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S達o Paulo, 2015
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Sumário No caminho das crianças Brincando o Teatro Balão, Balões A Lágrima O Coral da Bicharada
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Ocupação João das Neves
Na trilha de João das Neves
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João das Neves: um artesão no caos
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Álbum de fotos
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Coletânea Ficha técnica
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Esta publicação oferece um panorama do trabalho do dramaturgo João das Neves por duas vias: deste lado, obras infantis de sua autoria inéditas; do outro, sua produção artística vista em perspectiva. Na internet, você acessa mais material sobre o artista. O site do programa Ocupação [itaucultural.org.br/ocupacao] traz, com parte do conteúdo da mostra, uma série de entrevistas em vídeo com o próprio João das Neves e com outros nomes na companhia dos quais ele vem trilhando seu longo e singular percurso.
No caminho das crianças Quatro textos infantis inéditos de João das Neves são publicados aqui. O primeiro, Brincando o Teatro, é um passo a passo do fazer teatral, um convite à criatividade e à alegria. Balão, Balões, A Lágrima e Coral da Bicharada são curtas cenas que enfocam acontecimentos cotidianos e poéticos. Nessas obras do autor, o maravilhoso não é distante, está ao alcance de nossas mãos e de nossos olhos. Ao lado desses textos, trazemos um depoimento do autor sobre os significados do ato de escrever para crianças. Ainda mais: no outro lado desta publicação, a crítica teatral Ilka Zanotto, em um artigo no qual trata do percurso profissional de João das Neves, analisa os espetáculos que apresentamos, destacando o que, em forma e conteúdo, os torna importantes para o teatro infantil brasileiro. Ressaltar os trabalhos de João das Neves voltados para crianças é dar atenção a uma produção contínua, que pontua a carreira do dramaturgo desde o início. No primeiro grupo de que participou, Os Duendes, já encenava peças desse gênero, como O Pássaro e a Feiticeira, de Teresinha Éboli. Nos anos 1970, fez O Leiteiro e a Menina Noite e A História do Boizinho Estrela (que virou a peça A Lenda do Vale da Lua, a obra mais montada de João), entre outros. Ainda publicou, em prosa, Leonardo e o Pé Grande, A Árvore Cheia de Estrelas e Por um Triz a Elis Ficava sem Nariz. Teatro é teatro, diria João das Neves, sem distinção entre o que é feito para adultos e o que é feito para crianças. Ambos surgem de um olhar atento e do prazer de criar. Ele ressalta, porém, as diferenças entre os modos pelos quais a criança e o adulto se abrem para o mundo: os pequenos experimentam as histórias de forma livre e diretamente; os crescidos se perdem em limitações, que precisam ser contornadas. As peças a seguir podem, assim, tanto conversar francamente com as crianças quanto fazer com que os mais velhos reencontrem essa leveza perdida.
Itaú Cultural
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Brincando o Teatro JOÃO DAS NEVES
Prólogo O primeiro passo para brincar o teatro é juntar uma turma. De que tamanho? Ora, de que tamanho! Do tamanho da sua turma! Três, quatro, oito… Não precisa ser muito grande. Assim, com dois ou três, já se pode brincar. O ideal mesmo é uma turma de seis a oito. Se tem a turma, a gente já pode começar. Bem, e como a gente começa? Conversando. E sabem por quê? Porque em todo teatro tem uma conversa, que se chama diálogo. Engraçada essa palavra, não é? Ela veio da Grécia, terra em que foi inventada essa brincadeira e que fica lá perto do salto da bota da Itália. Querem ver? Vamos procurar essa palavra no dicionário. Diálogo. Do grego diálogos. Fala entre duas ou mais pessoas. Conversação. Pois é... É dialogando que a gente brinca o teatro. Mas, já que a gente está com o dicionário em mãos, vamos procurar também a palavra teatro. Teatro. Do grego théatron. Lugar aonde se vai para ver. A arte de representar. Viram só? Não disse que o teatro vinha da Grécia? Depois eu conto essa história. Agora, vou dar um exemplo de diálogo, tá? Vamos imaginar que vocês três, Julinho, Ana e Leonardo, acharam complicada essa história de o teatro ser definido como o lugar aonde se vai para ver e a arte de representar, tá bom?
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Então, vamos ao diálogo:
Julinho: Professor: Julinho: Professor: Ana: Professor: Ana: Professor:
Ih... Agora complicou. Por quê? Uai, a gente vai ver ou vai brincar? Vai brincar vendo e vai ver brincando. Complicou mais ainda. Por quê? Como é que a gente vai fazer as duas coisas ao mesmo tempo?
O teatro é uma coisa assim, meio mágica. É uma mentira que parece verdade. É, ao mesmo tempo, o lugar onde se representa e a arte de representar. É uma brincadeira da qual participam todos, quem está fazendo (o ator) e quem está vendo (o espectador).
Leonardo: Professor:
Todo o mundo brinca de acreditar, é isso?
Isso mesmo. Quem vê o Julinho fazendo o Saci, por exemplo, finge acreditar que está vendo o Saci de verdade.
Ana:
Professor:
E o Julinho?
O Julinho finge tão bem que até acredita que é o personagem. Mas sabe que não é. E é isso que o dicionário chama de arte de representar.
Julinho:
Tá tudo muito bom, mas isso de fingir que é um lobo, um fantasma ou uma bailarina, sei lá... Até a minha irmãzinha de três anos faz quase todo dia lá em casa.
Ana:
É mesmo. E os nossos pais fingem que acreditam, que se assustam. Então, brincar o teatro é só isso?
Professor:
É. Só que, nesse caso, a brincadeira acontece dentro de casa. Ninguém está indo lá para ver. O teatro, como arte de representação, precisa do espectador. E precisa de um lugar aonde se vai para ver.
Ana:
O teatro.
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Professor: O teatro, com certeza. Mas pode ser também qualquer lugar para onde as pessoas são convidadas para ver a representação: o pátio da escola, o quintal de casa, a rua.
Julinho:
Professor:
Tá bom, tá bom. Então, vamos logo brincar o teatro.
Vamos. Mas, antes, queria que vocês vissem uma porção de espaços, através dos tempos, aonde as pessoas iam ou vão para ver e fazer teatro.
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Dando algumas sugestões Se você mora numa casa, vá para o quintal ou para o jardim. Se mora num apartamento, chegue à janela. Agora, olhe bem para o céu. De dia, você verá o céu azul ou coberto parcial ou totalmente por nuvens. Se o tempo estiver bom, ao azul do céu serão acrescentadas nuvens branquinhas, parecendo leves como flocos de algodão. Mas, se estiver ameaçando chuva, as nuvens serão cinza-escuro, parecendo pesadas. Você sabe quais são os nomes dessas nuvens? Sabe também o que é que cai em pé e corre deitado? Bem, mas, se o tempo estiver bom, com o céu azul e pouco nublado, espere chegar a noite e volte a olhar para o céu. Ele deverá estar cheio de estrelas. Talvez seja noite de luar e a lua possa ser vista em uma de suas quatro fases. Você sabe quais são? Poderia desenhá-las nos quadrados abaixo, colocando ao lado os seus nomes?
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Em qualquer uma de suas fases a lua é bonita, não? Muitos poetas e compositores fizeram poemas e canções em sua homenagem. Você conhece algum desses poemas ou canções? Se conhece, diga o poema ou cante a canção. Mas, se não tiver lembrado de nenhum poema ou de uma canção, leia este trecho de um poema de Mario Quintana, um grande poeta nascido no Rio Grande do Sul.
“[...] estou agora Em um Mercado Estelar... e olha! Acabo de trocar − em meio aos ruídos da rua alheio ao risos da rua − todas as jubas do Sol por uma trança da Lua!”
Peça a um adulto que comente esse poema com você e seus colegas. Agora, voltando ao céu da noite... Nas noites em que o céu está cheio de estrelas é possível ver estrelas cadentes. É um fenômeno muito comum e de rara beleza. Parece mesmo que uma estrela de verdade está caindo do céu, deixando em sua passagem um rastro luminoso. Mas, na verdade, não são estrelas as estrelas cadentes. Você sabe o que são?
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Pois é, a nossa história aconteceu numa dessas noites estreladas, com uma lua cheia passeando pelo céu e com um boizinho muito querido por dois irmãos. Só que esse boizinho não era exatamente um desses bois que andam pelo pasto comendo capim e ruminando ou ainda puxando nos caminhos da roça um carro que vai gemendo, gemendo sem parar no meio da poeira. Você já viu, por acaso, um desses carros? Desenhe abaixo um deles, puxado por uma junta de bois.
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O nosso boizinho não puxa carros. Ele dança, ele brinca e à sua volta todos cantam e dançam. É um boizinho de brincadeira, coberto com um manto todo enfeitado, onde estão presos pedaços de espelhos, lantejoulas, miçangas, que formam desenhos de paisagens e, às vezes, nomes escritos. São nomes curiosos ou poéticos, como Alegria do Povo, Estrela da Manhã e Brilho da Sociedade. Além de dançar e cantar com o boizinho, os brincantes ou personagens contam uma história. Essa história contada durante o folguedo tem inúmeros personagens: a burrinha, o cavalo-marinho, o Mateus e o Bastião – fazendo palhaçadas –, o doutor, a Catirina, a ema, o macaco, o urubu etc. São muitos os personagens, que variam em quantidade e características conforme a região em que acontece essa brincadeira, que existe no Brasil inteiro. Em cada região ela também tem um nome diferente: boi-bumbá, bumba meu boi, boi de janeiro, boi de manta, boi de mamão, boi-calumba, boizinho, boi de jacá, Reis de boi, boi do Rosário etc. Em qualquer lugar ou com qualquer nome, a presença do boi é sempre uma festa, que pode acontecer no ciclo de festas juninas ou natalinas. Será que você saberia juntar o nome das brincadeiras aos estados correspondentes? Vamos tentar com alguns estados do Brasil?
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Uma coisa creio que você não saiba. Essa brincadeira é muito antiga. Uns dizem que ela nasceu porque um fazendeiro do sertão havia perdido seu boi de estimação. E ficou tão triste, mas tão triste, que os peões de sua fazenda fizeram uma armação de madeira, cobrindo-a com o manto do boi morto. Um deles entrou embaixo e começou a dançar. Eu sei que o pessoal gostou tanto desse boi e de sua dança que começou a inventar uma porção de outros personagens, bichos ou gente. E inventaram também uma história em que o boi morria e era ressuscitado em meio a danças e muitas brincadeiras. Outros dizem que uma mulher estava grávida e teve desejo de comer uma parte qualquer de um boi de estimação do marido, e este não teve outro remédio senão matá-lo. Como o boi era muito grande, cada um dos vizinhos foi pegar um pedaço para levar para casa, fazendo-se então a partilha do boi em meio a uma festa e brincadeiras. Há ainda quem diga que essa brincadeira é muito mais antiga. E que teria chegado ao Brasil trazida pelos portugueses colonizadores. De um jeito ou de outro, ela é hoje uma brincadeira bem brasileira e muito divertida. E foi nela que a gente se inspirou para escrever A Lenda do Vale da Lua. E, claro, inventou mais uma história.
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Vamos agora a outra sugestão. Vocês querem brincar o boizinho? É muito fácil. E o primeiro passo é a criação dos personagens. Só precisamos de umas caixas de papelão ou de pedaços de cartolina, cola, retalhos de pano, enfeites vários escolhidos segundo o gosto de cada um, barbante, arame etc. Vocês podem se inspirar nos modelos abaixo. Vamos lá?
Vocês podem brincar usando o texto de A Lenda do Vale da Lua – escrito por mim, publicado pela editora Dimensão e recomendado pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil – ou inventando uma história. O importante mesmo é cantar, dançar, bater tambores, fingir que o boizinho morreu, fazer a divisão das suas partes, brincar com quem vai ficar com elas e depois chamar o doutor para ressuscitar o boi. E de novo cantar, dançar e sorrir de alegria. Se tiverem dificuldades em inventar uma história, deixo aqui três pequenos textos teatrais escritos por mim, que vocês podem utilizar à vontade.
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Balão, Balões
Entre o público, um vendedor de balões coloridos, desses cheios de gás, vem cantando e apregoando seus balões. Baloeiro: Olha o balão Balão colorido Que pinta no céu Um campo florido. Olha o balão Que mora num sonho Trazendo alegria Pra quem é tristonho [Dirigindo-se a uma menina na plateia.] Vai levar um balãozinho, princesa? Menina: Eu não sou princesa, não. Sou sapa. Baloeiro: Sapinha linda! Menina: Não sou linda. Sou horrorosa! Baloeiro: Mas muito da prosa! Menina: [Botando a língua pra fora.] Hum, procê! Baloeiro: [Sai rindo e cantando.] Olha o balão Da menina prosa Fazendo careta Ficou mais formosa! Menina 2: [No palco, acompanhada de seu pai.] Olha, pai, o moço dos balões! Me dá um?
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Pai: Moço! Ei, moço! Dê um balão aqui pra mocinha, por favor! Baloeiro: Pois não! [Cantando.] Mas que moça bonita Comprou meu balão, Tem laços de fita No seu coração. Menina formosa Me dá seu dedinho Pra nele prender O seu balãozinho. Menina 2: [Recusando o dedo ao baloeiro.] Não quero, pai, amarrar no dedo. Pai: É melhor amarrar, minha filha. Senão o balão vai voar. Menina 2: Não quero, pai. Pai: Tá bom. Mas não vai dizer depois que eu não avisei. Baloeiro: [Cantando.] Se o balão fugir pro céu Por favor, não vá chorar Pois a sina dos balões É aos olhos encantar. [Sai repetindo os versos iniciais, pelo meio da plateia. Pode continuar cantando baixinho entre o público, enquanto a cena prossegue entre o Pai e a Menina 2.] Olha o balão Balão colorido Que pinta no céu Um campo florido. Olha o balão Que mora num sonho Trazendo alegria Pra quem é tristonho... No palco, a Menina 2 brinca um tempo com o balão, depois desce alegre para a plateia, até que o balão lhe escapa e vai subindo pelos ares. O Pai corre, ainda tenta apanhar o balão pelo cordão, mas não consegue. Menina 2: Olha o meu balão, Pai, tá indo embora! [Triste, faz bico. O Pai fica por instantes sem saber o que fazer.]
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Pai: Ah, filhinha, papai e o moço do balão bem que... [Não termina a frase, vendo que a Menina 2 começa a chorar.] Olha, mas não faz mal, né? A gente pede outro pro moço. Menina: [Parando de chorar. Subitamente alegre.] É, não faz mal, né? [Estende a mão para o Pai.] Pai, pega no meu dedinho. O Pai pega o dedinho. Baloeiro: [No meio da plateia, solta no ar um a um de seus balões enquanto canta.] Não faz mal, linda menina Seu balão não vai fugir. Ele só voou pro céu Para as nuvens colorir. Menina 2: [Cantando, sempre com o dedinho na mão do Pai.] Meu balão fugiu pro céu Para as nuvens colorir. Voa, voa, meu balão, Fazendo a terra sorrir. [Sai andando com o Pai, sempre com o dedinho firme em sua mão.] Fim
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A Lágrima Um jardim interior. Um homem está sentado num banco lendo um livro. Entra em cena uma menina andando num velotrol. Ela tem cerca de cinco anos. Anda um pouco e para, a atenção voltada para um pequeno pássaro caído no chão. Deixa o velotrol e toma cuidadosamente o passarinho em suas mãos. Depois de algum tempo, chama o pai. Menina: Pai?! Pai: [Levantando os olhos do livro.] Que foi, minha filha? Menina: Vem cá. Pai: [Deixando o livro no banco e se aproximando.] O que é? Menina: Olha só. Tava caído aqui. O pescocinho tá mole. Ele tá doente? Pai: Deixe ver. [Examina o passarinho.] Está, sim, filhinha. Acho que vai morrer. Menina: Vamos levar ele pro hospital? Pai: Não, filhinha, não vai adiantar. Menina: Vamos, pai. Pra fazer nele uma operação. Ele vai ficar bom. Pai: Não vai, não, filhinha. Já está morrendo. Sofreria mais. Menina: Que nem o vô? Pai: O que tem o vô? Menina: O vô sofreu muito quando foi pro hospital? Pai: Sofreu. Mas a gente tinha esperança. Ele podia ter ficado bom. Menina: Mas não ficou. Pai: É... Não ficou.
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Menina: Foi por causa da operação? Pai: Não, filhinha. O vô estava muito doente. A operação era pra tentar salvá-lo. Mas ele agora está contente. Acho até que está lá no céu, sorrindo pra você. Menina: [Voltando-se para o passarinho.] Tadinho, pai. Tá abrindo o biquinho. Posso fazer uma caminha pra ele? Pai: Pode, sim, minha filha. Ele vai gostar. Menina: Você me ajuda? Pai: Ajudo. [Colhem flores e folhas. A menina coloca o pássaro ao pé de uma árvore. Os dois picam as flores e as folhas e vão depositando ao lado do passarinho.] Vamos colocá-lo numa caixinha? Menina: Não, pai, melhor não. Botaram o vô numa caixa e fecharam. Acho que ele não gostou, não. Porque não podia sair se quisesse. Pai: Ele já estava morto, minha filha. Menina: Eu sei. Mas podia querer sair. Nem sei como conseguiu ir pro céu. A gente bota só em cima, assim, das folhinhas e das flores, né? Pai: Está bem. Menina: Assim, se o passarinho quiser voar depois de morto, ele voa. Pai: É. De repente, a menina se agarra ao pai, chorando. Menina: Pai, olha, pai... Acho que ele morreu. Olha só o olhinho dele. Pai: [Examina o passarinho.] É, filhinha, morreu. Menina: Deixa eu ficar olhando pra ele um pouquinho? Pai: Pode olhar, filhinha, pode olhar. Menina: Vamos botar ele com as flores em cima de uma folha de papel? Assim, na terra, está tão frio.
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Pai: Vamos, sim, minha filha. Olha, tem uma folha aqui. [Pega o livro e tira de dentro dele uma folha de papel dobrada.] Colocam com cuidado o passarinho e as flores sobre a folha de papel. A menina senta-se na cadeira. O pai fica a observá-la. Tempo. Menina: Acho que não foi por causa da operação, não. O passarinho nem precisou dela. O vovô ia embora mesmo. Pai: [Para o público.] Ficou ali sentadinha um tempão. Depois, vi uma lágrima escorrendo de seus olhos. Brilhou na ponta do queixo, antes de cair sobre os dedos das mãozinhas, cruzadas no colo. Fim
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O Coral da Bicharada O pai está deitado em uma rede, lendo um livro qualquer. Ao seu lado, no chão, cercada de folhas de papel e lápis coloridos espalhados, sua filha desenha. Depois de algum tempo, observa o desenho cuidadosamente. Vai entregá-lo ao pai.
Menina: Pai, olha aqui. O pai, distraído com a leitura, não nota que a menina está lhe chamando a atenção.
Menina: [Insistindo.] Pai!
Pai:
Ahm, o que foi?
Menina:
Olha, pai, o meu desenho.
Pai: [Pega o desenho e o examina.] Bonito!
Menina:
Não é assim, pai. Tá de cabeça pra baixo!
Pai: [Virando o desenho.]
De cabeça pra baixo? Mas assim está bonito!
Menina:
Mas tá de cabeça pra baixo, ora!
Pai:
Já virei, olha. Que bonito! O que é?
Menina:
Você não está vendo, pai! Pai: Estou vendo, mas não estou sabendo. Menina: Olha direito, pai. Pai: Hum... Deixe ver. Parece um cavalo. Menina: Que cavalo, pai?! Você não está vendo que é um elefante? Pai: É... Isso mesmo! É um elefante. É que eu confundi a tromba do elefante com um rabo de cavalo.
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Menina: Ô, pai. Você, hein! Não sabe ver, não? Pai: É que eu estava meio distraído aqui com o livro. Menina: Você vive distraído com esse livro! Pai: Olha, faz outro desenho. Prometo que, quando você me chamar pra ver, vou prestar bastante atenção. Menina: Quero só ver. [Volta a desenhar. O pai observa-a, sorridente, por alguns momentos. Depois volta à leitura. De vez em quando, tira os olhos do livro para olhar a menina a desenhar. Tempo. A menina acaba o desenho.] Pai! O pai finge estar distraído. Menina: Paiêêêêêê!!! O pai continua a fingir. Menina: [Dá um sorriso maroto e, pé ante pé, se coloca atrás do pai, pertinho da rede. De repente, sai e grita.] Buuuuuu!!! Pai: [Fingindo-se assustado, dá um grito e deixa-se cair da rede.] Ai, meu Deus do céu! O que é isso? Menina: [Ameaçando o pai com o desenho.] É o lobo que vai te pegar! [Corre atrás do pai, que foge. Por algum tempo, ficam rindo nessa brincadeira.] Pai: Agora, cansei. Deixa eu ver o seu lobo. [A menina mostra o desenho.] Mas que lobão! Olha, tive uma ideia. Menina: O que é? Pai: Vamos dar uma folha de papel e um lápis pras crianças. Cada uma vai desenhar um bicho. E, depois, imitar a sua voz. Menina: E se for passarinho? Pai: Canta, uai! Menina: E se for cavalo? Pai: Relincha.
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Menina: E se for cachorro? Pai: Late. Menina: E se for lobo? Pai: Uiva. Agora, sou eu quem pergunta. E se for boi? Menina: [Depois de um tempo pensando.] Muge. Pai: E se for galinha? Menina: Cacareja, ora! [A lista pode ter a extensão desejada. E as perguntas podem ser dirigidas às crianças da plateia. Pode-se também brincar com os diversos ruídos dos animais.] Pai: Agora, vamos ver! Só os bois. [E assim por diante.] Menina: Pai, cansei. Pai: Então, agora, vamos fazer um coral de bichos? Menina: Vambora. Os dois: [Cantando.] Passarinho canta, Cavalo relincha, O boi se espanta. Solta um mugido, E o burrinho zurra: — Que dia comprido! Cacareja a galinha: — Já botei meu ovo, Vem cá, minhoquinha E a bicharada, De manhãzinha, Sai assanhada. Os dois ensinam a música à criançada, organizam um coral e saem cantando com a bicharada.
Fim
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Abertura
sábado 26 setembro 2015 11h
Visitação
domingo 27 setembro a domingo 8 novembro terça a sexta 9h às 20h [permanência até as 20h30] sábado, domingo e feriado 11h às 20h
avenida paulista 149 são paulo sp 01311 000 [estação brigadeiro do metrô] itaucultural.org.br atendimento@itaucultural.org.br fone 11 2168 17 Alvará de Funcionamento de Local de Reunião – Protocolo: 2012.0.267.202 – Lotação: 742 pessoas Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB) – Número: 121335 – Vencimento 1/9/2017 32