Dados internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Fundação Itaú | Itaú Cultural
Glauce, Hertenha. Literacenas: Diálogo entre Literatura e Teatro / São Paulo : Itaú Cultural , 2025. (Cadernos do professor) 14 p. : PDF.
Inclui bibliografia. ISBN: 978-85-7979-178-9
1. Literatura e Teatro. 2. Teatro na educação. 3. Arte e literatura. 4. Planos de aula. 5.Educação. I.Fundação Itaú. II.Itaú Cultural. III.Enciclopédia Itaú Cultural. IV.Título.
CDD 370
Bibliotecária Ana Luisa Constantino dos Santos CRB-8/10076
Este caderno propõe uma intersecção entre a Literatura e o Teatro a partir do processo de adaptação da escrita narrativa para escrita dramática na criação de esquetes (peças curtas), de modo que professores e alunos possam criar espetáculos. Esta atividade, estimula o hábito da leitura crítica e adaptação de textos, valorizando a escola como um espaço de formação e fruição artística.
objetivos
• Desenvolver as competências, habilidades e valores na Educação Fundamental - Anos Iniciais através de atividades integradas, envolvendo as áreas de Literatura e Teatro;
• Realizar uma leitura crítica de textos literários, identificando e selecionando elementos textuais;
• Exercitar a escrita a partir da adaptação de textos literários de gêneros narrativo e dramatúrgico;
• Proporcionar uma experiência no desenvolvimento de processos artísticos e criativos coletivos em teatro.
áreas do conhecimento
Literatura e Teatro.
segmento(s) e habilidades da BNCC
Ensino Fundamental Anos Iniciais: EF15AR06, EF15AR18, EF15AR20, EF15AR23, EF35LP04, EF35LP18, EF35LP24, EF35LP29, EF12LP05.
duração
5 aulas.
recursos necessários
• Livros
• Lápis
• Cadernos e/ou papel
• Elementos para a composição da cena (roupas, objetos etc.)
São Paulo, 2025
Adaptação teatral do livro “O Planeta Lilás” de Ziraldo, com direção de Mariana Kaufman, Rio de Janeiro, 2023
Foto de Rogerio Von Kruger
1º MOMENTO desenvolvimento
Seleção
do texto
Inicie a aula apresentando o tema “Literacenas - Diálogo entre Literatura e Teatro”, reforçando que será uma atividade coletiva e que a turma inteira deve contribuir com sua participação ativa.
Comente com os estudantes que o texto dramático é um gênero literário que tem como finalidade a interpretação cênica. Por isso ele geralmente é organizado em atos, cenas e rubricas (instruções dramatúrgicas). No entanto, não é incomum que textos narrativos (como romances, novelas, contos, crônicas ou fábulas, por exemplo) sejam adaptados como peças teatrais. Essa adaptação implica uma leitura atenta para identificar os principais elementos narrativos e um processo de transformação (que pode gerar supressões ou inclusões de personagens, falas, situações, elementos, etc.).
Divida a turma em grupos de 4 a 5 estudantes. Após a divisão, entregue, em folhas avulsas, pequenos textos literários, como contos ou fábulas e convide a turma a lê-los, escolhendo qual texto o grupo mais gostou ou identificou-se. É importante que cada grupo escolha apenas um texto. Caso tenha interesse em buscar materiais para inspirar a proposta, considere a produção de autores brasileiros de literatura infantil, como Ruth Rocha, Sylvia Orthof, Jorge Amado e Ziraldo
Uma vez definido o texto, o grupo deve realizar uma nova leitura, conversando sobre a narrativa, relacionando elementos da trama, identificando os personagens, mesmo aqueles que não estão diretamente na narrativa, mas poderiam estar. Após essa discussão, formem uma grande roda onde cada grupo, por meio de um representante, será convidado a apresentar o texto selecionado em suas palavras.
2º MOMENTO
Características e diálogo entre personagens
Em grupo, os alunos devem listar as principais características e ações dos personagens, bem como outras ações que poderiam tomar e como impactariam a narrativa. Uma vez realizado este levantamento, devem criar, mesmo de forma improvisada, pequenos diálogos entre os personagens, anotando-os.
No momento do improviso, é importante que os estudantes tenham liberdade para interagir entre si e contribuir um com o processo do outro. Alguns podem demonstrar mais timidez, contudo, como em todo processo artístico e educacional em grupo, é fundamental que se propicie um ambiente seguro para a experimentação.
3º MOMENTO
Texto em dramaturgia
Como estratégia para a apropriação do texto escolhido, peça aos grupos que recontem a história de forma livre. Oriente-os a produzir um storyboard, ou seja, uma sequência de imagens que constituem um roteiro desenhado quadro a quadro (semelhante a uma história em quadrinhos), com o propósito de
pré-visualizar uma cena ou sequência narrativa de cinema, animação, publicidade ou teatro.
Uma vez concluídos os desenhos, sugira que os estudantes associem cada um dos quadros com os diálogos realizados no momento anterior e complementem com novos diálogos, se julgarem necessário.
Finalizada esta etapa, o grupo pode organizar um texto em dramaturgia, identificando: título, autor, adaptadores e personagens. Confira o modelo abaixo, como sugestão para a atividade indicada, baseado no livro “Bia que tanto lia”, de Socorro Acioli:
Exemplo:
Título: Bia que tanto Lia
Autora: Socorro Acioli
Adaptadores: Nome dos estudantes
Personagens:
Narrador
Bia (Beatriz)
Edite
NARRADOR: Bia amava ler livros e por isso ficou muito amiga de Dona Edite, a bibliotecária. Um dia, Bia exagerada como era, entrou correndo na biblioteca.
BIA: Bom dia, Dona Edite!
EDITE: Bom dia, Bia! Que bom ver você aqui tão cedo!
BIA: Tive que vir urgente, Dona Edite. Mal tomei café. Vim correndo, estou desesperada!
NARRADOR: Bia era assim mesmo, exageradíssima, dramática! Era por causa dos romances que lia.
EDITE: Mas o que aconteceu, minha filha?
BIA: Já li todos os livros que peguei emprestado aqui na biblioteca, semana passada. Não tenho mais nada para ler. Um desespero. A senhora pode me ajudar a escolher mais alguns?
EDITE: Claro! Mas que tipo de livro você quer agora?
BIA: Hummm... quero um livro que não acabe nunca!
EDITE: Isso eu não posso arranjar, mas tenho um que pode durar uns três anos.
BIA: Qual?
EDITE: “As Mil e Uma Noites”. Se você ler uma história a cada dia, só terminará daqui a três anos.
NARRADOR: Bia ficou sem palavras. Seus olhos brilhavam só de imaginar um livro que duraria três anos para ser lido!
Assim, podem-se seguir os diálogos e, quando menos esperarem, já adaptaram um texto narrativo em teatro.
Leitura interpretativa
Os grupos devem identificar os elementos necessários para uma apresentação teatral, tendo por base o texto adaptado. Nessa lista pode haver elementos de cenografia, figurinos, adereços e objetos de cena (disponíveis na escola ou providenciados pelos alunos) que serão utilizados na apresentação teatral.
Após a listagem dos elementos, os grupos devem iniciar a etapa de leitura interpretativa, na qual cada aluno escolhe um personagem para representar, trazendo as informações coletadas no 2º Momento, que serão extremamente importantes para a construção do personagem.
Para finalizar, o professor deverá solicitar à turma para, em casa, decorar o texto (falas) do personagem.
5º MOMENTO
Ensaios e apresentação
Peça aos grupos que ensaiem a peça para uma pequena apresentação. Caso seja difícil para alguns decorar as falas, enfatize que o importante é comunicar o que se deseja transmitir mais do que reproduzir o texto. Em último caso, oriente-os a realizar uma leitura interpretativa.
Retrato da escritora
Socorro Acioli, 2023
Foto de Igor de Melo
4º MOMENTO
Ao fim do tempo proposto pelo professor, os estudantes devem escolher um espaço na escola, que pode inclusive ser a sala de aula, para que todos possam apresentar suas peças.
Após as apresentações, organize uma grande roda para conversarem/avaliarem como foi o processo de criação e apresentação das adaptações teatrais. É importante relembrar as etapas da atividade e que se tratou de um processo coletivo Crie oportunidades para que os estudantes compartilhem suas dificuldades e como conseguiram superá-las
reflexão final
Aatividade possibilita ao estudante exercer um espaço de autonomia em um processo colaborativo, no qual cada um pode e deve contribuir para a construção da adaptação teatral. As ideias partilhadas colaboram para o entendimento da coletividade, essencial para o teatro.
A partir desta experiência, os alunos são incentivados a desenvolver o hábito da leitura e da escrita, identificando elementos textuais, aprofundando as possibilidades do trabalho coletivo, desenvolvendo habilidades socioemocionais e interpessoais, ampliando vocabulários, bem como sendo capazes de aplicar o desenho como estratégia de planejamento de cenas (storyboard).
sugestões complementares
Para conhecer um pouco mais sobre alguns marcos históricos e saberes que se destacaram no desenvolvimento do teatro brasileiro em suas relações estéticas e sociais, acesse o curso Constelação das artes – histórias do teatro brasileiro: perspectivas e debates, disponível na plataforma da Escola Fundação Itaú. Essa formação investiga as origens das teatralidades brasileiras, o teatro cômico e a cena popular, os teatros negros e as expressividades contemporâneas.
Se desejar aprofundar sua pesquisa sobre teatro infantil, vale a pena conhecer a vida e a obra da dramaturga e diretora teatral Maria Clara Machado, que escreveu textos importantes para o teatro infantil brasileiro, como Pluft, o Fantasminha (1955) e O Rapto das Cebolinhas (1954)
Na Enciclopédia Itaú Cultural, encontram-se também os vídeos da série Cada Voz de dois autores de literatura infanto juvenil de diferentes gerações: Pedro Bandeira e Índigo.
referências
ACIOLI, Socorro. Bia que Tanto lia: Uma história do Livro para Crianças. Ilustrações Arlene Holanda. – 3ª Ed. – Fortaleza: Editora Dummar, 2019.
BARBOSA, Ana Mae (Org). Arte-Educação: leitura no Subsolo. São Paulo: Cortez, 1999.
BARBOSA, Ana Mae (Org). Inquietações e Mudanças no Ensino da Arte. São Paulo: Cortez, 2002.
BEDRAN, Bia. A Arte de Cantar e Contar Histórias – Narrativas orais e processos criativos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2012.
COLARES, Edite. Ensino de Arte e Educação. Fortaleza: Brasil Tropical, 2001. DUARTE JR, João Francisco. Fundamentos Estéticos da Educação. Campinas, SP: Papirus, 1988.
KOUDELA, Indrid Dormien. Jogos Teatrais. São Paulo: Perspectiva, 2009. OSINSKI, Dulce. Arte, História e Ensino – Uma trajetória. São Paulo: Cortez, 2002.
RABELO, Luis Cleison. Brincando de Teatro – Oficina de teatro: recurso pedagógico na formação do educador. Fortaleza: Expressão Gráfica Editora, 2008.
SPOLIN, Viola. O Jogo Teatral no Livro do Diretor. São Paulo: Perspectiva, 2008.