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cena 1

Estamos numa praça pública. Surgem Sansão e Gregório aparelhados de espadas e escudos. Sansão, muito irritado, pronto para se meter numa encrenca, vai logo avisando que se aparecer um dos Montecchio ele puxa a espada. Eles conversam e, percebendo que dois jovens que trabalham para os Montecchio estão se aproximando, Gregório fala para Sansão pegar a espada. Eles começam a trocar ideia se devem provocar os Montecchio ou se é melhor esperar

os outros começarem a briga. Para provocar os inimigos, Sansão diz que vai morder o seu próprio dedão para ver a reação deles. Abraão e Baltasar passam e perguntam se a mordida é para eles, ao que Sansão responde que só está mordendo o dedão. Gregório provoca Abraão e pergunta se está procurando encrenca. Abraão não aceita a provocação e revida. Começam a discutir e a comparar as famílias para quem trabalham até que Gregório e Sansão sacam as espadas e a briga começa. Nisso chega Benvolio, que tenta evitar o combate, mas Tebaldo, primo de Julieta que também acaba de chegar, saca a espada e vai para cima de Benvolio.

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Benvolio explica que estava tentando restabelecer a paz e pede que Tebaldo guarde a espada e ajude a separar o bando. Mas Tebaldo não quer saber e diz: – Você fala em paz com a espada na mão? Detesto essa palavra do mesmo jeito que detesto o inferno. Odeio todos os Montecchio e você. Vamos lutar, covarde!

Pronto, eles perdem o controle e saem se batendo, e diversos partidários das duas casas inimigas entram na briga. De repente, surgem guardas e cidadãos armados de paus gritando: – Paulada! Cacetada! Guardas! Desçam a lenha! Derrubem esses Montecchio! Derrubem esses Capuleto!

A confusão está armada! É paulada, tapa e espadada para todo lado, quando chega o casal Capuleto. O senhor Capuleto pede que lhe passem a espada alegando que o

velho Montecchio está vindo em sua direção com a espada em punho.

O casal Montecchio, pais de Romeu, chega e a senhora Montecchio detém o marido, que pretende pegar a espada e entrar na luta. Montecchio grita: – Ah, Capuleto maldito! Me solta, me deixa!

A confusão só não é maior e não tem consequências mais graves porque, do nada, aparece o Príncipe montado em seu cavalo, acompanhado do seu séquito. Ao ver aquele circo armado, grita: – Alto lá, arruaceiros, inimigos da paz que tanto abusam dessas lâminas manchadas com o sangue de seus irmãos! Feras! Parem com esse ódio inútil que contamina as suas veias! Sob pena de tortura, ordeno que baixem as armas mal apontadas nessas mãos sanguinolentas! Escutem a sentença de um príncipe muito irritado: por sua causa, velho Capuleto, por sua causa, velho Montecchio, três rixas civis, de origem totalmente banal, vêm perturbando a tranquilidade das nossas ruas, obrigando cidadãos a deixar suas ocupações para apartar brigas e chamar ajuda dos guardas para separar o ódio que os corrói. Se voltarem a perturbar o sossego das ruas, pagarão com a vida. Agora, retirem-se todos e... Capuleto, venha comigo! Montecchio, depois do meio-dia vá à casa de audiência para saber o que ficou decidido. Agora ordeno que todos saiam daqui, sob pena de morte.

Muito irritado, o pai de Romeu pergunta ao amigo de Romeu, Benvolio:

– Quem provocou toda essa baderna? Você viu?

Benvolio responde que, quando chegou na praça, os empregados de ambas as famílias já estavam engalfinhados e relata: – Eu puxei a espada para separar, mas aí apareceu o Tebaldo furioso com a espada na mão. Enquanto me provocava, girava a espada ao redor da cabeça, cortando o ar. Como o ar não se feria, assobiava desprezos. Enquanto a gente trocava botes e golpes, chegaram outros e começaram a se bater até que apareceu o príncipe para separar todo mundo.

Preocupada, a mãe de Romeu pergunta: – E onde está Romeu? Você o viu hoje? Ainda bem que não estava metido nessa confusão. – Saí de casa uma hora antes do amado sol aparecer na janela dourada do Oriente, porque me sentia mal e vi seu filho, tão madrugador quanto eu, passeando à sombra dos plátanos. Aproximei-me, mas, quando me viu, escondeu-se entre as árvores – responde Benvolio.

Igualmente preocupado com o filho, o senhor Montecchio comenta: – Já vi Romeu nesse lugar muitas madrugadas. Assim que o sol começa a apontar no mais longínquo Leste, abrindo as cortinas de sombra, meu melancólico filho entra em casa, fecha as janelas e se tranca no quarto, criando para si uma noite artificial. Sinto que isso pode não acabar bem sem alguém que lhe dê bons conselhos e consiga afastar a causa disso tudo.

Quando Benvolio pergunta ao tio se este sabe por que Romeu está assim, o pai de Romeu responde: – Não, nunca soube e ele nunca me disse. Já perguntei e tentei saber o que se passa com ele. Não só eu como vários amigos já tentaram. Só ele sabe de seus sentimentos. É muito prudente, discreto, concentrado e tão difícil de se abrir que lembra um botão de rosa que, quando picado por inseto, não deixa desabrochar as pétalas nem expõe sua beleza ao sol. Bastava saber de onde vem essa tristeza. Eu ficaria muito feliz se descobrisse e pudesse ajudar.

Benvolio percebe que Romeu está chegando e diz que vai tentar ver se descobre alguma coisa. Os pais de Romeu se afastam. Benvolio puxa conversa com Romeu: – Bom dia, primo. – É tão cedo assim? – Romeu quer saber. – Nove horas da manhã. – Pobre de mim! Como são longas as horas tristes. Meu pai não estava aqui com você? Por que a pressa de sair? – Estava, sim. Mas o que acontece que suas horas não passam, Romeu? – Não ter o poder de fazer com que elas passem logo. – Está apaixonado? Por que o amor, que parece tão gentil, na verdade é esse tirano? – É. Por que será que o amor, que é cego, sempre consegue enxergar por onde você anda, mesmo com os olhos vendados? Onde vamos comer? O que aconteceu aqui há pouco? Não precisa dizer. Já sei de tudo. O ódio dá muito trabalho, mas o amor dá muito mais. Então, amor brigão!

Ódio amoroso. Está em tudo. Desde sempre foi escravo do nada. Leviandade pesada. Vaidade séria. Caos disforme de formas harmoniosas! Chumbo leve! Fumaça brilhante! Chama fria! Saúde doente! Sono sempre desperto que nunca é o que é. É esse o amor que sinto e que me causa dor! Sinto-o e não o sinto. E você não ri disso tudo? – Não, primo, eu choro. – Que belo coração. E você chora por quê, Benvolio? – Pela opressão do seu bom coração. – Para você ver como o amor transgride! Os meus sofrimentos já incharam o meu coração e agora ele vai acabar transbordando se incluir os seus. O seu apreço só aumenta a minha dor, que já é enorme. O amor é uma fumaça feita de vapor de suspiros. Quando satisfeito é fogo que brilha nos olhos dos amantes e, quando contrariado, é um mar de lágrimas. O que é além disso? Loucura discreta, amargura que estrangula, doçura que sustenta. Tchau, primo. – Espera, Romeu. Eu vou com você. Está me ofendendo saindo assim... – Estou perdido. Não sou eu quem está aqui, este homem não é Romeu. Romeu está bem longe daqui. – Mas conta por quem você está apaixonado? – provoca Benvolio. – Vou suspirar se eu disser. – Suspirar? Não, falando sério. Diz quem é. – Manda um homem doente falar sério, Benvolio? É muito ruim importunar um doente com essa palavra. Sério, primo, quer mesmo saber quem eu amo? Uma mulher.

– Isso eu já tinha adivinhado logo de cara. – É um ótimo adivinho. E digo mais: a mulher que eu amo é bem bonita. – Quanto mais visível o alvo, melhor se acerta. – É. Só que você não acerta esse tiro, ela não será alvejada pelo arco do Cupido. Ela é protegida de Diana e anda armada de uma forte prova de castidade, sem temer as fracas e bestas flechas do amor. Também não adianta cercá-la com palavras de amor. Ela não liga para olhares provocantes e nem para o ouro que seduz até os santos. É rica em beleza e pobre numa só coisa: quando ela morrer, o tesouro vai junto com ela. – Quer dizer que jurou castidade? – pergunta Benvolio. – Jurou e é por isso que desperdiça o que tem. Deserda a posteridade tratando a beleza com esse rigor. É lindíssima e muito circunspecta. Ela jurou não me amar e por isso vou morrer cheio de vida, eu que só vivo para me declarar para ela. – Ouve o que estou dizendo: esquece essa moça – Benvolio aconselha. – Então me ensina como esquecê-la. – Dê um pouco de liberdade aos seus olhos. Deixe que eles também olhem para outras belezas. – Ah, claro. Desse jeito vou amá-la mais ainda, se for compará-la com outras. Tchau. Você não pode me ensinar a esquecer.

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