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cena 5
Na sala, o alvoroço é grande. Os criados correm de lado a outro para darem o toque final, verificam pratos, talheres e guardanapos. Os músicos aguardam de prontidão. O senhor Capuleto recebe os convidados mascarados. – Bem-vindos, senhores! As moças que não têm calos nos pés querem dançar. Ah! Alegres meninas, qual de vocês não quer dançar? Garanto que as desanimadas têm calos. Já se foi o tempo em que eu também usava máscara e cochichava segredos no ouvido de uma moça bonita... Passou. Comece a música! Deem lugar, deixem o espaço livre! Andem moças, comecem a girar.
A música toca e as danças começam.
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Romeu pergunta a um criado: – Quem é aquela que está dando a mão para o homem ali no fundo? O criado diz não saber de quem se trata. Romeu observa uma moça e pensa em voz alta: – Ah, ela ensina as luzes a brilhar! Pendurada na face da noite como se fosse uma rica joia na orelha de um etíope: beleza rica demais para ser usada, preciosa demais para a terra! Parece um cisne de neve entre os corvos. Quando a dança acabar, vou prestar atenção onde ela vai ficar. E se minhas mãos rudes puderem tocar as dela, serão abençoadas. Meu coração já amou até agora? Olhos meus, desmintam se puderem, porque até essa noite, jamais vi uma beleza verdadeira.
Tebaldo, o primo de Julieta, está ali por perto e ouve a voz de Romeu: – Essa voz parece de um Montecchio. Como esse escravo se atreve a vir aqui com essa máscara grotesca. Gozar da nossa festa! Pela honra do meu sangue, vou matá-lo agora e isso não será pecado.
O senhor Capuleto percebe a irritação de Tebaldo e pergunta: – O que foi, sobrinho? O que acontece com você? – Tio, aquele é um Montecchio, nosso inimigo. Entrou aqui para nos provocar. Quer acabar com a nossa alegria. – Não é o jovem Romeu? – pergunta o pai de Julieta. – O próprio, o infame Romeu – responde Tebaldo, indignado. – Calma sobrinho, fique tranquilo. Deixe-o sossegado. Ele está se comportando perfeitamente bem. Para ser franco, Verona tem orgulho dele. Ele tem muitas virtudes e é bem-educado. Nem por toda a riqueza da cidade eu iria querer que ele fosse ofendido em minha casa. Acalme-se e fique alegre. Essa é a minha vontade. Respeite-a e vê se tira essa cara feia e coloca uma de festa. – Irrita muito quando um penetra safado se mete na nossa festa. Não o suporto. – Mas vai ter de suportar. Estou mandando que o deixe em paz! Afinal, quem manda aqui? Você ou eu? Não o suporta, onde já se viu?! Deus me livre e guarde. Querendo arrumar uma encrenca aqui, no meio dos meus convidados? Provocar briga? Mandar na festa?
– Mas, tio, é vergonhoso... – Vai, vai. Você não acha que está sendo muito petulante, não? Ainda pode acabar se dando mal com essa história. Já entendi tudo. Está querendo me contrariar numa hora dessas? Você não passa de um fedelho. Vá se acalmar, anda. – E ordena: – Luz! Mais luz! Que vergonha! Já vou baixar o seu facho. Assim, meus amigos! Alegria! Alegria!
Tebaldo se afasta esbravejando, e Romeu, como que enfeitiçado, se aproxima de Julieta e diz: – Se eu profanar com minha mão desmerecedora o relicário sagrado, aceito a penitência como castigo: meu lábio, peregrino solitário, estará pronto a compensar com suavidade a aspereza da minha mão. – Bom peregrino, está sendo injusto com a sua mão, que se mostrou devota e reverente. As mãos das santas são tocadas pelos romeiros e quando se tocam é como se a beijassem com devoção. – As santas e os romeiros não têm boca? – Sim, peregrino, lábios que usam para as orações. – Então, santa, permita que os lábios façam o que fazem as mãos. Elas rezam. Peço que aceite para que minha fé não se transforme em desespero. – Santos não se mexem, mesmo que atendam aos pedidos. – Então não se mexa enquanto eu recebo a recompensa da minha oração. Seus lábios vão perdoar todos os meus pecados.
E Romeu beija Julieta.
– Agora seus pecados passaram para os meus lábios – diz Julieta. – Pecados? Meus? Oh! Quero todos de volta. Devolva os meus pecados. – Você é bom na conta dos beijos.
De repente, são interrompidos pela Ama, que diz a Julieta que a mãe dela está chamando. Romeu pergunta para a Ama quem é a mãe de Julieta, e a Ama responde, esbravejando: – Ora essa, rapaz! A mãe dela é a dona da casa, aliás, muito boa, honesta e sábia. Eu sou a ama da menina com quem você estava falando. E vou contar: quem casar com ela vai levar uma bolada. – É uma Capuleto? Ai, que conta cara! Minha vida agora foi creditada ao inimigo.
Nesse momento, Benvolio se aproxima de Romeu dizendo para irem embora porque a festa já acabou. – Sim! A minha enorme aflição é que acabou de começar – diz Romeu.
Todos saem com exceção de Julieta e da Ama. Julieta quer saber. – Vem cá, Ama, quem é aquele rapaz? – Filho e herdeiro do velho Tibério. – E aquele que está passando pela porta? – Se não me engano, é o filho de Petrucchio. – E aquele ali, que não dançou? – Não sei. – Então vai perguntar o nome dele. Vai! Se for casado, meu túmulo será meu leito nupcial.
– Ele se chama Romeu. É um Montecchio, filho único do seu grande inimigo – revela a Ama. – Amar a quem eu devo odiar! Como o amor foi monstruoso comigo, fazendo com que me apaixonasse pelo inimigo! – Julieta lamenta.
Sem entender, a Ama pergunta o que Julieta está falando e Julieta disfarça dizendo: – São rimas que aprendi com quem dancei.