guia de ícones
analisar, questionar, elaborar hipóteses, comentar (questionando)
apresentar, relatar, compartilhar em voz alta
comentar, explicar
dica
discutir, conversar
observar, ver (imagens)
pesquisar, aprofundar, procurar
recuperar, retomar, relembrar
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título
Cartografia para pequenos percursos
O intuito deste caderno é instigar a percepção do espaço por meio da elaboração de mapas poéticos. Trata-se de um método para ampliar o repertório de observações, pensamentos e conhecimentos sobre o mundo estético e poético.
Cada mapa desenhado é uma anotação de certa relação entre tempo e espaço.
objetivos
• Compreender que mapas contêm narrativas relacionadas ao contexto em que foram criados;
• Identificar elementos estéticos e poéticos nos percursos cotidianos;
• Desenvolver a capacidade de registro;
• Criar os próprios mapas;
• Observar, analisar e distinguir o que se percebe do mundo visual, sonoro, olfativo e tátil.
áreas do conhecimento
Artes visuais e ciências. apresentação
segmento(s) e habilidades da BNCC
Ensino Fundamental – Anos Iniciais: EF15AR02, EF15AR04, EF15AR05, EF15AR06, EF15AR23, EF15AR26, EF03CI07, EF04GE10.
duração
4 a 6 aulas.
recursos necessários
• Diferentes tipos de imagens de mapas (desde mapas da Antiguidade até aplicativos de geonavegação);
• Lápis coloridos;
• Papel A3 ou A4;
• Caderno de notas.
São Paulo, 2024
Pedro Weingartner
Mosqueteiros estudando um mapa, 1904
Óleo sobre madeira 14,50 cm x 20,40 cm
Debruçar-se sobre o mapa
Inicie a aula apresentando um mapa-múndi político tradicional . Convide a turma a olhar para o mapa com atenção aos caminhos, às fronteiras, aos nomes, às pequenas e grandes ilhas, aos rios, aos oceanos e a todas as representações que ali estão. Comente, por exemplo, sobre as propriedades do mapa, como escalas, legendas, orientação cardeal, símbolos que representam características geográficas específicas.
Continue investigando o mapa, observando as linhas, formas e cores. A depender da turma, é possível abordar sobre os interesses políticos em representar o tamanho de cada lugar. Destaque que o mapa é uma tentativa de planificar uma esfera. Lembre a turma que o mapa não deixa de ser um desenho sobre um lugar no cosmos. O importante ao levantar essas questões é atentar ao fato de que os mapas contêm narrativas intrinsecamente conectadas ao contexto em que foram criados.
Após esse momento de familiarização com o mapa-múndi, comente sobre o trabalho da cartografia, responsável pela elaboração, interpretação e representação de mapas geográficos. Aproveite para apresentar alguns mapas antigos como os de Hereford (c. 1200) e a Carta Marina (1539).
Mapa-mundi político Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) Fonte: Baixar Mapas
Mapa-múndi de Hereford [detalhe da obra], séc. XIII Catedral de Hereford, Inglaterra Fonte: Unesco UK
Olaus Magnus Carta marina , 1539
James Ford Bell Library, Universidade de Minnesota (EUA)
Destaque que era comum os mapas antigos representarem seres mitológicos
Os ventos eram deuses com personalidade forte, e os mares abrigavam criaturas fantásticas, com hipocampos, sereias, tritões, dragões do mar e tantas outras. Proponha uma pesquisa sobre a história da representação dessas criaturas a partir do verbete bestiário da Enciclopédia Itaú Cultural
Retome o exercício de olhar atentamente para os mapas antigos. Compare como formatos e tipos de anotações variam com o passar do tempo e como outros aspectos se mantêm. Uma das heranças que recebemos dos mapas antigos é a rosa dos ventos, que ainda aparece em aplicativos de geonavegação.
Discuta as diferenças entre o mapa físico e os aplicativos de geonavegação
Compare a possibilidade de ver simultaneamente diversos caminhos no mapa físico e apenas acompanhar o caminho entre a partida e a chegada nos aplicativos. O que significa ver todos os caminhos em contraposição a apenas seguir o percurso entre a partida e a chegada traçado no mapa?
Uma sugestão é apresentar o trecho a seguir do poema de Ana Martins Marques, publicado em O livro das semelhanças. Convide a turma para pensar sobre o que esse poema suscita. Converse sobre a possibilidade de descobrir novos trajetos e até novos lugares quando o mapa (objeto) está aberto, e seus caminhos, espraiados na superfície da folha.
Quando enfim fechássemos o mapa o mundo se dobraria sobre si mesmo e o meio-dia recostado sobre a meia-noite iluminaria os lugares mais secretos
MARQUES, Ana Martins. O livro das semelhanças. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. p. 47.
Anna Bella Geiger
O pão nosso de cada dia, 1978
Saco de pão e seis cartões-postais 17 x 12 cm
Foto: Autoria desconhecida/ acervo da artista
2º MOMENTO
Artistas, mapas e viagens
Podemos pensar que, de certa forma, assim como há o livro de artista, existem os “mapas de artistas”, que representam lugares, territórios ou conceitos geográficos a partir de um ponto de vista imaginativo e subjetivo. Esses mapas muitas vezes incorporam elementos poéticos, pictóricos, metafóricos e artísticos que investigam pensamentos sobre a relação entre a arte e a cartografia.
Instigue a turma sobre a ideia que mapear não é tarefa somente de cartógrafos, pois artistas também criam mapas. É importante lembrar que, para desenhar mapas, é preciso percorrer o espaço, seja por meio do deslocamento físico, seja pelo pensamento. Os situacionistas caminhavam pela cidade determinados a saírem da rota cotidiana. Praticavam a deriva, descobrindo percursos na cidade de forma não planejada, e guiavam-se mais pela curiosidade do que por um destino preciso. Desse modo, redescobriam a cidade a partir de uma perspectiva original.
Apresente obras de artistas que trabalham com a temática dos mapas. Solicite que a turma observe os mapas com atenção (como fizeram com o mapa-múndi político atual e os mapas antigos). Suscite questões: o que há de similar e de diferente entre os mapas tradicionais e os mapas de artistas? Quais os materiais
utilizados para realizar esses mapas? É possível perceber uma relação entre espaço e tempo nas obras? O que os títulos dos trabalhos nos sugerem quando olhamos para cada obra-mapa? Os materiais com os quais são produzidos são os mesmos dos mapas convencionais? Quais as diferenças e o que essas diferenças nos levam a refletir?
3º MOMENTO
Mapa
Após a reflexão coletiva sobre os mapas de artistas, apresente a proposta prática: a turma começará seu próprio percurso criativo para a elaboração de seus próprios mapas de artista. A turma pode encontrar exemplos interessantes de cartografias coletivas no verbete cartografia colaborativa da Enciclopédia Itaú Cultural. Convoque a turma a pensar um trajeto dentro da escola, por exemplo, entre as salas de aula, da cantina ao pátio, do portão até a biblioteca. É importante que esse trajeto seja familiar para os alunos e que possa ser realizado durante o período da aula.
Explique que a turma precisa refazer esse percurso, mas de modo “desacostumado”, como se fosse a primeira vez que estivessem caminhando por ali. Olhos, ouvidos, olfato e tato atentos para cada detalhe do trajeto. À deriva, atentos como os situacionistas.
Jaime Lauriano Novus Brasilia Typus: invasão, etnocídio, democracia racial e apropriação cultural, 2016 Desenho feito com pemba branca e lápis dermatográfico sobre algodão preto 116 cm x 151 cm Foto: arquivo do artista/ Itaú Cultural
4º MOMENTO
Viagem
Peça que, como cartógrafos, desenhem o trajeto cotidiano, criando um pequeno mapa. Com o mapa em mãos, proponha aos alunos que percorreram o trajeto mapeado, anotando sons, cheiros, cores e texturas ao longo do caminho
5º MOMENTO
Retorno
Retome o pequeno mapa com as anotações realizadas na atividade anterior (4º momento). Relembre a turma sobre os possíveis formatos de mapas e suas outras características, como legendas, ícones e anotações.
Separe alguns minutos para finalizar o mapa com atenção às anotações sobre os detalhes observados ao longo do caminho percorrido.
Relembre a importância de inserir o recurso da legenda no mapa. Por exemplo, a anotação “nesse trecho é comum escutar vozes agudas de crianças pequenas brincando” pode se tornar um ícone legendado no mapa.
6º MOMENTO
Histórias de viagens
Solicite a turma para trocar os mapas entre si e instrua os alunos a percorrerem os caminhos do mapa do colega, a partir dos mapas intercambiados.
Na volta, discuta as diferentes experiências dos alunos ao percorrerem os caminhos uns dos outros. O que perceberam? O que aconteceu com o espaço da escola ao se deslocarem, pela primeira vez, pelo trajeto diferente proposto pelos colegas da turma?
reflexão final
Por meio da prática proposta, é possível que os alunos explorem o espaço de deslocamento habitual a partir do aguçamento da percepção do local onde passam os dias e do conhecimento da percepção dos outros sobre o espaço ao redor.
Ao se apropriarem dos mapas, podem se posicionar de forma mais crítica ao perceberem e interpretarem onde habitam, criando seus próprios caminhos, desenhando seus próprios mundos compartilháveis. O mapa é um dispositivo que convida à jornada da percepção estética e invenção imaginativa do espaço.
A atividade propõe revisitar o espaço cotidiano com o mesmo olhar atento de cartógrafos e artistas. É um exercício de sensibilização para o espaço ao redor que se desdobra na invenção de mapas individuais. A atividade pode ir além: os mapas podem se transformar em mapas-objetos, como vimos em algumas obras citadas.
sugestões complementares
Conheça o livro O sonho do cartógrafo, de James Cowan, um monge do século XVI que cria um dos maiores e mais precisos mapas de seu tempo sem sair do lugar, apenas a partir da escuta de histórias e relatos de viajantes que desembarcaram em Veneza.
COWAN, James. O sonho do cartógrafo, meditações de Fra Mauro na corte de Veneza do século XVI. Rio de Janeiro. Rocco, 1999.
referências
AlŸS, Francis. Numa dada situação. São Paulo: Cosac Naify, 2010.
BACHELARD, Gaston. A poética do espaço. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
BROTTON, Jerry. A history of the world in 12 maps. Nova Iorque: Penguin Group, 2014.
CARERI, Francesco. Walkscapes: O caminhar como prática estética. São Paulo: Editora Gustavo Gili, 2013.
DARDEL, Eric. O homem e a terra. São Paulo: Perspectiva, 1990.
DIAS, Karina. Entre visão e invisão: paisagem (por uma experiência no cotidiano). Brasília: Programa de Pós-Graduação em Arte da Universidade de Brasília, 2010.
GROS, Frédéric. Caminhar, uma filosofia. São Paulo: É Realizações!, 2010. MARQUES, Ana Martins. O livro das semelhanças. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.
ONFRAY, Michel. Teoria da viagem: poética da geografia. Porto Alegre: L&PM, 2009.
SCHAFER, R. Murray. The soundscape: our sonic environment and tuning of the world. Nova Iorque: Destiny Books, 1993.
verbetes utilizados
• Ana Martins Marques
• Anna Bella Geiger
• Bestiário
• Cartografia colaborativa
• Jaime Lauriano
• Livro de artista
• Mosqueteiros estudando um mapa
• Novus Brasilia Typus: Invasão, etnocídio, democracia racial e apropriação cultural
• O pão nosso de cada dia
• Situacionistas
Título
Legenda
Escala
ORIENTAÇÃO
núcleo de informação e difusão digital
Gerência
Tânia Rodrigues
Coordenação de Enciclopédia
Luciana Rocha
Produção e Pesquisa
Felipe Alencar (estagiário)
Matias Monteiro
Nathalia Burato
Pedro Guimarães
Revisão
Quadratim (terceirizada)
Redação
Levi Orthof
núcleo de criação e plataformas
Gerência
André Furtado
Coordenação de Conteúdos Multiplataforma
Kety Fernandes Nassar
Design
Girafa Não Fala (terceirizada)
Produção Editorial
Bruna Guerreiro