Seminário - A crise migratória europeia

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A Crise Migratória Europeia Os efeitos do fotojornalismo na opinião do público jovem e idoso

Inês Castro e Barôa inescastrobaroa@gmail.com Orientador: Professor Auxiliar Convidado António Vilela Projeto Julho 2019 – Ano letivo 2018/2019


Imagem de capa retirada do website da Reuters, obtida no dia 4 de novembro de 2018, disponível em: https://s2.reutersmedia.net/resources/r/?m=02&d=20161012&t=2&i=1157185126&w=520&fh=&fw=&ll=&pl=&sq= &r=2016-10-12T155507Z_4314_LR2EB970JQ9TY_RTRMADP_0_EUROPE-MIGRANTS-GREECE

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Resumo No ano de 2015 houve um aumento significativo das entradas de migrantes, quer a nível legal ou ilegal, na Europa. A crise migratória europeia atingiu o seu pico nos meses de agosto, setembro, novembro e dezembro de 2015 e com a publicação da fotografia de Aylan Kurdi os media atingiram também o seu pico de notícias acerca deste assunto. Este trabalho é realizado com o objetivo de descobrir se fotografias publicadas em jornais podem ter influência nas opiniões das pessoas acerca de um determinado tema. Através de uma metodologia mista, realizando análise de conteúdo quantitativa, análise semiótica e quatro focus group conseguiu concluir-se que as imagens publicadas na imprensa podem ter influência na formação ou alteração de opiniões já existentes acerca de um determinado tema. Palavras-chave: fotojornalismo, crise migratória, europa, crise de refugiados, representações mediáticas

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Abstract In 2015 there was a significant increase in the number of migrants, legally and ilegally, in Europe. The migration crisis reached its peak during the months of august, september, november and december of 2015 and, through the picture of Aylan Kurdi, media also reached its news peak about this subject. This paper was done with the purpose of finding out if the pictures published in newspapers could have influenced the opinions of people about a certain topic. Through a mixed methodology, by applying a quantitative content analysis, a semiotic analysis and four focus groups, it's possible to conclude that the images published in the press may have influenced the making of and changing of opinions that already existed about a certain topic. Key-Words: photojournalism, migratory crisis, Europe, refugee crisis, mediatic representation

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Índice Introdução ............................................................................................................ 7 1.

Enquadramento teórico................................................................................ 9 1.1

Encoding-decoding............................................................................... 9

1.2 A fotografia como influência social ....................................................... 10 1.3 1.3.1

A Crise migratória ............................................................................ 12 A crise migratória europeia.......................................................... 14

2.

Nota Metodológica ..................................................................................... 15

3.

Apresentação de resultados ........................................................................ 19 3.1 Análise de Conteúdo ............................................................................... 20 3.2 Análise semiológica ................................................................................. 24 3.3

4.

Focus Group ...................................................................................... 24

Discussão de resultados ............................................................................. 29

Conclusões .......................................................................................................... 30 Referências bibliográficas.................................................................................. 33 Anexos................................................................................................................. 36 Figura 1. Chegadas por mês à Europa no ano de 2015.............................. 36 Figura 2. Fatalidades por mês no ano de 2015 ........................................... 36 Figura 3. Percentagem da utilização do computador por faixa etária ..... 37 Figura 4. Percentagem de utilização da internet por faixa etária ............ 37 Figura 5. Mortes por rota ............................................................................. 38 Figura 6. Pedidos de refúgio nos 28 países membros da União Europeia ...... 38 Figura 7. Percentagem de consumo de jornais impressos ......................... 39 Figura 8. Percentagem de consumo de jornais online ............................... 39 Figura 9. Primeiras e segundas fontes noticiosas mais importantes ........ 40 Figura 10. Recursos utilizados na consulta de notícias .............................. 41 Figura 11. Fotografia número 1 ................................................................... 41 4


Figura 12. Fotografia número 2 ................................................................... 42 Figura 13. Fotografia número 3 ................................................................... 43 Figura 14. Fotografia número 4 ................................................................... 43 Figura 15. Fotografia número 5 ................................................................... 44 Figura 16. Fotografia número 6 ................................................................... 45 Figura 17. Fotografia número 7 ................................................................... 45 Figura 18. Fotografia número 8 ................................................................... 46 Figura 19. Fotografia número 9 ................................................................... 47 Figura 20. Fotografia número 10 ................................................................. 47 Figura 21. Fotografia número 11 ................................................................. 48 Figura 22. Fotografia número 12 ................................................................. 49 Figura 23. Fotografia número 13 ................................................................. 50 Figura 24. Fotografia número 14 ................................................................. 51 Figura 25. Fotografia número 15 ................................................................. 52 Figura 26. Fotografia número 16 ................................................................. 53 Figura 27. Fotografia número 17 ................................................................. 53 Figura 28. Fotografia número 18 ................................................................. 54 Figura 29. Fotografia número 19 ................................................................. 55 Figura 30. Fotografia número 20 ................................................................. 56 Apêndices ............................................................................................................ 56 Figura 31. Matriz análise de conteúdo ........................................................ 56 Gráfico 1. Variável “mês” ............................................................................ 57 Gráfico 2. Variável “órgão de comunicação social”................................... 58 Gráfico 3. Variável “palavra chave” ........................................................... 58 Gráfico 4. Variável “fotografia” .................................................................. 58 Gráfico 5. Variável “género jornalístico” ................................................... 59

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Gráfico 6. Variável “secção” ........................................................................ 59 Gráfico 8. Variável “repetição” ................................................................... 60 Gráfico 9. Variável “protagonismo” ........................................................... 60 Gráfico 10. Cruzamento “órgão de comunicação social” e “fotografia” . 61 Gráfico 11. Cruzamento “órgão de comunicação social” e “palavra chave” ......................................................................................................................... 61 Gráfico 12. Cruzamento “órgão de comunicação social” e “protagonismo” ......................................................................................................... 62 Apêndice 1. Análise semiológica das fotografias ........................................ 62 Apêndice 2.. Transcrição dos focus group ................................................... 73

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Introdução De acordo com os dados estatísticos da Organização Internacional para as Migrações (OIM) (2019) (figura 1, anexos), 2015 foi o ano em que mais se registaram entradas de migrantes, tanto legais como ilegais, em território europeu. Estes migrantes, que se podem distinguir em vários, sendo os principais refugiados ou requerentes de asilo nos países europeus, viram-se forçados a imigrar devido a condições económicas, bem como devido à existência de conflitos armados. As suas travessias são, muitas vezes, feitas de forma ilegal e em barcos sem condições resultando num grande número de fatalidades. De acordo com dados estatísticos da OIM (2019), no ano de 2015, mais de um milhão de migrantes deram entrada na europa, quer de forma legal ou ilegal, e aproximadamente 8 mil perderam as suas vidas a tentar fazê-lo (figura 2, anexos). Desde o início de 2011, aquando o início da crise migratória tangente à Guerra Civil na Síria, que o assunto tem sido altamente mediatizado, tanto a nível noticioso, como a nível fotográfico, sendo nesta última forma de cobertura noticiosa que este trabalho se vai centrar. Em Portugal, e de acordo com dados estatísticos do POR DATA (2018), o público com mais acesso a computadores e internet, bem como o público que mais usufrui destes, corresponde aos indivíduos com idades compreendidas entre os 16 e os 24 anos, tendo então sido estes os escolhidos para este projeto devido ao acesso facilitado que têm às novas tecnologias de informação. Como forma de estabelecer comparação entre o público com mais facilidade de acesso à informação, e um público com menor facilidade de acesso a estas ou menos familiaridade até, escolheu-se analisar também o público idoso, com idades compreendidas entre os 65 e 74 anos que, de acordo com os mesmos dados estatísticos anteriormente mencionados, são o público que menos utiliza computadores e internet. O objetivo do presente estudo prende-se então na compreensão que os efeitos do fotojornalismo possam ter na opinião do público jovem e idoso português relativamente à crise migratória europeia, sendo estes o público com maior e menor níveis de acesso à internet e utilização de computadores.

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A execução deste projeto assenta numa metodologia mista, procedendo-se à realização de análise de conteúdo aos websites de dois órgãos de comunicação social portugueses, o Correio da Manhã e o Público, com incidência os últimos quatro meses do ano de 2015. As fotos selecionadas após a realização da análise de conteúdo serão posteriormente submetidas a uma análise semiótica por forma a entender os seus significados manifestos e latentes. Para terminar o estudo, e concluir os possíveis efeitos das fotografias, publicadas na imprensa portuguesa, nos públicos escolhidos, serão relacionados vários focus group com indivíduos das faixas etárias selecionadas. Contudo, as metodologias do trabalho serão abordadas de forma mais extensa, no capítulo 2 referente às opções metodológicas. A escolha do tema justifica-se com, para além da ordem de atualidade do tema, o interesse da autora pela problemática da crise e pela curiosidade da mesma em perceber quais as opiniões de pessoas das duas faixas etárias acima referidas, visto que se tratam de duas faixas que cresceram em épocas completamente distintas e, normalmente, terão opiniões diferentes acerca da temática, bem como reações diferentes às fotografias apresentadas. A contribuição deste projeto para a área das ciências da comunicação assenta na compreensão e interpretação dos efeitos que os media, nomeadamente os jornais, podem ter na formação de opiniões d os indivíduos que consomem este tipo de conteúdo. O estudo em questão irá, portanto, assentar na teoria proposta por Stuart Hall, encoding – decoding. Relativamente à estrutura do trabalho, este encontra-se dividido em três partes, realizadas em duas etapas de desenvolvimento diferentes. Na primeira etapa, o trabalho encontra-se dividido em dois pontos, a introdução e a nota metodológica, com consequente explicação realizada através da revisão de literatura, constituindo esta o enquadramento teórico. Na segunda etapa de trabalho, serão adicionados, ao presente trabalho, dois novos pontos referentes à análise dos resultados obtidos através da execução das metodologias escolhidas e à discussão, após cruzamento, desses mesmos resultados.

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1. Enquadramento teórico 1.1 Encoding-decoding Esta teoria foi proposta por Stuart Hall e, de acordo com Castleberry (n.d), surge como uma “mudança de paradigma”, no que toca às teorias da comunicação de massas. Previamente à teoria de Hall a comunicação era vista, tradicionalmente, como um ciclo linear entre o emissor, a mensagem e o recetor (During, n.d), contudo esta visão linear da comunicação foi criticada por diversos motivos, sendo um deles a sua linearidade, pelo seu foco no nível da troca de mensagem e pela falta de uma “conceção estruturada dos diferentes momentos como uma estrutura de relações” (p.91). Hall propõe então um modelo composto por quatro fases. Produção, circulação, uso (consumo/entendimento) e reprodução. A vantagem desta teoria, relativamente às que teriam sido previamente abordadas, é que permite a Hall inserir um paradigma semiológico a uma linha de trabalho sociológica. De acordo com During (n.d), a fase de produção é a que diz respeito à codificação de uma mensagem. É nesta fase que o autor de, por exemplo uma fotografia, vai codificar significados ao seu trabalho tendo em conta a opinião dominante na sociedade. Ou seja, o emissor codifica a opinião da maioria. Já a fase de circulação diz respeito à forma como as mensagens vão ser transmitidas, no caso do exemplo referido anteriormente diria respeito à forma como a imagem é partilhada, sendo que isto pode influenciar a forma como a audiência recebe a mensagem e o partido que tira da mesma. A terceira fase, de uso, faz referência à parte de descodificação da mensagem e para que isto aconteça é necessária uma audiência ativa, sendo que este é um processo complexo. Por último, a fase de reprodução é a reação que a audiência tem à interpretação de uma determinada imagem, ou seja, a audiência vai interpretar a imagem que lhe foi transmitida, tendo em conta os seus ideais e o contexto social em que se insere, e esta interpretação vai fazer com que a audiência tenha uma reação, sendo esta reação a reprodução da mensagem. Tomemos como exemplo uma fotografia, tendo sempre em conta o circuito proposto por Hall. Um fotógrafo capta uma imagem tendo em conta os valores dominantes na sociedade em que se insere, sendo então estes os efeitos latentes à fotografia codificados pelo fotógrafo. Mais tarde, essa fotografia vai ser partilhada e quando chegar ao seu recetor, este vai interpretá-la tendo em conta os seus ideias, crenças e o contexto social, político e económico que se insere. Mediante a sua interpretação, o

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recetor, vai originar uma reação a determinada fotografia. Quando esta reação é gerada o ciclo inicia de novo caso a comunicação tenha sido feita de forma efetiva. Ainda de acordo com During (n.d) cada uma das fases é necessária para a realização da outra, no que toca à sua articulação, sendo que todas as fases são necessárias para que o circuito se complete, no entanto nenhuma das fases é capaz de garantir o cumprimento da fase com que se interliga. Ao nível da interpretação ou descodificação da imagem, Hall, propõe várias posições que During (n.d) apresenta no seu artigo. Existem, portanto, três posições possíveis de adotar face à descodificação de uma mensagem. A posição dominante que é quando o recetor da mensagem a descodifica exatamente como foi codificada, sendo que, neste caso, o recetor da mensagem partilha o ponto de vista dominante na sociedade. Neste caso pode afirmar-se existir uma comunicação transparente. A segunda posição, a negociada, acontece quando o recetor entende a forma como a mensagem foi codificada pelo emissor, contudo não a aceita por completo e acaba por modificá-la um pouco de forma a introduzir-se naquilo em que acredita. Por último, tem-se a posição de oposição, na qual o recetor entende aquilo que o emissor tentou codificar, contudo, graças a contextos diferentes tanto a nível social, económico ou político, acabar por interpretar e descodificar completamente o contrário do que o emissor codificou. 1.2 A fotografia como influência social A fotografia está associada à teoria do positivismo desde o surgimento do fotojornalismo. Porém, com o passar dos anos, a fotografia, passou a ser considerada como um meio de se ter formas mais complexas de visibilidade ao invés de ser vista apenas como um espelho da realidade. (Ramos & Marocco, 2017). O fotojornalismo sofreu várias mutações e passou por vários dilemas, ao longo dos anos, sendo dois dos maiores dilemas o status da fotografia dentro do próprio fotojornalismo e o “fotojornalismo” versus o “fotodocumentalismo”. Ramos & Marocco (2017), apresentam vários prismas ao longo do seu estudo, apoiando-se nas perspetivas de Sousa (1998) e Vilches (1987). Vilches (1987), mencionado no estudo anteriormente referido, defende que é impossível para o fotojornalismo refletir apenas a realidade uma vez que, no ponto de vista deste autor o fotojornalismo serve como uma forma de impressão de realidade, na

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imprensa, sendo que, posteriormente, essa impressão de realidade será vista como a perceção de verdade. Ainda de acordo com Vilches (1987), o fotojornalismo não pode ser visto como nada mais do que um mero produto que obedece a um conjunto de regras. Por sua vez, Sousa (1998), estabelece uma diferença entre o fotojornalismo e o fotodocumentalismo, sendo que define ambos tendo em conta o sentido lato e o sentido estrito. Sousa, diz que o fotojornalismo, no sentido lato, serve para produzir fotografias meramente “informativas, interpretativas, documentais ou ilustrativas” para os media. (Sousa, 1998, p.03, citado em Ramos & Marocco, 2017, p.136). No seu estudo, Sousa (1998), faz referência à diferença entre fotojornalismo e fotodocumentalismo, afirmando que este primeiro tem uma importância momentânea, a nível temporal, enquanto o fotodocumentalismo tende a ser associado a eventos com mais relevância temporal. Não obstante do seu valor temporal, Sousa, atribui ainda ao fotojornalismo um valor jornalístico, sendo que este está associado às notícias. Relativamente à importância do fotojornalismo, vale a pena referenciar o estudo “The Iconic Image in a Digiral Age” (2017) realizado por Mortensen, Allan & Peters, no qual os autores estudam o caso da fotografia de Aylan Kurdi, o menino sírio de três anos fotografado morto numa praia turca. Embora mais direcionado para o sentido de imagem icónica, este estudo não passa tangente à relevância que a fotografia, nomeadamente a sua utilização para o jornalismo, pode ter para a sociedade. Através do estudo do caso de Alan Kurdi, Allan, Mortensen & Peters (2017), recorrendo à análise da fotografia anteriormente mencionada publicada em diversos jornais a nível mundial, tentam estudar a atribuição do valor icónico às fotografias. Estes defendem que na era em que nos encontramos o jornalismo “parece ser conduzido pelas prioridades visuais” (Mortensen, Allan & Peters, 2017, p.71). A foto de Aylan, tirada pela fotojornalista Nilüfan Demir, em 2015, tornou-se viral rapidamente através das plataformas de redes sociais online twitter, facebook e youtube. De acordo Mortensen, Allan & Peters (2017) as fotografias foram proclamadas como “icónicas”, “um ponto de viragem” e “o culminar da crise de refugiados” (p.72). Ainda na mesma linha de pensamento os autores defendem que, embora tenha sido atribuída uma extensa cobertura jornalística, na qual também constava cobertura fotográfica, à guerra civil na Síria e a sua consequente crise de refugiados, foi apenas com a foto de

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Aylan, morto na praia, que a atenção pública, jornalística e política convergiu “à escala global” para o problema em questão. Mortensen, Allan & Peters (2017), socorrendo-se da análise aos comentários da publicação da fotografia de Aylan nos diversos jornais estudados, concluíram que a “natureza chocante desta imagem permite ao público entender a importância do problema retratado pela fotografia” (p.79). de-Andrés, Nos-Aldás & García-Matilla (2015), concordam com esta proposta acrescentando que a imagem de Aylan “agiu como uma imagem gatilho” [tradução livre] (de-Andrés, Nos-Aldás & García-Matilla, 2015, p.30), desencadeando assim várias respostas, tanto a nível dos media, como a nível institucional. Na conclusão do seu estudo de-Andrés, Nos-Aldás & García-Matilla (2015), referem que a fotografia de Ayaln é o e exemplo de como uma imagem se pode tornar num símbolo de um problema social, sendo que Zhang & Hellmueller (2017), referem no seu artigo que esta fotografia desencadeou uma onde de ultraje a nível mundial. Yeung e Lenette (2018), servindo-se da análise de fotografias dos Rohingya na crise da Baía do Benegal, em 2015, conseguiu concluir que é mais fácil uma fotografia sensibilizar os seus consumidores para uma causa social, caso estes consumidores já possuam alguma sensibilização para a causa em questão. Apesar disto, as pessoas mesmo sem essa consciencialização continuam suscetíveis a que as fotografias mudem as suas opiniões, uma vez que os fotógrafos têm o poder de persuadir as audiências através das mesmas. (Yeung e Lenette, 2018). 1.3 A Crise migratória Previamente à abordagem da crise migratória tratada neste estudo, torna-se pertinente, para uma maior compreensão do tema em questão, fazer uma leve abordagem do que é uma crise migratória e uma retrospetiva da migração na Europa. Pode entender-se como uma crise migratória um aumento significante na entrada de migrantes num determinado território, sendo que esta entrada pode não ser premeditada, mas sim forçada, por vezes, por uma crise humanitária. Pode definir-se como crise humanitária uma “situação na qual existe uma ameaça à vida, segurança física, saúde, ou subsistência básica” que ultrapassa as capacidades que um indivíduo, ou a comunidade em que este se insere, tem de lidar com essa ameaça. (Martin, Weerasinghe & Taylor, 2013, p.1).

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Huysmans (2000), no seu estudo, defende que a imigração nos anos 50 e 60 era feita, para a Europa, com o objetivo de reforçar a mão de obra existente nos países da Europa Ocidental, uma vez que a situação económica e o mercado de trabalho exigiam uma mão de obra mais flexível e barata, que não poderia ser encontrada nestes países. Ainda no mesmo estudo, Husymans (2000) refere que o clima pós-guerra que se vivenciava na Europa, na altura em questão, não permitia que houvesse uma especial sensibilidade no que diz respeito a políticas de migração, sendo que o estatuto legal de um imigrante não fazia parte das preocupações dos países que os recebiam e “a sua ilegalidade contribuía para os tornar ainda mais flexíveis e fáceis de explorar” [tradução livre] (Marie, 1998, citada em Huysmans, 2000, p.754). De acordo com Fielding (1993) citada em (Huysmans), 2000, no final dos anos 60 e 70 houve uma mudança da política de imigração permissiva, que dominou durante os anos anteriormente referidos, para uma política restritiva e mais controlada. Esta mudança foi motivada pelo aumenta da preocupação pública relativamente à imigração. No seu artigo Husymans (2000) refere ainda que foi apenas a partir dos anos 80 que os debates políticos acerca da necessidade da regularização das migrações começaram a aumentar, sendo que era discutida frequentemente a manutenção da estabilidade existente nos países de destino para a imigração. As políticas de imigração surgiram como forma de resposta ao problema da imigração descontrolada e ilegal e ainda, como forma de proteger o país recetor, a sociedade que nele habitava e o mercado interno, perante a imigração descontrolada. De acordo com da Costa Júnior, C.N. (2016) hoje em dia, e à semelhança daquilo que se começou a perceber nos anos 80, o fluxo migratório oriundo de países com menor nível de desenvolvimento, para países mais desenvolvidos, relativamente ao país de origem dos migrantes, tem desencadeado conflitos tanto a nível político como a nível económico. Este fluxo migratório pode ser explicado através da teoria dos sistemas migratórios, apresentada no artigo de Costa Júnior, C.N.. Esta teoria consiste na existência de “sistemas migratórios compostos de um conjunto de países emissores conectados a um conjunto de países recetores” (da Costa Júnior, C.N., 2016, p.22), sistemas estes que podem ser alterados, ou até mesmo extintos, caso exista uma mudança dos fatores sociais e económicos de um dos países intervenientes na migração.

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Existem diversas razões pelas quais um indivíduo decide imigrar, podendo estas ser de cariz social ou económico. Muitos migrantes decidem abandonar o seu país de origem em busca de melhores condições de vida, outros devido a conflitos armados e guerras e existe ainda um terceiro tipo que decide imigrar devido à existência de ambos os fatores já referenciados. 1.3.1

A crise migratória europeia

Os migrantes que chegam à Europa são oriundos, especialmente, do Norte de África e do Médio Oriente e, de acordo com o artigo de da Costa Júnior (2016), existem vários fatores apelativos na Europa que pesam aquando a tomada de decisão de imigrar para este continente, sendo que o principal fator é a proximidade geográfica, segue-se-lhe a estabilidade económica de alguns dos países europeus, sendo estes os mais desejados pelos migrantes. O estudo de da Costa Júnior (2016) pode ser complementado com o relatório realizado por Georgiou & Zabrowski (2017), para o Conselho Europeu, no qual afirmam que durante o pico de migrantes de 2015, as duas maiores razões para a migração eram a pobreza e a guerra. Existem duas formas de chegar à Europa. Por via terrestre ou por via marítima. O website do Conselho da União Europeia considera duas rotas, a rota do Mediterrâneo Central, a que consideram ser a mais utilizada, e a rota do Mediterrâneo Oriental. Contudo, e embora menos utilizada e falada, existe ainda a rota do Mediterrâneo Ocidental e a rota feita através da travessia dos países Balcãs. A rota do Mediterrâneo Central consiste na travessia marítima entre o norte de África, com partidas especialmente a partir da Líbia e da Tunísia, para as ilhas gregas e italianas. A rota do Mediterrâneo Oriental é também feita por via marítima e estabelece-se entre a Turquia e a Grécia. A última rota marítima é realizada entre Marrocos e a costa espanhola e é conhecida como a rota do Mediterrâneo Ocidental. A rota mais mortífera, nos anos de 2015 e 2016, de acordo com a Organização Internacional para Migrações (OIM) (2019), é a rota do Mediterrâneo Central, seguida pela rota do Mediterrâneo Oriental e, por último, a rota do Mediterrâneo Ocidental. (ver figura 5, anexos). O ano de 2015 foi o que mais registou pedidos de asilo nos 28 Estados Membros da União Europeia (figura 6, anexos), de acordo com o Eurostat (2018). Segundo dados estatísticos da Organização Internacional para Migrações (OIM) (2019), em 2015, os

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meses que registaram mais chegadas foram o mês de outubro, em primeiro lugar com a chegada de 220 579 migrantes, setembro, em segundo, com um registo de 163 561 migrantes e, em terceiro lugar, o mês de novembro com 154 468 chegadas registadas. Por sua vez, janeiro, fevereiro e março, foram os três meses com menos chegadas registadas (ver figura 1, anexos). Relativamente a fatalidades, no ano de 2015, os três meses com mais fatalidades registadas foram, por ordem decrescente, abril, agosto e outubro. (ver figura 2, anexos). É de atentar que os dados estatísticos da Organização Internacional para Migrações (2019), anteriormente apresentados, fazem referência a todos os tipos de migrantes, sendo que estes se podem dividir, segundo o dossiê de migração e asilo apresentado pelo serviço de pesquisa do Parlamento Europeu, em requerentes de asilo, refugiados, beneficiários de proteção subsidiaria, imigrante irregular e imigrante legal. De forma sintetizada, e de acordo com o dossiê anteriormente referido, um requerente de asilo é um indivíduo que pede ajuda internacional devido ao risco de perseguição no seu país. Um refugiado é um indivíduo que foi reconhecido como alguém em necessidade de proteção internacional, de acordo com o serviço de pesquisa do Parlamento Europeu (n.d). Por sua vez, um beneficiário de proteção subsidiária é alguém que não se qualifica como refugiado, de acordo com a Convenção de Refugiados de Genebra1, mas estaria em perigo caso voltasse ao seu país. Um imigrante irregular é alguém, proveniente de um país que não europeu, que não reúne as condições necessárias para permanência. Por último, um imigrante legal é um indivíduo a quem foi conferida a legalidade para permanência na União Europeia. 2.

Nota Metodológica

A corrente investigação tem por objetivo entender os efeitos que o fotojornalismo, publicado no Correio da Manhã e no Público, podem ter na opinião acerca dos migrantes e da respetiva crise. Para efeitos da investigação, serão apenas estudados o público jovem e idoso, por forma a mais tarde se estabelecer um ponto de comparação entre as opiniões de ambos os públicos. Nesta perspetiva, a autora definiu a seguinte pergunta de partida:

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Convenção de Genebra de 1951 – foi aprovada numa conferência especial da Organização das Nações Unidas, em 1951, e define o que é um refugiado bem como os seus direitos e responsabilidades dos Estados que assinaram a convenção. Nesta convenção está ainda expressa a responsabilidade que o Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados tem em zelar o cumprimento de tais direitos e responsabilidades. ACNUR, (n.d).

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quais são os efeitos do fotojornalismo, acerca da crise migratória europeia, publicado no Correio da Manhã e no Público, no público jovem e idoso? Desta forma e para se obter resposta à pergunta anteriormente apresentada, foram fixados três objetivos específicos: 1. Analisar quantitativamente o fotojornalismo publicado no Correio da Manhã e no Público, referente à crise migratória. 2. Identificar os significados manifestos e latentes das fotos a respeito da crise migratória, publicadas no Correio da Manhã e no Público. 3. Perceber se o fotojornalismo do Correio da Manhã e do Público influencia de forma negativa ou positiva a opinião dos jovens e idosos portugueses. Definiu-se como janela temporal de análise os últimos quatro meses de 2015, uma vez que, de acordo com as estatísticas disponibilizadas pelo Eurostat (2018), este foi o ano com maior pico de pedidos de refúgio na Europa (ver figura 5, anexos). Para além disto foram ainda escolhidos estes quatro meses uma vez que de acordo com as estatísticas “Arrivals by Month” disponibilizadas pelo site Missing Migrants, em 2018, da Organização Internacional para as Migrações (ver figura 1, anexos), setembro, outubro e novembro foram os três meses, de 2015, com mais chegadas de migrantes registados, sendo que dezembro vem em quinto lugar antecedido pelo mês de agosto. No que diz respeito a meios para análise foram escolhidos dois dos órgãos de comunicação social nacionais, o Correio da Manhã e o PÚBLICO. A escolha do Correio da Manhã prendeu-se pelo facto de, segundo o estudo realizado pela Entidade Reguladora da Comunicação Social, em 2015, (ver figuras 7 e 8, anexos), este ser o segundo jornal nacional mais consumido, tanto a nível impresso como online. Por sua vez, o PÚBLICO, foi selecionado pela audiência a nível nacional, nos anos escolhidos para análise, tendo sido o quarto jornal mais consumido em 2015, de acordo com o estudo realizado pela Entidade Reguladora da Comunicação Social (ver figuras 7 e 8, anexos) e, foi ainda escolhido devido à importância que o mesmo atribui à fotografia, comprovado pelo Livro de Estilo do mesmo (edição de fevereiro de 1998): O PÚBLICO atribui à fotografia uma importância fundamental na definição do estilo informativo e gráfico do jornal. Nesse contexto, fotografia e texto estabelecem 16


uma relação dinâmica permanente e intensa. Por isso, a fotografia não é, para o PÚBLICO, um género menor ou um mero suporte ilustrativo, mas um contraponto informativo e dramático do texto. Embora as estatísticas recolhidas no estudo Públicos e Consumos de Media, realizado pela Entidade Reguladora da Comunicação Social (ERC) em 2015, apontem que os órgãos de comunicação social escolhidos sejam mais consumidos no seu formato impresso, a autora optou por fazer a recolha de dados apenas nos website dos jornais escolhidos, visto que os conteúdos apresentados online “ainda são os mesmos das versões escritas dos jornais, mas a informação é apresentada num layout próprio” (Canavilhas, 2015, p.1). Ainda no estudo realizado pela ERC (2015), são apresentadas estatísticas indicativas de que tanto a versão impressa dos jornais, como a versão online dos mesmos, têm a mesma relevância enquanto primeira fonte de informação dos consumidores portugueses (ver figura 9, anexos), sendo esta a outra razão pela qual a autora decidiu realizar a recolha de dados somente nos websites. Neste mesmo estudo está presente uma estatística que indica que a preferência portuguesa, no que concerne aos recursos utilizados para a consulta noticiosa, reside nos jornais impressos em detrimento das versões online dos mesmos (ver figura 10, anexos), contudo a percentagem apresenta é de apenas 11%, sendo esta considerada, pela autora, como de menor relevância para a escolha de como será efetuada a recolha de dados. O público alvo deste estudo, como já referido, restringe-se aos jovens (16-24) e idosos (65-74) residentes em Portugal. Para além de se restringir apenas a residentes de Portugal, a autora optou ainda por afunilar a pesquisa ao concelho de Almodôvar, no Distrito de Beja, e ao concelho de Lisboa, Distrito de Lisboa. Os concelhos anteriormente citados foram escolhidos, uma vez que, fazem referência, respetivamente, aos concelhos de anterior residência e atual residência da autora. Foram escolhidas estas faixas etárias porque, segundo os dados estatísticos recolhidos do website POR DATA (ver figuras 3 e 4, anexos), referentes ao ano de 2015, a faixa etária dos 16 aos 24 anos é a que mais utiliza o computador e a internet, já a faixa dos 65 aos 74 é a que menos utiliza o computador e a internet. Estas percentagens de utilização podiam ser fator decisor no que toca à escolha da recolha de dados feita online contudo, e como já referido, ao abrigo de Canavilhas (2015), os conteúdos online são semelhantes aos impressos.

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Para tornar a resposta à pergunta de partida plausível optou-se pela utilização de uma abordagem metodológica mista que, de acordo com Bryman (2012, p.628), integra tanto a análise quantitativa, como a qualitativa, num só estudo, combinando “as vantagens de ambos” (Remler & Ryzin, 2015, citado em Espírito Santo, P, 2015, p.34). As técnicas escolhidas para este estudo foram a análise semiológica, a análise de conteúdo e o focus group. No que diz respeito ao primeiro objetivo estabelecido, analisar quantitativamente o fotojornalismo presente na imprensa portuguesa, decidiu recorrer-se à utilização de métodos quantitativos uma vez que estes “são mais representativos e confiáveis do que os qualitativos” (Espírito Santo, P. ,2015, p.34). A técnica utilizada para a satisfação deste objetivo é a análise de conteúdo que, segundo Nuendorf (2002) é, talvez, a técnica da análise quantitativa com crescimento mais rápido. De acordo com Bryman (2012) a vantagem da análise de conteúdo é que esta consiste num método bastante transparente e flexível, sendo assim possível aplicar a um vasto conjunto de temáticas. De acordo com Nuendorf (2002) a análise de conteúdo pode ser classificada como a análise objetiva, descritiva e quantitativa das características de uma mensagem. Tornase então pertinente a utilização da análise de conteúdo para o segundo objetivo, uma vez que, esta nos permite recolher, quantificar e sistematizar as fotografias publicadas tanto na imprensa nacional como no World Press Photo. Uma vez que a análise semiológica fornece ao analista um conjunto de ferramentas que lhe permite perceber, através da aproximação com sistemas de signos, como os mesmos produzem significado (Bauer & Gaskell, 2000, p.227), esta foi utilizada para o cumprimento do segundo objetivo. O objetivo por trás da identificação dos significados manifestos e latentes das fotografias é entender que sensações estas podem provocar nos seus observadores e, desta forma, identificar possíveis reações às fotografias. Tornou-se essencial separar a análise semiológica da qualitativa, que será posteriormente abordada, uma vez que ao abrigo de Espírito Santo, P. (2015), a semiologia é uma ciência que, embora utilize abordagens qualitativas, deriva essencialmente dos estudos linguísticos.

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Para a realização do terceiro objetivo a autora decidiu recorrer aos métodos qualitativos uma vez que, segundo Espírito Santo, P. (2015, p.27), “na área das ciências sociais são direcionados para procedimentos centrados na investigação em profundidade”. O terceiro objetivo compreende entender a influência positiva ou negativa, que o fotojornalismo poderá ter nas opiniões do público alvo do estudo, no que diz respeito aos migrantes. Como tal, decidiu recorrer-se ao focus group, definido por Bryman (2012) como uma técnica que envolve um grupo de pelo menos quatro pessoas, por forma a desenvolver e discutir em profundidade o tema definido. Desta forma, irão ser entrevistados entre 5 a 8 indivíduos de cada uma das faixas etárias e freguesias selecionadas. Para a realização desta entrevista os constituintes do grupo serão avisados acerca das datas e horas, previamente estabelecidas, bem como informados acerca da temática. No decorrer da entrevista serão então mostradas as fotografias selecionadas pela autora e feitas algumas questões que permitam o cumprimento do objetivo. É ainda objetivo da autora distribuir um questionário, aquando do fim da reunião, para sistematizar as opiniões dos participantes acerca da temática em discussão. Por forma a desenvolver o enquadramento teórico, o qual sustenta teoricamente o presente estudo, foi realizada ainda uma pesquisa de artigos científicos e livros referentes à crise migratória na Europa e ao fotojornalismo. Esta informação foi recolhida e analisada para dar resposta aos objetivos previamente estabelecidos. 3. Apresentação de resultados

A componente prática do presente trabalho foi dividida em três fases distintas. A primeira fase consistiu na análise de conteúdo a peças noticiosas dos órgãos de comunicação social, Correio da Manhã e Público, que se inserissem nas três palavras chave definidas previamente pela autora, sendo estas “refugiado”, “migrante” e “crise migratória”. A pesquisa destes artigos foi efetuada através dos arquivos de cada um dos websites dos órgãos de comunicação social escolhidos, no período de tempo compreendido entre setembro de 2015 e dezembro desse mesmo ano. A análise dos artigos recolhidos realizou-se no programa IBM SPSS Statistics 25, sendo que, para proceder à exploração das variáveis, pertinentes ao estudo, encontradas nas peças noticiosas, a autora recorreu a um manual de codificação de elaboração própria (figura 1, apêndice).

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Posteriormente à análise de conteúdo, procedeu-se à seleção de 10 fotografias, presentes nas peças noticiosas já analisadas, de cada um dos órgãos de comunicação social selecionados. Esta seleção foi feita tendo em conta a presença de crianças nas fotos ou não, critério escolhido pela autora, uma vez que de acordo com Tsuroyya et al (2018) as crianças são consideradas objetos de fotografia muito vulneráveis, mas em contrapartida são as mais utilizadas parar gerar emoções. Após esta seleção a autora realizou uma análise semiológica a cada uma das 20 fotografias (figuras 11 a 30 anexos), por forma a satisfazer o segundo objetivo do estudo. Para complementar os dois primeiros objetivos da investigação, mencionados na nota metodológica, e satisfazer o terceiro a autora realizou ainda quatro focus group. 3.1 Análise de Conteúdo Por forma a reunir todas as peças noticiosas relevantes para o presente estudo a autora recorreu à técnica de clipping, sendo que este teve incidência sobre os meses de setembro, outubro, novembro e dezembro de 2015. Foram consultadas e analisadas um total de 867 peças noticiosas, 450 que dizem respeito ao Público e 417 que dizem respeito ao Correio da Manhã. A autora selecionou este período temporal, uma vez que de acordo com as estatísticas “Arrivals by Month” disponibilizadas pelo site Missing Migrants, em 2019, da Organização Internacional para as Migrações (ver figura 1, anexos), setembro, outubro e novembro foram os três meses, de 2015, com mais chegadas de migrantes registados, sendo que dezembro vem em quinto lugar antecedido pelo mês de agosto. A razão pela qual se escolheu dezembro em detrimento de agosto deveu-se ao facto da atora querer estudar o período de tempo pós fotografia de Aylan Kurdi, o menino morto na praia, sendo que essa fotografia data a setembro de 2015. A análise de conteúdo foi realizada tendo em conta a matriz desenvolvida pela autora (figura 1, apêndices) e com o objetivo de satisfazer o primeiro objetivo de estudo, analisar quantitativamente o fotojornalismo publicado nos jornais Correio da Manhã e Público referente à crise migratória europeia, referido previamente na nota metodológica. As variáveis escolhidas para a análise de conteúdo são as variáveis “mês”, “órgão de comunicação social”, “palavra chave”, “fotografia”, “género jornalístico”, “espaço”, “secção” e “repetição”. Por sua vez, foram também feitos dois cruzamentos sendo o

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primeiro entre as variáveis “órgão de comunicação social” e “fotografia” e “órgão de comunicação social” e “palavra chave”. A escolha de análise destas variáveis prende-se pela sua pertinência para o atual estudo. O gráfico um (gráfico 1, apêndices), relativo à variável mês, torna-se pertinente para este estudo por forma a entender qual dos meses analisados registou mais notícias. Setembro foi o mês que registou uma maior cobertura noticiosa, tendo sido analisadas 339 peças noticiosas referentes a este mês de ambos os órgãos de comunicação social selecionados para o estudo. Seguem-se outubro, com 201 peças jornalísticas, novembro, com 189 e dezembro com 138. Numa primeira análise dos dados obtidos à análise da variável “órgão de comunicação social” (gráfico 2, apêndices) pode afirmar-se que no período de tempo em estudo, de setembro a dezembro de 2015, o órgão de comunicação social com mais peças jornalísticas publicadas foi o Público, com um total de 450 peças jornalísticas, em comparação com as 417 que o Correio da Manhã publicou. É de atentar, mais uma vez, que esta recolha de peças jornalísticas foi feita apenas nas plataformas online. A variável “palavra chave” (gráfico 3, apêndices) permitiu avaliar quantas peças jornalísticas foram registadas sob as palavras “refugiado”, “migrante” e “crise migratória”, sendo que a palavra que registou uma maior cobertura noticiosa foi a palavra “refugiado”, com um total de 475 peças jornalísticas, por sua vez, “migrante” registou um total de 294 e “crise migratória” ficou com um total de 98 peças jornalísticas. A variável “fotografia” (gráfico 4, apêndices) permite à autora perceber que tipo de fotografia está presente em cada peça noticiosa, sendo que esta variável tinha disponíveis as categorias “sim, explícita”, no caso de uma fotografia percetível, “sim, não explícita”, caso tivesse fotografia mas não fosse possível compreender o que está na mesma, “não”, caso não tivesse fotografia, “não, tem vídeo”, caso a peça noticiosa tivesse apenas um vídeo e, por último “não, tem infografia”, caso o único elemento multimédia presente na peça noticiosa fosse uma infografia. A categoria com um maior número de peças jornalísticas registadas é a “sim, explícita”, com um total de 772 peças. Segue-se a categoria “não”, com 63 peças registadas, a categoria “sim, não explícita” com 16 peças noticiosas. Por fim, temos a categoria “não, tem vídeo”, com um total de 15 peças noticiosas e a categoria “não, tem infografia”, com apenas uma peça jornalística.

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Numa primeira análise à variável “género jornalístico” (gráfico 5, apêndices) é possível reparar que o género que se sobressai de imediato é a “notícia” com 803 peças registadas, seguem-se a esta, a “opinião”, com 27 peças registadas, a “crónica” com nove peças, o “editorial” com oito, a “entrevista” com seis e a “reportagem” com cinco. Com igualmente duas peças temos a “crítica” e a “fotogaleria”. Com apenas uma peça temos várias categorias, sendo estas a “actualidade”, a “imagem da semana”, a “infografia”, a “palavra da semana” e o “vídeo”. Relativamente ao gráfico da variável “secção” (gráfico 6, apêndices) é possível aferir, de imediato, que as secções com mais peças jornalísticas são o “mundo”, com 588 peças e a “sociedade” com 133. Ainda com números significantes temos as secções “Portugal”, “CM ao Minuto”, “Política”, “P3”, “Desporto” e “Cultura Ípsilon”, com 41, 29, 28, 26, 14 e 11 peças jornalísticas, respetivamente. As restantes categorias registaram um número de peças compreendido entre um e quatro. A variável “espaço” (gráfico 7, apêndices) torna-se pertinente para perceber onde ocorrem os acontecimentos a que as peças noticiosas dizem respeito, sendo que a maior parte das peças, 670, foram registadas no espaço internacional, em comparação com as 197 registadas no espaço nacional. Pode concluir-se então que esta variável está em concordância com a variável “secção” visto que maior parte das notícias que se inserem na secção “mundo” são correspondentes às que se inserem no espaço “internacional”. Relativamente à variável “repetição” (gráfico 8, apêndices) esta diz respeito à quantidade de notícias repetidas encontradas. Esta variável não estava presente na matriz original, contudo, tornou-se pertinente acrescentá-la, uma vez que, ao pesquisar notícias através das várias palavras chave, a autora, reparou numa tendência para a repetição de algumas delas. Tem-se assim um total de 698 peças noticiosas que não se repetiram e um total de 169 peças que se repetiram. O gráfico da variável “protagonismo” (gráfico 9, apêndices) permite à autora avaliar o protagonismo conferido aos migrantes nas fotografias presentes em cada uma das peças noticiosas. Em 1º plano, quando é conferido protagonismo aos migrantes, temos 537 peças noticiosas, sendo que em 2º plano, no qual foram consideradas fotografias que nada estavam relacionadas com o tema em causa, existem 256 peças noticiosas. A última

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opção “não tem”, é relativa às peças noticiosas que não tinham qualquer fotografia e soma um total de 74 peças entre os dois órgãos de comunicação social, Correio da Manhã e Público. O cruzamento do gráfico 10 (gráfico 10, apêndices) torna-se relevante para perceber que órgão de comunicação social publica mais fotografias a acompanhar as suas peças noticiosas. Numa primeira análise ao gráfico de barras do cruzamento, é possível verificar que a opção com mais peças noticiosas de ambos os órgãos de comunicação social é a opção referente à existência de foto explícita, com 368 peças noticiosas do Correio da Manhã e 404 do Público. Relativamente à opção “não”, o Público volta a ter um maior número de peças noticiosas, sendo que tem 38 peças sem fotografia, em comparação com as 25 do Correio da Manhã. Por sua vez, na opção “sim, não explícita”, o Público não possui qualquer peça noticiosa, sendo que as suas fotografias foram sempre consideradas explícitas, ao contrário do Correio da Manhã que apresenta um total de 16 peças noticiosas com fotografias impossíveis de interpretar. O Público é ainda o órgão de comunicação social com mais vídeos e infografias publicados. Para aferir que palavra chave era mais utilizada por cada órgão de comunicação social, a autora realizou o cruzamento entre essas duas variáveis (gráfico 11, apêndices). É possível aferir, de imediato, que a palavra chave mais utilizada por cada um dos órgãos de comunicação social é “refugiado”, sendo que o Público conta com 257 peças noticiosas e o Correio da Manhã com 218. Em segundo lugar segue-se “migrante”, com 150 publicações no Público e 144 no Correio da Manhã. No caso da palavra chave “crise migratória”, já é o Correio da Manhã que apresenta mais peças noticiosas, com um total de 55, em comparação com as 43 do Público. No gráfico 12 (gráfico 12, apêndices), a autora procedeu ao cruzamento entre as variáveis “órgão de comunicação social” e “protagonismo”, de forma a aferir qual dos dois órgãos sociais confere um maior protagonismo nas fotografias ao tema em estudo. Deste modo é possível concluir, através da análise do gráfico de barras, que o Correio da Manhã é o órgão de comunicação social que atribui um maior protagonismo aos migrantes, uma vez que em 1º plano possui 283 peças noticiosas em relação às 251 do Correio da Manhã.

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3.2 Análise semiológica A análise semiológica realizada as 20 fotografias selecionadas para mostrar nos focus group, encontra-se na figura 2 dos apêndices. 3.3 Focus Group Este ponto da investigação tem por objetivo entender qual o efeito que o fotojornalismo, publicado no Correio da Manhã e no Público, pode ter nas opiniões do público alvo, jovens e idosos, do estudo acerca dos migrantes e da sua respetiva crise. A autora convidou 24 participantes, 12 residentes em Almodôvar e 12 residentes em Lisboa, e dividiu-os em quatro grupos de seis indivíduos cada (ver tabela 1, apêndices). Foram então realizados quatro focus group (encontram-se integralmente na figura 3, dos apêndices) em datas e locais distintos, sendo que os focus group correspondentes ao primeiro e segundo grupo foram realizados no concelho de Almodôvar nos dias 25 e 26 de maio e os focus group correspondentes ao terceiro e quarto grupo foram realizados nos dias 27 e 28 de maio, em Lisboa. Cada grupo era constituído por 6 indivíduos, sendo que o primeiro grupo tinha 6 indivíduos com idades compreendidas entre os 19 e os 23 anos. Por sua vez, o segundo grupo tinha também seis constituintes, mas desta vez com idades compreendidas entre os 65 e 73 anos. Todos os constituintes do primeiro e segundo grupo são residentes no concelho de Almodôvar, embora três deles sejam estudantes deslocados noutra região do país. Relativamente ao grupo número três, este é constituído novamente por seis indivíduos, com idades compreendidas entre os 19 e os 23, residentes em Lisboa. O quarto grupo, à semelhança do terceiro, também é constituído por seis indivíduos, residentes em Lisboa, contudo com idades compreendidas entre os 65 e 70 anos. As quatro sessões foram moderadas pela autora do presente estudo, que incentivou à participação honesta. O facto da moderação ter sido realizada pela autora permitiu ainda que existissem momentos de discussão entre os participantes. Os 24 indivíduos responderam a um conjunto de questões propostas pela autora, apresentadas a seguir: - Estão familiarizados com a Crise Migratória Europeia? - Costumam ler notícias?

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- Quando leem notícias recorrem à versão impressa ou online dos jornais? - Ao ler uma notícia atribuem mais importância ao texto ou à fotografia? - Acham que os refugiados são representados de forma correta na imprensa portuguesa? - Qual é a vossa opinião acerca dos refugiados? - Após verem as fotos a vossa opinião alterou ou manteve-se? É de notar que entre a última e a penúltima pergunta a autora mostrou 20 fotografias selecionadas durante a realização da primeira parte da componente prática do presente trabalho. Essas mesmas 20 fotos foram analisadas pela autora na segunda parte da componente prática. Ao mostrar as 20 fotografias a autora do estudo pediu para que os participantes descrevessem aquilo que sentem ao vê-las. No final do focus group os entrevistados responderam a um inquérito, que permitiu à autora consolidar as respostas dadas durante a realização da reunião. •

Informação

Todos os 24 participantes afirmaram estar informados acerca da crise estudada no presente trabalho, contudo ao longo da sessão foi possível notar que alguns dos participantes estavam mais informados do que outros. O participante F, do grupo 1, (correspondente aos jovens de Almodôvar), destacou-se de qualquer outro participante dos quatro grupos, uma vez que contextualizava praticamente sempre as suas respostas com um pouco de informação acerca dos migrantes ou da crise. Relativamente ao consumo noticioso, no grupo um, todos afirmaram consumir notícias, contudo realizando-o apenas nas plataformas online dos jornais e redes sociais dos mesmos. No grupo dois, apenas 4 dos 6 participantes afirmaram ler notícias, contudo apenas um destes quatro, o faz simultaneamente nas plataformas online bem como a nível impresso. Os restantes três indivíduos consomem notícias apenas na sua forma impressa. Já no caso do grupo três, todos os seis participantes consomem notícias, à semelhança do primeiro grupo, sendo que dois dos entrevistados recorrem simultaneamente à versão impressa e à versão online, enquanto os outros quatro participantes utilizam apenas a versão online. Por último, no quarto grupo, todos afirmam ler notícias, pelo qual cinco o

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fazem simultaneamente online e na versão impressa face ao único indivíduo que continua a recorrer apenas à forma impressa do jornal. No que diz respeito à atribuição de importância, se é dada à fotografia ou ao texto que acompanha, os grupos de jovens afirmaram que, por vezes, pode pensar-se que se está a atribuir importância ao texto quando na realidade são as fotografias que chamam à atenção, sendo que sem elas não iriam sequer ler a notícia. Pelo contrário, nos dois grupos de idosos estes referiram que costumam atribuir maior importância ao texto de uma notícia do que à fotografia que integra a mesma. •

Opiniões

Relativamente à opinião acerca da representação dos migrantes na imprensa portuguesa, as opiniões são consensuais no primeiro grupo, enquanto no terceiro já se tendem a dividir, por sua vez no segundo e no quarto grupo os participantes afirmam não ter opinião. No primeiro grupo, três dos participantes afirmam que os migrantes não são bem representados, enquanto os outros três não responderam à questão. Já no grupo três, mais uma vez apenas três dos participantes responderam à pergunta, sendo que o participante F afirma “que não existe tanta discriminação em Portugal, nos media” quando comparado com outros países. Por sua vez o participante B refere achar que o “enfoque é maioritariamente negativo” e o participante A concordou com esta afirmação, acrescentando que “depende” do jornal. Quando questionados acerca da sua própria opinião relativamente ao grupo em estudo neste trabalho, os indivíduos do primeiro grupo tendem a dividir-se em dois subgrupos. O primeiro, constituído pelos indivíduos C, D, E e F, não tem nada contra os refugiados, sendo que o participante E afirma que “eles não sairiam do seu país se não fosse por completa necessidade” e que os devemos ajudar, contudo “tendo sempre em conta as nossas limitações”. O segundo subgrupo, será então constituído pelos indivíduos A e C, que são contra a vinda de refugiados para a Europa, sendo que o indivíduo A acha “que é-lhes atribuída demasiada importância”. Relativamente ao grupo dois, quatro dos seis indivíduos são contra a vinda de refugiados para a Europa, especialmente para Portugal, sendo que o indivíduo F afirma “sabemos lá se não são terroristas”. Os indivíduos A e D são os únicos dois que se

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mostram recetivos à vinda de refugiados tanto para a Europa, como para Portugal, sendo que o indivíduo A afirma que são “pessoas com os mesmos direitos que nós”. No caso do terceiro grupo, apenas dois indivíduos responderam concretamente à pergunta enquanto os outros quatro apenas concordaram com eles. É o único grupo que se mostra completamente recetivo à presença de refugiados na Europa, sendo que o participante F acha que “na população mais jovem há mais tolerância e menos estigma”. Por último, o quarto grupo quando confrontado com esta questão, teve cinco dos seus indivíduos a mostrar abertura para a vinda de refugiados para a Europa, enquanto o participante D foi o único a mostrar-se apreensivo, contudo, não completamente contra, sendo que afirmou poder “concordar com a sua vinda caso haja um maior controlo de quem entra”. •

Reação às imagens

No grupo um as reações foram sempre as mesmas, evocando sentimentos como o sofrimento, o descrédito, a discriminação, o desespero entre outros sentimentos negativos. Embora as reações possam ser consideradas homogéneas, é de referir que os indivíduos A e C se mantiveram sempre diferentes do resto do grupo fazendo comentários próprios de alguém que é contra os refugiados. Estes dois participantes evocaram sentimentos como a irresponsabilidade e a falta de noção. A última fotografia foi a que mais chocou todos os participantes do focus group, sendo que nem o participante A nem C responderam. O indivíduo C admitiu mais tarde ter ficado chocado com a fotografia. No caso do grupo dois a maioria dos participantes afirmou sentir tristeza, desespero, falta de condições, pena e demonstraram empatia. Contudo, é de ressalvar que os indivíduos F e E mencionaram que as crianças nas fotografias eram utilizadas como uma forma de manipular quem as vê. Notou-se uma grande atenção para o facto de todas as fotos terem a criança como elemento comum. O terceiro grupo, jovens de lisboa, é o grupo mais recetivo relativamente aos refugiados, visto que nenhum dos participantes afirmou ser contra os migrantes ou contra a sua vinda. Relativamente às respostas, estas podem ser consideradas homogéneas e coesas relativamente umas às outras, sendo que é também o único grupo onde apresenta total unanimidade de opiniões relativamente à temática. No que concerne às fotos, todos os participantes se mostraram sempre muito tristes ou frustrados, com todas as fotografias 27


sendo que a última foi aquela que mais chocou à semelhança dos restantes grupos. Angústia, esperança, medo, ingenuidade, insegurança e desespero foram algumas das emoções mais referidas pelo grupo aquando a visualização das vinte fotografias. O quarto e último grupo, idosos de Lisboa, tinha inicialmente cinco dos seus membros a favor e um sexo, não totalmente contra, mas também não totalmente a favor. O participante D, no início e ao longo do fous group, mostrou-se sempre um pouco mais reticente do que os restantes participantes. O grupo falou muito no facto de também ter família e talvez essa associação às suas famílias os deixem mais vulneráveis para as fotografias. Mais uma vez os sentimentos mais falados foram a angústia, o medo e o desespero, entre outros sentimentos negativos. •

Opinião após visualização de imagens

Relativamente às opiniões dos indivíduos face ao tema em estudo, no grupo um, estas mantiveram-se mesmo após visualização das fotos, sendo que os indivíduos que admitiram ser a favor dos migrantes afirmaram ter ficado ainda mais sensibilizados para a questão. No caso dos participantes A e C, as suas opiniões, embora o coque do participante C depois de visualizar a última fotografia, não se alteraram, mantendo então as suas posições contra a vinda de migrantes para a europa. No que concerne as opiniões do grupo dois, no início da reunião existiam quatro indivíduos que se opunham à vinda dos migrantes para a europa, contudo, no final da reunião o participante C, um dos que era inicialmente contra, demonstrou-se mais recetivo à vinda dos migrantes, afirmando que depois de ver as fotografias “acha” que a opinião se alterou, contudo referiu que “devemos sempre proteger os nossos”. Todos os outros participantes mantiveram as suas opiniões, sendo que o participante B referiu, novamente, que “não devemos ser nós a resolver os problemas deles”. O terceiro grupo, era o único grupo com totalidade de respostas a favor e manteve-se assim, mesmo após a visualização das fotografias. Um dos participantes referiu, em jeito de resposta ao que outro participante disse acerca de ser impossível não estar a par desta situação, que “só não vê, quem não quer”.

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No caso do último grupo, no início do focus group cinco dos seus constituintes eram a favor e um deles não era a favor nem contra, embora se mostrasse um pouco apreensivo relativamente à ideia da vinda dos refugiados para a europa. Ao mostrar as fotografias os cinco indivíduos que eram a favor ficaram ainda mais sensibilizados, sendo que todas as fotografias lhes despertavam uma emoção negativa, sendo que por vezes faziam ponto de comparação entre as fotografias e a sua própria família. O indivíduo D, que começou um pouco apreensivo e se manteve assim durante o decorrer da ação mudou a sua opinião depois de ver as fotografias porque “ver estas fotografias também me chocou bastante”. Este indivíduo justificou a sua apreensão inicial com o facto de “querer o melhor para aqueles que me rodeiam e o seu bem-estar”.

4.

Discussão de resultados

Através deste estudo é possível confirmar as ideias defendidas pelos autores escolhidos nos artigos científicos e livros que constituem a sua base. O principal objetivo do estudo prende-se na compreensão dos possíveis efeitos que o fotojornalismo publicado na imprensa nacional, mais concretamente no Correio da Manhã e no Público, pode ter ao nível das opiniões dos jovens e idosos portugueses. Tendo em conta que a amostra escolhida não é representativa destas duas faixas etárias, pode, mesmo assim, afirmar-se que existe uma dependência entre as fotografias publicadas e a opinião que a pessoa detém acerca do tema. Contudo, e de acordo com Yeung e Lenette (2018), é mais provável que a opinião de um indivíduo se altere ao ver uma fotografia quando este possui uma contextualização acerca da temática representada. Foi possível corroborar este facto através dos focus group onde as pessoas que alteravam a sua opinião relativamente aos migrantes, após visualizarem as vinte fotografias, já possuíam algum conhecimento acerca do tema em estudo, no entanto, nem todos os indivíduos se encontravam completamente familiarizados acerca da crise migratória, sendo que, recorrendo a Yeung e Lenette (2018), penso ser seguro dizer, estes foram os únicos que não alteraram a sua opinião mesmo depois de terem visualizados as fotografias. Também com a realização dos focus group foi possível confirmar as posições de Mortensen, Allan & Peters (2017), de-Andrés, Nos-Aldás & García-Matilla (2015) e 29


Zhang & Hellmueller (2017) quando referiam que a imagem de Aylan Kurdi levantou uma consciencialização global para o problema, através da sua natureza chocante, uma vez que todos os participantes das reuniões de grupo ficavam sem palavras e com expressões chocadas ao ver a fotografia de Aylan, sendo esta a última a ser mostrada nas reuniões. Ao nível da teoria encoding-decoding é importante ressalvar que, ao serem feitas pontes de relação entre a família e as imagens visualizadas, na reunião, os participantes do focus group estão, como apresentado no artigo de During (n.d), a descodificar as imagens com base naquelas que são as suas experiências e os contextos sociais, económicos e políticos onde se inserem. Neste caso, não foi definido qual seria uma posição dominante mas é seguro afirmar-se que, todos os participantes do focus group, interpretavam as imagens e expunhas as suas opiniões acerca das mesmas, com base no conhecimento que possuíam da temática e com base nas suas crenças e valores que lhes foram sendo transmitidas pela comunidade na qual se inserem. É importante salientar, contudo, que algumas das pessoas, mesmo pertencendo à mesma comunidade, possuíam uma opinião e reação às fotografias completamente diferente de outras pessoas da sua comunidade e isto pode traduzir-se na existência daquilo que During (n.d) defende ser posições de oposição. É ainda possível sustentar a posição defendida por Tsuroyya et al (2018) em relação às crianças serem objetos de fotografia sensíveis, mas preferíveis para fotografar, uma vez que despertam mais emoções. Com a análise dos focus group esta posição foi corroborada uma vez que os participantes faziam sempre referência às crianças presentes na fotografia e sentiam mais pena e compaixão por estas do que pelos seus pais, quando também estavam representados. Conclusões Pode afirmar-se que, depois da aplicação das técnicas de investigação escolhidas para realizar o presente estudo, tanto a pergunta de partida como os objetivos delineados para lhe dar resposta foram respondidos de forma eficiente e pertinente, ao longo de todo o trabalho. Torna-se importante ressalvar a importância atribuída ao conhecimento prévio da temática, uma vez que este pode condicionar o desenvolvimento de opiniões por parte dos indivíduos utilizados para o estudo. Foi possível concluir que os indivíduos que já 30


estavam familiarizados com a crise migratória europeia estavam muito mais suscetíveis a alterar a sua opinião relativa a esta temática, após visualizarem as imagens escolhidas pela autora, do que os indivíduos que não se encontravam familiarizados com o tema. É também importante referir que as reações obtidas nos quatro focus group realizados pela autora poderiam ter sido diferentes caso o objeto central das fotografias, as crianças, fosse outro. Foi também possível concluir que as opiniões acerca dos migrantes se alteram ligeiramente de faixa etária para faixa etária, contudo é na mudança de freguesia que se notam as maiores discrepâncias a nível de opiniões. Nas duas reuniões de grupo realizadas em Almodôvar, o número de indivíduos contra os migrantes é maior do que o número encontrado aquando a realização das mesmas reuniões de grupo, mas no concelho de Lisboa. Tal facto pode dever-se à falta de informação, ou ao desinteresse pelo tema, sendo que não se conseguiu apurar através deste estudo a razão para tais discrepâncias. Conseguiu-se, porém, apurar, através das respostas dadas, que os indivíduos residentes no concelho de Lisboa possuem uma maior taxa de informação no geral, bem como relativamente ao tema em discussão. Este estudo torna-se pertinente na medida em que explora a forma como a interpretação pessoal, ou a descodificação pessoal de uma mensagem, pode ter na opinião de um indivíduo. Através da análise fotográfica foi possível tentar compreender o que o fotógrafo estaria a tentar captar e transmitir, contudo, alguns dos indivíduos expostos às fotografias tiveram uma reação oposta aquela que seria esperada pela autora do estudo, devido à descodificação da imagem que fizeram tendo por base as suas crenças e ideais. No que concerne às limitações do estudo foram encontradas algumas, sendo a principal o facto de não se conseguir apurar o porquê das discrepâncias encontradas entre as amostras das duas freguesias estudadas. Outra das limitações foi a vontade que os indivíduos teriam de participar no focus group sendo que retiraria um pouco do seu tempo. Por fim, seria pertinente, em futuros estudos, alargar a matriz utilizada para a análise de conteúdo, sendo que a autora considera faltar duas categorias de extrema importância, sendo a primeira o público representado na foto, mulheres, crianças entre outros, e a outra categoria se a fotografia era uma fotografia de detalhe ou com um ângulo

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largo. Estas duas categorias teriam permitido à autora fazer uma análise de conteúdo mais aprofundada relativamente à cobertura fotográfica dos migrantes na imprensa portuguesa. Seria também interessante analisar o conteúdo da notícia escrita que acompanha a imagem, uma vez que permitiria à autora relacionar aquilo que o indivíduo que consome uma notícia consegue retirar do texto e da imagem e relacionar entre si. Outro ponto a melhorar em futuras investigações relativas a este tema é utilizar uma técnica que permita apurar o porquê das diferenças de opinião obtidas a nível das freguesias estudadas.

32


Referências bibliográficas ACNUR. (n.D.). Convenção relativa ao estatuto dos refugiados. Genebra. Retirado de: https://www.acnur.org/fileadmin/Documentos/portugues/BDL/Convencao_relativa_ao_ Estatuto_dos_Refugiados.pdf?fbclid=IwAR0vU9JlX30-s3nkTqbeCgkqCL1_2gmI2LfONEvj1Wbb35yRV_S-hSrbPo Associação Internacional para as Migrações (n.d), obtido em: https://www.iom.int Bauer, W. M., & Gaskell, G. (2000) Qualititive Researching With Text, Image And Sound: A practical Handbook. London: SAGE Publications. Bryman, A. (2012) Social Research Methods. Oxford: Oxford University Press Canavilhas, J.M.M (2015). Do jornalismo online ao webjornalismo: formação para a mudança. Universidade da Beira Interior Carling, J. (2015). Humanitarian Crises and Migration: Causes, Consequences and Responses. Edited by Susan F. Martin, Sanjula Weerasinghe and Abbie Taylor. Journal of Refugee Studies, 28(1), 138-140. doi:10.1093/jrs/feu041 Conselho Europeu (n.d), obtido a partir de: https://www.consilium.europa.eu/pt/ Da Costa Júnior, C.N. (2016) Crise Migratória na Europa em 2015 e os Limites da Integração

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de

estilos

do

PÚBLICO

(1998),

obtido

em:

http://static.publico.pt/nos/livro_estilo/14-fotografia.html Missing migrants (n.d), obtido em: https://missingmigrants.iom.int/region/mediterranean Mortensen M, Allan S., Peters C. (2017) The Iconic Image in a Digital Age: Editorial Mediations

over

the

Alan

Kurdi

Photographs,

obtido

em:

https://orca.cf.ac.uk/101905/1/The%20iconic%20image%20in%20a%20digital%20age_ Editorial%20mediations%20over%20the%20Alan%20Kurdi%20photographs.pdf Neuendorf, K.A. (2002). The content analysis guidebook. Sage POR

DATA

(n.d),

obtido

em:

https://www.pordata.pt/Portugal/Indiv%C3%Adduos+com+16+e+mais+anos+que+utili zam+computador+e+Internet+em+percentagem+do+total+de+indiv%C3%Adduos+por +grupo+etário-1139

34


Ramos. J.C.L, Marocco, B. (2017) Photojournalism: diverse concepts, uniform practices. Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo Roberts, K. G. (2016). Communication Theory and Millennial Popular Culture. New York, NY: Lang, Peter New York. doi: 10.3726/978-1-4539-1705-3 Taylor-Lind, A. (2016, fevereiro) Why Photojournalism Needs Diverse Storytelling Approaches, Time, obtido a partir de: http://time.com/4234808/opinion-photojournalismworld-press-photo/ Together Against Traffic in Human Being (n.d) Asylum statistics, obtido em: https://ec.europa.eu/eurostat/statistics-explained/index.php?title=Asylum_statistics Tsuroyya, Tandyonomanu, D., & Dharmawan, A. (2018). Abandon or embrace: Functionalism perspective of photojournalists on Syrian refugees. Journal of Physics: Conference Series, 953, 012191. doi:10.1088/1742-6596/953/1/012191 Yeung, J., & Lenette, C. (2018). Stranded at Sea: Photographic Representations of the Rohingya in the 2015 Bay of Bengal Crisis. The Qualitative Report, 23(6), 1301-1313. Retirado de: https://nsuworks.nova.edu/tqr/vol23/iss6/3 Zhang, X., & Hellmueller, L. (2017). Visual framing of the European refugee crisis in Der

Spiegel

and

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International: Communication

Global

journalism

Gazette, 79(5),

in

news

483-510.

doi:10.1177/1748048516688134

35


Anexos

Figura 1. Chegadas por mês à Europa no ano de 2015

Fonte: Missing Migrants (2019) – Organização Internacional para as Migrações Obtido em: https://missingmigrants.iom.int/region/mediterranean Figura 2. Fatalidades por mês no ano de 2015

Fonte: Missing Migrants (2019) – Organização Internacional para as Migrações Obtido em: https://missingmigrants.iom.int/region/mediterranean

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Figura 3. Percentagem da utilização do computador por faixa etária

Fonte: POR DATA (2018) Obtido

em:

https://www.pordata.pt/Portugal/Indiv%C3%ADduos+com+16+e+mais+anos+que+utili zam+computador+e+Internet+em+percentagem+do+total+de+indiv%C3%ADduos+por +grupo+etário-1139 Figura 4. Percentagem de utilização da internet por faixa etária

Fonte: POR DATA (2018) Obtido

em:

https://www.pordata.pt/Portugal/Indiv%C3%ADduos+com+16+e+mais+anos+que+utili

37


zam+computador+e+Internet+em+percentagem+do+total+de+indiv%C3%ADduos+por +grupo+etário-1139 Figura 5. Mortes por rota

Fonte: Missing Migrants (2019) – Organização Internacional para as Migrações Obtido em: https://missingmigrants.iom.int/region/mediterranean Figura 6. Pedidos de refúgio nos 28 países membros da União Europeia

Fonte: Eurostast (2018) Obtido

em:

https://ec.europa.eu/eurostat/statistics-

explained/index.php?title=Asylum_statistics

38


Figura 7. Percentagem de consumo de jornais impressos

Fonte: ERC (2015) Obtido

em:

http://www.erc.pt/download/YToyOntzOjg6ImZpY2hlaXJvIjtzOjM4OiJtZWRpYS9lc3 R1ZG9zL29iamVjdG9fb2ZmbGluZS82OS4xLnBkZiI7czo2OiJ0aXR1bG8iO3M6MzU 6ImVzdHVkby1wdWJsaWNvcy1lLWNvbnN1bW9zLWRlLW1lZGlhIjt9/estudopublicos-e-consumos-de-media Figura 8. Percentagem de consumo de jornais online

39


Fonte: ERC (2015) Obtido

em:

http://www.erc.pt/download/YToyOntzOjg6ImZpY2hlaXJvIjtzOjM4OiJtZWRpYS9lc3 R1ZG9zL29iamVjdG9fb2ZmbGluZS82OS4xLnBkZiI7czo2OiJ0aXR1bG8iO3M6MzU 6ImVzdHVkby1wdWJsaWNvcy1lLWNvbnN1bW9zLWRlLW1lZGlhIjt9/estudopublicos-e-consumos-de-media Figura 9. Primeiras e segundas fontes noticiosas mais importantes

Fonte: ERC (2015) Obtido

em:

http://www.erc.pt/download/YToyOntzOjg6ImZpY2hlaXJvIjtzOjM4OiJtZWRpYS9lc3 R1ZG9zL29iamVjdG9fb2ZmbGluZS82OS4xLnBkZiI7czo2OiJ0aXR1bG8iO3M6MzU 6ImVzdHVkby1wdWJsaWNvcy1lLWNvbnN1bW9zLWRlLW1lZGlhIjt9/estudopublicos-e-consumos-de-media

40


Figura 10. Recursos utilizados na consulta de notícias

Fonte: ERC (2015) Obtido

em:

http://www.erc.pt/download/YToyOntzOjg6ImZpY2hlaXJvIjtzOjM4OiJtZWRpYS9lc3 R1ZG9zL29iamVjdG9fb2ZmbGluZS82OS4xLnBkZiI7czo2OiJ0aXR1bG8iO3M6MzU 6ImVzdHVkby1wdWJsaWNvcy1lLWNvbnN1bW9zLWRlLW1lZGlhIjt9/estudopublicos-e-consumos-de-media Figura 11. Fotografia número 1

41


Fonte: Correio da Manhã Obtido

em:

https://www.cmjornal.pt/mundo/detalhe/turquia_recusa_plano_da_ue_para_travar_refu giados?fbclid=IwAR1UWWdb_69FX2__PmzOL6n3bDMH_Xmz8LpSKzbCu7Tc5DT Yo8a_TsZ7v1o Figura 12. Fotografia número 2

Fonte: Correio da Manhã Obtido

em:

https://www.cmjornal.pt/mundo/detalhe/migracoes_corpos_de_duas_criancas_dao_a_c osta_na_ilha_grega_de_kos?fbclid=IwAR2nB3qMmH0TL3SFG_DvWCFYbngiAptdJ wE-zkpXsaN-1z7TphKnVZDjPfg

42


Figura 13. Fotografia número 3

Fonte: Correio da Manhã Obtido

em:

https://www.cmjornal.pt/mundo/detalhe/pelo_menos_21_mortos_em_dois_naufragios?r ef=Pesquisa_Destaques&fbclid=IwAR3qufLSQywcs_kzfikhzHOCKjLGR8I3tk_yvJgPc5hyd9ckPnXnElt198 Figura 14. Fotografia número 4

Fonte: Correio da Manhã 43


Obtido

em:

https://www.cmjornal.pt/mundo/detalhe/paises_dos_balcas_filtram_migrantes?fbclid=I wAR3qufLSQywcs_kzfikhzHOCKjLGR8I3tk_y-vJgPc5hyd9ckPnXnElt198 Figura 15. Fotografia número 5

Fonte: Correio da Manhã Obtido

em:

https://www.cmjornal.pt/mundo/detalhe/austria_vai_erguer_muro_na_fronteira?fbclid=I wAR3Km55k_kT9vzZ9PPxTAl_1TiZoRzCMgwpsudMDbx9kUICkJUrz8M6B-bY

44


Figura 16. Fotografia número 6

Fonte: Correio da Manhã Obtido

em:

https://www.cmjornal.pt/sociedade/detalhe/migracoes_refugiados_podem_chegar_a_po rtugal_dentro_de_uma_ou_duas_semanas___bruxelas?fbclid=IwAR3SBnbxnWaGhEkJ _fAO0b2CRvYlN4LUapmDSwighnSv8NJ2yECF26zL5mc Figura 17. Fotografia número 7

Fonte: Correio da Manhã 45


Obtido

em:

https://www.cmjornal.pt/cultura/detalhe/refugiado_e_terrorismo_lideram_votacao_para _palavra_do_ano_2015?fbclid=IwAR2nB3qMmH0TL3SFG_DvWCFYbngiAptdJwEzkpXsaN-1z7TphKnVZDjPfg Figura 18. Fotografia número 8

Fonte: Correio da Manhã Obtido

em:

https://www.cmjornal.pt/mundo/detalhe/marinha_alema_resgatou_mais_de_10000_refu giados_este_ano?fbclid=IwAR2uq5c4ENJXaE7ywZ6JBBXAiEELRPUovI1UVmJm9ctz6RTfQ_4XOUA9lQ

46


Figura 19. Fotografia número 9

Fonte: Correio da Manhã Obtido

em:

https://www.cmjornal.pt/mundo/detalhe/20151031_0510_naufragio_mortal_frente_a_gr ecia?ref=Pesquisa_Destaques&fbclid=IwAR1UWWdb_69FX2__PmzOL6n3bDMH_X mz8LpSKzbCu7Tc5DTYo8a_TsZ7v1o Figura 20. Fotografia número 10

Fonte: Correio da Manhã 47


Obtido

em:

https://www.cmjornal.pt/mundo/detalhe/migrantes_morrem_junto_a_ilha_grega?ref=Pe squisa_Destaques&fbclid=IwAR13Sn-R0hXYEX-T0IIIC6orRvrYHog1z8nKTFpOYqrwWsmgOiPYcKNY-w Figura 21. Fotografia número 11

Fonte: Público Obtida em: https://www.publico.pt/2015/11/05/sociedade/entrevista/alguns-municipioscom-problematicas-poderao-desaconselhar-o-acolhimento-de-refugiados-1713362

48


Figura 22. Fotografia nĂşmero 12

Fonte: PĂşblico Obtido

em:

https://www.publico.pt/2015/09/10/mundo/noticia/outros-continentes-

abrem-as-portas-aos-refugiados-1707429

49


Figura 23. Fotografia nĂşmero 13

Fonte: PĂşblico Obtido

em:

https://www.publico.pt/2015/12/09/mundo/noticia/grecia-desloca-

refugiados-retidos-na-fronteira-com-a-macedonia-1716937

50


Figura 24. Fotografia nĂşmero 14

Fonte: PĂşblico Obtido em: https://www.publico.pt/2015/09/06/mundo/noticia/a-tragedia-maior-estaacontecer-no-medio-oriente-1706942

51


Figura 25. Fotografia nĂşmero 15

Fonte: PĂşblico Obtido

em:

https://www.publico.pt/2015/09/20/sociedade/noticia/protesto-contra-o-

acolhimento-de-refugiados-em-portugal-junta-150-pessoas-1708449

52


Figura 26. Fotografia número 16

Fonte: Correio da Manhã Obtido

em:

https://www.publico.pt/2015/12/16/mundo/noticia/comissao-quer-que-

refugiados-possam-vir-da-turquia-para-a-ue-1717641 Figura 27. Fotografia número 17

53


Fonte: Público Obtido em: https://www.publico.pt/2015/09/22/mundo/noticia/uniao-europeia-aprovaplano-para-distribuicao-voluntaria-de-120-mil-refugiados-1708641 Figura 28. Fotografia número 18

Fonte: Público Obtido em: https://www.publico.pt/2015/09/24/mundo/noticia/turquia-pode-ajudar-comos-refugiados-se-a-europa-se-virar-contra-os-curdos-1708925

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Figura 29. Fotografia nĂşmero 19

Fonte: PĂşblico Obtido em: https://www.publico.pt/2015/09/25/mundo/noticia/acnur-avisa-que-crisedos-refugiados-pode-estar-apenas-a-comecar-1709043

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Figura 30. Fotografia número 20

Fonte: Público Obtido em: https://www.publico.pt/2015/09/25/mundo/noticia/acnur-avisa-que-crisedos-refugiados-pode-estar-apenas-a-comecar-1709043 Apêndices Figura 31. Matriz análise de conteúdo Unidades de registo A) Variáveis A1) Número de Notícia A2) Data A21) dia A22) mês A3) Título A4) Link A5) Palavra-chave A6) Órgão de Comunicação Social A7) Fotografia

Dimensões de análise (contínua) 1 a 31 1 a 12 Texto escrito 1. Refugiados 2. Migrantes 3. Crise migratória 1. Público 2. Correio da Manhã 1. Sim, explícita 2. Sim, não explícta 3. Não 4. Não, tem vídeo

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A8) Espaço A9) Secção

A10) Protagonismo A11) Género jornalístico

A12) Repetição

5. Não, tem infografia 1. Internacional 2. Nacional 1. CM ao minuto 2. Cultura 3. Cultura Ípsilon 4. Desporto 5. Economia 6. Exclusivos 7. Futebol 8. Infografia 9. Mundo 10. Opinião 11. P3 12. Política 13. Portugal 14. Sociedade 15. Tecnologia 16. Vídeo 1. 1º plano 2. 2º plano 3. Não tem fotografia 1. Atualidade 2. Crítica 3. Crónica 4. Editorial 5. Entrevista 6. Fotogaleria 7. Imagem da semana 8. Infografia 9. Notícia 10. Opinião 11. Palavra da semana 12. Reportagem 13. Vídeo 1. Sim 2. Não

Fonte: elaboração própria Gráfico 1. Variável “mês”

57


Fonte: elaboração própria (n=867) Gráfico 2. Variável “órgão de comunicação social”

Fonte: elaboração própria (n=867) Gráfico 3. Variável “palavra chave”

Fonte: elaboração própria (n=867) Gráfico 4. Variável “fotografia”

58


Fonte: elaboração própria (n=867) Gráfico 5. Variável “género jornalístico” Fonte: elaboração própria (n=867)

Gráfico 6. Variável “secção”

Fonte: elaboração própria (n=867) Gráfico 7. Variável “espaço”

59


Fonte: elaboração própria (n=867) Gráfico 8. Variável “repetição”

Fonte: elaboração própria (n=867) Gráfico 9. Variável “protagonismo”

60


Fonte: elaboração própria (n=867) Gráfico 10. Cruzamento “órgão de comunicação social” e “fotografia”

Fonte: elaboração própria (n=867) Gráfico 11. Cruzamento “órgão de comunicação social” e “palavra chave”

Fonte: elaboração própria (n=867)

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Gráfico 12. Cruzamento “órgão de comunicação social” e “protagonismo”

Fonte: elaboração própria (n=867) Apêndice 1. Análise semiológica das fotografias Fotografia número 1 (figura 11, anexos) Tendo em conta os níveis de interpretação, segundo A Imagem e a sua Interpretação de Martine Joly (2002), pode-se verificar através da transferência indiciária que num primeiro plano, encontra-se um elevado número de pessoas que aparentam correr perigo dado o seu rosto assustado e devido à maneira como evacuam um barco de pequenas dimensões, no entanto uma mulher de colete amarelo fluorescente, que aparenta ser uma voluntária, acaba por se destacar pela sua coragem em resgatar uma das crianças da embarcação, assumindo uma figura protetora. Retratando a realidade da crise migratória no mediterrâneo como sua transferência cultural (Joly, 2002), esta fotografia apresenta como tema principal a coragem e a bondade. O facto de o ângulo do ponto de vista ser frontal, demonstra a naturalidade da cena capturada e tendo um enquadramento largo permite ver os restantes elementos presentes na imagem. Quando ao elementos morfológicos, conclui-se que a voluntária a segurar a criança é o nosso ponto de atenção principal, devido ao seu caráter de destaque na fotografia. É também percetível a importância do significado das cores dos coletes, onde o vermelho pertence aos refugiados (que representa o perigo) e o amarelo fluorescente pertence à voluntária (que representa o bem). Fotografia número 2 (figura 12, anexos) 62


Num primeiro plano, uma criança de cabelo molhado com um colete salva-vidas vestido, aparenta no rosto o sentimento de medo e de tristeza, enquanto esta é levada nos braços de um homem, também ele com uma cara preocupada, enquanto este tenta socorrer a criança. O retrato cultural passa pelo auge dos naufrágios de embarcações com refugiados. Quanto ao retrato do tema predominante (Joly, 2002) verifica-se que passa, principalmente, pelo sofrimento das crianças e a preocupação paternal. É possível verificar também um enquadramento estreito que permite ver detalhadamente a reação das figuras principais, o que por sua vez, através de uma objetiva com uma maior distância focal (teleobjetiva), permite ter uma representação mais nítida das expressões faciais devido ao desfoco do segundo plano (Joly, 2007). Tem em conta a alguns elementos da linguagem visual, encontra-se a utilização de um grande plano que enfatiza as expressões faciais das figuras na fotografia, que são o ponto de atenção pretendido, sob um código semiológico social e corporal. Apresenta também uma textura molhada devido ao facto de estarem a sair do mar, e um elemento dinâmico de tensão, pelo pânico representado pela cara da pequena rapariga. Fotografia número 3 (figura 13, anexos) À semelhança da primeira fotografia, é possível reconhecer um elevado número de pessoas a chegar à costa num pequeno bote. Todos assumem uma posição corporal de preocupação, mas ao analisar com atenção, também é possível encontrar expressões faciais chamativas, como a de uma mulher com um rosto assustado a segurar o seu bebé no colo. Quanto ao retrato cultural, verifica-se que o palco da crise migratória nesta fotografia passa pelo mar Egeu. Percebe-se também que a crise no mediterrâneo tem sido recorrente ao longo de todas as fotografias, mas esta destaca-se pela luta pela sobrevivência. Tendo em conta a mensagem plástica, encontramos um enquadramento horizontal, bem como uma objetiva com uma grande profundidade de campo, que permite captar todos elementos presentas na fotografia em análise. É de referir, que um dos elementos morfológicos em destaque é o ponto explícito (pontilhismo) onde estão presentes diversos pontos agrupados, sendo esses os refugiados que estão amontoados dentro do pequeno bote, criando então uma perceção de uniformidade, embora não seja totalmente real. Novamente, o facto dos coletes serem vermelhos, transmite a sensação de perigo para o espectador. É possível notar o plano inteiro para captar todos os elementos.

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Fotografia número 4 (figura 14, anexos) Num primeiro plano, encontra-se uma mulher que segura nos seus braços um bebé enrolado num lençol prateado. Esta imagem retrata uma refugiada afegã com o seu filho e que foram resgatados junto à costa da Grécia, em 2015. Analisando a fotografia, vê-se o alívio no rosto da mãe por ela e a sua criança estarem a salvo. Verifica-se um enquadramento estreito que permite focar apenas nas figuras de maior destaque da fotografia, sob um plano médio curto, onde podemos focar-nos precisamente no rosto da mulher. O facto da mesma estar capturada sob um ângulo picado, mas também frontal, encontrando um meio termo, permite entender a vulnerabilidade das figuras principais, num estado natural. É possível notar também a textura áspera da rocha ao lado da mulher que segura a sua criança. A ligeira saturação da imagem e a ausência de cores muito forte, pode representar a falta de esperança vivida pelos refugiados devido às condições que estes têm de enfrentar. É também percetível o facto de as figuras de destaque estarem focadas centralmente na fotografia, servindo assim como o principal ponto de atenção para o espectador. Fotografia número 5 (figura 15, anexos) Primeiramente, encontra-se uma mulher a segurar uma criança ao colo, novamente. No plano de fundo, existe uma grande multidão de pessoas que esperam em condições degradantes, o que tudo indica segundo o retrato cultural, que as pessoas estão à espera de assistência junto a uma fronteira. Embora exista um maior destaque na mãe que segura a sua criança ao colo, o enquadramento acaba por ser horizontal e largo, o que permite ver todos os elementos no segundo plano, como a confusão, o descontentamento e o sofrimento. Um dos principais elementos morfológicos que é possível destacar são as linhas oblíquas representadas pelas cercas de arame que preenchem todo o enquadramento da fotografia, representando assim constrangimento, restrição e tensão. Mais uma vez, encontra-se a utilização do ponto explícito, dado ao facto de existir uma grande quantidade de elementos amontoados no plano de fundo, que aparentam uniformidade. Contém também a consequente ausência de cor na maioria dos elementos, sendo possível apenas atribuir importância à cor amarela das folhas da árvore no plano de fundo, que poderão representar esperança. Fotografia número 6 (figura 16, anexos)

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No primeiro plano, uma criança com uma boia à volta dela olha para a câmara com uma cara inocente. A seu lado uma mulher com um colete salva-vidas segura numa criança coberta por um saco de plástico e atrás um homem com uma cara de preocupado olha para a criança da boia. No fundo, uma multidão de pessoas tenta instala-se enquanto espera por ajuda. Sob um enquadramento horizontal e largo, existe uma composição axial (Joly, 2007) que coloca as figuras principais no centro. Um dos temas predominantes é a inocência presente na cara da criança e a preocupação presente na cara dos pais. Quantos aos elementos morfológicos, encontra-se em destaque não só o vermelho e laranja dos coletes, que representam o perigo, mas também o azul na roupa da criança que representa a calma (também observada no rosto da mesma). Adicionalmente, destaca-se também a textura áspera das rochas, sob um plano inteiro que capta não só as figuras principais, como a família, mas também as restantes no plano de fundo. Fotografia número 7 (figura 17, anexos) Num primeiro plano, uma menina vestida de rosa segura nos seus braços uma criança mais nova enquanto percorre um acampamento que aparenta estar vazio, no plano de fundo. Através da composição axial, encontra-se as figuras principais da fotografia posicionados no centro da imagem. O enquadramento horizontal e largo permite ver para além das figuras principais, como o acampamento vazio atrás das crianças. O tema predominante é a solidão e a triste infância das crianças que passam pela crise migratória. É ainda possível detetar a utilização da teleobjetiva (Joly, 2007) para realçar as personagens em destaque. Nota-se que a cor em destaque nesta fotografia é principalmente o cor-de-rosa utilizado na roupa da criança que pode representar esperança. Sob os códigos semiológicos sociais e corporais, percebe-se que a expressão facial da rapariga pode representar apreensão sobre a sua estabilidade e preocupação com o futuro. Não só a fotografia é capturada através de um plano inteiro, como o plano de fundo está ligeiramente desfocado, o que nos permite com que seja estabelecida uma maior proximidade com as figuras principais. Fotografia número 8 (figura 18, anexos) Num primeiro plano, três homens com coletes de cor laranja da marinha alemã resgatam uma bebé em alto mar. Como composição axial, verifica-se o bebé no centro do enquadramento e o facto do ângulo ser picado, não quer dizer que o visualizador exerce qualquer tipo de superioridade sobre as figuras da imagem, mas ajuda a simpatizar com 65


a vulnerabilidade das personagens. A transferência do motivo passa pela coragem da marinha alemã ao salvarem a criança. Quanto aos elementos morfológicos, pode ser identificada duas cores principais: o laranja utilizado pela equipa de voluntários da marinha alemã e o cor de rosa utilizado pela manta que cobre o bebé, o que transmite ao espectador a sensação de fragilidade. Tendo em conta os códigos comportamentais, é possível encontrar proximidade neste ambiente de tensão. É também possível identificar a forma do barco em alto mar, apresentando uma dimensão um pouco maior do que um bote, como temos visto nas restantes fotografias. Fotografia número 9 (figura 19, anexos) Inicialmente, num primeiro plano, vemos uma criança no centro da imagem (composição axial) a ser resgatada por voluntários no mar Egeu (transferência cultural). Nota-se a emergência no rosto da pessoa do lado direito da imagem e a expressão corporal de todas as figuras da fotografia, que lutam para ajudar a criança. Já o enquadramento é horizontal e largo e permite ver toda a situação à volta do elemento principal. Um dos elementos morfológicos principais é a textura, apresentando uma sensação de molhado, visto que as figuras da fotografia se encontram dentro de mar enquanto estão a ser recorridas. O código comportamental encontrado na imagem pode ser tido em conta com uma ação ética, visto que se trata de um salvamento. No entanto, quando ao código corporal, deve-se prestar principal atenção à expressão facial e à orientação física das figuras, que primariam o salvamento da criança, sendo esta o ponto de atenção principal, encontrada centralmente. Fotografia número 10 (figura 20, anexos) Mais uma vez, pode-se analisar no centro da imagem (composição axial) uma criança que aparenta estar inanimada, com diversas mãos usando luvas azuis à sua volta, possivelmente de uma equipa de médicos, que tentam reanimar a criança, sendo isso percetível por existir uma mão de um dos médicos colocada no peito da criança. Conseguimos apenas visualizar o rosto da criança, sendo esta a principal figura em destaque, bem como o facto de a única fonte de luz estar exercida sob o rosto da mesma enquanto há escuridão à sua volta. O ângulo é capturado frontalmente, o que convida ao espectador para entrar na realidade da fotografia, bem como a compactuar com a pressão dos médicos ao tentarem salvar a vida de uma criança. Tendo em conta os elementos morfológicos, considera-se que a criança ao estar no ponto central é o nosso ponto 66


principal de atenção e o facto de a fotografia estar capturada sob um primeiro plano, permite ao espectador estar mais próximo da situação representada. Como referido anteriormente, sob o código comportamental vemos as mãos dos médicos a tentar salvar uma criança, seguindo não só condutas de protocolo como, possivelmente, éticas. A escuridão negra de volta da criança traz uma sensação de luto e desespero, tentando batalhar com a luz refletida no rosto da mesma, representando a esperança de viver. As linhas que delineiam os braços dos médicos convergem todos em direção à figura principal, sendo esta a criança. Fotografia número 11 (figura 21, anexos) Num primeiro plano, vemos uma criança com um rosto aparentemente tristonho e sem ninguém à sua volta, enquanto está de pé frente ao mar, um dos principais palcos desta crise migratória (transferência cultural). O enquadramento da imagem acaba por ser estreito, pois é possível ver os detalhes da figura principal da fotografia. Tem sido recorrente a utilização de um ângulo frontal, para o visualizador da fotografia simpatizar com a criança em destaque. Existe um particular destaque também para o código corporal nesta fotografia, na medida em que o rosto do menino é bastante expressivo e uma postura assustada, o que, consequentemente, corresponde a um elemento dinâmico de tensão, não só pela proximidade à figura principal, como também pelo contraste das cores do plano primário e o plano secundário. No plano de fundo (secundário) é possível verificar uma textura fria e áspera devido a saturação das cores na fotografia. No entanto, é possível identificar novamente a cor vermelha no colete do pequeno jovem, representando mais uma vez a sensação de perigo. Sendo comum a outras fotografias já analisadas, é verificável que a criança seja o nosso ponto central de atenção, muito devido à ausência de muitos elementos à volta da figura, o que enfatiza a sensação de abandono e solidão. Fotografia número 12 (figura 22, anexos) Num primeiro plano, aparece uma criança de cabelo molhado (o que indica para o facto de esta ter abandonado o mar há pouco tempo) é levada aos ombros por uma figura masculina que dá as mãos a alguém que não aparece no enquadramento da imagem. À sua volta, encontram-se também uma grande multidão de pessoas com caras preocupadas, composta por refugiados e também alguns voluntários (a máscara de um dos homens da direita indica a possível presença de um médico). Mais uma vez, existe a presença de uma objetiva com uma maior distância focal, o que permite capturar um grande número de 67


elementos e pessoas presentes na cena. O enquadramento é também horizontal e largo, mais uma vez, para o mesmo efeito. Verifica-se que o tema predominante é também a luta pela segurança e o medo, ao olhar para a cara da criança. Sob um plano inteiro, é verificável a existência de uma textura molhada, devido aos cabelos molhadas da pequena criança. Se a criança for considerada a figura principal, deste modo, pode ser tomada como estando num ponto equilibrado, embora não totalmente no centro da fotografia. É possível identificar as linhas figurais que realçam a expressão facial das figuras (código semiológico corporal). As cores da roupa do pai e da criança são vermelhas, o que chama à atenção do espectador e individualiza estas figuras no meio de uma multidão cromaticamente saturada. Fotografia número 13 (figura 23, anexos) É possível identificar um grupo pequeno de pessoas, composto por um casal e três crianças, na fotografia. Duas das crianças são carregadas ao colo do casal, porém apenas num dos rostos das crianças é percetível a sua expressão facial que aparenta apatia (possivelmente, devido ao cansaço). Já as caras do casal, mostra tristeza, como quem não sabe se conseguem garantir segurança para a sua família. No enquadramento, sendo este horizontal e largo, verificamos que a família percorre uma zona ligeiramente desertificada e abandonada, pelo que se pode concluir o grande esforço que estas famílias fazem para chegar a locais seguros (neste caso, na fronteira da Macedónia). De novo, é utilizado um ângulo frontal para capturar a naturalidade presente na cena. Nesta fotografia, pode-se concluir que as localizações dos pontos presentes estão desequilibradas, o que remete para a espontaneidade da captura da imagem, tornando-a mais real e próxima de quem a vê. Vê-se uma componente cromática um pouco neutra, tanto na roupa das pessoas como no ambiente que as envolve, porém, o azul apresentado no céu, atribui um significado de esperança e clareza, no meio do desespero no rosto das figuras. Precisamente no que toca ao código semiológico corporal, vemos os pais a serem protetores das suas crianças, embora aparentem exaustos. Fotografia número 14 (figura 24, anexos) Na análise a esta fotografia, encontra-se em primeiro plano uma criança com um rosto de sofrimento e a chorar, em que a mesma dá a mão a uma figura na qual o rosto não aparece no enquadramento. No fundo, vê-se outra criança sem uma expressão facial muito explícita e uma multidão atrás dela uma multidão. Pela primeira vez nesta análise, 68


encontra-se uma moldura psicológica, que limita a imagem através dos indivíduos de cada lado da criança que chora, não convidando à imaginação do espectador (Joly, 2017). Essa limitação, permite ao espectador focar somente na figura colocada ao centro da imagem (composição axial) sob um ângulo frontal. Aliando-se ao facto dessa figura ser o nosso ponto de atenção principal, percebe-se que a componente cromática é maioritariamente neutra no ambiente à sua volta, sendo a criança o único elemento que possui uma cor que se destaca, uma vez que usa um pijama vermelho. Quanto à componente do código semiológico, tendo em conta postura corporal, a criança apresenta medo e sofrimento perante a realidade que está a enfrentar. Apresenta, consequentemente, um elemento visual dinâmico de tensão, não só pelo contraste cromático como pela orientação da figura em destaque. Fotografia número 15 (figura 25, anexos) Num primeiro plano, uma figura apresenta um maior destaque relativamente aos restantes elementos presentes na fotografia: uma pequena criança apresenta um rosto sofrido e a chorar, enquanto esta tenta agarrar uma figura feminina, possivelmente a mãe. Quanto à mensagem plástica, esta fotografia não põe em prática nenhum requisito assumido, para além de um enquadramento estreito que permite ver detalhadamente todos os elementos semiológicos desta imagem, tal como as expressões faciais descontentes nos rostos dos refugiados. Quanto à representação cultural, a cena da fotografia retrata as manifestações contra refugiados, em 2015. E no que toca à representação do motivo, podemos ver que o tema principal é encontrado no rosto da criança, sendo este a tristeza e o sofrimento. Como já visto em fotografias anteriores, nesta é possível notar novamente um ponto explícito através do pontilhismo, onde as sobreposições de pontos aparentam como um só (sendo esta a multidão), quando na realidade não o são. Pode-se concluir que o código corporal mais importante é a expressão facial encontrada no rosto da pequena criança. No entanto, quando ao código semiológico comportamental, encontra-se uma ação protocolar por parte o polícia que tentar estabelecer a ordem no meio da multidão. Mais uma vez, a criança é vista a utilizar cores de tom claro que simbolizam a sua inocência e pureza. Fotografia número 16 (figura 26, anexos) No plano principal, encontra-se uma rapariga com um rosto sofrido, transparecendo desespero, possivelmente por ser obrigada a fugir do seu país para poder 69


sobreviver, enquanto esta é agarrada por duas figuras masculinas, na qual uma dessas figuras segura um bebé. O enquadramento da imagem é estreito, o que transmite uma maior proximidade e empatia com a figura feminina. Novamente, sob um ângulo frontal, é possível ver a utilização de uma objetiva com uma maior distância focal. Considerando a rapariga em desespero como figura de destaque, é possível afirmar que apesar de não estar localizada precisamente no centro, ainda assim, esta encontra-se equilibrada na imagem. Os restantes elementos encontram-se sob o efeito pontilhado, devido ao facto do segundo plano estar desfocado. É possível ainda identificar as linhas oblíquas presentes nas grades situadas no segundo plano. Quanto ao código corporal, não só vemos uma orientação física e uma postura de resistência por parte da rapariga, como ainda podemos encontrar isso no seu rosto. Deste modo, podemos ainda ver, ligeiramente, o rosto do homem que segura a bebé, apresentado cansaço. Concluímos que a componente cromática não se destaca muito nesta fotografia. Fotografia número 17 (figura 27, anexos) Neste plano, vê-se um grande número de refugiados dentro de um barco em alto mar, onde estão presentes homens, mulheres e crianças. No caso dos adultos, estes aparentam estar preocupados e sem grande certeza sobre a sua sobrevivência e no caso das crianças, estas aparentam estar confusos e ingénuos. Sob um enquadramento horizontal e largo, e não estreito, isso permite analisar todos os rostos das pessoas. Não existe um plano de fundo muito detalhado para além do alto mar. O tema predominante acaba por ser a ingenuidade das crianças e a preocupação dos adultos. É possível encontrar mais uma vez, o efeito pontilhado devido a sobreposição das figuras dentro do bote. Nesta fotografia, o plano de destaque acaba por se integrar com o plano de fundo, não funcionando um sem o outro. Devido à existência do mar na imagem, acabamos por identificar novamente uma textura fria e molhada. Quanto à expressão corporal, esta vêse constrangida em todas as figuras devida à grande concentração de indivíduos num único espaço. Apresenta um caráter temporal, uma vez que a intenção da fotografia parte do pressuposto de capturar apenas o momento e as condições que os refugiados têm de ultrapassar em alto mar para sobreviverem. Fotografia número 18 (figura 28, anexos) Num primeiro plano, vê-se uma figura feminina a carregar ao colo uma criança e leva ao seu lado outra criança. Atrás está um homem também com uma criança a seu lado 70


e uma mulher a carregar uma mala na cabeça. E no plano de fundo, existe um cenário caótico com uma multidão a caminhar, militares e tanques de guerra. Grande parte das pessoas carrega consigo malas e estão vestidas com grandes quantidades de roupa, o que nos remete para ideia de que as pessoas tentam levar consigo o máximo que conseguem para sobreviver. O enquadramento é horizontal e largo o que permite ver todos os elementos da fotografia. Mais uma vez, vê-se a ingenuidade na cara das crianças e a cara de emergência na cara dos pais. A inocência presente na cara das crianças, bem como as cores claras utilizadas na sua roupa que simbolizam pureza, contrasta com a realidade presente no plano de fundo, que se assemelha como um ambiente caótico e de guerra. Pode considerar-se um plano geral, na medida em que vemos uma grande quantidade de elementos no plano de fundo que permitem entender o ambiente vivido. No que toca ao código semiológico corporal, tendo em conta o código de comodidade, é possível analisar as roupas ligeiramente estragadas pelas condições que ultrapassam, bem como o veículo de guerra que se encontra no plano de fundo. A componente cromática apresenta uma ligeira saturação no enquadramento geral, à exceção do lenço azul (que representa esperança) utilizado pela figura feminina em destaque. Fotografia número 19 (figura 29, anexos) Num primeiro plano, um homem segura numa criança pequena no seu colo enquanto caminha sob a água. O rosto do homem, neste caso, aparenta felicidade, o que pode ser justificado pelo facto de ter chegado à costa com a sua filha a salvo. Já a criança aparenta tristeza, possivelmente por ter abandonado a sua casa. Esta leva uma pequena mochila feita de esferovite e fita cola, mostrando as fracas condições em que vivem os refugiados. No plano de fundo, vê-se mais pessoas a abandonar os botes, em que um dos rostos dos homens também aparenta estar feliz, também por ter chegado em segurança. O enquadramento é horizontal e largo e a as nossas figuras principais (pai e menina) estão colocadas, mais uma vez, no centro da imagem (composição axial). Quanto à componente cromática, destaca-se a cor vermelha utilizada por todas as pessoas representadas na fotografia, que presenta mais uma vez a sensação de perigo e de risco. No entanto, o azul do mar e a ausência de ondas representa a calma e a esperança. Aqui as dimensões do barco apresentam-se menores, uma vez que é um simples bote. Pode-se concluir dizendo que o código corporal de destaque nesta fotografia é o alívio na expressão facial dos indivíduos, por terem chegado à costa.

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Fotografia número 20 (figura 30, anexos) Por último, pode-se verificar uma das imagens mais chocantes publicadas pela imprensa. Num primeiro plano, e como figura de destaque, vê-se uma pequena criança sem vida, com o seu corpo estendido na costa de uma praia, com as ondas a alcançarem o corpo inanimado do cadáver. Num segundo plano, não se vê nada mais do que uma praia abandonada e um polícia a olhar para o corpo da criança. Esta imagem retrata a realidade cultural de muitas pessoas que passaram, e ainda passam, devido à crise migratória no mediterrâneo. Embora a figura principal (o menino sírio) não estar exatamente no centro da imagem, é o elemento de destaque do enquadramento, devido ao seu caráter chocante e à ausência de elementos exteriores. Sendo capturada frontalmente, permite ao espectador sentir empatia por esta causa ao ver a realidade destes migrantes e a transmiti-los para o local da cena onde está o menino sírio. No que toca à componente cromática, percebemos que uma das únicas cores fortes presentes no enquadramento é a t-shirt vermelha do pequeno Aylan, que corresponde de certa forma à sua morte e à fatalidade. Quer isto dizer que, o meio que o envolve aparenta deserto no plano de fundo, sendo apenas possível identificar o polícia que se encontra no local a registar o acontecimento (código semiológico comportamental). As formas irregulares assumidas pelas linhas que delineiam as ondas do mar a chegar à costa e a atingir a criança, remete o espectador para uma estrutura temporal sob uma dinâmica de tensão. Deste modo, apesar da figura principal (Aylan) não estar situada no centro, pode-se afirmar que a sua localização está em equilíbrio com o enquadramento da imagem, permitindo ao espectador a sensação de proximidade e de empatia. Tabela 1- Síntese de participantes focus group

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Idade - Ocupação

Grupo 1 – Jovens Almodôvar 23 Trabalhador 18 Estudante 20 Estudante 19 Trabalhador 22 Estudante 21 Estudante

Grupo 2 – Idosos Almodôvar 66 Reformado 70 Reformado 65 Trabalhador 68 Trabalhador 73 Reformado 77 Reformado

Grupo 3 – Jovens Lisboa 19 Estudante 20 Estudante 22 Estudante 22 Estudante 23 Estudante 20 Estudante

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Grupo 4 – Idosos Lisboa 65 Trabalhador 67 Reformado 68 Reformado 70 Reformado 68 Reformado 66 Trabalhador

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Apêndice 2.. Transcrição dos focus group Grupo 1 - 6 Participantes - Jovens - Almodôvar Moderador da Reunião: Bom dia, queria antes de mais agradecer a vossa disponibilidade para participar nesta reunião de grupo. O meu nome é Inês Castro e Barôa, sou aluna de 3º ano de Ciências da Comunicação no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, da Universidade de Lisboa e esta reunião realiza-se no âmbito da unidade curricular de seminário, sob a orientação do professor auxiliar convidado António Vilela, com o tema fotojornalismo e a crise de refugiados europeia. Peço-vos que respondam com a máxima sinceridade e não se preocupem em dar a resposta certa ou errada, visto que ninguém será avaliado e como tal não há respostas corretas ou erradas, e esta reunião está a realizar-se apenas com o objetivo de entender a opinião geral acerca do tema. Relembro que a reunião será gravada em formato áudio e vídeo, estes ficheiros são confidencias e utilizados apenas para este estudo, sendo que após a realização do mesmo serão apagados. Vou passar a distribuir o documento de acorde de confidencialidade onde podem autorizar, ou não, a gravação de vídeo e áudio. Vamos então passar às perguntas. 1. Estão familiarizados com a Crise Migratória Europeia? Todos: Sim. 2. Costumam ler notícias? 73


Todos: Sim. 3. Quando leem notícias recorrem à versão impressa ou online dos jornais? Todos: Online e redes sociais. 4. Ao ler uma notícia atribuem mais importância ao texto ou à fotografia? Participante A: Ao texto. Participante D: Apesar do texto estar bem escrito, acho que uma boa imagem é o suficiente para cativar o leitor. Participante C: Estava a pensar nisso. 5. Acham que os refugiados são representados de forma correta na imprensa portuguesa? Participante D: Não. Acho que os refugiados mais rapidamente são expostos por testemunhos de pessoas que fizeram mesmo voluntariado e que experienciaram em primeira mão o que se sucedeu no local. Participante E: Exato. E geralmente as notícias costumam ter um enfoque principalmente negativo. Participante F: Concordo. Acho que uma das únicas noticias positivas que vi, foi quando a Alemanha acolheu o elevado número de refugiados no início da crise migratória. 6. Qual é a vossa opinião acerca dos refugiados? Participante A: A minha opinião pode ser interpretada como negativa, mas honestamente acho que é-lhes atribuída demasiada importância. Eles basicamente vêm para cá para ocupar o nosso território. Percebo que todos nós passamos por dificuldades, mas acho que não devemos ser nós a resolver os problemas deles. E há sempre a constante ameaça de poderem ser terroristas. Participante C: Também não sou a favor que eles venham para os outros países ocupar o nosso espaço.

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Participante B: Eu sou a favor, pois acho que se têm de abandonar o seu país é por uma questão de necessidade. Participante D: Sou completamente a favor. Ver o que essas pessoas passam só para chegar à Europa à procura de melhores condições é algo que não desejo a ninguém. Mas penso que devia de haver uma maior organização para garantir condições de segurança, tanto para eles como para nós. Participante E: Também sou a favor, penso que eles não sairiam do seu país se não fosse por completa necessidade. E se temos meios para os ajudar, acho que o devemos fazer, tendo sempre em conta as nossas limitações. Participante F: A minha opinião é que sou completamente a favor. São pessoas como nós que merecem o direito à vida tal como nós e isso é algo que lhes está a ser retirado. Por isso acho que como Europa liberal que somos e Europa das oportunidades, acho que devemos dar esse apoio e esse suporte porque se fosse connosco também o gostávamos de ter. Moderador da Reunião: Muito bem. Vou então agora passar a mostrar algumas fotografias utilizadas pelos media relativamente à crise de refugiados e peço-vos que me digam os vossos pensamentos espontâneos ao ver essas fotografias. Fotografia Nº 1 Participante A: Sim, a fotografia parece-me caótica e ao que parece é um acidente de barco, mas quantos acidentes já aconteceram e ninguém quis saber? Participante B: Sinto o desespero deles. Participante D: Por um lado sinto orgulho por ver seres humanos a ajudar outros. Por outro lado, sinto tristeza por ver que há pessoas neste estado de desespero sem uma vida estável. Participante E: Sinto empatia e deixa-me triste que isto seja uma realidade. Participante F: O que me chama muito à atenção ao olhar para este tipo de imagens são as crianças e faz-me pensar no futuro das mesmas e me choca imenso. Fotografia Nº2

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Participante A: Vejo só um pai a segurar uma criança a chorar, não tenho muito a acrescentar. Participante B: Pronto, é mais uma destas situações. Participante C: É uma fotografia bastante chamativa, que capta a atenção. Participante D: É possível ver o esforço do pai e uma criança com uma idade tao tenra que vai ficar marcada para o resto da sua vida. Participante E: Esta foto retrata muito bem o desespero vivido. Participante F: Um pai preocupado a tentar proteger a sua criança para lhe oferecer melhores condições de vida. Fotografia Nº 3 Participante A: Isto é claramente um barco clandestino. Se fosse um português ou um europeu eram presos, de certeza. Isto é claramente ilegal. Participante B: Mostra muito bem as condições que os refugiados passam para chegar a outros territórios. Participante D: Muito semelhante a primeira esta foto, demonstra a grande coragem dos voluntários para ajudarem os refugiados. Fotografia Nº 4 Participante F: Nesta foto é possível ver a miséria em que estas pessoas vivem. É bastante desagradável. Fotografia nº5 Participante E: Acho que isto é uma demonstração clara das condições degradantes em que vivem quando chegam aos campos de refugiados. Participante B: Sim, sem dúvida. Fotografia Nº 6

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Participante B: Acho que o facto de parecerem felizes demonstra que não sabem para aquilo que vêm porque penso que não tem noção que ainda vão ter de continuar a lutar. Participante D: Não vejo felicidade, vejo inocência na cara da criança e preocupação na cara dos pais, sem poderem garantir um futuro para o seu filho. Fotografia Nº 7 Participante B: Sente se a tristeza, porque apesar de irem outros países, muitas vezes poderão não obter as condições de vida que necessitam. Fotografia Nº 8 Participante A: Ao ver esta foto nota se vem a negligencia por parte dos pais. Quer dizer, transportarem um recém-nascido assim num barco é uma falta de preocupação. Participante E: Não concordo, porque para estarem a fazer isto mostra que não tem sequer outra solução. Fotografia Nº 9 Participante C: Mais uma vez, vê-se que não têm noção para o que vão. Fotografia Nº 10 Participante A: Será que vale a pena as pessoas ficarem neste estado para virem para um futuro incerto? Penso que não. Participante F: Mas acho mesmo que para fazerem isto, é porque não tem outra solução. É isto ou a morte. Participante B: Sem dúvida, acho que é uma questão de arriscar para sobreviver. Participante D: Sim, e é uma demonstração clara de como os médicos sem fronteiras têm tido uma importância enorme para ajudar os refugiados. E vê-se que estes estão a fazer de tudo para que esta criança seja reanimada. Fotografia Nº 11

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Participante E: Vê-se muito o sentimento de saudade. Possivelmente, da sua vida despreocupada. Participante F: Alem disso, vê-se vem a tristeza. Participante B: Sim e o facto de estar sozinha, dá para presumir que a criança poderá ter perdido a família, o que dá um enfase da cara triste da criança. Fotografia Nº 12 Participante A: Mais uma vez a porem crianças em perigo mesmo extremo só para um futuro incerto. Fotografia Nº 13 Participante D: Muitas das vezes o que acontece, e o que esta fotografia retrata muito bem é o facto de que a família tem de percorrer imensos quilómetros em condições terríveis. Participante F: Retrata muito as condições degradáveis que têm nos campos de refugiados, o frio lá parece ser tão grande que eles têm de usar todo o tipo de cobertores e roupas quentes e, mesmo assim, parece não ser suficiente. Fotografia Nº 14 Participante C: Mais uma vez é possível ver a irresponsabilidade por parte dos pais, por sujeitarem as crianças a situações dessas. Participante E: Penso que a criança já não tenha os pais consigo, consegue verse a criança como uma cara de desesperado. Fotografia Nº 15 Participante A: Aqui mais uma vez a porem em foco o sofrimento da criança. Participante D: Essa imagem mostra um pouco o descrédito que os refugiados têm por serem de certos países. Mostra muito bem a discriminação que há na Europa. Participante B: A cara da criança a chorar mostra claramente o sofrimento que eles passam.

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Fotografia Nº 16 Participante F: Isto parece ser a separação de uma filha dos seus pais Participante A: Possivelmente em vez de ser filha, até é mãe do bebé. Mães adolescentes é o que não falta lá para aqueles países. Fotografia Nº 17 Participante B: Essa foto mostra muito bem as condições que eles passam ao tentar vir para cá e claramente o bote não está preparado para esse número de pessoas. Fotografia Nº 18 Participante E: Vê-se claramente o desespero das famílias a tentar proteger as crianças. Participante D: Esta foto mostra muito bem que quando estas famílias vão nestas viagens tentam levar tudo o que está ao seu alcance, por exemplo dá para ver que as pessoas têm muita roupa vestida no ambiente que é claramente seco e quente. Fotografia Nº 19 Participante C: Mais uma fotografia de um pai e uma criança a chegar a algum lado. Participante A: Então, mas os refugiados são só pais e crianças? Fotografia Nº 20 Participante D: Ah fogo, não! Participante D: Não há mesmo palavras. Moderador da Reunião: Após verem estas fotos, a vossa opinião alterou-se ou manteve-se? Participante B: Fiquei mais sensibilizada para a questão e certamente vou informar-me melhor. Participante A: Manteve-se.

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Participante C: A última foto chocou-me, mas a minha opinião geral mantevese. Participante F: Manteve-se. Participante D: Manteve-se, mas fiquei ainda mais sensibilizado para a questão. Participante E: Concordo. Moderadora da Reunião: Pronto, chegámos assim ao final da reunião. Obrigada novamente pela vossa disponibilidade. Vou passar a distribuir um questionário rápido para sintetizar a reunião.

Grupo 2 - 6 Participantes – Idosos - Almodôvar Moderadora da Reunião: Bom dia, queria antes de mais agradecer a vossa disponibilidade para participar nesta reunião de grupo. O meu nome é Inês Castro e Barôa, sou aluna de 3º ano de Ciências da Comunicação no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, da Universidade de Lisboa e esta reunião realiza-se no âmbito da unidade curricular de seminário, sob a orientação do professor auxiliar convidado António Vilela, com o tema fotojornalismo e a crise de refugiados europeia. Peço-vos que respondam com a máxima sinceridade e não se preocupem em dar a resposta certa ou errada, visto que ninguém será avaliado e como tal não há respostas corretas ou erradas, e esta reunião está a realizar-se apenas com o objetivo de entender a opinião geral acerca do tema. Relembro que a reunião será gravada em formato áudio e vídeo, estes ficheiros são confidencias e utilizados apenas para este estudo, sendo que após a realização do mesmo serão apagados. Vou passar a distribuir o documento de acorde de confidencialidade onde podem autorizar, ou não, a gravação de vídeo e áudio. Vamos então passar às perguntas. 1. Estão familiarizados com a Crise Migratória Europeia? Todos: Sim. 2. Costumam ler notícias? 80


Participante B e F: Não. Participante A, C, D, E: Sim. 3. Quando leem notícias recorrem à versão impressa ou online dos jornais? Participante A: Online e impresso. Participante C: Impresso. Participante D: Impresso. Participante E: Impresso. 4. Quando leem uma notícia atribuem mais importância ao texto ou à fotografia? Participante A: Acho que é ao texto, não é? Se bem que há fotografias que chamam à atenção de uma pessoa. Participante D: É, também acho. Participante E: Eu cá ligo mais ao texto. 5. Acham que os refugiados são representados de forma correta na imprensa portuguesa? Participante E: Acho que às vezes fazem eles parecer demasiado coitadinhos. Participante A: Eu cá acho que eles podiam ser mais bem retratados pelos jornais. Há ali muita manipulação nas imagens, sabe? Participante D: É verdade. 6. Qual é a vossa própria opinião acerca dos refugiados? Participante F: Na minha opinião nem metiam cá os pés. Sabemos lá se não terroristas. Participante B: Sim, hoje em dia não se pode confiar em ninguém do jeito que isto está.

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Participante A: Eu acho que os devemos ajudar. São pessoas com os mesmo direitos que nós e se no país deles não estão seguros, penso que devem fazer de tudo para se salvarem. Participante D: Sim, se nós temos capacidades para os ajudar, venham eles. Participante C: Mas às vezes, nem a nós mesmo conseguimos ajudar. Participante E: Ora nem mais. Moderadora da Reunião: Muito bem. Vou então agora passar a mostrar algumas fotografias utilizadas pelos media relativamente à crise de refugiados e peço-vos que me digam os vossos pensamentos ao ver essas fotografias. Fotografia Nº 1 Participante F: Então, vê-se pessoas a sair de um barco. Participante A: É muito triste que existam pessoas a passar por uma situação destas. Participante D: Ninguém merece. Participante B: Mas também só estão a meter-se nestas situações perigosas porque querem. Fotografia Nº 2 Participante D: Vê-se claramente que a criança está assustada. Coitadinha da menina. Participante C: Pois aqui ainda se vê o pai a ajudá-la, pelo menos. Fotografia Nº 3 Participante E: Isto devem ser eles a vir de lá dos países deles. Participante B: Eles deviam ter mais cuidado por causa das criancinhas. Fotografia Nº 4

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Participante A: Olhe, isto deixa-me muito triste. Vê-se mesmo que é uma mãe que só está a tentar proteger o seu filho. Participante F: De facto, é uma imagem que chama à atenção. Fotografia Nº 5 Participante D: Eles vivem em condições que ninguém devia viver, ver as pessoas todas amontoadas assim é muito triste. Participante B: De facto, vivem em condições degradantes. Fotografia Nº 6 Participante E: É possível ver a inocência na cara do miúdo, não tem grande noção do que se passa à volta dele. Participante A: Acho interessante que a cara da criança mostra um bocado de ingenuidade e a cara dos pais mostra preocupação. Fotografia Nº 7 Participante F: Aqui vê-se uma menina a tomar conta do seu irmão provavelmente, os pais se calharam abandonaram-nos. Fotografia Nº 8 Participante A: O que vale é que ainda há boas pessoas no mundo, capazes de ajudar aqueles que mais necessitam sem pedir nada em troca. Participante C: Sim, isso é verdade. E as crianças são as que saem mais prejudicadas no meio desta confusão toda. Fotografia Nº 9 Participante B: Isto não tem jeito nenhum, agarrarem na criança desta maneira. Participante D: Vê-se que é a única solução. Estas pessoas estão a lutar pela vida. Fotografia Nº 10 Participante A: Aqui é possível ver o trabalho incrível dos médicos.

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Participante F: É muito triste ver a criancinha neste estado, é uma imagem chocante. O que me preocupa é eles virem para cá e por vezes nem sabemos as intenções. Fotografia Nº 11 Participante A: Tão triste ver uma criança assim abandonada, vê-se mesmo pela carinha que não sabe dos seus pais. Fotografia Nº 12 Participante C: Tem-se visto muito os pais com os filhos. Participante B: Sim, tem sido recorrente. Fotografia Nº 13 Participante A: O que muita gente não sabe é que estas pessoas têm que percorrer imenso quilómetros só para encontrar um espaço seguro. Fotografia Nº 14 Participante E: Embora não seja de acordo com a vinda dos refugiados para Portugal, fico sentido quando vejo as crianças a sofrerem deste jeito. Participante D: Por isso é que acho que se formos capazes de os acolher, que o devemos fazer. Fotografia Nº 15 Participante F: Acho que eles tentam usar as crianças a chorar para manipularnos. Participante A: Discordo completamente, acham que estão simplesmente a tentar retratar a realidade. Fotografia Nº 16 Participante D: Consigo sentir o sofrimento da rapariga. Fotografia Nº 17

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Participante E: Mais uma vez, só se vê pessoas em barcos e crianças. Isto é manipulação dos jornais. Fotografia Nº 18 Participante A: As pessoas nesta situação acabam por levar tudo o que conseguirem, porque vão se embora do país onde cresceram sem promessa de voltar. Participante B: Mas isso não lhes dá o direito de invadir o nosso território e roubar os nossos trabalhos. Fotografia Nº 19 Participante D: Não sei mesmo como há pessoas contra a vinda dos refugiados em Portugal quando se vê que são só famílias a tentar escapar à morte. Participante E: Mas hoje em dia com os atentados que se vê lá fora é impossível não ficar com medo, porque nós também queremos a segurança para as nossas famílias cá dentro. Fotografia Nº 20 Participante A: Já tinha visto esta fotografia nas notícias e deixa-me sempre muito triste. Participante D: Concordo. E só porque acabou assim para esta criança, não significa que tem de acabar assim para o resto das pessoas. Participante C: É o seguinte, eu não ficaria oposto à entrada dos refugiados se, de facto, houvesse um maior controlo sobre quem cá entra. E se for para ajudar, nunca esquecer que primeiro estão os portugueses e depois os outros. Moderadora da Reunião: Após verem estas fotos, a vossa opinião alterou-se ou manteve-se? Participante A: Manteve-se, claro. Participante D: A minha também, sou completamente a favor. Participante B: Eu continuo a achar que não devemos ser nós a resolver os problemas deles, por isso a minha opinião mantém-se. 85


Participante E: Concordo plenamente. Participante F: Sim, a minha também se mantém igual Participante C: Depois de ver estas fotografias acho que se alterou, mas devemos sempre proteger os nossos também. Moderadora da Reunião: Pronto, chegámos assim ao final da reunião. Obrigada novamente pela vossa disponibilidade. Vou passar a distribuir um questionário rápido para sintetizar a reunião. Grupo 3 – 6 Participantes – Jovens – Lisboa Moderador da Reunião: Bom dia, queria antes de mais agradecer a vossa disponibilidade para participar nesta reunião de grupo. O meu nome é Inês Castro e Barôa, sou aluna de 3º ano de Ciências da Comunicação no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, da Universidade de Lisboa e esta reunião realiza-se no âmbito da unidade curricular de seminário, sob a orientação do professor auxiliar convidado António Vilela, com o tema fotojornalismo e a crise de refugiados europeia. Peço-vos que respondam com a máxima sinceridade e não se preocupem em dar a resposta certa ou errada, visto que ninguém será avaliado e como tal não há respostas corretas ou erradas, e esta reunião está a realizar-se apenas com o objetivo de entender a opinião geral acerca do tema. Relembro que a reunião será gravada em formato áudio e vídeo, estes ficheiros são confidencias e utilizados apenas para este estudo, sendo que após a realização do mesmo serão apagados. Vou passar a distribuir o documento de acorde de confidencialidade onde podem autorizar, ou não, a gravação de vídeo e áudio. Vamos então passar às perguntas. 1. Estão familiarizados com a Crise Migratória Europeia? Todos: Sim. 2. Costumam ler notícias? Todos: Sim. 3. Quando leem notícias recorrem à versão impressa ou online dos jornais? Participantes A e B: Online e impresso. 86


Participantes C, D, E e F: Online. 4. Ao ler uma notícia atribuem mais importância ao texto ou à fotografia? Participante A: Depende um pouco do tema da notícia. Participante B: Por vezes, achamos que atribuímos mais importância ao texto quando na verdade atribuímos mais importância à imagem. Participante C: Concordo. Participante D: Sim, se for um tema maçador acabo por atribuir mais importância à imagem, pois penso que esta deve captar a minha atenção. Participante E: Por exemplo, no caso da crise migratória, a fotografia é muito importante porque pode causar impacto maior nas pessoas. 5. Acham que os refugiados são representados de forma correta na imprensa portuguesa? Participante F: Sinto que não existe tanta discriminação em Portugal, nos media, em comparação com outros países. Participante B: Acho que o enfoque é maioritariamente negativo Participante A: Concordo. E depende muito do jornal. 6. Qual é a vossa opinião acerca dos refugiados? Participante C: Penso que devemos respeitar o facto de eles virem à procura de melhores condições de vida, pois fazem-no por uma questão de necessidade. Participante F: Acho que na população mais jovem há mais tolerância e menos estigma relativamente ao assunto dos refugiados. Condutor da Reunião: Muito bem. Vou então agora passar a mostrar algumas fotografias utilizadas pelos media relativamente à crise de refugiados e peço-vos que me digam os vossos pensamentos espontâneos ao ver essas fotografias. Fotografia Nº 1 Participante D: Apesar de tudo, a fotografia transmite-me esperança. 87


Participante B: Sim, embora angustiante. Participante C: Concordo. Fotografia Nº 2 Participante A: Que horror. É mesmo uma realidade bastante triste. Participante B: Mais uma vez, sinto imensa angústia. Participante F: Um grande desespero. Fotografia Nº 3 Participante E: Vejo a incerteza, o não saber do que vem a seguir e o que esperar. Participante A: Sem duvida. Fotografia Nº 4 Participante A: Vejo isto de dois modos, por um lado vejo à esperança por causa do resgate, e por outro lado o desespero que leva estas pessoas a meterem-se em alto mar. Fotografia Nº 5 Participante D: Nota-se a exclusão. Participante E: Sim, o egoísmo, a discriminação, o racismo. Fotografia Nº 6 Participante C: Vê-se a ingenuidade da criança que não sabe o que se passa. Fotografia Nº 7 Participante D: Sinto a solidão, por estar sozinha no acampamento. Participante A: Sim, estava a pensar nisso. Fotografia Nº 8 Participante B: É possível sentir compaixão. Participante A: Exato, e a esperança.

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Fotografia Nº 9 Participante D: Da parte dos voluntários é percetível a sua coragem, da parte dos refugiados sinto o desespero. Participante B: Sim, e vê-se também a falta de condições. Fotografia Nº 10 Participante F: É uma imagem bastante forte e triste. Participante E: Nem consigo imaginar a pressão dos médicos para tentarem ajudar a criança. Fotografia Nº 11 Participante D: Mais uma vez, vê se a ingenuidade no rosto da criança. Quanto mais pequenas forem as crianças, menos estas terão a perceção do que se passa à sua volta. Participante B: Sim, sem dúvida. E nas crianças que já tem alguma perceção do que se passa, isto vai estar sempre na cabeça delas. Fotografia Nº 12 Participante F: Passa uma mensagem de luta pela sobrevivência. Participante B: Neste tipo de fotografias, tenho sempre tendência em olhar para o rosto das crianças. Tem sido bastante recorrente que estas são das maiores vítimas devido à sua ingenuidade e de não saberem o que se passa à volta, sabem apenas que sentem medo. Fotografia Nº 13 Participante A: Mais uma vez, nota-se que a força das famílias é incrível. Fotografia Nº 14 Participante D: Nota-se bastante o sentimento de solidão. Fotografia Nº 15

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Participante E: Sente-se a separação. Participante C: Tem-se notado bastante que existe uma maior representatividade dos homens e não das mulheres nas fotografias. Fotografia Nº 16 Participante D: O desespero no rosto das pessoas é recorrente. É mesmo muito triste. Participante A: Sim, é possível sentir a persistência das pessoas na luta pela vida. Fotografia Nº 17 Participante B: Sentimento de união. Participante A: Vontade de ter uma vida melhor Fotografia Nº 18 Participante F: Embora as pessoas estejam rodeadas de outras pessoas, o sentimento que transmite é o de solidão. Fotografia Nº 19 Participante C: É triste ver o desespero das famílias ao abandonarem tudo e deixarem tudo para trás. Fotografia Nº 20 Participante D: Esta foto é tão triste e tão chocante, mas retrata perfeitamente o ambiente que se viveu e ainda se vive nesta crise de refugiados. Participante E: Sem dúvida. Eu já tinha visto esta fotografia, mas é sempre chocante cada vez que a vejo. Moderadora da Reunião: Após verem estas fotos, a vossa opinião acerca dos refugiados alterou-se ou manteve-se? Participante A: No meu caso, não se alterou porque já tinha conhecimento deste tema após acompanhar esta situação das notícias.

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Participante F: Pois, eu também não acho que se alterou pelo mesmo motivo. Participante B: Sim, acho que é impossível não estar a par desta situação. Participante C: Exato, penso que só não vê, quem não quer. Participante E: Concordo, e o facto de as notícias estarem ilustradas com fotografias, em que os principais protagonistas são as crianças e a sua inocência perante esta situação, faz com que nos sensibilize ainda mais acerca desta causa. Participante D: Sem dúvida. Moderadora da Reunião: Pronto, chegámos assim ao final da reunião. Obrigada novamente pela vossa disponibilidade. Vou passar a distribuir um questionário rápido para sintetizar a reunião. Grupo 4 – 6 Participantes – Idosos – Lisboa Moderadora da Reunião: Bom dia, queria antes de mais agradecer a vossa disponibilidade para participar nesta reunião de grupo. O meu nome é Inês Castro e Barôa, sou aluna de 3º ano de Ciências da Comunicação no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, da Universidade de Lisboa e esta reunião realiza-se no âmbito da unidade curricular de seminário, sob a orientação do professor auxiliar convidado António Vilela, com o tema fotojornalismo e a crise de refugiados europeia. Peço-vos que respondam com a máxima sinceridade e não se preocupem em dar a resposta certa ou errada, visto que ninguém será avaliado e como tal não há respostas corretas ou erradas, e esta reunião está a realizar-se apenas com o objetivo de entender a opinião geral acerca do tema. Relembro que a reunião será gravada em formato áudio e vídeo, estes ficheiros são confidencias e utilizados apenas para este estudo, sendo que após a realização do mesmo serão apagados. Vou passar a distribuir o documento de acorde de confidencialidade onde podem autorizar, ou não, a gravação de vídeo e áudio. Vamos então passar às perguntas. 1. Estão familiarizados com a Crise Migratória Europeia? Todos: Sim. 2. Costumam ler notícias?

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Todos: Sim. 3. Quando leem notícias recorrem à versão impressa ou online dos jornais? Participantes A, B, C, E e F: Ambos. Participante D: Só versão impressa. 4. Quando leem uma notícia atribuem mais importância ao texto ou à fotografia? Participante A: Eu acabo por atribuir muito mais importância ao texto, sem dúvida. Participante C: Sim, concordo. Participante F: Sem dúvida, acho que o texto deve prevalecer sempre. Participante D: Em certa parte concordo, mas penso que uma imagem atrativa também complementa um bom texto. 5. Acham que os refugiados são representados de forma correta na imprensa portuguesa? Participante E: Penso que não. Participante B: Sim, acho que em certos jornais são mal representados. Participante A: Sim, concordo. 6. Qual é a vossa opinião acerca dos refugiados? Participante E: Acho muito bem que venham, se tivesse na posição deles também queria ajuda. Participante C: Sou completamente a favor com a vinda deles para países que os possam acolher. Participante F: Sim, também acho. Participante B: Qualquer pessoa bem informada, saberá que essas pessoas estão a passar por imensas dificuldades e merecem ser ajudadas.

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Participante D: Na minha opinião, não concordo muito com a vinda deles para cá, com as notícias que se veem hoje em dia temos de ter cuidado com quem deixamos entrar no nosso país. Se acontece aos outros também pode acontecer a nós. Moderadora da Reunião: Muito bem. Vou então agora passar a mostrar algumas fotografias utilizadas pelos media relativamente à crise de refugiados e peço-vos que me digam os vossos pensamentos ao ver essas fotografias. Fotografia Nº 1 Participante A: Felizmente, ainda há pessoas boas neste mundo. Participante C: Sim, os voluntários têm sido grandes heróis ao longo desta crise migratória. Participante: F: Sem dúvida. Fotografia Nº 2 Participante B: Coitada da mocinha. É que se vê mesmo na cara dela que está assustada. Participante E: Nenhuma criança devia passar por isto. Participante D: Mas até que ponto isto não são fotografias para manipular as pessoas? Fotografia Nº 3 Participante F: Já vi muitas fotografias como estas, em que as pessoas estão em pânico nos barcos, por vezes até sem rumo. Participante C: Deixa-me muito triste, nem quero imaginar se fosse eu ou a minha família nesta situação. Fotografia Nº 4 Participante A: Enquanto mãe e avó, esta fotografia parte-me o coração. Participante F: Sim, é mesmo muito triste o que estas pessoas têm de fazer para proteger as suas crianças.

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Fotografia Nº 5 Fotografia B: Aqui vemos outra vez famílias amontoadas à espera de uma solução, é uma realidade miserável. Fotografia D: Sim, mas também nem tudo é o que parece, não sabemos se estas vivências não fazem já parte da vida destes indivíduos. Fotografia Nº 6 Participante C: Por acaso tenho reparado que muitas destas fotografias têm crianças. Participante E: Sim, neste caso vemos a criança da boia com uma cara preocupada. Participante F: Ninguém desta idade devia sofrer desta maneira. Fotografia Nº 7 Participante A: Quando olho para esta imagem sinto o peso da responsabilidade nos ombros desta menina a tomar conta daquele que parece ser a sua irmã. Participante E: Concordo, deve ser um grande sofrimento. Fotografia Nº 8 Participante D: Tiro o chapéu aos voluntários, é um trabalho difícil. Participante F: Sem dúvida. Participante B: A única sorte que esta criança tem é que se sobreviver não se vai lembrar que isto se passou à volta dela, desde que abra-mos as portas do nosso país para os acolher. Fotografia Nº 9 Participante D: O sofrimento das crianças é o que me choca mais, mas acho que isso são mesmo os jornais a tentarem manipular. Participante E: Olhem também para as pessoas que estão no mar a tentar lutar pela vida. Que aflição! 94


Fotografia Nº 10 Participante A: Aí, coitadinha da criança. O mundo é tão cruel às vezes. Participante B: É de facto uma realidade que tem de ser concertada. Fotografia Nº 11 Participante F: Aqui vê-se a tristeza na cara da criança. Participante C: Pois é, até parece meio confusa, não é? Não perceber o que se passa, só sabe que está assustada. Fotografia Nº 12 Participante D: Bom, enquanto homem de família, não consigo não sentir algo ao ver estas imagens. Participante A: Pois, eu também. Fotografia Nº 13 Participante E: É impressionante como devido a estas situações de guerra criadas por adultos, as crianças são obrigadas a crescerem mais rápido e a serem responsáveis quando deviam aproveitar a infância. Fotografia Nº 14 Participante B: É impossível ficar indiferente, só mesmo quem não tem coração. Participante F: Exatamente, era isso que ia dizer. É um sofrimento terrível. Fotografia Nº 15 Participante C: Mais uma vez uma criancinha assustada, que miséria de vida. Fotografia Nº 16 Participante A: Aquilo que me identifico muito nesta foto é o sofrimento das mulheres, como a desta senhora. Talvez tenha perdido o seu filho e deve ser uma dor que eu nem quero imaginar. Participante B: Sim e espero nunca vir a passar por isso. 95


Fotografia Nº 17 Participante D: Vou ser muito sincero, até podia concordar com a sua vinda para o nosso país, desde que haja um maior controlo de quem entra. Como é óbvio não desejo que ninguém sofra, mas também não quero que ninguém venha prejudicar os nossos portugueses. Fotografia Nº 18 Participante B: É incrível como as famílias são obrigadas a deixar tudo para trás e a levar apenas o essencial. Participante F: É verdade. Fotografia Nº 19 Participante A: Pronto, e aqui temos um pai e uma filha também a tentar sobreviver. Participante E: Honestamente, espero que estejam a salvo e as portas do nosso país estarão sempre abertas para eles. Fotografia Nº 20 Participante B: Aí, esta foto não. Nem consigo ver. Participante A: Coitadinha da criança, só espero que agora esteja a descansar em paz. Participante C: Já tinha visto esta fotografia na internet e é sempre muito chocante e triste quando a vejo, os seres humanos conseguem fazer coisas horríveis a que menos merece. Participante D: É mesmo muito triste, de facto. Moderadora da Reunião: Após verem estas fotos, a vossa opinião alterou-se ou manteve-se? Participante A: Manteve-se e digo mais, acho que cabe a nós fazer a nossa parte para podermos ajudar os refugiados.

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Participante F: Sim, a minha também se mantém e concordo. Participante B: Pois, a minha também. Participante E: Também a minha, penso que é o nosso dever. Participante C: A minha opinião também se mantém e acho que depois de ver estas fotos ainda fico mais sensibilizada para esta causa. Participante D: É como lhe disse, não sou totalmente oposto à vinda dos refugiados para cá. Sou apenas um pouco apreensivo por querer o melhor para aqueles que me rodeiam e o seu bem-estar. Mas sim, ver estas fotografias também me chocou bastante. Moderadora da Reunião: Pronto, chegámos assim ao final da reunião. Obrigada novamente pela vossa disponibilidade. Vou passar a distribuir um questionário rápido para sintetizar a reunião.

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