca Zero”, o logos refletiu-se em duas vertentes - no voz-off, presente na leitura da carta de Camila, que serviu de narração, e nos diálogos entre as personagens. Uma vez que parte da história foi narrada, elementos como a colocação da voz e o ritmo do discurso são cruciais para a captação da atenção por parte da audiência, dado que influenciam a percepção que se terá do enredo (Connors, 1979). Aquando da construção da componente narrada, o grupo tomou atenção para não repetir ideias e ser claro na sua transmissão, ainda que de uma forma mais abstrata e subjetiva. 1.2. Ethos O vocábulo ethos trata da intenção das personagens, da sua credibilidade e confiabilidade (Hartelius e Browning, 2008). Através dele, a audiência confere autoridade aos oradores (Green, 2004), contribuindo para o poder persuasivo de cada personagem (Aho, 1985; Conrad e Malphurs, 2008). Considerando que assenta na credibilidade transmitida pelas personagens, as técnicas utilizadas para definir o ethos são a semelhança, a condescendência, a habilidade, a autocrítica e a inclinação para obter consistência (Higgins e Walker, 2012). Em “Estaca Zero”, o ethos, enquanto transmissão de uma mensagem na história, explora o significado dos vários fins que teremos de enfrentar ao longo da vida – o término da vida académica, um luto, o termo de um relacionamento, a quebra da rotina –, pretendendo passar uma mensagem de esperança e introspecção. No decorrer da curta-metragem, são incluídos vários elementos que enriquecem a mensagem intencionada, sendo a roupa, a maquilhagem e a postura não-verbal, como o tom de voz e o ritmo do discurso nas cenas em que se apresentam diálogos. Todos
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estes fatores auxiliam na interpretação da mensagem, dado que estão associados a uma simbologia (Connors, 1979), explicada posteriormente neste relatório. 1.3. Pathos O pathos consiste na componente dramática, na emoção que passa para a audiência através do discurso (Aho, 1985). Desta forma, as técnicas utilizadas para exaltar o pathos são as metáforas e a identificação, especialmente através de referências culturais como o desporto, a pobreza, o bem-estar, a lealdade, a amizade, a compaixão (Higgins e Walker, 2012). Em “Estaca Zero”, o grupo intencionou passar as emoções de dor, compaixão, empatia e nostalgia à audiência, tendo em conta que a história trata de uma carta que relata sentimentos de frustração, mágoa, tristeza, desespero, receio, saudade. 1.4. Stoyline Camila é uma jovem portuguesa infeliz com o facto da sua vida ter caído numa rotina, sendo que a história desta curta-metragem consiste na narração de uma carta escrita por Camila quando decide abandonar o seu país em busca de uma nova vida, deixando para trás o seu grupo de amigos. No desenrolar da curta, que é constituída por vários flashbacks bem como por momentos vividos no presente, são introduzidas as restantes personagens Madalena, a melhor amiga de Camila, Pedro, o namorado da protagonista, Vasco, irmão de Madalena e também amigo de Camila, e Teresa, amiga de Camila. Ao longo de toda a curta passamos ainda também por momentos decisivos não só para Camila como para o resto do grupo, sendo que é possível ver as suas reações a cada um destes momentos. O principal objetivo da curta foi mostrar que um final nem sempre é mau e pode até ser encarado como uma nova oportunidade. 1.5. Ideia A ideia da curta foi originalmente dos membros Inês Castro e Barôa e Maria Inês Fragoso, e caracteriza-se como sendo uma ideia lida (for free ideia), uma vez que teve como base um texto que um destes dois membros já tinha escrito há algum tempo e foi posteriormente adaptado para o guião tendo em conta citações de dois escritores portugueses que já tinham sido também utilizados por um destes membros, sendo estas:
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“Nada é para sempre, dizemos, mas há momentos que parecem ficar suspensos, pairando sobre o fluir inexorável do tempo.” - José Saramago “O tempo que passa não passa depressa. O que passa depressa é o tempo que passou.” - Vergílio Ferreira 1.6. Pequena Sinopse Camila, ao chegar à reta final da sua licenciatura, apercebe-se que a sua vida se tornou naquilo que ela mais temia, uma rotina. Sendo Camila a jovem inconformada que é e estando sempre disposta a embarcar em novas aventuras e mudanças, esta decide abandonar o seu país em busca de uma nova vida, deixando para trás uma carta adereçada à sua melhor amiga, Madalena, na qual fala do quão farta estava que a sua vida fosse sempre a mesma coisa. Ainda na carta, Camila, faz referência ao seu namorado e ao restante do grupo de amigos. Na curta não é possível ver para onde Camila vai, mas apenas aquilo por que a jovem passa que a impulsiona a tomar realmente esta decisão. Madalena, melhor amiga de Camila, e irmã gémea de Vasco, está, tal como Camila e o resto do grupo de amigos, a chegar à reta final da licenciatura. Madalena, ao longo da curta, mostra-se como uma pessoa mais conformada, do que Camila, sendo que refere que não seria capaz ir viver para fora do país e “goza” com Camila quando esta diz que seria capaz. Ao longo da curta Madalena debate-se com a morte prematura do seu irmão, Vasco, que comete suicídio. Madalena e Vasco eram inseparáveis e faziam sempre tudo juntos sendo que, aquando a morte de Vasco, Madalena fica desorientada e sem saber o que fazer. Camila faz referência a isto várias vezes na carta e pede desculpa por não ter estado lá para ela, sendo que Camila partiu após a morte de Vasco. Pedro é o namorado de Camila e, um dos membros do grupo. Apesar de não ser uma das duas personagens principais é das três personagens secundárias talvez aquela que mais aparece. Ao longo da curta vemos Pedro e Camila felizes até que a rapariga decide contar-lhe que vai prosseguir com os seus estudos no estrangeiro. Pedro, com a sua personalidade forte e conformada de que está bem aqui e se está bem não há necessidade de mudar de sítio ou experimentar coisas diferentes, não entende a constante necessidade de mudança da sua namorada e pede-lhe que esta escolhe entre ir embora ou entra a sua relação. Camila não responde, ao que Pedro toma isto como a sua resposta e deixa Camila sozinha. Um pouco mais tarde, já depois de Camila se ter 6
apercebido que não pode deixar a opinião de Pedro influenciar a sua decisão e ir embora, Pedro volta a casa de Camila e abraça-a, simbolizando isto o facto de ele entender a necessidade da jovem partir e experienciar coisas diferentes. Vasco é o irmão gémeo de Madalena e ouro dos membros do grupo. Ao longo da curta podemos ver Vasco a batalhar contra as suas dúvidas em relação ao futuro e os seus receios daquilo que está por vir ainda não ser certo. Embora não seja visto na curta a cena em que Vasco comete suicídio, isto pode ser considerado como um dos maiores pontos de viragem da curta-metragem uma vez que tem um impacto direito na vida de Madalena e na decisão de Camila. Teresa é o membro do grupo menos falado na carta que Camila deixa à sua melhor amiga e é também o membro do grupo com o futuro todo planeado. À conversa com Vasco, Teresa afirma não ter dúvidas acerca do seu futuro sendo que tem tudo planeado há algum tempo. Teresa pode ser entendida como uma personagem com uma personalidade forte e convicta das suas decisões. Esta curta acompanha, assim, as reações de um grupo de cinco amigos face às adversidades que encontram no seu caminho. Enquanto uns lidam com o facto da sua vida ter caído em rotina, outros lidam com a insegurança e o receio que o futuro incerto lhes traz e outros lidam com a perda de um ente querido. Estaca zero tem como objetivo mostrar que nem todos os fins são necessariamente maus e que, mesmo quando algo terrível acontece, existe sempre uma forma de dar a volta à situação e fazer disso um novo ponto de partida. Género: curta-metragem Duração: 10 minutos 01 segundos Ano de produção: 2019 1.7. Elementos da Narrativa 1.7.1. Ação Esta curta pode caracterizar-se como um drama, dado o facto de girar à volta de uma escolha que uma das personagens terá de fazer, sendo que esta é acompanhada por uma multiplicidade de acontecimentos que a tornam mais difícil, nomeadamente a discussão com o namorado de Camila e a morte de Vasco, um dos seus amigos mais 7
próximos. Ao longo da narrativa, o mistério de não se saber que decisão é que Camila irá tomar, levam a que a história atinja o clímax (morte de Vasco) e a que esta decida o que fazer. A ação principal/central trata a história de Camila que com o final da faculdade enfrenta uma difícil decisão: continuar em Portugal numa vida monótona, ou ir para o estrangeiro e conhecer as oportunidades que o mundo tem para lhe oferecer. Nesta narrativa inserem-se as cenas em voz-off, uma vez que é através delas que se constrói a história e o mistério, e as cenas III, X, XIV, e XIX. Quanto à ação secundária inseremse as restantes cenas que acabam por contextualizar a audiência. O grau de solução da ação é caracterizado por uma narrativa híbrida, pois apesar de sabermos que Camila decidiu apostar no seu futuro fora de Portugal e que Vasco morre, não sabemos como é que ficaram as restantes personagens, nomeadamente, Madalena, Pedro e Teresa. 1.7.2. Personagens “Personagem vem a ser algo assim como personalidade e aplica-se às pessoas com um carácter definido que aparecem na narração.” (Comparato, 2009). Nesta curta-metragem podem ser identificadas cinco personagens distintas: Camila (interpretada por Inês de Castro e Barôa), Madalena (interpretada por Maria Inês Fragoso), Pedro (interpretado por Cláudio Nogueira), Teresa (interpretada por Ana Carolina Epifânio) e Vasco (interpretado por Alexandre Cruz). Para podermos analisar estas personagens, devemos ter em conta três parâmetros fundamentais: o processo de caracterização, a concepção/formulação e o relevo da personagem na história. Uma das personagens principais que podemos encontrar na narrativa é a protagonista Camila, que se caracteriza por ser uma personagem ambiciosa (percetível pela analogia que faz com o copo quando diz que sempre o vê meio vazio e que há sempre espaço para acrescentar algo mais), inconformada (pela sua constante necessidade de mudança dentro de si) e resiliente (por lutar pelos seus sonhos apesar das adversidades da vida). Apresenta uma concepção redonda/modelada, devido à sua complexidade e protagonismo na narrativa. E possui uma caracterização direta, pelo facto de existirem sinais ao longo da história capazes de descrever a personagem.
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Outra protagonista que podemos identificar ao longo da curta-metragem é a personagem Madalena, que sofre alterações de caracterização à medida que a história avança, sendo possível dividir em duas partes: a fase anterior à morte do seu irmão Vasco e a fase posterior a esse acontecimento. Na fase anterior à morte do seu irmão, a protagonista Madalena caracteriza-se por ser uma pessoa contente e ligada à sua família/amigos. Na fase posterior à morte de Vasco, existe uma transformação na personagem, pois, devido a este evento trágico, Madalena torna-se cada vez mais triste, deprimida e incapaz de aproveitar a vida como quando o seu irmão estava vivo. Apresenta também uma concepção redonda/modelada, pelo seu protagonismo, mas ao contrário da Camila, a sua caracterização é indireta, pois existe um maior esforço para compreender os traços da sua personalidade. De seguida, podemos identificar as restantes personagens, que apresentam um papel secundário na narrativa da curta-metragem, sendo essas: o Pedro, a Teresa e o Vasco. No caso de Pedro, namorado de Camila, caracteriza-se por ser apaixonado (pela sua namorada) e conformado (na medida em que não pondera a ideia de se mudar para outra país, apesar de gostar de Camila). A personagem Teresa é atenta (por notar que algo estava de errado com Vasco) e solidária (por oferecer o seu apoio à personagem Vasco quando este precisava de desabafar e à personagem Madalena quando esta perdeu o seu irmão). Quanto à personagem Vasco, caracteriza-se por ser preocupado com o futuro, alegre quando está com os amigos, mas deprimido quando está sozinho. Estas três personagens secundárias, tal como as personagens principais, apresentam uma concepção redonda/modelada, pois todas têm pertinência para o desenrolar da história. Podemos também afirmar que sofrem de um processo de caracterização indireto, como a protagonista Madalena, pois o espectador tem que prestar atenção aos medos, às intenções e às ambições das personagens, para poder entender as características de cada um. Podemos ainda acrescentar que todas as pessoas restantes, para além destas, que apareçam ao longo da curta-metragem (como por exemplo no minuto 2:07) podem ser consideradas de figurantes, pois não têm qualquer tipo de intervenção na narrativa. 1.7.3. Simbologia
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Tendo esta curta-metragem como tema principal a mudança e a forma como os jovens lidam com esta, a passagem do tempo e a simbologia inerente a esta foram variáveis importantes para o sucesso da narrativa. A passagem do tempo é apresentada na voz de Camila como algo que as pessoas não se apercebem, pois encontram-se “formatadas” nas suas rotinas. Neste sentido, podemos destacar o relógio que está na mesa-de-cabeceira de Camila como símbolo desta rotina. Este relógio é responsável por a acordar todas as manhãs para mais um dia da sua rotina, da qual progressivamente se vai sentido farta. Quando o relógio aparece pela primeira vez (minuto 2:17), tocando e despertando Camila para mais um dia, esta sente-se animada e com energia. Contudo, quando o relógio aparece pela terceira vez a despertar a jovem para mais um dia (minuto 3:29), podemos verificar que acorda completamente esgotada e, ao longo das cenas seguintes, vemos que se encontra perdidamente entediada. As cenas de transição em que aparecem carros a circular na auto-estrada (minuto 1:59 a 2:06), em que Teresa apanha o autocarro (minuto 2:07 à 2:15) ou quando Camila risca a sua agenda (minuto 0:59 a 1:03) são também símbolos da rotina e da passagem do tempo. Outro tema bastante explorado ao longo da ação são as memórias, presentes nos flashbacks com memórias do grupo de amigos. Contudo, também existem alguns objetos que apresentam uma simbologia muito associada às memórias, como é o caso das fotografias na parede do quarto de Camila (minuto 4:55 a 5:11). Por sua vez, as cenas que acompanham o voz-off de Camila apresentam, geralmente, uma forte simbologia. Cite-se o exemplo da cena em que Camila se encontra a seguir em frente por um caminho direito e bastante iluminado (minuto 9:19 a 9:24). Nesta cena é mostrada a ideia de que a personagem está segura da sua escolha e vai seguir em frente. Contudo, carrega consigo a saudade e as lembranças dos seus amigos, tanto que, nas cenas seguintes, conseguimos ver flashbacks das suas memórias com os seus companheiros. A cor também apresenta uma simbologia muito forte nesta curta-metragem, principalmente no vestuário de Madalena. Antes da morte de Vasco, Madalena usava cores vivas e alegres no seu vestuário. Após a morte do irmão, apresenta-se vestida de 10
preto, símbolo de morte e de luto, espelhando, assim, a sua tristeza. Nas últimas cenas, Madalena já se encontra com uma blusa branca, caminhando pelo cemitério (minuto 9:02 a 9:17). O branco aqui já simboliza a paz interior que a personagem procura alcançar após a grande perda que sofrera. A banda musical, que acompanha o voz-off, também vai evoluindo ao longo da ação de acordo com o estado emocional das personagens. Numa das últimas cenas (minuto 9:34 a 9:37), a música de fundo (Amália - Conan Osíris) diz “sabes que a saudade anda ao beijo com a morte” e aparece de forma rápida a figura de Vasco atrás dos seus amigos. Esta cena faz parte de alguns flashbacks de memórias felizes do grupo, simbolizando assim um passado feliz e despreocupado, em contraste com um presente marcado pela saudade, onde as personagens se esforçam para seguir com as suas vidas em frente. 1.7.4. Narrador O narrador caracteriza-se como sendo participante e autodiegético, que ocupa o lugar de personagem principal. A narração feita por Camila representa os seus pensamentos e sentimentos em relação à fase da vida que ultrapassava naquele momento, esta é feita com o propósito de se explicar o porquê de ter partido sem avisar ninguém previamente. Assim, a carta resulta como mapa para o enquadramento histórico da curta-metragem, sendo que guia o espectador ao longo da curta, coincidindo com algumas ações (por exemplo: “Acordo, como, corro, estudo, estou com os meus amigos.” coincide com as cenas da rotina de Camila). Deste modo, o narrador possui também uma focalização interna e fixa, uma vez que participa na ação enquanto personagem principal. Todas as narrações encontram-se expressas no Guião (apêndice 1). 1.7.5. Espaço Espaço Físico Ao longo de todo o enredo, existe referência a diversos espaços físicos. No entanto, todos estes se localizam na área de Lisboa, mais especificamente, entre Benfica e Monsanto.
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Destacam-se espaços públicos, como o caso da faculdade (ISCSP), da serra de Monsanto ou do campo de basquetebol. Contudo, os momentos mais decisivos, como a morte de Vasco ou o término da relação de Camila e Pedro, ocorrem todos na casa dos intervenientes. Espaços comuns, como salas de estar, aparecem em cenas onde todos ou quase todos se encontram reunidos. Espaços com um caráter mais privado, como os quartos, aparecem em cenas com menos intervenientes. Espaço Psicológico O espaço psicológico é representado ao longo de toda a curta-metragem pela personagem Camila, através das suas narrações, verbalizadas em voz-off. Estas narrações, que são constantemente interrompidas com flashbacks a um passado não muito distante, correspondem à leitura de uma carta que foi deixada por Camila à sua melhor amiga Madalena, quando decidiu partir e deixar a sua vida para trás. O espaço psicológico é, assim, caracterizado por sentimentos de melancolia, nostalgia e tristeza. Contudo, a carta deixada por Camila também deixa uma mensagem de esperança e de que é possível começar de novo. Ao longo da ação encontramos vários estados psicológicos nas personagens. No passado, eram felizes. No presente, tentam adaptar-se à mudança. Espaço Social O espaço social é definido através do enquadramento social, determinado pelas interações entre personagens, sendo que é possível depreender que se trata de um meio jovem e universitário, onde as personagens intervenientes se encontram entre os 21 e 22 anos, pertencendo a uma classe média. 1.7.6. Diálogos Ao longo da curta, os diálogos acontecem entre todos os personagens, sendo que não existem nenhuns que se destaquem. Os diálogos existentes entre as diferentes personagens permitem que o espectador consiga fazer uma descrição psicológica das personagens secundárias, sendo que a narração não o permite fazer.
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Desta forma, os diálogos funcionam como uma espécie de complemento à carta narrada durante a história, permitindo que a audiência fique a conhecer mais sobre as personagens e a sua vida. 1.7.7. Tempo A ação começa com uma prolepse – Camila com a sua mala, chegando ao seu novo quarto. Após a cena inicial, a ação começa-se a desenrolar num passado não muito distante, relembrando memórias do grupo de amigos e a vida que Camila deixara para trás. A ação decorre no ano de 2019, contudo não é muito fácil definir a extensão de tempo que a narrativa ocupa. À medida que ação se vai estendendo, mais perto do presente nos vamos situando. Contudo, são feitas algumas analepses, nomeadamente no que diz respeito às cenas dos irmãos Vasco e Madalena, de modo a estabelecerem-se comparações e realçar o sentimento de perda da jovem. Ao nível do tempo meteorológico, a ação decorre durante um período primaveril, onde dias de sol ainda fazem contraste com dias cinzentos. O vestuário das personagens espelha essa dualidade, sendo que encontramos cenas em que as personagens estão vestidas de forma mais leve e fresca, e outras cenas apresentam-nas com casacos e roupa mais quente. Pode-se também averiguar que nesta curta-metragem predomina o tempo psicológico, visto que toda a ação apresentada representa memórias das personagens, nomeadamente de Camila.
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2. Desenvolvimento das etapas de produção do projeto 2.1. Pré-produção A fase de pré-produção e os cuidados a ter nesta foram muitíssimo importantes para a produção da curta-metragem e, posteriormente, realização do relatório final. O primeiro passo consistiu numa reunião de grupo para debater ideias e trabalhar naquele que viria a ser o argumento. Nesta primeira etapa, existiu uma clara divisão de tarefas entre os membros do grupo, assim como a definição de datas específicas para a produção da curta-metragem. Contudo, após a aprovação da docente da ideia inicial e o guião já se encontrar elaborado, um dos elementos do grupo, saiu. Esta saída levou a uma reestruturação no argumento e na dinâmica de grupo, uma vez que a história inicial se focava em seis personagens, e com cinco a história ficaria desequilibrada. Após discutir novas ideias, o grupo decidiu optar por um caminho um pouco diferente daquele que tinha sido decidido inicialmente. Os elementos Maria Inês Fragoso, Inês Castro e Barôa e Claúdio Nogueira escreveram um novo guião com base num novo argumento e os membros Ana Carolina Epifânio e Alexandre Cruz focaram-se em aspetos como a escolha dos locais para gravar, os ângulos a filmar entre outros detalhes. Porém, todos os elementos deram o seu ponto de vista. A coordenação da maquilhagem e guarda-roupa, primeiramente, assentou nos membros Inês Castro e Barôa e Maria Inês Fragoso, enquanto que a produção foi designada à membro Ana Carolina Epifânio. Apesar de todos terem gravado várias cenas da curta-metragem, a escolha dos ângulos a abordar ficou encarregue dos membros Alexandre Cruz e Cláudio Nogueira. Este último membro também foi o responsável pela escolha da música. Deste modo, a divisão de tarefas revelou-se fulcral para o bom funcionamento do grupo, assim como uma boa dinâmica de trabalho.
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2.2. Produção “De uma maneira geral, produção é o período que envolve a filmagem propriamente dita, ou seja, as filmagens em termos fotográficos e a captação do som das cenas descritas no roteiro, envolvendo os atores sob a supervisão do realizador.” (Rodrigues, 2002). Tendo em conta os aspetos delineados na fase da Pré-Produção, podemos então passar para a etapa seguinte, sendo esta a fase da Produção em si. Nesta etapa, põe-se em prática aquilo que foi estipulado anteriormente no planeamento do projeto, através de reuniões com os membros do grupo (realizadas a 21 e 22 de março). No entanto, tendo sempre em consideração o facto de poderem existir algumas adversidades. Esta fase é caracterizada por ser uma das partes mais essenciais do projeto, uma vez que é onde se dá início às gravações da própria curta-metragem. Para isso, foi necessário adquirirmos todo o equipamento possível para iniciarmos as filmagens, desde o material para a captação de imagem até ao material para captação de áudio. Para a captação de imagem, decidimos atribuir uma especial importância à qualidade dos equipamentos, de modo a não prejudicar a estética da curta-metragem e para facilitar o processo de edição na Pós-Produção. Posto isto, foram utilizadas três câmaras que pertenciam aos membros Alexandre Cruz, Inês Castro e Barôa e Maria Inês Fragoso. A câmara do membro Alexandre Cruz era uma Canon EOS 800D com uma lente Canon EFS de 18-15 mm. A câmara da membro Inês Castro e Barôa era uma Canon EOS 77D com uma lente Canon EFS de 18-55 mm. A câmara da membro Maria Inês Fragoso era uma Canon EOS Rebel T3i com uma lente Canon EFS de 18-55 mm. Para a captação de áudio, considerámos importante que a qualidade do som fosse nítida e que não existissem ruídos exteriores indesejados, o que prejudicaria a qualidade do projeto. Portanto decidimos utilizar o microfone RODE VideoMic Go, facultado pela membro Inês Castro e Barôa. Este microfone foi utilizado não só para a captação do diálogo entre as personagens, como também para a gravação do voz-off.
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Quanto ao material complementar, foram também utilizados cartões de memória, baterias para as câmaras de filmar e dois tripés, facultados pelos membros Inês Castro e Barôa e Maria Inês Fragoso. Antes de procedermos às gravações, foram atribuídas diferentes tarefas a desempenhar pelos membros do grupo, para que existisse uma melhor eficácia na concretização do projeto, tendo em conta os pontos fortes e fracos de cada membro. Para isso, foi decidido na primeira reunião (realizada a 21 de março) quais as funções desempenhadas por cada um dos integrantes do grupo. • Atores Principais: Inês Castro e Barôa (Camila) e Maria Inês Fragoso (Madalena). • Atores Secundários: Alexandre Cruz (Vasco), Ana Carolina Epifânio (Teresa) e Cláudio Nogueira (Pedro). • Realização/Gravações: Todos. • Produção: Ana Carolina Epifânio. • Guião: Cláudio Nogueira, Inês Castro e Barôa e Maria Inês Fragoso. • Maquilhagem/Guarda-Roupa: Inês Castro e Barôa e Maria Inês Fragoso. • Edição: Inês Castro e Barôa e Maria Inês Fragoso. Estabelecidas todas as funções a desempenhar, na segunda reunião (realizada a 22 de março) foram decididos os locais onde se iriam realizar as filmagens. Ficou então combinado que os locais seriam os seguintes: casa da Inês Castro e Barôa (como casa da personagem Camila), casa da Maria Inês Fragoso (como casa das personagens Madalena e Vasco), ISCSP, Parque Florestal de Monsanto, Freguesia de Benfica, Mata de Benfica e Cemitério de Benfica. Ficou encarregue à produtora Ana Carolina Epifânio a tarefa de obter as autorizações necessárias para se realizarem as filmagens em certos locais, como o ISCSP ou o Cemitério de Benfica. Reunidas todas as condições necessárias, foram então iniciadas as filmagens no dia 23 de março, que se percorreram ao longo de seis datas: 23 de março, 6 de abril, 7 de abril, 25 de abril, 27 de abril e 28 de abril. Foi decidido entre grupo a utilização de vários planos e técnicas aprendidas durante as aulas, para que pudesse haver uma
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melhor ilustração da história descrita pelo guião, de modo a permitir com que o espectador compreenda todos os elementos da narrativa. As primeiras filmagens situaram-se, principalmente, no ISCSP e no Parque Florestal de Monsanto, uma vez que se mostraram como os locais mais indicados para iniciar as gravações visto que o frequentamos diariamente. Alguns exemplos de planos utilizados nestes locais incluem o plano de conjunto, onde é possível identificar um conjunto de personagens, sob um enquadramento de um plano inteiro, como podemos ver logo no início da curta (0:27) quando as personagens se encontram a conviver umas com as outras no seu tempo livre, o que nos remete para o texto lido pelo narrador. Consequentemente, surge um plano geral onde podemos ver as restantes personagens a jogar basquetebol (0:30), permitindo ao espectador ver todos os elementos presentes na cena. Decidimos também utilizar a técnica do found footage para dar entender que eram gravações das próprias personagens, especialmente quando estas se estão a divertir, dando um ar muito mais natural à cena (9:36). Por fim, podemos ver também a utilização do plano médio no minuto 4:20, quando vemos as cinco personagens sentadas numa mesa, enquanto quatro delas falam entre si e uma (Camila) aparenta estar aborrecida devido à sua rotina repetitiva que “acaba sempre a dar ao mesmo”. Esta cena pode ser considerada como plano de detalhe, pois ilustra o conteúdo do texto narrado pela personagem Camila, quando esta se refere à sua vida cada vez mais monótona. Acabadas as filmagens neste local, pudemos dar por concluídas as gravações nesse dia. De seguida, no dia 6 de abril, demos início às gravações numa das casas dos membros do grupo, começando pela casa de Inês Castro e Barôa, que serviu como casa da sua personagem, Camila. Alguns dos principais planos que foram utilizados nesta localização foram, por exemplo, o plano de detalhe. Este plano pode ser encontrado em várias cenas ao longo da curta-metragem, como podemos ver no início do filme, quando ouvimos o som distinto das rodas de uma mala de viagem a percorrer o chão, mas, no entanto, não o vemos por a imagem ser negra, e é então que surge uma personagem sem o rosto visível a entrar num quarto com essa mesma mala de viagem, dando início ao texto do narrador (0:18). Outro plano de detalhe que encontramos é no minuto 0:58, quando o narrador diz as palavras “passamos a vida toda consumidos no que temos para fazer” enquanto uma personagem risca um calendário. É então que surgem alguns dos planos de detalhe mais importantes quando, no minuto 2:14, se inicia uma sequência gradual que tenta ilustrar o quotidiano da personagem Camila e de como este se vai 17
tornando cada vez mais desgastante e aborrecido. Nesse mesmo minuto, o narrador participante (Camila) começa por dizer “há anos que a minha rotina tem sido a mesma” e segue-se a sequência começando pelo primeiro plano de detalhe, o relógio a despertar, no qual a personagem carrega no despertador, para este parar de tocar, de ânimo leve. No entanto, no minuto 3:30, o plano de detalhe do relógio a despertar mostra o descontentamento com a rotina de Camila, quando esta bate no despertador e este cai ao chão. Como o tempo dos membros do grupo era limitado e a quantidade de cenas neste local eram bastantes, as gravações neste dia ficaram por aqui e decidimos continuar as filmagens na casa da Inês Castro e Barôa noutro dia. Portanto, no dia seguinte, de volta ao mesmo local, decidimos prosseguir com as gravações. Começámos por incorporar planos de movimento como o travelling, neste caso horizontal, quando acompanhamos as personagens que estão sentadas num sofá a falar entre elas (2:40). Vemos pela primeira vez o plano americano, por exemplo, no minuto 4:34 quando a personagem Camila está sentada numa cadeira e fala com as personagens Madalena e Vasco, que se encontram enquadradas num plano médio longo. Decidimos utilizar também o plano de movimento panorâmico, primeiro horizontal e depois vertical, para captar as fotografias na parede do quarta da Camila (4:55). Utilizámos também um plano de perfil para podermos captar a personagem de Camila a estudar (3:22). Pela primeira vez, foi utilizado também o plano picado no minuto 7:05, para filmar, de cima para baixo, a Camila a colocar a roupa dentro da sua mala de viagem (objeto). Por último, decidimos gravar também outro plano de detalhe, no minuto 7:26, da protagonista Camila a escrever a carta que está a ser lida na narração, para a personagem Madalena. Foi então que encerrámos mais um dia de gravações e pudemos então prosseguir para outra localização. Continuámos então com as filmagens no dia 25 de abril, desta vez na casa do membro do grupo Maria Inês Fragoso, que serviu de casa para as personagens Madalena e Vasco, ambos irmãos. Um dos planos utilizados foi o plano médio longo, encontrado no minuto 1:10 quando Vasco desabafa com Teresa à saída de casa. Pela primeira vez nas filmagens, decidimos utilizar o plano de nuca para vermos a personagem Madalena a tirar roupa do armário (1:24). Utilizou-se também um plano médio, por exemplo, quando Madalena e Vasco estão na casa de banho a lavar os dentes (1:46). Mais uma vez, também foi dado uso ao plano picado para filmar a cena onde as personagens Madalena e Camila encontram Vasco (objeto) sem vida e a 18
sangrar, na sua casa de banho (7:00). Decidiu-se utilizar também o plano de perfil no minuto 8:52 para captar o rosto triste da Madalena após a morte do seu irmão Vasco. Por fim, gravamos também alguns planos de detalhe, como no minuto 1:40, quando Vasco está a mexer o café. Depois de algumas horas, concluímos então mais um dia de filmagens da curta-metragem. Posteriormente, no dia 27 de abril, prosseguimos novamente com as gravações e desta vez fomos para as últimas localizações planeadas na Pré-Produção, sendo essas a Freguesia de Benfica, a Mata de Benfica e o Cemitério de Benfica. Começamos por gravar cenas entre amigos no carro, através da técnica found footage novamente, para dar a entender que as próprias personagens estão a gravar vídeos para si (0:32). Pela primeira vez, vemos um grande plano geral que pinta o trânsito de Lisboa, ilustrando a rotina e o quotidiano entediante a que o narrador se refere ao longo do filme (1:58). Incorporámos também um plano de conjunto, onde identificamos a personagem Teresa no meio da multidão a entrar para o autocarro (2:08). Decidiu-se filmar também sob o enquadramento de um plano inteiro, as personagens Camila e Pedro a passear numa ponte, enquanto o narrador participante (Camila) fala sobre o quanto lhe custou deixá-lo para trás. Podemos ver novamente o plano inteiro quando Camila nos diz as palavras “posso-vos ter deixado para trás…” enquanto caminha pela mesma ponte, mas, desta vez, voltada de costas e sozinha, afastando-se cada vez mais da câmara. Sob um plano médio de conjunto, vemos as personagens Pedro, Madalena e Teresa, respetivamente, de luto pela morte de Vasco (8:58). Através de um plano de nuca, afastando-se cada vez mais da câmara terminando num plano geral, vemos a personagem Madalena a caminhar num cemitério, onde visitara o seu irmão falecido (9:02), seguindo-se um plano de travelling horizontal captando Madalena. Outro plano de nuca que decidimos acrescentar foi no momento em que Camila coloca a sua mala de viagem dentro do seu carro (9:18). Por último, o último plano utilizado foi um plano panorâmico vertical, onde vemos o carro de Camila a seguir em frente, com a personagem a partir para um novo futuro e novas rotinas (9:50). Dando por terminadas as filmagens da curta-metragem propriamente dita, o dia seguinte serviu para fazermos a gravação do voz-off do narrador (Camila) a ler a carta que escreveu para Madalena. Após isto, pudemos então dizer que a fase da Produção estava concluída, permitindo-nos assim seguir para a próxima etapa: a Pós-produção.
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2.3. Pós-produção “Na fase da pós-produção, a equipa de edição agrupa todo o material produzido durante a fase da produção e transforma tudo num pacote completo.” (Musburger, 2016). Após conclusão das filmagens, que não aconteceu tão cedo quanto desejado, os membros Inês Castro e Barôa e Maria Inês Fragoso começaram a edição. A edição foi feita no programa Adobe Premiere Pro, no qual um dos membros já tinha formação e o outro aprendeu a utilizar no momento de edição da curta. Numa primeira fase foram selecionados os vídeos que se tornavam relevantes para a curta, nunca fugindo da narração que os acompanhava de forma a que a palavra e a imagem batessem sempre certo. Após a seleção das melhores cenas, sendo estas os brutos da curta, foram selecionadas também as músicas que iriam acompanhar cada cena, sendo que para o início foi escolhida uma música instrumental, com um carácter mais misterioso, enquanto todas as outras músicas já eram compostas tanto por instrumental como por voz (apêndice 2). Ao realizar a estrutura dos vivos reparou-se em pequenas incoerências entre o guião e aquilo que tinha sido gravado, sendo que foi possível, com as cenas que não tinham sido originalmente consideradas como relevantes, dar a volta à questão. O guião acabou também por não ser seguido fielmente, uma vez que algumas das falas fugiam ao que foi escrito inicialmente, não sendo isto considerado como um desvio relevante que fosse alterar o contexto e desfecho da curta. A edição começou por inserir a voz-off da narração, bem como os vivos, tanto a nível de imagem como de som, por forma a inserir logo os sons de ambiente e do microfone, sincronizando ambos com a imagem. As seguintes cenas a ser colocadas foram as cenas de pintura que, como já referido, foram colocadas por forma a concordar com que estava a ser dito na narração. Para terminar, foram inseridas as músicas que tinham sido escolhidas previamente ao início da estruturação e os efeitos sonoros do despertador e foi feita a modelação de som, na qual se colocaram fade-in’s, fade-out’s e cross-fades, para que cada som não surgisse do nada e por forma a manter uma certa consistência em todos os sons. Infelizmente, a modelação de som não ficou tão bem
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feita quanto o desejado uma vez que é um processo que demora algum tempo e tem de ser feito com uma certa calma e as gravações não acabaram tão cedo quanto antecipado. Relativamente à imagem, a curta inicia com um ecrã negro para criar algum suspense, sendo que assim que aparece a primeira imagem falta um fade-in, para que tal não aconteça de forma tão abrupta, como acontece. Não foram colocados quaisquer efeitos entre cenas, nem foi feita nenhuma correção de cor sendo que não se considerou ser necessário, uma vez que o grupo tinha o cuidado de modificar o ISO das câmaras utilizadas sempre que gravava em espaços diferentes, ou sempre que a luz se alterava. Apesar deste cuidado, por parte do grupo, nem todas as cenas se encontram com a mesma matriz de cores, uma vez que as câmaras utilizadas não possuem as mesmas características, sendo umas mais recentes e outras mais antigas. Na última cena, mesmo antes da curta terminar, foi inserido um fade-out para que se pudesse introduzir o nome da curta-metragem.
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Conclusão Através da concretização deste projeto, o grupo, apesar de todos os imprevistos e limitações que teve de encarar, como a saída repentina de um membro, todas as alterações argumentativas que acarretou e outros obstáculos relacionados com assuntos pessoais e de gestão de tempo e tarefas, dá um parecer positivo. Foi com a realização da curta-metragem e respetivo relatório que o grupo conseguiu transpor a sua criatividade num produto do qual se orgulha e lhe permitiu aprofundar os seus conhecimentos teóricos no que toca à unidade curricular. Com isto, o grupo conseguiu entender o que acontece nos “bastidores” de uma produção do género, uma vez que todo o trabalho que prévio e seguinte é fulcral para uma peça coesa e de qualidade.
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Referências Comparato, D. (2009). Da criação ao roteiro: Teoria e prática. São Paulo: Summus Editorial. Connors, R. J. (1979). The Differences between Speech and Writing: Ethos, Pathos, and
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https://doi:10.1016/j.accfor.2012.02.003 Musburger, R. B. (2016). An introduction to writing for electronic media: Scriptwriting essentials across the genres. New York: Focal Press. Rodrigues, C. (2002). O cinema e a produção. Rio de Janeiro: Lamparina.
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Apêndices Apêndice 1 – Guião Guião - Estaca Zero Cena I Ouve-se o som das rodas de uma mala. Narrador: “Tempo.” Ouve-se uma porta a abrir. Camila entra num quarto vazio com uma mala de viagem. Narrador: “Sempre pensei que tínhamos muito mais do que aquele que tivemos.” Cena II Planos dos amigos a conviver no carro e no campo de basquetebol. Narrador: “Acho que nunca nos apercebemos bem do quão à mercê dele estamos e sempre pensámos que éramos nós que o controlávamos” Cena III Cena com Camila, Pedro, Teresa e Vasco. Sentados no sofá a falar. Vasco (olhando para as horas): “Bem pessoal, tenho mesmo que ir, ok?” Pedro: “Nepia, puto. Fica mais um bocado.” Vasco: “Não dá, já estou mesmo bué atrasado. Amanhã vemo-nos?” Camila: “Claro!” Vasco: “Okay, xau!” Teresa: “Eu levo-te à porta.” Narrador: “Quando, na verdade, é ele que nos controla a nós.” Vasco e Teresa descem as escadas do prédio. Cena IV 24
Narrador: “Passamos a vida toda consumidos no que temos para fazer” Camila risca um calendário. Narrador: “Em vez de pensarmos se realmente é isso que devíamos mesmo estar a fazer.” Cena V Teresa: “Vasco, estás bem?” Vasco: “Mais ou menos, ultimamente tenho andado só a pensar no meu futuro e com algumas dúvidas. Não tens dúvidas sobre o teu futuro?” Teresa: “Não, acho que tenho tudo planeado. Mas porquê?” Vasco: “Por nada. Deixa.” Teresa: “Vá, xau!” Vasco: “Xau, até amanhã!” Despedem-se os dois. Cena VI Madalena abre o armário e escolhe uma peça de roupa. Narrador: “Acordamos de manhã completamente formatados para uma rotina que nos consome por completo e não nos dá oportunidade de questionar sequer o porquê de repetirmos aquelas automaticamente praticamente todos os dias.” Cena VII Vasco entra na cozinha e mexe um copo com café. Vasco e Madalena na casa de banho a escovar os dentes. Cena VIII Grande plano geral do trânsito em Lisboa.
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Narrador: “O tempo passa e as pessoas nem querem saber, porque já acordam tão atrasados no tempo que tudo o que lhes passa pela cabeça é ir a correr para a sua rotina.” Teresa entra num autocarro, no meio da multidão. Cena IX Narrador: “Há anos que a minha rotina tem sido a mesma.” Vê-se a rotina da Camila enquanto faz as mesmas atividades, dia após dia, começando a ficar cada vez mais aborrecida. Narrador: “Acordo, como, corro, estudo, estou com os meus amigos. Acordo, como, corro, estudo, estou com os meus amigos. Acordo, como, corro, estudo, estou com os meus amigos.” Madalena, Pedro, Teresa e Vasco a conviver. Camila aborrecida. Narrador: “Por mais pequenas que sejam as diferenças de dia para dia na rotina, acaba por ir sempre dar ao mesmo. Estava tudo muito igual e a culpa não era minha, nem vossa. Às vezes acho que vos dei a ideia errada ao partir sem me despedir bem. Entendo se não conseguirem compreender as minhas intenções.” Cena X Camila: “Vocês viram que a Inês foi para Londres?” Vasco: “Viajar outra vez?” Camila: “Não, acho que desta vez foi mesmo viver.” Madalena: “Assim do nada? Passou-se!” Camila: “Madalena, também não sejas assim.” Vasco: “Eu não era capaz com tudo o que está a acontecer neste momento.” Camila: “Acho que era.” Madalena: “Ai Camila, não te ponhas com ideias malucas.”
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Camila: “Achas, Madalena? Não era capaz de vos deixar.” Plano das fotografias na parede de Camila. Narrador: “Sempre tive esta necessidade constante de mudança dentro de mim e sei que tu, de todas as outras pessoas, és a que é mais provável de entender isto. Sempre foste quem me conheceu melhor e quem entendia todas as minhas mudanças radicais, fossem estas no cabelo ou roupa que vestia.” Cena XI Camila procura roupa no armário. Camila: “Madalena, não tenho nada para vestir.” Madalena: “Camila, despacha-te!” Camila: “Já disse que não tenho nada para vestir! Preciso de ir às compras, Madalena.” Madalena (num tom sarcástico): “Olha para mim a querer outra mudança!” Plano das personagens a jogar às cartas com copos à frente. Cena XII Narrador: “Se pensarmos na analogia do copo, acho que sempre o vi como meio vazio, enquanto vocês já o conseguiam ver como meio cheio.” Teresa enche o copo de camila até metade. Narrador: “Mas sempre tive a ideia de que se o copo estava a meio podia acrescentarlhe ainda mais, há sempre espaço para mais alguma coisa, seja isso o que for.” Cena XIII Madalena e Vasco a beberem café e a sorrir. Narrador: “Desculpa se não estive lá para ti e parti tão ou mais repentinamente do que ele.” Madalena sozinha a mexer o copo com café e triste.
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Narrador: “Perdê-lo foi talvez a coisa mais difícil por que passaste e sei que isso te desnorteou por completo.” Madalena a escovar os dentes sozinha e triste. Narrador: “Não ficaste só sem a tua rotina, ficaste sem a parte mais significativa da mesma e o pior é que não estavas preparada para isso.” Madalena e Vasco abraçam-se na varanda. Narrador: “Sei que de repente as tuas tardes ficaram mais monótonos, as tuas noites mais tristes e os teus dias perderam o seu sentido.” Madalena na varanda sozinha e triste. Madalena e Vasco deitados a ver um filme e a sorrirem. Narrador: “Não havia como nos prepararmos para a sua partida, mesmo que ele nos tivesse avisado e eu decidi utilizar isso como a minha estaca zero.” Madalena deitada e triste. Cena XIV Flashback de Madalena e Camila a entrar em casa de Madalena e Vasco. Madalena: “Porque é que a luz da casa de banho está acesa?” Camila: “O teu irmão não está em casa?” Madalena: “Vasco!” Entram na casa de banho e deparam-se com Vasco deitado no chão sem vida e com sangue a escorrer o rosto. Madalena (em pânico): “Vasco! Vasco! Vasco!” Cena XV Narrador: “Decidi naquele momento que se fosse eu a morrer no dia a seguir, não queria morrer com a sensação de não estar realizada, como ele tinha.” Plano de Camila a fazer a mala. 28
Narrador: “Queria morrer em paz e a saber que fiz tudo o que queria e que não havia mais sonhos para realizar.” Cena XVI Camila e Vasco a estudar. Vasco (pensativo): “Acho que se morresse amanhã morria triste.” Camila: “Credo, Vasco! Cala-te!” Vasco: “É verdade!” Cena XVII Camila a escrever a carta. Narrador: “Mesmo que isso significasse deixar tudo para trás e começar do zero num sítio novo.” Cena XVIII Cenas românticas entre Camila e Pedro. Narrador: “Custou-me deixá-lo para trás, especialmente depois de perdermos alguém tão próximo. Nunca fui ingénua ao ponto de achar que seríamos para sempre, mas bem no fundo sempre quis que isso acontecesse. Infelizmente, não era a altura certa para isso.” Cena XIX Camila e Pedro sentados na cama. Narrador: “A primeira vez que falei com ele, vocês ainda não sabiam de nada, nem mesmo tu. Estava com medo de qual poderia ser a sua reação embora já soubesse que seria negativa.” Camila: “Eu vou estudar para fora, Pedro!” Pedro: “O quê? Para lá de gozar.” Camila: “Estou a falar a sério.” 29
Pedro: “Então e nós?” Camila: “Podes vir comigo, ou tentamos fazer com que funcione.” Pedro: “Não, isso não funciona assim. Vais ter de escolher.” Camila: “Escolher entre o quê?” Pedro: “Escolher entre mim ou ires.” Camila não responde. Pedro: “Sabes que não responder também é resposta.” Pedro vai embora. Cena XX Narrador: “Não podia deixar que fosse ele a impedir-me de realizar os meus sonhos, tal como eu nunca o impediria de realizar os seus.” Camila faz a mala. Cena XXI Narrador: “Acho que chega a uma certa altura que, por mais que ames alguém tens de entender que para essa pessoa ser feliz tens de a deixar ir e foi isso que ele fez. Foi isso que ambos fizemos.” Pedro bate à porta. Camila abre e Pedro abraça-a. Cena XXII Narrador: “Espero que tenhas encontrado dentro de ti a capacidade para o deixar ir, como eu vos deixei a vocês. Espero que tenhas sido capaz de lhe dizer adeus, como eu nunca tive coragem de fazer convosco. Não é por o deixares ir e encontrares a tua paz e o teu caminho, na sua morte, que deixas de o adorar como sempre fizeste.” Madalena chora na varanda. Pedro e Teresa consolam Madalena num banco. Madalena visita o cemitério onde está o seu irmão falecido. 30
Cena XXIII Narrador: “Posso ter-vos deixado para trás, mas quero que saibam, especialmente que tu saibas que vos trago sempre comigo, independentemente de onde estiver.” Camila põe a mala no carro. Flashback com cenas das personagens a divertirem-se. Carro de Camila segue em direção ao horizonte enquanto a câmara inclina para cima. Narrador: “Precisava simplesmente de voltar à estaca zero.” Entram os créditos.
Apêndice 2 – Tabela com nomes das músicas Minuto da curta
Música
Artista
00:00 / 02:19
Into Infinity
Adam Taylor
02:19 / 04:33
Genesis
Vision
04:56 / 08:40
B a noBody
SOAK
08:40 / 10:00
Amália
Conan Osíris
Apêndice 3 – Tabela com as funções do relatório Alexandre Cruz
Simbologia, espaço, tempo, pré-produção
Ana Carolina Epifânio
Formatação, índice, introdução, pathos, logos, conclusão
Cláudio Nogueira
Personagens, produção
Inês Castro e Barôa
Capa, storyline, ideia, pequena sinopse, pósprodução
ethos,
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Maria Inês Fragoso
Ação, narrador, diálogos
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