ANNO I
NUMERO 1
DECLARAMOS GUERRA DE MORTE AOS LADRÕES DO POVO
São Paulo, 20 de junho de 2012
itaucultural.org.br/ocupacao
gratuito
Profeta é aquele que enxerga o óbvio Nelson Rodrigues | foto: autoria desconhecida | acervo de família
Profeta é aquele que enxerga o óbvio, disse muitas vezes Nelson Rodrigues. Atento observador dos dramas humanos, intelectual outsider, artista inaugural. Gênio, capaz de revolucionar o teatro brasileiro e todas as áreas da escrita em que se envolveu. Quais processos produziram esse gênio? Foram as muitas tragédias que sofreu? A passagem pela reportagem policial quando muito jovem trabalhou no jornal de seu pai? Quem percorrer a exposição terá a oportunidade de encontrar outros ângulos desse personagem e ao final, quem sabe, responder a essas perguntas. (p. 3)
A PRIMEIRA INFÂNCIA “Para os meus três anos, o mar, antes de ser paisagem, foi cheiro. Não era concha, nem espuma. Cheiro. Meu pai, antes de ser figura, gesto, bengala ou pura palavra, também foi cheiro. Ninguém tinha nome na minha primeira infância. A estrela-do-mar não se chamava estrela, nem o mar era mar. Só quando cheguei ao Rio, em 1916, é que tudo deixou de ser maravilhosamente anônimo.” (NELSON RODRIGUES – O Óbvio Ululante)
DAS ÁGUAS DE PERNAMBUCO A obra de Nelson Rodrigues sempre chegou a mim através de alguns textos de teatro das muitas montagens vistas. O convite para pensar a cenografia da Ocupação Nelson Rodrigues me fez parar e me aproximar com mais intensidade da extensa produção do autor, deparar com novas questões, sobretudo através da leitura das diversas confissões dele próprio, registradas em livros de memória.
Esse mergulho mais profundo no universo rodriguiano começou numa conversa com a curadora Maria Lúcia Rodrigues. Nosso primeiro encontro sobre o tema, em pleno coração de São Paulo, na Avenida Paulista, parecia acontecer na ampla varanda de uma casa nordestina. Alguns pontos levantados também remetiam à minha infância e adolescência, passadas no Nordeste. (p. 6)
A visão do menino
Uma das definições sobre Nelson Rodrigues que mais o agradavam foi dada pela escritora Clarice Lispector logo após assistir à peça Bonitinha, mas Ordinária: “Nelson, você é um menino que vê o mundo pelo buraco da fechadura e se espanta!”, disse ela. O título da crônica rodriguiana que narra o encontro com a magistral escritora é: Os que Jamais Foram Meninos. A ideia de um Nelson eternamente menino é cultivada pelo próprio autor em suas memórias, nas quais recorda ter nascido em uma escola da Tijuca aos 8 anos de idade. Era um concurso de redação de tema livre e Nelson escreveu ali sua primeira história aos moldes de “A Vida como Ela É...”, contando um adultério ocorrido na vizinhança.
(p. 13)
O MEDO DO BRASIL DIANTE DOS VIRA-LATAS Triste de quem vê apenas a bola em um jogo de futebol. Mais triste ainda de quem tenta ler o jogo apenas pelos desenhos táticos, as estratégias, (3x5x2), (3x4x3), os gols perdidos, os erros da arbitragem e todos esses traços objetivos que fazem das mesas-redondas da televisão uma ladai-
nha infernal de todos os domingos. O jornalista, escritor e dramaturgo pernambucano Nelson Rodrigues, quase cego para os movimentos da pelota, via no futebol uma forma de entender o sentimento de uma nação. Não que o jogo fosse uma mera desculpa para a escrita,
afinal de contas testemunhava, mesmo em uma pelada de rua, um drama tão complexo quanto uma peça de William Shakespeare. O que representava o triunfo e a derrota em uma competição, porém, era muito mais significativo do que a simples narrativa do combate. (p. 4)
Dorotéia e uma Encenação em Devir Nelson Rodrigues classificou Dorotéia como “farsa irresponsável em três atos”. De imediato, a questão dos gêneros se põe para qualquer exegese que se faça à peça. “Farsa ou tragédia?”, perguntamo-nos todos. Mas quais os limites de uma e as fronteiras de outra no teatro? Essa se torna uma das tantas questões que não somente essa peça como a obra dramática de Nelson Rodrigues nos colocam, ainda hoje em pleno século XXI (ou seria para toda a arte contemporânea?). Como nos alerta Gerald Thomas, as montagens de Nelson Rodrigues não devem ir a fundo na forma trágica nem na forma cômica. Para esse encenador, devem-se evitar as duas alternativas sob o risco do fracasso. (p. 11)
Detalhe da obra de Roberto Rodrigues publicada no Catálogo Nelson Rodrigues e o Cinema acervo de família
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JORNAL OCUPAÇÃO
ITAÚ CULTURAL APRESENTA:
Nelson, de uma família Rodrigues... Sonia Sobral*
Foi a primeira coisa que Maria Lúcia disse. Essa filha de Nelson Rodrigues, jornalista, pesquisadora e doutora em educação, me foi apresentada pelo diretor teatral Marco Antônio Braz. Eu disse a ela que nós do Itaú Cultural, na 13ª edição do programa Ocupação, gostaríamos de expor Nelson de forma a conhecer suas referências prosaicas, intelectuais, familiares; como criava e vivia. O objetivo primordial da Ocupação é recuperar e preservar a memória artística brasileira, além de apoiar a digitalização, a organização e a edição de acervos dos artistas homenageados. A empatia foi imediata. Maria Lúcia queria justamente falar das
origens do pai, da família Rodrigues. Queria uma exposição por ele mesmo, e marcamos a primeira viagem de pesquisa. Ela, no papel de filha-curadora, chegou ao Recife, em novembro de 2011, com seu matulão de perguntas e hipóteses. As caminhadas e descobertas foram muitas, mas houve também o que não foi encontrado ou desvendado. Voltamos em janeiro deste ano, dessa vez acompanhadas de Sonia Rodrigues Muller, filha de Maria Lúcia, escolhida por ela para assessorá-la na curadoria e responsável pela direção audiovisual da mostra. No Recife, procurei quem pudesse nos ajudar e a primeira foi Anamaria Sobral,
OCUPAÇÃO NELSON RODRIGUES ITAÚ CULTURAL
quinta 21 junho a domingo 29 julho 2012 terça a sexta 9h às 20h sábado domingo feriado 11h às 20h piso térreo [indicado para todas as idades] avenida paulista 149 são paulo sp 01311 000 [estação brigadeiro do metrô] fone 11 2168 1777 fax 11 2168 1775 TORRE MALAKOFF
quinta 23 agosto a domingo 21 outubro 2012 terça a sexta 10h às 20h sábado domingo feriado 14h às 19h praça artur oscar s/nº recife antigo recife pe
atriz e mestra em teatro, que nos auxiliou enormemente na pesquisa, e o diretor teatral Antonio Cadengue, que apaixonadamente nos falou sobre o teatro pernambucano e sobre Nelson Rodrigues. Cadengue também cuidou de nos introduzir pessoas fundamentais para essa (re)construção, e a mim coube lhes apresentar ainda Valdy Lopes, artista alagoano por quem tenho grande admiração e que seria o responsável pelo projeto expográfico. Meses de pesquisas, reuniões, aprendizados e empenho de uma grande equipe ergueram um espaço onde o público pode sentir Nelson Rodrigues. Bastante sensorial,
a exposição nos envolve por meio de palavras, memórias e muitas imagens coletadas. Creio que a particularidade desta Ocupação é o fato de não estar apoiada nas análises que foram feitas sobre a obra e a personalidade de Nelson. Ela foi pensada para dar voz à sua consciência. O Itaú Cultural tem imenso prazer em apresentar a Ocupação Nelson Rodrigues aos públicos paulistano e pernambucano. No Recife, a exposição será aberta no dia 23 de agosto, data do centenário de nascimento do escritor, na Torre Malakoff, localizada na parte antiga da cidade, de frente para o mar de suas memórias. E todo o Brasil
terá acesso a um panorama diversificado da obra e da vida de Nelson por meio do site do programa, que traz fotos de família e registros de peças, além de entrevistas com familiares e personalidades que esclarecem aspectos de sua produção. Nelson reconheceu as grandezas e as pequenices humanas, as traduziu num universo mítico e arquetípico. Acreditava que ao falar da própria aldeia estaria falando do mundo. Dessa forma, seus personagens suburbanos tiveram trajetórias de heróis em seus dramas reescritos como poesia dramática. A compreensão mítica do escritor sobre a vida e sobre a sua própria história carre-
FICHA TÉCNICA DA OCUPAÇÃO NELSON RODRIGUES COORDENAÇÃO-GERAL E ORGANIZAÇÃO Núcleo de Artes Cênicas: Sonia Sobral Cristina Espírito Santo Débora Carillo CURADORIA E PESQUISA Maria Lúcia Rodrigues ASSISTÊNCIA DE CURADORIA E PESQUISA Sonia Rodrigues Muller PROJETO EXPOGRÁFICO Valdy Lopes Jn ASSISTÊNCIA AO PROJETO
PRODUÇÃO E MONTAGEM DO ESPAÇO EXPOSITIVO Núcleo de Produção de Eventos: Edvaldo Inácio da Silva Érica Pedrosa Galante Fabiana Kaibara Monteiro Fábio Teixeira Marotta Henrique Idoeta Soares Vinícius Soares Ramos Wanderley Germano Bispo COORDENAÇÃO EDITORIAL E DO HOTSITE Núcleo de Comunicação: Ana de Fátima Sousa
EXPOGRÁFICO Fernanda Carlucci DIREÇÃO DE AUDIOVISUAL Sonia Rodrigues Muller EDIÇÃO DE IMAGENS Núcleo de Audiovisual e Literatura: Rodrigo Lorenzetti Karina Fogaça Talita Guessi
Cybele Fernandes Duanne Ribeiro Marina Chevrand Roberta Dezan DESIGN Estúdio Ludens
gava ainda um elemento de humor. Esse humor cínico, irônico e perspicaz deu o tom da visão de mundo rodriguiana. “Eu não seria nada se não fosse meu mau gosto”, dizia ele, numa espécie de explicação para não maquiar a realidade e a vida como ela é. Podemos estender esse mau gosto à própria vida, pois só uma existência de mau gosto traria tantas tragédias a esse homem e a essa família. Contudo, talvez a síntese possível da obra e da vida de Nelson Rodrigues seja o amor.
*É gestora cultural e gerente do Núcleo de Artes Cênicas do Itaú Cultural.
FICHA TÉCNICA DO JORNAL OCUPAÇÃO CONCEPÇÃO E COORDENAÇÃO EDITORIAL Núcleo de Comunicação COORDENAÇÃO DE CONTEÚDO Núcleo de Artes Cênicas e de Comunicação PROJETO EDITORIAL E EDIÇÃO Roberta Dezan PROJETO GRÁFICO E DESIGN Marina Chevrand PRODUÇÃO EDITORIAL Cybele Fernandes Melissa Contessoto REVISÃO Nelson Visconti Polyana Lima ASSISTÊNCIA ADMNISTRATIVA Gabriela Rassy
ITAÚ CULTURAL
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DE FILHA PARA PAI
PROFETA É AQUELE QUE ENXERGA O ÓBVIO Maria Lúcia Rodrigues*
Profeta é aquele que enxerga o óbvio, dis-
Escolhemos buscar suas origens, contar como era
O Recife era no início do século XX a ca-
cende Nelson, parece ter sido eminentemente
se muitas vezes Nelson Rodrigues. Atento obser-
a cidade em que nasceu e de onde vinha sua fa-
pital mais importante do Nordeste. O espírito ar-
urbana, com ocupações urbanas, aparentemen-
vador dos dramas humanos, intelectual outsider,
mília. E ainda trazer para a cena essa família Ro-
guto e irreverente da cidade produziu intelectu-
te sem vínculos, ou sem vínculos estreitos, com
artista inaugural. Gênio, capaz de revolucionar o
drigues na qual nasceu Nelson. Família de in-
ais como Gilberto Freyre, Manoel Bandeira e, entre
o mundo rural pernambucano. Na mesa dos
teatro brasileiro e todas as áreas da escrita em que
telectuais e artistas, dos que ficaram no Recife e
muitos outros, a família Rodrigues. Vivia-se uma
Rodrigues poderão ser encontrados depoimentos
se envolveu. Quais processos produziram esse
dos que mudaram para o Rio de Janeiro. Como
efervescência política e cultural que vinha desde
que dão conta dessa urbanidade e de certo cli-
gênio? Foram as muitas tragédias que sofreu? A
disse no texto da parede da exposição, eram esses
a colônia. Essa efervescência – não obstante o
ma que já anunciava nas gerações anteriores as
passagem pela reportagem policial quando
Rodrigues inundados de amor fraterno, sempre
poder e as lutas dos coronéis – certamente in-
tendências criativas que apareceriam mais mar-
muito jovem trabalhou no jornal de seu pai? Quem
juntos, sempre unidos, a base para suportar todas
fluenciava aqueles que viviam por sua conta,
cadamente nas gerações seguintes, em Nelson e
percorrer a exposição terá a oportunidade de encontrar outros ângulos desse personagem e ao final, quem sabe, responder a essas perguntas. A Ocupação Nelson Rodrigues optou por trazer as palavras do próprio Nelson, em suas memórias, buscando que ele desenrole o fio da meada, conte suas experiências, transmita suas opiniões sobre a vida que viveu e as escolhas que fez. Queremos que o próprio Nelson diga como era pequena, mesquinha e hipócrita a sociedade de seu tempo e como ele decidiu ser livre; e para ser livre e poder opinar com a sua consciência tinha de optar pela solidão intelectual. A curadoria estabeleceu alguns enquadramentos para as palavras do personagem.
as tragédias que viriam. Leito que permitiu a Nelson exercer seu gênio e sua disposição de menino a dizer quando o rei estava nu. Nelson nasceu no Recife, em 1912. Seu pai, Mário Leite Rodrigues, foi um jornalista combativo formado pela Escola de Direito do Recife – desde sua criação centro de debates ferrenhos sobre os caminhos para o futuro do país. Ali, discutia-se o “humano e o divino”; no século XIX já se pensava o Brasil. Mário era jornalista experiente quando chegou ao Rio de Janeiro. De 1900 a 1916 havia trabalhado em 13 veículos no Recife, tendo começado a militância muito cedo, aos 15 anos. Revolucionou a forma e o conteúdo do jornal O Recife quando foi seu chefe de redação.
como os Rodrigues. O registro de pessoas com o sobrenome Rodrigues em Pernambuco data do século XVII, talvez final do século XVI. São cristãos novos ou judeus não convertidos, empenhados em buscar uma nova vida no Novo Mundo, livre de perseguições. Encontrase no Arquivo Judaico de Pernambuco, no que fora a Sinagoga Kahal Zur Israel, uma placa com os nomes daqueles que solicitaram, em 1632, à Companhia das Índias Ocidentais autorização para viajar para o Recife. Ali constam oito sobrenomes Rodrigues. Antes, há o registro de um Francisco Rodrigues, cristão novo, mercador, que se casou com Gracia Dias, ela também cristã nova. Essa família Rodrigues, da qual des-
em seus irmãos ou nos primos, como Augusto Rodrigues, o pintor. Vale lembrar que o espírito dos Rodrigues se expande, de certa maneira. Na pesquisa realizada no Recife foi possível conhecer os Rodrigues por afinidade, o entrelaçamento de famílias pernambucanas, com maior ou menor parentesco, mas que formam um grupo de criadores culturais, pessoas que também exercem atividades intelectuais e artísticas. Aqui gostaria de citar Geninha da Rosa Borges, grande dama do teatro pernambucano; Reinaldo de Oliveira, fundador e diretor do Grupo Teatro de Amadores de Pernambuco; e Antonio Cadengue, diretor de teatro premiado e professor da UFPE, eles, como os Rodrigues consanguíneos, estão na exposição,
emprestando um pouco de seu talento e sensibilidade para falar de Nelson. *É jornalista, doutora em educação, pesquisadora e professora universitária.
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JORNAL OCUPAÇÃO
PAIXÃO NACIONAL
O MEDO DO BRASIL DIANTE DOS VIRA-LATAS Xico Sá*
Triste de quem vê apenas a bola em um jogo de futebol. Mais triste ainda de quem tenta ler o jogo apenas pelos desenhos táticos, as estratégias, (3x5x2), (3x4x3), os gols perdidos, os erros da arbitragem e todos esses traços objetivos que fazem das mesasredondas da televisão uma ladainha infernal de todos os domingos. O jornalista, escritor e dramaturgo pernambucano Nelson Rodrigues, quase cego para os movimentos da pelota, via no futebol uma forma de entender o senti-
mento de uma nação. Não que o jogo fosse uma mera desculpa para a escrita, afinal de contas testemunhava, mesmo em uma pelada de rua, um drama tão complexo quanto uma peça de William Shakespeare. O que representava o triunfo e a derrota em uma competição, porém, era muito mais significativo do que a simples narrativa do combate. Nesse aspecto, assim como o Fluminense, seu time do peito, servia para lastrear a sua loucura particularíssima pelo
esporte, a Seleção Brasileira simbolizava, com todas as hipérboles possíveis, a ideia de pátria, mais precisamente “a pátria em chuteiras”, uma das suas expressões mais famosas. É com esse olhar nada óbvio e ululante que o maior cronista de futebol do país, rumo à conquista da Copa de 1958, diagnosticou uma “doença” que nos atormentava desde a derrota inesquecível no Maracanã em 1950: o complexo de vira-latas – confira na crônica de sua auto-
ria na página ao lado. Entre centenas de textos espetaculares e lembrados a cada campeonato, a cada Copa do Mundo, a crônica do vira-latismo nos acompanha até hoje, quando nos preparamos para sediar o torneio mundial da Fifa de 2014. Até os locutores e jornalistas mais objetivos – chamados por Nelson de “os idiotas da objetividade” – resgatam o termo para descrever o atual estágio de desconfiança vivido pela Seleção Brasileira. O complexo de vira-latas extrapolou as quatro linhas do campo de jogo. Hoje o termo é aplicado às relações diplomáticas e à política externa do Brasil. No terreno das relações pessoais, como nos fracassos cantados de véspera, alguém sempre salta com esse diagnóstico. Eis a vingança do profeta. O que seria apenas uma crônica para ser consumida na correria da leitura de revistas e jornais, o que é bem próprio do gênero, ganha ares de tese de psicologia de massa ou sociologia. Sem data de validade, desmentindo o caráter perecível do ofício de um cronista de imprensa. Ao decifrar o sentimento de torcida
e de nação envolvida com o esporte, Nelson Rodrigues mudou não apenas o modo de escrever sobre futebol no Brasil como também o jeito de ver o drama dos nossos times e da nossa seleção. O doutor do complexo de vira-latas influencia até hoje quem se mete com o tema, incluindo humildemente este afilhado rodriguiano. Jamais veríamos um jogo sem levar para dentro dele as superstições, o misticismo, as mandingas e todos os mistérios que pertenciam à massa. Com a pena de N. R., no entanto, esses elementos ganharam uma dimensão mitológica. O Sobrenatural de Almeida, personagem que representa no nosso imaginário todo o imponderável de uma partida futebolística, está aí, vivíssimo, agora em carne e espírito, para afiançar a nossa tese. Quem primeiro chamou Pelé de “Rei” não foi nenhum idiota da objetividade. Destes que ficam entupindo o leitor ou o telespectador de números, destes que medem a eficiência de um boleiro pelo número de erros e acertos em campo. Coube a Nelson Rodrigues também essa façanha. Deu muito mais gra-
ças ao esporte com os seus apelidos. Assim, Didi, outro dos nossos grandes craques, passaria a história como o “Príncipe Etíope” etc. Livrai-nos, caro Nelson, à beira de mais uma Copa do Mundo, do complexo que, mesmo com seu fim decretado definitivamente na Copa de 1970, sempre teima em nos assombrar tanto quanto o subdesenvolvimento atávico. Suas palavras valem como uma oração no momento em que ainda não temos um time formado, apenas um ensaio raquítico, um garrancho de equipe, longe, muito longe, mesmo com os geniais Neymar e Ganso, do que poderíamos chamar de escrete canarinho. Oremos, com a sua crônica: “Eu vos digo: – o problema do escrete não é mais de futebol, nem de técnica, nem de tática. Absolutamente. É um problema de fé em si mesmo”. Amém!
*Escritor e jornalista, é colunista esportivo da Folha de S.Paulo e autor de Modos de Macho & Modinhas de Fêmea (Record, 2003), entre outros livros.
ITAÚ CULTURAL
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FUTEBOL
Índio San
Complexo de Vira-Latas Nelson Rodrigues
Hoje vou fazer do escrete o meu numeroso personagem da semana. Os jogadores já partiram e o Brasil vacila entre o pessimismo mais obtuso e a esperança mais frenética. Nas esquinas, nos botecos, por toda parte, há quem esbraveje: – “O Brasil não vai nem se classificar!”. E, aqui, eu pergunto: – não será esta atitude negativa o disfarce de um otimismo inconfesso e envergonhado? Eis a verdade, amigos: – desde 50 que o nosso futebol tem pudor de acreditar em si mesmo. A derrota frente aos uruguaios, na última batalha, ainda faz sofrer, na cara e na alma, qualquer brasileiro. Foi uma humilhação nacional que nada, absolutamente nada, pode curar. Dizem que tudo passa, mas eu vos digo: menos a dor-de-cotovelo que nos ficou dos 2 x 1. E custa crer que um escore tão pequeno possa causar uma dor tão grande. O tempo em vão sobre a derrota. Dir-se-ia que foi ontem, e não há oito anos, que, aos berros, Obdulio arrancou, de nós, o título. Eu disse “arrancou” como poderia dizer: – “extraiu” de nós o título como se fosse um dente. E, hoje, se negamos o escrete de 58, não tenhamos dúvidas: – é ainda a frustração de 50 que funciona. Gostaríamos talvez de acreditar na seleção. Mas o que
nos trava é o seguinte: – o pânico de uma nova e irremediável desilusão. E guardamos, para nós mesmos, qualquer esperança. Só imagino uma coisa: – se o Brasil vence na Suécia, e volta campeão do mundo! Ah, a fé que escondemos, a fé que negamos, rebentaria todas as comportas e 60 milhões de brasileiros iam acabar no hospício. Mas vejamos: – o escrete brasileiro tem, realmente, possibilidades concretas? Eu pode-
ria responder, simplesmente, “não”. Mas eis a verdade: – eu acredito no brasileiro, e pior do que isso: – sou de um patriotismo inatual e agressivo, digno de um granadeiro bigodudo. Tenho visto jogadores de outros países, inclusive os ex-fabulosos húngaros, que apanharam, aqui, do aspirante-enxertado Flamengo. Pois bem: – não vi ninguém que se comparasse aos nossos. Fala-se num Puskas. Eu contra-argumento com
um Ademir, um Didi, um Leônidas, um Jair, um Zizinho. A pura, a santa verdade é a seguinte: – qualquer jogador brasileiro, quando se desamarra de suas inibições e se põe em estado de graça, é algo de único em matéria de fantasia, de improvisação, de invenção. Em suma: – temos dons em excesso. E só uma coisa nos atrapalha e, por vezes, invalida as nossas qualidades. Quero aludir ao que eu pode-
ria chamar de “complexo de vira-latas”. Estou a imaginar o espanto do leitor: – “O que vem a ser isso?”. Eu explico. Por “complexo de vira-latas” entendo eu a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo. Isto em todos os setores e, sobretudo, no futebol. Dizer que nós nos julgamos “os maiores” é uma cínica inverdade. Em Wembley, por que perdemos? Porque,
diante do quadro inglês, louro e sardento, a equipe brasileira ganiu de humildade. Jamais foi tão evidente e, eu diria mesmo, espetacular o nosso vira-latismo. Na já citada vergonha de 50, éramos superiores aos adversários. Além disso, levávamos a vantagem do empate. Pois bem: – e perdemos da maneira mais abjeta. Por um motivo muito simples: – porque Obdulio nos tratou a pontapés, como se vira-latas fôssemos. Eu vos digo: – o problema do escrete não é mais de futebol, nem de técnica, nem de tática. Absolutamente. É um problema de fé em si mesmo. O brasileiro precisa se convencer de que não é um vira-latas e que tem futebol para dar e vender, lá na Suécia. Uma vez que se convença disso, ponham-no para correr em campo e ele precisará de dez para segurar, como o chinês da anedota. Insisto: – para o escrete, ser ou não ser vira-latas, eis a questão.
*Texto publicado na revista Manchete Esportiva, em 31 de maio de 1958, e republicado em À Sombra das Chuteiras Imortais – Crônicas de Futebol (organização de Ruy Castro para a Cia. das Letras, São Paulo, 1993, p. 51-52). Trata-se da última crônica antes da estreia do Brasil na Copa de 1958, primeira vencida pela Seleção Brasileira. Nelson mantinha, nessa publicação, uma coluna chamada Personagem da Semana, o que explica o começo do texto.
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JORNAL OCUPAÇÃO
O TEMPO E O ESPAÇO
DAS ÁGUAS DE PERNAMBUCO Valdy Lopes Jn*
ampla varanda de uma casa nordestina. Al-
guns pontos levantados também remetiam à minha infância e adolescência, passadas no Nordeste. A partir daí, comecei a entender como abordaríamos o tema e a enxergar um primeiro caminho para traduzir espacialmente, ou pelo menos tentar, a obra e a vida de Nelson Rodrigues. Estava claro que eu tinha um belo desafio pela frente. O pontapé inicial para entender de maneira mais profunda a obra do autor foi focar o olhar na solidez e na origem pernambucana da família Rodrigues. A presença do pai, Mário Rodrigues, grande jornalista e influência para os filhos, e a presença absoluta da mãe, Maria Esther Falcão Rodrigues. Não há como pensar a efervescência
cultural pernambucana e a vida dos Rodrigues no Recife sem refletir sobre a junção das águas que banham a capital. Pensar no encontro dos rios Capibaribe e Beberibe, que deságuam no mar e ligam o Recife e Olinda. Sempre penso que a diversidade e a intensidade cultural pernambucana estão presentes na confluência das diversas águas. O mar e a conjunção dos rios, águas que lambem a cidade, sobretudo o Recife Antigo, as mesmas águas do Cão sem Plumas, de João Cabral de Melo Neto, do rio que se abre em mangues. Águas que os Rodrigues enfrentaram ao deixar Pernambuco pelo mar, rumo ao Rio de Janeiro. Penso de novo na casa nordestina, agora no su-
búrbio carioca. Nelson em uma das confissões afirma que na vida carioca as coisas e as pessoas entram em foco. Firma o olhar na observação do cotidiano e dá vida aos seus personagens. Diversos vizinhos e suas histórias de amores doídos e alheios, mortes e tragédias. Outras tantas vizinhas curiosas e fofoqueiras. Conversas nas calçadas e na espera do bonde. Ainda menino descobre o sentido das palavras e se refugia no quintal de casa para, como diz em mais uma confissão, “tecer as fantasias”. Parece que correm letras no sangue dos Rodrigues e a facilidade para a articulação das ideias também faz parte da genética. D. Maria Esther cria os 13 filhos, e todos se desdobram em
letras, artes, crônicas, jornais, desenhos e palco. Uma das filhas, que completaria esses 14 irmãos, morre ainda menina – talvez a primeira tragédia marcante da vida de Nelson. A percepção do lado frágil da família, sobretudo do pai, que Nelson vê chorando pela primeira vez no velório da irmã. Sempre imaginei que na sala de jantar dessa enorme família, com D. Maria Esther como arrimo, se buscou a força para superar as tragédias particulares. Morte trágica de Roberto Rodrigues. Perda repentina do pai. A distância imposta dos jornais. Anos de fome. Em toda essa imersão na obra de Nelson Rodrigues o que mais me desperta é a condição de entender o humano. De repente
exacerbar suas vontades e intenções mais secretas, as menos reveladas, as menos aceitas por uma sociedade conservadora e hipócrita. A genialidade de Nelson incomoda e fascina, talvez pela capacidade de nos mostrar do que somos capazes.
*É diretor de arte e cenógrafo de cinema, teatro e exposição. Entre os seus trabalhos de maior destaque estão a direção de arte dos longas-metragens Linha de Passe (Walter Salles e Daniel Thomas, 2008), Insolação (Daniela Thomas e Felipe Hirsch, 2009) e O Contador de Histórias (Luiz Villaça, 2009) e a museografia das exposições Primeira Pessoa (2006) e Sob o Peso dos Meus Amores (2011), ambas realizadas no Itaú Cultural, em São Paulo.
Rascunho de Valdy Lopes Jn
A obra de Nelson Rodrigues sempre chegou a mim através de alguns textos de teatro das muitas montagens vistas. O convite para pensar a cenografia da Ocupação Nelson Rodrigues me fez parar e me aproximar com mais intensidade da extensa produção do autor, deparar com novas questões, sobretudo através da leitura das diversas confissões dele próprio, registradas em livros de memória. Esse mergulho mais profundo no universo rodriguiano começou numa conversa com a curadora Maria Lúcia Rodrigues. Nosso primeiro encontro sobre o tema, em pleno coração de São Paulo, na Avenida Paulista, parecia acontecer na
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O CONSULTÓRIO SENTIMENTAL
O HOMEM BRILHA P E L A AUSÊNCIA Creio que, das cartas que tenho recebido, a de Jandira é uma das mais interessantes. Ela explica, às primeiras palavras, a natureza do seu drama: “Acontece comigo uma coisa interessante. Brigo muito com Adalberto. E só acho, verdadeiramente, graça nele na ausência”. Aparentemente, o caso de Jandira é extraordinário. Uma mulher que prefere o bem amado longe! Uma mulher que não deseja vê-lo! E, no entanto, este é um caso bastante comum. Direi mais – a maioria das mulheres acha mais encanto na ausência que na presença de seu namorado, noivo ou esposo. Absurdo? Paradoxo? Não, nada disso. Pura e simples evidência de todos os dias. E o fenômeno me parece lógico e natural. Senão, vejamos. Nós sabemos que todos os homens amam. Portanto, milhões e milhões de homens. Dentro dessa quantidade tremenda – quantos homens cultos, inteligentes, interessantes? Uma minoria ínfima, irrisó-
tivo muito simples: é que ele se tornaria raro, excepcional, ultra cotado. Mas, por enquanto, o que existe, multiplicado por não sei quanto, é o namorado ou noivo ou esposo desinteressante. Chegamos, então, a um ponto crucial: que deve fazer a mulher de um cidadão nessas condições? Antes de mais nada, não nos cabe nem mesmo o direito de desejar que o chamado homem desinteressante desapareça. Porque assistiríamos a um espetáculo tenebroso, ou seja: o súbito despovoamento do mundo. Logo, ele deve sobreviver. E as mulheres são obrigadas a apelar para esse tipo de homem, porque o outro quase não existe. Conheço mulheres que nascem, criam-se, envelhecem e morrem, sem, jamais, terem visto um individuo que, do ponto de vista amoroso, seja ótimo. Muito bem. Digamos que eu me apaixone por um cidadão assim. Não posso achar a mínima graça na
meu amado não me empolga, nem nada, apelo para a sua ausência. Recurso infalível! Sob a sua presença, eu o vejo como ele é, na realidade. Quero dizer, limitado, sem espírito, sem inteligência e, às vezes, feíssimo. Já na ausência, tudo muda. Vejo-o não como ele é, mas como eu o quero, pois o que funciona é a milha livre e criadora imaginação. Componho, para mim mesma, para meu regalo especial, a imagem de um homem fabuloso, que nada tem haver com o meu amado; ou por outra, é o meu amado, mas exaltado, transfigurado, super aperfeiçoado. Eis por quê, na maioria dos casos, os homens ganham tanto com a ausência. O caso de Jandira pode se enquadrar perfeitamente nesses termos. Ela gosta de um homem que, de corpo presente, não a consegue impressionar, não consegue lhe transmitir nenhuma sensação de deslumbramento. Já que ela
ria. No caso da população brasileira, por exemplo. Digamos que tenhamos, no Brasil, vinte milhões de homens. Seria pedir muito querer vinte milhões de galãs de fitas de cinema. Impossível, absolutamente impossível. Se todo mundo fosse interessante, haveria uma valorização súbita e irresistível do homem desinteressante. E, por um mo-
sua presença, porque ele é desinteressante. Tenho dois caminhos: ou deixar as coisas como estão, ou romper com ele. Mas romper não resolve nada. Porque deixo um cidadão sem encanto, e vou achar outro, nas mesmas condições (salvo a hipótese, improvável, de uma descoberta sensacional). Que faço eu? Se a presença do
não deseja acabar com o romance, deve ver o menos possível o seu namorado e procurar valorizá-lo, durante a ausência. É a única solução para o caso.
*Texto publicado no livro Não se Pode Amar e Ser Feliz ao Mesmo Tempo – o Consultório Sentimental de Nelson Rodrigues (Companhia das Letras, 2002).
Índio San
Nelson Rodrigues
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JORNAL OCUPAÇÃO
A VIDA COMO ELA É...
Angela Leite Lopes*
Durante a década de 1950, o leitor do jornal A Última Hora aguardava ansiosamente pelo adultério do dia na coluna de Nelson Rodrigues intitulada A Vida como Ela É...”. Eram contos que retratavam alguma situação de amor proibido com desfechos os mais improváveis. Essa parte da obra do autor muito contribuiu para a figura polêmica que ele se esmerou em construir e que resumiu na autoapelação de “anjo pornográfico”. A leitura desses textos, hoje, nos permite redescobrir alguns aspectos fundamentais da escrita de Nelson Rodrigues que esmaecem diante da força de sua temática e do seu próprio mito. Um desses aspectos é o fato de Nelson Rodrigues saber exatamente o que significa escrever para cada gênero, seja teatro, seja romance, folhetim ou crônica de futebol. Em todos eles é obviamente possível reconhecer o estilo do autor, mas talhado segundo a especificidade de cada um. Nos folhetins, há as repetições e os suspenses a cada final de capítulo, que levam o leitor a praticamente devorar o volume. Nas crônicas, as bem-humoradas relações e comparações entre, por exemplo, uma partida de futebol e o destino da humanidade. Já nos contos e nos romances, há algo que remete à contundente definição de trágico que Nelson Rodrigues propõe no programa de estreia de sua peça Senhora dos Afo-
gados, dirigida por Bibi Ferreira, em 1954: “O que caracteriza uma peça trágica é o poder de criar a vida e não imitá-la. Isso a que se chama ‘vida’ é o que se representa no palco, e não o que vivemos cá fora”. Ou seja, a ficção não retrata uma realidade que lhe é externa. Pela criação, pela operação da linguagem, ela é que é a própria vida. A partir daí, podemos nos deliciar com todas as paixões da carne e da alma que Nelson Rodrigues procurou repertoriar em cada um dos gêneros pelos quais enveredou. No caso dos contos, trata-se da vida como ela é não forçosamente porque tal ou qual situação aconteceu ou poderia ter acontecido com seu vizinho, sua prima, um de seus cunhados... Mas, sim, porque todos nós somos afeitos a essas possibilidades de intrigas e fabulações e, a partir delas, construímos sentidos outros para nossas meras existências. Por isso, os sentimentos narrados são sempre extremos e as situações transgressoras. Como exemplo, vou citar dois contos que colocam a situação do adultério em perspectivas antagônicas. O primeiro, “O Canalha”, começa assim: “Quando soube que a noiva tinha viajado de lotação com o Dudu, sentada no mesmo banco, pôs as mãos na cabeça”. E deu a seguinte explicação: “Porque o Dudu é um cínico, um crápula, um canalha abjeto. Um sujeito que não respeita nem poste e que é capaz até de dar em cima de uma cunhada. O
simples cumprimento de Dudu basta para contaminar uma mulher. Percebeste?”. Dividido em cinco partes – Obsessão, A Festa, O Medo, Ódio e As Bodas –, o conto narra a maneira como Lima acaba precipitando Cleonice numa traição inexorável. De tanto louvar as virtudes safadas do sujeito que lhe roubara todas as pequenas, menos aquela, ele acaba despertando a paixão da noiva por Dudu. Paixão que ela lhe revela assim que se encontram a sós na noite de núpcias. “Falaste tanto e tão mal do Dudu que eu me apaixonei por ele. Eu não trairei o homem que eu amo nem com o meu marido.” O segundo, “A Dama do Lotação”, é mais conhecido por sua versão cinematográfica. Dividido em quatro partes – A Suspeita, A Certeza, A Dama do Lotação e O Defunto –, esse conto já se inicia com a descoberta feita por Carlinhos de que sua mulher, Solange, o traía. “Entretanto, a certeza de Carlinhos já não dependia de fatos objetivos. Instalara-se nele. Vira o quê? Talvez muito pouco; ou seja, uma posse recíproca de pés, debaixo da mesa. Ninguém trai com os pés, evidentemente. Mas de qualquer maneira ele estava ‘certo’. Três dias depois, há o encontro acidental com o Assunção, na cidade. O amigo anuncia, alegremente: – Ontem viajei no lotação com tua mulher.” A partir daí, a narrativa se precipita. Ao voltar para casa, Carli-
Nelson Rodrigues autografa os livros Senhora dos Afogados e A Falecida | foto: autoria desconhecida | acervo de família
NELSON RODRIGUES E O DESEJO NOSSO DE CADA DIA
nhos pressiona a mulher e obtém dela a confissão. Mas não é com Assunção que ela tem um caso. Ou não é só com ele. Toda tarde, na mesma hora, ela senta-se ao lado de algum cavalheiro no lotação e com ele salta. Diante de tremendo choque, Carlinhos, que cogitara matar Solange, declara: “Morri para o mundo”. Entrou no quarto, deitou-se na cama e ali permaneceu, dia e noite. A mulher o acompanhou, “numa contemplação maravilhada”. E, a partir daí, passou o tempo todo no quarto, só saindo “à tarde, para sua escapada delirante, de lotação. Regressou horas depois. Retomou o rosário, sentou-se e continuou o velório do marido vivo”. Nesses dois contos, como em toda a obra de Nelson Rodrigues, o
que chama a atenção são a economia e a precisão dos seus diálogos e descrições. Mas há os detalhes sutis que vão conferindo sabor especial à narrativa, como a referência ao lotação como lugar por excelência da sedução em meio à trivialidade do cotidiano. A simples menção a uma viagem lado a lado já é capaz de despertar as mais recônditas fantasias. E a visão do casamento como algo que não atende aos anseios mais profundos de realização dos desejos, nem dos homens nem das mulheres em questão. Em “O Canalha”, o adultério é apresentado de maneira invertida, o matrimônio passando a ser o lugar da traição. Em “A Dama do Lotação”, o que interessa é o insólito da situação: a fidelidade ao casamento é preservada a partir do
ritual estabelecido por Solange de passar toda tarde no lotação e o resto do tempo velando o marido vivo. Afinal, a ânsia de realização e plenitude pode levar ao rompimento de barreiras e convenções, mesmo na vida dos indivíduos aparentemente mais inexpressivos. Pois como cantou Caetano Veloso na trilha sonora do filme A Dama do Lotação, de Neville de Almeida: “A gente não sabe o lugar certo de colocar o desejo”. Mas teima em procurar...
*Professora da Escola de Belas Artes da UFRJ, autora do livro Nelson Rodrigues, Trágico, Então Moderno (Nova Fronteira, 2007) e tradutora da obra de Nelson Rodrigues para o francês.
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História em quadrinhos inspirada livremente no conto “O Escravo Etíope”, de A Vida como Ela É..., de Nelson Rodrigues (Nova Fronteira, 2011)
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JORNAL OCUPAÇÃO
Nelson Rodrigues, 1979 | foto: Silvestre Silva
MEMÓRIAS
FALA, Nelson ORA, MEU PAI É, NA MINHA VIDA, UMA FIGURA OBSESSIVA. EU NÃO SERIA O QUE SOU, NÃO TERIA ESCRITO UMA FRASE, UMA LINHA, UMA PEÇA, SE NÃO FOSSE SEU FILHO. MEU PAI EMBARCOU PARA O RIO EM 1915 (JORNALISTA DE COMBATE, COM TREMENDO POTENCIAL DE IRA, ELE SEMPRE IMAGINOU QUE IA MORRER ASSASSINADO). PERNAMBUCO TORNARA-SE PEQUENO DEMAIS PARA SUA AMBIÇÃO JORNALÍSTICA.
tração. Primeiro, foi ameaçado. A política pernambucana ainda se nutria de ódios Shakesperianos. Dias depois, começo a trabalhar no jornal do meu pai. Se bem me lembro, foi meu irmão Milton que me mandou para a reportagem policial. A Manhã saíra da Rua Treze de Maio, passara para a avenida, em frente à Galeria Cruzeiro. Ainda me vejo, na redação, com os meus treze anos, nome na folha e ordenado de trezentos mil-réis, escrevendo a minha primeira nota. Não vou esquecer nunca: – era uma notícia de atropela-
Mesmo escrevendo sobre um cano furado, tinha, sim, as iras de um Zola. Dizia horrores de Sérgio Loreto e de sua adminis-
mento. Um rapaz, ao atravessar a Rua São Francisco Xavier, fora apanhado por um automóvel.
O fulano não voltou. Quem apareceu foi Souza Filho, esse, sim, amigo de meu pai. Fechou o negócio. E meu pai recebia, em seguida, o dinheiro. Não precisaria escrever nada a favor; apenas não seria contra. E, com efeito, não houve na época, um silêncio tão bem remunerado. No dia seguinte, A Manhã abre, em festa, as suas manchetes, contando todo o processo de suborno; e, ainda, nos cabeçalhos garrafais, meu pai anunciava que ia distribuir o dinheiro, até
o último tostão, entre os pobres do Rio de Janeiro. Daí o pátio dos milagres que, em 1925, assombrou o menino Carlos Lacerda.
DEPOIS DA REVOLUÇÃO DE 30, E ATÉ 35, EU E TODA MINHA FAMÍLIA CONHECEMOS UMA MISÉRIA QUE SÓ TEM EQUIVALENTE NOS RETIRANTES DE PORTINARI. NINGUÉM QUERIA EMPREGAR OS FILHOS DE MÁRIO RODRIGUES. EM VIDA DE MEU PAI E ENQUANTO CIRCULOU A CRÍTICA, TÍNHAMOS AMIGOS
POR TODA PARTE. EU ERA TRATADO, DESDE OS 13 ANOS, COMO UM PEQUENO GÊNIO. MAS MORTO MÁRIO RODRIGUES E MORTA A CRÍTICA, OS RAPAPÉS SUMIRAM ATÉ O ÚLTIMO VESTÍGIO.
E nem imaginávamos que Euricles de Mattos teria de morrer para que um de nós (Mário) entrasse no O Globo. Mas eis o que queria dizer: – foi a fome mais desfibrada que se possa imaginar. Eis a verdade: – a fome varre, a fome raspa qualquer sentimento forte. O ódio exige boa alimentação, e
repito: – para odiar o sujeito precisa de um sanduíche, pelo menos, um sanduíche.
A rigor, eu, menino de 13 anos, não discriminava o reles atropelamento e a grande hierática tragédia passional. Tudo me chispava; e era como se, naqueles dias, eu estivesse descobrindo o ser humano. Havia, porém, um acontecimento policial que me fascinava mais que os outros: – o pacto de morte. [Trechos extraídos da publicação A Menina sem Estrelas (Companhia das Letras, 1999)]
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TEATRO
DOROTÉIA E UMA ENCENAÇÃO EM DEVIR Antonio Edson Cadengue*
vibração poética, na coreografia única de Zbigniew Ziembinski, o diretor que revelou Nelson em Vestido de Noiva, em 1943”. Anos depois dessa montagem, Dorotéia foi levada à cena, em 1968, por Heleny Guariba (assassinada pelas forças repressivas, à época da ditadura militar), pelos alunos da Escola de Arte Dramática de São Paulo. Segundo Sábato Magaldi, “Sua Dorotéia era admirável”. Mesmo assim, conclui que “nenhuma encenação deu, até hoje, a real medida da primeira ‘farsa irresponsável’ do dramaturgo”. Uma pergunta que inquieta: o porquê de sua
forma trágica nem na forma cômica. Para esse encenador, devem-se evitar as duas alternativas sob o risco do fracasso. Ou melhor, o refinamento dramático do escritor amalgamou coisas que ninguém observava, ou que simplesmente eram vistas como coisas separadas. Por essa razão, constata: “Através de seus personagens vemos somente como suas próprias naturezas podem ser documentos horríveis ou revelações secretas”. Escrita em 1947, Dorotéia teve sua estreia em 7 de março de 1950, no Rio de Janeiro. O tom solene que nela imprimiu Ziembinski, seu primeiro encenador, desapontou a crítica carioca. No entanto, o então jovem Paulo Francis, que assistiu a praticamente todas as récitas, relembra anos depois: “Dorotéia foi fechada pelos críticos de teatro do Rio. Era um espetáculo empolgante, de rara
não “aceitação” como obra de arte. Quem tenta responder, inicialmente, é Ziembinski, com um depoimento, talvez elucidativo, sobre a ojeriza da crítica e do público ao seu espetáculo. Diz ele: “Quem conhece Dorotéia sabe que obrigar o público do Rio de Janeiro a engolir Dorotéia, em 1950, era dose para cavalo. Porque eles não tinham possibilidade”. No entanto, Angela Leite Lopes, ao falar sobre seu trabalho de divulgação e tradução da obra de Nelson Rodrigues, na França, relata um fato curioso e semelhante ao vivido por Ziembinski: o diretor Alain Olivier (1938-2010), que realizou várias montagens de Nelson Rodrigues (Valsa Nº 6, Anjo Negro e Toda Nudez Será Castigada), despertou para nosso autor a partir da leitura de Dorotéia, traduzida por ela. Segundo a tradutora, Olivier “tinha planos de encenar Dorotéia, mas acha-
va que o contexto teatral francês não estava preparado para a radicalidade dessa obra (aliás, qual está?)”. Esta pergunta – qual contexto está preparado para receber adequadamente Dorotéia? – nos persegue. Nossa resposta é a digressão de um espetáculo em devir. Em Dorotéia, estamos em uma casa repleta de salas, sem quartos (para que não se possa dormir nem sonhar): “conservam-se em obstinada vigília, através dos anos”, e sabem que, “no sonho, rompem volúpias secretas e abomináveis”. Nessa casa, habitam três primas, viúvas: D. Flávia, Carmelita e Maura. Também a filha natimorta de D. Flávia, Maria das Dores, ou simplesmente Das Dores. Há ainda a personagem de D. Assunta da Abadia, que traz seu filho Eusébio da Abadia para casar-se com Das Dores. Mas Eusébio é apenas um par de botinas. E há leques multicoloridos a ressoar o dito e o não dito pelas personagens. Leques multicoloridos a contrastar com a sisudez dessas mulheres que se vestem de luto, “num vestido castíssimo, que esconde qualquer curva feminina”. Porém, Dorotéia veste-se de vermelho, “como as profissionais do amor, no princípio do século”. Ela vem à casa das primas, movida pelo desejo de transformar-se numa mulher aceita pela família. Antes, prostituta, linda e desejada pelos homens, teve um filho que morreu e que a personagem vai revelando aos poucos, premida pelas circunstâncias. D. Flá-
via, que conduz com mão de ferro o lar, manipula todas e tem agora Dorotéia em suas mãos. O grande problema que se coloca nessa família mononuclear é que nela não há homens. O que vem a aparecer é um par de botinas. O outro é apenas um fantasma, Nepomuceno, que fornece chagas. Esse dado é relevante porque remonta ao fato de a bisavó da linhagem ter se apaixonado por um homem e casado com outro. Foi quando se deu “a náusea”: o defeito de visão que as impede de ver homens, uma maldição que vai passando de uma geração a outra. Aqui, neste lugar, as mulheres estão proibidas de amar
a si mesmas ou a qualquer homem. É desse passado que se alimenta o presente cênico. Numa encenação em devir, essa casa-personagem se entrelaça a um “reino dos mortos”, materializada em um Instituto de Medicina Legal, lugar onde os mortos, guardados em gavetões, apodrecem juntos às duas personagens que encerram a peça. A náusea que acomete todas as mulheres da família não afeta Das Dores, assim como não afetou Dorotéia. No entanto, Das Dores, ao se encantar pelo noivo, toma conhecimento de que não passa de uma natimorta. Impossibilitada de viver plenamente seu desejo, ela prefere vol-
tar ao útero da mãe para poder nascer mulher. Ao final, essas vidas pungentes e abissais, entre o grotesco e o sublime, vão se mascarando em vez de se desmascarar. Tudo pela tradição, pelo conservadorismo que apodrece a olhos nus. As chagas chegam, finalmente, ao corpo de Dorotéia, e D. Flávia, novamente grávida, à sua revelia, triunfa sobre os cadáveres dos quais se faz guardiã. Como nascerá vida desse útero?
*Professor, encenador e diretor artístico da Companhia Teatro de Seraphim, sediada no Recife, para a qual dirigiu Senhora dos Afogados, de Nelson Rodrigues, em 1993.
Índio San
Nelson Rodrigues classificou Dorotéia como “farsa irresponsável em três atos”. De imediato, a questão dos gêneros se põe para qualquer exegese que se faça à peça. “Farsa ou tragédia?”, perguntamo-nos todos. Mas quais os limites de uma e as fronteiras de outra no teatro? Essa se torna uma das tantas questões que não somente essa peça como a obra dramática de Nelson Rodrigues nos colocam, ainda hoje em pleno século XXI (ou seria para toda a arte contemporânea?). Como nos alerta Gerald Thomas, as montagens de Nelson Rodrigues não devem ir a fundo na
Ilustração O Filho do Amor, de Roberto Rodrigues | acervo de família
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PELO BURACO DA FECHADURA
A visão do menino
Ilustração Decadencia, de Roberto Rodrigues | acervo de família
Marco Antônio Braz*
Uma das definições sobre Nelson Rodrigues que mais lhe agradavam foi dada pela escritora Clarice Lispector logo após assistir à peça Bonitinha, mas Ordinária: “Nelson, você é um menino que vê o mundo pelo buraco da fechadura e se espanta!”, disse ela. O título da crônica rodriguiana que narra o encontro com a magistral escritora é: “Os que Jamais Foram Meninos”. A ideia de um Nelson eternamente menino é cultivada
pelo próprio autor em suas memórias, nas quais recorda ter nascido em uma escola da Tijuca aos 8 anos de idade. Era um concurso de redação de tema livre e Nelson escreveu ali sua primeira história aos moldes de “A Vida como Ela É...”, contando um adultério ocorrido na vizinhança. Segundo nosso “bardo dos subúrbios”, a redação se encerrava assim: “Terminou de matá-la a pontapés”. Essa frase
seria repetida em outros tantos contos futuros. Infelizmente a redação que comprovaria o fato não existe mais, mas se os fatos não correspondem à profecia pior para os fatos! Se Nelson estava mitificando sua origem literária, a imagem é perfeita para traduzir que a morte é anterior a si mesma, porque tudo possui um sentido que nos escapa. E o menino, com seu espanto e inocência, coloca alma sobre os objetos que seu
dedo aponta. Há terror e piedade de sobra nesse olhar e foi com ele que Nelson construiu toda uma vasta obra, plena de mitos, arquétipos, tipos e caricaturas. Construiu um verdadeiro panteão de máscaras trágicas e cômicas. E tudo isso tendo como horizonte o subúrbio que seus olhos alcançavam. A aldeia como metáfora do mundo. A humanidade e suas complexas paixões resumidas aos personagens vizinhos de quarteirões, bairros e cidades. Uma forma de emprestar grande-
bum mítico rodriguiano. O futebol brasileiro não teria um rei não fosse a visão mítica de Nelson, que enxergou um Rei Etíope em campo, o Rei Pelé. Foi essa percepção que o levou do futebol para a compreensão de um país com complexo de vira-latas. No Olimpo das criações rodriguianas todos os mitos possuem odisseias que os justificam, como o Sobrenatural de Almeida, figura ancestral e eterna, que atravessa a história da humanidade entre altos e baixos para
mundial pode salvar o casamento de Otacílio e Odete, porque é impossível trair o verdadeiro amor. É por isso que quando o Fluminense ganhava a noite do ceguinho tricolor se enchia de estrelas. Pois o hoje “bardo dos subúrbios”, o menino Nelson Rodrigues, nos deixou uma reflexão profunda sobre o homem, o amor e a morte. É curioso que aquele que pediu aos jovens para envelhecerem chegue ao centenário como o menino de 8 anos que escreveu sua primeira “A Vida como Ela É...”
za ao quadro da vida, mesmo que trágica. Uma forma de rir de nossas falhas ao tentar fugir do destino. Com sorte o sujeito atravessa o mundo, sem sorte não atravessa a rua. Em seu teatro, crônicas, contos e romances passeamos por uma “divina comédia” humana suburbana. De um subúrbio de qualquer lugar, de um subúrbio psicanalítico. Algo entre o pesadelo e o sonho. A Dama do Lotação, Geni, Zulmira, Madame Clessi, Seu Noronha, Tio Raul, Boca de Ouro, a freira de minissaia, o padre de passeata, a grã-fina com narinas de cadáver, o ceguinho tricolor, Mata-Hari e até Otto Lara Resende são alguns espíritos retratados nesse ál-
terminar na zona norte do Rio de Janeiro. Transcrevo trecho da crônica que narra a gênese do personagem: “Hoje, o Sobrenatural mora num quarto infecto, em Irajá. E pior: – todas as manhãs, ao acordar, tem de entrar na fila do banheiro coletivo. Daí o seu horror aos homens e aos clubes. Seu campo de ação está limitado ao futebol. Podia gostar de um clube. Não. Quer ver a caveira de todos”. Assim Nelson se contrapõe aos idiotas da objetividade e, com humor, salvaguarda algum mistério ao futebol. É a visão do menino ante os que jamais foram meninos. O olhar que percebe que a grande alegria do tricampeonato
na Escola Prudente de Moraes, na Tijuca. É o eterno menino a nos surpreender com sua visão sobre a vida. Nelson Rodrigues morreu em 1980, mas em 2012 sua obra está mais viva do que nunca.
*Professor e pesquisador de teatro. Formado em artes cênicas pela Unirio, é conhecido pelo resgate da dramaturgia brasileira moderna por meio de encenações pouco ortodoxas e bem-humoradas. Dedica-se ao teatro desde os 15 anos e é responsável, com Antunes Filho, pela fundação do grupo Círculo dos Comediantes – especializado na encenação da obra dramatúrgica de Nelson Rodrigues.
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VIDA, OBRA E AMORES 1912 Nasce no Recife Nelson Falcão Rodrigues, em 23 de agosto, quinto filho de Mário Rodrigues e Maria Esther
1916 A família Rodrigues muda-se para o Rio de Janeiro
1934 1930 Morre Mário Rodrigues Com os irmãos Mário Filho e Joffre, Nelson começa a trabalhar em O Globo
1942
Nelson sofre a primeira de muitas crises de tuberculose. Passa 14 meses em Campos do Jordão para se recuperar
1927 Nelson começa a trabalhar como repórter policial em A Manhã A família muda-se para a Rua Raul Pompeia, em Copacabana
1937 Morre Joffre Rodrigues, irmão de Nelson
Conhece o jornalista e escritor Otto Lara Resende
Roberto Rodrigues, irmão de Nelson, é assassinado na redação de Crítica
1940 É celebrado o casamento de Nelson e Elza
1943
Zbigniew Ziembinski encena Vestido de Noiva
1944 Publica em O Jornal, com pseudônimo Suzana Flag, Meu Destino É Pecar, em capítulos
1950 1951 Trabalha como dialoguista no roteiro de Somos Dois, filme de seu irmão Milton Rodrigues
1946 A peça Álbum de Família é censurada
Estreia Mulher sem Pecado
1948
1929
Começa a publicar “A Vida como Ela É...” em Última Hora
1953 Conhece o psicanalista e escritor Hélio Pellegrino
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1957
A família de Paulo Rodrigues, irmão de Nelson, morre no desabamento de um prédio em Laranjeiras (RJ)
1960
1961
1963 Nasce Daniela Rodrigues, a “menina sem estrela”, filha de Nelson e Lúcia Cruz Lima Escreve a novela A Morta sem Espelho, dirigida por Sérgio Britto, para a TV Rio
É publicada, em dois volumes, a seleção dos cem melhores contos de “A Vida como Ela É...”
Estreia Boca de Ouro
1965 Estreia Toda Nudez Será Castigada A Falecida é adaptada para o cinema por Leon Hirszman
1972 Nelson Rodrigues Filho é preso por seu envolvimento com a oposição armada ao governo militar
1966
É lançado o romance O Casamento, cuja circulação logo é proibida pela censura
1973 Arnaldo Jabor adapta Toda Nudez Será Castigada para o cinema É encenada a peça Anti-Nelson Rodrigues Morre Maria Esther
1980
Em 21 de dezembro morre Nelson Rodrigues
1981
Sábato Magaldi reúne e organiza em quatro volumes o teatro completo de Nelson Rodrigues
1967
Inicia as crônicas das “Memórias” no Correio da Manhã. Na redação do jornal, conhece o jornalista, crítico de cinema e poeta José Lino Grünewald Liberação de O Casamento
1968
1974 É publicada Elas Gostam de Apanhar, segunda seleção de Nelson Rodrigues para os contos de “A Vida como Ela É...”
Reunião de suas “Confissões” no livro O Óbvio Ululante
1978 Estreia sua última peça, A Serpente