Filmes e Vídeos de Artistas na Coleção Itaú Cultural (folder São Paulo)

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Centro de Memória, Documentação e Referência - Itaú Cultural Filmes e vídeos de artistas na coleção Itaú Cultural / organização Itaú Cultural. São Paulo : Itaú Cultural, 2016. 30 p. : il. ISBN 978-85-7979-082-9 1. Filmes e vídeos. 2. Vídeoarte. 3. Audiovisual. 4. Coleção. 5. Exposição de arte – catálogo. I. Instituto Itaú Cultural. II. Título. CDD 778.59


1a edição São Paulo 2016


A memória e o presente do audiovisual experimental A história da mostra Filmes e Vídeos de Artistas na Coleção Itaú Cultural tem início em 2011. Nesse ano, começou-se a construir um acervo das obras de artistas brasileiros na intersecção entre as artes contemporâneas e o audiovisual, com o objetivo de preservar e difundir essa área de expressão. A ocasião foi marcada por um seminário realizado em maio daquele ano – Filme, Vídeo e Arte: Compartilhando Experiências. Com a participação de representantes de centros culturais e especialistas, foram debatidos os desafios da constituição de um acervo – por exemplo, quais são as melhores práticas de conservação e difusão. A partir de 2013, o Itaú Cultural, por meio de parcerias com outras instituições, apresentou a coleção ao país em exposições itinerantes. Foram visitadas as cidades de Belo Horizonte (MG), Brasília (DF), Belém (PA), Recife (PE), Curitiba (PR) e Porto Alegre (RS). Esta é a primeira vez que as obras são exibidas na sede do instituto, em São Paulo. Com curadoria de Roberto Moreira S. Cruz, Filmes e Vídeos de Artistas enfoca dois eixos. O primeiro retoma os pioneiros do audiovisual experimental no país, um grupo que desde a década de 1970 explora esses recursos – são nomes como Nelson Leirner, Letícia Parente e Regina Silveira. O segundo retrata a produção


atual: Cao Guimarães, Rivane Neuenschwander, Thiago Rocha Pitta e Eder Santos, entre outros nomes. Esse panorama é apresentado em São Paulo de maneira ainda mais rica: foram adquiridas obras de Paulo Bruscky, Rafael França e Letícia Ramos. Além disso, a exposição paulistana traz uma linha do tempo do desenvolvimento do cinema e do vídeo brasileiros. Esse conteúdo está publicado neste fôlder em versão expandida e se estende, com entrevistas, em youtube.com/itaucultural. Para além do seu percurso particular, Filmes e Vídeos de Artistas se enquadra em uma série mais ampla de ações realizadas pelo Itaú Cultural como incentivo à produção audiovisual. De 1997 a 2011, por exemplo, o instituto realizou em Belo Horizonte a Mostravídeo, espaço de exibição para essas obras. E, desde 1998, o Rumos, nosso maior programa de apoio à cultura, estimula projetos na área. Por fim, pode-se destacar que esse acervo audiovisual faz parte de um repertório artístico e histórico maior. A Coleção Itaú Cultural compõe o Acervo de Obras de Arte do Itaú Unibanco, com cerca de 13 mil peças, entre pinturas, gravuras, fotografias, esculturas, instalações e outros formatos. É o maior acervo artístico de uma companhia privada na América Latina.


BREVE PERCURSO HISTÓRICO O filme e o vídeo de artista no Brasil a partir da Coleção Itaú Cultural Roberto Moreira S. Cruz curador A produção de filmes e vídeos no Brasil realizada por artistas e com proposta experimental se inicia em consonância com a criação contemporânea internacional, nos anos 1970. Essa fase primeira, de descobertas e tentativas de forjar um modo criativo para o audiovisual, foi tortuosa e, de certa forma, marginal, pois não existia um mercado para dar visibilidade aos trabalhos, e o cenário cultural estava submetido à censura da liberdade de expressão imposta pelo regime militar. Os filmes e os vídeos mais originais e inventivos realizados nesse contexto permaneceram durante muito tempo desconhecidos do público e praticamente abandonados nas gavetas dos estúdios e dos ateliês dos artistas. Apenas duas décadas depois, em meados dos anos 1990, parte dessa produção passou a ser reconhecida, com a inserção de obras audiovisuais no ambiente da arte contemporânea e com a presença marcante de artistas que trabalham com audiovisual em galerias e exposições de amplitude internacional. A coleção de filmes e vídeos do Itaú Cultural é uma contribuição pioneira por parte de uma instituição cultural, pois formaliza, por meio da aquisição, da conservação e da restauração, a constituição de um acervo permanente de obras audiovisuais produzidas no país nas últimas cinco décadas. Alguns aspectos motivaram a formação dessa coleção e valem ser destacados. O primeiro, talvez o mais fundamental, é o resgate da importância da produção pioneira, trazendo ao olhar contemporâneo a força inventiva dessas imagens. Remasterizando e recuperando filmes e vídeos de artistas como Rubens Gerchman, Nelson Leirner, Letícia Parente, Regina Silveira, Paulo Bruscky e Rafael França, a coleção conserva obras passíveis de deterioração, pela própria obsolescência da tecnologia. Por esses aspectos, pode ser compreendida como um acervo audiovisual, pois acredita na preservação de bens culturais, constituindo-se nesse sentido em patrimônio histórico inestimável.


O segundo aspecto aproxima a coleção das novas gerações de artistas que trabalham com o audiovisual e que criam, por meio desse instrumental de sons e imagens, linguagens muito específicas. Destacam-se as obras de Eder Santos, Brígida Baltar, Thiago Rocha Pitta, Cao Guimarães, Luiz Roque, Rivane Neuenschwander, Letícia Ramos, Gisela Motta e Leandro Lima, por apresentarem, nas criações, modos muito originais de trabalhar a imagem em movimento. Primeiros passos Não é possível compreender o desenvolvimento do cinema e do vídeo como uma forma de expressão artística se essa análise não levar em conta as artes visuais nos anos 1960 e 1970. Quando alguns artistas emergentes começaram a migrar para outros domínios estéticos – por exemplo, a performance e a arte conceitual –, o audiovisual surgiu como um veículo com o qual se poderia produzir uma estética original. Essas produções não eclodiram em um ambiente asséptico, imune aos efeitos da estética das outras artes, como a escultura, a música, a dança e o teatro. As produções, naturalmente, se entrecruzaram, apropriando-se dos elementos dessas linguagens e transformando-os em uma rica e sugestiva iconografia de gêneros e estilos1. Nessa fase pioneira no Brasil, desde o final da década de 1960 até os anos da redemocratização, no início da década de 1980, vivia-se um momento de afirmação da cultura nacional contemporânea e da necessidade de identificação com as correntes artísticas internacionais. Vitimado pelo domínio de uma doutrina política de restrições e de pouca liberdade de expressão, o artista divagava entre a herança do neoconcretismo, as tendências da nova objetividade brasileira e o interesse pelos novos suportes. Como ressalta Daisy Peccinini, “uma nova sensibilidade ia se definindo marcada por estes fatos [...], em coerência com a oposição e marginalidade assumida por vários artistas”2. Em 1965, o lançamento no mercado americano, pela Sony, do Portapak (electronic video tape recorder), primeiro equipamento de vídeo portátil que permitia gravar e reproduzir imagens eletrônicas, foi a evidência inicial de uma relação entre tecnologia e experimentação no desenvolvimento da imagem em movimento. Interessados nas possibilidades desse novo meio – entre elas a facilidade e a rapidez de operação do 1. Conferir HANHARDT, John. Expanded forms, notes towards a history. In: World Wide Video, Arts and Design Magazine, n. 31, London, 1993, p. 20. 2. PECCININI, Daisy (Org.). Arte, novos meios/multimeios – Brasil 70/80. São Paulo: Fundação Armando Alvares Penteado, 1985.


equipamento e o imediatismo no processo de síntese da imagem –, os artistas passaram a utilizar o vídeo como uma ferramenta que incorporava elementos multimídia – por exemplo, como o local em que a intervenção era realizada, a duração temporal e o próprio corpo, que passava a ser evocado também como agente do processo de criação e reflexão. No Brasil, o Portapak apareceu nos primeiros anos da década de 1970 e logo passou a interessar nomes como Letícia Parente, Regina Silveira e Anna Bella Geiger. As obras dessas artistas que integram a coleção fazem parte desse contexto e apresentam aspectos singulares e característicos das produções do período. As obras da coleção 1. Os pioneiros Marca Registrada (1975), de Letícia Parente, é um marco na videografia brasileira. O impacto da obra não está exclusivamente na contundência do gesto da artista, que costura Made in Brasil na sola do próprio pé. O que soa como autoflagelação é um ato político, elegendo o corpo como instrumento derradeiro de uma manifestação de afirmação cultural e de identificação da cidadania. A singularidade da obra evoca a capacidade transformadora da arte num momento em que a liberdade de expressão estava comprometida pela censura e reprimida pela ditadura militar que governava o país.

Marca Registrada, 1975, de Letícia Parente | frame de vídeo: Jom Tob Azulay

A Arte de Desenhar (1980), de Regina Silveira, também investiga a possibilidade de transformar o corpo num instrumento de linguagem. No caso, as mãos da artista


executam gestos programados, tentando reproduzir a posição e o contorno desenhado da silhueta de outra mão. Uma espécie de pedagogia da forma e do conceito, num jogo de certo e errado em busca da mimese perfeita. No vídeo, a melhor tentativa é reconhecida por uma salva de palmas, reforçando a escolha ideal daquilo que se quer representar.

A Arte de Desenhar, 1980, de Regina Silveira

Essas duas obras caracterizam um aspecto muito presente nas criações desse período. O dispositivo básico dessas primeiras produções consistia quase exclusivamente no confronto entre a câmera e o artista. Não são trabalhos que exploram propriamente uma narrativa mais definida, que se apoie nos recursos da montagem e da passagem de tempo – esses recursos técnicos eram praticamente inviáveis de ser realizados no Portapak, em razão da impossibilidade de editar as imagens. Mesmo assim, é evidente uma intertextualidade entre o gesto propositivo das artistas e o dispositivo da câmera e do monitor de TV, que servia de referência espacial de sistematização do enquadramento da performance. É o que se nota também em Passagens #1 (1974), de Anna Bella Geiger, em que a artista circula por vários ambientes repetindo a atitude de subir escadas. Curiosamente, sua identidade nunca é revelada, pois ela é gravada sempre de costas. Anna Bella Geiger lida com passagens de tempo e mudança de espaços cênicos – várias escadas são mostradas –, mas, ao contrário, a proposição cria uma sequência por estar executando sempre o mesmo movimento de subir os degraus, numa continuidade que nega a ação e o transcorrer próprios da linearidade narrativa, com princípio, meio e fim.


Passagens #1, 1974, de Anna Bella Geiger

Dois filmes antológicos produzidos no Brasil na década de 1970 estão na coleção. Triunfo Hermético (1972), de Rubens Gerchman, é a melhor experiência cinematográfica realizada pelo artista, transpondo para essa linguagem seus poemas tridimensionais. No filme, as palavras recortadas em grandes dimensões e em suportes variados estão expostas ao ar livre, criando uma sobreposição de significados entre o signo e os elementos da natureza (água, terra, fogo e ar). De retorno ao Brasil após viver por seis anos em Nova York, Gerchman foi um dos mais expressivos representantes da arte pop e da arte conceitual no país, tendo ainda realizado mais dois filmes em super-8. O outro filme é Homenagem a Steinberg – Variações sobre um Tema de Steinberg: as Máscaras N o 1 (1975), de Nelson Leirner. Filmada e montada em super-8, formato frequentemente utilizado naquela época pelos interessados em experimentar com os meios audiovisuais, a obra tem a mesma ironia e narrativa nonsense que o artista propõe em seu trabalho de objetos e instalações. No filme, todos os personagens vestem sacos de papel na cabeça e se comportam caricaturalmente na rotina dos afazeres diários. Adquirida para a coleção em 2013, a película permaneceu guardada na geladeira do ateliê de Leirner – uma forma muito adequada de preservação intuída por ele, já que o material raramente era exibido ao público e jamais havia sido adquirido para uma coleção privada ou institucional. A inclusão dessa obra na coleção permitiu realizar procedimentos de limpeza e remasterização para o formato digital, contribuindo assim para sua conservação.


Homenagem a Steinberg – Variações sobre um Tema de Steinberg: as Máscaras N o 1, 1975, de Nelson Leirner

Artista de linhagem peculiar na produção contemporânea brasileira, por apresentar em sua trajetória um repertório muito vasto e diversificado de propostas, Paulo Bruscky realizou um conjunto de filmes e vídeos em meados da década de 1970 e no decorrer da de 1980. Como ele próprio afirma, esses trabalhos eram experiências que analisavam “a diferença entre a linguagem do vídeo e a do cinema, principalmente naquela época em que a questão da velocidade/mo(vi)mento era diferente/fundamental”3. 3. BRUSCKY, Paulo. Cinema de inversão/invenção. In: MACHADO, Arlindo. Made in Brasil – três décadas do vídeo brasileiro. São Paulo: Iluminuras, 2007. p. 81.


Registros (Meu Cérebro Desenha Assim), de 1979, e Xeroperformance (Xerofilme), de 1980, evidenciam a relação corpo-máquina, muito explorada por Bruscky no período mais conceitualista de sua trajetória. Tanto no primeiro, produzido em vídeo, quanto no segundo, feito em super-8, Bruscky procura estabelecer uma intersecção entre a ação do ato performático e o dispositivo de produção audiovisual. Formalmente, são obras com características bem distintas, mas guardam similaridade na proposição e na elaboração conceitual da imagem.

Da esquerda para a direita: Registros (Meu Cérebro Desenha Assim), 1979, e Xeroperformance (Xerofilme), 1980, de Paulo Bruscky

2. Um artista de transição O vídeo tornou-se uma linguagem hegemônica mais evidente a partir da década de 1980. Foi nessa época que emergiu uma geração de videomakers propondo a utilização do meio como instrumento de invenção, transformando o aparato e o suporte televisivo em elemento de expressão. Muitas dessas obras passam a utilizar em sua composição cenográfica o aparelho de TV (monitores tradicionais de tubo de raios catódicos), os equipamentos de captação e reprodução de imagem (câmeras de vídeo e players VHS, U-Matic e posteriormente Betacam) e os projetores de vídeo (o modelo mais utilizado era o de três tubos da Sony, CRT VPH 1000). Artista que representa o momento de transição entre as experiências pioneiras do vídeo no Brasil e a segunda geração que emerge nos anos 1980, Rafael França encontrou na linguagem do vídeo aspectos estruturais de representação da realidade, explorando a edição e a temporalidade da imagem como elementos expressivos. Realizando mestrado na Escola de Artes do Instituto de Chicago, nos Estados Unidos, o artista pôde vivenciar o momento de efervescência norte-americana das artes do vídeo quando teve contato com laboratórios voltados para a experimentação artística com equipamentos pouco acessíveis no Brasil.


A obra de Rafael França que integra a coleção é After a Deep Sleep (Getting Out), de 1985, período de sua residência nos Estados Unidos. Nesse trabalho, o artista explora aspectos da narrativa experimentando desconstruir o tempo da representação naturalista por meio de um exercício de edição e corte descontínuo. Uma obra que demonstra o rigor formal da sua linguagem e a busca de um modo de operação do código da imagem, algo muito próprio e peculiar do seu trabalho, numa época em que o desenvolvimento da tecnologia do vídeo implicava certamente constantes reinvenções da linguagem.

After a Deep Sleep (Getting Out), 1985, de Rafael França

3. Cinema de exposição Nas duas últimas décadas, o cinema e a experiência do cinema têm estado cada vez mais presentes nas principais exposições internacionais de arte. As bienais de Veneza de 1999 e 2001 e a Documenta de Kassel XI, em 2002, por exemplo, apresentaram um grande número de artistas que trabalhavam com a linguagem audiovisual. E, de lá para cá, museus e centros culturais como Tate Modern, Smithsonian, Pompidou, Hamburger Bahnhof e Whitney, para citar somente os mais proeminentes, realizaram importantes exposições coletivas tendo como tema central o cinema e suas relações intrínsecas com a produção artística contemporânea. Muitas dessas obras trazem referências explícitas ao cinema, por meio de releituras ou da utilização de trechos de filmes. Outras elabo-


ram narrativas audiovisuais baseadas nos códigos da linguagem do cinema e apresentam essas imagens e esses sons em ambientes específicos para projeções com uma ou mais telas. Algumas destacam o suporte técnico de exibição das imagens (projetores, computadores etc.). Outras exigem contemplação e empenho por parte do espectador, não mais inerte em uma poltrona. Atenta a essa tendência, a seleção de trabalhos que fazem parte da coleção do Itaú Cultural apresenta uma importante antologia de obras contemporâneas inseridas nesse contexto dos filmes e dos vídeos de artistas. Quando iniciou sua carreira, na década de 1980, Eder Santos buscava explorar as imperfeições e os ruídos do vídeo, criando camadas e sobreposições, trabalhando os aspectos pictóricos e instáveis da imagem eletrônica. Integra a coleção uma videoescultura desenvolvida a partir da projeção de imagens em uma antiga cristaleira. Em Memória (2001), o espectador observa o efeito onírico e poético criado na superfície dos objetos, sobrepondo-se à materialidade do vidro e da porcelana imagens projetadas desses mesmos objetos. A sensação de desmaterialização e de instabilidade provocada por esses recursos evoca a subjetividade das lembranças e das memórias que a história da vida reserva a cada um de nós.

Memória, 2001, de Eder Santos

Esse aspecto intangível da memória também está em Cinema (2009), uma das obras mais recentes do artista. As imagens registradas por André Hallack de uma cidade do interior de Minas são apropriadas para a experimentação visual proposta por Santos. Os aspectos documentais das imagens, que mostram situações prosaicas do ambiente interiorano, são subvertidos pela edição e pela interferência das muitas sobreposições e alterações do tempo de duração da imagem. Essa reconfiguração do que é visto pelas lentes da câmera pela incursão digital na pós-produção


da imagem faz emergir a força poética da narrativa, transcendendo o naturalismo e enfatizando o impressionismo e a subjetividade da operação com a matéria do cinema, que é a própria imagem em movimento.

Cinema, 2009, de Eder Santos

Durante a montagem de uma de suas exposições, Cao Guimarães deteve a câmera no momento em que o pintor dava o acabamento no ambiente da instalação. Certamente o artista deve ter visto essa mesma cena em dezenas de outras montagens de seu trabalho: a pintura da parede de branco para compor o espaço da projeção como uma tela. Esse exercício de observação, que sempre está no procedimento artístico e narrativo de seus trabalhos, em El Pintor Tira el Cine a la Basura (2008) é a chave metalinguística para pensar o próprio trabalho e, de certa forma, criar uma visão melancólica e reflexiva sobre o cinema e a imagem como mercadoria.

El Pintor Tira el Cine a la Basura, 2008, de Cao Guimarães


Em certo momento da montagem da instalação, vemos o pintor retirar o tecido que cobre a parede e que servia para demarcar a área da pintura. Surpreendentemente, o gesto leva consigo a imagem de outra obra de Guimarães que estava sendo projetada ali, a do vídeo Da Janela do Meu Quarto (2004), um de seus trabalhos mais consagrados. Na poética do artista, a imagem se materializa em uma película manipulável, orgânica. É retirada pelo pintor, amassada e atirada na lata do lixo. O truque de edição que permite essa consubstanciação da imagem de vídeo em matéria, feita de forma delicada e imperceptível ao espectador, sintetiza nesse fragmento a dimensão plástica da imagem exercendo peso e transformando a realidade pela sua potencialidade estética. A cena é um papagaio se alimentando de sementes grafadas com sinais gráficos da língua portuguesa: vírgulas, pontos e vírgulas, reticências etc. O áudio é a narração de um jogo de futebol da seleção brasileira. À medida que o papagaio vai se alimentando, altera o ritmo da locução do narrador. Engasga, gagueja. Uma relação interessante entre esses aspectos simbólicos, típicos de uma situação e de uma paisagem brasileira: o som do radinho de pilha, com o futebol numa tarde de domingo; a figura do papagaio, talvez a ave de estimação mais identificada com o Brasil. Esse imaginário verde-amarelo, presente em Sunday, obra de 2010 de Rivane Neuenschwander e Sergio Neuenschwander, representado na referência direta ao papagaio e ao futebol, é subvertido pela construção de uma narrativa incoerente, não correspondendo a uma ação de causa e efeito daquilo que se espera da representação do real. O aspecto lúdico de descoberta dessa artimanha amplia o naturalismo das imagens, deslocando-as para a dimensão do ambíguo e do autorreflexivo na proposta dos artistas. Ao espectador cabe perceber o truque e se deixar levar por esse realismo fantástico e desautomatizador.

Sunday, 2010, de Rivane Neuenschwander e Sergio Neuenschwander


Essa ampliação e distensão dos significados também ocorre em Planeta Fóssil (2009), de Thiago Rocha Pitta. Os aspectos descritivos de fenômenos da natureza, a terra, o fogo, a água, são exibidos detalhadamente em imagens que solicitam um espectador que aceite um prolongamento da experiência do olhar, buscando se integrar ao tempo próprio da narrativa. Essa extensão apaga qualquer motivação espetacular, propondo uma representação direta de um instante da realidade, aparentemente simplificado de sentido dramático, ou buscando reinterpretá-la por meio de sua essência poética. Imagens que esperam um olhar atento que contribua para a compreensão da densidade do sentido do filme, aproximando o espectador da proposta do artista, compartilhando a identificação pelo que a imagem traz em sua sensibilidade documental ou em seu apuro estético.

Planeta Fóssil, 2009, de Thiago Rocha Pitta

Realizado a partir de uma visita à aldeia ianomâmi Watoriki, em Roraima, Amoahiki (2008), de Gisela Motta e Leandro Lima, apresenta uma visão onírica sobre a floresta e seus habitantes. À imagem da floresta, verde e densa, sobrepõe-se de maneira quase imperceptível a figura dos seus habitantes, em danças e rituais xamânicos. Amoahiki significa árvore que emite cantos. Na rugosidade da superfície da imagem, projetada sobre uma tela feita de retalhos de tecido branco, suspensa no espaço e sob o efeito de uma leve brisa que sopra um ventilador, o espectador vê ressaltados os elementos representados da floresta e dos índios.

Amoahiki, 2008, de Gisela Motta e Leandro Lima


A videoinstalação Projeção 0 e 1 (2012), de Luiz Roque, cria um espaço de projeção entre duas telas, montadas uma defronte da outra. Essa configuração estabelece um ambiente de circulação pelo qual o espectador deve passar para perceber o jogo ilusionista que a imagem propõe. A paisagem do pôr do sol é repentinamente alterada por uma bola lançada sobre uma superfície translúcida que se estilhaça. Esse fenômeno metafísico altera o status naturalista da paisagem, transformando-a em um simulacro, representado na imagem de vídeo projetada e na superfície do vidro em fragmentos. É irresistível uma analogia com um quadro de René Magritte em que vemos a paisagem, a janela e a pintura dessa mesma cena. A representação não é menos real, mas essencialmente diversa da coisa representada.

Projeção 0 e 1, 2012, de Luiz Roque

4. Dispositivos e videoperformance O cinema foi criado com base no exercício dos pioneiros que, durante todo o século XIX, buscaram meios de produzir ou representar a impressão de movimento. Zootrópio, praxinoscópio, cinetoscópio e cinematógrafo são apenas alguns dos muitos aparelhos criados com esse intuito. Mais de um século depois, essa mesma curiosidade estimula a produção de objetos e dispositivos cinéticos que, de forma quase paródica, remetem àqueles primitivos maquinários da época do pré-cinema. Essa comparação é inevitável ao observarmos o trabalho de Letícia Ramos e seu ofício de elaborar dispositivos audiovisuais. O processo de criação passa pelo desenvolvimento técnico-científico de produção de imagens e dispositivos de projeção que ampliam e recriam a experiência de ver essas imagens. A artista está presente nesta exposição com a videoescultura Mar (2008), composta de uma estrutura de madeira, projetor e som.


Mar, 2008, de Letícia Ramos

Mas por que, numa época tão marcada pelo desenvolvimento vertiginoso das tecnologias da informação e da imagem digital, Letícia se interessa por reinventar a experiência cinemática? Talvez uma resposta provável seja a necessidade de se deslocar desse paradigma hegemônico da tecnologia, dessa aparente simplificação do modo de produzir o movimento – de certa forma banalizado na atualidade em razão de tantos meios existentes para gerar imagens. A obra de Letícia é como uma metáfora poética da importância que o cinema adquiriu em nossa cultura. Seus vídeos, suas esculturas e seus dispositivos de gravação e filmagem são como uma evidência concreta do que ainda há de sublime na experiência de produzir e visualizar uma imagem em movimento. Alberto Bitar, tendo a fotografia como matéria-prima de seu trabalho, busca, por meio da apropriação de uma imagem preexistente, recriar a significação do que está dado como visto. Utiliza o dispositivo do vídeo como uma ferramenta de ressignificação da fotografia, projetando sobre ela a dinâmica do movimento, desvendando outros estratos de decodificação para a imagem estática. A matriz de seu vídeo Partida (2005) é a fotografia de um grupo de pessoas reunidas em uma estação de trem na cidade do Rio de Janeiro. Uma foto doméstica, escolhida de um antigo álbum de sua avó materna. Sobre essa imagem prosaica – tão semelhante a tantas outras imagens de família e carregada, portanto, de uma subjetividade afetiva – Alberto Bitar direciona o olhar do espectador, conduzindo-o numa redescoberta daqueles personagens, circunscritos pela dimensão do enquadramento e capturados no instante de uma realidade que não existe mais. O artista investe sobre essa imagem documental, estática, uma implacável temporalidade, sobrepondo e fragmentando a unidade da fotografia em uma múltipla percepção de sua historicidade.


Partida, 2005, de Alberto Bitar

É inevitável estabelecer uma relação conceitual entre as muitas formas de experimentação da videoperformance contemporânea e os pioneiros no contexto de descobertas da linguagem ainda nas décadas de 1960 e 1970. Brígida Baltar e Sara Ramo, duas artistas que estão presentes na coleção, atualizam as muitas possibilidades de uso do vídeo como instrumento de criação de performances. A série Coletas (1998-2005), composta de oito filmes de curta duração, é elaborada a partir de uma situação ficcional criada por Brígida Baltar em que as personagens se põem a coletar neblina, gotas de orvalho e maresia. O gesto corriqueiro se torna uma ação surreal por, a princípio, tratar-se de um paradoxo. É possível encerrar em um frasco algo imaterial? Não é difícil estabelecer relações com 50 cc of Paris Air (1919), obra iconoclasta de Marcel Duchamp, na qual o artista guardava em um recipiente de vidro o ar de Paris. No caso de Brígida, a relação do corpo com a natureza sugere um campo metafórico menos idealista e mais holístico – mas a índole conceitual e propositiva, tal qual Duchamp, sem dúvida está presente.

Coletas, 1998-2005, de Brígida Baltar


O humor e o nonsense, por sua vez, nitidamente fazem parte do repertório de Sara Ramo. Atuando em primeira pessoa em suas performances, a artista cria situações inusitadas – como dançar com um boneco de papelão, banhar-se entre dezenas de bacias ou desarrumar uma cozinha – ao longo de narrativas em pequenas histórias de transcorrer e final surpreendentes. É o caso de Translado (2008), em que a artista retira de uma mala um número incalculável de objetos até preencher todo o espaço de um quarto. Ao final, ela própria desaparece ao entrar naquela caixa mágica, que guarda certa semelhança poética com a toca do coelho de Alice no País das Maravilhas.

Translado, 2008, de Sara Ramo

O conjunto desses trabalhos mostra a relevância da produção brasileira contemporânea de filmes e vídeos de artistas. Essas obras não são expressamente cinematográficas e muitas podem parecer estranhas aos olhos de um espectador menos comprometido. Nelas, o tempo da projeção pode ser indeterminado, o filme pode não ter princípio, meio e fim – mas em todas, indelevelmente, o que prevalece é o cinema em sua totalidade de significados.


Esta linha do tempo apresenta a trajetória do audiovisual experimental no Brasil. Sem a pretensão de exaurir essa história, delineia os contextos pelos quais passou essa área de expressão e descreve fatos marcantes do percurso: mostras, exposições e obras de referência, artísticas ou críticas, produzidas dos anos 1920 à atualidade. Os destaques em cada década são classificados em temas. Assim, pode-se dirigir a atenção para o tipo de informação desejado: Evento: exposições, mostras e festivais Obra de referência: criações audiovisuais Publicação de referência: livros, catálogos e revistas Marco histórico: dados que contextualizam os períodos enfocados

DÉCADAS DE

1920 | 1930

MARCO HISTÓRICO Alberto Cavalcanti e Mário Peixoto Cineastas pioneiros do audiovisual experimental brasileiro cuja linguagem se caracterizava por uma estrutura narrativa não linear e pelo rompimento com o modelo ficcional tradicional, que se tornara hegemônico na então recém-instituída indústria do cinema. Foram experiências únicas, que não geraram um legado estético imediato na produção cinematográfica brasileira.

DÉCADA DE

1950

OBRA DE REFERÊNCIA Pátio (1959) Primeira obra de Glauber Rocha, um curta-metragem gravado em Salvador, no pátio de uma casa. A descontinuidade narrativa, a trilha sonora e o comportamento etéreo dos personagens interpretados por Helena Ignez e Solon Barreto conferem estranhamento e plasticidade à produção. É possível perceber nela influências formais e estéticas do filme Limite (1931), de Mário Peixoto.


DÉCADA DE

1970

MARCOS HISTÓRICOS Belair Produtora independente criada por Julio Bressane e Rogério Sganzerla. Em 1970, os diretores realizaram seis longas-metragens experimentais em um período de cinco meses. Entre eles, obras antológicas como Copacabana Mon Amour e Sem Essa, Aranha, de Sganzerla, e A Família do Barulho e Barão Olavo, de Bressane. O quase cinema de Hélio Oiticica O conceito de “quase cinema” se refere a uma produção audiovisual em que a projeção e a combinação das imagens devem romper, como dizia o artista visual Hélio Oiticica, com a “unilateralidade do cinema-espetáculo” e permitir uma atitude participativa do espectador, que pode encontrar no espaço da exibição um ambiente que integre sua vivência com a obra de arte. A série Cosmococas – Programa in Progress é o projeto do artista no qual mais se concretiza a proposta de quase cinema. Outros trabalhos nesse sentido ficaram inacabados: o filme em super-8 Agripina É Roma-Manhattan (1972) e a instalação Helena Inventa Ângela Maria (1975), que previa um ambiente de multiprojeções de slides semelhante ao desenvolvido nas Cosmococas. Oiticica relatou em seus cadernos de notas outras propostas de ambientes que integravam projeções e o espectador, entre elas Nitrobenzol e Black Linoleum, ambas de 1969 e que não foram realizadas. OBRA DE REFERÊNCIA Congo (1972) Sobre a obra seu criador, Arthur Omar, afirmou: “Fiz um filme experimental todo com letreiros, sem mostrar quase nenhuma imagem. Fico me perguntando por que fiz esse filme. Discussão antropológica, desconstrução da linguagem, desejo de radicalidade absoluta?”. Por essa radicalidade, a obra teve poucas exibições e permaneceu quase desconhecida da crítica, apesar de sua importância formal nesse contexto embrionário


do experimentalismo no Brasil. EVENTOS Expoprojeção 73 (1973) No início da década de 1970, os slides e o super-8 foram as mídias mais exploradas pelos artistas brasileiros. A mostra Expoprojeção 73, com curadoria de Aracy Amaral e organizada pelo Grupo de Realizadores Independentes de Filmes Experimentais (Grife), é um retrato desse momento: reuniu os principais trabalhos em áudio, super-8, 16 mm e audiovisual com slides, reconhecendo a importância dessa produção naquele contexto. Sua relevância histórica se dá também por ter acontecido em um ambiente político marcado pela restrição da liberdade de expressão. Foram exibidos cerca de cem trabalhos de 45 artistas. Super Festival Nacional do Filme Super-8 (1973-1983) Festival organizado pelo Grupo de Realizadores Independentes de Filmes Experimentais (Grife), sob a coordenação de Abrão Berman e Malu Alencar. Principal evento de difusão da produção de super-8 no país, teve 11 edições. Não lidava exclusivamente com filmes experimentais, mas foi muito importante para a difusão dessa produção. Com a chegada do videoteipe nos formatos VHS e Betamax ao mercado doméstico no início da década de 1980, o consumo e a produção industrial do super-8 foram decrescendo. Esse foi o fator primordial para o encerramento do festival, que em suas duas últimas edições já passara a exibir obras realizadas em vídeo. 12a Bienal de São Paulo – Sala Especial Arte e Comunicação (1973) Coordenada pelo filósofo Vilém Fluser e com a participação do artista Fred Forest e do teórico da comunicação Marshall McLuhan, esta bienal aproximou as questões de arte e cultura das ciências que lidam com transmissão e recepção de informação. Um dos prêmios especiais desta edição foi para um trabalho criado em audiovisual com slides por Marcia Demange, George Jonas e Rosa Jonas. 8a Jovem Arte Contemporânea [JAC (1974)] Anualmente, Walter Zanini, curador do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC/USP), realizava na instituição uma exposição de arte contemporânea internacional. Na edição de 1974, apresentou pela primeira vez a produção brasileira de videoarte. Prospectiva 74 (1974) Com curadoria de Walter Zanini para o Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC/USP), a mostra enfoca a produção artística que fazia uso das novas mídias. No texto de introdução, Zanini escreveu: “Esta exposição do MAC, pensada


desde meados de 1973, procura trazer ao nosso público uma ampla visão da linguagem resultante dos novos media. Para além da pintura e de outras categorias tradicionais da expressão plástica contestadas com energia crescente na década passada e ao lado das motivações conscientizadoras da arte corporal, a exploração de múltiplos canais de comunicação tecnológica é a característica fundamental da arte dos anos 70”. MARCO HISTÓRICO Cinemóbile (1974) Iniciativa dos artistas Abrão Berman e Claudio Tozzi para comercializar filmes experimentais produzidos em super-8. EVENTOS Mostra de Arte Experimental de Filmes Super-8, Audiovisual e Videotape (1975) Organizada pela Galerie de La Maison de France, no Rio de Janeiro, apresentou trabalhos pioneiros em super-8, vídeo e audiovisual com slides de artistas como Anna Bella Geiger, Anna Maria Maiolino, Antonio Manuel, Carlos Vergara, Maria do Carmo Secco e Miriam Danowski. Video Art, no Institute of Contemporary Art (1975) Primeira grande mostra internacional de videoarte realizada nos Estados Unidos. A organizadora do evento, Suzanne Delehanty, convidou o então curador do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC/USP), Walter Zanini, para que indicasse artistas brasileiros. Com exceção de Angelo Aquino, todos os nomes selecionados por ele foram expostos: Anna Bella Geiger, Ivens Machado, Fernando Cocchiarale e Sonia Andrade. 13a Bienal Internacional de São Paulo – Video Art USA (1975) A representação dos Estados Unidos para a 13a Bienal de São Paulo foi inteiramente com obras de videoartistas. Organizada por Jack Boulton, do Centro de Arte Contemporânea de Cincinnati, e com colaboração de Suzanne Delehanty, nela foram exibidas cerca de 22 obras de artistas como Douglas Davis, Ed Emshwiller, Joana Jones, Les Levine e Bruce Nauman. Havia também a videoinstalação TV Garden (1974), de Nam June Paik. MARCO HISTÓRICO Setor de vídeo – MAC/USP Criado em 1976 por Walter Zanini e coordenado por Cacilda Teixeira da Costa, o setor de vídeo do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC/ USP) foi pioneiro no Brasil por estabelecer uma proposta de trabalho para a produção


de videoarte em um museu. Eram organizadas mostras e cursos de formação técnica, auxiliando os artistas na criação de suas obras. O setor tinha uma sala dedicada à exibição de vídeos, o Espaço B, em que foram expostos trabalhos de Gabriel Borba, José Roberto Aguilar, Sonia Andrade, Rita Moreira, Norma Bahia, Carmela Gross e Julio Plaza, entre outros nomes. Com a saída de Walter Zanini da direção do MAC, em 1978, o departamento foi desativado. EVENTO 1o Encontro Internacional de Videoarte de São Paulo (1978) Organizado por Marília Sabóia de Albuquerque e promovido pelo Museu da Imagem e do Som de São Paulo (MIS/SP), foi o primeiro evento realizado especificamente em torno da produção de videoarte. No texto de apresentação, Walter Zanini provocava: “A videoarte no Brasil existe? Ela existe”. OBRA DE REFERÊNCIA Programa Abertura (1979) Abertura foi um programa de jornalismo opinativo exibido semanalmente na TV Tupi. Nesse período, prosseguia tímida a redemocratização do país – como o título sugere, tratava-se de um momento em que se reconquistava a liberdade de expressão. Um de seus colunistas era o cineasta Glauber Rocha. A forma como se comunicava com o telespectador, dirigindo o câmera e interferindo no campo da imagem ao estabelecer uma maneira inusitada de entrevistar seus convidados, era uma novidade na televisão brasileira.

DÉCADA DE

1980

PUBLICAÇÃO DE REFERÊNCIA Quase Cinema: Cinema de Artista no Brasil, 1970-1980 Obra da crítica de arte e curadora Ligia Canongia sobre filmes de artistas brasileiros, publicada pela Fundação Nacional de Artes (Funarte) na série Arte Contemporânea/ Caderno de Textos 2. EVENTOS 16a e 17a Bienais de São Paulo (1981 e 1983) Sob a curadoria de Walter Zanini, estas duas edições apresentaram um número representativo de obras realizadas em novos meios, como vídeo, holograma e


telemática. Zanini afirmou no texto de introdução ao catálogo da 17a edição que a influência dessas novas tecnologias seria determinante para o futuro das artes. Um dos destaques destas bienais foi a série de trabalhos realizada por artistas brasileiros com videotexto, mídia que estava sendo implantada em São Paulo e que permitia a interação entre usuários por meio de uma tela e um teclado – ferramenta que antecipava de forma primitiva e embrionária o que viria a ser, cerca de uma década depois, a web. 1o Festival de Vídeo Brasil (1983) Equipamentos de vídeo de formato alternativo – como o VHS e o U-Matic – ficaram acessíveis aos realizadores, o que tornou mais frequente a produção de imagens eletrônicas fora dos meios tradicionais, como a televisão e o cinema. Nesse contexto, ocorreu o 1o Festival de Vídeo Brasil, dedicado exclusivamente ao vídeo – fato inédito no país. Suas edições anuais se estenderam até 1990 e foram a principal janela de exibição para produtoras independentes, como Olhar Eletrônico, TVDO, Cokpit, Emvideo, Antevê, Conecta, Videoverso e TV Viva. Posteriormente, o evento ficou conhecido como Festival Fotóptica Videobrasil. OBRAS DE REFERÊNCIA Série Rio-Arte Vídeo Composta de 20 vídeos produzidos entre 1983 e 2000, a série Rio-Arte Vídeo foi produzida pela Fundação Nacional de Artes (Funarte) e se constituiu num importante registro audiovisual da arte contemporânea brasileira. São ensaios visuais feitos por artistas sobre artistas, que buscam trazer para sua linguagem características da obra homenageada, estabelecendo diálogos criativos entre diretor e biografado. Miguel Rio Branco, Rogério Sganzerla, Mario Carneiro e Arthur Omar, por exemplo, se referem a Waltércio Caldas, Antonio Manuel, Lygia Clark e Tunga, respectivamente. Videocriaturas Criadas por Otávio Donasci, as videocriaturas eram um híbrido homem-máquina: um performer – com um monitor de TV adaptado ao corpo no lugar da cabeça e coberto por um figurino preto – que atuava e interagia com as pessoas no espaço cênico. EVENTO Arte – Novos Meios/Multimeios – Brasil 70/80 (1985) Exposição retrospectiva organizada por Daisy Peccinini para o Museu de Arte Brasileira da Fundação Armando Alvares Penteado (MAB/Faap), cobrindo as décadas de 1970 e 1980. PUBLICAÇÃO DE REFERÊNCIA


A Arte do Vídeo (1986) Publicação pioneira no país, na qual Arlindo Machado realiza uma extensa pesquisa sobre o desenvolvimento da linguagem do vídeo. EVENTO Vídeo de Artista e Televisão – a Televisão Vista por Artistas do Vídeo – MAC/USP Com curadoria de Cacilda Teixeira da Costa, esta exposição apresentou no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC/USP) uma seleção de vídeos produzidos por jovens realizadores que dialogavam com a linguagem da televisão. No catálogo do evento, Aracy Amaral, então diretora do museu, afirmava: “[...] há dez anos atrás os vídeos de artistas eram realizados por artistas plásticos que faziam experimentações nessa área, ao passo que os autores dos programas previstos nesta série são jovens que trabalham com vídeo, simplesmente, e são portanto iniciados em toda a parafernália de possibilidades de efeitos e linguagem da TV comercial”. MARCO HISTÓRICO Festivais e mostras A partir de meados da década de 1980 e início da de 1990, o vídeo se consolidou como uma forma de expressão em várias regiões do país, e proliferaram os festivais focados nesse gênero artístico. Esses eventos passaram a ser os principais espaços de exibição de uma produção que permanecia à margem das mídias mais tradicionais, como a televisão e as salas de cinema, e que não contava ainda com um mercado de arte especializado – galerias e coleções – para a absorção desses filmes e vídeos de artistas. Destacamos a primeira edição dos festivais Rio Cine Fest (1984), ForumBHZvideo (1991), Festival Internacional de Video del Cone Sur (1993), Festival do Minuto (1990), Festival de Cinema e Vídeo de Cuiabá (1993) e CineVídeo – o Diálogo Cinema e Vídeo (1992). OBRA DE REFERÊNCIA Ilha das Flores (1989) “Sem dúvida alguma, os 12 minutos mais potentes do cinema brasileiro”, afirmou a crítica Maria do Rosário sobre Ilha das Flores, de Jorge Furtado. Com uma linguagem nonsense, que mistura a estética do filme experimental e o didatismo formal da televisão, este curta faz uma leitura sociológica da pobreza no país, documentando de forma irreverente o lixão de Porto Alegre conhecido como Ilha das Flores. A obra foi determinante para a renovação da linguagem do curta-metragem no Brasil, estabelecendo pontos de intersecção entre a narrativa clássica e o experimentalismo. EVENTO


Tucano Artes, na Casa de Cultura Laura Alvim Evento internacional realizado no Rio de Janeiro que trouxe ao Brasil artistas como Laurie Anderson e Kit Fitzgerald. A programação incluiu trabalhos de videoperformance e videoinstalação. Entre os brasileiros que participaram estavam Marcelo Tas, Walter Silveira e Tadeu Jungle.

DÉCADA DE

1990

EVENTO 1o Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo Criado em 1990, permanece ativo até os dias de hoje. Inaugurado em uma época em que ainda se distinguia, de maneira ortodoxa, filme de vídeo, tanto pelos recursos tecnológicos quanto pela linguagem, o festival era o mais importante espaço de exibição para os curtas (realizados em sua maioria em 16 mm ou 35 mm) e incluía em seu programa mostras de filmes experimentais. MARCO HISTÓRICO “Os Vídeo” na Galeria São Paulo Em setembro de 1990, uma das primeiras exposições de obras de videoescultura e videoperformance no Brasil terminou de forma inesperada. A proprietária da Galeria São Paulo encerrou a exibição antes do previsto alegando que se tratava de um gênero artístico menor. O fato demonstra o despreparo no circuito da arte daquela época em relação aos trabalhos criados em novas mídias. EVENTO 9o Festival Internacional Videobrasil (1992) Em 1992, o festival passou a ser bienal e se tornou uma janela internacional de exibição e difusão da videoarte, o principal espaço de troca de informações entre os realizadores brasileiros e os de outros países. Além das mostras de vídeo, exibia videoesculturas e videoperformances, enfatizando os aspectos intermídia das artes do vídeo e sua inserção no campo da arte e da tecnologia. Esse perfil curatorial se manteve até a 16a edição do evento. Em 2011, o festival deixou de ser dedicado ao audiovisual experimental e se generalizou como uma mostra de arte contemporânea, perdendo assim seu foco histórico e sua especificidade. MARCOS HISTÓRICOS


Incorporação no mercado de arte Com a consolidação do mercado de arte no Brasil a partir da década de 1990, foram aperfeiçoadas as estratégias de comercialização e representação das galerias no que se refere à produção contemporânea de obras audiovisuais. Ainda mais: instituições como o Museu da Imagem e do Som (sedes de São Paulo e do Rio de Janeiro) e o Museu de Arte Moderna (de São Paulo e do Rio de Janeiro) começaram a incorporar ao acervo, de forma não sistematizada, obras desse gênero. Esse movimento respondeu à emergência de uma geração de artistas interessados em trabalhar com mídias como o cinema e o vídeo. O desenvolvimento acelerado dessas tecnologias tornou as ferramentas de produção de imagens cada vez mais acessíveis e de fácil operação – trouxe a câmera, o computador e os softwares de edição de imagens para dentro do ateliê. Os artistas passaram, com intensidade crescente, a integrar vários códigos de linguagem em seus trabalhos. Além dos novos criadores, essa incorporação pelo mercado fomentou a redescoberta paulatina do material dos artistas pioneiros. Novos diretores e o diálogo com o cinema de artista O período de quase paralisação da produção cinematográfica no país entre os anos de 1991 e 1995 foi provocado pelo encerramento da Empresa Brasileira de Filmes (Embrafilme) e pela ausência de uma política cultural definida para a área do audiovisual. A retomada da produção a partir de 1995, por sua vez, foi reflexo da efetivação de leis de incentivo e mecanismos de financiamento que facilitaram a captação de recursos. No bojo dessa efervescência surgiu uma nova geração de cineastas que dialogava com o circuito das artes e com as propostas estéticas do filme experimental e do cinema de artista. Nesse sentido, podemos citar Gabriel Mascaro, Clarissa Campolina, Pablo Lobato, Ricardo Alves Jr, Sergio Borges, Ivo Lopes Araújo, Luiz Pretti, Ricardo Pretti, Marcos Pimentel, Yuri Firmeza e Carlos Adriano, entre outros nomes. E-cinema O termo “e-cinema” foi utilizado no final da década de 1990 para designar um novo modelo de produção audiovisual, híbrido do cinema e do vídeo. O conceito abrangia obras em vários gêneros (documentário, ficção, experimental, animação etc.) realizadas em plataformas digitais e transmitidas pela internet. O festival Brasil Digital, lançado em 2000, foi o primeiro no país a focar essa vertente, exibindo exclusivamente filmes, vídeos e animações produzidas por brasileiros. Em 2002, passou a se chamar Fluxus – Festival Internacional de Cinema na Internet e reali-


zou mais dez edições. Contou também com exposições de cinema expandido, entre as quais a primeira individual no Brasil do artista Apichatpong Weerasethakul. EVENTOS Mostravídeo (1997) Mostra permanente realizada em Minas Gerais, no Itaú Cultural Belo Horizonte. Durante 14 anos, a Mostravídeo exibiu nesse espaço uma programação de vídeos experimentais, além de oferecer uma grade periódica de palestras e lançamentos da produção experimental. Arte Cinema: Anos 60/70 (1997) Mostra com curadoria de Gloria Ferreira e Lygia Canongia realizada no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro (CCBB/RJ). Reuniu trabalhos audiovisuais experimentais de artistas plásticos como Antonio Manuel, Arthur Omar, Artur Barrio e Lygia Pape.

DÉCADA DE

2000

EVENTOS Prêmio Sérgio Motta (2000) Premiação anual de obras realizadas no campo da arte e da tecnologia. Foram ao todo nove edições, nas quais se reconheceu o trabalho de artistas, realizadores e pesquisadores da área de cinema e vídeo. Em 2004, realizou-se a exposição HiPer: Relações Eletro Digitais, no Santander Cultural de Porto Alegre, com uma seleção dos artistas e dos projetos premiados. Marginália 70 – o Experimentalismo no Super-8 Brasileiro (2001) Mostra retrospectiva sobre os filmes experimentais em super-8 produzidos no Brasil na década de 1970. Organizada pelo Itaú Cultural, com pesquisa e curadoria de Rubens Machado, reuniu mais de 120 trabalhos, que foram restaurados e remasterizados para o formato de vídeo. Mostra do Filme Livre Festival interessado na difusão de filmes e vídeos independentes. Foi importante para a produção alternativa e experimental no início dos anos 2000, absorvendo parte significativa dos trabalhos que não encontravam receptividade no circuito oficial dos festivais de cinema e vídeo. O evento está em sua 15a edição.


Movimentos Improváveis ‒ o Efeito-Cinema na Arte Contemporânea (2003) Com curadoria de Phillippe Dubois e Ivana Bentes, esta foi uma das primeiras exposições no país a tratar da relação entre a produção contemporânea de artes visuais e o cinema de artista. Apresentou obras dos brasileiros Ronaldo Kiel e Hélio Oiticica. PUBLICAÇÃO DE REFERÊNCIA Made in Brasil – Três Décadas do Vídeo Brasileiro Mostra que reuniu 84 produções, compilando 30 anos da história do vídeo de criação brasileiro. Após dois anos de uma bem-sucedida itinerância, atingiu um público de 18 mil espectadores. Foi publicado um livro de mesmo nome, que tem sido utilizado como referência por pesquisadores e professores da área. MARCO HISTÓRICO Concertos audiovisuais Criar imagens e sons em tempo real é uma das maneiras pelas quais os artistas contemporâneos exploram os limites da narrativa audiovisual. Os pressupostos são as imagens ao vivo e os recursos tecnológicos de edição e projeção em um ambiente de exibição cinematográfico – a sala de cinema, a galeria ou até mesmo a pista de dança e o palco aberto de um show de música pop ou eletrônica. No Brasil, eventos como Multitude (2004), On_Off (2005), Festival de Arte Digital [FAD (2008)] e Visualismo (2015) se dedicam à difusão dessa produção. EVENTOS Cine Esquema Novo Festival realizado em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, e destinado a produções independentes e de caráter experimental. Em 2014, passou a focar o cinema expandido. 26a Bienal de São Paulo (2004) A presença de um grande número de filmes e vídeos de artistas percebida nas bienais de Veneza e na Documenta de Kassel no final da década de 1990 se repetiu na Bienal de São Paulo. Marcelo Gomes e Karim Aïnouz, Laura Vinci, Milton Marques, Angela Detanico e Rafael Lain exibiram obras em vídeo. MARCOS HISTÓRICOS


Acervo de Videoarte da Fundação Joaquim Nabuco Midiateca com um acervo de obras de filmes e vídeos de artistas, constituído por meio de doações e aquisição de cópias com caráter de difusão educativa. Em 2007 passou a organizar o Concurso de Videoarte, estimulando a produção experimental de obras audiovisuais. Nas nove edições realizadas foram premiados artistas como Rodrigo Braga e Jonathas de Andrade. Vídeo na internet Em 2005, foi lançado o YouTube. Também surgiram, por volta desse momento, outros canais de difusão de audiovisual. O uso desses dispositivos causou uma explosão de conteúdos audiovisuais na internet. A audiência em escala mundial foi um fenômeno sem precedentes, e os conteúdos mais populares chegaram a atingir bilhões de espectadores. Realizaram-se festivais como Your Film Festival e Vimeo Festival, que propõem uma curadoria segmentada a partir da escolha do usuário. EVENTOS 5a Bienal do Mercosul (2005) Com o tema Direções no Novo Espaço, o evento foi realizado em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, e propôs uma reflexão sobre as formas contemporâneas de exibição do filme e do vídeo de artista no espaço expositivo. Participaram como representantes nacionais Dayse Xavier, Célia Freitas, Jailton Moreira, Laura Erber, Lenora de Barros, Miguel Rio Branco, Thiago Rocha Pitta e Tunga. Primera Generación: Arte e Imagen en Movimiento, 1963-1986 (2006) Exposição no Museu Reina Sofía, em Madri, na Espanha, com curadoria de Berta Sichel. Para a mostra, foram adquiridas e incorporadas ao acervo permanente da instituição obras dos brasileiros Anna Bella Geiger e Rafael França. MARCO HISTÓRICO Inhotim Em 2006, inaugurou-se em Brumadinho, no interior de Minas Gerais, o Inhotim, centro de cultura e de preservação do meio ambiente. Além de manter ações de responsabilidade social e contar com um jardim botânico, possui um relevante acervo de arte contemporânea nacional e internacional, que inclui obras audiovisuais de artistas como Cao Guimarães, Cinthia Marcelle, Hélio Oiticica, Miguel Rio Branco, Marcellvs L. e Valeska Soares. EVENTOS Arte Mov – Festival Internacional de Mídias Móveis (2006)


Festival com o objetivo de difundir e debater a produção audiovisual criada com equipamentos portáteis e tecnologias de mídias móveis. Teve seis edições. Filmes de Artista – Brasil 1965-80 (2007) Com curadoria de Fernando Cocchiarale, esta exposição apresentou uma retrospectiva da produção de filmes de artistas no Brasil nas décadas de 1960 e 1980, com obras de Anna Maria Maiolino, Carlos Zilio, Donato Ferrari, Gabriel Borba, Julio Plaza e Moysés Baumstein, entre outros nomes. Cinema Sim – Narrativas e Projeções (2008) Exposição com obras de cinema expandido, além de filmes e vídeos de artistas, realizada no Itaú Cultural. Com curadoria de Roberto Moreira S. Cruz, o evento promoveu também um seminário sobre o contexto contemporâneo do cinema de exposição, com a participação de Raymond Bellour, Dominique Païni e Arlindo Machado, entre outros pensadores. PUBLICAÇÃO DE REFERÊNCIA Extremidades do Vídeo, de Christine Mello O livro analisa o desenvolvimento do vídeo na arte contemporânea, dando ênfase às tendências que acompanham a produção da passagem do século XX para o XXI. Discute também as relações do vídeo com o sistema artístico. EVENTOS Visionários – Audiovisual na América Latina (2009) Mostra de cinema e vídeo experimental latino-americano. Com curadoria de Jorge La Ferla, Arlindo Machado, Maria Lucia Velez, Elias Levin e Roberto Moreira S. Cruz, foi exibida em mais de 14 países, abrangendo a América Central, o Caribe, os Andes, o Cone Sul e o Brasil. Intempéries – o Fim do Tempo (2009) Com curadoria de Alfons Hug, a mostra foi realizada na OCA, no Parque Ibirapuera, em São Paulo. Apresentou vídeos que tratavam da questão do clima no planeta. Do Brasil, participaram os artistas Laura Vinci e Thiago Rocha Pitta.

DÉCADA DE EVENTOS

2010


Cinema de Garagem – Inventário Afetivo do Jovem Cinema Brasileiro (2011) Projeto de Marcelo Ykeda e Dellani Lima que exibe filmes de jovens realizadores brasileiros considerados de baixo orçamento e produzidos de forma independente. Como os curadores afirmaram: “Com a expressão ‘cinema de garagem’, buscamos propor um debate sobre os novos modos de produção no audiovisual brasileiro contemporâneo, através não apenas de seus aspectos econômicos, mas também de seus aspectos estéticos, éticos e políticos”. Sismógrafo (2011) Com curadoria de Jacopo Crivelli Visconti, esta retrospectiva apresentou uma extensa seleção de vídeos e filmes de artistas mineiros. Polígonos Regulares (1981), de Rafael França Em 2011, a Pinacoteca do Estado de São Paulo apresentou a videoinstalação Polígonos Regulares, de Rafael França (1957-1991), precursor das experiências entre arte e tecnologia no Brasil e um dos primeiros a apontar caminhos para a organização de ideias plásticas e acústicas em projetos de videoinstalação. MARCO HISTÓRICO Filmes e Vídeos de Artistas na Coleção Itaú Cultural Em 2011, o Itaú Cultural iniciou a aquisição de filmes e vídeos de artistas brasileiros, compondo uma coleção que, por meio de parcerias com instituições culturais, leva essas obras a vários locais do país. Foram realizadas exposições no Palácio das Artes, em Belo Horizonte (MG); no Museu Casa das Onze Janelas, em Belém (PA); no Museu Nacional da República, em Brasília (DF); no Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba (PR); no Museu de Arte Moderna Aloisio Magalhães (Mamam), em Recife (PE); e na Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre (RS). EVENTOS Circuitos Cruzados: o Centre Pompidou Encontra o MAM (2013) A exposição reuniu obras das coleções do Centre Pompidou, na França, e do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM/SP), a partir do recorte curatorial de Christine Van Assche e Paula Alzugaray. Estavam em diálogo as videoinstalações da coleção francesa, criadas pelos artistas Vito Acconci, Peter Campus, Dan Graham, Bruce Nauman e Nam June Paik, e os vídeos de Antonio Dias, Lia Chaia, Tadeu Jungle, Ricardo Basbaum, Maurício Dias e Walter Riedweg, do acervo do museu brasileiro. Na mostra, foi apresentada a obra de Tony Oursler Circuitos Cruzados; Norte Sul Leste Oeste (2013), que projetou imagens sobre a copa das árvores do Parque Ibirapuera.


Expoprojeção 1973-2013 (2013) A inspiração para esta retrospectiva foi a mostra Expoprojeção 73, organizada por Aracy Amaral em 1973 e a primeira iniciativa curatorial a reunir a produção de audiovisual experimental, então desconhecida no país. A edição de 2013 enriqueceu o panorama apresentado naquela época com uma antologia de trabalhos desse gênero produzidos no decorrer das décadas seguintes. MARCOS HISTÓRICOS Cinema Paraibano: Memória e Preservação Projeto de digitalização e difusão na internet do acervo audiovisual do Núcleo de Documentação Cinematográfica da Universidade Federal da Paraíba (Nudoc/UFPB). O conteúdo está disponível no site cinepbmemoria.com.br e abrange filmes super-8 e 16 mm produzidos nas décadas de 1970 e 1980. Acervo Videobrasil Desde 1983, a Associação Cultural Videobrasil tem constituído um acervo composto,



principalmente, de obras em vídeo e registros das performances que aconteceram no festival organizado pela mesma instituição. Esse material pode ser visto no site da associação: site.videobrasil.org.br/acervo. LISTA DE OBRAS Filmes e Vídeos de Artistas na Coleção Itaú Cultural 1. Triunfo Hermético (1972), Rubens Gerchman 12 min 16 mm transferido para vídeo HD acervo Itaú Cultural 2. Passagens #1 (1974), Anna Bella Geiger 12 min portapak transferido para vídeo HD acervo Itaú Cultural 3. Homenagem a Steinberg – Variações sobre um Tema de Steinberg: as Máscaras N o 1 (1975), Nelson Leirner 7 min super-8 transferido para vídeo HD acervo Itaú Cultural 4. Marca Registrada (1975), Letícia Parente 9 min portapak transferido para vídeo HD acervo Itaú Cultural 5. Registros (Meu Cérebro Desenha Assim) (1979), Paulo Bruscky 4 min u-matic transferido para digital acervo Itaú Cultural 6. A Arte de Desenhar (1980), Regina Silveira


2min38s portapak transferido para vídeo HD acervo Itaú Cultural 7. Xeroperformance (Xerofilme) (1980), Paulo Bruscky 40 s super-8 transferido para digital acervo Itaú Cultural 8. After a Deep Sleep (Getting Out) (1985), Rafael França 5 min u-matic transferido para digital acervo Itaú Cultural 9. Coletas (1998-2005), Brígida Baltar 16min36s vídeo e filme em 16 mm transferido para digital acervo Itaú Cultural 10. Memória (2001), Eder Santos 4min08s videoinstalação (cristaleira e objetos de cristal)/dimensões variáveis acervo Itaú Cultural 11. Partida (2005), Alberto Bitar 5 min vídeo com som, produzido a partir de fotografias acervo Itaú Cultural 12. Amoahiki (2008), Gisela Motta e Leandro Lima 8 min em looping e som estéreo vídeo full HD acervo Itaú Cultural 13. El Pintor Tira el Cine a la Basura (2008), Cao Guimarães


5min44s HDV, cor, áudio acervo Itaú Cultural 14. Mar (2008), Letícia Ramos dimensões variáveis videoescultura, madeira, projetor e vídeo transferido de 35 mm acervo Itaú Cultural 15. Translado (2008), Sara Ramo 7min46s vídeo HD acervo Itaú Cultural 16. Cinema (2009), Eder Santos 13min13s vídeo full HD acervo Itaú Cultural 17. Planeta Fóssil (2009), Thiago Rocha Pitta 16 min vídeo acervo Itaú Cultural 18. Sunday (2010), Rivane Neuenschwander e Sergio Neuenschwander 5min17s vídeo full HD acervo Itaú Cultural 19. Projeção 0 e 1 (2012), Luiz Roque 6 min vídeo full HD/projeção em dois canais sincronizados



acervo Itaú Cultural FILMES E VÍDEOS DE ARTISTAS NA COLEÇÃO ITAÚ CULTURAL Concepção e realização Itaú Cultural Curadoria Roberto Moreira S. Cruz Projeto expográfico Henrique Idoeta Soares ITAÚ CULTURAL Presidente Milú Villela Diretor-superintendente Eduardo Saron Superintendente administrativo Sérgio M. Miyazaki NÚCLEO DE ARTES VISUAIS Gerência Sofia Fan Coordenação Juliano Ferreira Produção-executiva Bianca Selofite, Luciana Rocha e Adriane Freitag (terceirizada) NÚCLEO DE AUDIOVISUAL E LITERATURA Gerência Claudiney Ferreira Coordenação Kety Fernandes Nassar Produção audiovisual Caroline Rodrigues Gravação Bela Baderna (terceirizada) Edição Bela Baderna (terceirizada), Karina Fogaça e Richner Allan NÚCLEO DE PRODUÇÃO DE EVENTOS Gerência Henrique Idoeta Soares Coordenação Coordenação: Edvaldo Inácio da Silva, Januário de Santis e Vinícius Soares Ramos Produção Érica Pedrosa, Fábio Marotta, Wanderley Bispo, Cristiane Zago, Daniel Suares (terceirizado), Lorena Latorre e Fernanda Carnaúba (terceirizada)


NÚCLEO DE INOVAÇÃO Gerência Marcos Cuzziol Engenharia de software João Aleixo e Kenzo Okamura (terceirizado) NÚCLEO DE EDUCAÇÃO E RELACIONAMENTO Gerência Valéria Toloi Coordenação de atendimento educativo Tatiana Prado Equipe Amanda Freitas, Caroline Faro, Danilo Fox, Thays Heleno, Victor Soriano e Vinicius Magnun Estagiários Alan Ximendes, Bianca Ferreira, Breno Gomes, Daiana Terra, Edson Bismark, Giovani Monaco, Giovanna Nardini, Graziele de Almeida, Leandro Lima, Lennin de Almeida, Leticia Sato, Lidiany Shuede, Lucas Albuquerque, Lucas Balioes, Marcus Ecclissi, Maria Luiza Kazi, Marina Moço, Mayra Rocha, Paloma Rodrigues, Pamela Mezadi, Rafael Freire, Renan Ortega, Renata Sterchele, Samara Pavlova Fantin, Sara Barbosa, Sidnei Santos, Silas de Almeida, Thomas Angelo, Victoria Pinheiro, Vitor Rosa e William Miranda Coordenação de programas de formação Samara Ferreira Educadores Carla Léllis, Claudia Malaco, Edinho Santos, Josiane Cavalcanti, Lucas Takahaschi, Luisa Saavedra, Malu Ramirez, Raphael Giannini, Thiago Borazanian e Viny Rodrigues NÚCLEO DE COMUNICAÇÃO E RELACIONAMENTO Gerência Ana de Fátima Sousa Coordenação de conteúdo Carlos Costa Produção e edição de conteúdo Duanne Ribeiro e Maria Clara Matos Redes sociais Renato Corch Supervisão de revisão Polyana Lima Revisão de texto Ciça Corrêa e Rachel Reis (terceirizadas) Coordenação de design Jader Rosa Design Estúdio Claraboia (terceirizado) Comunicação visual Yoshiharu Arakaki Produção editorial Bruna Guerreiro e Raphaella Rodrigues Tratamento de imagem Marcos Ribeiro Relacionamento, eventos e comunicação estratégica Melissa Contessoto, Simoni Barbiellini e Vanessa Golau Olvera NÚCLEO DE ACERVO DE OBRAS DE ARTE Gerência Fulvia Sannuto Coordenação Edson Martins Cruz


ABERTURA quarta 16 de março de 2016 às 20h VISITAÇÃO quinta 17 de março a domingo 22 de maio de 2016 terça a sexta, das 9h às 18h [permanência até as 20h30] sábado, domingo e feriado, das 11h às 20h Conheça a exposição acompanhado de nossos educadores. As visitas também são acessíveis em Libras. Consulte a disponibilidade em itaucultural.org.br ou no balcão de atendimento. SEMINÁRIO quarta 23 de março de 2016 mesas às 17h30 e às 20h

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