nº 2 | JunhO 2018 CONCEIÇÃO EVARISTO
O NOME DISSO É
Genocídio EXTERMÍNIO DELIBERADO,
PARCIAL
23%
FOI O CRESCIMENTO DOS ASSASSINATOS DE PESSOAS NEGRAS, NOS ÚLTIMOS 10 ANOS (2006-2016); OS DE PESSOAS BRANCAS CAIU 6,8%
71%
MAIOR O HOMICÍDIO DE MULHERES NEGRAS, EM RELAÇÃO ÀS MULHERES BRANCAS
OU TOTAL,
DE UMA COMUNIDADE, GRUPO ÉTINICO
RACIAL OU RELIGIOSO
O genocídio do povo negro não é obra do acaso. Vem da escravização dos corpos das pessoas negras vindas da África. Esse processo tem tudo a ver com o sistema capitalista, responsável por explorar mulheres e homens. É algo pensado, organizado e financiado pelas estruturas de poder, que precisam do racismo como justificativa ideológica para que possa se manter, às custas da ausência da dignidade e dos direitos humanos da população negra. O processo de superação do racismo está diretamente ligado ao
52%
DAS MULHERES ASSASSINADAS POR AÇÃO VIOLENTA DE AGENTES DO ESTADO SÃO NEGRAS; 31% SÃO BRANCAS
2,5
VEZES MAIOR A TAXA DE HOMICÍDIO DE PESSOAS NEGRAS, EM RELAÇÃO À DE PESSOAS NÃO NEGRAS
Fonte: Atlas da Violência 2018 e Instituto Igarapé
EU NÃO QUERO MAIS ESSA
História
fim do sistema capitalista e à auto-organização da população negra e da classe trabalhadora. Como definiu Malcom X: "Não há capitalismo sem racismo". A face mais visível do genocídio do povo negro no Brasil são os altíssimos índices de homicídios da gente preta no nosso país. Logo após a Lei Áurea, quando a pretos e pretas era negado o trabalho remunerado, a imigração europeia era incentivada para o embranquecimento da sociedade. Até o futebol demorou a aceitar atletas pretos quando os clubes começaram a existir no início do século passado. Mesmo assim, o povo negro sempre resistiu. Quilombos, terreiros, grupos políticos e personalidades negras serviram à causa de libertação. As lutas do movimento negro no século XX clamaram por políticas capazes de diminuir as desigualdades raciais no país. Houve avanços, mas o Estado brasileiro ainda erra na promoção de um país sem racismo. A falta de negros e negras nas universidades; as condições precárias no ensino escolar; o desenho estrutural do Judiciário; a guerra às drogas e a exclusão territorial são algumas forças que exercem influência sobre a morte de jovens preta/os no país. Ainda travamos batalhas diárias para nos mantermos viventes. E não, não vamos desistir!
São direitos humanos todos os direitos que todas as pessoas têm e que são fundamentais para que possam viver com dignidade. Saúde, educação, moradia, cultura, comunicação, transporte. O direito à vida. O direito de não ser assassinada. Esses direitos precisam valer para todas as pessoas, independentemente de sua raça e sua etnia. Portanto, são universais, interdependentes e indivisíveis. Não podem ser desmembrados. Um depende do outro. Toda vida, cada uma delas, importa.
De vez em quando alguém ainda ousa abrir a boca pra dizer que no Brasil “não existem mais pessoas negras ou brancas. Aqui somos todas miscigenadas”. Uma resposta comum a essa afirmação também está na ponta da língua: pergunte à polícia que ela sabe muito bem a diferença. A “filtragem racial”, ou “racial profiling”, como dizem os gringos que batizaram essa prática, é o nome dado quando a autoridade policial baseia sua ação na cor da pele de quem é abordado. No Brasil, são inúmeros os relatos dessa forma de racismo institucional, muitas vezes declarada sem constrangimento por autoridades políticas e policiais. Num levantamento feito no Rio de Janeiro pelo Datafolha, em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, mais pessoas negras declararam ter medo de sofrerem violência policial ou acusações infundadas (o velho “forjado”) do que pessoas brancas. É só prestar atenção em quem leva o “baculejo” na entrada do futebol ou nas revistas que de vez em quando rolam nos ônibus. Basta ver o que acontece quando
um jovem negro é pego portando droga e comparar com um jovem branco nas mesmas condições. Ou prestar atenção em quem faz porta giratória do banco travar. Se ainda assim a percepção estiver difícil, vamos aos números. Nas cadeias do nosso país, quase 70% das pessoas são negras, embora não haja nenhum dado minimamente confiável que afirme que pessoas negras cometem mais crimes que pessoas brancas. Um levantamento divulgado pelas Nações Unidas diz que, em 2016, das 4.222 pessoas mortas em decorrência de intervenção policial no Brasil, 72% eram negras.
CABE A TODAS E TODOS NÓS NOS UNIR PARA MUDAR ESSA REALIDADE.
O mapa da violência no Brasil mostra que, entre 2002 e 2012, a taxa de homicídios de jovens brancos caiu 30%. No mesmo período, a taxa de jovens negros assassinados subiu na mesma proporção. Um jovem negro no país tem 12 vezes mais chance de ser morto que um jovem branco.
Não precisa se esforçar tanto pra perceber que, no Brasil, é justamente o povo negro quem tem menos acesso a todos esses direitos. Quanto maior o nível escolar, menos pessoas negras na sala de aula. Quanto mais escura a cor da pele, menos acesso às unidades de saúde. Quanto maior o cargo no mercado, quanto maior o salário, branca será a pessoa que o recebe. Em nosso país, muitas vezes, cor da pele também é sentença de morte.
O Atlas da Violência 2018, elaborado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), mostra que, entre 2005 e 2015, os assassinatos de mulheres negras aumentaram 22%, enquanto, no mesmo período, entre mulheres não negras, o que houve foi uma redução de 11%.
EU
QUERO A MINHA
NARRATIVA
APAGAMENTO HISTÓRICO E SUAS CONSEQUÊNCIAS Jesus é branco de olhos azuis. Cleópatra é branca de cabelos lisos. Nos livros de história, a negritude de nossas heroínas e heróis não são ressaltadas. Entre 513 deputadas e deputados federais, 24 têm a pele negra. Entre 81 senadoras e senadores, 3 são negros/as. Das 5.570 prefeituras, 1.604 são lideradas por pessoas negras. Entre 57.838 vereadoras e vereadores, 24.282 são negras e negros. Não há nenhuma pessoa negra como governante estadual e do Distrito
Federal. No Supremo Tribunal Federal, não há ministra ou ministro negra ou negro. Existem muitas formas de se apagar o povo negro. E todas contribuem, em diversas etapas, para o processo de genocídio em curso. Você que escreve um livro de história, você que ensina uma história branca, você que não reconhece seu privilégio, e que não quer abrir mão do mesmo por uma sociedade mais justa. Você também contribui para o apagamento, você também contribuiu para o genocídio. O homicídio é o fim da linha. Antes de tirarem nossas vidas, muitas vezes nos mataram, muitas vezes já morremos.
Menos de 10 famílias. Todas elas brancas, privilegiadas, ricas, que fazem parte da elite do país, dominam praticamente todos os meios de comunicação de alcance nacional. Em um país que quase não tem comunicação pública e que entregou o controle sobre a radiodifusão ao mercado, era de se esperar que as narrativas que a gente mais vê e ouve são as que reforçam os interesses dessas famílias e do que elas representam. Narrativas não apenas contam o mundo. Elas o constroem. Nesse mundo que nos é contado pelos meios de comunicação comerciais, é possível explorar, escravizar, prender e matar pessoas negras, sem que isso seja mostrado como inaceitável às classes privilegiadas. Não somos representadas e representados como vidas que valem a pena.
No Brasil em que 54% da população é negra, apenas 3,7% das apresentadoras e apresentadores de TV são negras e negros. De canal em canal, estamos correndo atrás da bola nos programas esportivos ou sendo forçados a alimentar a naturalização da violência nos programas policiais. Onde estão as pessoas negras debatendo economia, educação, políticas públicas, física nuclear? Elas existem, mas não estão na televisão. O racismo não apenas ofende. Ele agride, encarcera, mata e deixa parecer que tudo faz parte. Não é possível que a maioria que somos da população seja obrigada a se reconhecer apenas nas páginas e programas policiais e nos problemas sociais.
COMBATER O RACISMO E IR À LUTA CONTRA O GENOCÍDIO DA JUVENTUDE NEGRA NÃO PODEM SER TAREFA APENAS DE QUEM É PRETO OU PRETA. LEVANTAR A VOZ POR POLÍTICAS PÚBLICAS, POR EDUCAÇÃO INCLUSIVA, POR UMA REESTRUTURAÇÃO DAS INSTITUIÇÕES, POR LIBERDADE RELIGIOSA E IDENTITÁRIA SÃO CAMINHOS A SEREM SEGUIDOS.
VOCÊ
PRECISA SE
IMPORTAR
COMO SER AGENTE DE TRANSFORMAÇÃO O fim da desigualdade racial precisa ser um compromisso firmado por todos os povos. Assumir essa postura, individualmente, é um bom começo. Afirmar-se contra o racismo (antirracista) e adotar comportamentos e atitudes
Informação é poder! Procure se informar sobre as origens do genocídio da juventude negra no nosso país, conheça a história do povo preto, procure compreender um pouco da cultura de nossa população. Palavras importam e, muitas vezes, o racismo se mostra na nossa forma de falar. As pessoas carregam um pouco do racismo dentro de si. É importante reconhecer isso. Saiba os termos que são ofensivos e evite usá-los, para não alimentar o nosso genocídio. Se você tiver poder sobre contratação de alguma pessoa para algum emprego, dê preferência a pessoas negras ou adote o conceito de raça como critério de desempate
que estejam de acordo com esse princípio é preciso. Ir além do discurso, dos textos e das redes sociais. Claro que a Internet precisa ser uma aliada na nossa caminhada, mas é preciso também trazer a prática para a vida real, né não?
Você é profissional de comunicação? Então se ligue que o povo negro existe e precisa estar representado no jornal, na televisão, no cinema e até na propaganda. Como público, você também tem o direito de cobrar essa representação das empresas que controlam a mídia
Racismo é crime. Seja nas ruas, nas redes e nos espaços institucionais, não importa. Se você for testemunha de algum ato de racismo, denuncie!
Eleições? Que tal dar uma olhadinha nas candidaturas de pessoas negras e/ou que pautem temas relacionados ao combate ao racismo? Precisamos de gente preta em espaços de poder!
Eu, jovem negra Eu, jovem negro “
A força e resistência que carrego hoje foram herda� das de minhas ancestrais guerreiras, que deram seu sangue durante séculos para que hoje possamos seguir seus passos com firmeza, lutando por uma sociedade mais justa, digna e igualitária
“
Eloisa Amaral é militante feminista, educadora popular e bióloga. Atualmente, aos 25 anos, atua como educadora na Ação Comunitária Caranguejo Uçá, na comunidade da Ilha de Deus, e também constrói a Rede de Mulheres Negras de Pernambuco. A jovem enxergou na luta por direitos uma missão. Para ela, estar inserida na luta por melhores condições de existência é uma tarefa que recebeu das pessoas mais velhas e que deixará para as próximas gerações
“
Cada vez que o sistema me dava um soco, ele virava energia que pulsava resistência a toda repressão e agressão à juventude negra e popular
“
Rafael Freitas é militante dos movimentos de juventude e da comunicação, defensor dos direitos humanos. Iniciou sua militância aos 15 anos na comunidade do Coque, com o Neinfa (Núcleo Espírita lrmãos Menores Francisco de Assis) e o MABI (Movimento Arrebentando Barreiras Invisíveis). Foi Coordenador regional da Rede de Jovens do Nordeste, trabalhou na FASE Pernambuco. Aos 28 anos, candomblecista, superou a precariedade do acesso a educação, a violência, o estigma e preconceito voltados à juventude. Atualmente é empreendedor criativo, filmaker e produtor independente.
“
Estou viva, e tive oportunidade de adentrar em espaços que segundo a estrutura não me cabia. É por esses motivos que consegui vencer as estatísticas de extermínio da população negra
“
Sabrina Rodrigues sabe que a teoria sem a prática é tão vazia quanto a prática sem teoria. Aos 22 anos, estuda História na UFPE e não abre mão de lutar por seus direitos. Natural de Limoeiro, no agreste pernambucano, veio para o Recife por conta da universidade e aqui integrou-se à Articulação de Negras Jovens Feministas e do Coletivo Afronte.
“
Tenho a militância com uma missão que Deus me deu. Através da luta conseguirei vitórias para as pessoas que não são vistas e nem ouvidas
“
Ana Karla da Costa tem 23 anos e mora na comunidade do Bode, na Zona Sul do Recife, mais precisamente na ocupação Sítio dos Pescadores, organizada pelo MTST (Movimento das Trabalhadoras e Trabalhadores Sem Teto), do qual ela é uma das coordenadoras e que a faz integrar o fórum do Prezeis. A jovem divide seu tempo entre a articulação comunitária, as orações na Assembleia de Deus e o trabalho como manicure, depiladora e consultora de beleza. Por incrível que pareça, dá tempo pra tudo.
FACA
SUA
E T R A P
ESTA CARTILHA FOI PRODUZIDA PELO COLETIVO DE NEGRITUDE DO MANDATO DE IVAN MORAES EM PARCERIA COM: Conselho político do mandato Afronte
DENUNCIE CASOS
DE RACISMO
Enegrecer Cores do Amanhã Círculo Palmarino FOJUNEPE ANNJF - Articulação Nacional de Negras Jovens Feministas/PE CCJ - Centro de Comunicação e Juventude
Coordenadoria Estadual de Igualdade Racial: (81) 3183.3042 Corregedoria Geral da SDS: (81) 3184.2756 Disque Direitos Humanos: 100 Emergência Policial: 190 GT Racismo da Política Militar: (81) 3181.1006 GT Racismo da Polícia Civil: (81) 3184.3570 / 3184.3571 GT Racismo MPPE: (81) 3303.1249 Ouvidoria SDSCJ: 0800 081 4421 ouvidoria@sdscj.pe.gov.br
COLETIVO DE
NEGRITUDE MANDATO IVAN MORAES
Câmara Municipal do Recife - Gabinete 34 Rua Princesa Isabel, 410, Boa Vista, Recife
Telefone: (81) 3301.1216
(81) 9.8234.5004 @ivanmoraesfilho vereador ivan moraes
ivanmoraes@recife.pe.leg.br
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