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cena 4

Benvolio e Mercúcio caminham pela rua, preocupados com Romeu. – Onde diabo se meteu esse Romeu? Não voltou para casa essa noite? – diz Mercúcio. – Pelo que eu soube, não dormiu em casa – comenta Benvolio. – Ah, ele vai acabar louco por culpa dessa Rosalina coração de pedra – diz Mercúcio.

Benvolio conta que o parente do velho Capuleto, Tebaldo, mandou uma carta para o pai de Romeu, e Mercúcio acha que deve ser uma provocação. Benvolio descreve Tebaldo como sendo mais que o príncipe dos gatos, diz que luta como quem canta, mantendo tempo, distância e proporção e que respira fundo, uma, duas e que na terceira, vai direto no seu peito. E conclui: – Um verdadeiro carniceiro dos botões de seda, um duelista, duelista mesmo!

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Romeu chega. Os amigos comentam e debocham. Mercúcio diz: – Signior Romeu, bon jour. Ontem à noite você não foi nada educado, saindo à francesa. Sumiu sem mais nem menos, sabe-se lá por quê.

Romeu vê a Ama chegando acompanhada de seu ajudante, Pedro, e diz:

– Aí vem uma boa embarcação.

A Ama se aproxima e pede que Pedro lhe passe o leque. Ao ouvir isso, Mercúcio provoca: – Isso, Pedro, para esconder o rosto dela. O leque é mais bonito. – Bom dia, senhores – diz a Ama. – Boa tarde, senhora – responde Mercúcio. – Já é boa tarde? – pergunta a Ama.

E Mercúcio não perde a piada e continua provocando: – Nem mais nem menos porque bem agora a mão obscena do mostrador está mantendo ereto o ponteiro do meio-dia. – Sai da minha frente! Que espécie de homem é você? – resmunga a Ama. – Um homem que Deus fez para que ele próprio se estragasse – intervém Romeu. – Por minha fé, muito bem dito: “Para que ele próprio se estragasse!”. Algum de vocês pode me dizer onde posso encontrar o jovem Romeu? – pergunta a Ama. – Eu posso, mas no instante em que encontrar o jovem Romeu ele já estará mais velho do que quando começou a procurar. Na falta de outro pior, sou eu o mais moço com esse nome – responde Romeu. – Ótimo. Se for ele mesmo, gostaria de conversar em particular.

Benvolio e Mercúcio percebem que estão sobrando e vão embora. Mercúcio sai cantando: – Senhora, senhora, senhora.

– Sim, adeus. Pode-me dizer quem é esse sujeito que só tem bobagem na cabeça? – É um homem, Ama, que tem prazer em ouvir a própria voz. Num minuto fala mais coisas do que consegue fazer em um mês – explica Romeu. – Mas se ele disser algo contra minha pessoa, eu acabo com ele. Piolhento! Não sou nenhuma louca. Não sou dessas desmioladas. – E dirigindo-se ao assistente Pedro: – E você? Está aí do lado vendo tudo e deixa o homem falar de mim o que quiser?

E Pedro se defende: – Não vi homem nenhum fazer da senhora o que bem quisesse. Eu garanto que se tivesse visto, minha espada teria saltado logo da bainha. – Meu corpo está tremendo de raiva. Que sujeito à-toa! – reclama a Ama e depois de se acalmar um pouco, fala com Romeu. – Minha jovem senhora mandou que o procurasse. Não vou revelar o que ela mandou que lhe dissesse. Primeiro, quero lhe dizer que se pretende levá-la ao paraíso dos loucos, como se diz, seria uma péssima ideia. A menina é muito jovem e enganá-la seria uma grande maldade, uma coisa muito feia. – Ama, me recomende a ela, eu juro...

A Ama não o deixa concluir e já interrompe: – Oh! Que lindo! Vou dizer isso a ela. Ela vai ficar muito contente!

– Mas a senhora vai dizer o quê, se nem ouviu o que eu ia falar? – Vou dizer que jurou e que me parece ser uma promessa de homem bom. – Diga a ela para procurar pretexto de ir hoje à tarde se confessar, mas na verdade nós vamos nos casar. Lá no retiro do Frei Lourenço.

Romeu tenta dar um dinheiro a Ama, mas ela não aceita e garante: – Esta tarde, ela estará lá. – Boa mulher, espere um pouco. Meu criado irá procurá-la com uma escada de cordas para que eu possa escalar à noite o maior degrau da minha vida. Adeus. Vou recompensá-la pelos seus serviços. Recomende-me a ela. – Que Deus do céu o abençoe. Escute... Podemos confiar no seu criado? Não sabe que segredo repartido em três o diabo que fez? – Posso garantir que o meu homem é tão firme quanto o aço. – Muito bem. Minha menina é muito gentil. Ah, senhor! Há um nobre na cidade, um tal de Páris, que adoraria lançar o seu arpão para fisgá-la. Mas ela prefere ver um sapo, um sapo de verdade, a olhar para ele. Às vezes eu até a deixo irritada, dizendo que não existe um moço tão bonito quanto Páris. – Me recomende a ela. – Certo. Mil vezes.

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