CADERNO DE ATIVIDADES
CADERNO DE ATIVIDADES
Caro professor, A mostra Oscar Niemeyer: clássicos e inéditos apresenta o processo de criação do arquiteto Oscar Niemeyer, referência na arquitetura com projetos e construções de edifícios públicos e privados. Arquiteto comprometido com o social, em suas obras é possível notar a preocupação em devolver para a cidade, e para as pessoas, espaços de convivência. Nosso objetivo é propor atividades adaptáveis a diferentes perfis de alunos utilizando os materiais disponíveis na escola, ou de fácil acesso, levantando reflexões sobre produções artísticas que estejam relacionadas ao tema da mostra. Em nosso Caderno de Conceitos você encontrará discussões sobre arquitetura, referências, glossário e um pouco da obra de Oscar Niemeyer. Além desse material, você pode consultar o site da Fundação Oscar Niemeyer [http://www.niemeyer.org.br]. Com o tema da arquitetura, alguns fotógrafos se valeram de proposições arquitetônicas para evidenciar as formas e os ritmos em suas séries fotográficas dos anos 1950. Você pode saber um pouco mais sobre isso no caderno da mostra Moderna para Sempre. Lembramos que as vivências e as experiências do professor são essenciais para estimular o envolvimento dos alunos nas propostas! Por meio do Blog do Professor, compartilhe e divida conosco os desdobramentos destas propostas e de outras criadas por você. Boa aula!
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Como é a casa em que você mora?
CASA DE CAIXA
Ela passou por reforma alguma vez? Essa reforma foi para mudar a parte interna ou externa? No caso de ter sido a parte externa, o que mudou? Os muros? O portão? A varanda? O quintal ou o jardim? Construíram uma garagem? Se for a parte interna, mudou por quê? Ficou pequena? Faltava algum espaço? Havia espaços que puderam ser mais bem aproveitados? Levantaram mais um andar? Antes de construir uma casa, arquitetos imaginam e desenham, ou seja, projetam. Mas não podem fazer simplesmente o que lhes vem à cabeça, ou à cabeça de quem lhes pediu o empreendimento. Para construir uma casa, por exemplo, são necessárias cinco etapas. O projeto realizado por um arquiteto, antes de tudo, tem de passar pela aprovação de seu cliente. »» A primeira coisa é saber o que o cliente deseja em sua casa e, em seguida, visitar o terreno para ver se é viável ou não. »» Analisar o desejo do cliente e comparar com a viabilidade do terreno e, em seguida, desenhar a casa junto com o cliente. »» Depois do desenho pronto, elaborar cada sala, ou andar, dependendo da casa, com as informações de cada ambiente, além dos cálculos e das instalações gerais. »» Para que a casa possa ser construída, é feito então um desenho com a estrutura da construção, baseado em normas legais e que precisa ser aprovado pela prefeitura. »» Por fim, é preciso incluir no projeto os sistemas elétrico, de encanamento e telefônico, entre outros. Depois disso, a construção pode ser iniciada. Antes de ser feita uma reforma, o projeto também passa por esses processos, além da criação prévia de tudo isso.
A casa onde você mora foi projetada por um arquiteto ou foi alguém de sua família que construiu? Como é o entorno? As ruas são planas e arborizadas? É cheio de subidas e descidas, com poucas árvores? O comércio é variado? Todas essas características de seu bairro são iguais em bairros próximos? Para conversar sobre essas questões, você pode pedir aos alunos que tragam fotos das casas, de antes e de agora. Converse sobre o que gostam ou não, sobre o que mudariam e o porquê. Essas respostas servirão de base para a atividade.
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Usando apenas uma caixa de fósforos, peça que construam uma casa. Neste momento, pensaremos somente no exterior, faremos a parte externa. Deixe livre o modo de usá-la, deitada, em pé, como preferirem.
Depois converse sobre o que, possivelmente, se repetirá. Levando em consideração a proporção dessa habitação, você pode conversar com a turma sobre quais espaços existem dentro dessa casa, quantas pessoas podem morar nela, se é pequena ou grande.
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Em qual parte da cidade poderiam ser construídas essas casas? Combinam com o tempo em que vivemos?
Observe com os alunos as proporções dessas casas; por exemplo, se um prédio é do tamanho de uma casa ou se uma casa é maior que um prédio. Ou, até mesmo, a relação de proporção da própria casa, janela e porta e dos possíveis cômodos. Ainda nesse tema, pode ser interessante conversar sobre o tamanho das casas em relação ao dos apartamentos.
Será que todos os apartamentos são, realmente, menores que as casas?
Realizada essa etapa, é hora de fazer outras explorações, agora com mais caixas de fósforos. Você pode limitar o número de caixas a quatro ou deixar em aberto, contanto que o mínimo seja duas caixas. Você também pode pedir que usem objetos que coletarem, seja para fazer a estrutura da casa, seja para o jardim, o quintal e até mesmo o entorno.
Lembre-se: cada um terá de construir sua casa. E pense na proporção das construções, já discutida anteriormente, a fim de que uma casa não seja maior que um edifício.
Com essas casas construídas, é hora de pensar e detalhar o interior, desenhar a planta, apontando onde seriam os cômodos − quarto, cozinha, banheiro, sala. Se a casa tiver mais de um andar, o que geralmente é conhecido como sobrado, será preciso desenhar os dois pisos. No caso de um prédio, se todos os pisos forem iguais, pensar como será o térreo e se haverá estacionamento subterrâneo.
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Aqui você pode retomar a discussão inicial sobre as mudanças que aconteceram nas casas dos alunos ou sobre o que eles gostariam que mudasse.
Essa casa poderia ser usada também como comércio? Só uma parte ou toda ela? E mais: será que, por sua localização, poderia funcionar ali um comércio? Com essas casas já construídas, e as plantas desenhadas, você pode fazer uma exposição na escola com elas junto a seus projetos. Nessa proposta, você pode conversar e pedir a ajuda do professor de matemática para trabalhar a questão das escalas. Converse também com o professor de geografia para trabalhar topografia, tipos de terreno e até mesmo geopolítica.
Na sequência deste caderno, você vai encontrar outra atividade, na qual os projetos individuais podem ser usados de forma coletiva. 6
Oscar Niemeyer projetou uma cidade fantástica, uma cidade no meio do deserto, em Negev, Israel, mas que nunca saiu da fantasia e ficou no papel.
CIDADE FANTÁSTICA
Negev foi projetada três anos depois de Brasília – marco na carreira do arquiteto por simbolismos e críticas. Fantástica por ter sido projetada no meio do deserto, com características de uma cidade medieval, na qual os carros somente circulariam por seus perímetros, havendo uma grande esplanada como estacionamento geral e com uma rodoviária abaixo. No mais, dentro da cidade, as ruas são arborizadas e calmas, tranquilas e agradáveis de andar; eventualmente, ao fim de ruas serpenteadas se chegaria a uma praça ou a um pequeno comércio. Já as residências são grandes prédios, mas no interior somente os jardins e os banheiros são delimitados, de modo que a arquitetura não está dada e é aberta à liberdade criativa individual.
Já pensou em como a cidade em que você vive foi construída? Será que ela foi planejada antes de ser construída ou foi crescendo – a partir de um porto e/ou de uma região central – conforme as necessidades do dia a dia? Será que as ruas sempre foram asfaltadas? Há viadutos e elevados? Eles sempre foram necessários? Há construções monumentais? Meios de transporte público, como metrô e trem, estiveram desde o início no planejamento? Abrangem toda a cidade? Áreas de lazer, parques e praças sempre estiveram em lugares privilegiados e de fácil acesso? É fácil e prazeroso se locomover nessa cidade? Quando visitamos uma cidade que ainda não conhecemos – ou percorremos distâncias longas dentro da mesma cidade, no caso de uma metrópole –, o que notamos primeiro? Será que notamos as construções de maneira isolada e depois temos noção de um todo? Ou há construções que chamam a atenção ou causam estranheza? Essa estranheza é causada por quê? Pelo fato de essas construções serem monumentais ou parecerem que estão descoladas de seu entorno? Se observarmos determinados espaços e os separarmos notando cada conjunto, e depois os classificarmos, como seriam? Antigos? Coloniais? Clássicos? Modernos? Claro que só podemos fazer essas classificações e relações por meio de comparações dentro da própria cidade e, com essas comparações, notamos o que difere nas várias regiões. Por que um bairro parece mais moderno e planejado que outro? Seria por causa de ruas mais largas? Fácil acesso ao transporte e variedade de comércio? Áreas verdes e de lazer? Essas preocupações teriam a ver com a localização desses bairros?
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Quando olhamos uma cidade do alto, temos a mesma percepção ao observá-la do chão? Quando olhamos uma cidade do alto, seja de um avião, seja de um prédio ou de um mirante, qual é a impressão que temos? Parece que existem espaços vazios para circulação de pessoas? Ou somente um monte de prédios e casas?
Caso nunca tenha visto a cidade de cima, há edifícios que permitem visitas – como o do Banespa e o Copan, em São Paulo. Lá do alto deles, é possível ver a cidade como se se estivesse em um mirante. Além desses prédios, o vão livre do Museu de Arte de São Paulo (Masp) serve como mirante. Em último caso, a tecnologia está a nosso favor, e é possível ver a cidade do alto por meio de programas de computador. A proposta é construir uma cidade – imaginada, retrô, futurista ou uma melhoria da atual. Essa proposta é mais aberta, podendo usar espaços da escola para possíveis instalações e contar com a participação de outras turmas em um mesmo projeto.
Cuidado! Se a instalação na escola ocupar um espaço aberto e estiver exposta a variações climáticas, talvez seja melhor escolher um espaço coberto, mesmo que isso implique a não junção das turmas.
O material usado pode ser variado – caixas de fósforos, casas feitas de papel, papelão, madeira, metal, cartão para maquetes ou até mesmo objetos que, quando encapados e customizados, se tornem, por exemplo, residências. Deve ser levado sempre em consideração o lugar onde essa cidade será montada. Antes de propor que os alunos construam uma cidade, converse com eles sobre o bairro, como era antes e como é agora, e peça que tragam fotos antigas do lugar, caso tenham. Vá ampliando essa conversa para além do limite desse bairro, levantando questões por comparações, similitudes ou distanciamentos. Essa conversa pode servir de base para a construção dessa cidade. Propomos dois processos, entre muitos, para a construção da cidade. Cada um deles terá algo a ser notado, mesmo que a proposta seja aberta:
1.
No caso de as turmas terem feito a atividade anterior, peça que construam a cidade com suas casas, sem que haja muita interferência sua. Você pode e deve interferir, problematizar distâncias, topografia, ruas, mas sem dar muitos direcionamentos, pois assim, após o término da construção, será possível levantar questões como a falta de planejamento urbano de ligações entre as regiões e a distribuição de casas, variedade de estabelecimentos, comércios, escolas, hospitais, entre outros pontos.
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Lembre-se de fotografar no início e no término de cada aula. Se conseguir fotos durante a montagem na aula, elas também serão úteis, pois serão retomadas posteriormente.
Se essa instalação puder ser em um espaço público da escola e as outras turmas que também participaram da atividade puderem intervir, acreditamos que o resultado pode ser mais significativo para que fique evidente que a falta de planejamento inicial fará diferença no resultado final. Com o não direcionamento, provavelmente essa cidade crescerá de forma não organizada, que é o nosso objetivo, uma vez que não houve planejamento ou plano piloto a ser seguido. Com a montagem dada por completa, retome as fotos e discuta melhorias ou observe em qual momento a montagem da cidade saiu do controle.
Sugestão Você também pode escolher turmas diferentes, ou subdividir uma turma, e com cada uma delas usar um dos processos. Ou seja: uma turma usa o plano piloto (segundo processo) e outra não (primeiro processo). Ao término, é possível propor que relacionem as diferenças entre as cidades, ou até as similitudes, e que conversem entre si sobre essas experiências distintas.
2.
Neste processo, trabalharemos de outra forma, partindo primeiro do planejamento – não sendo necessário que a primeira atividade deste caderno tenha sido feita –, como em Brasília, que foi projetada pelo urbanista Lucio Costa. Nesse caso houve plano piloto, um desenho geral de toda a cidade e também de cada um dos prédios do governo assinados por Oscar Niemeyer. Cada turma, ou uma mesma turma dividida em subgrupos, com base em um projeto inicial, deve montar uma cidade. A divisão pode ser feita em: norte, sul, leste, oeste e centro. Outra possibilidade é que cada turma, ou subgrupo, projete parte da cidade, como: vias, residências, transportes, hospitais, praças e parques, museus, escolas. Posteriormente, todas essas partes serão juntadas, formando assim a cidade. Organize os alunos do modo que considerar melhor. Como no processo anterior, o registro fotográfico também é importante, no início e no término de cada aula, sobretudo o registro do plano piloto. Assim, quando a cidade estiver completa, você terá material suficiente, como um dossiê, para comparações, problematizando questões como a topografia, se a construção seguiu o plano piloto, se de fato houve funcionalidade e se há mudanças que podem ser feitas que não foram pensadas inicialmente. Problematize também o processo – por exemplo, se no decorrer dele foi difícil manter as exigências do plano original.
No caso de terem realizado os dois processos de construção, as cidades ficaram muito diferentes? A que teve plano piloto realmente terminou como deveria? A que não teve ficou muito diferente, ou não funcional, da outra, que teve plano piloto?
No Caderno de Conceitos você pode ler um pouco mais sobre o plano piloto de Brasília e sobre as etapas de construção de um projeto arquitetônico. Em tempo: Em outro material, propomos a construção de uma miniatura do Auditório Ibirapuera. Você pode construí-la e montar a cidade com base nela. 9
CIDADE LITERÁRIA
Em se tratando do tema “cidade”, você também pode recorrer à literatura. Alguns autores escreveram crônicas e/ou poesias dedicadas às cidades, descrevendo, homenageando ou projetando-as. Fossem as cidades invisíveis ou futuristas, Clarice Lispector – assim como João Cabral de Melo Neto – descreveu Brasília de forma muito particular.
CATEDRAL DE BRASÍLIA, Brasília, DF, Brasil [2014] foto: Thiago Borazanian
“Brasília é uma cidade abstrata. E não há como concretizá-la. É uma cidade redonda e sem esquinas. Também não tem botequim para a gente tomar um cafezinho. É verdade, juro que não vi esquinas. Em Brasília não existe cotidiano. A catedral pede a Deus. São duas mãos abertas para receber. Mas Niemeyer é um irônico: ele ironizou a vida. Ela é sagrada. Brasília não admite diminutivo. Brasília é uma piada estritamente perfeita e sem erros. E a mim só me salva o erro.” (LISPECTOR, Clarice. Brasília esplendor. In: Para não esquecer. Rio de Janeiro: Rocco, 1978.)
E em outra crônica segue:
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“Se eu dissesse que Brasília é bonita, veriam imediatamente que gostei da cidade. Mas se digo que Brasília é a imagem de minha insônia, veem nisso uma acusação; mas a minha insônia não é bonita nem feia – minha insônia sou eu, é vivida, é o meu espanto. Os dois arquitetos não pensaram em construir beleza, seria fácil; eles ergueram o espanto deles, e deixaram o espanto inexplicado. A criação não é uma compreensão, é um novo mistério.” (LISPECTOR, Clarice. Brasília esplendor. In: Para não esquecer. Rio de Janeiro: Rocco, 1978.)
Observe como, no primeiro trecho, a crônica é mais descritiva, dizendo que Brasília “É uma cidade redonda e sem esquinas [...] É verdade, juro que não vi esquinas”, com uma mescla de metáforas: “A catedral pede a Deus. São duas mãos abertas para receber” – repare na foto como a estrutura da catedral forma duas mãos, como se estivessem rezando, ou pedindo a Deus, na leitura de Clarice Lispector. Essa descrição vai mais longe ao dizer que “Brasília não admite diminutivo”, afinal é conhecida e criticada por suas construções monumentais, além das grandes distâncias a ser percorridas. No segundo trecho, perceba como as sensações, as preferências e a própria vivência da escritora descrevem o lugar. Ao dizer que “Brasília é a imagem de minha insônia, veem nisso uma acusação; mas a minha insônia não é bonita nem feia – minha insônia sou eu, é vivida, é o meu espanto”; um espanto que pode ser causado pelas grandes distâncias, pela monumentalidade das construções. A insônia, de passar a noite em claro, talvez, pelo branco dominante na obra de Niemeyer. Note que Clarice Lispector descreve Brasília de forma concreta e com base em suas vivências. No caso de terem feito a atividade anterior, use-a como base para que os alunos possam produzir textos, crônicas, poemas ou músicas sobre essa cidade, seja em comparação com aquela em que vivem ou sobre como seria a vida nessa cidade construída. Se a proposta literária for baseada na construção da cidade, você pode usar fotos e crônicas para montar um livro. No caso de não terem construído uma, você pode trabalhar tendo como referência a cidade na qual vivem. Outra possibilidade além do livro é promover um sarau com os textos que falam da cidade, do dia a dia. Você pode se juntar ao professor de português, ou literatura, para realizar essa atividade.
REFERÊNCIAS
FICHA TÉCNICA Núcleo de Educação e Relacionamento
Sites
GERÊNCIA Valéria Toloi
Dicionário de Arquitetura: http://www.colegiodearquitetos.com.br/dicionario/
COORDENAÇÃO Samara Ferreira
Brasília Poética: http://brasiliapoetica.com.br/
CONCEPÇÃO DO MATERIAL Guilherme Ferreira Paula Pedroso Raphael Giannini Sylvia Sato
Clarice Lispector: http://www.claricelispector.com.br/
De acordo com o artigo 46, incisos III e VIII, e com o artigo 48 da Lei nº 9.610/98 (Lei dos Direitos Autorais), não constitui ofensa aos direitos de autor a reprodução de obras nos termos dos referidos artigos; contudo, fica expressamente vedada qualquer forma de utilização com finalidade lucrativa/comercial deste material.
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capa: Hotel Nacional, Rio de Janeiro, RJ, Brasil [1968]
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