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Pós-leitura

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Pré-leitura

Pré-leitura

Estimule os estudantes a lembrar dos conceitos aplicados nas aulas de Língua Portuguesa: a que gênero literário pertence a obra? Por quê? A opção de se ter como narrador uma primeira pessoa onisciente revela uma intenção para o desenvolvimento da trama? Por quê? É possível comparar a realidade apresentada no livro a situações e fatos do mundo de hoje?

Cumpre lembrar que uma obra literária procura sempre pelo interlocutor que não só a renove, mas a recrie. Assim, procure instigar os estudantes a se assumirem como os interlocutores críticos e ativos para esse livro.

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PÓS-LEITURA

No trabalho de pós-leitura, proponha primeiramente uma roda de conversa em que os estudantes possam manifestar suas impressões e ideias sobre a obra em sua totalidade.

Depois, proponha atividades que favoreçam o estabelecimento de relações entre a obra e outros conhecimentos, sistematizando a compreensão e o significado da leitura.

Atividade 1

Leia a seguinte passagem retirada de Avante, soldados: para trás. Pede-se atenção aos pronomes e formas de tratamento nela destacados:

[...] De resto, os tratamentos pessoais eram insólitos. Desde o começo do século, por alvará de D. João VI, fora disciplinado seu uso com vistas a dirimir diferenças entre fidalgos. O rei percebeu que as ruas

brasileiras eram mais estreitas do que as de Portugal e que isso seria causa de muita desavença entre os da corte. Não estava enganado. “Vossa Excelência” era tratamento dispensado a quem, em Portugal, andava em carruagem de quatro cavalos, que as ruas do Rio de Janeiro não comportavam. Os fidalgos então se ofendiam com tratamentos inadequados. Mesmo os bispos, que faziam jus ao tratamento de “eminências” – todas elas brancas, pois a Igreja assim escolhia as cores e as hierarquizava tanto quanto aos cargos –, não podiam furtar-se a andar em charretes de um só cavalo e, nesse caso, eram confundidos com alguma “senhoria”, já que “Vossa Senhoria” era o tratamento para quem andava em carroça de um cavalo só. Não houve problemas para quem andava a cavalo, que sempre fazia jus ao tratamento de “senhor”, tanto no Brasil como em Portugal. Quem andava sempre a pé era chamado de “tu” ou “você”, conforme a região em que circulava.

(p. 64)

Agora, converse com os estudantes. Essas marcas de tratamento estabelecidas pelos pronomes e outros termos permanecem até hoje? Por que o narrador faz uso desse levantamento? O destaque direcionado aos cargos reflete uma crítica à imobilidade social a que o país ainda está sujeito?

Peça que os estudantes analisem essa e outras passagens do livro, identificando e transcrevendo expressões semelhantes, a fim de

criar um quadro que formalize os pronomes de tratamento vigentes na nossa língua culta. Essa atividade é importante para que os alunos entendam que essas escolhas são deliberadas e variam de acordo com as intenções comunicativas.

Essa atividade colabora para o domínio de várias formas da linguagem, que podem alterar-se de acordo com o que exige o contexto de comunicação. Não se trata de decorar o pronome apropriado, mas de desenvolver a capacidade de operar as diversas situações comunicativas do discurso.

Atividade 2

Leia duas passagens de duas obras diferentes. A primeira é do livro que você acabou de ler, Avante, soldados: para trás; a segunda é de Graciliano Ramos, na obra São Bernardo.

[...] Transcrevo o que colhi de ouvido e sentimento. Eu estava lá, mas os acontecimentos se espalhavam por muitos lugares. Nem tudo eu via. Nem tudo eu ouvia. São muitas as limitações de quem escreve. Maiores do que aquela de quem lê. Mesmo em tempos de paz. Eu estava em guerra. Servia ao meu país. Como soldado e escritor. Lutava e escrevia. O que recolhi, passo à posteridade. Aí vai, pois, a transcrição do recorte do impresso, achado pelos soldados num peçoeiro perdido em campo de batalha. (p. 104)

[...] A princípio tudo correu bem, não houve entre nós nenhuma divergência. A conversa era longa, mas cada um prestava atenção às próprias palavras, sem ligar importância ao que o outro dizia. Eu por mim, entusiasmado com o assunto, esquecia constantemente a natureza do Gondim e chegava a considerá-lo uma espécie de folha de papel destinada a receber as ideias confusas que me fervilhavam na cabeça. O resultado foi um desastre. Quinze dias depois do nosso primeiro encontro, o redator do Cruzeiro apresentou-me dois capítulos datilografados, tão cheios de besteiras que me zanguei: — Vá para o inferno, Gondim. Você acanalhou o troço. Está pernóstico, está safado, está idiota. Há lá ninguém que fale dessa forma! Azevedo Gondim apagou o sorriso, engoliu em seco, apanhou os cacos da sua pequenina vaidade e replicou amuado que um artista não pode escrever como fala. — Não pode? — perguntei com assombro. — E por quê? (Graciliano Ramos, São Bernardo. Rio de Janeiro, São Paulo: Record, 1985, p. 8-9.)

Em seguida, proponha aos estudantes que comparem e estabeleçam relações entre as duas passagens. Quais os problemas enfrentados pelos narradores em seus relatos? Por que eles fazem opção por um registro linguístico mais próximo da linguagem falada? Seria possível

recontar os eventos de Avante, soldados: para trás de modo ainda mais erudito sem perder sua autenticidade?

Em seguida, nesta atividade, propomos que os estudantes façam a transposição das indagações que movem cada um dos narradores anteriores para seu próprio registro da língua, sem que, claro, esse texto tenha caráter ofensivo ou lance mão de termos chulos. Cumpre lembrar que esses recursos, se por vezes são utilizados em obras literárias, exercem uma função que não é a proposta dessa atividade. Mas é importante lembrar que, ao dotar seus estudantes de um registro próprio da língua, a individualidade deles se revela também.

Eles podem criar um narrador em primeira ou terceira pessoa, ou ainda figurar aqueles pensamentos dos narradores-protagonistas de Avante, soldados: para trás, de Deonísio da Silva, e São Bernardo, de Graciliano Ramos, em uma história em quadrinhos ou outros modos de ilustração, por exemplo. O importante é explorar as potencialidades dos gêneros discursivos junto aos estudantes.

Atividade 3

Leia a seguinte passagem de Avante, soldados: para trás:

[...] – Está certo. Escreva aí: a 7 de maio começamos a fugir. – Admiro sua sinceridade, meu comandante. Mas o verbo tem de ser outro. Fugir não fica bem para um militar. Que se dirá quando todos fogem? – Mas não fogem; acompanham o comandante. A responsabilidade é minha.

– Escrevo apenas o que o senhor dita. Mas pondero. Uma coisa é o que o senhor faz com as balas, as espadas, os canhões. Outra, bem diferente, é o que podem as palavras. Se escrever aqui “fugimos a 7 de maio” ou “começamos a fugir a 7 de maio”, nunca mais terminaremos nossa fuga. Seremos submetidos a conselho de guerra, a corte marcial, onde nos cortarão a todos, soldos inclusive. Viveremos do quê? Diremos que estávamos seguindo nosso comandante? Cuidado com as palavras. Vamos usar um termo militar, concorda? A sociedade não haverá de aceitar que fugimos. – Engano seu. A sociedade aceita. Aceita tudo o que disseram para ela aceitar. Os que mandam é que não aceitam. Mas mudemos, então, para um termo militar, pois militar é o que dita, militar é o que escreve. Nisso nos entendemos, porque quem escreve é também o que luta. Escreva aí: a 7 de maio demos início à retirada. – Ficou melhor, comandante. Xenofonte também se retirou. Xenofonte não fugiu. – Está bem, francês. Xenofonte, pois sim. Só o nome me aumenta a sede. Fonte estranha essa que você soletra. […]

(p. 157-158)

Comente com os estudantes que nesse trecho um personagem faz uso de uma figura de linguagem chamada “eufemismo”. Ela consiste

em suavizar ou minimizar um ato ou um efeito que, em determinado contexto, poderia ter uma acepção menos agradável. É o caso de “fuga” e de “bater em retirada”: o primeiro denota covardia; o segundo, ação, ainda que em ambos o resultado seja o mesmo.

Uma outra figura de linguagem é o paradoxo criado pelo título do livro: “avante” quer dizer “para frente”; “para trás”, recuar. Essa escolha do escritor se dá em razão de uma contradição apenas aparente: o Coronel Carlos de Morais Camisão foi o responsável pela “retirada da Laguna”, momento de baixa do exército brasileiro na guerra retratado no livro. Na passagem, há ainda um outro recurso chamado “gradação”, em que ideias são somadas uma após a outra:

“A sociedade aceita. Aceita tudo o que disseram para ela aceitar.”

Com base nessa afirmação, a de que a “sociedade aceita tudo”, proponha aos estudantes que produzam um texto a partir da reflexão:

vocês concordam com a afirmação do comandante? Hoje, a sociedade brasileira aceita tudo o que disserem para ela aceitar?

Oriente os estudantes para que, em seus textos, organizem a estrutura dissertativa de modo a lançar mão dessas ou de outras “figuras de linguagem” na construção.

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