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cena 4

A festa é de máscaras. Há muitos convidados. Romeu, Mercúcio e Benvolio, usando máscaras, chegam ao casarão dos Capuleto juntamente com alguns outros mascarados e alguns homens carregando tochas. Romeu pergunta aos amigos o que devem fazer, se devem se apresentar, dar uma desculpa ou se é melhor irem entrando sem cerimônia. Benvolio acha melhor entrarem de uma vez e deixarem que pensem deles o que quiserem, mas Romeu prefere entrar levando uma tocha. – Deem-me uma tocha. Não quero dançar. Sendo sombrio, vou levar a luz – declara Romeu.

Mas Mercúcio não concorda: – Nada disso, Romeu. Queremos que você dance.

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Os três discutem, os amigos debocham dos sentimentos de Romeu por Rosalina até que Benvolio interrompe e diz: – Vamos entrar. Lá dentro que cada um use as pernas como bem quiser.

Romeu insiste: – Quero uma tocha. Quem estiver a fim de dançar, que se esbalde na pista. Eu estou mais para aquela dança de vovô espectador segurando a tocha. – Essa é boa! Como diz a polícia, o rato está atolado. Nós vamos tirar você desse atoleiro de amor em que se meteu até as orelhas – brinca Mercúcio.

Mas Romeu não acha nenhuma graça e se mostra preocupado. – E nós temos a boa intenção de assistir a esse baile de máscaras, só que a razão diz que não é uma boa ideia. – E por quê? Pode-se saber? – Mercúcio questiona.

Romeu revela que teve um sonho e Mercúcio diz que também sonhou. Romeu quer saber o que Mercúcio sonhou e Mercúcio responde: – Sonhei que muitas vezes os sonhadores caem. – Sim, caem na cama adormecidos e sonham verdades – concorda Romeu.

Então Mercúcio devaneia: – Ah, estou vendo que a rainha Mab visitou você. Ela é a parteira das fadas. Aparece num formato menor que a ágata do anel do indicador de alguém respeitável. É levada por leves átomos que passam pelo nariz de quem dorme. Os raios das rodas de seu carro são feitos de patas de aranha. A cobertura, de asas de gafanhotos. As rédeas, teias de aranha; os arreios, úmidos raios de luar. O cabo do chicote é feito do osso de um grilo. O cocheiro, um mosquito vestindo cinza, menor que a metade de um microespinho redondo, espetado no dedo preguiçoso da moça. A carroça, uma avelã vazia esculpida pelo esquilo marceneiro ou pelo velho verme de outros tempos, fabricante das carruagens das fadas. É nesse equipamento que ela galopa todas as noites pelos cérebros dos amantes que então sonham com o amor. Galopa sobre os joelhos da pessoa que passa a sonhar com reverências. Sobre os dedos dos homens da lei que passam a sonhar

com honorários. Sobre os lábios das mulheres que passam a sonhar com beijos. Às vezes, a rainha Mab corre sobre o nariz de um sujeito e ele sonha que foi promovido. Outras, faz cócegas com o rabo de um porco no nariz de um favorecido e ele sonha com um novo benefício. Também pode passear pelo pescoço de um soldado e ele sonha com goelas cortadas dos inimigos, com emboscadas... E daí, de repente, ela tamborila em seu ouvido e você acorda estremecido, faz duas ou três orações e volta a pegar no sono. A Mab é quem trança as crinas dos cavalos à noite e as embaraça enchendo-as de nós que, quando desatados, são presságios de grandes desgraças. É a feiticeira que aperta as moças deitadas de papo para o ar e ensina como devem se comportar. Faz delas mulheres de boa carreira. É ela... – Chega, chega Mercúcio! Você fala, fala e não diz nada – interrompe Romeu. – Verdade. Eu falo de sonhos, filhos de um cérebro ocioso, gerados pelo nada e pela simples fantasia, de substância tão leve como o ar, tão inconstantes como o vento. – Esse vento de que você fala é aquele que sopra a gente para fora de nós mesmos. O jantar está servido e chegaremos tarde demais – diz Benvolio com pressa para entrar.

Mas Romeu hesita: – Acho que é cedo demais. Estou pressentindo alguma consequência que até agora estava pendurada nas estrelas e que amargamente vai começar seu assustador compromisso, revelado nessa noite, e marcar o fim dessa vida desprezível encerrada em meu peito, com uma sentença de

morte prematura. Mas Ele, que tem o leme da minha existência, que dirija o barco! Vamos lá, amigos animados.

Eles entram na casa dos Capuleto.

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