Estações de Babinski

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FOTOS HÉLIO FILHO/DIVULGAÇÃO

EXPOSIÇÃO.ARTES PLÁSTICAS

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ESTAÇÕES DE B

BABINSKI

Radicado no interior do Ceará há 25 anos, o polonês Maciej Babinski ganha, a partir de hoje, no Museu da Cultura Cearense, mostra retrospectiva de sua última década de produção

Na zona rural do município de Várzea Alegre, na região do Cariri, o polonês Babinski fez da morada um “observatório para o que o sertão oferece“

abinski aprendeu a enxergar sua Polônia natal na mudança de estações do sertão cearense. Se em seu país enfrentava duros meses de inverno antes do florescer da primavera, em Várzea Alegre é a chuva que anuncia o renascimento que o inspira. “Observar o que está a minha volta me renova, é fundamental. Faz parte do clima e da minha maneira de ser. Eu me renovo como as plantas”, diz o artista, que pensa seu pedaço de chão como um observatório para o que o sertão oferece. Vivendo no Brasil há mais de 60 anos - 25 dos quais dedicados ao sítio Exu, a poucos quilômetros do centro de Várzea Alegre, na reigão do Cariri, Babinski experimentou da cultura de outros estados antes de se decidir pelo Ceará. Aqui, reuniu inspirações e construiu uma casaateliê, de onde se dedica à criação de gravuras e pinturas que ilustram sua particular visão do homem e do mundo. Parte desse universo poderá ser conhecido na exposição O Sertão Alegre de Babinski: Figuração e Oralidade no Ceará, que será aberta hoje, às 17 horas, no Museu da Cultura Cearense. “Esse período (de 25 anos no Ceará) foi extremamente importante para a produção do Babinski. Quando chegou a Várzea Alegre, ele já era um artista reconhecido e famoso, mas sua pintura era marcadamente de paisagens. No Ceará, ele conquista a liberdade e amplia seus formatos”, explica a curadora da exposição, Do-

dora Guimarães, que reuniu 31 gravuras e 19 pinturas produzidas pelo artista nos últimos dez anos. Dodora e Babinski se conheceram no final dos anos 1980 e desde então promoveram juntos três exposições. Nascido na capital polonesa em 1931, Babinski acompanhou sua família em viagens para a Inglaterra e Canadá durante a II Guerra Mundial. Da infância em Varsóvia, guarda na memória os passeios que fazia com o pai para as propriedades agrícolas dos amigos, o que trouxe uma “referência rural” para sua criação como artista. Emigrou para o Brasil em 1953 e trabalhou como tradutor antes de mergulhar no mundo da arte. No Rio de Janeiro, além dos desenhistas cariocas Vera Tormenta e Oswaldo Goeldi, travou amizade com o gravurista Darel Valença e o artista plástico Augusto Rodrigues, ambos pernambucanos. Começou aí sua aproximação com o Nordeste. “A primeira coisa que eles me mostraram foi a literatura de cordel. Os meus amigos eram quase todos nordestinos, e eles me mostravam coisas e me passaram sua maneira de ser e de falar”, relembra. Passou por Minas Gerais e pela capital federal - onde foi professor de desenho na Universidade de Brasília (UNB), antes de se mudar para o Ceará. Veio movido pela paixão: em um restaurante brasiliense conheceu Lídia, que o trouxe até o município de Várzea Alegre, sua terra natal. Gostou da família da moça, aprovou a tranquilidade do campo e ganhou do sogro um pedaço de terra para levantar suas paredes. Foi no sítio Exu que finalmente se sentiu em

casa e captou o caráter inspirador do sertão. “Eu não sou o artista operário. Não visto macacão e não tenho horário de escritório. Eu observo o tempo para flagrar o momento em que tenho mais energia. O que o artista mais usa pra ser artista é a energia criativa, e você não tem isso o tempo todo”, revela Babinski, que parece estimulado pelos ciclos do sertão e que assume saber desfrutar dos momentos de ócio: “É preferível ficar deitado de papo pro ar e pensando, pensando, do que se forçar a trabalhar”. Nas 50 obras que integram a exposição, o público vai poder passear pelo universo campestre de Babinski e pelos personagens que povoam seus cenários, reconhecendo neles traços de sua própria identidade. “É uma figuração muito próxima da estética do sertanejo. Você vai ver que nessas caras há uma dominância dos traços simples, expressões caboclas, muita expressividade”, resume Dodora.

Exposição O Sertão Alegre de Babinski: Figuração e Oralidade no Ceará Quando: hoje, às 17 horas (visitação a partir do dia 15, de terça a sexta, das 9 às 19 horas, e aos sábados e domingos, das 14 às 21 horas) Onde: Museu da Cultura Cearense (rua Dragão do Mar, 81 - Praia de Iracema) Gratuito


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