Beatriz, Rafael e Marcelo

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SÁBADO FORTALEZA - CE, - 15 DE OUTUBRO DE 2016 WWW.OPOVO.COM.BR

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LITERATURA

BEATRIZ, RAFAEL E MARCELO BATE-PRONTO

Vencedores da edição 2016 do Prêmio São Paulo de Literatura, Beatriz Bracher, Rafael Gallo e Marcelo Maluf comentam suas obras e refletem sobre a importância da premiação para o reconhecimento e consolidação de suas carreiras

BATE-PRONTO

FRANCISCO PEROSA/DIVULGAÇÃO

Marcelo Maluf, autor de A imensidão Íntima dos Carneiros, premiado na categoria Estreantes +40

Rafael Gallo, autor de Rebentar, premiado na categoria Estreantes -40

OPOVO - Os autores estão mais livres pra explorar esses limites entre real e ficção? São limites que precisam existir? Marcelo - A gente chegou a um momento em que tudo pode e vale. O que eu desejo é escrever boa ficção, acima de qualquer coisa. Se realidade e ficção se misturam, tudo depende da verdade com que a história é contada. Eu precisava contar minha história, eu só consigo falar a partir do meu quintalzinho. Eu gosto quando a realidade se mistura à fabulação.

OPOVO - Quando começou a escrever, você já imaginava até onde a trajetória de busca de Ângela a levaria? Já sabia que seria uma busca infrutífera? Rafael - Eu já sabia que ela não encontraria o filho e decidiria por encerrar sua busca. Esse era o ponto de partida da história para mim. A história é sobre tentar reconstruir o próprio mundo depois da perda, sobre se dar o direito de recomeçar a vida, e não sobre a busca em si. Isso já estava certo desde sempre. Mas, sim, o romance foi se transformando em muitos detalhes ao longo da criação. Eu acho que ele ficou um livro muito mais “iluminado” do que eu imaginava antes.

Vencedora do Prêmio São Paulo de Literatura, Beatriz Bracher já havia sido laureada pelo Prêmio Rio de Literatura

Jáder Santana OP - Você já tem livros de contos e infantis. Escrever um romance requer fôlego diferente? Marcelo - Pra mim foi muito difícil essa primeira experiência com prosa longa. Tive que parar várias vezes, quase desisti do livro. Não dá pra usar o pensamento do conto no romance, você vai se perder. Tive que fazer um exercício de lentidão, porque o romance é isso, é dizer sem extrapolar, sem deixar gorduras. É não ficar preenchendo por preencher. O tiro inicial dessa história tem nove anos, que foi quando soube que eu queria contar uma história que meu avó tinha contado ao meu tio.

jader.santana@opovo.com.br

poema épico de John Milton, Paraíso Perdido, inspira o romance Anatomia do Paraíso, da escritora Beatriz Bracher. Marcelo Maluf resgatou histórias familiares passadas em um Líbano ancestral em A Imensidão Íntima dos Carneiros. Rebentar, de Rafael Gallo, acompanha uma mãe que desiste do filho desaparecido depois de 30 anos de buscas. Beatriz, Marcelo e Rafael venceram a última edição do Prêmio São Paulo de Literatura, uma das mais importantes premiações literárias do País. Bracher já havia concorrido ao Prêmio em 2008, quando seu romance Antonio foi um dos indicados à categoria de

O

Melhor Livro do Ano. Anatomia do Paraíso, publicado no ano passado pela Editora 34 (fundada pela autora em 1992), venceu também a última edição do Prêmio Rio de Literatura. O júri final do São Paulo classificou o Anatomia como “livro intenso, com personalidade desde a primeira página, inteligente e provocador, escrito em linguagem bela e refinada, com descrições precisas, visuais, associadas à construção da tensão”. O texto se encerra dizendo que “não é uma leitura fácil, e essa é outra qualidade desde romance”. Em entrevista ao O POVO, Beatriz contou que não enxerga seu livro como representante de uma literatura hermética . “Não acho que ele seja difícil, acho que é pesado. É complexo, tem que ficar atento, não dá pra ler distraidamente. Não é que seja difícil entender o que se passa, é que o se passa que é difícil”. Anatomia do Paraíso acompanha um estudante de classe média em processo de escrita de uma dissertação sobre o poema de Milton que narra a queda do homem e a expulsão de Adão e Eva do Paraíso. Sua narrativa transita entre vários planos e permite que personagens se cruzem em histórias de sexo, violência, pecado, culpa e traição. O escritor Estevão Azevedo, vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura no ano passado e membro do júri avaliador desta edição, acredita que Beatriz é “generosa” com leitores que não car-

regam Milton em seu repertório. “Mesmo que o leitor não perceba todas essas camadas, o romance ainda se sustenta como um grande livro. Os personagens são muito contemporâneos no sentido do corpo que sofre e goza ao mesmo tempo. A Beatriz dá conta de questões graves. Não é uma exaltação gratuita da dificuldade”, opina. Estevão integrou o júri final ao lado de quatro outros especialistas na área: Adriano Schwartz, professor de literatura contemporânea na Universidade de São Paulo (USP), Elisabeth Brait, crítica literária e ensaísta, Heloisa Jahn, tradutora e editora, e Ronald Polito, poeta e tradutor.

O POVO online Leia a íntegra das entrevistas com os três autores em: bit.ly/2e7DXUc

OP- Você é compositor e produtor musical. É possível levar algo do universo da música até a literatura? Rafael - Sim, eu acho que, particularmente, levo bastante, porque sinto que meu pensamento, minha imaginação, funcionam de um modo muito “musical”. Por exemplo, há muitas palavras, objetos e conceitos que ficam voltando no livro, sendo reiterados, como refrãos. Esse é um efeito que me atrai muito, e que me surge, de certa forma, “naturalmente”.


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