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cena 3

Agora estamos na casa dos Capuleto e a mãe de Julieta pede que a Ama a chame. – Estou aqui, minha mãe. O que deseja? – diz Julieta. – Já vai saber. Ama, deixe-nos a sós, um minutinho. Não, Ama... Fique, fique. Pensando bem, é melhor participar da nossa conversa. Sabe que a minha filha já está ficando com idade. – Nossa, eu posso até dizer a idade dela em horas! – diz a Ama. – Tem quase catorze anos – prossegue a mãe de Julieta.

E a Ama a interrompe, dizendo: – Aposto os meus catorze dentes, mesmo só tendo quatro na boca, que ainda não tem catorze. Quantos dias faltam para São Pedro? – Uns quinze dias – diz a senhora Capuleto.

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E a Ama começa a falar desenfreadamente: – Então, por São Pedro, é na noite do dia de São Pedro que ela completa catorze anos. Na noite de São Pedro, eu me lembro muito bem, que ela faz catorze anos. Foi depois do terremoto, há onze anos, que ela desmamou, não vou esquecer nunca, sentei ao sol, encostada no muro, ao pé do pombal para amamentar. O patrão e a senhora tinham ido a Mântua, lembro direitinho. Foi aí que o pombal começou a tremer e não precisei que ninguém me dissesse para

correr. De lá para cá, faz onze anos, ela já andava sozinha. É isso mesmo, corria por todos os cantos da casa. E no dia anterior, fez um galo na testa e aí o meu marido, que Deus o tenha em bom lugar, brincalhão, levantou a menina e disse: “Opa, opa, caiu de cara no chão? Espera crescer um pouco que aí você vai cair de costas”. Não é mesmo, Julieta? – Chega, basta! É melhor ficar calada, Ama – diz a mãe de Julieta em tom de reprovação.

Julieta também pede que a Ama pare de falar. – Tá, tá. Já parei. Deus te crie e dê boa sorte. A menina mais linda que eu já criei. O que eu mais quero agora é vê-la casada.

A senhora Capuleto pega o gancho da conversa e diz: – Certo! É justamente sobre casamento que eu queria falar. Então Julieta, como está sua disposição para casar? – Nunca pensei nesse assunto – responde Julieta. – Bom, então está na hora de pensar. Moças mais novas que você aqui de Verona já se casaram e até já são mães. Pelas minhas contas, me tornei mãe na sua idade. E você ainda é virgem. Bom, resumindo, o valoroso Páris está interessado em você – diz a mãe de Julieta.

E a Ama já se mete novamente: – Oh! Que homem! Que homem, menina! Não tem outro desses no mundo! Até parece ser de cera! – Não há em Verona flor mais bela que ele – emenda a senhora Capuleto. – Isso mesmo, ele é uma flor. Uma flor de verdade – confirma a Ama, entusiasmadíssima.

– E então? Será que é capaz de amar esse maravilhoso homem? – a mãe de Julieta quer saber. – Ele estará hoje à noite na festa. Você pode observar bem o rosto dele e aí descobrirá a felicidade escrita pela beleza. Olhe bem para aqueles traços e verá como se combinam harmonicamente. E se acaso alguma coisa parecer obscura, peça explicação aos olhos dele. É um livro precioso e, para completar a sua beleza, falta-lhe a capa. É uma grande honra para a beleza exterior poder envolver a beleza interior. Assim, casando com ele, você participará de tudo que ele possui sem que ele a diminua.

E novamente a Ama comenta: – Diminuir? Coisa nenhuma, vai é aumentar, porque as mulheres se sobressaem por causa dos homens. – Então, lhe agrada o amor de Páris? – insiste a mãe.

E Julieta responde: – Olharei para ele como a senhora falou, mas não sei se o olhar basta para fazer nascer a simpatia.

Entra um criado avisando que os convidados já estão chegando e que está tudo pronto para o jantar. Avisa que estão perguntando pela senhora e por Julieta.

A Ama apressa Julieta: – Anda, menina, anda. Vai tratar de ter noites felizes para passar dias felizes.

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